UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável CLÁUDIA MARIA LOURENÇO DA SILVA ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE: uma alternativa para o desenvolvimento sustentável Recife, PE 2012 CLÁUDIA MARIA LOURENÇO DA SILVA ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE: uma alternativa para o desenvolvimento sustentável Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade de Pernambuco como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. Orientadora: Prof.ª Dra. Niédja Maria Galvão Araújo e Oliveira. Recife, PE 2012 Catalogação na fonte S586e Silva, Cláudia Maria Lourenço da. Estudo das dinâmicas territoriais do município de Petrolina-PE : uma alternativa para o desenvolvimento sustentável / Cláudia Maria Lourenço da Silva. – Recife : Universidade de Pernambuco. Faculdade de Ciências da Administração, 2012. 181 f. : il. Dissertação (mestrado – Gestão em Desenvolvimento Local Sustentável) – Universidade de Pernambuco, FCAP. 1. Desenvolvimento sustentável – Petrolina (PE). 2. Educação ambiental – Petrolina (PE). 3. Recursos hídricos – Desenvolvimento – Pernambuco. 4. Extensão rural. 5. Dissertação – Universidade de Pernambuco – Faculdade de Ciências da Administração. I. Titulo. CDD 363.70098134 CLÁUDIA MARIA LOURENÇO DA SILVA ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE: uma alternativa para o desenvolvimento sustentável BANCA EXAMINADORA: Orientadora: Prof.ª Dra. Niédja Maria Galvão Araújo e Oliveira Examinadores: _______________________________________ Professor (a) examinador(a) externo(a) Nome da instituição ] _______________________________________ Professor (a) examinador(a) interno(a) Nome da instituição Petrolina, PE 2012 A minha Mamuska, Ivanilda Maria Santana da Silva, e a minha Vovuska, Maria José Costa por nunca, absolutamente, nunca desistirem de mim. A vocês duas, entrego meu amor e minha gratidão eterna! AGRADECIMENTOS A Deus, que permitiu que eu vencesse mais este desafio. A minha querida e amada Mamãe, Ivanilda, agradeço absolutamente TUDO. Meu amor por você é infinito. A minha família, o apoio nesta jornada. Ao meu querido e amado marido, Rilton Melo, que entendeu a necessidade de me deixar na companhia dos livros e suportou minha angústia na conclusão deste trabalho. A Júlia Midori e Sophia Yumi, a alegria e o amor que nos une. A minha querida e admirável orientadora Professora Niédja Galvão, o aprendizado e, sobretudo, não desistir de mim. A Paulo Henrique Santana, meu querido amigo, a amizade franca e sua ajuda nesta trajetória. Aos amigos queridos do Mestrado, em especial Poliana Pedroso, Valdélio Lins, a prazerosa e rica convivência. Foi maravilhoso. Aos amigos e alunos, que entenderem as razões da minha ausência. RESUMO O desenvolvimento sustentável é o estabelecimento do equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais e ecológicas. Não se trata de uma utopia, mas de uma nova realidade que pode iniciar-se em um país, um estado ou mesmo em um município. Muitos gestores municipais, estaduais ou nacionais apresentam à sociedade ações que prometem o estabelecimento da sustentabilidade, porém a realidade mostra que pouco se faz, concretamente, para o alcance desse objetivo, pondo em prática ações que são apenas reativas, que minimizam os efeitos e consequências de uma realidade insustentável. Os indicadores de sustentabilidade podem apontar o caminho para o encontro da humanidade com o desenvolvimento sustentável. Na elaboração deste trabalho, construiu-se um índice que avalia a Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. Nesse sentido, buscou-se a identificação dos problemas das áreas estudadas por meio de diagnósticos, das avaliações de efeito-causaefeito, da Teoria das Restrições de Eliyahu M. Goldratt, além das definições de ações corretivas ou preventivas. O cruzamento desses conceitos permitiu estabelecer uma visão ampla, sistêmica, das áreas de estudo para o desenvolvimento sustentável, mostrando o nível da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, assim como a identificação dos espaços opacos e luminosos à luz dos conceitos de Milton Santos. O estudo possibilitou conhecer o nível de sustentabilidade existente nas ações desenvolvidas nos Territórios Irrigado, Ribeirinho, Sequeiro e Central do município de Petrolina, Pernambuco, Brasil. Palavras-chave: Espaços. Indicador. Índice da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. Sustentabilidade. Território. ABSTRACT The sustainable development is the establishment of balance between the economic, social and ecological dimensions. This is not a utopia, but a new reality that can start in one country, even in a state or a municipality. Many leaders, municipal ,state or national , presents to society actions that promise the establishment of sustainability, but in reality little is done to achieve this goal specifically, implementing actions that are only reactive, to minimize the effects and consequences an unsustainable reality. The sustainability indicators may point the way to the encounter of humanity with sustainable development. In preparing this work, we constructed an index that evaluates the Management of Sustainable Local Development. Accordingly, we sought to identify the problem areas studied by means of diagnostic, assessments of effect-cause-effect, the Theory of Constraints Eliyahu M. Goldratt, from definitions of corrective or preventive actions. The intersection of these concepts in establishing a broad vision, systemic of areas of study for sustainable development, showing the level of Sustainable Local Development, as well as the identification of opaque and bright spaces to the concepts of Milton Santos. The study has helped understand the level of sustainability in existing irrigated actions undertaken in the Territórios Irrigado, Ribeirinho, Sequeiro and Central of Petrolina, Pernambuco, Brazil. . Keywords: Spaces. Indicator. Index of Sustainable Local Development. Sustainability. Territory. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Figura 2 – Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Figura 7 – Localização de outros atores que interessem ao ator A............................ Mapa da localização do município de Petrolina, PE, Brasil.................... Área de sequeiro em Petrolina.................................................................. Áreas irrigadas em Petrolina.................................................................... Área ribeirinha rural em Petrolina........................................................... Área ribeirinha urbana em Petrolina........................................................ Área central da cidade de Petrolina....................................................... 34 36 37 38 38 39 39 Figura 8 – Figura 9 – Figura 10 – Ambiente de dunas continentais, solo dominante Areia Quartzosa......... Tabuleiros interioranos........................................................................... Pediplanos da depressão sertaneja com relevos plano e suave ondulado................................................................................................. Distribuição dos postos pluviométricos em Pernambuco...................... Total médio anual de precipitação pluviométrica em Pernambuco (mm) Temperatura média anual (ºC)................................................................ Estimativa do total anual de evapotranspiração em Pernambuco (mm) Rio São Francisco................................................................................... 40 41 Figura 11 – Figura 12 – Figura 13 – Figura 14 – Figura 15 – Figura 16 – Figura 19 – Figura 20 – Figura 21 – Figura 22 – Figura 23 – Vegetação de caatinga hiperxerófila em ambiente dos tabuleiros interioranos na depressão sertaneja........................................................ Samba de Véio da Ilha do Massangano.............................................. Extensão territorial do Projeto de Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho...................................................................................................... Mapa dos biomas brasileiros................................................................... Território sequeiro................................................................................... Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda)................................................. Margens do rio São Francisco em Petrolina........................................... O Dashboard of Sustainability……….………………………………… Figura 24 – Figura 25 – Figura 26 – Figura 27 – Figura 28 – Figura 29 – Figura 30 – Figura 31 – Figura 32 – Exemplo de sistema aberto: ciclo hidrológico....................................... Sistemática da pesquisa........................................................................... Exemplo de Árvore da Realidade Atual (ARA)..................................... Árvore em interação com outros elementos da natureza....................... Árvore representativa da gestão do DLS.................................................. Nuances da árvore representando a evolução da gestão do DLS........... Árvore da Realidade Atual do município de Petrolina........................... Árvore da Realidade Futura do município de Petrolina......................... Nuance da Árvore da gestão do DLS de Petrolina.................................. Figura 17 – Figura 18 – 42 44 45 45 47 48 50 54 56 60 61 62 64 75 79 81 88 91 92 93 137 138 140 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Problemas no Território Irrigado........................................................... 102 Gráfico 2 – Atendimento no posto de saúde do Território Irrigado........................ 103 Gráfico 3 – Solução do problema de saúde no Território Irrigado......................... 103 Gráfico 4 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura........................................... 103 Gráfico 5 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território Irrigado.......................................................... 104 Gráfico 6 – Ações que a Prefeitura deveria programar........................................... 105 Gráfico 7 – Problemas no Território de Sequeiro................................................... 112 Gráfico 8 – Atendimento no posto de saúde do Território de Sequeiro 113 Gráfico 9 – Solução do problema de saúde no Território de Sequeiro................... 113 Gráfico 10 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura........................................... 113 Gráfico 11 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território de Sequeiro....................................................................... 114 Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território de Sequeiro................................................................................................ 115 Gráfico 13 – Problemas no Território Ribeirinho..................................................... 122 Gráfico 14 – Atendimento no posto de saúde do Território Ribeirinho.................... 122 Gráfico 15 – Solução do problema de saúde no Território Ribeirinho..................... 123 Gráfico 16 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura.......................................... 123 Gráfico 17 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território Ribeirinho..................................................... 124 Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território Ribeirinho.............................................................................................. 125 Gráfico 19 – Problemas no Território Central........................................................... 132 Gráfico 20 – Atendimento no posto de saúde do Território Central......................... 133 Gráfico 21 – Solução do problema de saúde no Território Central........................... 133 Gráfico 22 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura.......................................... 134 Gráfico 23 – Possíveis causas da poluição do Rio São Francisco segundo moradores do Território Central........................................................... 134 Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território Central.. 135 Gráfico 12 – Gráfico 18 – Gráfico 24 – LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Síntese das etapas de evolução da fruticultura no SMSF......................... 30 Quadro 2 – Família de paisagens x intervenção humana............................................ 32 Quadro 3 – Famílias de regiões................................................................................. 35 Quadro 4 – Características necessárias para sistemas de indicadores adequados... 72 Quadro 5 – Dimensões comumente relacionadas com o Barometer of Sustainanility 76 Quadro 6 – Distribuição dos questionários aplicados nas áreas................................ 83 Quadro 7 – Ferramentas em cada etapa do processo do pensamento....................... 85 Quadro 8 – Ações para a construção da ARA............................................................ 87 Quadro 9 – Critérios que devem ser observados ao construir a árvore.................... 87 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Projetos públicos de irrigação do SMSF................................................ 29 Tabela 2 – Balança comercial de frutas frescas do Brasil 2000-2002.................... 31 Tabela 3 – Temperatura máxima dos municípios do Sertão pernambucano........... 46 Tabela 4 – Projetos públicos de irrigação do Submédio São Francisco................. 55 Tabela 5 – Distribuição da área do PISNC............................................................... 56 Tabela 6 – Evolução da área em produção (ha): frutas 1995-2003......................... 57 Tabela 7 – Evolução da área plantada (ha): frutas 2008-2009................................ 57 Tabela 8 – Ponderação do indicador........................................................................ 89 Tabela 9 – Exemplo da planilha de acompanhamento de projeto........................... 90 Tabela 10 – Nuances da gestão do desenvolvimento local sustentável..................... 90 Tabela 11 – Matriz do DLS no Território Irrigado.................................................... 95 Tabela 12 – Matriz do DLS no Território de Sequeiro............................................. 106 Tabela 13 – Matriz do DLS no Território Ribeirinho................................................ 116 Tabela 14 – Matriz do DLS no Território Central..................................................... 126 Tabela 15 – Indicadores da gestão do desenvolvimento local sustentável................ 139 LISTA DE SIGLAS AD DIPER Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco AEVSF Autarquia Educacional do Vale do São Francisco AMMA Agência Municipal de Meio Ambiente ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações AQ Areia Quartzosa ARA Árvore da Realidade Atual ARF Árvore da Realidade Futura ASAN Alta Subtropical do Atlântico Norte ASAS Alta Subtropical do Atlântico Sul ATER Assistência Técnica e Extensão Rural BS Barometer of Sustainability CAPS Centros de Atenção Psicossocial CELPE Companhia Energética de Pernambuco CHESF Companhia Hidrelétrica do São Francisco CODEVASF Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento CPATSA Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido CPRH Agência Estadual de Meio Ambiente CVLI Crimes Violentos Letais e Intencionais CVSF Comissão do Vale do São Francisco DINC Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho DLS Desenvolvimento Local Sustentável DS Dashboard of Sustainability DSR Driving Force-State-Response EACS Equipes de Agentes Comunitários de Saúde EFM Ecological Footprint Method EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPTTC Empresa Petrolinense de Trânsito e Transporte Coletivo ENOS El Ninõ Oscilação Sul FACAPE Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina FAO Food Agricultural Organization FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste GDLS Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável GISF Grupo de Irrigação do São Francisco IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDG Indicadores de Desempenho de Gestão IDH Índice de Desenvolvimento Humano IES Instituições de Ensino Superior IF SERTÃO- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão PE Pernambucaco IISD International Institute for Sustainable Development ITEP Instituto Tecnológico de Pernambuco LA Latossolos Amarelos LAMEPE Laboratório de Meteorologia de Pernambuco NC Bruno não Cálcico OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico ONU Organização das Nações Unidas PADFIN Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste PA Podzólicos Amarelos PER Pressão-Estado-Resposta PIB Produto Interno Bruto PISNC Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho PL Planossolo Solódico PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PSR Pressure-State-Response PV Podzólicos Vermelho-Amarelos R Solo Litólico Regosslo (RE) RE Regosslo SDS-PE Secretaria de Defesa Social de Pernambuco SECEX Secretaria de Comércio Exterior SEMAS-PE Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco SENASP-MJ Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça SF Sistemas Frontais SMSF Submédio São Francisco SS Solonetz Solodizado SUVALE Superintendência do Vale do São Francisco SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste TOC Theory of Constraints UNIVASF Universidade Federal do Vale do São Francisco UPE Universidade de Pernambuco VALEXPORT Associação de Produtores e Exportadores do Vale do São Francisco VCAS Vórtices Clônicos de Ar Superior ZCIT Zona de Convergência Intertropical SUMÁRIO 1 1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.4 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 2.3.5 2.3.6 2.4 Justificativa................................................................................................... Objetivos....................................................................................................... Objetivo geral................................................................................................ Objetivos específicos...................................................................................... Estrutura da dissertação............................................................................. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................... A construção do território de Petrolina: processo histórico..................... O espaço geográfico e suas categorias: paisagem território e região...... Caracterização da área de pesquisa..........................................................., Geologia do município de Petrolina.............................................................. Geomorfologia e relevo de Petrolina............................................................. Caracterização do clima de Petrolina........................................................... Temperatura e evapotranspiração potencial de Petrolina............................ Hidrografia do município de Petrolina......................................................... Vegetação do município de Petrolina............................................................ Aspectos urbanos, industriais e socioculturais: formação do espaço de Petrolina no contexto atual.......................................................................... Aspectos culturais.......................................................................................... A CONSTITUIÇÃO DO TERRITÓRIO DE PETROLINA.................... Área irrigada: espaço físico /natural – áreas conservadas e degradadas Área de sequeiro........................................................................................... Área ribeirinha............................................................................................. Espaço urbanizado....................................................................................... Espaço industrializado................................................................................. EMBATE ENTRE OS PROCESSOS MODERNIZADORES, IMPACTOS AMBIENTAIS, METODOLOGIA E RESULTADOS...... 4.1 Conceitos e teorias que fundamentam o método................................. Principais aspectos dos indicadores de sustentabilidade.............................. Os sistemas de indicadores de sustentabilidade.......................................... Visão sistêmica e a relação efeito-causa-efeito........................................... Procedimentos metodológicos na análise quali-quantitativa.................... Pesquisa de campo e coleta dos dados......................................................... Matriz de indicadores do desenvolvimento local sustentável........................ Relação efeito-causa-efeito........................................................................... A Árvore da Realidade Atual......................................................................... A Árvore da Realidade Futura...................................................................... Seleção e ponderação dos indicadores......................................................... Modelo de comunicação do sistema.............................................................. 2.4.1 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 4 4.1 4.1.1 4.1.2 4.1.3 4.2 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.2.5 4.2.6 4.2.7 Importância do tema.................................................................................... 16 18 18 19 19 20 20 22 22 31 36 40 41 43 45 47 48 50 53 55 55 60 63 65 66 67 67 67 73 77 80 82 83 84 85 89 89 90 4.3 4.3.1 4.3.1.1 4.3.1.2 4.3.1.3 4.3.1.4 4.3.2 4.3.2.1 4.3.2.2 4.3.3 4.3.3.1 4.3.3.2 4.3.4 4.3.4.1 4.3.5 4.3.6 4.3.7 4.4 4.5 Resultados e discussão dos pilares da sustentabilidade do meio ambiente........................................................................................................ Matriz dos indicadores do desenvolvimento local sustentável: análise dos dados primários............................................................................................. Matriz dos indicadores do desenvolvimento local sustentável dos Territórios Irrigado, Sequeiro, Ribeirinho e Central.................................... Análise da Matriz do DLS do Território Irrigado......................................... Dados secundários do Território Irrigado..................................................... Análise dos dados secundários do Território Irrigado.................................. Análise da Matriz do DLS no Território Sequeiro....................................... Dados secundários do Território de Sequeiro.............................................. Análise dos dados secundários do Território de Sequeiro,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Análise da Matriz do DLS no Território Ribeirinho...................................... Dados secundários do Território Ribeirinho................................................. Análise dos dados secundários do Território Ribeirinho............................. Análise da Matriz do DLS no Território Central......................................... Dados secundários do Território Central...................................................... Árvore da Realidade Atual do município de Petrolina................................ Árvore da Realidade Futura do município de Petrolina.............................. Índice da Gestão do Desenvolvimento Sustentável do município de Petrolina........................................................................................................ Espaços opacos e luminosos: o abismo sócio-técnico-científico informacional e cultural................................................................................ Gestão local sustentável do território de Petrolina..................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.............................. REFERÊNCIAS............................................................................................ APÊNDICE A – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Central............................................................................................................ APÊNDICE B – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Irrigado............................................................................................................ APÊNDICE C – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Sequeiro.......................................................................................................... APÊNDICE D – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Ribeirinho....................................................................................................... ANEXO A – Aprovação................................................................................. 94 94 95 97 101 105 109 111 115 119 121 125 129 131 136 136 139 140 142 145 147 151 158 166 174 181 16 1 INTRODUÇÃO Desde a Conferência de Estocolmo, Suécia, em 1972, onde 113 países reuniram-se com o propósito de discutir problemas ambientais e a relação entre desenvolvimento e meio ambiente, a palavra sustentabilidade vem fazendo parte das negociações entre os vários chefes de estado do mundo. O produto gerado na conferência foi um documento histórico com vinte e quatro artigos assinados pelos participantes, e o principal desdobramento desse encontro foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Porém, somente vinte anos após a Conferência de Estocolmo, o mundo voltou a se reunir no Rio de Janeiro, Brasil, para o evento conhecido como ECO-92. O objetivo era a busca de meios de conciliar o desenvolvimento econômico com os vários ecossistemas do planeta. A ECO-92 foi de extrema importância para a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável. Entretanto, ficou claro que, entre a Conferência de Estocolmo e a ECO-92, nada mudou. As promessas de desenvolvimento social e econômico não prevaleceram sobre a força do capitalismo selvagem. Sustentabilidade é a palavra da vez. Faz parte dos discursos de empresas, gestores e chefes de estado, mas tudo fica apenas no campo teórico. Quase nada se realiza com base em teorias cientificamente difundidas. Ao se tratar de sustentabilidade, faz-se necessário ampliar o olhar, considerar aspectos como o social, o econômico, o institucional, o espacial, enfim, todos aqueles que compõem a vida na terra, e não somente o ecológico, como tende a parecer. As novas práticas do homem e os novos olhares podem ser acionados tanto no nível global quanto local. Nessa perspectiva é possível aplicar o conceito de desenvolvimento territorial: uma estratégia ou um processo intencional dos atores, das pessoas de um determinado local, para, a partir de seus ativos, de suas potencialidades e vocações, construírem um projeto de desenvolvimento com mais participação social, equidade e sustentabilidade. O Desenvolvimento Local Sustentável (DLS) somente poderá ser alcançado se for empregada uma gestão sistêmica cujo foco seja a sustentabilidade e que adote uma metodologia capaz de diagnosticar as causas dos problemas encontrados na localidade. Dessa forma foi possível fazer uma análise do estágio atual do território. Utilizando-se essa metodologia, pode-se 17 também planejar ações futuras que mudem a situação atual, além de mensurar a evolução utilizando indicadores apropriados à gestão que se pleiteia. Para que o diagnóstico fosse realizado da forma mais fiel possível à realidade, foi preciso que todos os atores sociais do local estivessem preparados e estimulados a fazer parte do processo evolutivo tendo como pressuposto a soma do conhecimento, habilidade e as ações. Esta pesquisa tem um norte em contribuir com a elaboração de estratégias que favoreçam o desenvolvimento sustentável do território. Para tanto, foi necessária a elaboração de um Índice da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, que será desenvolvido com base na relação efeito-causa-efeito e na valoração das ações que serão desenvolvidas, visando eliminar as causas principais dos problemas encontrados. O trabalho em pauta é de fundamental importância, porque induz claramente que as políticas públicas aplicadas ao município, principalmente as ambientais, têm resultados diferentes, uma vez que tais políticas não levam em consideração as necessidades específicas desses espaços, enfatizando como território em sua relação de poder. Sendo assim, os resultados gerados por este estudo podem contribuir para o desenvolvimento local sustentável, uma vez que se traçou o perfil de cada uma dessas áreas, sendo de fundamental importância para a criação e adequação de políticas públicas ímpares em suas diferenças para o município. Nesse sentido, podem-se propor, de forma objetiva, as ideias do conceito para a gestão do desenvolvimento local sustentável, uma vez que só se conclui um desenvolvimento com o conhecimento local e o tratamento dos elementos da área que levem à sustentabilidade. A metodologia adotada na pesquisa indicou informações de relevância para a gestão pública no sentido de melhor direcionar suas decisões e estratégias, pois ficarão para trás a informalidade e o subjetivismo. A correta utilização das informações geradas pelo trabalho deve servir de referência para que os territórios possam contribuir com a gestão pública quanto à revisão das estratégias e políticas públicas a serem adotadas no que diz respeito à sustentabilidade. Ao se tratar do desenvolvimento local, não se trata apenas o crescimento econômico, mas também o desenvolvimento na sua totalidade quando devem ser indicados os sistemas de vida físicos, biológicos, a tecnosfera e a sociosfera. Para tanto, é preciso investir em capital humano, capital social e capital natural, além do capital econômico e financeiro. É urgente a 18 integração dessas dimensões, uma vez que não há a possibilidade de separá-las, porque existe uma forte interdependência entre elas. 1.1 Importância do tema Para um município alcançar o desenvolvimento sustentável, é necessário refletir sobre a realidade socioeconômica e ambiental desse lugar, e perceber que as diferenças existentes nesses aspectos configuram vários espaços que se pode denominar território por seu uso. Sendo assim, um município pode ter mais de um território. Consequentemente, existem formas de eles interagir, mas cada um deles tem um perfil diferente. Isso mostra que políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local não podem ser geradas em um mesmo modelo. Na prática, fica claro que tais políticas devem estar adaptadas ao perfil e às necessidades de cada um desses territórios. O estudo identificou, portanto, que políticas públicas podem ser voltadas para o desenvolvimento territorial visando à sustentabilidade desses espaços. Nesse sentido este estudo é de fundamental importância, pois se percebe claramente que as políticas públicas aplicadas no município, principalmente as ambientais, têm resultados diferentes, uma vez que tais políticas não levam em consideração as necessidades específicas desses espaços. Sendo assim, os resultados gerados pelo estudo podem contribuir para o desenvolvimento local sustentável, porque se traçou o perfil de cada um desses espaços, e isso será a base para a criação de políticas públicas diferentes e diferenciadas para o município. Dessa forma, pode-se pôr em prática a gestão para um desenvolvimento local sustentável. 1.2 Justificativa A meta deste estudo é provocar a reflexão dos atores sociais do município de Petrolina, Pernambuco, para a questão da desigualdade socioeconômica percebida em toda a cidade. Petrolina localiza-se na região do Submédio São Francisco (SMSF), limitando-se ao norte com Dormentes, ao sul com o Estado da Bahia, a leste com Lagoa Grande, a oeste com o Estado da Bahia e a noroeste com o município de Afrânio, PE. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área municipal ocupa 4.559 km2 e representa 4,81% do Estado de Pernambuco. A população residente total é de 268.339 habitantes sendo 19 166.279 na zona urbana e 52.259 na zona rural., resultando numa densidade demográfica de 46,1 hab/km2 (IBGE, 2007). São os seguintes os setores de atividade econômica: indústria de transformação, que gera 2.070 empregos em 158 estabelecimentos; comércio com 4.894 empregos em 991 estabelecimentos; serviços com 6.194 empregos em 585 estabelecimentos; administração pública com 3.621 empregos em 6 estabelecimentos e a agropecuária, que gera 5.683 empregos em 441 estabelecimentos. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, IDHM, é de 0,748, o que situa o município em 6.º lugar no ranking estadual e 1.948.º no nacional (BELTRÃO, 2005). Diante do exposto, fica claro que o município de Petrolina destaca-se no estado e no País pelo bom desempenho em suas atividades econômicas, principalmente a fruticultura irrigada. Esse crescimento econômico trouxe à tona vários espaços de natureza diferente, que têm suas formas de interação resultantes das dinâmicas sociais e econômicas de cada um desses espaços. A iniciativa deste projeto deu-se por observações que constataram que as áreas agrícolas não beneficiadas pela irrigação, como as áreas de sequeiro, estão condenadas como áreas improdutivas. Outras áreas como o centro da cidade e a área ribeirinha sofrem consequências diretas dos bons ou maus resultados da fruticultura irrigada. Na perspectiva do desenvolvimento territorial, foi possível identificar no município de Petrolina-PE a existência de dinâmicas diferentes em diversos pontos da cidade e criar subsídios para que o município passe a não mais crescer, e sim desenvolver-se localmente com equidade e sustentabilidade. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral Analisar de forma investigativa, mensurando os obstáculos na gestão do desenvolvimento local sustentável, construindo índice de variáveis referentes aos problemas dos territórios, considerando dimensões ecológicas, econômicas, sociais, institucionais e espaciais do município de Petrolina-PE. 20 1.3.2 Objetivos específicos a) analisar dinâmicas como mão de obra, produção (incluindo serviços), geração de empregos e renda, aspectos sociais, ambientais e culturais, institucionais e espaciais; b) analisar a relação efeito-causa-efeito de determinante do território em estudo; c) elaboração dos indicadores e do índice de gestão do desenvolvimento local sustentável corrigindo ou eliminando os problemas que dificultam o alcance da sustentabilidade; d) identificar as políticas públicas direcionadas para o município e tentar adequá-las aos territórios com vista ao perfil e às necessidades de cada espaço norteando ao desenvolvimento local sustentável. 1.4 Estrutura da dissertação Com o intuito de expor de forma clara e precisa as ideias e reflexões apresentadas, estruturouse esta dissertação em quatro capítulos assim dispostos: O primeiro capítulo apresenta elementos introdutórios, inicialmente destacando a importância do tema, principalmente no tocante à relação entre território e políticas públicas. Em seguida, justifica-se a realização do trabalho por sua relevância para o desenvolvimento do município de Petrolina. Numa segunda etapa, descreve-se o objetivo principal e os específicos que servem como metas a serem alcançadas pela governança do estudo. A fundamentação teórica que embasa a pesquisa apresenta-se no segundo capítulo, que se inicia resgatando o processo histórico do território de Petrolina, destacando suas formas de ocupação e a formação das primeiras vilas. Aborda, também, os vários aspectos econômicos da região desde o período colonial. Num segundo momento, há abordagem a respeito da conceituação e discussões sobre o espaço geográfico e suas categorias. Em seguida, o capítulo traz a caracterização da área de pesquisa apresentando os aspectos ligados à geologia, geomorfologia, caracterização do clima, temperaura, índices de umidade e precipitação, vegetação e coordenadas geográficas. Finaliza-se o segundo capítulo, abordando-se os aspectos físicos, urbanos, industriais e socioculturais, com ênfase na formação do espaço do município de Petrolina em um contexto atual. O terceiro capítulo traz a constituição do território de Petrolina, detalhando as relações sociais, econômicas e culturais em cada um dos territórios contidos no município como as 21 áreas irrigadas, de sequeiro, ribeirinhas e centrais. Sobre as áreas irrigadas, destacam-se as áreas conservadas e degradadas. Analisam-se a área de sequeiro e suas relações com o homem, e os anseios de sua população, assim como a área ribeirinha que tem suas relações socioeconômicas e ambientais enfatizadas pela pesquisa. Sobre a área central ou o espaço urbanizado, identificaram-se quais os serviços prestados aos outros espaços e sua relação com a legislação ambiental. Ainda nesse capítulo, a pesquisa tentou entender as razões da criação do espaço industrializado, assim como identificar seu papel social. Nesse capítulo também se destaca o espaço sociocultural como agente de transformação e intervenção. Por último, trata do espaço negligenciado, conceituando-o e identificando-o. O quarto capítulo apresenta a metodologia aplicada ao trabalho, assim como os resultados e as discussões acerca da sustentabilidade. Aponta, ainda, os espaços opacos e luminosos no município de Petrolina. Traz também, a proposta de gestão sustentável para Petrolina e a adequação das políticas públicas norteadas ao município em questão com vistas ao desenvolvimento sustentável. O quinto capítulo apresenta as conclusões e recomendações geradas pelo estudo. 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A construção do território de Petrolina: processo histórico O Sertão sempre foi um mundo desconhecido para os descobridores portugueses que aportaram no litoral nordestino. A vegetação totalmente diferente daquela encontrada no litoral tornava o Sertão um espaço quase impossível de desbravar. Apesar disso, esse passou a ser o objetivo maior dos colonizadores, pois era grande o burburinho acerca da presença de ouro e metais preciosos no interior do Brasil. Para adentrar áreas desconhecidas, os colonizadores utilizavam os cursos dos rios, e o rio São Francisco era o roteiro mais utilizado, assim como as terras do Vale do São Francisco eram as mais cobiçadas. Era cada vez maior o desejo dos colonizadores de encontrar ouro e pedras preciosas no Sertão, e em função desse desejo, segundo Raboni (2008), D. João III ordenou ao então Governador-Geral Tomé de Souza que desse início a uma expedição de exploração da região do Vale do rio São Francisco, ainda no século XVI. A partir de então, levantaram-se as primeiras informações acerca do rio São Francisco. Alcançar o Sertão não era uma tarefa fácil, principalmente porque os colonizadores não dispunham de meios seguros para realizar o percurso. O trajeto era perigoso, desconhecido, e a viagem era longa. Havia dificuldade de comunicação e transporte. O sertão foi aos poucos revelado. Raboni (2008) afirma que o padre Martin de Nantes descreveu um dos roteiros para o sertão, percurso que realizou algumas vezes entre 1672 e 1683. Ele nos indica três pontos de passagem, indo de Salvador, Capital da Colônia: a aldeia de Canabrava, hoje Ribeira do Pombal, nas margens do rio Itapicuru, cruzando Jeremoabo, nas águas do rio Vaza-Barris, e atingido o rio São Francisco nas proximidades das ilhas de Pambu e Aracapá, termos do sertão de Cabrobó. (RABONI, 2008). Em 1738, traçaram-se outros caminhos que levavam até o Sertão do São Francisco, alcançando Rodelas e complementando o trajeto até a região da Barra da Cariranha no Alto São Francisco. Segundo Raboni (2008), os dois lados do rio tornaram-se alvo de povoamento. O caminho para se atingir o sertão de Pernambuco no século XVII vinha do sul, de Salvador. Só depois, no século XVIII, as entradas começaram a ser feitas pelos caminhos que partiam 23 do Recife e Ipojuca. As possibilidades de se atingir os sertões eram concretas, apesar de mínimas. A opção mais viável era margear os rios Capibaribe, Ipojuca, Pajeú, Moxotó e São Francisco. Nessas margens fixaram-se povoados, que se tornaram vilas e depois cidades, onde o pasto para o rebanho era verdejante. O leite e a carne de vaca eram a principal fonte de alimentos nas fazendas ribeirinhas do rio São Francisco (RABONI, 2008). Em torno de 1551, Garcia d‟Ávila, almoxarife que acompanhava Tomé de Souza, construiu a chamada Casa da Torre, que logo se tornou distrito. A partir disso, irradiou-se uma grande área de influência. A construção da casa já era um sinal do seu interesse em conquistar as terras do Vale do São Francisco. O neto de Garcia d'Ávila, Francisco Dias d'Ávila, consolidou o poder da Casa da Torre sobre muitas léguas de terras. Em 1624, o Rei concedeu formalmente (através de carta Régia) poderes para que fossem explorados os lugares mais ermos dos sertões do Brasil. O objetivo principal era encontrar prata, ouro, pedras preciosas e minerais. Encontrou-se o salitre (utilizado nas fábricas de pólvora), nas paragens do rio que ganhou o mesmo nome (rio Salitre, ou Vereda da Tábua, depois das atuais cidades de Petrolina e Juazeiro). Os domínios da Casa da Torre invadiram o Piauí e só pararam no Maranhão, na altura do rio Jaguaribe. (RABONI, 2008). Nessa época, para compensar o fornecimento de gado às tropas de campanha das guerras de Restauração, o governador de Pernambuco, André Vidal de Negreiros, concedeu diversas sesmarias aos senhores da Casa da Torre, as quais pertenciam ao território pernambucano. Desse modo, a Casa da Torre teve seus domínios estendidos, desde a região do rio Pajeú, até o rio Salitre. Em 1681, a Casa da Torre elevou-se à categoria de Morgado. Ao falecer em 1694, Francisco Dias d'Ávila foi sepultado na Torre. Em 1700, os herdeiros da Casa da Torre, sucessores de Antônio Guedes de Brito (grande latifundiário no Alto Sertão da Bahia), e os de Domingos Afonso Sertão, eram proprietários de quase todas as terras no Sertão pernambucano. Essas terras eram arrendadas por familiares, ou por terceiros, que lá fundavam suas fazendas de gado. O herdeiro de Francisco Dias d'Ávila, Garcia d'Ávila Pereira, passou a posse da Casa da Torre ao bisneto Garcia d'Ávila Pereira de Aragão, que não deixou herdeiros, e em testamento, passou os bens do Morgado da Torre à sobrinha, Maria de São José Aragão, casada com o capitão-mor José Pires de Carvalho e Albuquerque. 24 No período regencial (1831-1840), extinguiram-se os termos jurisdicionais “morgados”, dispersando-se, então, o poder da Casa da Torre. Contudo, as grandes propriedades continuarão em posse dos antigos donos, ou sesmeiros, que arrendavam essas terras. Sendo assim, percebe-se que aquela situação de posse não acabou, permanecendo com os tradicionais latifundiários; tão somente se pôs fim ao termo formal chamado “Casa da Torre”, a qual se tornou um mito na história do Sertão. Somente a partir da segunda metade do século XVII, iniciou-se a penetração ao longo do Sertão do São Francisco. No século XVIII, fundaram-se diversas fazendas de gado nessa região, o que deu início à formação de alguns povoados. A região era favorecida pela geografia, adequada para a criação de gado. Nas proximidades dos vales dos rios, principalmente o São Francisco, fundaram-se muitas fazendas de gado. Havia também a prática da agricultura de subsistência, uma vez que as populações foram estabelecendo-se e construindo casa nos arredores das fazendas. Criaram-se no século XVIII as seguintes freguesias: Tacaratu em 8de setembro de 1761 e instalada em 1764; Pajeú das Flores em 11 de setembro de 1783 (norte da atual cidade de Floresta); Cabrobó, 14 de novembro de 1786; Caripós, 20 de janeiro de 1787 (atualmente cidade de Santa Maria da Boa Vista); Fazenda Grande, 11 de setembro de 1801 (atualmente o município de Floresta). No decorrer dos séculos, os povoados constituídos no Sertão ganharam dimensões de vila, passando depois para cidades. Os antigos povoados transformados em cidades que compõem o Vale do São Francisco são: Afrânio – De início, era distrito de Petrolina; emancipado em 20 de dezembro de 1963, passou à categoria de cidade. Belém do São Francisco – no começo pertencia à freguesia de Cabrobó. Com a construção da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio entre 1839 e 1840, passou a povoado. Em 1902, foi elevada à categoria de vila, e em 1928 tornou-se município. Cabrobó – de freguesia em 1786, passou a cidade em 1928. Floresta – freguesia de Fazenda Grande em 1801. Em 1843, foi elevada à categoria de vila de Floresta. Tornou-se cidade em 1907. Jatobá – emancipou-se de Petrolândia em 1995. Lagoa Grande – emancipou-se de Santa Maria da Boa Vista em 16 de junho de 1997. Orocó – emancipou-se de Cabrobó em 20 de dezembro de 1963. 25 Petrolândia – inicialmente pertencia ao termo de Tacaratu; elevada à categoria de cidade em 1909. Petrolina – tornou-se vila em 1862, município autônomo em 1893 e em 1895, passou a cidade. Santa Maria da Boa Vista – antiga povoação de Igreja Nova, foi fundada em 1872. Tacaratu – no final do século XVII, já se mencionam povoações não indígenas na região. Foi fundada como cidade em 1953. O território de Petrolina foi inicialmente desbravado por frades franciscanos, que tinham conhecimento de que, no lugar onde fica atualmente a cidade, situava-se uma fazenda de criação de gado, local onde poderiam alojar-se. Por volta de 1850, não existia ainda o povoado. Tratava-se apenas de passagem obrigatória de boiadeiros ou negociantes do interior de Pernambuco, Maranhão, Piauí ou Ceará; constituía o local ponto de convergência para a travessia do São Francisco – conhecida como "Passagem do Juazeiro" –, em direção à Bahia, resultando na formação de Petrolina, de um lado do rio, e na margem oposta, Juazeiro. Segundo Chilcote (1991), Petrolina, em 1860, tornou-se povoado e em junho de 1862 passou à categoria de freguesia. Passou a ser denominada Petrolina em referência ao imperador Dom. Pedro II, ou à abundância de pedras naquela área, não se sabe ao certo. Nesse mesmo ano, ergueu-se sua primeira igreja sob a invocação da Santa Maria Rainha do Anjos, e dois anos depois, nomeado seu primeiro vigário, Manoel Joaquim da Silva (CHILCOTE, 1991). Em junho de 1879, Petrolina tornou-se oficialmente vila e passou a ser município em abril de 1893. A partir de então, separou-se do município de Santa Maria da Boa Vista, a leste; limitava-se também com os municípios de Ouricuri ao norte e Afrânio a oeste; ao sul, com o estado da Bahia ao longo do rio São Francisco. Em 1895, o centro urbano passou a ser chamado de cidade, em vez de vila, e passou a celebrar seu aniversário em 21 de setembro. A cidade de Petrolina localiza-se numa área conhecida como “polígono das secas” e encontra-se a mais de 600 km da capital do estado, Recife. Por se situar às margens do rio São Francisco, a cidade de Petrolina tem uma vocação natural para as atividades agrícolas, assim como muitas cidades ribeirinhas. Apesar disso, Petrolina não desenvolvia todo potencial agrícola que tinha. A atividade agrícola crescia à sombra da pecuária, historicamente, a principal atividade econômica local. De modo geral, a população 26 rural da colônia ocupada nas grandes lavouras, que constitui a quase totalidade, provê sua subsistência com culturas alimentares a que se dedica subsidiariamente, e sem necessidade de recorrer para fora, segundo Prado Júnior (1998). Plantava-se apenas para subsistência das fazendas de gado, em locais mais úmidos como o leito do rio São Francisco. À proporção que as águas baixavam, praticavam-se culturas como o milho, feijão, melancia e melão em alguns casos. Havia ainda o cultivo da cana-de-açúcar e da mandioca, o que proporcionava uma atividade agroindustrial de fundo artesanal, evidenciada pela presença de casas de farinha e engenhos de mel e rapadura. As fruteiras apareciam como culturas de fundo de quintal até mais ou menos os anos 1950. Ao longo das margens do rio, era possível encontrar, de maneira dispersa, algumas fruteiras, voltadas para o autoconsumo das famílias. Quando havia excedente, destinava-se ao abastecimento das cidades mais próximas. Eram cultivadas frutas de estação como laranja, limão, banana, manga, produzidas também em área de sequeiro. Os sistemas de produção de subsistência dominantes na agricultura da região não consideravam a possibilidade de se usufruir uma forma viável e racional as águas do rio. Além disso, Prado Júnior (1998) afirma que o papel secundário a que o sistema econômico do País, absorvido pela grande lavoura, vota à agricultura de subsistência determinou um problema dos mais sérios que a população da colônia teve de enfrentar. Trata-se do abastecimento dos núcleos de povoamento mais denso, em que a insuficiência alimentar se tornou frequente. Portanto, a agricultura de subsistência parecia ser conveniente apenas para aqueles que eram diretamente beneficiados por ela, ou seja, aqueles que a praticavam. O processo de colonização seguiu seu caminho, finalizando-se para o Brasil em 1808, entretanto, a separação oficial de Portugal, se deu somente quatorze anos depois. A partir daí, o processo de povoamento se concentra nas áreas litorâneas. Já para o interior, o povoamento ocorreu de forma irregular, formando manchas demográficas, distribuídas sem nenhuma regra; existindo áreas como o Sertão nordestino, configuradas como verdadeiros desertos, que em regra não serviam nem ao menos para as comunicações que se faziam por mar. Na era colonial, segundo Prado Júnior (1998), não se chegou a constituir uma economia nacional, isto é, um sistema organizado de produção e distribuição de recursos para a subsistência material da população nela aplicada. O que houve e perdurou por um bom tempo foi o surgimento de alguns setores como a indústria extrativa, que, além de explorar ouro e 27 diamantes, se concentrou ainda na exploração de madeira, pesca da baleia, exploração de sal e salitre e da erva-mate. Destacaram-se, ainda, nesse período as artes e manufaturas, os transportes e as comunicações, e finalmente, o comércio. Apesar do alto potencial que a região do Vale do São Francisco apresentava para a produção de alimentos e de produtos considerados nobres, como a uva, antes da década de1950, as condições para ampliação do excedente local eram limitadas. Havia carência de infraestrutura de transporte, energia, estudos de viabilidade técnica e econômica para a prática da irrigação, em especial, a pesquisa agronômica (SILVA, 2001). Outro entrave para o desenvolvimento da potencialidade de Petrolina foi a estrutura fundiária e o poder político local. O quadro começou a mudar nos anos 1950, com a propagação de equipamentos individuais de motobombas diesel. Apesar dos pequenos avanços na irrigação local, as frutas ainda não tinham uma participação significante. Produzia-se principalmente cebola e cana-de-açúcar graças à demanda do Mercado Centro-Sul baiano. Por conseguinte, o poder público parece dar-se conta da potencialidade da região para a produção agrícola e começa a participar de forma intensa do processo de transformação econômica do município. Os setores de transporte, energia e comunicação ampliaram-se significativamente. Com a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em outubro de 1945, e a constituição da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), em dezembro de 1948, o Estado de Pernambuco passa a se mostrar presente de forma permanente. A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) também foi um importante canal de investimentos do estado na região. A presença do poder público não se fez valer apenas nos investimentos em infraestrutura básica; as pesquisas e os estudos destinados a alimentar a região de uma base científica e tecnológica sólida não foi esquecida. Foi por meio da CVSF que se iniciaram as primeiras pesquisas e o apoio técnico destinados às culturas irrigadas na região. Entretanto, com a criação da Sudene no fim da década de 1950 e a instituição do Grupo de Irrigação do São Francisco (GISF), intensificaram-se os estudos dos recursos naturais da região, por meio de levantamento de solos das áreas de caatinga para fins de irrigação. O estado deixava claro seu interesse na região, intensificando a pesquisa principalmente. Na década de 1960, instalaram-se duas estações experimentais, uma em Petrolina-PE e outra em Juazeiro-BA. Em um futuro próximo dali, seriam o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro 28 Irrigado de Mandacaru. A Sudene em parceria com a Food Agricultural Organization (FAO), após realizar um levantamento pedológico, elaborou o Plano Diretor de Irrigação no SubMédio São Francisco. Esse plano foi o pontapé inicial para a implementação dos Perímetros de Irrigação existentes hoje no Polo. A CVSF transformou-se em Superintendência do Vale do São Francisco (Suvale), passando a coordenar a execução do Plano de Irrigação. Nos anos 1970, a Suvale transformou-se em Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Em 1975, o estado intensificou o apoio e incentivo à pesquisa na região e criou o Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (CPATSA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Apesar de todo o incentivo dado à agricultura na região, a fruticultura ainda não aparecia com destaque. Entretanto, com a orientação dos técnicos da Sudene, alguns colonos resolveram investir em culturas como o tomate, a melancia e a uva. Com a criação da Codevasf, o estado apostou todas as suas fichas em Petrolina. Depois de elaborado o Plano Diretor de Irrigação, deu início ao processo de expansão dos projetos públicos de irrigação, fato decisivo para o desenvolvimento econômico da região. A Codevasf realizou um trabalho importante, assumindo a responsabilidade por todas as fases de execução dos projetos públicos de irrigação, desde os estudos até o funcionamento do projeto. O trabalho da Codevasf garantiu novo fôlego à conjuntura econômica da região. Os programas de irrigação da Codevasf, como se sabe, não se limitavam às obras hidráulicas e ao desenvolvimento dos projetos públicos de irrigação. Concebidos sob o marco do planejamento integrado, a estratégia de execução desses programas previa, ao lado dos projetos de irrigação, uma série de atividades multissetoriais, com a participação da iniciativa privada (SILVA, 2001). A CODEVASF foi criada com a função principal de promover, diretamente ou por intermédio de entidades públicas e privadas, o aproveitamento dos recursos de água e solo do Vale do São Francisco, para fins agrícolas, agropecuários e agroindustriais, mediante a execução de projetos de desenvolvimento integrado em áreas prioritárias. (CODEVASf, 1975,p. 119). Estava aberto o caminho para o desenvolvimento da cidade de Petrolina e de seu entorno. A instalação dos Perímetros de Irrigação era a confirmação da forte atuação do poder público na região. Na região do Submédio São Francisco, desenvolveram-se oito projetos de irrigação até 1992, o que mostra quão grande é o potencial da região, conforme mostra a Tabela 1. 29 Tabela 1 – Projetos públicos de irrigação do SMSF Projetos de Localização Ano de irrigação implantação Início de operação Área implantada (ha) Bebedouro I Petrolina-PE 1968 1968 1.060 Bebedouro II Petrolina-PE 1972-73 1977 576 Mandacaru Juazeiro-BA 1971-72 1971 376 Maniçoba Juazeiro-BA 1975-81 1980 4.197 Curaçá Juazeiro-BA 1975-79 1982 4.165 Tourão Juazeiro-BA 1977-79 1979 10.548 Nilo Coelho Petrolina-PE 1979-84 1984 13.146 Maria Tereza Petrolina-PE 1994-96 1996 7.165 Fonte: Codevasf (1991) A influência do estado na viabilização de grandes investimentos na região, principalmente na agricultura irrigada, foi forte o bastante para repercutir na organização sociopolítica da região. À medida que os bons resultados apareciam, a classe política se mobilizava para movimentar e modernizar o processo produtivo da região. A classe política, não só da região, mas de todo o País, pôde perceber que a agricultura moderna e capitalista – e não aquela que nos lembra um quadro de atraso e miséria com a qual estamos acostumados a associar o meio rural – é capaz de conciliar os próprios interesses, mas nem sempre beneficiando a economia nacional na totalidade. Com apoio do poder público mais que garantido, pôs-se em prática na região a lógica da agroindústria, ou seja, praticavam-se culturas de fácil processamento industrial ou de alto valor comercial: cebola, melão, tomate. Com a aplicação dessa lógica, na região houve uma verdadeira explosão de empresas com alto padrão tecnológico, voltadas apenas para o processamento dessas culturas. É óbvio que o estado incentivou amplamente a vinda dessas empresas para a constituição de um polo agroindustrial. A presença da agroindústria na região alterou o perfil da produção agrícola e da variedade de culturas praticadas em Petrolina. Os colonos dos lotes passaram a praticar culturas de ciclo curto como o tomate, pimentão. A fruticultura nessa época seguia timidamente os passos da agroindústria. A uva que era cultivada estava visivelmente atrelada à vitivinicultura. Tanto que as duas fazendas pioneiras no cultivo da uva – Fazenda Milano e Fazenda Ouro Verde – escolheram o caminho da vitivinicultura. A produção do melão, cultivado nas margens do rio na década de 1960, foi estimulada graças à presença de intermediários que se vinculavam a exportadores de outras 30 regiões. Pode-se visualizar uma síntese da evolução da fruticultura no Submédio São Francisco, onde se insere o município de Petrolina, no Quadro1. Quadro 1 – Síntese das etapas de evolução da fruticultura no SMSF PERÍODO FATORES DETERMINANTES Ano de inflexão 1950-1975 Os primeiros passos da fruticultura no SMSF 1975 1975-1985 A constituição do polo agroindustrial nos municípios Petrolina-PE e Juazeiro-BA e o início da fruticultura 1985 Desencadeadores Aceleradores - Ação do estado em infraestrutura de - Integração regional e nacional estrada, energia. - Uso de motobombas e bombas - Criação da CVSF, Suvale e Sudene elétricas Empreendimentos pioneiros de - Estudos dos recursos naturais e fruticultura na região agronômicos - Projetos-piloto de irrigação. - Efeito-demonstração dos projetospiloto de irrigação. Investimentos do estado na irrigação - Criação da Codevasf - Implantação e operação de projetos públicos de irrigação - Instalação de agroindústrias - Empreendimentos pioneiros em vitinicultura - Instalação dos primeiros projetos de fruticultura para exportação. Exportação de frutas in natura 1985-1994 A fruticultura e a formação de uma base exportadora no polo Petrolina/Juazeiro 1994 1994-1999 Consolidação do complexo frutícola do polo PetrolinaPE/Juazeiro-BA. - Infraestrutura de irrigação - Criação da Valexport - Crise do estado e do padrão de financiamento - Abertura comercial - Integração com mercados regionais e nacionais de frutas. Políticas públicas - Participação da iniciativa privada - Incentivos fiscais/financeiros da Sudene e do BNB - Políticas agrícolas nacionais/ setoriais - Programas de desenvolvimento regional - Pesquisas da Embrapa. Ação da Valexport - Incentivos à exportação - Crise da agricultura irrigada e do complexo agroindustrial - Papel da Cooperativa Cotia - Organização dos interesses privados. Plano de estabilização da economia Aumento da demanda interna - Crescimento do mercado interno de frutas frescas - Especialização territorial em fruticultura - Crise de endividamento de grandes empresas - Emergência de novos atores sociais/formas de organização. - Crescimento da participação da pequena produção - Linhas de financiamentos do FNE, PRONAF, FAT - Dificuldade para estabelecer a paridade cambial - Criação do PADFIN. Fonte: Silva (2001) Atualmente, a fruticultura na região do Vale do São Francisco, principalmente no eixo Petrolina-PE/Juazeiro-BA, tem-se destacado no cenário brasileiro como um dos maiores produtores de frutas, especializando-se na produção de uva de mesa com e sem sementes, melão, melancia e manga. Não é exagero afirmar que toda a atenção sobre a fruticultura irrigada no Brasil está voltada para o Vale do São Francisco, com destaque para o município de Petrolina. De acordo com Caldas (2007), mesmo o Brasil sendo o terceiro maior produtor de frutas do mundo, ao lado da China e da Índia, pode-se observar na Tabela 2 um significativo déficit na balança comercial da fruticultura brasileira, fato que reflete nos ainda 31 poucos investimentos feitos com o objetivo de garantir uma atividade rentável que possa traduzir-se em maior inserção nos mercados nacional e internacional. Tabela 2 – Balança comercial de frutas frescas do Brasil 2000-2002 Balança comercial de frutas frescas 2000 Balança comercial de frutas frescas 2002 Toneladas US$ mil Toneladas US$ Exportação 427981 169867 668907 240826 Importação 374600 238030 365517 227416 Fonte: Secex (apud Caldas, 2007) As políticas territoriais aplicadas no município de Petrolina seguiram o mesmo modelo de gestão brasileiro, caracterizado pela exclusão social e num ambiente político comandado por coronéis e oligarquias, o qual vem sendo transformado com a introdução de novos atores sociais ali instalados. Para que a inclusão desses atores se realize com êxito, faz-se necessário o diagnóstico e estudo adequado a cada região geográfica e produtora do município. 2.2 O espaço geográfico e suas categorias: paisagem território e região Ao se falar em espaço geográfico, percebem-se alguns equívocos, por exemplo, caracterizar o espaço geográfico como algo físico apenas ou como algo estático, e seu conteúdo, a sociedade, não faz parte dele. De acordo com Santos (1988), a realização concreta da história não separa o natural e o artificial, o natural e o político, é preciso ver a realidade de forma diferente. A sociedade, de modo geral, não consegue distinguir as obras da natureza das obras dos homens. Essa dificuldade se fortalece à medida que explicamos os fenômenos apenas com conceitos puros. O espaço geográfico é híbrido, pois nele não há como separar o sistema de objetos do sistema de ações. Ele surge como o esteio de sistemas de relações, algumas determinadas pelo meio físico e outras pelas sociedades humanas (DOLLFUS, 1991). O espaço geográfico se define por suas coordenadas, sua altitude e seu sítio, e por sua posição como afirma Dollfus (1991). Sua posição evolui de acordo com as relações estabelecidas considerando também outros espaços. Trata-se de um espaço diferenciado. De acordo com a ideia de Dollfus (1991), o espaço geográfico por sua localização e pelas combinações que presidem sua evolução, tem todo elemento do espaço e todas as formas de paisagens como fenômenos únicos que não podem ser encontrados, exatamente iguais, em outro lugar ou em outro momento. Esses fenômenos são chamados de paisagens. 32 Segundo Santos (1988), paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. Essas formas, com a vida que as anima, formam o espaço. A paisagem reflete uma porção do espaço e carrega consigo o aspecto transtemporal, ou seja, une objetos passados e presentes. O espaço é sempre um presente, uma situação única (SANTOS, 1988). Apesar disso, o espaço geográfico é impregnado de história, o que o diferencia do espaço econômico (DOLLFUS, 1991). Santos (2001) esclarece que a paisagem é um sistema material, e nessa condição ela se torna imutável; por sua vez, o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente. Paisagem e espaço se confundem e vivem em busca de um acordo difícil de concretizar. A paisagem é como se fosse uma folha em branco onde é escrita a história. Nesse sentido, Santos (1988) afirma que paisagem e espaço são sempre uma espécie de palimpsesto, em que, mediante acumulações e substituições, a ação das diferentes gerações se superpõe. A paisagem é memória viva do passado, isso a transforma num interessante objeto de trabalho. Para melhor entendimento da delicada relação entre paisagem e espaço, Dollfus (1991) classifica as paisagens, que são reflexo do espaço, em três grandes famílias, em função das modalidades da intervenção humana. Quadro 2 – Família de paisagens x intervenção humana Família Paisagem natural Paisagem modificada Paisagem organizada Características Constitui a expressão visível de um meio que não foi submetido, em data recente, à ação do homem. Trata-se de regiões inadequadas para a agricultura ou pecuária É um espaço modificado em razão de queimadas, que causam desequilíbrio ecológico Resultado de uma ação meditada, combinada e contínua sobre o meio natural Fonte: Adaptado de Dollfus (1991, p. 30) Formas de intervenção humana O clima, a dificuldade das comunicações e o isolamento tornam muito onerosa a presença do homem moderno nesses ambientes. A presença do homem nesses espaços vazios pode modificar o meio Essas áreas tornam-se empobrecidas por ações humanas inconscientemente devastadoras Por ser meditada, consciente, ocorre quando um grupo organiza o espaço em função de seu sistema econômico, de sua estrutura social e das técnicas de que dispõe. Por ser combinada, isto é, que não é resultado da ação de apenas um indivíduo, mas da ação conjunta da sociedade, ela ocorre quando as tarefas são distribuídas em função das possibilidades dos indivíduos, suas categorias sociais. Por ser contínua, a ação deve ser levada avante durante certo tempo para que as modificações no meio surjam e sejam verificados os benefícios esperados. 33 As paisagens fazem parte do espaço geográfico que tem ainda outras categorias como os territórios e as regiões. A palavra território vem sendo utilizada nas ciências naturais e nas ciências sociais há muito tempo, entretanto, com a renovação de ciências como a geografia, a sociologia e a economia, a expressão território volta à tona com muita força. É relevante destacar que espaço e território não são sinônimos. O espaço antecede o território. Raffestin (1993) afirma que o território se forma a partir do espaço, e ele, o espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático em qualquer nível. Segundo Andrade (2004), nas ciências naturais, o território seria a área de influência e predomínio de uma espécie animal que exerce o domínio dela, de forma mais intensa no centro, perdendo essa intensidade ao se aproximar da periferia, onde passa a concorrer com domínios de outras espécies. Por definição, território é um espaço socialmente organizado, que significa espaço ou fluxos, ou seja, lugares e pessoas interagindo. São compostos por atores inteligentes organizados que podem fazer pactos, planos ou projetos coletivos (ZAPATA, 2007). O ator quando se apropria do espaço, de forma concreta ou abstrata, “territorializa” o espaço. Não se pode confundir o conceito de território com o de espaço estabelecendo forte relação com a ideia de domínio ou de gestão de uma área. Andrade (2004) afirma que é preciso ligar sempre a ideia de território à ideia de poder, quer se faça referência ao poder público, quer ao poder das grandes empresas que estendem seus tentáculos de uma forma tal que ignoram as fronteiras políticas. Sobre a relação entre território e poder, Raffestin (1993) afirma que a delimitação de um território, o controle de pontos, de ilhas, de cidades, etc. e o traçado de rodovias, de vias, etc. surge de uma axiomática euclidiana traduzida em termos de relação de poder. É o poder, público ou privado, que transforma o espaço em território. Os territórios podem ser vistos como resultantes do processo de cooperação, que se materializam num determinado tipo de desenvolvimento, que pode aproveitar adequadamente, ou não, suas potencialidades; mas é possível perceber o território como produto da ação de um ator engajado como elemento no sistema. na opinião de Raffestin (1993), o ator está situado num ponto do espaço, num ponto a partir do qual vai representar o espaço para si. Esse ponto não é privilegiado em relação aos outros elementos – superfície e linha. Ele fornece o suporte egocêntrico da representação, porque esta é uma manifestação do “eu” em relação ao “não eu”, uma explicitação da interioridade em relação à exterioridade (RAFFESTIN, 1993). 34 A Figura 1 ilustra como se pode colocar o ator num ponto e dispor os elementos da sua representação. Usando apenas os pontos, as linhas e a superfície, pode-se perceber a representatividade de um ator em relação a outros atores. Segundo Raffestin (1993), os pontos representam a localização de outros atores ou propriedades que interessam a A; as retas juntam outros pontos e delimitam a superfície. Trata-se de uma representação egocêntrica do ator A, porque a representação seria diferente caso se colocasse outro ator situado em outro ponto do plano (Figura 1). Figura 1 – Localização de outros atores que interessem ao ator A Fonte: Raffestin (1993) Portanto, o espaço representado não é mais o espaço, mas a imagem do espaço, ou melhor, o espaço visto e/ou vivido. É, em suma, o espaço que se tornou território de um ator, desde que tomado numa relação social de comunicação. (RAFFESTIN, 1993, p. 147). Para que haja o aproveitamento adequado das potencialidades do território, faz-se necessária a inserção do conceito de governança, que, segundo Arns (2007), é um processo e uma capacidade de articulação e organização do território que busca potencializar os recursos internos e de aproveitamento das oportunidades externas, de superação das dificuldades e ameaças para gerar o desenvolvimento. As pessoas que formam um território passam a ter a consciência de quanto é importante sua participação no processo de gestão. Passam a provocar o sentido da territorialidade, que, de forma subjetiva, cria uma consciência de confraternização entre elas. Saquet e Sposito (2008) destacam que o território é objetivado por relações sociais concreta e abstratamente, relações de poder e dominação, o que implica a cristalização de uma territorialidade por meio de diferentes atividades cotidianas. Quanto à territorialidade, 35 Andrade (2004) afirma que ela pode ser encarada tanto como o que se encontra no território, estando sujeita à sua gestão, como, ao mesmo tempo, o processo subjetivo de conscientização da população de fazer parte de um território, de integrar-se em um estado. A territorialidade pode ser compreendida como a capacidade de valorização dos atores e dos recursos de um lugar por meio de ações de inclusão. Conforme afirma Governa (2005, p. 57): “Essa é uma concepção ativa da territorialidade, resultado de um processo de construção das ações e dos comportamentos que definem as práticas (também de conhecimento) dos homens em relação à realidade material.” O território é muitas vezes considerado como uma consequência da regionalização. As regiões, por sua vez, são consideradas individualidades geográficas. Segundo Dollfus (1991), as regiões são organismos que nascem, desenvolvem-se e perecem. Trata-se de uma porção organizada de acordo com um sistema e que se insere num conjunto maior. A ambiguidade do conceito de região acaba por forçar a classificação das regiões, facilitando sua compreensão por meio dos adjetivos atribuídos a elas nesse processo. Guerra (2009) classifica as regiões em elementares ou primárias, regiões naturais ou fisiográficas, regiões humanas e regiões geográficas. As regiões elementares são as áreas do globo terrestre individualizadas por um elemento da paisagem. A classificação de regiões podem considerar também vários elementos naturais ou vários elementos culturais para identificar as regiões naturais ou fisiográficas e as regiões culturais. Dollfus (1991) também fez uma classificação das regiões, que ele chamou de famílias de regiões, como se pode observar no Quadro 3. Quadro 3 – Famílias de regiões Famílias Características Região Natural Constitui uma das mais antigas noções geográficas. Baseia-se no decisivo papel desempenhado por elementos físicos na organização do espaço Região Histórica Trata-se do produto de um longo passado compartilhado por uma coletividade que ocupa um determinado território Região, área de extensão de uma paisagem Uma paisagem geográfica surge devido à repetição, em determinada superfície, de elementos produzidos por combinações de formas físicas ou humanas ou provenientes de um meio cultural, conferindo a esse espaço uma individualidade distinta com relação aos espaços vizinhos. Fonte: Adaptado de Dollfus (1991, p. 101) A delimitação de uma região geográfica encontra vários problemas, pois nos limites de uma região com outra é comum encontrar uma área de transição, uma vez que, na natureza, 36 segundo Antonio Guerra e Antonio José Guerra (2009), os fenômenos não acabam bruscamente. Compreender a relação que ocorre nos territórios, assim como a relação existente entre as regiões e os territórios é de grande relevância para a descoberta do caminho que leva ao desenvolvimento local sustentável. 2.3 Caracterização da área de pesquisa Petrolina localiza-se na região do Submédio São Francisco (Figura 2) e suas coordenadas geográficas são: latitude 09º23‟55” sul e longitude 40º30`03” oeste, estando a uma altitude de 376 metros. Seu clima é o semiárido quente e sua temperatura média anual é de 25,7º C, de acordo com as informações da agência Condepe/Fidem. Segundo dados do IBGE (2007), a área municipal ocupa 4.559 km2 e representa 4,81% do Estado de Pernambuco. Ainda segundo o IBGE (2007), a população residente total é de 268.339 habitantes sendo 166.279 na zona urbana e 52.259 na zona rural, resultando numa densidade demográfica de 46,1 hab/km2. Figura 2 – Mapa da localização do município de Petrolina, PE, Brasil Fonte: Adaptado de AD Diper (2011) 37 Petrolina destaca-se em Pernambuco e no País pelo bom desempenho em suas atividades econômicas, principalmente na fruticultura irrigada. Esse desempenho econômico positivo trouxe à tona vários espaços de natureza diferente, que têm suas formas de interação resultantes das dinâmicas sociais e econômicas de cada um desses espaços. Na perspectiva do Desenvolvimento Territorial, é possível identificar no município de Petrolina a existência de dinâmicas diferentes em diversos pontos da cidade. Realizaram-se “recortes” dentro do município, em quatro áreas de relevância socioeconômica, as quais serão designadas territórios. São elas: a área de sequeiro (Figura 3), a área irrigada (Figura 4), a área ribeirinha e a área central da cidade. A área de sequeiro fica na zona rural da cidade, e trata-se de um espaço aonde a irrigação não chegou. A produção agrícola é praticamente de subsistência, mas é onde a ovinocaprinocultura é mais presente. A área irrigada também se localiza na zona rural, porém, é aí onde se desenvolve a fruticultura, a principal atividade econômica da região do Submédio São Francisco. Figura 3 – Área de sequeiro em Petrolina Fonte: Google Earth, 2009 38 Figura 4 – Áreas irrigadas em Petrolina Fonte: Google Earth, 2009 O espaço ribeirinho corta tanto a zona rural (Figura 5) quanto a zona urbana (Figura 6). Tratase de um foco em que é possível ver algumas fazendas, chácaras na zona rural, entretanto, no espaço urbano, nota-se a degradação do ambiente, uma vez que a mata ciliar desaparece a cada dia. Além disso, não é raro o despejo da rede de esgotos nas águas do rio. Figura 5 – Área ribeirinha rural em Petrolina Fonte: Google Earth, 2009 39 Figura 6 – Área ribeirinha urbana em Petrolina Fonte:Google Earth, 2009 O centro da cidade é o espaço que reflete as relações sociais, econômicas e ambientais. É no centro da cidade onde os atores de cada uma das áreas citadas anteriormente se encontram e interagem (Figura 7). Figura 7 – Área central da cidade de Petrolina Fonte: Google Earth, 2009 40 2.3.1 Geologia do município de Petrolina A geologia de Petrolina se constitui de solos rasos e pedregosos, nos quais as rochas que lhes originam estão praticamente à superfície, chegando a aflorar em alguns pontos. Consequentemente, trata-se de solos com baixa capacidade de absorção de água, segundo informações da Codevasf (2007). No Período Quaternário, formaram-se unidades litoestratigráficas como as dunas, entre outras. Esse período compreende formações sedimentares mais recentes, nos quais, destacam-se as dunas (Figura 8). Trata-se da constituição de uma faixa de areia de deposição eólica, com relevos suaves ocorrendo em alguns pontos de baixada litorânea. Segundo dados da Embrapa (2000), na região de Petrolina, indo em direção à barragem de Sobradinho, encontram-se as dunas continentais. Elas se distribuem às margens do rio São Francisco e ocorrem de forma fixa ou móvel. Nesses materiais se desenvolvem solos como as Areias Quartzosas (AQ) – dunas fixas – e terrenos de sedimentos arenoquartzosos (dunas móveis). Figura 8 – Ambiente de dunas continentais, solo dominante Areia Quartzosa Fonte: Embrapa (2000, p. 326) O período Terciário/Quaternário compreende as áreas abrangidas por coberturas sedimentares sobre rochas cristalinas em forma de chapadas baixas – Tabuleiros Interioranos – que estão dispersos na região semiárida (Figura 9). Popularmente são chamadas de chapadas baixas, de acordo com informações da Embrapa (2000). As chapadas baixas ou tabuleiros interioranos ocorrem no município de Petrolina. Ainda segundo a Embrapa (2000), essas coberturas de sedimentos constituem material de origem dos Latossolos Amarelos (LA), Podzólicos 41 Amarelos (PA), Podzólicos Vermelho-Amarelos (PV), Latossolos Vermelho-Amarelos, Areias Quartzosas e em menor proporção de Plintossololos. Figura 9 – Tabuleiros interioranos Nota: solos dominantes: Podzólico Amarelo, Latossolo Amarelo e Podzólico Vermelho-Amarelo Fonte: Embrapa (2000, p. 330) O norte de Petrolina se encontra recoberto pelos sedimentos paleomezozóicos. Nessa região há ocorrência do Complexo Migmático-Granitóide, representado por rochas granitizadas, ocorrendo também leptinitos, calcários cristalinos, diques irregulares de granito róseo, granodiorito, tonalito e veios de pegmatito e aplito. Os principais solos desenvolvidos a partir das rochas desse complexo são: Brunos não Cálcicos (NC), Planossolos, Solos Litólicos, Cambissolos, Regossolos (RE) e Podzólicos Vermelho-Amarelos. 2.3.2 Geomorfologia e relevo de Petrolina O relevo e a geomorfologia de Pernambuco podem ser divididos em: a) faixa sedimentar costeira; b) níveis cristalinos que antecedem a Borborema; c) depressão periférica do São Francisco e superfícies de pediplanos com inselbergs; d) bacia do Jatobá; e) bacia de Mirandiba; f) bacia de São José do Belmonte; g) bacia de Fátima; h) bacia de Betânia; i) bacia do Araripe (EMBRAPA, 2000). O município de Petrolina encontra-se na estrutura Depressão Periférica do São Francisco e Superfícies de Pediplanos com inselbergs (Figura 10). O Sertão pernambucano é 42 dominantemente representado nos degraus da estrutura geológica do Pré-Cambriano com áreas de recobrimento pedimentar no extremo oeste (tabuleiros interioranos), provenientes de materiais que descem da Borborema e da Chapada do Araripe em direção à calha do rio São Francisco que constitui o grande canal natural que comanda toda a rede de drenagem da região, segundo dados da Embrapa (2000). Figura 10 – Pediplanos da depressão sertaneja com relevos plano e suave ondulado Nota: Solos dominantes: Planossolo Solódico (PL), Solonetz Solodizado (SS), Bruno não Cálcico (NC), Solo Litólico (R) e Regossolo (RE) Fonte: Embrapa (2000, p. 338) Nessa área, há predomínio de superfícies de pediplanos um pouco inclinados com relevo plano e suave ondulado, com declividades da ordem de 1% a 8% de declive. Há também áreas de pediplanos em evolução, apresentando ondulações mais acentuadas, em que se destacam os relevos ondulado e forte ondulado, com declives de 8% a 30% (EMBRAPA, 2000). Existem hipóteses paleogeográficas que admitem que os pediplanos sertanejos foram originados de uma vasta degradação, em condições de alta umidade, seguida de forte processo de aridez. Tal degradação iniciou-se no Terciário e posteriormente, foi aperfeiçoando-se em suas fases mais modernas de pediplanação, contemporânea ao grupo Barreiras. Em virtude disso, há presença de seixos rolados nos terraços e interflúvios das cabeceiras fluviais sugerindo a existência de um período climático mais úmido, em épocas passadas, segundo a Embrapa (2000). Entre as superfícies de pediplanação, constatou-se nos estudos realizados 43 pela Embrapa, a presença de trechos com inselbergues (perfis íngremes e rochosos). As altitudes dessas áreas estão entre 300 e 500 metros e as partes com inselbergues de 100 a 300 metros (EMBRAPA, 2000). Os tabuleiros interioranos (chapadas baixas) se constituem de depósitos de origem natureza colúvio-aluvial que apresentam uma superfície de pediplanação mais recente que a miopleistocênica. Eles se apresentam sob formas de pequenas mesetas com bordas dissecadas e contorno irregular, com topografia suave (relevo plano e suave ondulado), segundo informações da Embrapa (2000). Esses tabuleiros interioranos têm pequena elevação em relação à área que os limita apresentando uma espessura média de 15 metros. Em contato com o embasamento, geralmente, ocorrem níveis conglomeráticos. Os estudos realizados pela Embrapa (2000) mostram que seguindo as observações de campo, foi possível constatar que as referidas coberturas têm modos de ocorrência e origem diferente. Observouse também que algumas constituem testemunhos do Grupo Barreiras, que, submetidos a intensa erosão e lixiviação, apresentam uma pequena espessura formada quase exclusivamente por solos arenoargilosos. Em alguns casos, é possível originar-se do profundo intemperismo e lixiviação posterior de rochas do Pré-cambriano, exibindo nesses casos, na maioria das vezes, platôs com bordas dissecadas, podendo raramente conservar resquícios de estruturas gnáissicas e restos de veio de quartzo quebrados. Ocorrem ainda como retrabalhamento e deposição dos sedimentos do Grupo Barreiras, posicionada entre forma de talus, ou em pequenas depressões do embasamento. Sendo assim, torna-se difícil a separação desses tipos distintos, uma vez que essas coberturas foram agrupadas em uma única unidade entre o terciário e o Quaternário (Embrapa, 2000). 2.3.3 Caracterização do clima de Petrolina O Nordeste brasileiro sempre apresentou problemas climáticos no que se refere a seu regime de chuvas. As causas da variação de ocorrência de chuvas não são totalmente entendidas. Segundo a Embrapa (2000), estudos recentes sobre o clima indicam que os fenômenos do tipo El Ninõ Oscilação Sul (ENOS) e circulação geral da atmosfera seriam os responsáveis pela ocorrência de baixos totais pluviométricos. O regime de chuvas no Nordeste brasileiro identifica-se de acordo com suas regiões (Figura 11). Então, temos o regime do norte, com 44 chuvas máximas no período fevereiro-março-abril; o regime do sul com chuvas máximas no período novembro-dezembro-janeiro; e a região costeira leste, com chuvas máximas no período maio-junho-julho. Figura 11 – Distribuição dos postos pluviométricos em Pernambuco Fonte: Embrapa (2000, p. 13) De acordo com estudos da Embrapa (2000), Pernambuco se influencia por três regimes pluviométricos: sistemas frontais (SF) e vórtices ciclônicos de ar superior (VCAS) no extremo oeste, perto de Petrolina (Figura 12). Nos cursos dos rios Pajeú e Moxotó – em grande parte do Sertão – e no Agreste oriental, apresenta-se com o regime que se encontra no norte do Nordeste, Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Ainda segundo a Embrapa (2000), na Zona da Mata existe uma influência dos ventos alísios de nordeste, ondas de leste, aglomerados de cúmulo-nimbos associados à brisa marítima (ACB) e também Alta Subtropical do Atlântico Norte (ASAN) e Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS). O município de Petrolina encontra-se no regime sul – sistemas frontais e vórtices ciclônicos de ar superior. 45 Figura 12 – Total médio anual de precipitação pluviométrica em Pernambuco (mm) Fonte: Embrapa (2000, p. 16) 2.3.4 Temperatura e evapotranspiração potencial de Petrolina Assim como em todo o Nordeste brasileiro, no Estado de Pernambuco não ocorre grandes alterações com relação à temperatura do ar à superfície. Partindo dessa premissa, estudos da Embrapa (2000) identificaram que a média anual da temperatura do ar à superfície no estado oscila entre 20 e 26ºC (Figura 13). No Sertão nordestino, onde se localiza o município de Petrolina, encontram-se os maiores valores anuais: 26ºC. Embora a média esteja um pouco acima dos 25ºC, a cidade tem passado por dias de altas temperaturas, segundo dados recentes do Instituto Tecnológico de Pernambuco/Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Itep/Lamepe, 2010) disponíveis na Tabela 3. Figura 13 – Temperatura média anual (ºC) Fonte: Embrapa (2000, p. 20) 46 Tabela 3 – Temperatura máxima dos municípios do Sertão pernambucano Altitude (m) Municípios Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Média (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) (ºC) 519 Afrânio 33,2 32,6 32,3 32,1 31,5 31,3 31,0 32,0 33,4 34,4 33,9 33,3 32,6 342 Cabrobó 34,6 33,9 33,5 32,9 31,9 31,3 31,1 32,3 34,0 35,4 35,7 35,2 33,5 492 Dormentes 33,5 32,8 32,4 32,2 31,6 31,3 31,1 32,1 33,6 34,6 34,3 33,7 32,8 358 Orocó 34,5 33,9 33,5 32,9 31,9 31,4 31,1 32,3 33,9 35,3 35,5 34,9 33,4 386 Petrolina 34,2 33,9 33,9 33,2 32,1 31,5 30,8 31,6 33,3 34,7 34,7 34,1 33,2 32,8 31,8 31,3 31,4 30,9 30,6 30,5 31,9 33,3 34,2 33,7 33,2 32,1 Santa 646 Filomena Santa Maria 368 da Boa Vista 34,5 33,9 33,6 33,0 32,0 31,4 31,0 32,1 33,8 35,2 35,3 34,7 33,4 380 Terra Nova 34,5 33,6 33,1 32,6 31,8 31,3 31,2 32,5 34,1 35,4 35,6 35,1 33,4 Fonte: Itep/Lamepe (2010) 47 De acordo com a Embrapa (2000, p. 19), “o comportamento do total anual de evapotranspiração potencial” – calculada pelo método de Thornthwaite e Mather (1957) –, “uma função direta da temperatura do ar, expressa a quantidade potencial de energia do ambiente”; e no Sertão se verificam os maiores totais de evapotranspiração, os valores oscilando entre 1.200 e 1.500 mm anuais (Figura 14). Tais resultados mostram altas taxas de evapotranspiração e poucas chuvas. Petrolina atinge uma média de 33,2 em 2010. Figura 14 – Estimativa do total anual de evapotranspiração em Pernambuco (mm) Fonte: Embrapa (2000, p. 20) 2.3.5 Hidrografia do município de Petrolina A hidrografia do Estado de Pernambuco é composta por um sistema de bacias hidrográficas principais, bacias secundárias e microbacias (EMBRAPA, 2000). As bacias principais são compostas pelos rios perenes: o São Francisco (no Sertão do estado) e os rios Capibaribe, Ipojuca e Una (Zona da Mata e Litoral), nascidos no Agreste, que compõem o sistema de drenagem secundário com os rios Sirinhaém, Pirapama, Jacuípe e Goiana. No Sertão pernambucano, o rio São Francisco, carinhosamente chamado de “Velho Chico” (Figura 15), é o rio mais importante do sistema de drenagem do estado, tanto pela extensão quanto pelo volume de água, constituindo-se um alto potencial energético e de irrigação, que tem sido de extrema importância para o desenvolvimento da fruticultura irrigada no município de Petrolina e nas cidades do seu entorno. 48 Figura 15 – Rio São Francisco Fonte: Acervo próprio (2011) 2.3.6 Vegetação do município de Petrolina As formações vegetais do Estado de Pernambuco destacam-se pelas áreas que ocupam: a caatinga nas zonas fisiográficas do Sertão e Agreste, e as florestas que têm como habitat principal a zona fisiográfica do Litoral e Mata, parte da Chapada do Araripe e partes úmidas nos “brejos de altitude” (EMBRAPA, 2000, p. 46). Segundo a Embrapa (2000), a vegetação do estado assim se configura: a) formações florestais a.1 floresta perenifólia de restinga a.2 floresta perenifólia de várzea a.3 floresta subperenifólia a.4 floresta subcaducifólia a.5 floresta caducifólia; b) manguezais – flor de alagados litorâneos segundo Andrade-Lima (1960); c) vegetação de transição; 49 d) caatingas: d.1 floresta/caatinga/cerrado (carrasco) d.2 floresta subcaducifólia/cerrado d.3 floresta caducifólia/caatinga hipoxerófila d.4 hipoxerófila d.5 hiperxerófila; e) cerrados; f) campos e outras formações: f.1 formações das praias f.2 campos de restingas f.3 campos de várzeas f.4 formações rupestres (rupícolas) f.5 formações acaatingadas f.6 das dunas. A vegetação predominante no município de Petrolina é a caatinga hiperxerófila, tipo de vegetação que ocupa também a maior parte do Nordeste brasileiro, ocupando uma extensão de cerca de 800.000 km², o que corresponde a 70% da região (DRUMOND; KIILL; NASCIMENTO, 2002). A caatinga, segundo Ferri (1979), é um ecossistema extremamente importante do ponto de vista biológico, pois é um dos poucos que têm sua distribuição totalmente restrita ao Brasil. Do ponto de vista botânico, a caatinga se constitui de um complexo vegetal rico em espécies lenhosas e herbáceas, sendo as primeiras caducifólias e as últimas anuais. Há muitas famílias existentes, com destaque para as Leguminosae, Enforbiaceae e a Cactaceae. A composição florística não é uniforme e pode variar de acordo como o volume das chuvas, da qualidade do solo, da rede hidrográfica e das ações antrópicas (LUETZELBURG apud DRUMOND; KIILL; NASCIMENTO, 2002). A caatinga concentra vegetação hiperxerofila (Figura16), com menor índice de umidade e hipoxerofila nas áreas mais úmidas. 50 Figura 16 – Vegetação de caatinga hiperxerófila em ambiente dos tabuleiros interioranos na depressão sertaneja Fonte: Embrapa (2000, p. 344) De acordo com Drumond, Kiill e Nascimento (2002), o potencial madeireiro encontrado em Petrolina varia de 7 a 100 m³ de lenha em estoque. No município em questão, existem espécies de grande importância econômica para os agricultores da região, como a Spondias tuberosa e Miracroduon urundeuva, espécies nobres, cuja exploração para fins energéticos não é recomendável, fato que afasta a ameaça de extinção. 2.4 Aspectos urbanos, industriais e socioculturais: formação do espaço de Petrolina no contexto atual Petrolina é uma cidade de médio porte que, ao longo de sua história, sempre se mostrou atraente aos olhos daqueles que nela chegaram atraídos por sua fama de cidade próspera. Isso muito se deve à vocação do município para a agricultura, mais recentemente a fruticultura irrigada. Foi essa vocação que, historicamente, atraiu investimentos vultosos para essa região. Segundo Santos (1988, p. 17): “O território a cada momento foi organizando-se de maneira diversa, muitas reorganizações do espaço se deram e continuam acontecendo, atendendo aos reclamos da produção da qual é arcabouço.” O território irrigado é formado pelos projetos de irrigação, como o Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho (PISNC), o Projeto Maria Tereza e o Projeto Pontal. São áreas em que a 51 produção de frutas é intensa, tanto voltada para o mercado externo como não. Todos os projetos de irrigação, apesar de sua característica rural, também comportam vilas, com residências, postos de saúde, escolas e creches, o que traz para o campo nuances de urbanização. O território de sequeiro é aquele aonde a irrigação e seus benefícios não chegaram. São áreas castigadas pela seca, sem muitas possibilidades de grande volume de produção agrícola. No território de sequeiro, boa parte dos moradores pratica a ovinocaprinocultura, mas sem grandes possibilidades de evolução produtiva e financeira uma vez que a maioria deles não possui muitos recursos para a manutenção dessa atividade produtiva. As áreas de sequeiro localizam-se no entorno de Petrolina; são lugares com estrutura precária em todos os aspectos (escolas, creches, postos de saúde, etc.). O território ribeirinho é ambíguo, pois o rio contorna o município e, ao longo desse contorno, há o encontro de alguns territórios tais como são tratados neste trabalho. As áreas irrigadas e ribeirinhas muitas vezes se encontram, e nesse ponto de encontro há sinais de degradação das margens do rio, assim como o despejo de água com resíduos de defensivos agrícolas, fato que polui seriamente o rio São Francisco. Esse território também contorna o território central da cidade. Esse encontro é muito mais danoso para o rio; existem esgotos in natura sendo jogados diretamente em suas águas, assim como pequenos comerciantes de fim de semana, que se instalam em suas margens em dias ensolarados prontos para servir os banhistas que para lá se dirigem com o objetivo de se divertir. Ainda no território ribeirinho, mais próximo da área central, concentram-se as chamadas barquinhas, que fazem o transporte entre Petrolina-PE e Juazeiro-BA, atividade que também polui o rio, porque resíduos de óleo diesel são misturados às águas do “Velho Chico”. Santos (1988) afirma que não há como considerar uma região autônoma. Da mesma forma, não se pode considerar os territórios como autônomos. As transformações ocorridas em cada território explicam-se pela compreensão das variáveis que compõem esses territórios. Muitas dessas variáveis contribuem para que esses territórios mantenham relações de troca com a região central da cidade, ou seja, com o território central, como definido neste trabalho. De acordo com Santos (1988, p. 19): 52 A cidade aparece, então, como uma semente de liberdade; gera produções históricas e sociais que contribuem para o desmantelamento do feudalismo. Representava a possibilidade do homem livre, da liberdade de escolha, muito embora esta fosse relativa, já que os ofícios eram regulamentados pelas corporações, pelas confrarias. É assim no território central de Petrolina. É lá que estão os bancos, o comércio, a prefeitura, a igreja principal, os colégios tradicionais, os hospitais, enfim, é no centro que a cidade entra em ebulição. Segundo dados do IBGE (2010), a população total de Petrolina é de 294.081 pessoas; desse total, a população rural corresponde a 74.772 pessoas, enquanto aquela que vive na cidade, ou seja, a população urbana corresponde a 219.309 pessoas. Esses números mostram certa contradição, porque Petrolina é um município do interior pernambucano cuja vocação econômica é essencialmente agrícola. Uma vez que sua atividade econômica principal era voltada para a agricultura, era natural que o município se especializasse num tipo de cultura, no caso de Petrolina, a fruticultura. A fruticultura tal como ela é praticada em Petrolina é o resultado dos avanços tecnológicos voltados para a agricultura. Santos (1988, p. 19) ressalta: As cidades puderam formar-se graças a um determinado avanço das técnicas de produção agrícola, que propiciou a formação de um excedente de produtos alimentares. Com a existência desse excedente, algumas pessoas puderam dedicar-se a outras atividades, sendo a cidade, predominantemente, lugar de atividades não-agrícolas. Esse argumento pode explicar o aumento considerável da população do município, uma vez que Petrolina passou a ser uma das cidades brasileiras que mais receberam novos moradores advindos de outros estados e municípios. Todos atraídos pelas novas oportunidades de trabalho trazidas pelas novas tecnologias aplicadas ao campo. A qualidade de vida também se tornou um atrativo, porque Petrolina ainda tem um baixo índice de violência comparando-se com outras cidades. A educação avançou; o município conta atualmente com uma universidade federal, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão 53 Pernambucano (IF Sertão-PE), uma universidade estadual, a Universidade de Pernambuco (UPE), e uma autarquia municipal de ensino superior, a Autarquia Educacional do Vale do São Francisco (AEVSF )/Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (FACAPE). Santos (1988, p. 19) explica: A cidade reúne um considerável número das chamadas profissões cultas, possibilitando o intercâmbio entre elas, sendo que a criação e a transmissão do conhecimento têm nela lugar privilegiado. Dessa forma, a cidade é um elemento impulsionador do desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas. Diga-se, então, que é a cidade, lugar de ebulição permanente. Esse crescimento se deve, e muito, aos avanços da agroindústria, cujas atividades são desejosas de capital, tecnologias e um bom capital. Elas passam a se relacionar com os grandes centros, e somente sua produção ocorre direta e localmente. Entretanto, existe uma garantia de participação numa lógica produtiva que é extralocal. Santos (1988, p. 21) corrobora ao afirmar que “a história que se passa, neste exato instante, em um lugarejo qualquer, não se restringe aos limites desse lugarejo, ela vai muito além”. 2.4.1 Aspectos culturais Nos últimos anos, o município de Petrolina tem desenvolvido seu potencial turístico. Conhecido como um polo fruticultor, a região onde se localiza a cidade tem-se destacado também pelo seu potencial vinícola. São pelo menos quatro vinícolas produzindo e comercializando seus produtos para o Brasil e o mundo. Naturalmente com uma vocação para o turismo de negócios, a cidade tem resgatado seus valores culturais. Suas manifestações culturais incluem o Pastoril, a Quadrilha, o Reisado e a mais famosa de suas manifestações: o Samba de Véio. Trata-se de uma das manifestações culturais mais antigas da Ilha do Massangano, ilha do rio São Francisco localizada em Petrolina (Figura 17). É de origem indígena, com influência africana, uma história de mais de cem anos. Constituise em um frenético sapateado. De acordo com os moradores, é formada uma roda e quem vai para o meio improvisa um sapateado diferente que contagia todos que estão à sua volta. Os casais vão para o centro da roda, sambam, pulam, divertem-se muito e, dessa forma, todos 54 participam. Os instrumentos utilizados são tambores, triângulos, cavaquinho, atabaque, ganzá e pandeiro. As letras versam sobre o cotidiano dos moradores da ilha. Figura 17 – Samba de Véio da Ilha do Massangano Fonte: Acervo próprio O município de Petrolina tem características próprias, o que o leva a ser, com frequência, objeto de estudo das mais diversas áreas, seja geográfica, econômica, seja social. 55 3 A CONSTITUIÇÃO DO TERRITÓRIO DE PETROLINA 3.1 Área irrigada: espaço físico /natural – áreas conservadas e degradadas Na região do Submédio São Francisco, a 722 km do Recife, capital de Pernambuco, em Petrolina, desenvolveram-se oito projetos de irrigação até 1996, o que demonstra o grande potencial da região, conforme se visualiza na Tabela 4. Tabela 4 – Projetos públicos de irrigação do Submédio São Francisco Projetos de irrigação Localização Ano de implantação Início de operação Área implantada (ha) Bebedouro I Petrolina-PE 1968 1968 1.060 Bebedouro II Petrolina-PE 1972-1973 1977 576 Mandacaru Juazeiro-BA 1971-1972 1971 376 Maniçoba Juazeiro-BA 1975-1981 1980 4.197 Curaçá Juazeiro-BA 1975-1979 1982 4.165 Tourão Juazeiro-BA 1977-1979 1979 10.548 Nilo Coelho Petrolina-PE 1979-1984 1984 13.146 *Maria Tereza Petrolina-PE 1994-1996 1996 7.165 * O Perímetro de Irrigação Maria Tereza é extensão do Perímetro de Irrigação Senador Nilo Coelho (PISNC) Fonte: Codevasf (1991) As áreas irrigadas analisadas neste trabalho localizam-se no PISNC, um dos mais produtivos do município. Na Tabela 4, verifica-se que o Nilo Coelho tem a mais recente implantação (1979/1984) e sua operacionalização data de 1984 (Figura 18), que se soma ao Maria Tereza, com instalação em 1994 entrando em operação em 1996. Considerado o espaço de maior Projeto de Irrigação do País, o PISNC tem atualmente uma área irrigável de 18.858 ha, sendo 18.563 ha em operação. O perímetro comporta 2.063 pequenos produtores, que trabalham, na maioria, com a fruticultura, além das 180 pequenas, médias e grandes empresas. A ocupação espacial se dá da seguinte forma, de acordo com dados da administração apresentados na Tabela 5. 56 LIMITE PROJETO NILO COELHO Petrolina co is nc a Fr o Sã o Ri Juazeiro Figura 18 – Extensão territorial do Projeto de Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho Fonte: Codevasf (2004) Tabela 5 – Distribuição da área do PISNC Categoria Quantidade Área média Grandes empresas 27 Acima de 50 ha Médias empresas 50 21 a 50 ha Pequenas empresas 57 12 a 20 ha Pequenos produtores 1.520 Menor de 12 ha Fonte: Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho (DINC, 2003) A fruticultura predomina por todo o perímetro, entretanto ainda há pequenos produtores que cultivam feijão, abóbora, pimentão, entre outros produtos, colocando-os no mercado com pouco valor agregado, como se verificará adiante. As frutas mais cultivadas são: acerola, banana, coco, goiaba, manga e uva. Na Tabela 6, mostra-se a evolução das áreas plantadas e em produção dessas frutas desde 1995 até 2003. Quase todas as frutas tiveram variação de crescimento em sua área plantada, como a banana, que chegou a atingir 2.785 ha em 2000, e em 2003, a cultura só ocupava 2.385 hectares. O coco e a goiaba sofreram também variação; o primeiro em 2001 ocupou a 57 área de 2.841 ha, e em 2003 a área foi de 1.546 ha; a goiaba, em 2002, com área de 2.625 ha e em 2003 ocorreu um decréscimo de 2.348 ha; a acerola, a uva e a manga permaneceram até 2003 sempre crescente. Ressalte-se que a manga vem ocupando o maior crescimento, com 5.845 ha, fato que se deve à exportação para a Europa, Estados Unidos e Canadá. Tabela 6 – Evolução da área em produção (ha): frutas 1995-2003 Frutas 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Acerola 271 276 276 410 410 410 420 502 636 Banana 340 759 3.510 2.986 2.785 2.785 3.393 3.109 2.385 Coco 282 373 523 837 1.302 1.716 2.841 2.927 1.546 Goiaba 125 317 513 749 1.223 1.767 2.377 Manga 1.593 2.479 2.976 3.296 3.632 3.937 4.289 4.931 5.845 175 227 284 596 799 947 1.032 1.339 1.532 Uva 2.625 2.348 Fonte: Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho (DINC, 2003) No que concerne à evolução da área de produção, verifica-se na Tabela 6 que, em 2003, a manga passa por um processo de destaque com 5.845; a banana em segundo lugar, com 2.385, todavia todas as frutas cultivadas no perímetro do projeto materializam-se em estado crescente. Visualiza-se na Tabela 7 a evolução das áreas plantadas e em produção dessas frutas no período 2008-2009. Tabela 7 – Evolução da área plantada (ha): frutas 2008-2009 Frutas Acerola 2008 915,37 2009 1014 Banana 1177,08 1067,59 Coco 734,87 703,15 Goiaba 1592,03 1703,76 Manga 3128,53 3033,16 Uva 1630,46 1648,07 Fonte: Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho (DINC, 2011) Quase todas as frutas tiveram variação de crescimento em sua área plantada, com exceção da banana, do coco e da manga que tiveram suas áreas de produção reduzidas em função de 58 variações climáticas e de preços. O mesmo não ocorreu com a acerola e a goiaba, que atingiram 1.014 ha e 1.703,76 ha, respectivamente, o que se explica pelo fato de a produção ser voltada para indústrias de processamento das frutas. A área de produção de uva permaneceu em crescimento assim como a goiaba e a acerola, porém, no caso da uva, existe um fator diferencial, a crescente demanda do mercado europeu e do americano pela referida fruta. O desenvolvimento de vários povos se deu mediante a agricultura, ao mesmo tempo em que se acompanha o avanço tecnológico da irrigação, uma atividade que se figurou como prática fundamental ao desenvolvimento humano, desde o controle das cheias naturais do rio Nilo no Antigo Egito e dos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, até o emprego de força animal e humana para elevação e distribuição de água em tabuleiros cultivados na Índia e China, e a construção de canais e terraços em pedra pelos povos andinos e mesoamericanos do período pré-colombiano. A irrigação se mostrou mais eficiente deixando de ser uma simples técnica de uso da água para a agricultura e passou a ser praticada como parte dos sistemas de manejo ambiental, promovendo o plantio das culturas alimentares assim como eficiente sistema de conservação da capacidade produtiva dos solos. No Brasil, observa-se uma cultura de abundância em recursos hídricos, baseada nas ideias vigentes no passado que viam a água como recurso natural renovável e abundante. Como consequência dessa crença equivocada, temos o mau uso e o desperdício tanto na captação quanto nos processos de distribuição e uso da água, o que contribui para a insustentabilidade das atividades que dependem direta e indiretamente desse recurso. Considerando o aspecto macro da questão, há indícios de que não devem ocorrer no Brasil restrições sérias, sejam de ordem técnica, social, sejam econômicas no uso de seus recursos hídricos em um horizonte de dez ou vinte 20 anos, fato que se explica pela cultura de abundância de água no País. Entretanto, ao se examinar o problema regionalmente, percebe-se as diferenças gritantes quanto ao nível de restrição hídrica. No Sertão nordestino, incluindo municípios como Petrolina, Pernambuco, as restrições são consideradas fortes ou muito fortes, tanto para águas subterrâneas como para águas superficiais. 59 No Vale do São Francisco, mais precisamente em Petrolina, encontra-se uma forte concentração de agricultura irrigada, quase totalmente voltada para a produção de frutas para consumo in natura e produção de vinhos. Nessa região são muitas as formas de degradação ambiental decorrente da irrigação, entretanto a intensidade do impacto causado depende do tipo de sistema de irrigação, que pode ser por aspersão ou gotejo. Todavia, a irrigação praticada pelo sistema de aspersão é mais impactante, porque causa maior erosão do solo. Felizmente, esse sistema não é muito utilizado. Existem outros sistemas mais rústicos de irrigação, como a irrigação por gravidade, que arrasta tudo à sua frente pelos canais. Esse sistema de irrigação forma Voçorocas1 do solo, cuja ocorrência é maior em terras nuas e áridas. Outro sistema bastante rústico é a irrigação por inundação, em que a água fica represada em covas, anéis ao redor da planta, saturando o solo. Outro impacto que pode ocorrer em áreas irrigadas é a desertificação, que se trata de um processo avançado de erosão; e um sistema de irrigação, por mais rústico que seja, não chega a causar a desertificação, porque a cultura que está sendo produzida e irrigada, de certa maneira, protege o solo, entretanto, a irrigação tem sua parcela de culpa na aceleração do processo de desertificação. A retirada da mata nativa também causa impacto na área irrigada. Sua retirada expõe o solo deixando pronto para ser “contaminado” com insumos químicos. A substituição da floresta nativa por uma cultura qualquer jamais será compensada, mesmo que se apliquem técnicas de conservação do solo, usando racionalmente os insumos químicos, o impacto pode ser atenuado, mas nunca revertido. Outra forma de degradação ambiental em áreas irrigadas é o uso de herbicidas, causador da contaminação do solo. Para combater as plantas daninhas, o produtor lança mão da aplicação dos herbicidas, que vão direto para o solo. A melhor forma de evitar isso é a contratação de homens para fazer a capina mecânica, mas a maioria dos produtores prefere pagar a um único homem usando uma bomba costal com herbicida pronto para aplicação. 1 Escavação ou rasgão do solo ou de rochas decompostas, ocasionadas pela erosão superficial, ação das águas da chuva, produzindo escavações a partir de 30 centímetros de profundidade, podendo vir a organizar crateras de grande extensão e profundidade, área suscetível a riscos. 60 Para evitar maiores estragos em termos de degradação nessas áreas, o Código Florestal Brasileiro impõe que todo e qualquer empreendimento rural deve destinar 20% de sua área total à área de conservação ambiental.2 Essas são as formas mais comuns de degradação ambiental em áreas irrigadas. Muitas delas ocorrem nas áreas irrigadas do município de Petrolina, outras não, conforme se verá a seguir. 3.2 Área de sequeiro Um dos principais biomas, exclusivamente brasileiro e principal ecossistema presente na região Nordeste, a caatinga, apresenta-se como o quarto bioma mais extenso do País, abrangendo uma área de 735.000 km², ocupando os estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Maranhão, e Minas Gerais na região Sudeste (Figura 19). Figura 19 – Mapa dos biomas brasileiros Fonte: IBGE (2004) 2 São áreas em que se permite a ocupação e a exploração de recursos, todavia devem estar condicionadas à tomada de medidas e ao monitoramento intensivo por parte dos órgãos de controle ambiental. 61 A caatinga representa 70% da região Nordeste e 11% do território nacional, onde vivem aproximadamente 28 milhões de habitantes. Recentemente, foi reconhecida como uma das 37 “Grandes Regiões Naturais do Mundo”, segundo Siqueira Filho (2009). Trata-se da vegetação predominante nas áreas de sequeiro, ou território de sequeiro do município de Petrolina. Esse território tem como característica uma grande diversidade ambiental, com um período seco prolongado que pode estender-se por vários meses e uma estação chuvosa curta com precipitação irregular e mal distribuída entre e nos anos. Na estação seca, afirma Siqueira Filho (2009), a caatinga demonstra sua complexidade, pois os seres que nela vivem desenvolveram muitas estratégias de sobrevivência em condições de variação na amplitude térmica e um regime de chuvas curto e irregular, conforme a Figura 20 – cedida pelo Centro de Referência para a Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) da Universidade Federal do Vale do São Francisco. É justamente essa irregularidade que traz consequências para as plantas e a população, e que tornam difícil a convivência entre o semiárido e o homem. Figura 20 – Território sequeiro Fonte: Acervo do Crad/Univasf (2010) 62 Apesar da sua extensão e importância para o Brasil, a caatinga tem menos de 2% de sua área coberta por unidades de conservação de proteção integral, sendo considerado um dos biomas brasileiros menos conhecidos e protegidos. Muitos subestimam sua diversidade biológica considerando-a pobre, com poucas espécies endêmicas e, portanto, de baixa prioridade para conservação, segundo Siqueira Filho (2009). O bioma caatinga é composto por 180 gêneros e 1.000 espécies, das quais 318 são endêmicas, e tem diversas espécies com diferentes potenciais de uso (ARAÚJO; SANTOS; OLIVEIRA, 2006). Por causa do clima de difícil adaptação, a agricultura praticada no território de sequeiro é basicamente de subsistência e restrita no que tange à variação das culturas. Cultiva-se feijão, milho e mandioca. Entretanto, a caatinga oferece uma grande diversidade biológica, e instituições como a Embrapa Semiárido e a Codevasf têm buscado alternativas de sobrevivência e inserção no mercado de alguns frutos desse bioma. Um exemplo disso é o plantio do umbuzeiro (Spondia tuberosa Arruda), uma planta nativa importante para o Nordeste, no Agreste ao extremo Sertão (Figura 21). Figura 21 – Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) Fonte: Acervo do Crad/Univasf (2010) 63 Segundo Araújo, Santos e Oliveira (2006), considerando o expressivo valor comercial do umbu para o mercado interno e a industrialização em pequenas fábricas caseiras de doces e geleias. Essa espécie representa um dos maiores potenciais a se explorar comercialmente no território de sequeiro. Outra atividade econômica no território de sequeiro é a criação de animais, mais especificamente a ovinocaprinocultura, intensamente pesquisada e estimulada por instituições de pesquisa como a Embrapa Semiárido. A atividade tem sido recomendada por apresentar baixa demanda por insumos externos e por associar-se facilmente à caatinga; consequentemente, os pastos toleram a seca, o que estimula a fixação do homem do Sertão no território de sequeiro. Fixar as pessoas no campo, nas áreas de sequeiro, tem sido cada vez mais difícil, porque elas são atraídas pelos empregos gerados pela fruticultura de exportação nas áreas irrigadas. Homens e mulheres migram das comunidades inseridas nas áreas de sequeiro para os perímetros irrigados; nos períodos de safra da uva, principal cultura de exportação do município de Petrolina, são contratados com carteira profissional assinada e assim, pelo menos durante a safra, passam a ter todas as obrigações e todos os benefícios oferecidos por um contrato legal de trabalho. Geralmente os homens vão trabalhar na colheita e no carregamento das uvas; já as mulheres, costumam trabalhar nos packing houses, pesando e embalando as frutas. O simples fato de contar com um salário proporciona tanto aos homens quanto às mulheres migrantes do território de sequeiro a interação social com outros territórios e indivíduos; além de uma liberdade emocional e financeira, difíceis de alcançar no território de sequeiro apesar das atividades potenciais em desenvolvimento naquele território. 3.3 Área ribeirinha O território ribeirinho encontra-se às margens do rio São Francisco e a água necessária para irrigação é diretamente bombardeada do rio sem nenhuma necessidade de estrutura. Trata-se de uma área extremamente vulnerável aos fatores antrópicos, visto que o investimento para implantação de culturas irrigáveis seria de baixo custo. 64 A paisagem natural das margens do rio São Francisco em Petrolina-PE vem sofrendo fortes mudanças. A mata ciliar está sendo desmatada pelas culturas de exportação em função do avanço dos perímetros irrigados para esse espaço, além de outros fatores como o aumento das áreas agropecuárias e da área urbana. Há ainda outro fator muito comum no território ribeirinho, a implantação de chácaras voltadas tanto para o plantio como para o lazer, o que demonstra um manejo inadequado do solo e acarreta sua degradação. As relações sociais nesse território são formadas mediante o ponto de vista econômico, uma vez que o território ribeirinho vem sendo invadido pelos perímetros irrigados (Figura 22). A relevância desse fato é tamanha que é capaz de explicar as permanentes mudanças na paisagem ribeirinha. O boom econômico gerado nesse território impulsiona o crescimento desordenado da área urbana que, aos poucos, invade outros espaços, como é o caso do território ribeirinho. A Figura 22 ilustra bem a invasão desordenada do espaço ribeirinho pelos perímetros irrigados, o que demonstra a falta de manejo adequado das matas ciliares e respeito às leis ambientais. Figura 22 – Margens do rio São Francisco em Petrolina Fonte: Google Earth (2011) 65 3.4 Espaço urbanizado Formado em 1870, o território central de Petrolina é resultado da convergência de caminhos regionais, uma vez que o local atendia a viajantes, oriundos de estados próximos de Pernambuco, que faziam a travessia para Juazeiro (BA). Petrolina congrega os edifícios históricos, a antiga Estação Ferroviária, a Matriz Nossa Senhora Rainha dos Anjos, datada de 1860 e a Catedral do Sagrado Coração de Jesus, construída pelo Bispo Dom Antonio Malan, inaugurada em agosto de 1929. No território urbano, concentra-se a maior parte do comércio de Petrolina, assim como a maior parte dos serviços oferecidos, incluindo-se os serviços públicos. Por essa razão, todos os atores dos outros territórios se encontram e se relacionam nesse espaço. Além do comércio varejista e da administração pública, concentram-se no território central os principais hospitais e clínicas do município. Os principais estabelecimentos de ensino também se instalaram no território central, com destaque para a Universidade Federal do Vale do São Francisco, o Colégio Maria Auxiliadora e o Colégio Dom Bosco. Tantos setores concentrados em só território tendem a tornar o espaço desorganizado e ambientalmente impactado de forma negativa. O território central apresenta sinais de escassez espacial, o que empurra seu crescimento para outros territórios. Em seu curso, o rio São Francisco passa pela área urbana central da cidade. Trata-se de um espaço que foi invadido por moradias, edifícios residenciais, escolas e restaurantes. Não há mais mata ciliar nesse ponto da margem do rio. Ali também se localiza o ponto das barquinhas que fazem o transporte de passageiros Petrolina-Juazeiro-Petrolina. A degradação ambiental nesse território salta aos olhos. O município conta com uma Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), cuja missão é garantir a implementação da Política Municipal de Meio Ambiente, prevista no Código Municipal, Agenda 21 Local, Plano Diretor Territorial Participativo do Município de Petrolina e demais legislações pertinentes. Atualmente o município é o responsável pelo manejo, uso e ocupação do espaço da cidade, uma vez que municipalizou a emissão de licenças ambientais. 66 3.5 Espaço industrializado O espaço industrializado de Petrolina compreende uma área denominada Distrito Industrial de Petrolina, com aproximadamente 500 hectares; as áreas de preservação ambiental, de serviços, sistema viário, infraestrutura e zona de apoio industrial ocupam, respectivamente, próximo de 132 ha, 42 ha e 65 ha, e abrigam cerca de 50 unidades em operação. A área destina-se exclusivamente ao uso industrial e às atividades de apoio ao comércio atacadista e aos grandes equipamentos de serviços. Sua ocupação está sujeita às normas urbanísticas da lei de uso do solo e normas ditadas pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). O Distrito Industrial foi criado com o intuito de oferecer infraestrutura às empresas emergentes do município. Atualmente consta como um impulsionador do desenvolvimento social gerando empregos. 67 4 EMBATE ENTRE OS PROCESSOS MODERNIZADORES, IMPACTOS AMBIENTAIS, METODOLOGIA E RESULTADOS 4.1 Conceitos e teorias que fundamentam o método O desenvolvimento sustentável não é uma opção, é o caminho mais viável para que a sociedade encontre o equilíbrio nos aspectos econômicos, sociais e ecológicos. Entretanto, para que esse caminho se torne realidade, o desenvolvimento sustentável deve sair dos pressupostos teóricos e passar a fazer parte dos planejamentos estratégicos tanto do setor público quanto do setor privado. Os gestores devem pôr em prática ações gerenciais que conduzam toda a sociedade ao bem-estar. Faz-se necessário pôr em prática o conceito de governança baseado no respeito, no atendimento de expectativas, com compromisso e responsabilidade, gerenciando a coletividade e encaminhando-a para a sustentabilidade. Não se trata de um processo simples, porque ele necessita ser mensurado, avaliado em cada etapa do processo, desde as informações iniciais que darão subsídio aos tomadores de decisão na elaboração do planejamento necessário à sustentabilidade do local até a avaliação do cenário e progresso das ações, com o objetivo de alcançar as metas estabelecidas. Essa avaliação realiza-se por meio de indicadores e índices que forneçam aos envolvidos informações que demonstrem o progresso das ações adotadas em prol da sustentabilidade (SILVA, 2008). Qualquer erro na construção desses indicadores pode levar a resultados equivocados, demonstrando situações que não correspondam à realidade, provocando frustrações no coletivo. 4.1.1 Principais aspectos dos indicadores de sustentabilidade Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, 1993 apud SALGADO, 2007), a palavra indicador vem do latim indicare, um verbo que significa assimilar, estimar, determinar ou demonstrar. Ampliando seu significado, a palavra consiste num valor que indica, que descreve um fenômeno. Todavia, significa mais do que se associa diretamente ao valor em questão. 68 Alguns autores colocam um indicador como uma variável que se relaciona hipoteticamente com outra variável estudada, que não pode ser diretamente observada. Gallopin (apud VAN BELLEN, 2006) afirma que os indicadores num nível mais concreto devem ser entendidos como variáveis. De acordo com Van Bellen (2006), uma variável é uma representação operacional de um atributo de um sistema. Não se trata do próprio atributo, mas sim, de uma representação, imagem ou abstração dele. Sendo assim, quanto mais próxima a variável se coloca do atributo em si, ou reflete o atributo ou a realidade, seu significado e importância para o processo decisório são consequência da habilidade investigativa do pesquisador e das limitações e propósitos da investigação. Consequentemente, qualquer variável ou indicador tem uma significância própria. A característica mais importante do indicador é sua relevância para o processo político e para a tomada de decisão. Segundo Gallopin (apud VAN BELLEN, 2006), para ser representativo, o indicador tem de ser considerado importante tanto pelos tomadores de decisão quanto pelo público. Um indicador traz consigo informações acerca das características quantitativas e qualitativas advindas de um membro ou de um conjunto observado, facilitando a compreensão de determinada situação. Os indicadores qualitativos são preferíveis aos quantitativos em pelo menos três casos específicos: quando não forem disponíveis informações quantitativas; quando o atributo de interesse for inerentemente não quantificável; quando determinações de custo assim o obrigarem (GALLOPI apud VAN BELLEN, 2006). De acordo com Tunstall (apud VAN BELLEN (2006), as principais funções dos indicadores são: - avaliar condições e tendências; - fazer comparação entre lugares e situações; - avaliar condições e tendências em relação às metas e aos objetivos; - prover informações de advertência; - antecipar futuras condições e tendências. 69 De acordo com Meadows (1998), a utilização de indicadores é uma maneira intuitiva de monitorar complexos sistemas, que a sociedade considera importantes e precisa controlar. São elementos importantes que ajudam a sociedade a entender seu mundo e a si própria, auxiliando na tomada de decisões e no planejamento de suas ações. Segundo Trzesniak (1998, p. 159), nos anos 1860), William Thomson, que recebeu o título de Lord Kélvin em 1892, ressaltou: Afirmo muitas vezes que, se você medir aquilo de que está falando e o expressar em números, você conhece alguma coisa sobre o assunto; mas, quando você não o pode exprimir em números, seu conhecimento é pobre e insatisfatório; pode ser o início do conhecimento, mas dificilmente seu espírito terá progredido até o estágio da Ciência, qualquer que seja o assunto. Os indicadores se configuram num modelo numérico que pode ser entendido como um procedimento de qualquer natureza (prático, matemático, gráfico, verbal) capaz de reproduzir uma relação de antecedentes, a causa, e consequências, o efeito, de forma idêntica como essa relação ocorre no universo em que se insere (TRZESNIAK, 1998). Trzesniak (1998) afirma que as relações de causa e efeito podem ser determinísticas ou estocásticas. Ainda segundo esse autor, as relações determinísticas são aquelas em que causa e efeito estão diretamente ligadas, ou seja, a primeira provoca, de forma inevitável, o surgimento da outra. Nas relações estocásticas, a causa não reflete no efeito, mas na possibilidade de ele surgir. Em qualquer tipo de relação de causa e efeito (determinística ou estocástica), algumas características devem ser consideradas para que os indicadores possam representar, de fato, o ambiente ou a situação analisada. São elas: a) ser significativo para a avaliação do sistema; b) ter validade, objetividade e consistência; c) ter coerência e ser sensível a mudanças no tempo e no sistema; d) ser centrado em aspectos práticos e claros, fácil de entender e que contribua para a participação da população local no processo de mensuração; e) permitir enfoque integrador, ou seja, fornecer informações condensadas sobre vários aspectos do sistema; f) ser de fácil mensuração, baseado em informações facilmente disponíveis e de baixo custo; [...]. (DEPONTI; ECKERT; AZAMBUJA, 2002, p. 45). 70 Para formular um indicador, é necessário estabelecer parâmetros, deixando claro ao público a que se destina o significado da medida estatística apresentada. Existem indicadores que, em sua formatação, faz-se necessário agregar outros fatores que representem seus objetivos, como é o caso daqueles que mensuram o desenvolvimento sustentável. Além de agregar tais objetivos, eles deverão avaliar suas estratégias para alcançar o desenvolvimento sustentável. Os indicadores, ao longo do tempo, são utilizados para expressar o crescimento de um país, de uma região, de um estado ou mesmo de um município. Esse é o caso do Produto Interno Bruto (PIB),3 indicador que estima a riqueza gerada num país, assim como seu crescimento econômico. Apesar de representar o crescimento de um país, agregando variáveis como a geração de emprego e aumento da renda, o PIB sofreu várias críticas, uma delas dizia respeito às suas limitações como indicador, pois o mesmo exclui de sua formulação variáveis como o decréscimo social e a degradação ecológica, variáveis importantes para o desenvolvimento. Com o intuito de preencher as lacunas apresentadas pelo PIB, surgiu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),4 para medir o nível de desenvolvimento humano dos países com base nos indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O IDH serve como medida do bem-estar humano e da população, e este se associa diretamente à relação que a sociedade mantém com os ecossistemas presentes em todos os níveis: local, regional ou mundial. Apesar disso, o IDH não é um indicador completo. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do ser humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da 3 Representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região (seja países, estados, cidades), durante um período determinado (mês, trismestre, ano, etc.). 4 O IDH foi desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq, paquistanês, e Amartya Sem, indiano e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998. Os valores do IDH variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1, desenvolvimento humano total (PNUD BRASIL, 2012). 71 „felicidade‟ das pessoas, nem indica „o melhor lugar no mundo para se viver‟. (PNUD BRASIL, 2012) O desenvolvimento humano liga-se diretamente ao bem-star das pessoas, e este se relaciona estreitamente com a forma que a sociedade lida com os ecossistemas presentes no espaço. De acordo com Silva (2008), nesse caso os indicadores que mensuram o desenvolvimento sustentável de uma localidade ou país, ou pelo menos se propõem a isso, devem recorrer aos princípios da multidisciplinaridade e de inter-relacionamento que existem entre as dimensões que compõem o conceito. As complexidades dos problemas do desenvolvimento sustentável exigem sistemas interligados, indicadores que interrelacionam ou que agreguem outros diferentes indicadores. Van Bellen (2006) afirma que existem poucos indicadores que lidam especificamente com o desenvolvimento sustentável, em sua maioria em caráter experimental, e foram desenvolvidos como o propósito de melhor compreender os fenômenos relacionados com a sustentabilidade. Existem indicadores que foram desenvolvidos por razões específicas como é o caso dos indicadores ambientais. Eles estão presentes na esfera empresarial por meio da NBR ISO 14031, norma da série NBR 14000, que sugere a constituição dos Indicadores de Desempenho de Gestão (IDG), cujo objetivo é fornecer informações relativas a todos os esforços da gestão da empresa que influenciam de forma positiva seu desempenho ambiental. Esse indicador tem um caráter proativo caracterizado pela mensuração de soluções implementadas para controlar os problemas em sua raiz, identificando as causas (SILVA, 2008). Tais premissas devem estar presentes nos indicadores e índices elaborados para mensurar a gestão do desenvolvimento local sustentável. Os indicadores devem informar e educar os atores sociais, mostrando uma nova dimensão do ambiente em que se inserem. Para tanto, devem ser compostos por dados coerentes. Segundo Meadows (1998), bons indicadores devem ter as características do Quadro 4: 72 Quadro 4 – Características necessárias para sistemas de indicadores adequados - Claros nos valores: não são desejáveis incertezas nas direções que são consideradas corretas ou incorretas. - Claros em seu conteúdo: devem ser compreensíveis, com unidades que façam sentido. - Suficientemente elaborados para impulsionar a ação política. - Relevantes politicamente, para todos os atores sociais, mesmo para aqueles menos poderosos. - Mensuráveis dentro de um custo razoável (factíveis). - Suficientes, isto é, deve haver um meio termo entre o excesso de informação e a insuficiência desta, para que se forneça um quadro adequado da situação. - Situados em uma escala apropriada, evitando-se a super ou subagregação. - Democráticos: as pessoas devem ter acesso à seleção e às informações resultantes da aplicação da ferramenta. - Suplementares: devem incluir elementos que as pessoas não possam medir por si próprias. - Hierárquicos: para que o usuário possa descer na pirâmide de informação se desejar, mas, ao mesmo tempo, transmitir a mensagem principal rapidamente. - Físicos: uma vez que a sustentabilidade está ligada, em grande parte, a problemas de ordem física (água, poluentes, florestas). - Fornecedores de informações que conduzam à ação. - Provocativos: levando à discussão, ao aprendizado e à mudança. Fonte: Meadows (1998) A Agenda 21 Global ressalta: 40.4. Os indicadores comumente utilizados, como o produto nacional bruto (PNB) e as medições dos fluxos individuais de poluição ou de recursos, não dão indicações adequadas de sustentabilidade. Os métodos de avaliação das interações entre diferentes parâmetros setoriais ambientais, demográficos, sociais e de desenvolvimento não estão suficientemente envolvidos ou aplicados. É preciso desenvolver indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade auto-regulada dos sistemas integrados de meio ambiente e desenvolvimento. (CNUMAD, 1996, p. 574). Os indicadores não devem ater-se apenas a medir os efeitos da insustentabilidade sem identificar suas causas e relacioná-las com os outros efeitos; agindo somente na correção desses problemas, é o mesmo que reparar um modelo ultrapassado, fadado ao fracasso. Tal atitude configura uma administração baseada em paliativos. 73 Segundo Silva (2008), os indicadores e índices devem apresentar a evolução à gestão e, para isso, mensurar o desenvolvimento de ações que foram definidas para eliminar a causa-raiz dos problemas que promovem a insustentabilidade. 4.1.2 Os sistemas de indicadores de sustentabilidade Os primeiros estudos que objetivavam avaliar a sustentabilidade mediante os indicadores datam das décadas de 1970 e 1980 quando os governos e as organizações internacionais passaram a monitorar as condições ambientais. A partir daí, surgiram outros indicadores cuja proposta era avaliar a sustentabilidade. No período que vai de 1980 a 1990, o World Resources Institute desenvolveu uma pesquisa a respeito dos indicadores ambientais, cujo resultado foi a publicação do Environmental indicators: a systematic approach to measuring and reporting on enviromental policy performance in the context of sustainable development. O documento trazia a sugestão de quatro indicadores que reproduziam a interação humana com a natureza: depleção de recursos, poluição, risco para os ecossistemas e impacto ambiental sobre o bem-estar humano (HAMMOND et al, 1995). Esses indicadores eram sintetizados na metodologia PressãoEstado-Resposta (PER) – Pressure-State-Response (PSR) –, que busca resposta para as seguintes questões: o que está acontecendo com o meio ambiente e com a base de recursos naturais? Por que está acontecendo? O que se está fazendo a respeito? Esse sistema busca identificar as causas que provocam o problema correlacionando com a gestão empregada, não fornecendo uma visão reduzida do cenário. Entretanto, nem todas as dimensões ou omissão em Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) reuniram um grupo de especialistas com o intuito de formatar indicadores de sustentabilidade para atender o capítulo 40 da Agenda 21 Global. Esses indicadores agruparam quatro dimensões: social, econômica, ambiental e institucional. O resultado desse estudo foi a criação do Driving Force-State-Response, (DSR), ou seja, uma extensão do PSR que inclui as características do desenvolvimento sustentável. No que diz respeito ao Driving Force, trata-se de indicadores que representam as atividades humanas que provocam impactos, positivos ou negativos sobre o desenvolvimento sustentável; já no que tange ao State, os indicadores fazem uma leitura da condição em que se encontra o desenvolvimento 74 sustentável, e o indicador Response promove uma avaliação das ações destinadas ao progresso da sustentabilidade (UNITED NATIONS, 2001). Com o passar dos anos, outros indicadores surgiram, tais como Ecological Footprint Method (EFM), o Dashboard of Sustainability (DS) e o Barometer of Sustainability (BS). O Ecological Footprint Method, termo que pode ser traduzido como pegada ecológica, promove a associação da sustentabilidade de uma determinada área à sua capacidade de suporte ou capacidade de carga. De acordo com Dias (2002, p. 31), segundo alguns autores, “[...] pegada ecológica é a área correspondente de terra produtiva e ecossistemas aquáticos necessários para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos produzidos por uma dada população, sob um determinado estilo de vida.” O método consiste em estabelecer a área necessária para manter uma determinada população ou sistema econômico indefinidamente, fornecendo energia e recursos naturais, e capacidade de absorção dos resíduos ou dejetos do sistema. Resumidamente, ele mostra, em valores numéricos, em quanto a capacidade de carga do local foi excedida, refletindo o impacto ecológico causado pela utilização de tecnologias e culturas diferentes. Silva (2008) ressalta que o Ecological Footprint auxilia no entendimento da dimensão ecológica da sustentabilidade e, de forma indireta, o bem-estar da população; no entanto, não contempla outros fatores relacionados com sustentabilidade, uma vez que ele retrata o cenário em que se encontra uma determinada área, mas não diz se o local tem uma gestão sustentável. O Consultative Group on Sustainable Development Indicators 5criou o sistema de indicadores Dashboard of Sustainability, pensado para promover a comparação entre países a partir de 46 indicadores que compunham as três dimensões utilizadas: meio ambiente, economia e sociedade. Após sua atualização, passou a usar as quatro dimensões – ecológica, econômica, social e institucional – conforme orientação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Depois da atualização, as dimensões se desdobraram em 39 subtemas. Em sua versão atual, o Dashboard of Sustainability promove os Objetivos do Milênio (SILVA, 2008). 5 Equipe de especialistas em sustentabilidade coordenada pelo International Institute for Sustainable Development (IISD) sediado no Canadá. 75 O termo Dashboard of Sustainability representa uma metáfora do painel de um automóvel, que constitui uma importante ferramenta para o processo de tomada de decisão nas esferas publica ou privada. Sua representação gráfica recente é construída com um painel visual de três displays, que correspondem a três grupos ou blocos (clusters) (Figura 13). Os mostradores procuram mensurar a performance econômica, social e ambiental de um município, país ou mesmo algum empreendimento. Figura 23 – O Dashboard of Sustainability Fonte: Adaptado de Hardi e Zdan, 2000 (apud VAN BELLEN, 2006) Apesar de parecer uma ferramenta de fácil comunicação em razão de sua apresentação gráfica simples e de fácil entendimento, ela não está apta a dimensionar o desenvolvimento local sustentável, porque as variáveis que compõem o método somente retratam o cenário de um país, e não as ações que estão sendo executadas com vista ao desenvolvimento sustentável. Desenvolvido pelos especialistas dos institutos World Conservation e o International Development Research Centre, o Barometer of Sustainability é uma ferramenta que avalia o progresso à sustentabilidade pela integração de indicadores biofísicos e de saúde social, combinando bem-estar humano com o ecossistema Quadro 5. Existe um critério para a escolha do indicador de cada dimensão: eles só podem ser escolhidos se puderem ser definidos em termos numéricos. 76 Van Bellen (2006) afirma que essa ferramenta foi útil em um estudo para fazer comparação entre o grau de sustentabilidade do desenvolvimento de 180 países, distribuídos em quatro continentes e 14 regiões. Pode-se aplicar a metodologia na avaliação da gestão do desenvolvimento local sustentável, contudo, ela concebida para “permitir aos gestores e ao público em geral tirarem conclusões sobre o estado do meio ambiente e da própria sociedade, suas principais interações e as prioridades da ação” (VAN BELLEN, 2006, p. 162). Quadro 5 – Dimensões comumente relacionadas com o Barometer of Sustainanility SOCIEDADE Saúde e População Saúde mental e física, doença, mortalidade, fertilidade, mudança populacional Riqueza Conhecimento e Cultura Economia, Educação, sistema pesquisa, financeiro, conhecimento, receita, pobreza, comunicação, inflação, sistema de emprego, crenças e valores comércio, bens materiais, necessidades básicas de alimentação, água e proteção ECOSSISTEMA Terra Diversidade e qualidade das áreas de florestas, cultivo e outros ecossistemas, incluindo modificação, conversão e degradação Água Diversidade e qualidade das águas e ecossistemas marinhos, incluindo modificação, poluição e esgotamento Ar Qualidade do ar interna e externa, condição da atmosfera global Comunidade Equidade Direitos e liberdades, governança, instituições, lei, paz, crime, ordenamento civil Distribuição de benefícios entre raças, sexos, grupos étnicos e outras divisões sociais Espécies Utilização de recursos Energia, geração de objetos, reciclagem, pressão da agricultura, pesca, mineração Espécies selvagens, população, diversidade genética Fonte: Silva (2008, p. 49) Todos os indicadores apresentados neste trabalho apresentam deficiências comuns em projetos que ainda estão em elaboração. Silva (2008) afirma que a concepção do desenvolvimento sustentável, a seleção de variáveis e a integração dos dados não apresentam 77 identidade com indicadores formatados para avaliar a gestão do desenvolvimento local sustentável. Os modelos retratam apenas o cenário em que se encontra o espaço analisado, desprezam as relações entre as dimensões (efeito-causa-efeito) e não mensuram as estratégias para mudar o rumo do crescimento. O conceito de gestão do desenvolvimento local sustentável abordado neste trabalho e a proposta de promover a avaliação dessa gestão necessitam da construção de indicadores apropriados à conjuntura e aos objetos de pesquisa, o município de Petrolina-PE e seus territórios (irrigado, sequeiro, ribeirinho e central). Os indicadores e o índice de gestão do desenvolvimento local sustentável resultantes deste trabalho serão constituídos a partir da fundamentação em Teoria Geral dos Sistemas, nas relações de causalidade, no estudo que será realizado para identificar os efeitos (o estado atual) de cada variável ou dimensão, que provocam causas e geram outros efeitos, ou seja, a inter-relação existente entre os problemas de um determinado espaço que impedem o desenvolvimento local sustentável. 4.1.3 Visão sistêmica e a relação efeito-causa-efeito A teoria dos sistemas, segundo Bossel (1996) e Forrester (1968), é a abordagem adequada para estabelecer um modelo de informação para a elaboração de indicadores ou índices que possam avaliar a sustentabilidade, porque utiliza-se o holismo, mostrando uma visão integradora de relações que possibilita refletir sobre os problemas de forma interdisciplinar. Na década de 1930, o pensamento sistêmico foi formulado por biólogos organísmicos, psicólogos da Gestalt e ecologistas que concluíram que os sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio da análise de suas partes, pois “as propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo mais amplo” (CAPRA, 1996, p. 31). Pode-se definir sistema como disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que formam uma estrutura organizada. Sendo assim, em todas as áreas há sistemas que apresentam características comuns. Ao longo do tempo, as pesquisas nesse sentido foram aprofundando-se, até que o biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy, 78 acreditando que os fenômenos biológicos exigiam novas maneiras de pensar, transcedendo os métodos tradicionais das ciências físicas, dedicou-se a substituir os fundamentos mecanicistas da ciência pela visão holística (CAPRA, 1996). O aprofundamento desse estudo e dessa nova visão deu origem a Teoria Geral dos Sistemas, definida assim por Bertalanffy, seu autor: A teoria geral dos sistemas é uma ciência geral de „totalidade‟, o que até agora era considerado uma concepção vaga, nebulosa e semimetafísica. Em forma elaborada, ela seria uma disciplina matemática puramente formal em si mesma, mas aplicável às várias ciências empíricas. Para as ciências preocupadas com „totalidades organizadas‟, teria importância semelhante àquela que a teoria das probabilidades tem para as ciências que lidam com „eventos aleatórios‟ (Bertalanffy apud Capra, 1996, p. 43). Os parâmetros mudam e a ideia passa a ser de que o organismo é um todo maior que a soma das suas partes. A partir de então, o conceito de sistema se amplia: trata-se de um conjunto de elementos interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos componentes comporta-se como um sistema cujo resultado é maior que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem de forma independente (HALL; FAGEN apud PENTEADO, 1964). Um sistema é também um subsistema de outro sistema maior, que se relacionam por meio de entradas e saídas de energia ou matéria. Ao interagir com o exterior, o sistema passa a ser um sistema aberto. Todo sistema natural é um sistema aberto (Figura 14), porque seus limites são abertos à troca de energia e materiais. Em um sistema aberto, sua relação com o meio exterior chama-se de input ou output, ou seja, durante um determinado tempo, recebe input (entrada) de energia e matéria e o transforma gerando um produto output (saída). Em sistema fechado, há a troca de energia com seu entorno natural, entretanto, não existe saída nem entrada de matéria. 79 Figura 24 – Exemplo de sistema aberto: ciclo hidrológico Fonte: Silva (2008, p. 53) As dimensões que constituem o desenvolvimento sustentável são representações de subsistemas de um local, que se relacionam de forma intrínseca entre suas partes, o que influencia diretamente no resultado final. Sendo assim, a sustentabilidade e suas dimensões caracterizam-se como um sistema aberto que recebe energia e matéria, processa e transforma em produto que é disponibilizado a outras dimensões e ao meio como um todo (SILVA, 2008). Ao identificar as relações existentes em cada uma das dimensões e relacioná-las, a gestão do desenvolvimento local sustentável facilita o processo de elaboração de estratégias que vão contemplar os problemas de forma sistêmica, pondo em prática ações que vão atuar nas dimensões de forma tal que ultrapassem seus limites e contagiem, de forma positiva, as outras dimensões. As estratégias passam a se transformar em indicadores e índices que vão avaliar a evolução da gestão do desenvolvimento local sustentável medindo seu desempenho e, por meio da transparência do processo, vão permitir que a população também avalie e emita suas opiniões acerca das ações desenvolvidas. A composição de indicadores e de índices parte dos dados que caracterizam a insustentabilidade local, das causas que criaram esse cenário. A partir daí, deve-se efetuar a 80 relação existente entre os efeitos e as causas, ou seja, os efeitos que são as consequências apresentadas em cada variável da dimensão; as causas que podem ser produzidas pelos efeitos; e os efeitos produzidos por essas causas. A relação efeito-causa-efeito abraça a interrelação existente entre as dimensões, e destas com o sistema maior, o que implica dizer que surgindo uma consequência (efeito) em uma dimensão, esta pode gerar uma causa em outra dimensão provocando um novo efeito (SILVA, 2008). Para realizar o diagnóstico desse efeito que antecede a causa, é preciso realizar a coleta de dados. O processo de identificação das causas e dos efeitos que a sucedem requer a adoção de uma metodologia científica capaz de identificar a razão das coisas acontecerem, e não somente a forma como elas acontecem. Com esse intuito, este trabalho adotou os princípios do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições com vista a identificar a inter-relação que ocorre entre as dimensões do desenvolvimento sustentável. 4.2 Procedimentos metodológicos na análise quali-quantitativa Este estudo se caracteriza como teórico-empírico, baseado na epistemologia e metodologia específica, caracterizando-se como uma pesquisa quali-quantitativa. Esse perfil da pesquisa motivado pela complexidade do trabalho que demandou informações de parâmetros avaliadores dos aspectos espacial, ecológico, social e institucional do município de PetrolinaPE, assim como a relação entre os indivíduos e o espaço que ocupam. As etapas do estudo seguiram o modelo apresentado na Figura 25, que representa um sistema e seus subsistemas, do tipo circular, dinâmico, caracterizado por retroalimentar-se e alimentar outros sistemas (SILVA, 2008). As informações criadas pela pesquisa vão alimentar a ela mesma, ampliando as reflexões acerca do desenvolvimento sustentável. A primeira etapa da pesquisa iniciou-se com o levantamento bibliográfico sobre os conceitos de desenvolvimento sustentável, espaço geográfico e suas categorias, indicadores de sustentabilidade, Teoria Geral dos Sistemas, gestão pública, relação causa e efeito, Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, além do processo histórico do município de Petrolina-PE. 81 Input Levantamento bibliográfico DS, Indicadores de DS e Gestão Relação causa/efeito, Teoria Geral dos Sistemas, Teoria das Restrições Throughput Matriz dos Indicadores do Desenvolvimento Local Sustentável – ferramenta de diagnóstico Variáveis Dimensões Indicadores Relação efeito-causa-efeito Construção da ARA Inter-relacionamento dos problemas Construção da ARF Output Índice da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável Construção da Árvore da Realidade Sustentável e a Identificação dos espaços opacos e luminosos Figura 25 – Sistemática da pesquisa Fonte:adaptado de Silva (2008, p. 96) A exposição das teorias que dão fundamento à metodologia deste trabalho serviu para explorar o processo de pensamento da teoria das restrições. Com base nesses estudos, elaborar-se uma matriz de indicadores do desenvolvimento local sustentável de cada um dos 82 territórios pesquisados. Com o objetivo de construí-las, coletaram-se dados diretos e indiretos. Dados diretos são aqueles coletados na fonte, já os indiretos são obtidos por meio da interferência na obtenção dos dados diretos e que necessitam de tratamento para se adaptarem à realidade. Esses dados são, respectivamente, chamados de primários e secundários. Os indicadores do desenvolvimento local sustentável gerados por este trabalho serão compostos por dados primários; os dados secundários são as informações coletadas por meio dos questionários aplicados que darão subsídios para promover a análise efeito-causa-efeito mediante a aplicação da teoria das restrições. Depois da estruturação da matriz, aplicam-se os princípios do pensamento da teoria das restrições com o intuito de identificar a relação efeito-causa-efeito entre as variáveis e as dimensões da matriz, com o objetivo de encontrar a causa raiz da insustentabilidade dos territórios irrigado, sequeiro, ribeirinho e central do município de Petrolina-PE. A partir daí, constroem-se os indicadores e índice da gestão do desenvolvimento local sustentável a ser representado pela identificação dos espaços opacos e luminosos. Aqueles que forem identificados como opacos são os que carecem de uma gestão voltada para o desenvolvimento sustentável, e os luminosos são resultado do êxito dessa gestão. A visualização desses espaços é possível por meio de um mapa onde todos os territórios estudados na pesquisa são vistos como luminoso ou opaco. Faz-se necessário ressaltar que, apesar da preocupação e do empenho na busca dos dados com vista ao alcance dos objetivos deste trabalho, não foi possível o alcance da perfeição, uma vez que houve muitas atribulações no processo de elaboração e realização desta pesquisa. 4.2.1 Pesquisa de campo e coleta dos dados Os dados que alimentaram a Matriz dos Indicadores do Desenvolvimento Local Sustentável foram fornecidos pelo Plano Diretor do município de Petrolina-PE, pela Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Educação, Agência Municipal de Meio Ambiente, Empresa Petrolinense de Trânsito e Transporte Coletivo (EPTTC), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), pelo Centro de Referência e Recuperação de Áreas Degradadas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Crad/Univasf) e pelo IBGE. 83 A pesquisa de campo tem o objetivo de promover a relação entre a aplicação dos questionários e o trabalho de observação das comunidades dos quatros Territórios (Quadro 6). Esse processo tinha como objetivo o entendimento da realidade local, ou seja, entender como se dá o comportamento da comunidade e dos efeitos provocados por ela própria, por exemplo, problemas na disposição do lixo, poluição do rio São Francisco, a busca pela água e seu uso no território sequeiro, problemas espaciais no território central. Quadro 6 – Distribuição dos questionários aplicados nas áreas Local Quantidade Território Central 10 Território Irrigado 10 Território Ribeirinho 10 Território Sequeiro 10 Fonte: Autoria própria Os dados primários têm sua vigência variando em razão de sua disponibilidade por parte dos órgãos já citados. Entre 2010 e 2011, coletaram-se os dados secundários. 4.2.2 Matriz de indicadores do desenvolvimento local sustentável A matriz de indicadores do desenvolvimento local sustentável mostra as estratégias adotadas pelo poder público para minimizar ou eliminar os problemas que promovem a insustentabilidade. Para elaborar os indicadores que compõem a referida matriz, foi preciso conhecer o município de Petrolina por meio das dimensões social, ecológica, espacial e institucional. A dimensão social ampliou o olhar sobre a saúde da população dos territórios estudados neste trabalho. Da mesma forma, fez-se com a educação. O crescimento populacional, as condições de atenção ao idoso, o nível de violência, o acesso à coleta de lixo, às comunicações, à água encanada e os aspectos ligados à mobilidade foram questões que passaram por uma espécie de lente de aumento, tendo sua situação exposta neste trabalho. 84 Analisou-se a dimensão ecológica nos aspectos ligados à poluição do ar, tratamento de esgoto, qualidade e quantidade de água e o acesso às formas de energia utilizadas pela população dos territórios. Contemplaram-se também as questões ligadas à biodiversidade. Na dimensão espacial, estudaram-se as questões relativas à preservação do sítio histórico, obstrução das vias públicas, expansão territorial do município, construção de imóveis (condomínios), processo de verticalização da cidade. Nos aspectos institucionais, analisou-se o relacionamento entre o poder público e a população dos territórios quanto à presença (ou ausência) dele e às políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. Após analisar e consolidar as informações por meio de indicadores, submeteram-se os problemas em cada uma das dimensões à aplicação da relação efeito-causa-efeito. A partir daí, enfatizaram-se as inter-relações existentes entre os problemas independentemente da dimensão em que estavam. Ao identificar as causas-raiz desses problemas, pode-se direcionar para a definição de estratégias apropriadas ao desenvolvimento local sustentável. 4.2.3 Relação efeito-causa-efeito Construído o cenário atual dos territórios sequeiro, irrigado, ribeirinho e central do município de Petrolina por meio dos indicadores que compõem a matriz do desenvolvimento local sustentável, é necessário identificar as causas e os efeitos que as sucedem para que sejam planejadas as ações para inverter o quadro atual. Para utilizar as relações de efeito-causa-efeito, fez-se necessário a adoção dos princípios do Processo de Pensamento (Thinking Process) da Teoria das Restrições – Theory of Constraints (TOC) – elaborada por Eliyahu M. Goldratt, físico israelense. Segundo Goldratt (1998), a TOC é uma nova filosofia gerencial que pode ser justificada por uma mudança na base, fundamentada na máxima “a soma dos ótimos locais não é igual ao ótimo total”. Então, ao se relacionar a Teoria geral dos Sistemas como o desenvolvimento sustentável, conclui-se que as ações isoladas para minimizar os efeitos não promovem a sustentabilidade. 85 A TOC foi uma teoria muito aplicada no meio empresarial, e adotá-la para fundamentar este trabalho pode parecer contraditório, uma vez que as empresas, em sua busca incessante por lucros cada vez maiores, têm sido responsabilizadas por promover a insustentabilidade. Contudo, a eficácia das empresas no alcance dos seus objetivos financeiros demonstra que suas ferramentas podem ser utilizadas para gerenciar as estratégias voltadas para o desenvolvimento sustentável. Essa teoria enxerga o problema de forma integrada ao meio, como um sistema. Ela consegue entender a forma de ligação entre todos os elementos que constituem o sistema. Para analisar as interligações existentes, a Teoria das Restrições responde às seguintes perguntas: O que mudar? Mudar para quê? Como provocar as mudanças? As respostas a essas questões chegam com a utilização de ferramentas analíticas formais do Processo do Pensamento, tais como Árvore da Realidade Atual, Diagrama de Dispersão de Nuvem, Árvore da Realidade Futura, Árvore de Pré-Requisitos e Árvore de Transição. A seguir, faz-se a demonstração das ferramentas supracitadas como meios utilizados para responder aos questionamentos feitos anteriormente (Quadro 7). Quadro 7 – Ferramentas em cada etapa do processo do pensamento O que mudar? Para o que mudar Árvore da Realidade Atual Diagrama (ARA) Nuvem de Dispersão Como mudar? de Árvore de Pré-Requisitos Árvore da Realidade Futura Árvore de Transição (ARF) Fonte: Silva (2008, p. 101) Para alcançar os objetivos descritos neste trabalho, adotam-se as ferramentas Árvore da Realidade Atual (ARA) e Árvore da Realidade Futura (ARF). 4.2.4 A Árvore da Realidade Atual Na Teoria das Restrições, a ferramenta denominada Árvore da Realidade Atual organiza de forma diagramada a relação efeito-causa-efeito com base nos problemas observados, que também são chamados de Efeitos Indesejáveis. O objetivo é, a partir daí, identificar a causa raiz desses efeitos. 86 Pode-se fazer analogia com uma situação corriqueira, por exemplo: quando alguém sente dor de cabeça, imediatamente ingere um remédio com o intuito de eliminar a dor. No entanto, não se preocupa com a verdadeira causa desse efeito indesejável. É preciso encontrar a verdadeira causa da dor de cabeça para eliminá-la definitivamente, resolvendo o problema. Goldratt (1994) afirma que o Processo de Raciocínio mostra que os efeitos indesejáveis não são independentes uns dos outros, existindo elos fortes de causa e efeito entre eles. Ele também explica: Até que essas ligações de causa e efeito estejam estabelecidas, não temos uma idéia clara da situação. O primeiro passo é usar um meio bastante sistemático para construir o que é chamado de Árvore da Realidade Atual, diagramando as relações de causa-efeito que ligam todos os problemas predominantes numa situação. Uma vez feito isso, compreenderá que não terá de tratar de muitos problemas porque, no cerne, eles quase sempre não passam de apenas uma ou duas causas independentes. (GOLDRATT, 1994, p. 101). A ARA nasce dos inputs, das relações estabelecidas entre os efeitos indesejáveis. Em seguida, encontra-se a relação existente entre esses efeitos e as possíveis causas, iniciando com dois efeitos, aplicando a experiência e promovendo a avaliação da lista. Então, começarão a surgir as causas. O Quadro 8 traz o passo a passo para a construção da Árvore da Realidade Atual. Também são necessários critérios para serem observados ao caracterizar um dado importante para a árvore. O método original os denominou como Categoria de Reservas Legítimas, contudo, neste trabalho, denomina-se Critérios Observados ao Construir a Árvore, apresentados no Quadro 9. 87 Quadro 8 – Ações para a construção da ARA 1. Criar uma lista de efeitos indesejáveis (com base nos indicadores do DLS) 2. Promover a inter-relação dos efeitos indesejáveis (criando relação efeito-causa-efeito independente da dimensão em que se encontre. Construir a ARA 3. Primeira tentativa de ARA (efetuar as ligações entre os fragmentos, pensando na existência de causas mais profundas). 4. Leitura da árvore de baixo para cima, promovendo o escrutínio – que deve obedecer aos critérios observados na construção da ARA – de cada flecha e entidade ao longo do percurso, sempre corrigindo o necessário. 5. Não hesitar em expandir a ARA para conectar outros efeitos existentes, não incluídos na lista original. 6. Eliminar da ARA quaisquer entidades não necessárias para conectar todos os efeitos. 7. Apresentar a ARA aos atores envolvidos* (identificar e registrar as críticas do grupo de projeto). 8. Identificar as causas-raiz (examinando as entradas da ARA, os inputs, ou seja, as palavras que só têm setas saindo). Identificar as causas-raiz que apresentam mais contribuições em termos de efeitos indesejáveis. * Apesar de ser essencial para traçar o caminho do desenvolvimento local sustentável – pois firma um compromisso de transformação com a sociedade local –, este trabalho não contemplará essa etapa da construção da ARA Fonte: Adaptado de Silva (2008, p. 103) Quadro 9 – Critérios que devem ser observados ao construir a árvore 1. Questionar a existência da Entidade (efeito-causa-efeito). Pode ser adicionada uma nova entidade que facilite a leitura de uma terceira pessoa? As conexões entre as causas e efeitos são convincentes? Não estão faltando passos intermediários entre as entidades conectadas? 2. Questionar o elo causal entre a causa e o efeito usando a expressão “Se...Então”. A sentença está completa? A sentença comporta somente uma ideia? A sentença está livre de afirmações do tipo “Se...então”? 3. É possível que haja redundância na relação causa-efeito. A causa pode ser a repetição do efeito. Quando isso acontecer, é possível estabelecer a causa como o efeito, e este sendo a causa, aplicando-se a relação efeito-causa-efeito. 4. Existência do efeito (entidade) predito: usando-se outro efeito (E) para mostrar que a causa hipotética (C) não produz o efeito inicialmente observado (E); mas se a causa original resultar também no efeito adicional, a relação original causa-efeito estará apoiada. 5. Demonstrar que uma causa adicional não trivial deve existir para explicar a existência do efeito observado. Caso as causas sugeridas não existam, então o efeito observado não existirá. 6. Observar que as causas amplificam o tamanho do efeito observado e nenhuma das causas pode, por si mesma, explicar o tamanho ou a extensão do efeito. A declaração “Se...então” é formulada como se segue: Se C‟ e C, então E. Fonte: Adaptado de Silva (2008, p. 104) 88 A seguir, na Figura 26, exemplo de Árvore da Realidade Atual (ARA) Figura 26 – Exemplo de Árvore da Realidade Atual (ARA) Fonte: Goldratt (1994) 89 4.2.5 A Árvore da Realidade Futura Após a identificação e solução dos problemas, e com a consequente eliminação de suas causas-raiz, o próximo passo é elaborar a Árvore da Realidade Futura, que se trata de uma estrutura capaz de apresentar os resultados da implementação das soluções definidas na ARA. Ela mostra a transformação dos efeitos indesejáveis em efeitos desejáveis. Trata-se de uma ferramenta muito semelhante à Árvore da Realidade Atual, porém seu diferencial está na inserção de injeções, que são as providências a serem tomadas como parte da solução. Estas, por sua vez, são inclusas em quadros com cantos quadrados. Na Árvore da Realidade Futura, adicionam-se as injeções com vista a desenvolver soluções evitando consequências negativas. Segundo a metodologia do Processo do Pensamento, a construção da Árvore da Realidade Futura deve usar os dados obtidos pela ferramenta Diagrama de Dispersão de Nuvens, não aplicada neste trabalho. Por essa razão, construir-se-á a Árvore da Realidade Futura tendo como base a Árvore da Realidade Atual deste trabalho. 4.2.6 Seleção e ponderação dos indicadores Na seleção e ponderação dos indicadores de sustentabilidade elaborados neste trabalho, com o objetivo de compor o Índice de Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, adota-se a metodologia elaborada por Silva (2008). Segundo a metodologia em questão, o indicador recebe um peso conforme o nível de implementação da ação de acordo como a Tabela 8. Tabela 8 – Ponderação do indicador Nível de Implementação da Ação 100% Abaixo de 100% Peso 1 X%/100 Fonte: Silva (2008, p. 107) Ressalta-se que se obtém o percentual de implementação da ação por meio do cruzamento entre as etapas da ação e o tempo previsto para sua efetiva implementação, segundo Silva (2008). A Tabela 9 ilustra o procedimento; no exemplo, mostra que se alcançou o percentual 90 de implementação pelo cálculo a seguir: tempo realizado dividido pelo tempo total programado até o momento da medição, multiplicado por cem. Tabela 9 – Exemplo da planilha de acompanhamento de projeto Etapas Previsão Início ---- 2.ª semana Status Término 3.ª semana Linha do Tempo - Meses Jan. Fev. Mar. Abr. Percentual de Implementação Maio 17 semanas Programado 5 semanas Realizado 100 % 34 % Fonte: Silva (2008, p. 107) A etapa seguinte é a composição do Índice de Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. O valor do índice se alcança com a soma dos pesos atribuídos aos indicadores e dividindo-os pelo número total de indicadores, por meio de uma média aritmética, conforme Silva (2008). Para ilustrar o progresso do processo de gestão, a cada resultado atribuído ao índice, associase uma cor. Quanto mais o índice se aproximar de 1, melhor é a gestão do desenvolvimento local sustentável no território pesquisado. As cores relacionadas com essa evolução seguem na Tabela 10. Tabela 10 – Nuances da gestão do desenvolvimento local sustentável Índice do DLS Nuances da Gestão do DLS 1 Categoria No caminho do DLS 0,99 a 0,7 Rumo ao caminho do DLS 0,69 a 0,4 DLS Inconsistente 0,39 a 0,1 Crescimento 0,09 a 0 Insustentabilidade Fonte: adaptado de Silva (2008) 4.2.7 Modelo de comunicação do sistema Após o desenvolvimento dos indicadores e do índice da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, faz-se necessário comunicar, mostrar à comunidade o estado da arte dessa gestão. Com esse intuito, utiliza-se a figura da árvore adotada por Silva (2008) para expressar o 91 processo de melhoria da qualidade de vida, evolução da gestão pública. A adoção da árvore como elemento representativo justifica-se nesta pesquisa. A figura da árvore foi escolhida para representar o Índice de Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, pois a mesma se caracteriza como um sistema circular que interage com os elementos que a circundam e demonstram essa relação através do crescimento, florescimento e frutificação, utilizando esses elementos de forma coerente como os seus propósitos. (SILVA, 2008, p. 108-109). A árvore se alimenta de materiais vindos do solo. Esse processo ocorre por causa da luz do sol que contribui de forma decisiva para a manutenção das espécies no planeta, conforme mostra a Figura 27. . Figura 27 – Árvore em interação com outros elementos da natureza Fonte: Silva (2008, p. 109) É possível traçar um paralelo entre a relação da árvore com os elementos naturais, como o solo, a energia solar e a água, e com a gestão do desenvolvimento local sustentável. Nesse caso, a árvore seria definida como as áreas pesquisadas no município de Petrolina: os territórios irrigado, sequeiro, ribeirinho e central. 92 Silva (2008) reforça essa percepção justificando o paralelo estabelecido com a afirmação de que a matéria absorvida são as ações que devem ser aplicadas para que os territórios pesquisados atinjam o desenvolvimento sustentável; a energia cinética é a transformação das ações em desenvolvimento ou evolução da comunidade, e a energia potencial, o modelo de gestão adotado que emana luz, conhecimento, amadurecimento da comunidade e da gestão pública, conforme a Figura 28. Figura 28 – Árvore representativa da gestão do DLS Fonte: Silva (2008, p. 110) Seguindo a ideia adotada por Silva (2008) em estabelecer a relação entre a árvore e o desenvolvimento local sustentável, a copa da árvore apresenta nuances de acordo com o grau de evolução da gestão, como apresenta a Figura 29. 93 Figura 29 – Nuances da árvore representando a evolução da gestão do DLS Fonte: Silva (2008, p. 111) 94 4.3 Resultados e discussão dos pilares da sustentabilidade do meio ambiente Os resultados aqui apresentados estarão divididos em dois momentos: a elaboração de um índice da gestão do desenvolvimento local sustentável e a exposição e análise dos dados secundários. Para cada um dos territórios pesquisados no município de Petrolina, será elaborado um índice. Nesse sentido fizeram-se necessários o conhecimento dos problemas locais e a definição de estratégias que os eliminem, e a partir daí, estabelecer os indicadores que promoveram a avaliação da gestão em questão. As dimensões que dão suporte ao desenvolvimento sustentável serão apresentadas neste trabalho na forma de uma matriz em que serão explicitados os indicadores que vão caracterizar o grau de sustentabilidade dos territórios pesquisados no município de Petrolina. Será apresentada uma matriz para cada território estudado. 4.3.1 Matriz dos indicadores do desenvolvimento local sustentável: análise dos dados primários A dimensão social será apresentada na matriz por meio das informações acerca das variáveis: saúde, educação, violência, mobilidade, crescimento populacional, comunicação, necessidades básicas e cultura. A dimensão ecológica traz informações acerca do solo, do ar, da água, da energia e da biodiversidade. Já a dimensão espacial, aborda questões ligadas às áreas especiais dos territórios e das construções. Por último, a dimensão institucional traz informações sobre políticas públicas, investimentos e reciprocidade. Cada uma dessas variáveis será analisada individualmente em cada matriz referente a cada um dos territórios traçados por este trabalho. 95 4.3.1.1 Matriz dos indicadores do desenvolvimento local sustentável dos Territórios Irrigado, Sequeiro, Ribeirinho e Central Tabela 11 – Matriz do DLS do Território Irrigado (Continua) Dimensão Variável Indicador N.º de hospitais policlínicas N.º de postos de saúde Saúde Educação ou 3.886 % de crianças, na idade escolar, analfabetas (7 a 14 anos) Taxa (%) de analfabetismo dos 15 a 24 anos Taxa (%) de analfabetismo (>25 anos) N.º de escolas municipais -- % Chefes de domicílios com menos de 4 anos de estudo Disciplinas relativas ao DLS nas escolas públicas Biblioteca no território Cultura População *Violência 8 Relação entre população total e quantidade de postos de saúde N.º de centros atenção psicossocial N.º de academia da cidade N.º de escolas particulares Social Território Irrigado Valor 0 0 0 15,9 29,9 20 2 65,7 0 1 Grupos folclóricos -- Festas populares -- População Total (aproximadamente) População (25 anos ou mais) 31.095 População infantil (até 6 anos) População 7 a 14 anos 6.019 População 15 a 24 anos 7.003 Estimativa de furtos/roubos (ano) Flagrantes entorpecentes (ano) Assassinatos Lesão corporal 11.988 6.085 96 (Continuação) Dimensão Variável Indicador % população com televisão Comunicação Necessidades Básicas Mobilidade Solo Ecológica Ar Relação entre população e quantidade de telefones fixos Relação entre população e quantidade de telefones públicos % população com coleta de lixo % população com água tratada Linhas de ônibus Território Irrigado Valor 99,9 --- 50 0 0 Metrô 0 Ciclovia 0 Acessibilidade 0 Estimativa quantidade de lixo doméstico coletado (kg/mês) Relação entre lixo gerado e população total (kg/mês) Coleta seletiva -- Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de SO2 (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Cox (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial – vidro Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial - cerâmica Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de CO (kg/mês) por fonte móvel -- -0 -- -- -- -- -- -- -- 97 (Conclusão) Dimensão Variável Indicador Estimativa de emissão de HC (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de SOx (kg/mês) por fonte móvel Qualidade do corpo d‟água Volume de água consumida m3/mês Volume de água faturada m3/mês Consumo de energia doméstica Consumo de energia indústria Unidades de conservação Água Energia Biodiversidade Áreas especiais Espacial Políticas Públicas Investimentos Total de área de conservação (km2) % de imóveis em Zonas Especiais de Interesses Sociais Preservação dos Sítios Históricos Território Irrigado Valor --- -- --0 -- -- Específicas do DLS 1 Cumprimento das políticas públicas Preservação ambiental _ Qualidade social Construção dos espaços *As informações pertinentes a esse quesito não foram fornecidas em relação a cada território. Por essa razão, as informações foram analisadas considerando a relação do município na sua totalidade Nota: Os dados foram obtidos em consultas realizadas nas Secretarias Municipais Fonte: adaptado de Silva (2008). 4.3.1.2 – Análise da Matriz do DLS no Território Irrigado (Tabela 11) A saúde se faz presente nesse território por intermédio de oito Equipes de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), um número insuficiente para atender à demanda local. Os 98 problemas com a falta de medicamentos nos postos de saúde são constantes, além da dificuldade de transporte para atendimentos de maior complexidade, o que provoca o deslocamento da população para os hospitais localizados no centro da cidade, congestionando o atendimento precário daqueles hospitais. O território não dispõe de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), por isso, em caso de necessidade, as pessoas têm de se deslocar para o território central do município. Além disso, o território também não dispõe de academia da cidade, o que estimularia a prática de exercícios, fator importante no auxílio da prevenção e tratamento de doenças cardíacas, por exemplo. O quadro da saúde no território irrigado preocupa quando se percebe que a ela parece existir somente como um paliativo. Nesse território não se constatou nenhum tipo de ação preventiva de doenças, com exceção de algumas campanhas de vacinação, por exemplo, a poliomielite. Essa situação mostra que o programa de saúde voltado para esse território caminha na contramão do desenvolvimento sustentável. A situação da educação no território irrigado é extremamente preocupante, uma vez que seus números são comprometedores. O número de escolas municipais é superior ao de escolas particulares, o que reflete a incapacidade financeira das famílias para arcar com as despesas referentes aos estudos dos filhos. A taxa de analfabetismo entre os 15 e 24 anos de idade, assim como dos maiores de 25 anos, reflete a necessidade de investimentos no ensino técnico A gestão municipal reconhece a necessidade de um plano especial de educação voltado para a área rural, incluindo aí o território irrigado. Esse reconhecimento é importante porque aponta para a conscientização sobre a necessidade de elaborar e executar ações que promovam a diminuição do déficit educacional, o que promoveria uma mudança significativa nesse território . A variável população é a mais instável dentre todas para o gestor público, uma vez que não se tem controle sobre ela, o que traz alguns problemas, pois se trata de uma variável interligada a outras. Por essa razão, essa é uma variável importante a ser considerada no processo de elaboração e definição das estratégias voltadas ao desenvolvimento sustentável. A população do território irrigado é formada por pequenos e médios colonos, por trabalhadores rurais e por 99 uma população flutuante formada por empresários das fazendas de fruticultura, funcionários que prestam assistência às propriedades rurais, os técnicos agrícolas. O território irrigado só perde em população para o território central do município, mas com um perfil diferente. As deficiências, já verificadas nos temas Saúde e Educação se agravam quando se verifica a divisão etária, uma vez que a população de até 24 anos totaliza um quantitativo maior (19.107 pessoas) do que toda a população maior de 25 anos. Não foi disponibilizado o número referente aos idosos, o que leva a pensar que existe um número significativo dessa população, a qual é precariamente assistida em todos os aspectos. A estrutura do território é insuficiente para atender às demandas tanto da população fixa quanto da flutuante. Ignorar o crescimento e as necessidades dessa população trará problemas com uma infraestrutura ineficiente e atrasada, como o aumento da emissão de resíduos sólidos, a explosão imobiliária desordenada, problemas que podem impactar de forma negativa um território que é a vitrine da fruticultura irrigada. É impossível imaginar os dias de hoje sem as mais variadas formas de comunicação, tamanha é sua importância. A comunicação é fundamental na aproximação das pessoas, na aceleração dos processos de tomada de decisões, na atualização do dia a dia e para ajudar a formar o senso crítico da população. Nesse território 99,9% da população possui aparelho de televisão em casa, mesmo aqueles de menor poder aquisitivo. Esse dado indica que as pessoas que moram nessa área de estudo têm na televisão sua fonte principal de informação, o que causa preocupação, porque os canais de TV abertos oferecem uma programação com atrações de conteúdo duvidoso, exceto os telejornais, os quais, por sua vez, apenas reproduzem as notícias sem nenhuma preocupação em aprofundá-las. Não foram fornecidas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) as informações pertinentes à telefonia fixa residencial ou pública, entretanto, nas visitas realizadas ao território em questão verificou-se a pequena quantidade de telefones públicos no território, no entanto, a quase totalidade dos habitantes portava telefone celular. Apesar do elevado número de aparelhos celulares, há ainda os que precisam de telefones públicos, a exemplo dos idosos. O ideal é deixá-los disponíveis de forma que a comunidade seja plenamente atendida. 100 Quanto às necessidades básicas da população local, existem alguns pontos críticos como a coleta de lixo, que se realiza apenas nas vilas dos projetos de irrigação. Aqueles que não residem nas vilas descartam o lixo ao longo das estradas, nas áreas abandonadas e na beira do rio. A ineficiência da gestão pública nesse aspecto traz problemas de saúde pública e poluição ambiental. É urgente a oferta e a regularização desse serviço em todo o território, o que certamente diminuiria a ocorrência de doenças e a poluição nas margens do rio. A maioria das residências tem água nas torneiras, pois estão localizadas em um território irrigado. Apesar disso, a água não tem tratamento, são advindas dos canais de irrigação, sendo imprópria para beber, o que obriga aquela população a pagar por água mineral. Esse custo não existiria se existisse naquela localidade uma estação de tratamento de água. O único meio de transporte da população do território em questão são as vans. Não existe transporte público para essa população, assim como são inexistentes as ciclovias. A oferta de ciclovias seria motivo de comemoração uma vez que é grande o número de pessoas que usam a bicicleta para se deslocar. Há ainda o serviço de mototáxi para esse território, mas torna-se inviável diante do custo, superior ao cobrado pelas vans. O deslocamento dos deficientes físicos é extremamente difícil uma vez que não há transporte adequado a suas condições. Os pedestres também sofrem com o despreparo das vias dedicadas a eles. O deslocamento dessa população para o território urbano do município é ineficaz e oneroso. A mobilidade nesse território é inadequada por não atender aos anseios e às necessidades da comunidade ali existente. A dimensão ecológica parece não receber a atenção que merece por parte da gestão pública no território irrigado. As informações pertinentes à variável solo não foram fornecidas em detalhes. Sabe-se que a coleta de lixo não atinge todo o território irrigado, e não há coleta seletiva. O tratamento inadequado do lixo traz impactos negativos para a população, os quais podem ser percebidos na saúde dessa população. Contudo, não existe nenhum programa com o intuito de instruir a população acerca desse assunto, o que poderia educar e trazer novas fontes de renda para a população local, inclusive reduzindo os problemas de saúde local. 101 A qualidade do ar do território irrigado parece não ter importância para os órgãos gestores, porque não há, por parte da AMMA, interesse em monitorar essa variável. Por essa razão, este estudo não traz dados referentes à poluição atmosférica do território em questão. Tanto a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) quanto a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), não forneceram informações pertinentes ao volume de água consumida e ao consumo de energia elétrica. As informações referentes aos aspectos ecológicos no município são de responsabilidade da AMMA, e não da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). Entretanto, a AMMA ainda não dispõe de um acervo capaz de atender às demandas deste estudo. Por essa razão, as poucas informações referentes a unidades de conservação obtiveram-se na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas). Segundo a Semas, o território irrigado não dispõe de nenhuma unidade de conservação, embora considere urgente sua criação no território em questão. Ainda segundo a secretaria, a instalação das unidades de conservação ainda está em andamento. Essa situação preocupa, pois é acelerado o desmatamento do território irrigado para a implantação das culturas nos lotes de produção. No território irrigado, não há nenhuma zona de interesse especial, assim como nenhuma política de preservação de sítios históricos direcionada a ele. As políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável para esse território se resumem à exigência de licenciamento ambiental para os novos empreendimentos locais, visto que não se constou nenhuma outra atividade de preservação ambiental, nem sequer coleta seletiva, como já foi citado. A qualidade social no território irrigado não corresponde ao que se esperava, conforme análise dos aspectos já citados. 4.3.1.3 Dados secundários do Território Irrigado Obtiveram-se os dados secundários mediante a aplicação de questionários respondidos por dez moradores do território irrigado. O questionário elaborado para o território em questão continha 33 perguntas referentes aos aspectos sociais, espaciais, institucionais e ecológicos. 102 O grau de instrução dos entrevistados é bem diversificado, uma vez que 10% cursaram apenas o primeiro grau; ensino médio completo 50%; ensino médio incompleto 30% e apenas 10% têm ensino superior completo. A renda familiar dos entrevistados é de R$ 1.700,00, a maioria, cerca de 70%, é de chefe de família; possuem telefone celular 100%; televisão 90%; computador em casa 40%; acesso à internet 10%. Moram em casa de alvenaria 100%; água encanada 100%; sem tratamento de esgoto 100%. Não há coleta seletiva 100%; tem coleta de lixo 20%. Os problemas existentes no território, listados no Gráfico 1, são conhecidos por 100% dos entrevistados. Gráfico 1 – Problemas no Território Irrigado Os entrevistados afirmam que os problemas são de conhecimento do poder público municipal, que, segundo eles, se defende argumentando que as verbas são insuficientes para sanar todos os problemas e, por essa razão, tinha de dar prioridade a alguns. Para os entrevistados, a saúde é um dos principais problemas, porque o atendimento no posto de saúde é precário, e só um não é suficiente para atender à demanda local. À pergunta se costumavam frequentar o posto de saúde, responderam positivamente 90%, e em 70% dos casos, havia médico no posto. Perguntou-se também se foram bem atendidos, se resolveram seus problemas e se os medicamentos estavam disponíveis pela Prefeitura (Gráficos 2, 3 e 4). 103 Gráfico 2 – Atendimento no posto de saúde do Território Irrigado Gráfico 3 – Solução do problema de saúde no Território Irrigado Gráfico 4 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura Os aspectos ecológicos do território evidenciaram o rio São Francisco e a caatinga. Todos os entrevistados reconhecem a importância do rio e 90% afirmam que ele está poluído. 104 Com relação à caatinga, sua importância é reconhecida por 100% dos entrevistados para a manutenção da vida nessa região semiárida. O mesmo percentual já ouviu falar em desenvolvimento sustentável, todavia, apenas 10% acreditam que o território está a caminho do desenvolvimento local sustentável. Dentre os entrevistados do território irrigado, apenas 10% conhecem as leis municipais, estaduais ou federais, e 90% as desconhecem. A atuação das organizações não governamentais (ONG) no território é desconhecida por 80% dos entrevistados. Na visão dos entrevistados, são muitas as causas da poluição do rio São Francisco. As mais citadas são mostradas no Gráfico 5. Gráfico 5 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território Irrigado Os entrevistados ainda citaram quais as ações que a Prefeitura deveria programar para alcançar melhorias na qualidade de vida da população do território irrigado (Gráfico 6). 105 Gráfico 6 – Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território Irrigado 4.3.1.4 Análise dos dados secundários do Território Irrigado As respostas dadas pelos entrevistados no território irrigado chamam a atenção nas questões referentes à saúde e aos aspectos ecológicos. É grave a falta de saneamento, assim como não há tratamento da água. O esgoto doméstico é jogado no rio, assim como o resíduo líquido com agrotóxicos amplamente aplicados nas áreas de produção. A gestão pública é inexistente nesses aspectos e não consegue relacionar a falta de saneamento com o grande número de atendimentos no posto de saúde e nos hospitais públicos do município. A grande questão é saber por que essas questões não são abordadas no poder público. A falta de conhecimento das leis municipais, estaduais e federais, por parte dos entrevistados, é preocupante, pois se espera que os cidadãos tenham o mínimo de conhecimento acerca de seus direitos e suas obrigações. Conhecimento, educação e informação são fatores essenciais que orientam tanto os cidadãos quanto o poder público na promoção do desenvolvimento sustentável. Sem essa base sólida, não há como representantes da sociedade e a gestão pública, praticando seus direitos e deveres, encontrar o Desenvolvimento Local Sustentável no Território Irrigado. 106 Tabela 12 – Matriz do DLS no Território de Sequeiro (Continua) Dimensão Variável Saúde Educação Social Cultura População Indicador Território Sequeiro Valor N.º de hospitais ou policlínicas N.º de postos de saúde 0 Relação entre população total e quantidade de postos de saúde N.º de centros atenção psicossocial N.º de academia da cidade % de crianças, na idade escolar, analfabetas (7 a 14 anos) Taxa (%) de analfabetismo dos 15 a 24 anos Taxa (%) de analfabetismo (>25 anos) N.º de escolas municipais N.º de escolas particulares % Chefes de domicílios com menos de 4 anos de estudo Disciplinas relativas ao DLS nas escolas públicas Biblioteca no território 2.665 5 0 0 -- 10,4 32,5 26 2 70,4 0 2 Grupos folclóricos -- Festas populares 1 População Total (aproximadamente) População (25 anos ou mais) População infantil (até 6 anos) População 7 a 14 anos 13.325 População 15 a 24 anos 2.786 5.906 1.996 2.637 107 (Continuação) Dimensão Variável *Violência Indicador Território Sequeiro Valor Estimativa de furtos/roubos (ano) Flagrantes entorpecentes (ano) Assassinatos Lesão corporal % população com televisão Comunicação Relação entre população e quantidade de telefones fixos Relação entre população e quantidade de telefones públicos % população com coleta Necessidades de lixo % população com água Básicas tratada Linhas de ônibus Mobilidade Solo Ecológica Ar 99,9 0 0 Metrô 0 Ciclovia 0 Acessibilidade 0 Estimativa quantidade de lixo doméstico coletado (kg/mês) Relação entre lixo gerado e população total (kg/mês) Coleta seletiva -- Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de SO2 (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Cox (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) -- -0 -- -- -- 108 (Continuação) Dimensão Variável Indicador Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial – vidro Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial - cerâmica Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de CO (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de HC (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de SOx (kg/mês) por fonte móvel Qualidade do corpo d‟água Água Energia Biodiversidade Áreas especiais Espacial Políticas Públicas Volume de água consumida m3/mês Volume de água faturada m3/mês Consumo de energia doméstica Consumo de energia indústria Unidades de conservação Total de área de conservação (km2) % de imóveis em Zonas Especiais de Interesses Sociais Preservação dos Sítios Históricos Território Sequeiro Valor -- -- -- ---- -- -----0 -- -- Específicas do DLS 1 Cumprimento das políticas públicas -- 109 (Conclusão) Dimensão Variável Indicador Território Sequeiro Valor Preservação ambiental Investimentos Qualidade social Construção dos espaços * As informações pertinentes a esse quesito não foram fornecidas em relação a cada território. Por essa razão, elas foram analisadas considerando a relação do município na sua totalidade Fonte: adaptado de Silva (2008) 4.3.2 Análise da Matriz do DLS no Território Sequeiro (Tabela 12) O Território de Sequeiro dispõe de cinco equipes de Agentes Comunitários de Saúde, uma quantidade pequena para atender os moradores do território. É comum faltar medicamentos nos postos de saúde, e por se tratar de uma região distante da área central do município, existe grande dificuldade para atendimentos mais complexos, provocando a ida da população aos os hospitais no centro da cidade. O Território de Sequeiro não dispõe de Centros de Atenção Psicossocial, assim, aqueles que precisando de tratamento são obrigados a recorrer ao território central do município. O território em questão não dispõe de academia da cidade, impossibilitando a prática de exercícios por parte dos moradores. A educação no Território de Sequeiro é, segundo os números apresentados, contraditória, já que existem mais escolas públicas do que particulares, deixando claro que a população não dispõe de recursos para arcar com os estudos. Entretanto, apesar de haver escolas públicas no território, é alto o número de analfabetos ali existentes. A taxa de analfabetismo entre os maiores de 25 anos é de 32%, demonstrando que há necessidade de projetos voltados para cursos técnicos ou profissionalizantes. O aspecto cultural do Território de Sequeiro se destaca pela realização da Jecana, que se realiza na comunidade do Capim. Trata-se de uma festa popular, que faz parte dos festejos 110 juninos do município de Petrolina, criada há quarenta anos, cujo ponto forte é a corrida de jegues. A população do Território de Sequeiro é formada por pequenos criadores de animais, como os caprinos. Trata-se de uma população sacrificada pela seca. É um território onde a água é um bem escasso e raro; não existem canais de irrigação, por isso são extremamente dependentes da água da chuva, raras nesse território. Muitos deles, os mais jovens principalmente, buscam trabalho em outros territórios, como o Irrigado e o Central, os de idade acima de 25 anos principalmente. Obviamente, a estrutura do território é insuficiente para atender às necessidades da população. A falta de água e a convivência com a seca são desafios diários dessa população. As tentativas de fixar o homem no campo, proporcionando opções que minimizem os impactos causados pela seca, têm sido promovidas pelo poder público, mas os resultados ainda são muito tímidos. A informação chega, basicamente, dos canais abertos de TV, cerca de 90% da população possui aparelho de televisão. A Anatel não forneceu informações referentes à telefonia fixa residencial nem celular. A comunicação no território é precária; são poucos os telefones públicos, entretanto, não foi informada a quantidade exata. A variável necessidade básica é preocupante. A coleta de lixo é semanal, e mesmo assim nas comunidades mais próximas do centro do município; além disso, não há coleta seletiva. Essa situação já seria suficiente para preocupar as autoridades de saúde do município, uma vez que isso já configura um atentado à saúde pública. A maioria das residências não tem água nas torneiras. A água, quando chega, é por carrospipa ou quando chove, sendo captada por cisternas, algo raro de acontecer. O território não tem saneamento básico, um fato que desencadeia vários problemas de saúde. As vans fazem o transporte da população do Território de Sequeiro. Apesar de regulamentado, esse tipo de transporte, além de caro e com grandes intervalos de horário, tem provocado um aumento no número de acidentes nas estradas que ligam o centro do município a esse território. Lá não existem ciclovias, assim como nenhum tipo de acessibilidade para 111 portadores de necessidades especiais. A mobilidade dos moradores do Território de Sequeiro é inadequada, visto que não atende às necessidades daquela população. Apesar de apresentar problemas ecológicos, essa dimensão na tem recebido a atenção necessária por parte do poder público. Nesse território existem problemas de degradação do solo por conta da escassez de chuvas. Com o objetivo de estudar a biodiversidade local e mitigar os impactos ambientais nesse território, a Univasf mantém o Centro de Recuperação de Áreas Degradadas. Contudo, o referido centro não disponibilizou informações acerca do território em estudo. A AMMA também não disponibilizou informações referentes ao solo e à qualidade do ar do Território de Sequeiro, por essa razão, este estudo não apresenta dados referentes à poluição atmosférica do território em questão. Igualmente ao Território Irrigado, nem a Compesa nem a Celpe forneceram informações pertinentes ao volume de água consumida e ao consumo de energia elétrica. De acordo com a Semas, o Território de Sequeiro não tem nenhuma unidade de conservação. Segundo a secretaria, as implantações das unidades de conservação estão em andamento. Contudo, a preocupação com a preservação ambiental no território apresenta baixa evidência. A qualidade social no Território de Sequeiro apresenta-se num nível baixo de acordo com as análises dos aspectos já citados. 4.3.2.1 Dados secundários do Território de Sequeiro Os dados secundários foram obtidos mediante a aplicação de questionários respondidos por dez moradores do Território de Sequeiro. O questionário elaborado para o território em questão continha 29 perguntas referentes aos aspectos sociais, espaciais, institucionais e ecológicos. Chama a atenção o grau de instrução dos entrevistados, uma vez que apenas 30% têm o primeiro grau e 70% dos entrevistados são analfabetos. A renda familiar dos entrevistados é de R$ 600,00 na maioria; cerca de 50% é de chefe de família, cerca de 90% possuem televisão, possuem telefone celular 60%; não possuem computador em casa 100% e 100% não tem acesso à internet. Moram em casa de alvenaria 80%; não há água encanada em 100% 112 das casas; em 20% das casas não dispõem de coleta de lixo, não existe coleta seletiva em 100% nem tratamento de esgotos em 100% das moradias. Cerca de 80% dos entrevistados conhecem os problemas que estão dispostos no Gráfico 7. Gráfico 7 – Problemas no Território de Sequeiro Segundo os entrevistados, os problemas são conhecidos pelo poder público municipal, mas, infelizmente, o interesse no território é mínimo. Ainda segundo os entrevistados, a falta de água e de saneamento sãos os dois maiores problemas do território, o que é bastante preocupante, porque a falta desses serviços desencadeia muitos problemas de saúde. Essa é a maior preocupação de 40% dos entrevistados, que se queixam da quantidade insuficiente de postos de saúde disponíveis. À pergunta se costumavam frequentar o posto de saúde, responderam positivamente 80% e em 50% dos casos, encontraram médico no posto. Perguntou-se também se foram bem atendidos, se resolveram seus problemas e se havia medicamentos disponíveis por parte da Prefeitura. As respostas estão apresentadas nos Gráficos 8, 9 e 10. 113 Gráfico 8 – Atendimento no posto de saúde do Território de Sequeiro Gráfico 9 – Solução do problema de saúde no Território de Sequeiro Gráfico 10 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura 114 Os aspectos ecológicos do território evidenciaram a caatinga e o Rio São Francisco. Todos os entrevistados reconhecem a importância do rio e 100% crê que o rio está poluído. Para os entrevistados, são muitas as causas da poluição. O Gráfico 11 mostra as mais citadas. Gráfico 11 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território de Sequeiro Como citado anteriormente, todos os entrevistados reconhecem a importância da caatinga, assim como sua relevância para a permanência da vida no Sertão; além de garantir sua sobrevivência no território. Apesar disso, apenas 50% dos entrevistados ouviram falar em desenvolvimento sustentável e cerca de 90% deles entendem que o território ainda não encontrou o caminho da sustentabilidade. Todos os entrevistados do Território de Sequeiro desconhecem leis municipais, estaduais ou federais, o que facilita o atraso para o encontro com o desenvolvimento sustentável. Os entrevistados responderam também quais as ações que eles desejavam que fossem realizadas pelo poder público com o objetivo de alcançar melhor qualidade de vida para os que fazem o Território de Sequeiro. As respostas estão expostas no Gráfico 12. 115 Gráfico 12 – Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território de Sequeiro 4.3.2.2 Análise dos dados secundários do Território de Sequeiro O Território de Sequeiro chama a atenção, entre outros aspectos, pelo baixo nível de escolaridade. Muitos se queixaram da falta de biblioteca para as crianças, assim como da quantidade de escolas. Os problemas com a falta d‟água são clássicos nesse território; sendo assim, os problemas com o saneamento doméstico não são, exatamente, surpresa. As questões referentes à saúde e aos aspectos ecológicos também foram bastante ressaltados, principalmente a caatinga, demonstrando preocupação com sua degradação e exploração. Assim como no Território Irrigado, a falta de conhecimento das leis municipais, estaduais e federais por parte dos entrevistados é latente e preocupante, uma vez que sem conhecimento não se pode mudar uma realidade. O conhecimento se faz indispensável na conscientização e preparação, tanto dos cidadãos comuns quanto do poder público, para o alcance do desenvolvimento local sustentável. 116 Tabela 13 – Matriz do DLS no Território Ribeirinho (Continua) Dimensões Variável Indicador N.º de hospitais ou policlínicas N.º de postos de saúde Saúde Educação Social Cultura População Território Ribeirinho Valor 0 4 Relação entre população total e quantidade de postos de saúde N.º de centros atenção psicossocial N.º de academia da cidade % de crianças, na idade escolar, analfabetas (7 a 14 anos) Taxa (%) de analfabetismo dos 15 a 24 anos Taxa (%) de analfabetismo (>25 anos) N.º de escolas municipais 3.291 N.º de escolas particulares % Chefes de domicílios com menos de 4 anos de estudo Disciplinas relativas ao DLS nas escolas públicas Biblioteca no território 0 0 0 -- 29,9 29,2 20 65,7 0 1 Grupos folclóricos 1 Festas populares -- População Total (aproximadamente) População (25 anos ou mais) População infantil (0 a 6 anos) População 7 a 14 anos 13.167 População 15 a 24 anos 2.997 5.056 2.442 2.672 117 (Continuação) Dimensões Variável * Violência Indicador Território Ribeirinho Valor Estimativa de furtos/roubos (ano) Flagrantes entorpecentes (ano) Assassinatos Lesão corporal % população com televisão Comunicação Necessidades Básicas Mobilidade Solo Ecológica Ar Relação entre população e quantidade de telefones fixos Relação entre população e quantidade de telefones públicos % população com coleta de lixo % população com água tratada Linhas de ônibus 90 0 0 Metrô 0 Ciclovia 0 Acessibilidade 0 Estimativa quantidade de lixo doméstico coletado (kg/mês) Relação entre lixo gerado e população total (kg/mês) Coleta seletiva -- Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de SO2 (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Cox (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) -- -0 -- -- -- 118 (Continuação) Dimensões Variável Água Energia Biodiversidade Áreas especiais Espacial Indicador Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial – vidro Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial - cerâmica Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de CO (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de HC (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de SOx (kg/mês) por fonte móvel Qualidade do corpo d‟água Volume de água consumida m3/mês Volume de água faturada m3/mês Consumo de energia doméstica Consumo de energia indústria Unidades de conservação Total de área de conservação (km2) % de imóveis em Zonas Especiais de Interesses Sociais Preservação dos Sítios Históricos Território Ribeirinho Valor -- -- -- -- -- -- -- -----0 -- -- 119 (Conclusão) Dimensões Variável Políticas Públicas Investimentos Indicador Específicas do DLS Cumprimento das políticas públicas Preservação ambiental Território Ribeirinho Valor 1 -- Qualidade social Construção dos espaços * As informações pertinentes a esse quesito não foram fornecidas em relação a cada território. Por essa razão, as informações foram analisadas considerando a relação do município na sua totalidade Fonte: adaptado de Silva (2008) 4.3.3 Análise da Matriz do DLS no Território Ribeirinho (Tabela 13) O Território Ribeirinho, assim como os outros territórios já analisados neste trabalho, não dispõe de nenhum hospital, seja público, seja particular; nem mesmo de uma policlínica. São quatro postos de saúde para atender um média de 3.291 habitantes, fato que atende à recomendação do Ministério da Saúde de um posto de saúde para cada 2.000 habitantes. Porém, em algumas vilas ribeirinhas, não existem postos de saúde, obrigando a população a se deslocar para o vilarejo mais próximo em caso de necessidade. Nenhum dos postos de saúde do território está preparado para atendimento mais complexo. O Território Ribeirinho também não dispõe de Centros de Atenção Psicossocial, obrigando ao deslocamento, o que representa gastos para os que estão em busca de tratamento no território central do município. Também não dispõem de academia da cidade a fim de praticarem exercícios. Os programas de saúde, tanto no Território Ribeirinho quanto nos outros territórios analisados, suportam somente os casos epidêmicos, não realizando nenhum tipo de ação voltada à prevenção de doenças. A variável educação no Território Ribeirinho apresenta números que inspiram preocupação, pois a taxa de analfabetismo na faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos é de 29,9%, o maior percentual dentre todos os territórios analisados nesta pesquisa. Mais de 50% dos chefes de família têm menos de quatro anos de estudo. Em todo o território, há somente uma biblioteca, 120 fato que se explica uma vez que o analfabetismo é predominante no território. Apesar dessa situação, o território tem 20 escolas públicas, mas nenhuma tem em sua matriz curricular disciplinas que tratem da sustentabilidade. Faz-se urgentemente necessária o desenvolvimento de ações voltadas ao ensino técnico ou profissionalizante no Território Ribeirinho. A população do Território Ribeirinho é formada por pescadores e por trabalhadores da fruticultura. É muito comum na safra da uva os cidadãos ribeirinhos serem contratados pelas fazendas, principalmente os mais jovens e as mulheres, apesar de seu baixo nível de instrução. A população acima de 25 anos é maioria no território. A estrutura do território é precária. A água não é tratada, vindo diretamente do rio, e o saneamento é algo que não se conhece por lá. Algumas iniciativas estão sendo postas em prática, como a criação, em fase inicial, de tilápias em tanque-rede. Sendo assim, não é possível analisar os impactos positivos ou negativos, assim como os resultados em consequência dessa atividade. Os aparelhos de televisão estão presentes em 90% das casas do Território Ribeirinho, porém, apesar de a Anatel não ter fornecido informações acerca do quantitativo de telefones celulares e telefones públicos, pode-se afirmar que são poucos os telefones públicos no território. Os ribeirinhos também têm acesso à internet. A coleta de lixo é semanal, mas, não há coleta seletiva. Assim como não há água tratada nem saneamento básico. Uma situação extremamente preocupante por todos os problemas de saúde que podem ser gerados diante desse quadro de precariedade. O transporte, como nos outros territórios já analisados, é feito por vans, um transporte de custo alto e com grandes intervalos nos horários. O território não tem nenhuma ciclovia apesar de muitos moradores utilizarem esse veículo. Inexistente também são os acessos para os que portadores de necessidades especiais e os idosos. Além disso, não existem vias pavimentadas no território, fato que dificulta bastante a mobilidade da população ribeirinha. Nas áreas ribeirinhas mais distantes, a dimensão ecológica é pouco menos impactada do que nos outros territórios. As margens do rio São Francisco estão conservadas com sua mata ciliar. O rio apresenta alguns sinais de poluição por causa do esgotamento sanitário, que é 121 lançado nele sem nenhum tratamento. Não existem na AMMA informações pertinentes ao solo nem à qualidade do ar do Território Ribeirinho, razão pela qual não há neste trabalho dados a respeito da qualidade do ar desse território. Em relação ao Ribeirinho, a Compesa também não prestou as informações pertinentes ao volume de água consumida, e a Celpe quanto ao consumo de energia elétrica. O Território Ribeirinho não tem nenhuma unidade de conservação, entretanto a Semas afirma que já está em estudo a instalação. O território em questão apresenta baixa preocupação com a preservação ambiental. A análise da matriz do desenvolvimento local sustentável do Território Ribeirinho desperta grande preocupação de acordo com as análises dos aspectos mencionados. 4.3.3.1 Dados secundários do Território Ribeirinho Para obtenção dos dados secundários, foram aplicados dez questionários entre moradores do Território Ribeirinho. O questionário elaborado para o território em questão continha 30 perguntas referentes aos aspectos sociais, espaciais, institucionais e ecológicos. O nível de instrução dos entrevistados apresentou-se melhor do que no Território de Sequeiro, pois cerca de 50% tem o 2.º grau completo; cerca de 30% dos entrevistados tem o primeiro grau incompleto; o 2.º grau incompleto 10% e 10% tem nível superior. A renda média familiar dos entrevistados é de R$ 677,55. Televisão têm 90% dos entrevistados; telefone celular 90%; moram em casa de alvenaria 100%; não têm água encanada 100%; não têm computador em casa 90%; não têm acesso à internet 100% coleta de lixo têm 100%, ressaltando que a coleta de lixo é semanal, um fato que contribui para a formação de lixões, e 100% não têm coleta seletiva, assim como 100% não têm tratamento de esgotos. Cerca de 100% dos entrevistados conhecem os problemas dispostos no Gráfico 13. 122 Gráfico 13 – Problemas no Território Ribeirinho Os entrevistados afirmaram que os problemas são conhecidos pelo poder público municipal, mas, infelizmente não houve empenho na resolução deles. Para os ribeirinhos o maior problema é a falta de saneamento básico, que polui o rio e prejudica as atividades pesqueiras. Curiosamente, a falta d‟água foi tão citada como problema quanto a ausência de praças e de uma biblioteca, reação que pode ser justificada pelo receio de que seus jovens envolvam-se com drogas ou algo do tipo. A falta d‟água e de saneamento são causadores de muitos problemas de saúde dos ribeirinhos, que muitas vezes procuram os postos de saúde com sintomas tais como vômitos e diarreia e até mesmo dengue. Cerca de 80% dos entrevistados já precisaram dos serviços do posto de saúde, e em 80% dos casos havia médico atendendo no posto. Os entrevistados também responderam se foram bem atendidos, se resolveram seus problemas e se a Prefeitura deixa medicamentos disponíveis. As respostas estão apresentadas nos Gráficos 14,15 e 16. Gráfico 14 – Atendimento no posto de saúde do Território Ribeirinho 123 Gráfico 15 – Solução do problema de saúde no Território Ribeirinho Gráfico 16 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura No Território Ribeirinho, os aspectos ecológicos ressaltam o rio São Francisco. Os entrevistados foram unânimes no reconhecimento da importância do rio e da mata ciliar para a sua sobrevivência, e 100% acreditam na poluição do rio. As causas da poluição para os ribeirinhos entrevistados estão dispostas no Gráfico 17. 124 Gráfico 17 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território Ribeirinho A consciência da importância do rio é resultado do saber adquirido, na maioria das vezes, pela televisão. Cerca de 70% dos ribeirinhos conhecem a definição de desenvolvimento sustentável e somente 20% deles acredita que o território está longe de encontrar o caminho para a sustentabilidade. É chocante o percentual de ribeirinhos que desconhecem as leis municipais ou estaduais, cerca de 80%, fato que pode explicar o descaso com a saúde por exemplo. Os ribeirinhos responderam, ainda, quais as ações que desejavam que fossem realizadas pelo poder público com objetivo promover melhorias na qualidade de vida dos moradores do Território Ribeirinho. As respostas estão expostas no Gráfico 18. 125 Gráfico 18 – Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território Ribeirinho 4.3.3.2 Análise dos dados secundários do Território Ribeirinho O Território Ribeirinho é contraditório, pois, ao mesmo tempo em tem em sua população pessoas com nível superior completo, traz consigo problemas sociais graves como falta de saneamento, de água tratada, entre outros. Utilizar a água do rio sem tratamento provoca problemas de saúde como a diarreia em doença crônica, provocando “inchaço” nos postos de saúde. A coleta de lixo, apesar de existir, é semanal, obrigando a população a abrigar em casa o lixo doméstico, sem separação. A falta de conhecimento das leis municipais, principalmente, gera uma alienação que alimenta a atual situação do território, porque, como desconhecem seus direitos, não conseguem cobrar daqueles que administram o município. É necessário ter acesso à informação de maneira geral, somente assim, com conhecimento, será possível colocar o Território Ribeirinho no caminho do desenvolvimento sustentável. 126 Tabela 14 – Matriz do DLS no Território Central (Continua) Dimensão Variável Indicador N.º de hospitais policlínicas N.º de postos de saúde Saúde Educação Social Cultura População *Violência ou Território Central Valor 6 27 Relação entre população total e quantidade de postos de saúde N.º de centros atenção psicossocial N.º de academia da cidade 1.650 % de crianças, na idade escolar, analfabetas (7 a 14 anos) Taxa (%) de analfabetismo dos 15 a 24 anos Taxa (%) de analfabetismo (>25 anos) N.º de escolas municipais -- 3 1 2,4 8,1 41 N.º de escolas particulares 112 % Chefes de domicílios com menos de 4 anos de estudo Disciplinas relativas ao DLS nas escolas públicas Biblioteca no território 23,3 0 11 Grupos folclóricos -- Festas populares 2 População Total (aproximadamente) População (25 anos ou mais) População infantil (0 a 6 anos) População 7 a 14 anos 45.570 População 15 a 24 anos 9.130 Estimativa de furtos/roubos (ano) Flagrantes entorpecentes (ano) Assassinatos Lesão corporal 22.713 4.766 5.961 127 (Continuação) Dimensão Variável Comunicação Necessidades Básicas Mobilidade Ar Indicador % população com televisão Relação entre população e quantidade de telefones fixos Relação entre população e quantidade de telefones públicos % população com coleta de lixo % população com água tratada Linhas de ônibus Território Central Valor 100 99,9 16 Metrô 0 Ciclovia 3 Acessibilidade 0 Relação entre lixo gerado e população total (kg/mês) Coleta seletiva -- Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de SO2 (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Cox (kg/mês) combustível por fonte fixa (GN) Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial – vidro Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) processo industrial - cerâmica -- 1 -- -- -- -- -- 128 (Conclusão) Dimensão Variável Indicador Estimativa de emissão de Material Particulado (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de CO (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de HC (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de NOx (kg/mês) por fonte móvel Estimativa de emissão de SOx (kg/mês) por fonte móvel Qualidade do corpo d‟água Água Energia Biodiversidade Áreas especiais Espacial Políticas Públicas Investimentos Volume de água consumida m3/mês Volume de água faturada m3/mês Consumo de energia doméstica Consumo de energia indústria Unidades de conservação Território Central Valor -- -- -- -- -- -----0 Total de área de conservação (km2) % de imóveis em Zonas Especiais de Interesses Sociais Preservação dos Sítios Históricos -- Específicas do DLS 1 Cumprimento das políticas públicas Preservação ambiental -- -- Qualidade social Construção dos espaços * As informações pertinentes a esse quesito não foram fornecidas em relação a cada território. Por essa razão, as informações foram analisadas considerando a relação do município na sua totalidade Fonte: adaptado de Silva (2008). 129 4.3.4 Análise da Matriz do DLS no Território Central (Tabela 14) O Território Central do município de Petrolina apresenta números relativos à saúde bem mais generosos do que aqueles apresentados nos territórios já analisados neste estudo. São 4 hospitais: dois privados e dois públicos, um número insuficiente para atender à demanda de todo o município; dez policlínicas: duas públicas, uma filantrópica e sete privadas. O território conta com os três únicos Centros de Atenção Psicossocial do município. Ressalta-se que, apesar de estarem localizados no Território Central, os hospitais, as policlínicas e os CAPS atendem à demanda total do município, causando demora no atendimento, no agendamento e no tratamento como um todo, porque, como se localizam na área central da cidade, exige custos para o deslocamento dos moradores de outros territórios. É no Território Central que se localiza a única academia da cidade, contemplando apenas aqueles que moram nas suas vizinhanças. Na educação, o Território Central, em relação aos outros, é, de certa forma, bem-servido. Nesse território estão os menores índices de analfabetismo entre jovens dos 15 aos 24 anos (2,4%). Entre os maiores de 25 anos, esse índice chega a 8,1%, o menor índice na mesma faixa etária dentre todos os territórios analisados. Da mesma forma, ocorre com os chefes de família com menos de quatro anos de estudo (23,3%). O número de escolas localizadas no território é significativo, são 41 escolas públicas municipais e 112 escolas particulares. Contudo, nenhuma das escolas públicas do município contempla em sua matriz curricular uma disciplina referente ao desenvolvimento sustentável. O território conta com 11 bibliotecas, mas infelizmente a maioria tem problemas no acervo ou mesmo na infraestrutura. Estão instaladas no Território Central três Instituições de Ensino Superior (IES): a Autarquia Educacional do Vale do São Francisco, órgão mantenedor da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina, a Universidade de Pernambuco Campus Petrolina e a Universidade Federal do Vale do São Francisco. A chegada dessa última instituição provocou mudanças culturais e econômicas no território, por exemplo, o mercado imobiliário. 130 A população do Território Central é bastante diversificada. Formada por filhos da terra, mas também por aqueles que vieram de outros estados e de outras cidades atraídos pela fruticultura. Um perfil populacional que vem crescendo ao longo dos anos. Apesar do aumento da longevidade dos idosos, o território tem uma população predominantemente jovem, os maiores de 25 anos totalizam 22.713 pessoas. Todos os entrevistados no Território Central possuem televisão e têm acesso à internet. A quantidade exata de telefones públicos e a relação entre população e a quantidade de telefones públicos não foi informada pela Anatel. Contudo, o território tem telefones públicos distribuídos em toda a área espacial, mas poucos são aqueles que o utilizam, porque 90% da população dispõem de telefones celulares. Os itens referentes às necessidades básicas do território são parcialmente atendidos. A coleta de lixo existe em todo o território, três vezes na semana. Entretanto, a coleta seletiva está em fase inicial de implantação. A água tratada chega a 90% das torneiras localizadas no território, contudo, o saneamento ocorre em 70% do território. Muitos esgotos desse território são lançados no rio São Francisco, sem que o poder público tome nenhuma atitude. No aspecto mobilidade, esse território é o mais bem-servido dentre todos os analisados. São 16 linhas de ônibus, que, infelizmente, não atendem à demanda local. São veículos velhos, com alta quilometragem e extremamente poluentes. Há também os mototaxistas, atividade devidamente regulamentada, que circulam por todo o território. O território também conta com três ciclovias e três pontos de aluguel de bicicletas, devidamente regulamentados pelo poder público. As questões referentes à acessibilidade não foram informadas pela Secretaria de Acessibilidade do município. Tanto a Compesa quanto a Celpe não forneceram informações sobre o volume de água consumida e faturada e o consumo de energia elétrica respectivamente. A dimensão ecológica do território mostra-se confusa, pois é nele que está instalada a AMMA, órgão municipal responsável pelas ações voltadas ao meio ambiente, que de fato, tem regulamentado a emissão de licenças ambientais dos mais variados tipos de empreendimentos que queiram estabelecer. No entanto, a referida agência não consegue abranger em suas ações outras questões também ligadas à dimensão ecológica, como 131 promover ações de educação ambiental para diminuir a poluição no rio que atravessa o Território Central e que se encontra atualmente em pleno desequilíbrio ambiental. A orla fluvial localizada no território tem sido palco de shows, funciona como porto das barquinhas que fazem o trajeto Petrolina-Juazeiro-Petrolina, além de comportar prédios residenciais e estabelecimentos do setor de alimentos e bebidas, que, juntos, despejam seus esgotos no rio. O Território Central e os outros analisados não dispõem de unidades de conservação. Apesar de haver um sítio histórico no território, conhecido como Petrolina Antiga, não existe por parte do poder público nenhuma política pública voltada para a preservação desse espaço. A AMMA não forneceu informações referentes ao solo e à qualidade do ar do Território Central, diante disso, este estudo não traz dados referentes à poluição atmosférica desse território. A preservação ambiental, apesar de algumas ações exercidas pela AMMA, não é evidenciada no território, que, por sua vez, tem uma qualidade social baixa. 4.3.4.1 Dados secundários do Território Central Os dados secundários foram obtidos por meio da aplicação de dez questionários respondidos moradores do Território Central. O questionário contava com 30 perguntas sobre os aspectos sociais, espaciais, institucionais e ecológicos do território. O Território Central apresenta os melhores níveis de escolaridade, cerca de 10% têm o 2.º grau completo, o mesmo percentual tem o ensino superior incompleto e 80% têm nível superior completo. A renda média familiar dos entrevistados é de R$ 2.500,00. Todos os entrevistados possuem televisão, telefone celular, computador, no entanto, somente 70% dos entrevistados têm acesso à internet. A coleta de lixo se faz presente na residência de 100% dos entrevistados, entretanto, apenas 20% fazem coleta seletiva. Para os entrevistados do Território Central, são muitos os problemas que afligem a população que ali reside. Os mais citados estão dispostos no Gráfico 19. 132 Gráfico 19 – Problemas no Território Central Dentre os problemas citados pelos entrevistados, destacam-se a poluição sonora e atmosférica, mas curiosa e principalmente, não há nenhuma preocupação do poder púbico com a qualidade do ar na área central da cidade, pois não existe medição e, consequentemente, nenhuma informação sobre o ar respirado no centro da cidade. É exatamente esse território que tem um fluxo maior de veículos e, em razão disso, os problemas respiratórios atingem com frequência os moradores. A poluição sonora parece ter despertado mais interesse, visto que, há poucos meses, adquiriram um decibelímetro, no entanto não informaram a frequência das medições e sua finalidade. Segundo os entrevistados, os problemas são conhecidos pelo poder público municipal, mas, infelizmente ainda não houve empenho para solucioná-los. Outro problema relevante para os entrevistados é o saneamento, que até existe, mas é antigo e vulnerável; os alagamentos que ocorrem no período de chuva contribuem para que ele estoure e entupa. No território, existem ainda edifícios que despejam seu esgoto diretamente no rio, assim como o fazem bares e restaurantes localizados na orla central, agravando a poluição do rio. Este, por sua vez, recebe banhistas nos fins de semana, os quais se contaminam e lotam os postos de saúde. Cerca de 50% dos entrevistados já precisaram dos serviços do posto de saúde, mas somente 20% deles foram bem atendidos. Os entrevistados responderam ainda se resolveram seus 133 problemas e se os medicamentos eram disponíveis pela Prefeitura. As respostas estão apresentadas nos Gráficos 20, 21 e 22. Gráfico 20 – Atendimento no posto de saúde do Território Central Gráfico 21 – Solução do problema de saúde no Território Central 134 Gráfico 22 – Medicamentos disponíveis pela Prefeitura Todos os entrevistados no Território Central reconhecem a importância do rio São Francisco e acreditam que ele está poluído. Os resultados também demonstraram a preocupação com a mata ciliar e a ausência de vegetação no território. Eles foram questionados sobre as possíveis causas dessa poluição (Gráfico 23). Gráfico 23 – Possíveis causas da poluição do rio São Francisco segundo moradores do Território Central 135 Por terem um nível maior de conhecimento e mais acesso às informações, o conceito de Desenvolvimento Sustentável é conhecido por 100% dos entrevistados no Território Central, e há unanimidade também na crença de que o território não encontrou o caminho da sustentabilidade. Cerca de 90% dos entrevistados conhecem ou têm acesso às leis municipais, estaduais ou federais. Os entrevistados também responderam quais as ações que gostariam de ver realizadas pelo poder público com o objetivo de promover melhorias na qualidade de vida do Território Central (Gráfico 24). Gráfico 24 – Ações que a Prefeitura deveria programar para o Território Central A análise da matriz do desenvolvimento sustentável de cada território mostrou as semelhanças e divergências entre eles. Algumas variáveis não foram comentadas como foi o caso da segurança nesses territórios, fato que se explica, porque na esfera municipal não existe nenhuma fonte de dados capaz de agrupar e fornecer informações a esse respeito. As informações recebidas vieram da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), que utiliza uma metodologia que condensa as informações de todo o estado, impossibilitando a emissão de dados específicos sobre cada um dos territórios contemplados neste estudo. Por definição da SDS, a princípio, é possível agrupar os crimes violentos em função das motivações que os geraram, como os crimes violentos contra o patrimônio, crimes violentos contra a integridade física, crimes de ofensa á integridade sexual, homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguido de morte. Para a SDS, todos são crimes contra a vida, mas para a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (Senasp-MJ), sãs as 136 principais formas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI). Os números a seguir correspondem ao período de janeiro a setembro de 2011, segundo a SDS. Foram 66 vítimas de CVLI e a taxa de criminalidade de VLI foi de 21,95% no município de Petrolina-PE. 4.3.5 Árvore da Realidade Atual do município de Petrolina A Árvore da Realidade Atual foi elaborada com base no olhar dos cidadãos que residem nos territórios analisados com o intuito de relacionar as variáveis existentes e os indicadores. Com a construção da árvore, será possível demonstrar que, com ações isoladas, não é possível alcançar o desenvolvimento sustentável. Os problemas apontados pelos entrevistados nos territórios serão inter-relacionados e, a partir daí, ficará claro que um efeito pode gerar uma causa e esta poderá gerar outro efeito. Diante da visibilidade proporcionada pela árvore, será mais fácil encontrar a solução desses problemas e então propor estratégias que eliminem a causa-raiz deles. A Árvore da Realidade Atual explicitará quanto são dependentes as questões referentes à saúde, educação, políticas públicas, etc., e isso contribuirá para que a população e os gestores possam elaborar estratégias consistentes para alcançar o desenvolvimento sustentável (Figura 30). 4.3.6 Árvore da Realidade Futura do município de Petrolina Na Árvore da Realidade Futura, estão contidas as estratégias que devem ser planejadas e praticadas com o objetivo de encaminhar o município para o desenvolvimento sustentável (Figura 31). São ações interligadas que obedecem a uma lógica entre elas, isto é, uma ação, ao ser desenvolvida corretamente, elimina efeitos que, se fossem tratados de forma isolada, não seriam eliminados. 137 Figura 30 – Árvore da Realidade Atual do município de Petrolina Dimensão Espacial em Desordem Baixo Investimento Social Baixo Investimento Institucional Ausência de Ciclovias Dimensão Ecológica Comprometida Baixo Investimento Ambiental Transporte por vans Ausência de Ônibus Quantidade de Telefones Públicos Insuficiente Poluição do Solo Falta de Lazer para os Jovens Uso de Agrotóxico Problemas com Alagamento Pouco Acesso à internet Informação pela da TV Falta Estimulo à Leitura Falta Biblioteca Quantidade de Professores Insuficiente Falta Coleta de Lixo Abrangente Território Populoso Falta de Água Tratada Aspectos Ecológicos Comprometidos Medicamentos Insuficientes N.° de Escolas Insuficientes Quantidade de Médicos insuficiente Fonte: Autoria própria Falta Coleta Seletiva Rio Poluído Falta Tratamento de Esgoto Saúde dos Cidadãos Comprometida Postos de Saúde Insuficientes Programas de Saúde reativos Dimensão Social Comprometida 138 Figura 31– Árvore da Realidade Futura do município de Petrolina Redução dos custos sociais e ambientais Redução da poluição atmosférica Procedimentos de saúde preventiva Incentivo ao transporte fluvial Redução das doenças Redução do analfabetismo Fornecimento de água tratada Redução da violência Aumento da oferta de transporte seguro e de qualidade Geração de renda Tratamento de esgoto Revitalização do rio São Francisco Educação Ambiental Incentivo à energia solar Coleta seletiva Investimentos nas dimensões Fonte: Autoria própria Incentivo ao cooperativismo Preservação da história do município Construção de escolas Participação das empresas na gestão do DLS Maior participação popular com ênfase nos problemas locais Políticas públicas interligando as dimensões Gestão do DLS 139 4.3.7 Índice da Gestão do Desenvolvimento Sustentável do município de Petrolina O Índice da Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável será projetado com a elaboração de indicadores e as respectivas ponderações (Tabela 15). Os problemas que contribuem para a insustentabilidade do município foram detectados, e as soluções apresentadas para eliminar ou corrigir tais problemas são consideradas para a construção dos indicadores da gestão do desenvolvimento local sustentável, e estes, por sua vez, serão ponderados para constituir o índice do desenvolvimento local sustentável. Tabela 15 – Indicadores da gestão do desenvolvimento local sustentável Indicadores Formação da população com informações acerca de direitos e deveres, ética Ponderação X %/100 e cidadania Orientação da comunidade para o cooperativismo, capital social X %/100 Participação popular no reconhecimento dos efeitos, no reconhecimento da X %/100 sua inter-relação e a elaboração de ações para eliminá-los Participação da empresas localizadas nos territórios X %/100 Elaboração de políticas públicas com base nas necessidades identificadas X %/100 nos territórios Investimentos para as ações prioritárias X %/100 Construção de biblioteca X %/100 Contratação de professores X %/100 Saneamento básico X %/100 Incentivo a programas de geração de renda X %/100 Construção de ciclovias X %/100 Transporte por ônibus X %/100 Coleta seletiva – geração de renda X %/100 Fornecimento de água tratada X %/100 Incentivo à energia solar X %/100 Fonte: Autoria própria 140 Ao aplicar os indicadores no município, percebe-se que não há nenhum planejamento das ações propostas. Sendo assim, o índice da gestão do desenvolvimento local sustentável é de valor zero, o que significa dizer que o município de Petrolina-PE é insustentável, cuja representação é feita pela árvore de nuance vermelha, conforme a Figura 32. Figura 32 – Nuance da Árvore da gestão do desenvolvimento local sustentável de Petrolina Fonte: Adaptada de Silva (2008, p. 133) 4.4 Espaços opacos e luminosos: o abismo sócio-técnico-científico-informacional e cultural Atualmente vive-se um tempo em que a velocidade dos fatos e das transformações é algo cada vez maior. As informações, as pessoas, as mercadorias e o capital circulam numa velocidade nunca vista antes na história da humanidade. Em decorrência, são muitas as inovações na interpretação dessa nova realidade. A união entre a ciência, a técnica e os recursos de informação é a principal característica do meio-técnico-científico-informacional. Este, por sua vez, proporciona o surgimento de novas técnicas que ajudam a analisar e interpretar o território. Entende-se que uma forma interessante de interpretação do território é analisar os instrumentos técnicos, científicos e informacionais nele dispostos. Segundo Santos (1999), ainda que a densidade de informação e conhecimento do território acarrete uma seletividade espacial por 141 parte da empresas e do capital, os territórios que mais dispõem de informações são mais vantajosos e atraentes do que aqueles que não as têm. Santos (1999) também afirma que uma categoria pertinente de análise do território é: os territórios que acumulam densidades técnicas e informacionais tornam-se mais aptos a atrair atividades de organização, tecnológicas, de economia, capitais; estes são chamados de espaços luminosos. Aqueles onde não se encontram tais características são chamados de espaços opacos. Conhecer o território é fundamental para uma performance de êxito das propostas voltadas a desenvolvimento local sustentável, uma vez que é indispensável a identificação das necessidades e potencialidades dele, e voltá-las à eficácia na sua gestão. A geotecnologia, que consiste no conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização de informação com referência geográfica, associada à composição quantitativa e qualitativa dos territórios, é capaz de gerar informações mais precisas sobre os territórios, e assim proporcionar melhores condições de organização desses espaços. Este trabalho se propôs a identificar os territórios opacos e luminosos do município de Petrolina, à luz da contribuição de Santos (1988), que afirma que serão chamados espaços luminosos aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologias e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os espaços luminosos. Nessa perspectiva, os espaços luminosos de PetrolinaE são os Territórios Irrigado e Central. O Território Irrigado tem características como uma rede de estradas para escoar a produção de frutas, uma rede de comunicações estabelecidas nacional e internacionalmente, já que as frutas são exportadas. A estrutura conta, ainda, com os canais de irrigação, importantes para a atividade agrícola. Trata-se de um território capaz de gerar outras atividades econômicas a partir da fruticultura irrigada, como a criação de cooperativas. O Território Irrigado por já ter essas características tem sido alvo da especulação imobiliária; é cada vez mais comum encontrar terrenos desse território fazendo parte de condomínios fechados. Há ainda seu potencial turístico, pois lá também estão localizadas as vinícolas do Vale do São Francisco, e em função disso as redes técnico-informacionais têm-se fortalecido. 142 Pode-se considerar o Território Central como luminoso, porque ele se caracteriza como tal. No entanto, tem uma série de outras características como a grande população, grande oferta de prestação de serviços, uma rede densa de transporte e comunicações, e todas as especificidades de um centro urbano, ainda que não pertença a uma capital. A realização de um planejamento para um território como esse é algo bastante complexo, algo que vai além das análises qualitativa e quantitativa, sendo necessários recursos vindos da geotecnologia, como imagens, por exemplo, que dariam suporte para promover melhorias no trânsito ou na redução de impactos ambientais urbanos, proporcionando, assim, qualidade de vida àqueles que passam parte do dia ali trabalhando ou simplesmente transitam no território. No município de Petrolina, os Territórios Irrigado e Central representam os territórios luminosos, ou seja, são aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, e por essa razão atraem mais atividades de maior conteúdo de capital, tecnologia e organizacional. São espaços obedientes aos interesses das empresas. Por ter tais características, esses espaços estão sob a vigilância externa, o que promove a ingovernabilidade desses espaços. Os Territórios Ribeirinho e de Sequeiro não têm as características dos Territórios Irrigado e Central, porém, as características são semelhantes entre si. No entanto, eles diferem quanto às dificuldades proporcionadas pela natureza. Trata-se de espaços rarefeitos, opacos, menos densos em população, tecnologia, organização e capital. São espaços formados por indivíduos pobres e lentos. Ainda assim, o planejamento para promover melhorias na qualidade de vida nesses espaços pode ser feita a partir do conceito que trata da opacidade do território, pois é possível organizar um espaço sem atribuir qualificação valorativa a características que interessam apenas a um grupo limitado de atores sociais e econômicos. 4.5 Gestão local sustentável do território de Petrolina Neste trabalho analisaram-se os dados primários e secundários referentes aos territórios que constituem o município de Petrolina, estabeleceram-se as relações existentes entre todas as variáveis e as causas-raiz observadas na pesquisa. Considerar um município sustentável ou insustentável depende das estratégias adotadas pelos gestores municipais com o objetivo de inverter sua situação atual. O encontro com insustentabilidade, nesses casos, é muito comum. Diante dessa realidade, o que seria uma sociedade sustentável? 143 Esta, por sua vez, deverá manter a postura do trabalho positivo e consistente, deixando para trás negatividades e posturas reativas, que abraçam e amenizam os efeitos, as consequências causadas pelos problemas, e não os trata pela raiz. Faz-se necessário que a gestão pública reavalie seus objetivos e, a partir de então, redefina seus critérios. Na busca dessa sociedade sustentável, gestão pública e cidadãos devem identificar e tratar os problemas antes das decisões equivocadas ou inconsistentes serem tomadas. É preciso a adoção de metodologias que tratem os problemas interligando-os de forma sistêmica. A partir daí, obtêm-se os dados que vão formatar os indicadores de diagnóstico, e esses dados devem apresentar consistência para que a realidade seja bem retratada. Como os dados obtidos não se interligavam, as informações na matriz podem não descrever fielmente o cenário real, mas a busca dos dados secundários no campo mostrou que a situação real é ainda pior. Após a montagem e análise dos dados da matriz, é fundamental o estímulo e a conscientização da participação popular, porque em uma gestão não voltada para o desenvolvimento local sustentável, a participação popular não é levada em consideração. A participação dos atores sociais envolve-os no processo decisório com base no sentimento da maioria, nos resultados financeiros disponíveis para o município. A metodologia adotada, destacando as Árvores da Realidade Atual (ARA) e Futura (ARF) demonstrou as relações existentes entre os fatores problemáticos e as estratégias para eliminá-los respectivamente. A ARA mostrou somente a relação existente entre os problemas. A ARF mostra as decisões que serão tomadas, assim como de que forma as estratégias alcançarão a eficácia. As árvores deixaram claro que o caminho que segue o município é diferente do caminho da sustentabilidade. O caminho da sustentabilidade se inicia pela educação popular, preparando a sociedade para as mudanças a serem realizadas, também nas atitudes. A relação efeito-causa-efeito demonstrada pelas árvores é de grande relevância nesse processo, porque tanto a comunidade quanto o poder público não identificaram a situação real, por isso as ações eram ineficazes, inconsistentes e isoladas, gerando os dados presentes na matriz de indicadores. Diante disso, o município de Petrolina, formado pelos Territórios Irrigado, 144 Sequeiro, Ribeirinho e Central, foi considerado insustentável, mesmo dispondo de uma Agência Municipal de Meio Ambiente, mas que passa longe dos princípios do desenvolvimento local sustentável, uma vez que o município tem um conjunto de ações que não se relacionam e não atingem suas causas-raiz. O município tem uma realidade ambígua, esquecendo daqueles que não se beneficiam das ações cujo objetivo é favorecer a poucos. 145 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES O objetivo geral deste trabalho foi realizar uma análise investigativa para mensurar os obstáculos existentes para alcançar a gestão do desenvolvimento local sustentável, construindo um índice de variáveis referentes aos problemas do território, considerando dimensões ecológicas, econômicas, sociais, institucionais e espaciais do município de Petrolina, Pernambuco. Para alcançar esse objetivo, realizaram-se, inicialmente, visitas aos territórios com o intuito de aprofundar os conhecimentos acerca de sua história, cultura e sua importância econômica. As visitas proporcionaram maior aprofundamento da realidade dos territórios. Em um segundo momento, construiu-se a Matriz de Indicadores do Desenvolvimento Sustentável delimitada pelas variáveis e dimensões estabelecidas pela pesquisa. A análise da matriz proporcionou o estabelecimento da relação efeito-causa-efeito, a interligação das dimensões, além de propor estratégias que podem levar à melhoria da qualidade de vida dos atores sociais dos territórios e, consequentemente, levar o município ao encontro do desenvolvimento local sustentável. Ressalta-se que foram muitas as dificuldades para obtenção dos dados necessários à construção da matriz, pois a busca das informações encontra no caminho uma burocracia desnecessária, uma desconfiança infundada, característica do poder público, além do despreparo de alguns órgãos no fornecimento de informações e também a omissão de outros órgãos na obtenção de dados. Apesar das dificuldades, a realização do trabalho mostrou ser possível a mensuração da gestão do desenvolvimento local sustentável de uma localidade, seja ela um bairro, um município, seja mesmo um estado. Com base nos resultados obtidos no estudo, é possível realizar algumas recomendações ao poder público e à sociedade em geral: 146 - colocar sob a responsabilidade da Agência Municipal de Meio Ambiente os princípios do desenvolvimento sustentável de modo que ela consolide e inter-relacione as informações das demais secretarias municipais; - incentivar e motivar a população, orientando os atores sociais e facilitando a compreensão deles; - deixar a comunidade informada de todos os problemas e apresentar as relações existentes entre as pessoas; - adotar uma metodologia que possibilite o alcance do objetivo; - introduzir na educação e nos programas sociais tecnologias que coloquem o município no caminho da sustentabilidade; - realizar campanhas na comunidade que esclareçam os princípios da sustentabilidade, evitando a banalização do tema. Conhecer os princípios do desenvolvimento local sustentável promove uma verdadeira mudança, seja nas comunidades, seja nas pessoas, assim como provocou uma mudança em nossa visão do que é uma boa gestão. São transformações consistentes que todos nós, toda a comunidade precisa ser preparada para entender e aceitar tais mudanças. O poder público tem uma grande parte de responsabilidade nesse processo. Como? Pondo em prática as proposições apresentadas nesta dissertação em comum acordo com a comunidade. Só então começará uma nova era: a da sustentabilidade. 147 REFERÊNCIAS AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE PERNAMBUCO (AD–DIPER). Mapa de localização do município de Petrolina-PE. 2011. Disponível em: <www.addiper.pe.gov.br>. Acesso em: 14 out. 2011. ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. Disponível em: <http://downloads.ziddu.com/downloadfile/13053688/ADE ManuelCorreiade_AQuestodoterritrionoBrasil.pdf.html>. Acesso em: 21 mar. 2012. ANDRADE-LIMA, Dárdano. Estudos fitogeográficos de Pernambuco. Arquivos do Instituto de Pesquisas Agronômicas. v. 5, p. 305-341, 1960. ARAÚJO, Francisco Pinheiro de; SANTOS, Carlos Antônio F.; OLIVEIRA, Visêldo Ribeiro de. Fruticultura de sequeiro: uma janela para o desenvolvimento sustentável. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2006. (Embrapa Semi-Árido. Instruções Técnicas, 73). ARNS, Paulo César. A nova governança democrática. Florianópolis, SC: SEaD: UFSC, 2007. BELTRÃO, Breno Augusto; MASCARENHAS, João de Castro; MIRANDA, Jorge Luiz Fortunato de; SOUZA JÚNIOR, Luiz Carlos de; GALVÃO, Manuel Julio da Trindade G.; PEREIRA, Simeones Neri. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea Estado de Pernambuco: diagnóstico do município de Petrolina. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. BOSSEL, Hartmut. Earth at a crossroads: paths to a sustainable future. Cambridg: Cambridge University Press, 1998. CALDAS, Alcides dos Santos. Globalização em territórios periféricos. Salvador, BA: Unifacs, 2006. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. CHILCOTE, Ronald H. Transição capitalista e a classe dominante no Nordeste. São Paulo: Ed. da USP, 1991. CNUMAD. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Agenda 21. Brasília: Senado Federal/SSET, 1996. CODEVASF. Extensão territorial do perímetro de irrigação senador Nilo Coelho. 2004. CD-ROM. ______. Informações sobre citricultura com foco no Projeto Pontal. 2007. Disponível em: <http://www.pontal.org/docs/edafoclimaticas.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2012. ______. Inventário dos projetos de irrigação. Brasília, DF, 1991. 148 CODEVASF. II Plano Nacional de Desenvolvimento: programa de ação do governo para o Vale do São Francisco 1975/79. Brasília, DF, 1975. DEPONTI, Cidonea Machado; ECKERT, Córdula; AZAMBUJA, José Luiz Bortoli de. Estratégia para construção de indicadores para avaliação da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 3, n. 4, p. 44-52, out./dez. 2002. DIAS, Genebaldo Freire. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002. DISTRITO DE IRRIGAÇÃO SENADOR NILO COELHO (DINC). Distribuição de área. Petrolina, 2003. ______. Distribuição de área plantada. Petrolina, 2011. DOLLFUS, Olivier. O espaço geográfico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. DRUMOND, Marcos Antonio; KIILL, Lúcia Helena P.; NASCIMENTO, Clóvis Eduardo de S. Inventário e sociabilidade de espécies arbóreas e arbustivas da caatinga na região de PetrolinaPE. Brasil Florestal, Brasília, v. 21, n. 74, p. 37-43, set. 2002. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. EMPRAPA. Levantamento de reconhecimento de baixa e média intensidade dos solos do Estado de Pernambuco. Brasília, 2000. (Boletim de Pesquisa, 11). Disponível em: <http://www.uep.cnps.embrapa.br/ zape/Boletim_de_Pesquisa_Final.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2012. FERRI, Mário Guimarães. A vegetação brasileira. São Paulo: Edusp, 1979. FORRESTER, Jay W. Principles of systems. 2.ed. Waltham, MA: Pegasus Communications, 1968. GOLDRATT, Eliyahu M. Corrente crítica. São Paulo: Nobel, 1998. ______. Mais que sorte: um processo de pensamento. São Paulo: Educator, 1994. GOVERNA, Francesca. Sul ruolo attivo della territorialità. In: DEMATTEIS, Giuseppe; GOVERNA, Francesca (a cura di). Territorialità, sviluppo locale, sostenibilità: Il modello SLoT. Milano: Angeli, 2005. p. 39-67. GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Antonio José Teixeira. Novo dicionário geológicogeomorfológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2009. HAMMOND, Allen L; ADRIAANSE, Albert; RODENBURG, Eric; BRYANT, Dick; WOODWARD, Richard. Environmental indicators: a systematic approach to measuring and reporting on enviromental policy performance in the context of sustainable development. Washington, DC: World Resources Institute, 1995. IBGE. Contagem da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 149 IBGE. Mapa de Biomas do Brasil na escala 1:5000000. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www.arcgis.com/home/webmap/viewer.html?webmap=c330f45ac55e4eb3a64945 964945902566c8c0>. Acesso em: 11 nov. 2011. IBGE. Primeiros dados do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, nov. 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/index.php?uf=26>. Acesso em: 16 fev. 2012. MEADOWS, Donella. Indicators and information systems for sustainable development: a report to the Balaton Group. Hartland Four Corners, Vermont: The Sustainable Institute, 1998. PENTEADO, Margarida. Fundamentos de geomorfologia. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1964. PNUD BRASIL. Desenvolvimento Humano e IDH. 2012. Disponível em: < http://www. pnud.org.br/idh/>. Acesso em: 26 mar. 2012. PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. RABONI, André. Por uma história da ocupação dos sertões de Pernambuco. 2008. Disponível em: <http://acertodecontas.blog.br/artigos/breve-historia-do-sertao-pernambucano/ >. Acesso em: 18 nov. 2011. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. SALGADO, V. G. Indicadores de ecoeficiência e o transporte de gás natural. Rio de Janeiro: Interciência, 2007. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. Disponível em: < http://geografialinks.com/site/wpcontent/uploads/2008/06/metamorfose-do-espaco-habitado-milton-santos.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2012. ______. A natureza do espaço: espaço e tempo: razão e emoção. 3. ed. HUCITEC, 1999. São Paulo: SAQUET, Marcos A.; SPOSITO, Eliseu. Território, territorialidade e desenvolvimento: diferentes perspectivas no nível internacional e no Brasil. In: ALVES, Adilson F.; CARRIJO, Beatriz R.; CANDIOTTO, Luciano Z. P. (Org.). Desenvolvimento territorial e agroecologia. São Paulo: Expressão Popular, 2008. p. 15-31. SILVA, Pedro C. G. da. Articulação dos interesses públicos e privados no pólo PetrolinaPE/Juazeiro-BA: em busca de espaço no mercado globalizado de frutas frescas. 2001. 245 f. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2001. SILVA, Vera Lúcia B. da. Índice da gestão do desenvolvimento local sustentável: nuances da gestão pública no Bairro da Várzea. 2008. 161 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável) – Universidade de Pernambuco, Faculdade de Ciências da Administração, Recife, 2008. 150 SIQUEIRA FILHO, José Alves (Ed.). Guia de campo de árvores da caatinga. Petrolina, PE: Ed. e Gráf. Franciscana, 2009. THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. Instructions and tables for computing potential evapotranspiration and the water balance. Centerton, AR: Drexel Institute of Technology, 1957. (Publications in Climatology, 10). TRZESNIAK, Piotr. Indicadores quantitativos: reflexões que antecedem seu estabelecimento. Ciência da Informação, v. 27, n. 2, p. 159-164, maio/ago. 1998. UNITED NATIONS. Division for Sustainable Development. Indicators of sustainable development: guidelines and methodologies. New York, 2001. Disponível em: < http://www.un.org/esa/sustdev/publications/indisd-mg2001.pdf >. Acesso em: 16 nov. 2011 VAN BELLEN, Hans Michael. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2006. ZAPATA, T. Desenvolvimento territorial endógeno: conceitos, dimensões e estratégias. Florianópolis, SC: SEaD/UFSC, 2007. 151 APÊNDICE A – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Central UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO (FCAP) Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) DISSERTAÇÃO: ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE Território Central Nome: …................................................................................................................................. RG:....................................... Endereço:................................................................................................................................ Comunidade/Núcleo…............................................................................................................ Grau de Instrução: ( ) 1 – 1.º grau completo 4 – 1.º grau incompleto 2 – 2.º grau completo 5 – 2.º grau incompleto 3 – 3.º grau completo 6 – 3.º grau incompleto 7 – Analfabeto Curso:........................................................ 1- Número de moradores na residência:........... É nativo ou migrante?................................ Se migrante, de onde é?....................................................................................................... 2 – Chefe da casa: ( ) Sim ( ) Não 3 – Quantos membros da família trabalham na roça? …....................................................................... 4 – Sua residência é própria ou alugada? …........................................... 152 5 – Quais suas despesas mensais? QUADRO DE DESPESAS Item Conta de água Conta de energia alimentação transporte Lazer Vestuário Saúde Educação 6 – Qual sua profissão?................................................................................................... 7 – Tem carteira assinada? ….......................................................................................... 8 – Possui: ( ) telefone ( ) tratamento de esgoto ( ) televisão ( ) computador (acesso à internet? ( ) s ( ) n) ( ) há coleta de lixo ( ) há coleta seletiva 9 – Estrutura da casa: ( ) alvenaria ( ) madeira ( ) sapê 10 – Mora próximo a: 153 ( ) Rio ( ) Praça ( ) Posto de saúde ( ) Escola ( ) Canal de esgoto 11 – Conhece os problemas da sua comunidade?Se sim, cite alguns: □Tratamento de esgoto □Falta de água □Alagamento □Assistência médica □Escolas □Bibliotecas □Praças □Poluição sonora □Poluição do ar □Geração de renda □Assaltados □Assassinatos □Drogas □ Descreva os problemas dos itens citados: 12 - Os problemas foram levados as Secretarias responsáveis? Se sim, porque eles não foram resolvidos em sua opinião? 13 - Nos últimos seis meses alguém de sua família ficou doente? Se sim, cite a doença. 154 14 - Você ou alguém de sua família já teve problemas relacionados a água ou ao ar? Exemplifique algumas doenças e a cite abaixo. 15 - Você ou alguém de sua família já precisou dos serviços do posto de saúde da prefeitura? Se Sim, responda: Havia médico? □Sim □ Não; Foi bem atendido? □Sim □ Não; Resolveu o problema? □Sim □ Não; Precisou comprar remédio □Sim □ Não; A Prefeitura disponibilizou o remédio □Sim □ Não. 16 - Fora o posto de saúde, você ou alguém de sua família já precisou de outro órgão da Prefeitura ou do Estado? Se sim, quais? Resolveu o problema? Órgãos Resolveu o problema 17 -Você ou alguém de sua casa estuda em escola pública ou privada? 18 - Têm aulas todos os dias? □Sim □ Não 155 19 - Em sua opinião os professores ensinam bem? □Sim □ Não 20 - Você ou alguém de sua família conhece a história do bairro? □Sim □ Não 21 - Você acha importante o rio São Francisco? □Sim □ Não 22 - Você acredita que o rio está poluído? Se sim, no seu entender, o que causou essa situação? 23 - Você acha importante a vegetação presente no seu bairro ou na área central da cidade? □Sim □ Não 24 - Para você o que a caatinga lhe proporciona? 25 - Você sabe ou já ouviu falar em desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 26 - Explicar o que é desenvolvimento sustentável. 156 1. Você acha que o bairro está no caminho para o desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 27 - O que você gostaria que a Prefeitura ou o Governo do Estado fizesse pela comunidade? 28 - Você conhece ou tem acesso às leis municipais ou Estaduais? Se sim, quais? 29 - Em sua localidade há alguma ONG? Se sim, você já teve acesso a ela? Ela ajuda o bairro em alguma coisa? 30 – Você tem alguma relação com a área irrigada, área de sequeiro ou ribeirinha? Se sim, quantas vezes durante a semana você vai até lá? 157 31 – Quais os principais problemas que você identifica nessa relação? Verificar durante a visita se existem outras questões como: encosta (porque você escolheu esse lugar para morar?) Aspectos históricos Vacinação (está em dia? Vacina-se aonde?) Saúde bucal (boa ou não tem acesso a dentista?)Aspectos culturais. 158 APÊNDICE B – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Irrigado UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO (FCAP) Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) DISSERTAÇÃO: ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE Território Irrigado Nome: …................................................................................................................................. RG:....................................... Endereço:................................................................................................................................ Comunidade/Núcleo .............................................................................................................. Local de Origem:................................................................................................................................... Grau de Instrução: ( ) 1 – 1.º grau completo 4 – 1.º grau incompleto 2 – 2.º grau completo 5 – 2.º grau incompleto 3 – 3.º grau completo 6 – 3.º grau incompleto 7 – Analfabeto Curso:........................................................ 1- Número de moradores na residência:................................................................................................ 2 – Chefe da casa: ( ) Sim ( ) Não 3 – Quantos membros da família trabalham na roça?............... Qual a renda familiar? …....................................................................... 4 – Tem mais de 1 lote no perímetro? ( ) Se sim, quantos? …............ 1 – Sim 2 – Não Qual a área total? …...................... 159 5 – Em que ano adquiriu o lote? ….................. 6 – Quando adquiriu o lote havia instalações e equipamentos? ( ) 1 – Sim 2 – Não 7 – Uso da terra e da produção em 2009. Item Área em Produção Ha Área Implantada Tipo de Irrigação Valor bruto da produção agrícola (R$) Despesas Receita Líquida (R$) ha (R$) Lavoura Permanente 1 – Uva 2 – Manga 3 – Banana 4 – Goiaba 5 – Coco 6 - Acerola Lavoura Temporária 1 – Milho 2 – Feijão 3 – Mandioca 4 – Melão 5 – Melancia 6 – Tomate 7 - Outras Olerículas QUADRO DE DESPESAS Item Conta de água Uva Manga Banana Goiaba Coco Acerola 160 Adubosdefensivos mão-de-obra Aluguel trator/pulverizador 8 – Há quanto tempo está ocupado como lote? ( ) 1 – Menos de 5 anos 2 – Entre 5 e 10 anos 3 – Entre 10 e 15 anos 4 – Mais de 15 anos 9 – Como utiliza o lote? ( ) 1 – negócio/trabalho 2 – lazer/casa de campo 3 – lar permanente 10 – Possui: ( ) telefone ( ) tratamento de esgoto ( ) televisão ( ) computador (acesso à internet? ( ) s ( ) n) ( ) há coleta de lixo ( ) há coleta seletiva 11 – Estrutura da casa: ( ) alvenaria ( ) madeira ( ) sapê 12 – Mora próximo a: ( ) Rio ( ) Praça ( ) Posto de saúde ( ) Escola 161 ( ) Canal de esgoto 13 – Conhece os problemas da sua comunidade?Se sim, cite alguns: □Tratamento de esgoto □Falta de água □Alagamento □Assistência médica □Escolas □Bibliotecas □Praças □Poluição sonora □Poluição do ar □Geração de renda □Assaltados □Assassinatos □Drogas □ Descreva os problemas dos itens citados: 14 - Os problemas foram levados às Secretarias responsáveis? Se sim, por que eles não foram resolvidos em sua opinião? 15 - Nos últimos seis meses alguém de sua família ficou doente? Se sim, cite a doença. 16 - Você ou alguém de sua família já teve problemas relacionados a água ou ao ar? Exemplifique algumas doenças e a cite abaixo. 162 17 - Você ou alguém de sua família já precisou dos serviços do posto de saúde da prefeitura? Se Sim, responda: Havia médico? □Sim □ Não; Foi bem atendido? □Sim □ Não; Resolveu o problema? □Sim □ Não; Precisou comprar remédio □Sim □ Não; A Prefeitura disponibilizou o remédio □Sim □ Não. 18 - Fora o posto de saúde, você ou alguém de sua família já precisou de outro órgão da Prefeitura ou do Estado? Se sim, quais? Resolveu o problema? Órgãos Resolveu o problema 19 -Você ou alguém de sua casa estuda em escola pública ou privada? 20 - Têm aulas todos os dias? □Sim □ Não 21 - Em sua opinião os professores ensinam bem? □Sim □ Não 22 - Você ou alguém de sua família conhece a história do bairro? □Sim □ Não 163 23 - Você acha importante o rio São Francisco? □Sim □ Não 24 - Você acredita que o rio está poluído? Se sim, no seu entender, o que causou essa situação? 25 - Você acha importante a caatinga presente no seu lote ou na área central da cidade? □Sim □ Não 26 - Para você o que a caatinga lhe proporciona? 27 - Você sabe ou já ouviu falar em desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 28 - Explicar o que é desenvolvimento sustentável. 2. Você acha que o bairro está no caminho para o desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 29 - O que você gostaria que a Prefeitura ou o Governo do Estado fizesse pela comunidade? 164 30 - Você conhece ou tem acesso às leis municipais ou Estaduais? Se sim, quais? 31 - Em sua localidade há alguma ONG? Se sim, você já teve acesso a ela? Ela ajuda o bairro em alguma coisa? 32 - Você tem alguma relação com a área irrigada, área central ou ribeirinha? Se sim, quantas vezes durante a semana você vai até lá? 33 - Quais os principais problemas que você identifica nessa relação? 165 Verificar durante a visita se existem outras questões como: encosta (porque você escolheu esse lugar para morar?) Aspectos históricos Vacinação (está em dia? Vacina-se aonde?) Saúde bucal (boa ou não tem acesso a dentista?)Aspectos culturais. 166 APÊNDICE C – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Sequeiro UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO (FCAP) Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) DISSERTAÇÃO: ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE Território Sequeiro Nome: ….................................................................................................. RG:....................................... Endereço:................................................................................................................................ Comunidade/Núcleo:..............................................................................................................Gr au de Instrução: ( ) 1 – 1.º grau completo 4 – 1.º grau incompleto 2 – 2.º grau completo 5 – 2.º grau incompleto 3 – 3.º grau completo 6 – 3.º grau incompleto 7 – Analfabeto Curso:........................................................ 1- Número de moradores na residência:................. Qual a renda familiar?.......................................................................................... 2 – Chefe da casa: ( ) Sim ( ) Não 3 – Quantos membros da família trabalham na roça? …....................................................................... 4 – Tem mais de 1 lote? ( ) Se sim, quantos? …............ 1 – Sim 2 – Não Qual a área total? …...................... 167 5 – Em que ano adquiriu o lote? ….................. 6 – Quando adquiriu o lote havia instalações e equipamentos? ( ) 1 – Sim 2 – Não 7 – Uso da terra e da produção em 2009.* Item Área em Produção Ha Área Implantada Tipo de Irrigação ha Valor bruto da produção agrícola (R$) Despesas Receita Líquida (R$) (R$) Lavoura Permanente 1 – Uva 2 – Manga 3 – Banana 4 – Goiaba 5 – Coco 6 - Acerola Lavoura Temporária 1 – Milho 2 – Feijão 3 – Mandioca 4 – Melão 5 – Melancia 6 – Tomate 7 - Outras Olerículas QUADRO DE DESPESAS Item Conta de água Adubos- Uva Manga Banana Goiaba Coco Acerola 168 defensivos mão-de-obra Aluguel trator/pulverizador 8 – Existe Cooperativa? …........... Se sim, qual a área de escoamento?.......................................................................................................................... 9 – Há quanto tempo está ocupado como lote? ( ) 1 – Menos de 5 anos 2 – Entre 5 e 10 anos 3 – Entre 10 e 15 anos 4 – Mais de 15 anos 10 – Como utiliza o lote? ( ) 1 – negócio/trabalho 2 – lazer/casa de campo 3 – lar permanente 11 – Possui: ( ) telefone ( ) tratamento de esgoto ( ) televisão ( ) computador (acesso à internet? ( ) s ( ) n) ( ) há coleta de lixo ( ) há coleta seletiva 12 – Estrutura da casa: ( ) alvenaria ( ) madeira ( ) sapê 13 – Mora próximo a: ( ) Rio ( ) Praça 169 ( ) Posto de saúde ( ) Escola ( ) Canal de esgoto 14 – Conhece os problemas da sua comunidade?Se sim, cite alguns: □Tratamento de esgoto □Falta de água □Alagamento □Assistência médica □Escolas □Bibliotecas □Praças □Poluição sonora □Poluição do ar □Geração de renda □Assaltados □Assassinatos □Drogas □ Descreva os problemas dos itens citados: 15 - Os problemas foram levados às Secretarias responsáveis? Se sim, por que eles não foram resolvidos em sua opinião? 16 - Nos últimos seis meses alguém de sua família ficou doente? Se sim, cite a doença. 170 17 - Você ou alguém de sua família já teve problemas relacionados a água ou ao ar? Exemplifique algumas doenças e a cite abaixo. 18 - Você ou alguém de sua família já precisou dos serviços do posto de saúde da prefeitura? Se Sim, responda: Havia médico? □Sim □ Não; Foi bem atendido? □Sim □ Não; Resolveu o problema? □Sim □ Não; Precisou comprar remédio □Sim □ Não; A Prefeitura disponibilizou o remédio □Sim □ Não. 19 - Fora o posto de saúde, você ou alguém de sua família já precisou de outro órgão da Prefeitura ou do Estado? Se sim, quais? Resolveu o problema? Órgãos Resolveu o problema 20 -Você ou alguém de sua casa estuda em escola pública ou privada? 21 - Têm aulas todos os dias? □Sim □ Não 22 - Em sua opinião os professores ensinam bem? □Sim □ Não 171 23 - Você ou alguém de sua família conhece a história do bairro? □Sim □ Não 24 - Você acha importante o rio São Francisco? □Sim □ Não 25 - Você acredita que o rio está poluído? Se sim, no seu entender, o que causou essa situação? 26 - Você acha importante a vegetação presente no seu bairro ou na área central da cidade? □Sim □ Não 27 - Para você o que a caatinga lhe proporciona? 28 - Você sabe ou já ouviu falar em desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 29 - Explicar o que é desenvolvimento sustentável. 3. Você acha que o bairro está no caminho para o desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 30 - O que você gostaria que a Prefeitura ou o Governo do Estado fizesse pela comunidade? 172 31 - Você conhece ou tem acesso às leis municipais ou Estaduais? Se sim, quais? 32 - Em sua localidade há alguma ONG? Se sim, você já teve acesso a ela? Ela ajuda o bairro em alguma coisa? 33 - Você tem alguma relação com a área irrigada, área central ou ribeirinha? Se sim, quantas vezes durante a semana você vai até lá? 34 - Quais os principais problemas que você identifica nessa relação? 173 Verificar durante a visita se existem outras questões como: encosta (porque você escolheu esse lugar para morar?) Aspectos históricos Vacinação (está em dia? Vacina-se aonde?) Saúde bucal (boa ou não tem acesso a dentista?)Aspectos culturais. 174 APÊNDICE D – Questionário aplicado aos entrevistados do Território Ribeirinho UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO (FCAP) Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) DISSERTAÇÃO: ESTUDO DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE Território Ribeirinho Nome: …................................................................................................................................. RG:....................................... Endereço:................................................................................................................................ Comunidade/Núcleo: ............................................................................................................. Grau de Instrução: ( ) 1 – 1.º grau completo 4 – 1.º grau incompleto 2 – 2.º grau completo 5 – 2.º grau incompleto 3 – 3.º grau completo 6 – 3.º grau incompleto 7 – Analfabeto curso:........................................................ 1- Número de moradores na residência: ...................................................................... 2 – Chefe da casa: ( ) Sim ( ) Não 3 – Quantos membros da família trabalham na roça/pesca? ............................................... 4 – Qual a renda familiar? ............................................. 5 – Tem mais de 1 lote ? ( ) Se sim, quantos? …............ 1 – Sim 2 – Não Qual a área total? …...................... 175 6 – Há quanto tempo está ocupado com o lote/pesca? ( ) 1 – Menos de 5 anos 2 – Entre 5 e 10 anos 3 – Entre 10 e 15 anos 4 – Mais de 15 anos 7 – Possui: ( ) telefone ( ) tratamento de esgoto ( ) televisão ( ) computador (acesso à internet? ( ) s ( ) n) ( ) há coleta de lixo ( ) há coleta seletiva 8 – Estrutura da casa: ( ) alvenaria ( ) madeira ( ) sapê 9 – Mora próximo a: ( ) Rio ( ) Praça ( ) Posto de saúde ( ) Escola ( ) Canal de esgoto 10 – Conhece os problemas da sua comunidade?Se sim, cite alguns: □Tratamento de esgoto □Falta de água □Alagamento □Assistência médica □Escolas □Bibliotecas □Praças □Poluição sonora □Poluição do ar □Geração de renda □Assaltados □Assassinatos □Drogas □ Descreva os problemas dos itens citados: 176 11 - Os problemas foram levados as Secretarias responsáveis? Se sim, porque eles não foram resolvidos em sua opinião? 12 - Nos últimos seis meses alguém de sua família ficou doente? Se sim, cite a doença. 13 - Você ou alguém de sua família já teve problemas relacionados a água ou ao ar? Exemplifique algumas doenças e a cite abaixo. 14 - Você ou alguém de sua família já precisou dos serviços do posto de saúde da prefeitura? Se Sim, responda: Havia médico? □Sim □ Não; Foi bem atendido? □Sim □ Não; Resolveu o problema? □Sim □ Não; Precisou comprar remédio □Sim □ Não; A Prefeitura disponibilizou o remédio □Sim □ Não. 15 - Fora o posto de saúde, você ou alguém de sua família já precisou de outro órgão da Prefeitura ou do Estado? Se sim, quais? Resolveu o problema? 177 Órgãos Resolveu o problema 16 -Você ou alguém de sua casa estuda em escola pública ou privada? 17 - Têm aulas todos os dias? □Sim □ Não 18 - Em sua opinião os professores ensinam bem? □Sim □ Não 19 - Você ou alguém de sua família conhece a história local? □Sim □ Não 20 - Você acha importante o Rio São Francisco? □Sim □ Não 21 - Você acredita que o rio está poluído? Se sim, no seu entender, o que causou essa situação? 22 - Você acha importante a mata ciliar? □Sim □ Não 23 - Para você o que a caatinga lhe proporciona? E o Rio? 178 24 - Você sabe ou já ouviu falar em desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 25 - Explicar o que é desenvolvimento sustentável. Você acha que o bairro está no caminho para o desenvolvimento sustentável? □Sim □ Não 26 - O que você gostaria que a Prefeitura ou o Governo do Estado fizesse pela comunidade? 27 - Você conhece ou tem acesso às leis municipais ou Estaduais? Se sim, quais? 28 - Em sua localidade há alguma ONG? Se sim, você já teve acesso a ela? Ela ajuda o bairro em alguma coisa? 29 - Você tem alguma relação com a área irrigada, área de sequeiro ou central? Se sim, quantas vezes durante a semana você vai até lá? 179 30 - Quais os principais problemas que você identifica nessa relação? Verificar durante a visita se existem outras questões como: encosta (porque você escolheu esse lugar para morar?) Aspectos históricos Vacinação (está em dia? Vacina-se aonde?) Saúde bucal (boa ou não tem acesso a dentista?)Aspectos culturais. 180 181 ANEXO A – Aprovação