“Acessibilidade e equidade aos CSP dos utentes do ACES ATMATB: relação com a satisfação e qualidade de vida” RESUMO: (5000) Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) são considerados um pilar central Sistema Nacional de Saúde (SNS), assumindo a resposta às necessidades saúde da população, onde se incluem os cuidados de promoção da saúde, prevenção da doença, de tratamento, de reabilitação e continuidade cuidados ao indivíduo, família e comunidade (Portaria n.º 273/2009). do de de de A recente reestruturação nos CSP, decorrente do Decreto-Lei n.º 88/2005 de 3 de Junho, conduziu a mudanças na sua organização e nas respostas às necessidades de saúde dos utentes. A melhoria da qualidade de vida (QV) dos utentes, bem como a eficácia e a eficiência das respostas para a resolução dos seus problemas de saúde devem assentar em princípios universais de equidade e justiça que devem pautar a prestação dos cuidados, como uma forma de obtenção de ganhos em saúde (Arah et al., 2006; Ricketts et al., 2005). Apesar da garantia de acessibilidade e equidade nos cuidados de saúde estar consignada nas políticas da saúde nacionais, tendo por base os direitos e garantias consignados na Constituição da República Portuguesa (Lei nº 56/79), verifica-se que existem lacunas e ainda não se desenvolveram estratégias coordenadas que preconizem estes direitos (Furtado e Pereira, 2010). Pelo que, o estudo desta problemática ao nível regional/local é primordial, no sentido de se identificar e avaliar a adequação de estratégias específicas para reduzir/minimizar eventuais desigualdades e/ou assimetrias no acesso aos cuidados de saúde. Segundo o mesmo autor, o mesmo não pode ser visto apenas no sentido da oferta/disponibilidade de cuidados de saúde, mas também têm de ser considerados outros condicionantes, eventuais barreiras que possam limitar o cidadão ao seu potencial de saúde, nomeadamente: geográficos; demográficos; económicos; sociais ou culturais. Na mesma ordem de ideias, Penchansky e Thomas (1981) referem que o acesso aos cuidados de saúde debate-se com um conjunto de barreiras, sobretudo: i) a acessibilidade, que diz respeito à localização geográfica dos serviços de saúde; ii) a oferta, os serviços existentes são suficientes para atender às necessidades dos utentes; iii) o esforço financeiro, refere-se à adequação do preço face à capacidade económica dos utentes; iv) a aceitabilidade, a organização dos cuidados de saúde vai ao encontro às necessidades e expectativas dos utentes e v) a adequabilidade, entre a oferta e a procura/necessidades em cuidados de saúde. Desde logo, para que a oferta seja ajustada às necessidades da população, os serviços de saúde devem estar organizados de forma equitativa, mobilizando os recursos de acordo com os critérios custo/beneficio (Administração Central do Sistema de Saúde, 2010). A pertinência de estudar a acessibilidade, a equidade e a satisfação dos utentes/utilizadores dos Cuidados de Saúde Primários do ACES de Alto Trásos-Montes II Alto Tâmega e Barroso (ACES ATMATB) justifica-se pela sua interioridade, elevados índices de dependência e envelhecimento populacional, fracas redes viárias, baixa densidade populacional. Embora se conheçam as potenciais barreiras que condicionam o acesso aos cuidados de saúde torna-se necessário concretizar estudos de âmbito regional/local visando o estudo mais aprofundado, para que daí resultem recomendações estratégicas sustentáveis para as zonas rurais do interior do país. Por outro lado, a satisfação dos utentes está em estreita relação com a percepção que têm da acessibilidade e disponibilidade dos cuidados (Donabedian, 1988). Preconizando a melhoria contínua da qualidade de cuidados e ganhos em saúde para a população, importa conhecer o grau de satisfação e QV dos utentes, podendo estas, entre outras ser consideradas medidas de resultado dos cuidados (Hespanhol et al., 2008). Actualmente, os CSP debatem-se com incapacidades diversas na resposta e adequação às exigências sociais e locais, gerando iniquidade e descontentamento na população (WHO, 2010a; WHO, 2010b). Para Obrist et al. (2007) os utentes avaliam a prestação de cuidados de saúde face às suas necessidades e expectativas e com base nisso percepcionam os benefícios que podem adquirir da obtenção de cuidados de saúde. Nesta perspectiva, a satisfação dos utentes é considerada um dos indicadores de qualidade em saúde enquadrando-se nas prioridades de investigação preconizadas pelo Ministério da Saúde para a reforma dos CSP. Até ao momento presente, os estudos que se tem vindo a realizar em Portugal apenas reflectem o nível de oferta de cuidados, prevalecendo ainda algumas lacunas na avaliação dos determinantes da acessibilidade, equidade e qualidade dos cuidados prestados. Neste estudo propõem-se uma abordagem integrada que vise uma avaliação global dos diversos factores que integram esta problemática, procurando fomentar a igualdade de acesso e equidade de todos os cidadãos e por outro lado maximizar o potencial de saúde. ENQUADRAMENTO NAS PRIORIDADES (1000c) Com este estudo procuramos dar resposta as seguintes prioridades 2011: i) Contribuir com dados científicos que complementem os indicadores de acessibilidade existentes, que se têm reportado e limitado apenas à oferta dos serviços médicos; ii) Evidenciar as barreiras e os possíveis determinantes da acessibilidade aos CSP, valorizando os factores que podem condicionar a referenciação dos utentes; iii) Operacionalizar estratégias de referenciação dos utentes para os cuidados de saúde diferenciados, visando a redução das desigualdades, promover igualdade de oportunidades, com implicações nos indicadores da QV; iv) Avaliar a associação entre a equidade meios/serviços que apresentam menores de acesso na saúde; v) Identificar e propor estratégias de redução das desigualdades de acesso; vi) Analisar comparativamente os resultados ao nível da satisfação e QV entre as diferentes unidades funcionais do ACES ATMATB. OBJECTIVOS i) Desenvolver um projecto de intervenção comunitária, de parceria entre as instituições de Ensino Superior (ESEDJTMM e ESEVR-UTAD), unidades funcionais do ACES ATMATB e respectivas autarquias; ii) Caracterizar a acessibilidade e equidade dos utentes ao ACES ATMATB; iii) Identificar variáveis que determinam a acessibilidade e equidade na saúde dos utentes do ACES ATMATB; iv) Verificar se existe relação entre acessibilidade, satisfação e QV entre os utentes; v) Analisar e descrever os níveis de satisfação e QV dos utentes face aos cuidados de saúde prestados pelo ACES ATMATB; vi) Verificar se existem diferenças no nível de satisfação e QV dos utentes enquanto utilizadores das diferentes Unidades Funcionais do ACES ATMATB. PLANO DE INVESTIGAÇÃO E METODOLOGIA Propõe-se desenvolver um estudo transversal do tipo descritivo e correlacional, de abordagem quantitativa. Utilizando-se uma amostra aleatória dos sujeitos inscritos nos cadernos eleitorais das juntas de freguesia da área geográfica dos ACES ATMATB do distrito de Vila Real, no sentido de se obter uma amostra representativa desta população, incluindo-se quer utilizadores como não utilizadores dos CSP. Estima-se que existam 190.000 mil cidadãos inscritos (INE, 2001). Assim, propomo-nos seleccionar os sujeitos inscritos que estejam registados na lista na posição correspondente aos números decimais (de 10 em 10) de cada freguesia. Após esta identificação dos sujeitos, organizar-se-ão visitas domiciliárias para a aplicação do instrumento de colheita de dados. Para a colheita de dados será aplicado um inquérito que incluirá 5 partes: i) avaliação dos dados socioeconómicos, demográficos e culturais; ii) avaliação da acessibilidade tendo por base os indicadores de acesso disponíveis nas bases de dados da ARS (percentagem de consultas ao utente pelo seu próprio médico de família (MF); taxa de utilização global de consultas; taxa de visitas domiciliárias médicas por 1.000 inscritos; taxa de visitas domiciliárias de enfermagem por 1.000 inscritos) e outros indicadores indirectos de acessibilidade (tempo de evolução das queixas até ao pedido de consulta, tempo de espera pela consulta, lista de espera e última consulta com o MF); iii) avaliação da equidade no acesso aos CSP no que toca à adequação da oferta de médicos/enfermeiros de família às necessidades dentro desta região geográfica específica nas suas diferentes componentes, nomeadamente: facilidade de acesso as consultas programadas, de especialidade e de urgência; existência de transportes públicos, custos e sua adequação as necessidades dos utentes, condições das redes viárias, tempo médio necessário para as deslocações; iv) avaliação do nível de satisfação dos utentes, tendo por base outros questionários já utilizados (Hespanhol, 2008; Cabral et al., 2002), acrescido de itens de opinião/posicionamento face a reestruturação em curso dos CSP; v) avaliação da percepção da QV relacionada com a saúde, através do MOS SF-36 (Ferreira, 2000). Critérios de inclusão definidos para este estudo são os seguintes: i) residir na área geográfica abrangida pelo ACES pelo menos 9 meses por ano, na medida em que não faz sentido incluir-se nesta analise os sujeitos emigrantes; ii) ter 18 anos ou mais e com capacidade para avaliarem e responderem às questões solicitadas. No caso dos sujeitos que não sabem ler nem escrever o inquérito será aplicado pelo próprio investigador. TAREFAS i) reunião da equipa de investigação (Junho 2011) operacionalizar o cronograma proposto, distribuir tarefas, agendar os contactos com as juntas de freguesia. ii) elaboração do instrumento de colheita de dados (Junho/Julho 2011) iii) Estudo quantitativo (Setembro/Dezembro 2011) Aplicação do instrumento de colheita de dados iv) Estudo quantitativo (Janeiro/Fevereiro 2012) Introdução dos dados na base de dados SPSS v) Estudo quantitativo (Março/Maio 2012) Tratamento estatístico dos dados vi) Relatório preliminar (Junho/Julho 2012) vii) Congresso (Setembro 2012) viii) Relatório final (Outubro/Dezembro 2012) Bibliografia Arah O, Westert G, Hurst J e Klazinga N. (2006). A conceptual framework for the OECD Health Care Quality Indicators Project. International Journal for Quality in Health Care; 5-13. Administração Central do Sistema de Saúde. (2010). Metodologia de Contratualização. Unidades de saúde familiar e Unidades de cuidados saúde personalizados. Cabral MV, Silva PA, Mendes H. (2002) Saúde e Doença em Portugal. Inquérito aos comportamentos e atitudes da população portuguesa perante o sistema nacional de saúde. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Decreto de Lei 56/79. Lei do Serviço Nacional de Saúde. Lisboa, Diário da República, I Série (15) Setembro, p. 2357 Decreto de Lei 48/90. Lei de Bases da Saúde. Lisboa, Diário da República, I Série (195) 24 de Agosto 1990, p. 3452-3464 Decreto de Lei 88/2005. Revoga o Decreto-Lei n.º 60/2003, de 1 de Abril, que cria a rede de cuidados de saúde primários e repristina o Decreto-Lei n.º 57/99, de 10 de Maio, que estabelece o regime de criação, organização e funcionamento dos centros de saúde. 3 de Junho 2005. Diário da República, Portaria nº 273/2009 de 18 de Março – Diploma que cria os Agrupamentos de Saúde. Donabedian A. (1988). The quality of care how can it be assessed? JAMA, 260: 1743-8. Ferreira, P.L. (2000a). Criação da versão Portuguesa do MOS SF-36: Parte I – Adaptação cultural e linguística. Acta Médica Portuguesa, 13, 55-63. Furtado C, Pereira J. (2010). Equidade e Acesso aos cuidados de saúde. http://www.observaport.org/node/322 Hespanhol A, Vieira A, Pereira AC. (2008). Monitorização da satisfação dos utentes do Centro de Saúde S. João. (2007 e comparação com 2002 e 2006), Rev Port Clin Geral; 24:362-72. Instituto Nacional de Estatística - INE. (2001). Recenseamento Geral da População. Obrist B, Iteba N, Lengeler C, Makemba A, Mshana C, Nathan R et al. (2007). Access to Health Care in Contexts of Livelihood Insecurity: A Framework for Analysis and Action. PLoS Medicine; 4(10):1584-1588. Penchansky R, Thomas JW. (1981). The concept of access: definition and relationship to consumer satisfaction. Med Care; 19(2):127-40. Ricketts T, Goldsmith L. (2005). Access in health services research: The battle of the frameworks. Nursing Outlook; 53:274-280. World Health Organization. (2010a). 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