BREVE CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE ATER NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA/RS [email protected] APRESENTACAO ORAL-Agricultura Familiar e Ruralidade CLEIA DOS SANTOS MORAES; JOSE GERALDO WIZNIEWSKY; CARMEN SCHERER POERSCHKE. UFSM, SANTA MARIA - RS - BRASIL. BREVE CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE ATER NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA/RS Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade Resumo A assistência técnica e extensão rural - ATER no Brasil já é executada há mais de 60 anos, com um caráter preponderante de ser pública para os agricultores do país. O grande avanço na atualidade da extensão rural brasileira é a aprovação da Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, a lei número 12.188/10. Nesse sentido, o presente trabalho pretende apresentar um pouco o perfil da assistência técnica no município de Santa Rosa/RS, onde foi realizado um estudo de realidade rural durante o período de 2007 até 2009, através de diálogos semi-estruturados com os agricultores familiares do município com metodologia que uniu ensino, pesquisa e extensão. No município de Santa Rosa/RS são quatro tipos principais de prestadoras de serviços de assistência técnica apontadas pelos agricultores familiares, EMATER, Prefeitura, Cooperativa e Prestadora Privada e o que se pode perceber dos serviços, através das declarações dos agricultores familiares e das observações é que existe a necessidade de maior interação entre a ATER e demais políticas públicas com as realidades das diferentes regiões do país e entre elas, para que os serviços, projetos e programas possam ser melhor desenvolvidos. Nesse sentido, o município de Santa Rosa/RS teve uma importante iniciativa buscando uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, a UFSM, para a realização de um Estudo de Realidade Rural que auxilie nas ações de ATER tornando-as adequadas e efetivas para o meio rural do município. Palavras-chaves: ATER, política pública, agricultura familiar. Abstract Technical assistance and rural extension – ATER in Brazil already runs for over 60 years with a predominant character being public for the farmers in the country. The breakthrough in actuality of rural extension in Brazil is the approval of the law of technical assistance and rural extension, law number 12.188/10. Accordingly, the present work aims to present something about profile of technical assistance in Santa Rosa/RS where a study of rural reality during the period 2007 to 2009 through a semi-structured dialogues with the farmers of the municipality with methodology that united teaching, research and extension. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural In Santa Rosa/RS are four main types of providers of technical assistance identified by the farmers, EMATER, municipal and private provider and what services can be seen, through the statements of family farmers and the observations is that there is a need greater interaction between ATER and other public policies with the realities of different regions of the country and between them, so that services, projects and programs can be better developed. In this way, Santa Rosa/RS has a major initiative seeking a education, teaching institution, research and extension, UFSM, to realize a Study of Rural Reality to assist in the actions of ATER making them suitable effective for rural areas in municipality. Key Words: ATER, public policies, family farming. INTRODUÇÃO A assistência técnica e extensão rural - ATER no Brasil já é executada há mais de 60 anos, com um caráter preponderante de ser pública para os agricultores do país, embora nos seus primórdios fora financiada com capital privado, anos 1940, e paulatinamente foi incorporada pelo setor público. A trajetória que a extensão rural brasileira atravessou também esteve sempre contextualizada com os momentos políticos, históricos, econômicos, sociais e ambientais do país. Acerca desse histórico da extensão rural existe vasta literatura que descreve e discute os momentos pelos quais a assistência técnica e extensão rural passou. Na atualidade a discussão sobre a assistência técnica está voltada ao meio ambiente, aos públicos prioritários e, principalmente sobre a pluralidade na prestação de assistência técnica e extensão rural. O grande avanço na atualidade da extensão rural brasileira é a aprovação da Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, a lei número 12.188/10. A Lei Nº. 12.188 sancionada pelo governo federal em 11 de janeiro de 2010, que institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, trata da questão da diferenciação da assistência técnica para públicos diferenciados, dos instrumentos jurídicos que podem ser adotados pelo poder públicos a fim de viabilizar a assistência técnica e extensão rural para os públicos prioritários da lei, bem como das linhas norteadoras e orientadoras da prestação de serviços, as práticas e projetos que são de responsabilidade da ATER, bem como públicos prioritários da ATER pública. Assim a ATER, é uma das mais políticas públicas para os agricultores no país, pois é ela o instrumento capaz de auxiliar e de promover as demais políticas públicas existentes, como do financiamento rural, por exemplo. Além disso, a ATER é responsável por levar aos agricultores informações relevantes para a melhoria e diversificação de sua produção, tecnologias que possam lhes proporcionar maiores condições de trabalho e que possam garantir melhorias na qualidade de vida, desenvolver projetos e programas que objetivem a melhoria da propriedade, das condições de vida na propriedade, da educação para o agricultor e sua família, para uma adequada segurança alimentar, para uma produção mais saudável e com menor impacto ambiental, todos confluindo para o desenvolvimento rural sustentável. Em todo o mundo, os serviços de assistência técnica e extensão rural (ATER) têm sido o principal instrumento pelo qual as políticas agrícolas e de desenvolvimento rural são postas em prática. Não importa quão bem estruturados 2 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural são os serviços de ATER, a eficácia de suas ações só pode ser avaliada analisando-se também o conjunto de políticas no qual a ATER está inserida. Por outro lado, uma boa parte de políticas como crédito, apoio à comercialização ou de estímulo à diversificação das economias rurais fica seriamente comprometida quando os serviços de ATER são fracos (RELATORIO PERFIL DA ASSISTENICA TECNICA NA REGIAO SUL DO BRASIL, 2008, p.09). Toda a discussão apresentada acerca da importância e do papel da ATER enquanto política pública voltada ao meio rural e aos agricultores e demais públicos que trabalham com recursos naturais mostram a relevância de estudos que possam auxiliar na organização e planejamento de ações de ATER que possam promover o desenvolvimento rural sustentável. No Brasil a ATER é prioritariamente pública para aqueles públicos indicados na lei, muito embora exista uma pluralidade de prestadores desse serviço e de modalidades de execução. Levando em consideração as colocações e o trabalho realizado pelo Grupo de Pesquisas Extensão Rural Aplicada do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria, do qual a autora desse trabalho é integrante, o presente trabalho pretende apresentar um pouco o perfil da assistência técnica no município de Santa Rosa – RS, onde foi realizado pelo referido grupo de pesquisa um estudo de realidade rural durante o período de 2007 até 2009. Este trabalho pretende apresentar algumas caracterizações da assistência técnica e extensão rural no município, buscando elaborar algumas inferências acerca dessa política pública e sua relevância para os agricultores do município. METODOLOGIA O trabalho aqui apresentado é parte de um Estudo de Realidade Rural realizado no município de Santa Rosa – RS. Esse trabalho foi desenvolvido através de um convênio entre a Prefeitura Municipal e a Universidade Federal de Santa Maria. O executor do Estudo de Realidade Rural foi o Grupo de Pesquisas Extensão Rural Aplicada do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural do Depto. de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM. Fundado em 2007 por professores e estudantes ligados ao Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural – DEAER/ UFSM, o grupo “Extensão Rural Aplicada”, trabalha com projetos de desenvolvimento rural utilizando métodos participativos de pesquisa, ensino e extensão universitária. Estes projetos são desenvolvidos com o intuito de contribuir com o desenvolvimento local e sustentável em comunidades, visando o estudo e compreensão de realidades rurais. A metodologia proposta para o estudo de realidade rural assenta-se em princípios teóricos que orientam a abordagem e os procedimentos de pesquisa, o processo educativo e a ação social presentes em todas as etapas da aplicação do método. Como primeiro pressuposto, o estudo fundamenta-se na teoria da ação social, ou seja, a realidade é resultado da ação social, assim como a ação social é condicionada pela realidade. À partir 3 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural desse pressuposto, a realidade só pode ser entendida pela compreensão do sentido da ação dos agentes na ação social, que se realiza em uma realidade concreta. A metodologia também considerou a comunicação como uma forma de ação social. Tendo como base a teoria da ação comunicativa, tem-se em mente que a subjetivação e a expressão das representações e crenças sociais são fundamentais na reprodução e transformação da realidade. O método proposto também considera que a ação coletiva, enquanto mobilização de recursos e mobilização política constitui principal força propulsora da transformação social e, nesse sentido, o trabalho de pesquisa é também um trabalho de educação popular e transformação pela ação social de agentes. Nesse sentido, a realidade foi abordada à partir da compreensão do sentido da ação dos agentes envolvidos, os procedimentos de pesquisa consideram a ação comunicativa como parte integrante da ação social e a transformação da realidade só pode ser obtida pela mobilização de recursos e mobilização política na ação coletiva. Parte da metodologia aplicada para o Estudo de Realidade Rural foi resultante no trabalho aqui apresentado. Essa metodologia constou de um levantamento à campo através de diálogo semi-estruturado e uma reunião com os moradores das localidades investigadas para a validação dos dados coletados, identificação e priorização dos problemas enfrentados. É importante ressaltar, que os resultados aqui apresentados são baseados nas informações coletadas através de diálogos semi-estruturados com os agricultores do município e, portanto, representam as observações e as declarações fornecidas por eles. Esse é um aspecto interessante dessa metodologia, onde a realidade rural é interpretada através do diálogo com os sujeitos, levando em consideração suas ações esclarecidas e interpretadas por eles próprios. COLETA DE DADOS A coleta de dados foi realizada através de um instrumento que foi denominado de diálogo semi-estruturado. Esse diálogo foi aplicado por estudantes de graduação dos cursos de Ciências Rurais da UFSM que estavam cursando a disciplina de Extensão Rural, Extensão e Desenvolvimento Rural e Extensão e Comunicação Rural, após uma preparação para tal atividade. Uma vez que a aplicação dessa técnica de pesquisa implica o conhecimento da abordagem participativa e do enfoque sistêmico em extensão rural e abarca o domínio de inúmeras variáveis de caráter objetivo ou subjetivo, a qualificação dos estudantes para a coleta de dados incluía os princípios metodológicos em extensão rural e a familiarização com as variáveis e unidades de medidas nas quatro dimensões pesquisadas, de modo que pesquisa-ensino e extensão puderam ser trabalhadas sem maiores dificuldades durante o Estudo de Realidade Rural. As visitas para a coleta de dados buscaram eleger famílias de agricultores de maneira aleatória, e durante os três anos de estudos, a distribuição das famílias que participaram do Estudo de Realidade Rural foi bastante representativa do meio rural do município de Santa Rosa – RS, conforme pode ser observado na figura 1 que apresenta a posição georreferenciada das 264 propriedades de agricultura familiar visitadas para a realização do estudo e, cujos dados deram origem a este trabalho. 4 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Figura 1. Distribuição das propriedades amostradas para o Estudo de Realidade Rural no Município de Santa Rosa O roteiro de coleta de dados utilizado foi subdividido em quatro dimensões de estudo: a) identidade das famílias; b) sistemas de produção agropecuária; c) aspectos agroecológicos da propriedade e d) dados sociais das famílias, sendo que cada bloco consistiu em questões abertas e fechadas, elaboradas visando estruturar um diálogo a ser mantido com o entrevistado durante a coleta dos dados. Através das informações coletadas foi realizado um relatório individual de cada propriedade, bem como um banco de dados contendo aproximadamente 300 variáveis para cada propriedade. Os estudantes foram divididos em duplas e realizavam as entrevistas em diferentes propriedades. A divisão em duplas foi realizada levando em consideração a facilitação do processo de diálogo e as anotações necessárias para o levantamento dos dados. Então, em cada propriedade, já que cada dupla de estudantes visitou e entrevistou duas propriedades, um dos integrantes da dupla conversava com o agricultor enquanto o outro integrante fazia 5 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural as anotações necessárias e pertinentes, bem como o registro fotográfico. Sendo assim, os registros das entrevistas foram realizados com o uso de anotações de campo e máquina fotográfica, sem o uso de gravador. Figura 2. Diálogo semi-estruturado aplicado pelos estudantes em propriedade na Linha das Flores (2007) A seleção das propriedades era feita de maneira aleatória, levando em consideração a distância e as diferenças entre as propriedades, buscando sempre a cobertura mais ampla e representativa possível. Cada propriedade visitada era georreferenciada através de um ponto em GPS, a fim de realizar a espacialização dos dados durante a análise das informações. Tendo em vista que as informações aqui apresentadas foram baseadas principalmente em observações e nas declarações dos agricultores e, levando em consideração que para se conhecer uma realidade o ponto essencial é justamente reportarse para os agentes de tal realidade, foi necessário que os dados levantados fossem validados pelas comunidades investigadas, para tanto foram realizadas reuniões com os agricultores familiares que tivessem ou não participado do diálogo semi-estruturado. Tais reuniões eram dividas em duas etapas: a apresentação dos dados coletados e discussão deles com os moradores da localidade, etapa que gerou bastante discussão acerca de dados que foram revistos pela equipe da UFSM de maneira a contemplar as colocações coletivas que eram feitas durante as reuniões com os agricultores e a segunda etapa que constava do levantamento, junto aos agricultores, dos principais problemas enfrentados por eles. A análise dos dados coletados e das observações realizadas foi realizada pela equipe interdisciplinar do grupo de pesquisas. Para a análise dos dados levantados, foram utilizados softwares específicos para a análise quantitativa e qualitativa de dados sociais. A tabulação e análise dos dados incluiu, ainda, o estudo fotográfico, a confecção de mapas, gráficos e ilustrações, além da análise estatística descritiva, baseada principalmente na análise das freqüências, médias e algumas correlações entre variáveis. O MUNICÍPIO DE SANTA ROSA - RS 6 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A história do município de Santa Rosa/RS, desde a sua colonização é voltada à produção da soja, como ilustra os principais eventos que ocorrem na região como a Feira Nacional Soja – FENASOJA e a presença do Memorial da Soja, bem como do Museu da Soja. A imigração se dá principalmente pela colonização alemã seguida da imigração italiana para a região. A religiosidade é um fator marcante nas comunidades rurais, pois pode ser observada em cada localidade uma igreja e a presença da comunidade nestas e torna-se um fator de agregação dessas localidades e famílias. Apesar de a população estimada do município ser de 66.059 habitantes, destes, apenas 12,3% encontra-se no meio rural. Em termos de produção agropecuária, os principais produtos da região como lavouras temporárias são a soja, trigo e o milho, contribuindo de forma significante para a economia do município. Para a pecuária o rebanho bovino, principalmente o gado leiteiro é outro fator que impulsiona a economia da região. Já as lavouras classificadas como permanentes têm como culturas expressivas limão, tangerina, pêssego e a uva que possuem potencial de exploração. O que se pode perceber da breve apresentação feita sobre a caracterização do município de Santa Rosa é que ele se baseia no cultivo da soja enquanto produto rural e é uma commoditie e como tal se caracteriza por não possuir preços atrativos no mercado, pois não existe valor agregado nesse produto. Além disso, em função de a produção de soja ser sua principal atividade agrícola, a caracterização de uma produção de monocultivo também acaba trazendo malefícios ao município em termos de inserção no mercado e em termos ambientais. PRINCIPAIS RESULTADOS ACERCA DA ASSISTÊNCIA EXTENSÃO RURAL NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA - RS TÉCNICA E A ATER proporciona não somente acesso aos auxílios financeiros, como também tecnologias específicas para a produção, mas também atenção ao aspecto social para das famílias de agricultores e conforme descrito na Lei precisa atingir todos os agricultores familiares, quilombolas, pescadores artesanais, indígenas, assentados da reforma agrária e demais públicos prioritários da ATER pública. Contudo, a assistência técnica agropecuária é oferecida por outros órgãos como cooperativas, empresas privadas e ONG’s. No município de Santa Rosa – RS são quatro tipos principais de prestadoras de serviços de assistência técnica apontadas pelos agricultores familiares durante o diálogo semi-estruturado e eles estão apresentados no gráfico 1. Esse gráfico apresenta, segundo a declaração dos agricultores, quais são as instituições prestadoras de ATER que lhes assistiam naquele momento. É importante ressaltar que os dados podem apresentar sobreposição, ou seja, uma mesma família pode receber assistência técnica de mais de uma fonte. A assistência privada nesse caso foi considerada como aquela fornecida por instituições privadas, excetuando-se as cooperativas que foram consideradas em categoria diferenciada. 7 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Gráfico 1. Acesso à assistência técnica, segundo as declarações dos agricultores pesquisados no município de Santa Rosa/RS Pode-se perceber que a maioria dos agricultores familiares visitados durante o Estudo de Realidade Rural declarou receber assistência técnica e extensão rural da prefeitura municipal, através dos projetos por ela executados e pelo auxílio que ela fornece no acesso às políticas públicas para o meio rural do município. Muito embora a Prefeitura Municipal não se declare como prestadora de assistência técnica e extensão rural, segundo a definição desse serviço na legislação, ela se torna também uma prestadora desse serviço através de sua Secretaria de Agropecuária. O dado aqui apresentado também se encontra em consonância com a literatura onde um levantamento realizado pelo MDA, FAO com a finalidade de investigar o perfil da assistência técnica e extensão rural no Brasil, onde as prefeituras são apontadas como uma das categorias mais significativas em termos de instituições desse gênero na Região Sul do Brasil. A segunda prestadora mais apontada pelos agricultores foi a EMATER – Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural – Empresa pública de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado do Rio Grande do Sul. A EMATER possui grande experiência como prestadora desse serviço, pois atua no RS desde 1955, ou seja, foi a primeira instituição de ATER no RS e no Brasil, sob a denominação de Associação Sulina de Crédito de Assistência Rural – ASCAR, no RS. Também é citada a assistência técnica das cooperativas, por 13,7% dos agricultores, embora aproximadamente 95% deles sejam cooperativados em alguma cooperativa de produção do município. Também a assistência técnica privada foi citada pelos agricultores familiares que participaram do dialogo semi-estruturado, em torno de 17% dos casos. Pode-se inferir que existem agricultores familiares, no município de Santa Rosa – RS que não estão tendo o adequado acesso à assistência técnica e extensão rural, de modo que precisam recorrer a essa assistência de fonte particular. O perfil da assistência técnica no RS, apontado em documento para discussão sobre pesquisa realizada pelo MDA e FAO, mostra que a assistência técnica de fonte particular é de comum ocorrência onde existem agricultores em atividades que exijam a integração com empresas privadas como o cultivo do fumo ou a produção de suínos e aves. Esse tipo de produção no município de Santa 8 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Rosa – RS não é comum, embora existam alguns agricultores integrados com empresas de produção de soja e de suínos. Ao analisarmos os dados acima apresentados e comentados, percebemos claramente uma necessidade de maior ênfase na política pública de ATER, já que ela é uma das principais responsáveis pela viabilização entre os agricultores familiares e demais públicos prioritários, perante a lei, das demais políticas públicas voltadas ao meio rural e suas atividades. Dentre as principais ações realizadas pela ATER pública, através da empresa de assistência técnica e extensão rural, especificamente no Estado do Rio Grande do Sul, pode-se citar, conforme o relatório de atividades da EMATER no ano de 2008: qualificação profissional, juventude rural, turismo rural, gestão ambiental, conservação de solo e água, irrigação e usos múltiplos da água, agroenergia, fruticultura, certificação e rastreabilidade, segurança e soberania alimentar, saneamento básico e ambiental, geração de emprego e renda, políticas públicas para mulheres, idosos e públicos especiais (EMATER – ASCAR, 2008). Tendo em vista os eixos prioritários da extensão rural pública, acima citados fica clara a necessidade de um forte incentivo governamental para essa política pública no município de Santa Rosa – RS, de maneira que ela tenha condições de atender a todos seus pressupostos de maneira adequada e eficiente. Ao relacionarmos dados referentes ao acesso à assistência técnica por parte dos agricultores familiares e a renda total anual média das famílias, podemos perceber que a assistência técnica pública é voltada para aqueles agricultores de mais baixa renda, embora eles sejam também os que mais recebem assistência técnica de fonte privada, conforme pode ser observado no gráfico 3. É interessante ressaltar que os dados desse gráfico consideraram assistência pública aquela provenientes da prefeitura municipal e da EMATER e como assistência técnica e extensão rural privada aquela proveniente de fontes privadas, conforme apresentada anteriormente, juntamente com a proveniente das cooperativas. 9 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 25 21 20 15 15 10 9 9 10 9 8 5 3 4 3 1 3 4 2 5 3 0 3 0 0 1 4 0 0 0 ATER PÚBLICA ATER PRIVADA NÃO RECEBE até R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 até R$10.000,00 R$10.000,00 até R$20.000,00 R$ 20.000,00 até R$ 50.000,00 R$50.000,00 atéR$160.000,00 Mais de R$160.000,00 NÃO RESPONDEU Gráfico 2. Origem da assistência técnica e extensão rural de acordo com as faixas de renda, segundo declarações dos agricultores familiares. É importante ressaltar que dos 264 agricultores que participaram do diálogo semiestruturado durante a realização do estudo de realidade rural, apenas 13 não declararam nada sobre a assistência técnica. Das 1101 famílias de agricultores que declararam sua renda anual total apenas 53 famílias declararam receber assistência técnica de origem pública e 20 famílias declararam receber assistência técnica de origem privada. O que se percebe é que não existe relação entre a renda das famílias e a assistência técnica, ou seja, ela está alcançando, efetivamente, seu público prioritário2. Contudo, 31 dos 110 agricultores declararam que não recebem nenhum tipo de assistência técnica e extensão rural, esse valor nos remete a necessidade de que a política pública de ATER seja observada em suas principais dificuldades para que sejam atendidas as famílias de agricultores. Conforme a Lei 12.188, sancionada no ano de 2010, é garantida prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural para os públicos prioritários apontados por essa lei. Embora a lei tenha sido sancionada somente no início de 2010, a extensão rural e 1 Os dados aqui apresentados podem conter sobreposição, ou seja, uma família pode receber assistência técnica e extensão rural de mais de uma instituição, então, com origem privada e pública. 2 A definição de agricultor familiar, segundo a lei 11.326/06 que estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, não tem relação direta com a renda da família, os principais critérios que definem a agricultura familiar são: o tamanho da propriedade rural, no máximo quatro módulos fiscais, mão-de-obra predominantemente familiar e tenha a renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento e que o empreendimento ou estabelecimento seja administrado pelo agricultor e sua família. 10 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural assistência técnica pública já existe, no RS, conforme mencionado anteriormente desde 1955 e ela sempre teve como objetivo atender todos seus públicos prioritários. Um exemplo relativamente simples, contudo que ilustra bem o acesso dos agricultores à ATER, bem como a eficácia dos serviços prestados é a questão da diversificação das atividades desenvolvidas pelos agricultores familiares e demais públicos da ATER em suas propriedades rurais. Uma questão bastante destacada nos planos de ação da extensão rural, que é a diversificação de produção rural, no município de Santa Rosa – RS é ainda bastante incipiente esta temática, pois se observa receio por parte dos agricultores de mudarem sua base produtiva. No município de Santa Rosa – RS, a monocultura de soja tem raízes históricas, pois o município é conhecido como o “berço da soja”, já que as primeiras sementes da planta no RS vieram para esse município, trazidas por um pastor de etnia alemã, maioria da formação do município. Levando em conta essa questão histórica e cultural dos agricultores do município, é de se esperar que não haja diversificação nas fontes de renda dos agricultores o que aumenta sua instabilidade financeira. Um dos maiores obstáculos à produção agrícola sempre foi o clima que pode trazer aos agricultores sérios prejuízos financeiros, fazendo, muitas vezes, com que ele perca todo o recurso investido em uma determinada atividade. Nesse sentido, existem políticas públicas que visam auxiliar esses agricultores quando ocorrem esses fenômenos climáticos prejudiciais às atividades rurais. Contudo, nem sempre os subsídios oferecidos pelo governo são suficientes para a re-organização das condições financeiras das famílias rurais que passam por esse tipo de problema. É nesse sentido que a diversificação na produção é tão incentivada na agricultura. Esse serviço de auxiliar os agricultores no acesso a tais políticas, bem como do incentivo à diversificação é da alçada da ATER, de modo que, se pode perceber, novamente a relevância dessa política pública nas famílias de agricultores e em suas condições de produção e de condições de vida que serão alcançadas através, também, dos modelos produtivos por ela adotados. Como já foi comentado, no município de Santa Rosa – RS, a produção agrícola é baseada fortemente no cultivo da soja o que já demonstra uma baixa diversificação na produção. A outra principal atividade, que divide espaço com o cultivo da soja no município, é a produção leiteira, que em algumas localidades alcança valores superiores à produção da soja. Mesmo com base produtiva nesses dois produtos, a insegurança monetária dos agricultores ainda é bastante expressiva, pois assim como a cultura da soja, a produção leiteira também depende fortemente de condições climáticas adequadas e o preço obtido pelo produto final in natura também é um fator desestimulante. Apesar disso, a tradição cultural no município, mais uma vez se mostra como um fator dos mais influentes na tomada de decisão dos agricultores. Existem iniciativas de diversificação de atividades no meio rural do município de Santa Rosa – RS, trabalhadas e incentivadas pelas instituições prestadoras de assistência técnica e extensão rural, dentre as quais a agroindústria merece destaque pelo número de iniciativas. A diversificação das fontes de renda é capaz de proporcionar uma maior 11 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural segurança monetária às famílias e é com esse argumento que a assistência técnica trabalha junto aos agricultores, contudo, a adesão é ainda pequena. No gráfico 3 pode ser observada a origem da principal renda das famílias visitadas no município quando da realização do estudo de realidade rural. Os dados das famílias que responderam a questão acerca da principal fonte de renda da família, estão, apresentados no gráfico 3. Gráfico 3. Principal fonte de renda nas propriedades pesquisadas no município de Santa Rosa/RS Os dados apresentados no gráfico, se referem a média municipal das afirmações dos agricultores familiares sobre a principal fonte de renda da família. De acordo com o gráfico 1 pode-se observar que as principais fontes de renda municipais são a produção de soja e a produção leiteira. Embora exista uma diversificação nessas fontes de renda, levando em consideração que todos os entrevistados tinham algum tipo de produção agropecuário, essa diversificação ainda é muito pequena em relação às principais fontes de renda. A existência de pluriatividade apontada pelo item salários que se refere a salários obtidos de outras formas que não da produção agropecuária, mostra a abertura dos agricultores familiares para a incorporação de outras atividades em suas propriedades. Também existem atividades agroindustriais, iniciativas com a horticultura, o arrendamento, aposentadoria e outras atividades além do leite e da soja. Contudo, pode-se perceber que a diversificação de fontes principais de renda apresentadas ainda não são ideais, pois as atividades ainda estão muito relacionadas com as atividades mais tradicionais e que remetem a uma produção monocultora. Como essa questão é uma das principais bases da ação extensionista, pode-se fazer o questionamento sobre porque é tão difícil promover a diversificação no meio rural do município, que pode ser justificada com a questão cultural anteriormente citada. Entre os técnicos de ATER do município, a justificativa para o impedimento da realização de trabalhos mais efetivos e eficazes com as famílias de agricultores do município é a questão de pessoal. O número de pessoas, segundo os técnicos da empresa 12 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural de ATER pública do município, é insuficiente para que se possa atender de maneira satisfatória e eficiente a todos os públicos do município. O atendimento à políticas muito especificas do governo também é um argumento fortemente utilizado pelos técnicos para o não atendimento de pontos importantes da ATER. Os dados apresentados mostram que a ATER, independente da prestadora, tem obtido resultados satisfatórios no município de Santa Rosa – RS. Contudo, ainda existe muito a ser trabalhado no município. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E REFLEXÕES A ATER no Brasil e no Estado do Rio Grande do Sul, passou por diversas fases que a fizeram modificar seus preceitos, metodologias e público alvo. Obteve muitos avanços em termos de reflexões voltadas a temática do desenvolvimento sustentável. Os marcos dos serviços de extensão rural no país a fizeram partir de um projeto desenvolvimentista para uma atuação de cunho participativo e voltado para as práticas sustentáveis, de maneira que os recursos naturais possam ser utilizados também pelas gerações futuras. Juntamente com essas novas concepções se torna novamente relevante a questão educacional na ATER, questões sociais e ambientais que visem melhorias na qualidade de vida e de trabalho dos agricultores familiares. É nesse contexto de sustentabilidade e de globalização que as prestadoras de assistência técnica e de extensão rural vêm organizando suas atuações junto aos públicos envolvidos com o meio rural. Nessa perspectiva histórica, observa-se melhorias nas condições de trabalho e coerência nas linhas orientadoras das prestadoras de ATER. Contudo, percebe-se em alguns momentos, certa confusão a cerca das ações, para as quais falta uma base teóricofilosófica bem fundamentada. Isso se deve ao fato de que as mudanças nas ações extensionistas ocorreram de maneira prática, seguindo as emergentes necessidades dos agricultores, contudo deixando de lado a realização de uma reflexão filosófica sobre essas ações. Muito dessa omissão de base teórica nas ações extensionistas, pode ser observada na diversidade de ações, algumas vezes desconexas que ocorrem, bem como nas dificuldades e nos desencontros que acontecem entre as percepções dos técnicos de ATER e as políticas públicas com as quais eles devem trabalhar. De maneira que em alguns momentos, os técnicos precisam deixar suas concepções acerca do trabalho de ATER e da necessidade de atuação contextualizada com a realidade dos agricultores de lado para que as demandas das políticas públicas, dos projetos e programas governamentais, geralmente orientados por políticas internacionais possam ser atendidos. É nesse contexto que se ressalta a importância de que existam esforços no sentido de se resgatar a reflexão teórico-filosófica acerca das ações e atividades promovidas pela Assistência Técnica e Extensão Rural. No município de Santa Rosa – RS, essa reflexão tem sido realizada pelos atores envolvidos na ATER, contudo ainda existem dificuldades burocráticas sobre a política pública da ATER, que tornam dificultoso esse processo, bem como, o atendimento adequado e satisfatório aos agricultores familiares e demais públicos por ela atendidos. 13 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural É necessário que haja uma maior interação entre as demais políticas públicas e as realidades das diferentes regiões do país e entre elas, para que os serviços de ATER possam ser melhor desenvolvidos. Nesse sentido, o município de Santa Rosa – RS teve uma importante iniciativa ao buscar uma instituição pública de ensino, pesquisa e extensão, a UFSM, para a realização de um Estudo de Realidade Rural para que se tenham ações de ATER que sejam adequadas e efetivas para o meio rural do município. Embora esse tipo de estudo seja também um serviço realizado pelas prestadoras de ATER, é evidente que esse tipo de integração entre diferentes instituições podem potencializar os resultados almejados. Da mesma forma também é importante ressaltar as dificuldades encontradas pelas prestadoras de ATER para a realização desse tipo de estudo, seja em função de uma pouca experiência nessas ações, ou por falta de contingente pessoal para o atendimento de todas as demandas. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei Federal n. 12.188/10. Institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária – PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária PRONATER. BRASIL. Lei Federal n. 13.326/06. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. CAPORAL, F. R., COSTABEBER, J. A. C. 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Documento para discussão. 14 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural