ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 6029 DE 15 DE OUTUBRO DE 2014 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Conferência Pensões em Portugal Sustentabilidade do sistema de pensões. Vários especialistas debateram, nos próximos anos. As opiniões convergem para uma necessidade de partilha de responsabilidades entre Estado, empresas e indivíduos. Paula Nunes na passada quarta-feira, possíveis soluções para o problema de financiamento das reformas dos portugueses II Diário Económico Quarta-feira 15 Outubro 2014 CONFERÊNCIA: PENSÕES EM PORTUGAL Transferência do OE para a Segurança Social mantém-se em 2015 1 A reforma do sistema de pensões é uma inevitabilidade. O tema exige um diálogo transversal e comprometido, consideram os especialistas. TEXTOS DE CÉLIA MARQUES [email protected] “ A reforma não tem sido possível de concretizar no seu todo porque o TC tem colocado em causa boa parte das medidas que procuramos introduzir. AGOSTINHO BRANQUINHO, secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social contempla medidas com vista à “sustentabilidade da Segurança Social”, sobretudo no que toca “à equidade intra e intergeracional e novas fontes de financiamento”, como o aumento em 0,2% das contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social e uma subida de 0,25% na taxa máxima do IVA, cuja receita será consignada aos sistemas de pensões. “Nunca antes nos deparámos com tantas reformas como nos últimos três anos, mas a reforma não tem sido possível de concretizar no seu todo porque o Tribunal Constitucional tem colocado em causa boa parte das medidas que procuramos introduzir”, lamentou Agostinho Branquinho. O secretário de Estado lembrou a implementação de medidas como a convergência das pensões dos trabalhadores da função pública e do sector privado e o aumento da idade da reforma para os 66 anos. “O caminho que temos vindo a implementar Alguns números apresentados 19% da população residente tem mais de 65 anos 82.787 nascimentos, apenas, registados em 2013 1,21 é o valor do índice de fecundidade, abaixo dos 2,1 necessários para assegurar a renovação geracional 346% foi quanto aumentou o número de pensionistas entre 1975 e 2012, face à subida de apenas 39% da população activa 3,6 mil milhões de euros foi o valor transferido do Orçamento de Estado para a conta da Segurança Social entre 2012 e 2014 Falta de vontade política Nos últimos anos foram tomadas medidas “de carácter político, sem nenhum fundamento técnico” a não ser “uma tentativa encapotada de prevenção da falência a prazo relativamente curto” do sistema nacional de pensões, medidas essas “que afectaram fortemente o contrato social que o Estado estabelece com os cidadãos”, advertiu José de Sousa, CEO da Liberty Seguros Portugal. O responsável lamentou a dificuldade em conseguir que os decisores políticos aderissem à iniciativa, lembrando que “governantes e políticos fogem de discussões sérias deste tema como o diabo foge da cruz”. não está concluído. No que toca ao futuro do sistema de pensões em Portugal, nomeadamente no quadro do actual modelo de repartição, e da discussão de um novo modelo da Segurança Social, será necessário, além do enquadramento económico, um diálogo abrangente, onde todos são chamados à discussão, nomeadamente os que possuem responsabilidades governativas, com o objectivo de garantir a sustentabilidade da Segurança Social e assegurar que o esforço pedido não será em vão”, afirmou o secretário de Estado. Um debate alargado e comprometido foi aliás defendido, de forma transversal, pelos especialistas presentes na conferência, num contexto de premência da reforma de um sistema de pensões predominantemente estatal, no sentido de uma maior responsabilização do sector privado, nomeadamente empresas e indivíduos. “Seria absolutamente imperioso começar a redesenhar o sistema de pensões Estatal, deixando de ter por base o contrato social, ou princípio da solidariedade entre gerações, que cada vez funciona menos, pelos altos níveis de desemprego e problemas de natalidade”, afirmou José de Sousa, CEO da Liberty Seguros Portugal, a quem coube o encerramento da conferência. Segundo o responsável, este tema “continua a ser tratado politicamente de forma descoordenada pelos decisores de vários ministérios e organismos públicos, e portanto perigosa, quando devia ser objecto de um amplo debate nacional e de um pacto de regime entre as principais forças políticas do País”. Como exemplo da “descoordenação”, José de Sousa apontou o facto de o governador do Banco de Portugal ter defendido reformas antecipadas para facilitar a redução do desemprego estrutural, “sem explicar como”, bem como o término, no final deste ano, dos incentivos fiscais aos PPR [planos de poupança reforma] privados, “que poderiam perfeitamente começar a desonerar o sistema estatal e contribuir para um sistema equilibrado e financeiramente saudável, o tal assente em três pilares [estado, empresas e indivíduos]”, concluiu. ■ 2 Fotos : Paula Nunes Para assegurar a sustentabilidade financeira do sistema de pensões, entre 2012 e 2014 o governo transferiu mais de 3,6 mil milhões de euros do Orçamento de Estado (OE) para a Segurança Social, uma transferência extraordinária que se irá manter no próximo ano, e sem a qual “o défice da Segurança Social seria já hoje incomportável”, advertiu Agostinho Branquinho, secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, no âmbito da conferência “Pensões em Portugal – Que Futuro?”, que teve lugar na passada quarta-feira em Lisboa. Durante a iniciativa promovida pelo Diário Económico, em parceria com a Liberty Seguros Portugal, o secretário de Estado anunciou ainda que o Orçamento de Estado de 2015 3 Quarta-feira 15 Outubro 2014 Diário Económico III 6 4 7 >> L EG E N DA 1. Ao centro, Pedro Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores, cumprimenta o CEO da Liberty Seguros Portugal, José de Sousa. 5 2. O ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José Vieira da Silva, com Pedro Seixas Vale. 3. Da esquerda para a direita: Alcindo Cardoso, Ernesto Oliveira, Fernando Franco, Margarida Ferreira e Carlos Feliciano da Liberty Seguros Portugal. 4. Um momento de conversa entre José Veiga Sarmento, presidente da APFIPP, Pedro Assis, da Baluarte Advisors, e Manuel Ferreira, do BBVA (da esquerda para a direita). 5. Ambiente da antecâmara da sala onde decorreram as várias sessões desta conferência. 6. Agostinho Branquinho, secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social. 7. A sessão de encerramento da conferência coube ao CEO da Liberty Seguros Portugal, José de Sousa. IV Diário Económico Quarta-feira 15 Outubro 2014 Fotos : Paula Nunes CONFERÊNCIA: PENSÕES EM PORTUGAL “É preciso um maior equilíbrio entre a Solução “mista” prevê repartição de responsabilidades entre o Estado, as empresas e os indivíduos. “Estes sistemas [de pensões] representam ganhos civilizacionais enormes, nomeadamente na Europa, mas têm de ser repensados. É preciso um maior equilíbrio entre responsabilidade individual e colectiva.” A afirmação é de Pedro Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), e marcou a tónica do debate inserido na conferência “Pensões em Portugal - Que futuro?”, que contou também com a participação de José Vieira da Silva, ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, e Diogo Santos Teixeira, CEO da Optimize Investment Partners. Pedro Seixas Vale lembrou que o sistema de pensões tem como objectivos, por um lado, minimizar o nível de dificuldade social e, por outro, redistribuir o rendimento. Mas, para isso, é preciso “sustentabilidade” e “pensar no domínio do mercado de trabalho e da poupança”, quando hoje não existe “nenhum in- Entre depósitos a prazo, PPR e fundos de investimento, os produtos financeiros que melhor remuneraram as poupanças em Portugal, nos últimos oito anos, foram os seguros, lembrou o presidente da APS. centivo a poupar”, devido à baixa remuneração que a poupança apresenta, advertiu. O presidente da APS defende “um maior equilíbrio entre impostos e contribuições”, que têm “objectivos diferentes”, e uma “maior responsabilidade individual e das empresas”, como acontece no Reino Unido, para que haja lugar a um “equilíbrio equitativo”. Para Pedro Seixas Vale, o actual regime de repartição acarreta riscos ao nível do financiamento e “da possibilidade de aceder aos benefícios”, afirmou, lembrando que o Tribunal Constitucional foi claro quando disse que as pessoas não têm direito de propriedade sobre a sua pensão. “O problema das pensões é muito complexo. Os melhores sistemas são os que consideram que as pessoas não conseguem resolver tudo. Temos alguns seguros obrigatórios e devíamos ter mais. Os seguros de saúde resolvem problemas em paralelo com o Sistema Nacional de Saúde. Porque não há-de passar-se o mesmo nas pensões?”, questionou. O presidente da APS lembrou ainda que os produtos financeiros [entre depósitos a prazo, PPR e fundos de investimento] que melhor remuneraram as poupanças em Portugal, nos últimos oito anos, foram os seguros, o que se deve ao facto de o modelo de gestão de uma companhia de seguros ter “uma perspectiva de longo prazo” e ser “muito fiscalizado” por parte do Instituto de Seguros de Portugal. “O sistema financeiro e segurador tem obrigação de mitigar os riscos que as pessoas têm com as suas poupanças. Não concebo que quem se vai reformar tenha menos 20% ou 30% do seu rendimento porque o mercado de capitais não correu bem”, comentou o responsável. Uma opinião não partilhada por Diogo Santos Quarta-feira 15 Outubro 2014 Diário Económico V >> O D E BAT E Identificar possíveis soluções que garantam a sustentabilidade futura do sistema de pensões em Portugal. Este foi o tema que ocupou a sessão de debate agendada para esta conferência e que contou com a participação de Diogo Santos Teixeira, da Optimize Investment Partners, Pedro Seixas Vale, da Associação Portuguesa de Seguradores, e do ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José Vieira da Silva. A moderação esteve a cargo do subdirector do Diário Económico, Francisco Ferreira da Silva. (na foto, da esquerda para a direita) DIOGO SANTOS TEIXEIRA, PEDRO SEIXAS VALE, JOSÉ VIEIRA DA SILVA, CEO da Optimize Investment Partners presidente do Associação Portuguesa de Seguradores ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social Não conheço nenhum PPR que tenha perdido 30%. Um fundo de pensões tem critérios de investimento que visam a diversificação de risco. O sistema financeiro e segurador tem obrigação de mitigar os riscos que as pessoas têm com as suas poupanças. Não concebo que quem se vai reformar tenha menos 20% ou 30% do seu rendimento porque o mercado de capitais não correu bem. A baixa natalidade e os fluxos migratórios são desfavoráveis aos equilíbrios sociais e ao sistema de pensões. Não é só o sistema de pensões que está em crise, mas também o modelo de economia social. responsabilidade individual e colectiva” Teixeira, CEO da Optimize Investment Partners. “Não conheço nenhum PPR que tenha perdido 30%. Um fundo de pensões tem critérios de investimento que visam a diversificação de risco”, contrapôs o responsável, que considera que os designados “produtos não garantidos” [produtos financeiros com risco] devem ser considerados como parte da solução da reforma do sistema de pensões. “A nível fiscal, devia diferenciar-se uma poupança garantida de outra que envolve risco”, defendeu o CEO, apontando também para a importância de um bom nível de supervisão. “Cada actor da economia deve assumir as suas responsabilidades. Creio que há possibilidade de fazer, nos próximos anos, uma reforma para ganhar um bocadinho mais de transparência, colocar a funcionar vários pilares, para termos uma reforma sustentável», afirmou Diogo Santos Teixeira, defendendo uma Reformas mais elevadas A despesa com pensões cresceu cinco vezes entre 1980 e 2011, devido aos “novos pensionistas entrarem com pensões mais altas relativamente aos que saem”, destacou Vieira da Silva, resultado de uma carreira contributiva de salários mais altos. O ex-ministro lembrou que Portugal supera a média da OCDE no que toca ao rendimento médio das pessoas acima de 65 anos, que naqueles países representa 86% do rendimento médio da população. maior responsabilização do sector privado, mas também um compromisso da esfera política no sentido de uma maior transparência. “Este não é um problema apenas português, mas internacional e complexo”, afirmou, por seu lado, José Vieira da Silva, ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. O ex-ministro lembrou que qualquer sistema de pensões está muito exposto às crises económicas, devido ao desemprego, sendo também reflexo das variáveis demográficas. “A baixa natalidade e os fluxos migratórios são desfavoráveis aos equilíbrios sociais e ao sistema de pensões. Onde temos recursos para responder a uma pressão tão grande? Não é só o sistema de pensões que está em crise, mas também o modelo de economia social”, advertiu o responsável, que considera que parte da solução para corrigir o desequilíbrio do sistema de pensões passa também por trazer uma fracção da população inactiva, “que cresceu imenso”, novamente para o activo. “Não existem instâncias puras, isentas de interesses, que possam ser tidas como solução à parte da política. Quando isso acontece dá buraco e é pago pelos contribuintes, como se viu no sistema financeiro”, lembrou Vieira da Silva. Para o ex-ministro, a solução deve ser “pragmática”, e em direcção a um sistema misto. “Tenho simpatia intelectual por uma solução dessa natureza, agora é preciso condições para a implementar”, afirmou, alertando para a dificuldade da fase de transição, que deve ser “moderada” e com o esforço principal assente no sector público. “O sucesso da reforma do sistema também depende muito da capacidade de gerir conjunturas que não estão fáceis. Para salvar o sistema de pensões temos de salvar primeiro a economia”, concluiu Vieira da Silva. ■ VI Diário Económico Quarta-feira 15 Outubro 2014 CONFERÊNCIA: PENSÕES EM PORTUGAL Novo paradigma deve prever soluções complementares Fundos de pensões, PPR e seguros são alternativas numa Segurança Social em mutação. “ Os fundos de pensões em Portugal têm enfrentado os problemas de forma positiva, como mostram as suas rendibilidades, mas é importante aumentar a sua dimensão, ou seja, ter mais activos sob gestão. RAUL MARQUES, CEO do Banif Investment Bank e presidente da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros A reforma feita em 2006 não chegou para resolver o problema da sustentabilidade das pensões em Portugal, sendo necessárias medidas imediatas e concretas que devem ser incluídas já no OE 2015, defende o presidente da APFIPP, José da Veiga Sarmento. Fotos : Paula Nunes “A reforma não trará a manutenção do nível de vida, mas apenas pouco mais de 60% do último vencimento”, advertiu Raul Marques, CEO do Banif Investment Bank e presidente da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros (APAF). O responsável considera que “o paradigma de uma Segurança Social estatal está em mutação”, no sentido de prever “soluções complementares”, como fundos de pensões, Planos de Poupança Reforma (PPR) e seguros de capitalização, o que exige “soluções de poupança de longo prazo e soluções de mercado de capitais”. “Os fundos de pensões em Portugal têm enfrentado os problemas de forma positiva, como mostram as suas rendibilidades, mas é importante aumentar a sua dimensão, ou seja, ter mais activos sob gestão”, defendeu Raul Marques. “Num cenário de risco de deflação e taxas de juro próximas de zero, os gestores de fundos de pensões têm de encarar outras alternativas ao nível de instrumentos de dívida emergente, com outros riscos e outros desafios”, acrescentou o responsável. Neste contexto, a selecção de activos deverá ter por base uma análise cuidada da qualidade creditícia dos emitentes, o potencial do investimento em dívida noutras moedas, a criação de valor através de uma gestão cambial activa e o investimento noutros activos, nomeadamente acções, numa perspectiva de rendimento de médio longo prazo. “São factores essenciais para construir uma carteira robusta, diversificada, com fontes de criação de valor distintas, e exposta a ciclos monetários e económicos igualmente distintos. Para gerir carteiras temos cada vez mais de encarar o mercado de capitais de forma global”, destacou. Entre aqueles que considera serem os desafios da década, Raul Marques apontou a necessidade de aumentar a poupança, nomeadamente a de longo prazo, estimular o investimento produtivo com vista a um crescimento económico sustentável e reforçar a capitalização das empresas, sobretudo das PME, promovendo soluções de mercado de capitais em complemento ao financiamento bancário tradicional. O CEO apontou ainda a necessidade de mitigar os efeitos do actual ciclo demográfico e potenciar novos pilares da Segurança Social. “Para enfrentar os desafios precisamos de poupar bem, com uma componente de médio longo prazo, e investir bem a poupança gerada”, concluiu. ■ Quarta-feira 15 Outubro 2014 Diário Económico VII Raul Marques, presidente do Banif Investment Bank e presidente da APAF, destacou que a gestão de carteiras de fundos de pensões exige que se encare o mercado de capitais de forma global. Eficiência do sistema de pensões passará por um ‘mix’ público e privado Os casos de sucesso de sistemas de pensões a nível internacional envolvem repartição de responsabilidades entre os sectores público e privado. Daniel Harrison, Director Global Head Longevity Solutions, da Swiss Re, Londres, defende uma diversificação do risco no sistema de pensões, com público e privado a partilharem responsabilidades. Os sistemas de pensões foram desenhados para períodos de tempo que hoje não se verificam. “Como financiar uma reforma mais longa a partir de uma vida activa mais curta? O financiamento por esta via tornou-se insustentável”, advertiu Daniel Harrison, Director Global Head Longevity Solutions, da Swiss Re, Londres. O responsável lembrou que os desafios dos sistemas de pensões são hoje transversais e prendem-se com o envelhecimento da população, um enquadramento financeiro mais difícil, finanças públicas sob pressão e padrões de emprego em que a tendência passa por empregar os mais jovens. Em resposta a estes desafios, “a grande tendência global passa pela transferência de responsabilidades para os empregadores e para os indivíduos. Têm de ser os próprios a poupar, mas para isso são precisos incentivos. E também é questionável se devem ser os próprios a assumir todos os riscos”, advertiu. Segundo Daniel Harrison, para aumentar a eficiência do sistema e diversificar o risco, a solução passará por “um ‘mix’ entre os sectores público e privado”. Ao sector público cabe encontrar soluções para o envelhecimento da população, apoiar o desenvolvimento do mercado de capitais e trabalhar em conjunto com outros países. Os empregadores devem ter presente o risco da longevidade e de realizar reservas insuficientes, e apostar em pensões de trabalho sustentáveis e padrões de trabalho flexíveis. Já às (re)seguradoras e o sistema financeiro devem manter a inovação, apostar numa gestão de risco eficaz e informar e educar os investidores do mercado de capitais. Importa ainda educar os cidadãos para a poupança e criar incentivos nesse sentido, defendeu Daniel Harrison, dando como exemplo o caso dinamarquês, “que oferece bons benefícios e tem um bom equilíbrio entre o sector público e privado”. “É uma área complexa, sem soluções fáceis, mas que exige alterações que envolvem o governo, as empresas, os indivíduos e os mercados financeiros”, rematou. ■ “ A tendência global passa pela transferência de responsabilidades para os empregadores e para os indivíduos. Têm de ser os próprios a poupar, mas para isso são precisos incentivos. DANIEL HARRISON, Director Global Head Longevity Solutions da Swiss Re, Londres Medidas imediatas no OE 2015 Enquanto não chega a tão necessária reforma para o problema das pensões, existem medidas que podem ser já implementadas. “ É necessário acabar com as guerras religiosas e delinear um programa de salvação nacional, aproveitando as experiências de outros países que tiveram a coragem de o fazer. JOSÉ DA VEIGA SARMENTO, presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios “Acho extraordinário que não encontremos solução para o problema das pensões. São 40 anos de incompetência colectiva”, afirmou José da Veiga Sarmento, presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), defendendo a aplicação de medidas imediatas, a contemplar no Orçamento de Estado 2015, enquanto não se faz a tão necessária reforma. Ao nível das empresas, o responsável sugere o incentivo fiscal diferido para a criação de poupança para os trabalhadores, e um incentivo mais acentuado caso os planos confiram direitos adquiridos, ou resultem de contratação colectiva. No que toca às pessoas, o presidente destaca a importância de reforçar a atractividade dos fundos de pensões como instrumento de poupança a utilizar apenas na altura da reforma, e de isentar fiscalmente os reembolsos em forma de renda, quer das contribuições das empresas, quer dos trabalhadores. Ainda na vertente individual, José da Veiga Sarmento sugere que as entregas dos próprios sejam dedutíveis ao rendimento co- lectável, até ao limite anual de 15 mil euros. “A reforma mais contundente foi feita em 2006. Retirou o País da “zona vermelha” no que diz respeito ao impacto nas finanças públicas, mas não deu resposta ao problema das reformas dos portugueses no futuro”, afirmou. O presidente classificou a reforma de “incompleta e refém da ideologia”, lembrando que “a poupança privada individual não foi tida como parte da solução”, enquanto a organizada colectivamente nas empresas, através de fundos de pensões, conta com um estímulo fiscal “insignificante”. “Se a situação era má, passou a catastrófica”, acrescentou, referindo-se à fase CES, de “cortes transversais sem explicação”, que criaram uma “desconfiança generalizada sobre a vontade do Estado em honrar os seus compromissos e respeitar a segurança da poupança privada”. O responsável salientou ainda a necessidade de “acabar com as guerras religiosas e delinear um programa de salvação nacional, aproveitando as experiências de outros países que tiveram a coragem de o fazer”. ■ PUB