REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A GESTÃO COMPARTILHADA DOS RECURSOS PESQUEIROS. O caso do Projeto Delta do Jacuí: Gestão Integrada dos Recursos Pesqueiros. Judit Herrera Ortuño Prof. Cleyton Gerhardt UFRGS-PGDR Janeiro 2012 “...não esperam por uma folha de papel dizendo que essas terras e esses mares lhes pertencem. Soberania é um estado da mente” (CORDELL). INTRODUÇÃO Este artigo é um trabalho de (in)conclusão da disciplina Antropologia dos Conflitos Socioambientais (Rurais) do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ministrada pelo professor Cleyton Gerhardt, na qual participo enquanto Aluna Especial do Mestrado (02/2011). O objetivo do artigo é fazer uma reflexão crítica da concepção e processo da gestão compartilhada dos recursos pesqueiros, tomando como caso o Projeto Delta do Jacuí: Gestão Integrada dos Recursos Pesqueiros, que vou chamar de PDJ. Escolhi refletir sobre a gestão compartilhada por ser a metodologia utilizada no PDJ, no qual eu mesma trabalho atualmente (e desde junho de 2011). Como educadora social, e seguindo a dialética da prática-teoria-prática (FREIRE, 1996), a disciplina citada tem me ajudado, no decorrer do semestre, a analisar e rever a prática na qual estou inserida (e a entrar em conflito interno também). O projeto, segundo o planejamento, vai até dezembro de 2012. Para a concepção e redação deste artigo utilizo os textos dos autores trabalhados durante a disciplina, assim como material sobre gestão compartilhada usada no PDJ, e anotações informais sobre o trabalho de campo realizado nas reuniões com pescadores e órgãos do governo e nas visitas e oficinas nas comunidades de pescadores artesanais. 1 Para a reflexão sobre a gestão compartilhada divido o artigo em três blocos. No primeiro apresento brevemente o PDJ. No segundo, e com o apoio teórico dos autores trabalhados durante a disciplina, realizo uma análise do contexto histórico e da ideologia que se esconde atrás dos projetos de gestão compartilhada. E no terceiro bloco, reforçando as ideias colocadas antes, levanto alguns questionamentos sobre o contexto no qual está inserido o PDJ e sobre alguns aspectos contraditórios na sua própria execução. APRESENTAÇÃO do Projeto Delta do Jacuí: gestão integrada dos recursos pesqueiros. O Projeto Delta do Jacuí: gestão integrada dos recursos pesqueiros (PDJ), financiado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e executado pela organização não-governamental Centro de Assessoria Multi Professional (CAMP), iniciou oficialmente suas atividades em maio de 2011, e o planejamento para a execução vai até dezembro de 2012. O PDJ está inserido dentro do que é chamado de gestão compartilhada dos recursos pesqueiros. Segundo o próprio projeto, “a degradação ambiental e a precária gestão dos recursos pesqueiros são os principais fatores que levam a um colapso a atividade profissional de pesca e consequentemente o empobrecimento dos pescadores”. Para isso, o PDJ visa dois objetivos principais: “fortalecer a articulação de ações dos pescadores em rede através do Fórum da Pesca”; e “construir uma Instrução Normativa para a pesca na Região do Delta do Jacuí, Lago Guaíba e Norte da Lagoa dos Patos de forma democrática e participativa”. Para isso, além do trabalho dos profissionais do CAMP, a ONG vai contratar uma universidade para fazer uma pesquisa científica, com o objetivo de complementar o conhecimento “tradicional” com o conhecimento científico. O projeto pretende abranger as comunidades de pescadores artesanais de Itapuã, Lami, Belém Novo, Varzinha, Ilha Grande dos Marinheiros, Ilha das Flores, Ilha da Pintada, Santo Amaro, São Jerônimo, Charqueadas, Guaíba, Paquetá em Canoas, Nova Santa Rita, Palmares do Sul, Tapes e Mostardas. 2 Antes de entrar nos detalhes concretos do PDJ é essencial contextualizá-lo histórica e politicamente para compreender a “natureza” do projeto desde sua concepção. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA Nos últimos 40 anos difunde-se a ideia de que o mundo contemporâneo está sofrendo uma grave “crise ambiental”, global, generalizada, atingindo a todos por igual. Todos somos vítimas em potencial. O meio ambiente é visto como um bem naturalmente escasso, único e homogêneo; e os seres humanos como responsáveis por igual de tal degradação ambiental. Assim, o pensamento dominante define a escassez e o desperdício dos recursos naturais como causas fundamentais da pressuposta “crise ecológica” (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009). Mas, existe realmente essa crise? Ela é uma reação fatal ao sistema urbano-industrial-capitalista? Ou é uma mera construção social? GERHARDT e ALMEIDA (2005) fazem um levantamento de hipóteses para a compreensão da origem da “crise ambiental”. Segundo os autores, um primeiro ponto de vista poderia ser uma ótica “evolutiva” do processo de tomada de consciência ambiental; uma segunda hipótese poderia se basear na materialidade concreta dos fenômenos ambientais; e uma terceira possibilidade seria a “crise ambiental” como construção socialmente inventada. A partir desse levantamento os autores fazem uma análise interpretativa para propor a ideia de um campo (segundo a noção de Bourdieu) dinâmico em construção/desconstrução que se gera a partir de um fluxo constante entre o concreto e o abstrato. Ou seja, o campo ambiental não é mero produto da realidade, não existe em si, mas também não surge apenas de uma construção social. Ele é produto de como a sociedade vê o concreto, e como o concreto se reestrutura a partir dessa visão da sociedade, numa permanente dialética do campo ambiental (GERHARDT e ALMEIDA, 2005). Esse campo ambiental, legitimado enquanto locus central das discussões sobre meio ambiente, gera conflitos entre os diferentes modos de se pensar o meio ambiente e, por tanto, de entender e concretizar as relações 3 entre os seres humanos e a natureza. Assim, essa criação dinâmica do campo ambiental naturaliza ideias, conceitos e práticas dentro de um determinado modelo sociocultural hegemônico (GERHARDT e ALMEIDA, 2005). Desta maneira pode-se concluir, no que atinge ao objetivo deste artigo, que “a invenção do meio ambiente como problemática social relevante incluirse-ia dentro de um processo dinâmico de reestruturação sociocultural, onde o que estaria em jogo (em disputa) seria a própria modificação da forma como a sociedade se organiza, pensa e elabora seus valores, suas prioridades e seus desejos” (GERHARDT e ALMEIDA, 2005). É dentro desta noção de campo ambiental que se deve compreender o processo de disputa atual pelo controle do acesso e exploração dos recursos naturais. No último quarto do século XX a América Latina está inserida numa geopolítica mundial dos recursos naturais (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). O pensamento dominante atual no Brasil parte das políticas neoliberais introduzidas nos anos 1990 nos países periféricos do mundo capitalista a partir das organizações multilaterais criadas pelo acordo de Bretton Woods (1945), isto é, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. É neste contexto que se consolida o pressuposto de conciliar a “questão ambiental” com o desenvolvimento econômico (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009). Seguindo a lógica do mercado, e sem questionar o próprio modelo de desenvolvimento, o sistema capitalista resolveria a degradação ambiental, criada pelo processo de industrialização, a partir da inovação em tecnologias “limpas”, progresso técnico e a “lógica” do consenso. Esta é a chamada ”modernização ecológica”, na qual as empresas e o Estado inserem suas atividades com o objetivo de melhorar a eficiência e ativar os mercados (ACSELRAD, sem ano). Esta concepção dominante da “questão ambiental” não abrange a dimensão sociológica, só a dimensão técnica enquanto à escassez ou desperdício de matéria e energia (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009), preservando assim a distribuição de poder sobre os recursos naturais em disputa (ACSELRAD, sem ano). Nesta linha, o próprio modelo de desenvolvimento terminou internalizando a crítica ecológica, propondo soluções de compromisso conceitual, como a noção de desenvolvimento sustentável (BARRETO, 2006). Assim, no Brasil, onde foi implementada uma complexa estrutura industrial 4 desde pós-guerra aos anos 1980, surgiram os conflitos ambientais assim que as populações atingidas tiveram “garantias de visibilidade no espaço público” para reclamar (ACSELRAD, 2004). Eclodiram discussões entre ambientalistas e desenvolvimentistas para a criação de um novo modelo de desenvolvimento. A luta dos seringueiros, com Chico Mendes, propunha a criação de reservas extrativistas, onde a União é a proprietária da terra, mas as populações locais tem o direito de posse, criando assim uma revalorização da natureza. Mas esse conceito original de sustentabilidade foi apropriado pelas políticas neoliberais num sentido diferente, dando uma nova roupagem para o mesmo modelo clássico de desenvolvimento. Assim, surgiu o paradigma da participação na gestão ambiental e social para conciliar os interesses econômicos, ambientais e sociais (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). Abafou-se o confronto e criaram-se novos sistemas regulatórios e institucionais: fóruns, avaliação dos impactos ambientais, diálogo, parcerias, planos de gestão e manejo ambiental, esverdeamento do empresariado, acordos, licenciamento ambiental, medidas compensatórias, etc. Desta maneira “foram deixadas de lado as concepções que preconizavam uma reestruturação profunda da sociedade urbanoindustrial-capitalista, assim como as reivindicações societárias que resistiam (e ainda resistem) a esse modelo de desenvolvimento e clamavam (ainda clamam) o direito de autonomia para decisão sobre o seu próprio destino, configurando propostas de modernidades alternativas” (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). Em 1992 acontece no Rio de Janeiro a Rio-92 ou Eco-92, conferência da ONU sobre Meio Ambiente, 20 anos depois da conferência realizada em Estocolmo. É nesse momento que se constituem muitas entidades e ONGs ambientais no Brasil (igual que aconteceu a nível internacional após a conferência de Estocolmo). No Rio-92 é criada a Agenda 21, um plano de ação a ser implementado no âmbito global, nacional e local para a cooperação no estudo de soluções para os problemas socioambientais. Este documento representa um compromisso importante dos governos, empresas e ONGs, no caminho da construção do novo “paradigma sustentável”. As ações prioritárias da Agenda 21 brasileira são os programas de inclusão social, sustentabilidade urbana e rural, preservação dos recursos naturais e minerais e a ética política para o planejamento rumo ao desenvolvimento sustentável. Nesse contexto os 5 fundos internacionais e nacionais passam a financiar projetos que se encaixem neste novo perfil, levando a governos, empresas e ONGs mudarem suas máscaras, seus discursos, sem mudar suas estruturas, seguindo a mesma lógica do desenvolvimento econômico. Então, os princípios desses projetos de desenvolvimento sustentável se encaixam numa caracterização idealizada, não significando necessariamente a realização destes ideais na prática. É “o novo regime de verdade que procura se estabelecer” (PARESCHI, 2004). Importante refletir aqui sobre a própria noção de projeto como via fundamental para a modificação da realidade social, econômica, política e ambiental, o que foi chamado por Faverweather de projetismo, “para designar uma situação em que o plano é a única sagrada e inviolável realidade” (PARESCHI, 2004). A racionalidade e a limitação dos projetos não correspondem com os princípios idealizados pelo desenvolvimento sustentável, que pressupõem longos e complexos processos, inter-relacionados entre si. Existe então uma grande tensão entre os resultados e os processos. É característica do projetismo uma inflexibilidade burocrática que tenta enquadrar as exigências do projeto na vida cotidiana dos “beneficiários” dos projetos, lembrando que “quem estabelece as regras do jogo, em última instância, são aqueles que financiam a mudança” e que “o projetismo contribui para dinamizar organizações, mas também disciplinar as dinâmicas sociais e políticas que procuram transcender a ordem planejada” (PARESCHI, 2004). É neste projetismo e nesse discurso do desenvolvimento sustentável que se encaixam os projetos para a gestão dos recursos pesqueiros. Parte-se de uma suposta “crise da pesca” (dentro da linha de raciocínio em que foi “inventada” a “crise ecológica”), na qual estaria havendo uma sobre-exploração dos estoques pesqueiros. Segundo a FAO, cerca de 77% dos recursos pesqueiros de todo o mundo encontram-se, hoje, intensamente explorados ou em situação de esgotamento (KALIKOSKI, 2009). A partir dessa visão da realidade, focalizada só na escassez e no “mau” uso dos recursos pesqueiros, e sem questionar o próprio modelo de desenvolvimento econômico, propõe-se como solução “utópica” a mudança de uma gestão centralizada do Estado na regulação do uso dos recursos pesqueiros para uma gestão compartilhada destes. Segundo Berkes e Pomeroy (1997) (KALIKOSKI, 2009), esta nova proposta de gestão “envolve a divisão de responsabilidade e autoridade entre 6 governo e uma comunidade de pescadores locais no manejo das pescarias”. Ainda, para Jentoft (1989) (KALIKOSKI, 2009), a gestão compartilhada é “um caminho entre a regulamentação do governo e o automanejo comunitário”. Assim, o PDJ para a gestão compartilhada dos recursos pesqueiros está inserido dentro desta lógica de projetos sustentáveis com metodologias participativas e de consenso que pertencem ao “novo” paradigma, introduzido “sutilmente” pelas políticas neoliberais que pretendem o estabelecimento e a manutenção de um determinado tipo de mundo sociocultural baseado na lógica capitalista do mercado, em detrimento de outras concepções de mundo, de relações entre os seres humanos e entre estes e a própria natureza. Desde a própria concepção, então, o PDJ já está em questionamento. REFLEXÕES SOBRE A “REALIDADE” DO PDJ Nesse segundo bloco do artigo pretendo reforçar as ideias colocadas no bloco anterior, levantando alguns questionamentos sobre o contexto no qual está inserido o PDJ e sobre alguns aspectos contraditórios de sua própria execução. Quero ressaltar aqui que para a redação deste artigo tive que fazer algumas escolhas de temas centrais para a reflexão, tendo plena consciência que excluo nesta escolha temas interessantes de ser questionados. Ao mesmo tempo, quero também destacar que neste bloco só faço um questionamento superficial dos temas levantados escolhidos, sabendo que cada um deles poderia ser desdobrado em análises mais profundas dentro de novos artigos. Como expus na introdução, os objetivos pilares do PDJ são: “fortalecer a articulação de ações dos pescadores em rede através do Fórum da Pesca”; e “construir uma Instrução Normativa para a pesca na Região do Delta do Jacuí, Lago Guaíba e Norte da Lagoa dos Patos de forma democrática e participativa”. O primeiro foco do projeto é então o Fórum de Pesca, que é um “arranjo não regulamentado com o objetivo de solucionar conflitos decorrentes dos diversos tipos de pesca, atividades turísticas e de gestão territorial” (KALIKOSKI, 2009). O Fórum do Delta, que acontece mensalmente, toda terceira quarta-feira do mês, oficialmente desde junho de 2011, é composto 7 segundo o próprio estatuto por representantes das entidades de pescadores da região (associações, sindicatos, colônias e cooperativas), por representantes de órgãos governamentais direta ou indiretamente relacionados à pesca (Ministério de Pesca e Aquicultura - MPA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMA, Fundação Estadual de Proteção Ambiental - FEPAM, Comando Ambiental da Brigada Militar - CABM, Fundação Zoobotânica - FZB, algumas secretarias dos municípios da região, entre outros), por pescadores artesanais de toda a região, representantes de universidades e pela ONG CAMP. Até o momento da redação deste artigo aconteceram sete reuniões, de junho a dezembro de 2011. O segundo foco do projeto é o Acordo de Pesca, “arranjo que tem o objetivo de definir as regras de acesso e de uso dos recursos pesqueiros numa determinada região, elaboradas pela própria comunidade e demais usuários” (KALIKOSKI, 2009). Para a elaboração dessa Instrução Normativa, o CAMP realiza duas oficinas de sensibilização e uma oficina técnica em cada comunidade, com a ideia de rever as leis da pesca e tirar propostas de mudanças a partir da realidade de cada comunidade. Depois dessas oficinas comunitárias se realizam oficinas intercomunitárias para conseguir chegar a acordos comuns para toda a região. Neste momento já se tem uma proposta de Instrução Normativa intercomunitária proposta conjuntamente por Lami, Itapuã e Varzinha. As oficinas com as comunidades de São Jerônimo, Charqueadas e Santo Amaro estão em processo. A ideia do projeto é que no final de 2012 o Fórum possa debater uma proposta de Instrução Normativa para toda a região a partir das diferentes propostas intercomunitárias, apoiadas pela pesquisa científica realizada por uma universidade. Essa proposta final vai ser mandada para Brasília, para a aprovação oficial por parte do MPA. Para fins do artigo vou analisar alguns aspectos polêmicos do Fórum, fazendo algumas referências pontuais às oficinas para a criação da Instrução Normativa, mas não me centrando na análise critica da metodologia destas oficinas. O processo do Fórum do Delta iniciou fazendo um levantamento das demandas das diferentes comunidades de pescadores da região e dos representantes das entidades governamentais que trabalham com pescadores. 8 Assim, na reunião de julho de 2011 foram elencados os seguintes itens prioritários: piracema, fiscalização, Lei da Pesca, conflitos socioambientais, regularização das embarcações, falta de peixe, copa do mundo, saberes tradicionais e fortalecimento das comunidades. Vou me deter em três destes itens, por serem os mais debatidos no Fórum até o momento e por sua “natureza” polêmica: piracema, fiscalização e conflitos socioambientais. PIRACEMA A piracema é a época de desova dos peixes. Na região que compreende o Delta do Jacuí, o Rio Guaíba e o norte da Lagoa dos Patos, existe a proibição, determinada por portaria do IBAMA, de pescar nos meses de novembro, dezembro e janeiro com o argumento de permitir a desova dos peixes, ou seja, sua reprodução “natural”. Segundo o artículo 1 da Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, “o pescador profissional que exerça sua atividade de forma artesanal, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de parceiros, fará jus ao benefício de seguro-desemprego, no valor de um salário-mínimo mensal, durante o período de defeso de atividade pesqueira para a preservação da espécie”. Desta maneira os pescadores artesanais da região se encontram mergulhados dentro de um processo de burocratização para conseguir as carteirinhas de pescador profissional e para receber o seguro de defeso todo o ano. Devido ao distanciamento entre a realidade cotidiana dos pescadores e a obrigação de enquadramento dentro de esta rígida burocracia, os pescadores acabam, na maioria das vezes, sendo dependentes das colônias e associações, os responsáveis das quais, em alguns casos, terminam usufruindo a posição de poder e tirando proveito pessoal, sem ter em conta que grande número de carteirinhas de pescador profissional atualmente está nas mãos de pescadores amadores, que terminam desfrutando dos recursos públicos destinados a quem tem da pesca sua fonte de subsistência. Estes, a sua vez, reclamam que um salário-mínimo mensal no período de defeso não é suficiente para “manter a família”, e é por isso que muitos continuam pescando ilegalmente nesses meses e /ou pegam “bicos” para completar a renda (sendo que a lei estabelece que pescador profissional não possa ter outra fonte de renda), fazendo com 9 que os órgãos de fiscalização criminalizem os pescadores artesanais, que acabam sendo taxados de “marginais”. Pode-se ver então que este é um exemplo típico do que foi exposto no segundo bloco do artículo, quando o Estado tenta enquadrar autoritariamente as populações residentes (seguindo o conceito de BARRETO, 2006) através da burocracia, para depois criminalizálas quando a realidade destas não se encaixa nas regras externas a elas. É a imposição de um sistema único de viver no mundo, e onde os modos de produção e as formas de organização social não-capitalistas são pouco a pouco destruídos (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009). No Fórum os pescadores artesanais solicitaram a mudança do período de defeso, alegando dois argumentos. O primeiro diz respeito às “invasões” de pescadores do sul da Lagoa dos Patos, que entram no norte da lagoa para pescar enquanto os pescadores da região estão proibidos de realizar tal atividade. Isso é devido a que a época de defeso para a região sul da lagoa (junho, julho e agosto) é diferente que o periodo para a região norte (novembro, dezembro e janeiro). Assim, segundo os pescadores do norte da Lagoa dos Patos, quando abre o período de pesca para eles em fevereiro “já não tem mais peixe, porque os outros pescaram tudo”. Observa-se neste conflito uma estratégia de fragmentação dos pescadores por parte do Estado e, por tanto, de aumento da vulnerabilidade destes, a partir da criação “irracional” de fronteiras políticas na Lagoa dos Patos. No sul da lagoa faz 15 anos que existe o Fórum de Pesca, através do qual foi mudado o período da piracema para os meses de inverno. Sendo que os peixes principais a serem protegidos pela proibição da pesca seriam os de água salgada que sobem a Lagoa dos Patos e o Rio Guaíba acima, especialmente o bagre e a tainha, e tendo em conta que estes peixes não seguem uma divisão política do território para o processo natural da desova, é completamente contraditório, por não dizer “absurdo”, existir dois períodos diferentes de proibição da pesca para os mesmos peixes na mesma lagoa. Os conflitos gerados a partir disso entre os pescadores de uma região e outra fazem com que fiquem emascaradas as raízes de tais conflitos e que o “inimigo” passe a ser o pescador “do outro lado”. E ainda, o discurso da gestão compartilhada culpabiliza os próprios pescadores do norte da lagoa por sua situação desvantajosa, argumentando como única causa a 10 ausência de organização e mobilização destes em espaços como o fórum para debater e solucionar “seus próprios” problemas. O segundo argumento para a mudança da época de defeso é que esta não corresponde necessariamente à real piracema dos peixes. Importante lembrar aqui que o estabelecimento dos meses de proibição da pesca foi decidido pelo Estado, sem ter em conta os saberes tradicionais dos pescadores. Encontra-se aqui outro exemplo claro, como estava sendo relatado no caso do processo de burocratização, de mudança de um sistema regido por regras costumeiras, onde os pescadores têm seus próprios modos de protegerem a desova dos peixes através dos saberes tradicionais transmitidos pela oralidade, para um sistema controlado por regulamentações governamentais (SILVA, 2011). Por último, os pescadores levantaram uma questão bem polémica respeito à piracema. Por que eles são proibidos de pescar durante a época de desova dos peixes enquanto as dragas das mineradoras continuam destruindo milhares de ovos de peixes todos os dias? Por que eles não são obrigados também a respeitar a piracema? E os empresários pescadores, sem carteirinha profissional, que ocupam áreas do rio com sacos de cereais para cevar os peixes e pescar na época de piracema, por que eles não são proibidos também de pescar durante a desova dos peixes? Observa-se aqui uma grave distribuição desigual, em dimensões sociológicas, das leis impostas pelo Estado, que seguem a lógica do mercado. Temos aqui então a manutenção desigual e injusta de poderes (ACSELRAD, 2010). Até o momento da redação deste artigo o Fórum só tem ouvido estas reclamações, mas não tem se posicionado politicamente nem tem pensado em estratégias para pressionar mudanças neste âmbito. Fica em aberto a análise deste processo para possíveis pesquisas posteriores. A pergunta que fica é: até que ponto as entidades governamentais que pertencem ao Fórum vão querer interferir na lógica econômica da eficiência na produtividade das mineradoras e das empresas, proibindo estas de funcionarem durante a época de piracema? Enquanto à mudança do período de defeso para os pescadores do Delta do Jacuí, Rio Guaíba e norte da Lagoa dos Patos, as propostas de definição da melhor época estão sendo debatidas (e vão continuar sendo debatidas até o final do projeto) nas oficinas técnicas em cada comunidade. Está planejado que 11 no final do projeto as demandas de todas as comunidades sejam levadas e discutidas no Fórum para, por “consenso”, tomar uma decisão “comum” que abrace as diferentes visões de cada comunidade. Mas fica em aberto mais uma questão. Um professor pesquisador da UFRGS comentou numa das reuniões do Fórum que a época de desova dos peixes, por ser um processo biológico extremamente ligado ao clima, tem o dinamismo paralelo às mudanças climáticas, sem contar as influências geradas pela degradação ambiental (como a transformação do leito dos rios pela extração de areia realizada pelas dragas). Segundo esta hipótese, a época da piracema é dinâmica, ou seja, não é rígida no tempo, sofre mudanças ano trás ano. Então, por que definir rigidamente uma época de proibição da pesca para proteção da desova dos peixes se esta segue um dinamismo próprio? Qual seria a eficácia real deste período de defeso? A fala do professor, essencial a meu ver, passou aparentemente despercebida. Até a redação do artigo presente esta observação não apareceu em nenhuma fala do Fórum ou das oficinas técnicas, espaços de tomada de decisões respeito à época da piracema. FISCALIZAÇÃO Os órgãos responsáveis pela fiscalização, tanto na área da pesca como na área ambiental (que termina afetando direta ou indiretamente a própria pesca), são o IBAMA e o CABM. Os pescadores artesanais reclamaram que uma das causas da escassez dos recursos pesqueiros é a falta total de fiscalização na região. Segundo eles, “ninguém cumpre a lei” porque não existe fiscalização, e quando ela existe, é desigual, porque afeta só os “pequenos pescadores infratores” e raramente atinge o setor empresarial e a indústria, sem contar que os membros destes órgãos responsáveis pela fiscalização abusam autoritariamente de seus poderes, tratando os pescadores artesanais de forma pejorativa e agressiva. Segundo a fala dos pescadores artesanais da região, uma boa fiscalização seria a solução para a escassez dos recursos pesqueiros. Observa-se aqui os pescadores entrando numa lógica de raciocínio do próprio modelo de desenvolvimento econômico. O que é questionado não é o próprio sistema. Levantam-se soluções paliativas dentro da estrutura hegemônica. 12 A partir desta demanda surgida no Fórum, os dois órgãos se viram “pressionados” a dar uma resposta sobre a falta de eficiência no seu trabalho. Os discursos foram “amistosos” e personalistas. Tanto o IBAMA como o CABM se posicionaram “do lado dos pescadores”, alegando que “eles fazem o que podem”, mas que o problema está na falta de infraestrutura e de recursos humanos destes órgãos. O CABM chegou a solicitar ao Fórum de Pesca do Delta que pressionasse o governo do Estado para que este repassasse mais recursos econômicos para o comando ambiental fazer uma fiscalização de qualidade. Levanto aqui um questionamento respeito o discurso ambíguo do Estado. Por um lado o Estado faz alianças diretas com os diversos segmentos do capital. Sob o argumento de estímulo ao crescimento econômico para a geração de emprego, e sob a chantagem da deslocalização das corporações, o Estado facilita as demandas territoriais destas através da “isenção de taxas e impostos ou disponibilizando terras públicas/devolutas para o setor privado” (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010), além da flexibilização no licenciamento ambiental, através das medidas compensatórias, entre outras estratégias. Assim, o Estado, através da implementação de “políticas conservacionistas autocráticas”, acaba acirrando os conflitos socioambientais (ZHOURI E LASCHEFSKI, 2010). Mas por outro lado, o próprio Estado cria uma retórica discursiva, se posicionando ao lado das populações atingidas, neste caso, os pescadores artesanais. Isso gera um obscurecimento da raiz dos conflitos socioambientais e, consequentemente, uma desmobilização das populações, que acabam enxergando o Estado como único responsável por defender seus direitos. Nesta ambiguidade discursiva, então, o Estado despolitiza as populações residentes e continua mantendo assim a distribuição de poderes. CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS Um número alto e dinâmico de conflitos socioambientais foi (e continua) sendo denunciado pelos pescadores artesanais nas reuniões do Fórum, durante as oficinas de sensibilização e as oficinas técnicas e em conversas informais com os próprios membros do CAMP. Estes conflitos socioambientais envolvem mineradoras, arrozeiros, barragens, agrotóxicos, resíduos industriais, 13 esgoto doméstico (sem tratamento), molinetes e pesca esportiva, turismo aquático (jet ski principalmente), “invasões” de pescadores do sul da Lagoa dos Patos (especialmente em época de piracema), mexilhão dourado, poluição do rio durante as enchentes por resíduos coletados por catadores de material reciclado das ilhas, introdução de peixes exóticos (como a carpa) e pesca predatória, entre outros. Geralmente as falas dos pescadores ao redor destes conflitos envolvem um descrédito total em relação a possíveis resoluções, devido em parte à ameaça e perseguição (por parte dos “causantes” do conflito) que alguns deles sofreram por terem tentado dar visibilidade a estes conflitos, e em parte pelas continuas promessas vazias feitas pelo Estado. Atualmente muitos dos pescadores evitam o confronto. Existem casos de cooptação por parte de algumas empresas. Este é o caso de uma mineradora que “conseguiu o silencio” dos pescadores da região através da distribuição anual de cestas básicas no período de defeso para os pescadores que participam da limpeza do rio, recoletando toneladas de lixo com suas embarcações. Além da “simpatia” dos pescadores, a empresa ganhou visibilidade e reconhecimento por sua “responsabilidade sustentável com o meio ambiente”. Este é um exemplo “ótimo” para exemplificar a lógica do desenvolvimento sustentável. Para a resolução destes conflitos socioambientais, o Fórum segue uma linha de diálogo, negociação e consenso. O primeiro passo é dialogar com os órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental, principalmente a SEMA e a FEPAM. Esses órgãos tem assento no Fórum de Pesca do Delta, pelo próprio estatuto deste, mas, mesmo sendo convidados em todas as reuniões, não compareceram. Foram mandadas cartas solicitando presença especial no Fórum para responder algumas demandas sobre licenciamento ambiental que os pescadores tinham levantado, mas não teve resposta. Ante esta situação, numa das reuniões foram listadas uma série de estratégias para assegurar que estas entidades participassem do Fórum e assim dessem detalhes sobre o licenciamento ambiental. Todas as estratégias tinham um caráter de diálogo, desde a proposta de mandar carta até a ideia de solicitar uma reunião da coordenação do Fórum com a secretária da SEMA. Mas um pescador, que pertence a um sindicato de pescadores da região, levantou a proposta de mobilizar os pescadores para fazer uma manifestação em prol do objetivo de 14 pressionar a SEMA e a FEPAM a escutarem as demandas sobre licenciamento ambiental elencadas no Fórum. As aparentes caras de “pavor” e o “esquecimento” da fala deste pescador (quando foram escritas por ordem de prioridade as estratégias a seguir, e não foi registrada esta proposta até eu solicitar) mostraram que o Fórum segue a lógica do diálogo e não do confronto. Na reunião com um alto representante da SEMA que se realizou no mês posterior, ficou claro o posicionamento da entidade estadual responsável pelo licenciamento ambiental. Após ouvir todas as demandas e questionamentos, o representante ressaltou a importância do peixe na alimentação e sugeriu como solução ao problema da escassez dos recursos pesqueiros a criação de fazendas com tanques, seguindo assim a lógica da eficiência da produtividade capitalista e deixando de lado o modo de viver e ver o mundo por parte dos pescadores artesanais, além de evitar entrar no debate do licenciamento ambiental. Para a criação em tanques, o representante da SEMA sugeriu ao pescador presente na reunião, e membro da coordenação do Fórum, a elaboração de um projeto para a solicitação de recursos econômicos, colocando a SEMA em total parceria para apoiar este tipo de iniciativas. Nesta fala então, surge de novo o “desejo sutil” do Estado de enquadrar os modos de vida não-capitalistas dentro do modelo de desenvolvimento econômico, revestido de sustentável, através da burocratização dos projetos como única via de solução dos “seus” problemas. Desta maneira, e seguindo um “jogo de cintura”, o Estado evita o centro do debate sobre os conflitos ambientais. Fica mais um questionamento em aberto para futuras pesquisas: a análise detalhada do processo de negociação dos conflitos socioambientais, do discurso e ações dos diferentes órgãos do Estado em cada momento, das estratégias de resolução do próprio Fórum e do envolvimento dos pescadores neste processo. Mas desde já posso me arriscar a prever, a partir da linha de pensamento dos autores que alimentam este artigo, que “entrar na arena do jogo” da negociação sobre os conflitos ambientais tem um só destino, a inserção total dos pescadores artesanais na lógica do modelo desenvolvimentista de produção e reprodução do modo de vida sociocultural hegemônico. 15 (IN)CONCLUSÕES A gestão compartilhada dos recursos pesqueiros forma parte das metodologias participativas e de consenso do paradigma do desenvolvimento sustentável que surge, a partir das políticas neoliberais, como novo modelo a seguir para conciliar os interesses econômicos, ambientais e sociais. O discurso oficial da sustentabilidade, alimentado pela “invenção” do meio ambiente como problemática social relevante, mostra a “receita sagrada e inquestionável” a seguir como único caminho viável para sair da chamada “crise ambiental” globalizada, através da modernização ecológica, baseada nas tecnologias limpas e na lógica do consenso. Ou seja, cria-se um problema, graças a um discurso que sobrevaloriza o chamado campo ambiental, para expor (impor) a solução: a inserção global de todas as populações nos princípios da sustentabilidade. Este novo paradigma, longe de propor uma reestruturação real do modo de produção, emascara a preservação da distribuição de poderes sob o rótulo da ética sustentável. É assim como o novo modelo destrói, autoritária mas sutilmente, todas as possibilidades diferentes de se viver e se pensar no mundo. É a universalização do pensamento e da vida. O Projeto Delta do Jacuí: gestão integrada dos recursos pesqueiros, seguindo esta lógica da metodologia participativa e do consenso da gestão compartilhada dos recursos pesqueiros, através do Fórum de Pesca e dos Acordos de Pesca, serve como ferramenta ao novo paradigma da sustentabilidade para moldar “delicadamente” os pescadores artesanais do Delta do Jacuí, Rio Guaíba e norte da Lagoa dos Patos no modelo sociocultural que segue a lógica do desenvolvimento econômico. O Estado, se utilizando de um discurso altamente ambíguo, ora criminalizando os pescadores ora ajudando-os, abre uma arena de diálogo que leva os pescadores, entrando no jogo, a pôr seus modos de vida em risco. Fazendo isto, o Estado termina desviando o foco da raiz dos conflitos socioambientais, ajudando na manutenção dos poderes do setor privado. Sem entrar na arena do jogo do debate e do consenso e, por tanto, longe da participação em projetos como o Projeto Delta do Jacuí, 16 desnaturalizando os conflitos socioambientais e, por tanto, se politizando e se apropriando da ambientalização destes conflitos como ferramenta para se juntarem com outros setores da sociedade também atingidos, os pescadores artesanais tem a possibilidade de manter o reconhecimento e o respeito de seus modos de viver no mundo. Fica em aberto para mim a partir deste momento, na dialética da vida, a reflexão crítica do meu papel como educadora social comprometida com os pescadores artesanais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos ambientais no Brasil. Capítulo As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais (pág. 13-35). Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004. ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecília; BEZERRA, Gustavo. O que é justiça ambiental. 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