VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
20 a 24 de setembro de 2010
As impossibilidades de uma Aufhebung na Sociedade Atual
Nathalia Muylaert Locks
Mestrado – UFSCar
Bolsista CAPES
Resumo
A possibilidade de uma Aufhebung esta vinculada a compreensão do que é Sociedade
Atual. Esta por sua vez é aquela que não só apresenta o capitalismo como sistema
econômico, mais um Estado Autoritário. “The State Capitalism is theAuthoritarian state
of the present”. O Estado Autoritário é aquele que ultrapassa as barreiras do
liberalismo, um estado em que a possibilidade da “extrem Freedom” tão defendida na
época do iluminismo, é eliminada; acaba-se assim com qualquer possibilidade de
liberdade. Se no capitalismo monopolista a visão liberal de mercado, evocava uma não
liberdade, sendo que estas estavam submetidas às leis de mercado, agora, no
Capitalismo tardio (spätkapitalismus) a liberdade é totalmente eliminada, pois todas as
leis do mercado são liquidadas. Desta forma, o Estado Autoritário intensifica o sistema
de massificação da sociedade, que se direciona para uma uniformização do todo social.
Assim nos perguntamos como pensar em uma superação se fazemos parte desta
homogeneização social.
As impossibilidades de uma Aufhebung na Sociedade Atual
No artigo publicado na Zeitzschirift für Sozialforschung , Teoria Tradicional e Teoria
Crítica, Max Horkheimer demarca a diferença entre os dois tipos de teoria. O autor
ressalta que o ponto principal que caracteriza a diferença entre a teoria tradicional e a
Teoria Crítica é o seu potencial transformador, ou seja, a superação da luta de classes.
Horkheimer segue a linha de Marx que afirma que: Die Philosophen haben die Welt
nur verschieden interpretiert, es kömmt drauf an, sie zu verändern . A Teoria Crítica,
afirma Horkheimer, é “Ein Verhalten, das, auf diese Emanzipation gerichtet, die
Veränderung des Ganzen zum Ziel hat, mag sich wohl der theoretischen Arbeit
bedienen, wie sie innerhalb der Ordnunen der bestehenden Wirklichkeit geschieht.”
Horkheimer acrescenta ainda a respeito da radicalidade da teoria:
Revista de Pesquisas Sociais
- 11ªtese sobre Feuerbach; "Thesen über Feuerbach (1845) “Os Filósofos se limitaram a interpretar o
mundo de diversas maneiras; mas o que importa é transformá-lo".
HORKHEIMER. MAX. Traditionelle und Kritische Theorie.In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988. p.182. Um comportamento
que esteja orientado para essa emancipação, que tenha por meta a transformação do todo, pode servir-se
sem dúvida do trabalho teórico, tal como ocorre dentro da ordem dessa realidade existente. (trad. Edgard
Afonso Malagodi e Ronaldo Pereira cunha – HORKHEIMER. MAX. Teoria Tradicional e Teoria Crítica.
In: Os pensadores. 1975 p.139.
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Die Konstruktion der Gesellschaft unter dem Bilde einer radikalen
Umwandlung, das die Probe seiner realen Möglichkeit noch gar nicht
bestanden hat, ermangelt hingegen des Vorzugs, vielen subjekten gemeinsam
zu sein. Das Streben nach einem Zustand ohne Ausbeutung und
Unterdrückung, in dem tatsächlich ein umgreifendes Subjekt, das Heißt die
selbstbewußte Menschheit existiert und in dem von einheitlicher
Theorienbildung, von einem die Individuen übergreifenden Denken
gesprochen werden kann, ist noch nicht seine Verwirklichung. Die Möglichst
strenge Weitergabe der kitischen Theorie ist freilich eine Bedingung ihres
geschichtlichen Erfolgs; aber sie vollzieht sich nicht auf dem festen Grund
einer eingeschiffenen Praxis und fixierter Vehaltensweisen, sondern vermittels
des Interesses an der Umwandlung, das sich zwar mit der herrschenden
Ungerechtigkeit notweding reproduziert, aber durch dir Theorie selbst geformt
und gelenkt werden soll und gleichzeitig wieder auf sie zurückwirkt.
Ao questionar se após o diagnóstico deixado pela herança da Revolução Russa
(1917),
pela
Segunda
Guerra
Mundial
(1940-1945)
pela
Guerra
Fria
e
consequentemente pela Queda do Muro de Berlin (1989); após visualizar um Estado
dito socialista, outro fascista, e por último a superação dos dois concretizados na
esperança de um Estado Democrático, tendo em vista as várias faces do Capitalismo
refletidas no espelho de nossa sociedade atual, pergunta-se se através da Teoria Crítica é
possível uma Aufhebung.
Para verificar tal possibilidade o presente trabalho se baseará nos textos de
Horkheimer dos anos 1940. Essa escolha não é arbitrária. Horkheimer, como diretor do
Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt e fundador do método da Teoria Crítica,
carrega em seus escritos as mais profundas considerações sobre uma sociedade à beira
de um colapso, à beira de uma barbárie. Seu diagnóstico é preciso devido ao seu estudo
sobre a Razão Instrumental. Como fundador do método, sua preocupação para com ele
consiste no desenvolvimento de uma teoria concisa. Tal teoria tem como finalidade, ao
diagnosticar os sintomas do mundo, encontrar a possibilidade de uma Aufhebung a
partir de sua análise da sociedade.
A construção da sociedade sob a imagem de uma transformação radical que ainda não passou pela
prova de sua possibilidade real carece do mérito de ser comum a muitos sujeitos. O desejo de um mundo
sem exploração nem opressão, no qual existiria um sujeito agindo de fato, isto é, uma humanidade
autoconsciente, e no qual surgiriam as condições de uma elaboração teórica unitária bem como de um
pensamento que transcende os indivíduos, não representa por si só a efetivação desse mundo. A
transmissão mais exata possível da Teoria Crítica é condição para o êxito histórico. (trad. Edgard Afonso
Malagodi e Ronaldo Pereira cunha – HORKHEIMER. MAX. Teoria Tradicional e Teoria Crítica. In: Os
pensadores. 1975 p. 161.
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A escolha do período em questão também não é casual. A mudança de enfoque
do materialismo interdisciplinar aconteceu devido ao fascismo que começava a se
alastrar por toda a Europa. Essa mudança exigiu da Teoria Crítica um olhar mais
cuidadoso sobre a nova face da barbárie, que parecia naquele momento mostrar toda a
sua fúria. Dessa maneira, Horkheimer transita de uma fase otimista para uma fase
pessimista; otimista, porque seus textos dos anos 1930 - fase do materialismo
interdisciplinar - estavam repletos de esperança, tendo em vista uma mudança social
focada nas políticas de planificação.
Por outro lado, no período dos anos 1940
Horkheimer mergulha em um profundo pessimismo, ao diagnosticar uma sociedade
onde a Razão foi eclipsada. Coloca-se, assim, em xeque a possibilidade de uma
Aufhebung.
Outro aspecto importante a se destacar é que a fase dos anos 1930 ainda se
encontrava muito centralizada no contexto político alemão, ao contrário da fase
posterior – 1940 - que aspira ao universal. O diagnóstico feito pelo Instituto durante os
anos 1940 não se limita somente àquela época, ao contrário, ele também demonstra a
causa dos males da sociedade atual - por isso a escolha de concentrar-se nos estudos de
Horkheimer dos anos 1940.
Para alcançar esse objetivo, faz-se necessário caracterizar o cenário no qual a
possibilidade de uma Aufhebung será analisada. Esse cenário é aquele que não só
apresenta o Capitalismo como sistema econômico, mas um Estado Autoritário, nas
palavras de Horkheimer: “The State Capitalism is the Authoritarian state of the
present” . O Estado Autoritário é aquele que ultrapassa as barreiras do liberalismo, um
Estado em que a possibilidade da “extrem Freedom”, tão defendida na época do
iluminismo, é eliminada; acaba-se assim com qualquer possibilidade de liberdade. Se no
Capitalismo monopolista a visão liberal de Mercado evocava uma não liberdade - sendo
que estas estavam submetidas às leis de Mercado - agora, no Capitalismo Tardio
[Spätkapitalismus], a liberdade é totalmente eliminada, pois todas as leis do Mercado
SILVA. RAFAEL CORDEIRO. A Percepção da Barbárie: Construção e Desmoronamento da Teoria
Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002 p. 70
SILVA. RAFAEL CORDEIRO. A Percepção da Barbárie: Construção e Desmoronamento da Teoria
Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002 p. 70
HORKHEIMER. MAX. The Authoritarian State. In: ARATO. Andrew and GEBHARDT. Eike (org)
The Essential of Frankfurt School Reader. Urizen Book. New York. 1978 p. 96 (O Capitalismo de
Estado é O Estado Autoritário do Presente). (Trad. minha)
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são liquidadas. Dessa forma, O Estado Autoritário intensifica o sistema de massificação
da sociedade, que se direciona para uma uniformização do todo social . Como afirma
Horkheimer no texto Egoísmo e Emancipação:
In den totalitären Staaten der Gegenwart, wo das gesamte geistige Leben
Ausschließlich unter dem Gesichtspunkt begriffen wird, Massen zu lenken,
sind die weitergehenden und humanistischen Elemente der Moral bewußt
abgestreift und die Zwecke des Individuums gegenüber allem, was jewills
die Regierung als allgemeines Ziel bezeichnet, für nichtig erklärt.
O que Horkheimer e Pollock mostram nos estudos feitos acerca do Capitalismo
Tardio, é a homogeneização de todo o sistema econômico que aniquila todas as
possibilidades de concorrência. Nesse sentido, o Mercado perde sua função enquanto
organismo; uma vez que a circulação do capital é eliminada. Não são mais as leis
internas do Mercado que operam o sistema, mas sim um grupo de pessoas (Racket –
gangues) e/ou o Estado. Dessa maneira, inicia o primado da política em relação à
economia. Nas palavras de Horkheimer:
Unter den Verhältnissen den Unterdrückungsapparaten der autoritären Staaten
ist die Wahrheit zu bewunderungswürdigen kleinen Gruppen geflüchtet, die
unter dem Terror dezimiert, wenig Zeit haben, die Theorie zu Schärfen. Die
Scharlatane profitieren davon, und der allgemeine intellektuelle Zustand der
großen Massen geht rapide zurück.
Na fase do Capitalismo Monopolista, defendido por Lênin como a última fase do
Capitalismo, o sistema mesmo pertencendo a pequenos grupos de pessoas, ainda
SILVA. RAFAEL CORDEIRO. A Percepção da Barbárie: Construção e Desmoronamento da Teoria
Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002 p. 94
HORKHEIMER. MAX. Egoismus und Freiheitsbewegung.In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988. p. 14. Nos Estados totalitários
do presente, nos quais o conjunto da vida espiritual é definido exclusivamente do ponto histórico da
condução das massas, os elementos contínuos e humanistas da moral são deliberadamente abandonados e
os fins do indivíduo são declarados fúteis frente a tudo aquilo que o governo respectivamente designa
como objetivo geral. Trad. Rafael cordeiro Silva A Percepção da Barbárie: Construção e
Desmoronamento da Teoria Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002 p.94
VER: Pollock, Friedrich (1941a), State Capitalism, its possibilities and limitations in: Zeitschrift für
Sozialforschung 2/1941, S.200-225 Und Neumann, Franz (1977), Behemoth. Struktur und Praxis des
Nationalsozialismus 1933-1944, hg.v.Gert Schäfer, Köln-Frankfurt am Main
HORKHEIMER. MAX. Traditionelle und Kritische Theorie..In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988. p 211. No capitalismo tardio e
na impotência dos trabalhadores diante dos aparelhos repressivos dos Estados autoritários, a verdade se
abrigou em pequenos grupos dignos de admiração, que dizimados pelo terror, muito pouco tempo tem
para aprimorar a teoria. Os charlatões lucram com isso e o estado intelectual das massas retrocede
rapidamente. trad. Edgard Afonso Malagodi e Ronaldo Pereira cunha – HORKHEIMER. MAX. Teoria
Tradicional e Teoria Crítica. In: Os pensadores. 1975 p. 159
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apresenta sintomas de crise, e demonstra, desse modo, o momento para a realização de
uma Aufhebung. Pollock contrapõe essa posição. Ele defende que o Capitalismo
Monopolista não é a última fase, ele é apenas uma vertente do Capitalismo de Estado;
como no caso do Fascismo que é um sistema monopolista, mas regulado pelo Estado.
Por outro lado, o Capitalismo de Estado seria a ultima fase do Capitalismo, mas com
uma diferença essencial: com a liquidação das leis de Mercado, e a administração total
da vida dos indivíduos, o momento da crise é também eliminado e leva consigo
qualquer possibilidade de superação, de uma Aufhebung. Nesse sentido, a teoria
marxista perde validade.
As fusões entre interesse econômico e nacional, e entre a elite política e a elite
militar como indicam Türcke e Bolte, em um estudo sobre a teoria do Capitalismo de
Estado , demonstram que a forma como os Rackets e ou Estado administram o
Mercado, a crise e conseqüentemente os indivíduos, é inserindo os indivíduos em um
processo extremamente racionalizado de burocratização; o que eles chamam de
Economia do Comando [Komando-Wirtschaf]. Desse modo, a realização de uma
Aufhebung fica restrita ao preenchimento de formulários que são perdidos no meio do
caminho, ou seja, ela nunca se concretiza.
Se o cenário apresentado representa o diagnóstico de uma sociedade sob o
predomínio de uma Razão Instrumental, na qual os sintomas dessa sociedade à beira de
um colapso enclausuram o indivíduo de tal forma que a este só resta uma saída –
adaptar-se ao sistema de planificação social. Isso significa que a autoconservação foi
substituída totalmente pela adaptação, quer dizer que se ainda existia algum resquício de
racionalidade ele foi aniquilado. Como explicita Horkheimer:
Die bürgerliche Gesellschaft beruht nicht auf bewurßter zusammenarbeit für
Dasein und Glück ihrer Mitglieder. Ihr Lebensgesetz ist ein anderes. Jeder
meint, für sich selbst zu arbeiten, muß auf seine eigene Erhaltung bedacht
sein. Es gibt keinen Plan, der festlegt, wie das allgemeine Bedürfinis
befriedigt werden soll. Idem jeder versucht, solche Dinge bereitzustelleen ,
gegen die Produktion gerade noch so reguliert, daß die Gesellschaft sich in
der gegebenen Form entwickeln kann. Je mehr in Verlauf der Jahunderte
TÜRCKE, Christoph e BOLTE, Gerhard. Einführung in die Kritische Theorie. Darmstadt: Primus,
1997. p.45. in: SILVA. RAFAEL CORDEIRO. A Percepção da Barbárie: Construção e
Desmoronamento da Teoria Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002 p.96
Ver: Weber, Max: Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus, Vollständige Ausgabe.
Herausgegeben und eingeleitet von Dirk Kaesler, 2. durchgeseh. Aufl. München: C.H. Beck 2006.
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eine bessere, rationelle Regelung technisch in den Bereich der Möglichkeit
rückt, als desto gröber und umständlicher erweist sich dieses »feine«
Instrument, der Markt, der nur unter schwersten Verlusten an
Menschenleben und Gütern die Reproduktion der Gesellschaft vermittelt
und mit dem Fortscheireiten der Kapitalistischen Wirtschaft die Menschheit
trotz ihreswachsenden Reichtums nicht vor dem Rückfall in die Barbarei
bewahren kann.
A autoconservação é uma propriedade da racionalidade que une mecanismos
biológicos e racionais para a manutenção da sobrevivência. Ou seja, o indivíduo ao se
relacionar com o mundo que o cerca apreende por meio da adaptação a este como
produzir sua condição de sobrevivência. Quando a autoconservação converte-se em
mera adaptação, caso do Capitalismo de Estado, o indivíduo perde completamente a
posse de sua produção e de sua própria vida; já que agora o meio dá a ele as condições
de vida. Não é mais necessário produzir sua condição de sobrevivência. Interrompe-se
assim o momento racional. Dessa forma, aos indivíduos só resta comprar, tal qual uma
Mercadoria, a melhor condição de vida ofertada pela Indústria. Assim, interrompe-se
também o momento da liberdade; já que a possibilidade de escolha, aparentemente, está
ausente. O sistema não os deixa mais produzir seu próprio ambiente. Os indivíduos ao
inserirem-se nesse sistema de falsas escolhas, transformam-se em máquinas, seu
pensamento é automatizado - é muito mais fácil escolher dentre as opções ofertadas, do
que produzir uma. O que o indivíduo não percebe é a manipulação da indústria, dos
Rackets por trás da escolha. Inicia-se uma sensação de liberdade, liberdade esta que é
ilusória. Como argumenta Horkheimer à respeito da autonomia:
Der Schein der Selbständigkeit von Arbeitsprozessen, deren Verlauf
sich aus einen inneren Wsen ihres Gegenstandes herleiten soll, entspricht der
scheinhaften Freiheit der Wirtschaftssubjekte in der bürgerlichen Gesellschaft.
Sie glauben, nach individuellen Entschlüssen zu handeln, während sie noch in
HORKHEIMER. MAX. Egoismus und Freiheitsbewegung.In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988. P. 70. A sociedade burguesa
não se baseia na cooperação consciente para a existência e a felicidade de seus membros. Seu princípio
vital é outro. Todos pensam em trabalhar para si próprios e consideram sua própria conservação. Não
existe um plano que determine como devem ser satisfeitas as necessidades coletivas. Enquanto cada um
tenta pôr à sua disposição as coisas de que precisa em relação a outras que pode adquirir, a produção
torna-se regulada de tal maneira que a sociedade pode se desenvolver dentro da forma dada. Com o correr
dos séculos, quanto mais se verifica uma melhor regulação tecnicamente mais racional no domínio da
possibilidade, tanto mais rudimentar e incômodo evidencia-se este “sutil” instrumento, o Mercado, que,
só sob a mais penosa perda de vidas humanas e de bens, media a reprodução da sociedade e que, com o
progresso da economia capitalista, apesar de sua crescente riqueza, não pode preservar a humanidade da
recaída na barbárie. (Trad. Rafael Cordeiro Silva)
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ihren Kompliziertesten Kakulationen Exponenten des unübersichtlichen
gesellschaftichen Mechanismus sind.
O poder de escolha, tão propagado pela indústria, é o melhor mecanismo que o
Capitalismo de Estado Democrático possui para dominar os indivíduos. É a nova forma
de barbárie, uma barbárie travestida sob máscara de uma falsa idéia de liberdade. São as
faces ocultas do sistema totalitarista. Nesse sentido, se a sociedade em que vivemos
apresenta uma Razão instrumental, uma economia planificada, um Estado ou um
grupo de pessoas que administra e domina os indivíduos; se a liberdade não passa de
uma falsa sensação; onde a democracia é mais um slogan para esconder a forma
autoritária do Estado; se todo o momento da racionalidade foi perdido; então qualquer
possibilidade de autonomia também foi aniquilada juntamente com todo esse processo
de formalização da Razão. Se não há autonomia, também não há Aufhebung. Pois, para
tornar essa Aufhebung possível, é necessário que exista um momento autônomo para
que haja reflexão. Mas, se toda a possibilidade de pensamento foi sugada pela indústria,
nesse sentido, como seria possível uma Aufhebung?
A primeira condição para isso é que se tenha autonomia. Mas, em uma sociedade
sob o predomínio da Razão Instrumental, essa possibilidade é totalmente perdida.
Supondo que haja um resquício de autonomia, é necessário também que haja uma
unidade reguladora da Razão. Pois a autonomia faz parte da faculdade da Razão
objetiva. Mas, se há uma unidade que regula a vida dos indivíduos, então não existe
autonomia, sendo impossível ao menos em um primeiro momento, a realização de uma
Aufhebung. Se o movimento do método da Teoria Crítica consiste, enquanto herdeira da
teoria marxista, realizar uma Aufhebung - e esse momento foi totalmente perdido dentro
do diagnóstico apresentado - aparentemente temos duas saídas: constatar que a Teoria
Crítica é uma impossibilidade ou repensar o conceito de Razão.
BIBLIOGRAFIA
HORKHEIMER. MAX. Traditionelle und Kritische Theorie..In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988. p. 171. A aparente autonomia
nos processos de trabalho, cujo decorrer se pensa provir de uma essência interior ao seu objeto,
correspondente à ilusão de liberdade dos sujeitos econômicos na sociedade burguesa. Mesmo nos cálculos
mais complicados eles são expoentes do mecanismo social invisível, embora creiam agir segundo suas
decisões individuais. trad. Edgard Afonso Malagodi e Ronaldo Pereira cunha – HORKHEIMER. MAX.
Teoria Tradicional e Teoria Crítica. In: Os pensadores. 1975 p. 131.
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HORKHEIMER. MAX. The Authoritarian State. In: ARATO. Andrew and GEBHARDT. Eike (org)
The Essential of Frankfurt School Reader. Urizen Book. New York. 1978
POLLOCK, Friedrich (1941a), State Capitalism, its possibilities and limitations in: Zeitschrift für
Sozialforschung 2/1941,
NEUMANN, Franz (1977), Behemoth. Struktur und Praxis des Nationalsozialismus 1933-1944,
hg.v.Gert Schäfer, Köln-Frankfurt am Main
TÜRCKE, Christoph e BOLTE, Gerhard. Einführung in die Kritische Theorie. Darmstadt: Primus,
1997.
SILVA. RAFAEL CORDEIRO. A Percepção da Barbárie: Construção e Desmoronamento da Teoria
Crítica de Max Horkheimer. Tese de Doutorado. UFMG. 2002
WEBER, Max: Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus, Vollständige Ausgabe.
Herausgegeben und eingeleitet von Dirk Kaesler, 2. durchgeseh. Aufl. München: C.H. Beck 2006.
HORKHEIMER. MAX. Egoismus und Freiheitsbewegung.In: Gesammelte Schriften. Band 4: Schiften
1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988.
HORKHEIMER. MAX. Traditionelle und Kritische Theorie..In: Gesammelte Schriften. Band 4:
Schiften 1936-1941. Fischer Tachenbuch Verlag. Frankfurt am Main 1988.
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