ID: 54526057 20-06-2014 Tiragem: 4000 Pág: 20 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 24,76 x 12,89 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 Concheiros de Muge Enterramentos precursores da modernidade s concheiros de Muge, em Salvaterra de Magos, é o maior complexo mesolítico da Europa. Este achado descoberto em 1863 corresponde ao período entre 10 mil a cinco mil anos antes de Cristo, e foi alvo de uma visita no passado 10 de Junho por parte dos eleitos locais do município de Salvaterra. A comitiva esteve no Cabeço da Amoreira onde estão enterrados vários cadáveres, e cujas características do local permitiram aferir que já, naquela altura, havia elementos modernos na forma como os serviços fúnebres eram feitos, e uma muito clara estratificação social. “Podemos dizer que este tipo de enterramento é precursor da actualidade do ponto de vista simbólico e cognitivo”, referiu Nuno Bicho, arqueólogo coordenador dos trabalhos, à nossa reportagem. Foi descoberto o cadáver de uma mulher coberta de adornos. Sendo visível o esmero na forma como foi sepultada, a par do ca- O dáver de um homem sem atender a qualquer tipo de cuidado ou rigor no seu sepultamento. De acordo com Nuno Bicho, este tipo de estruturas como as que encontramos em Muge, compostas por vários montículos, só têm paralelo em países do norte da Europa, para além dos concheiros do Sado. Por outro lado, e neste ponto reside também a riqueza arqueológica do local “Foram descobertos aqui perto de 300 esqueletos humanos”, referiu Nuno Bicho. “Isto é único em todo o mundo”, concluiu. O arqueólogo explicou ao Valor Local que o próximo passo da equipa que está no terreno composta por alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento de várias universidades portuguesas, passa por ir mais longe quanto aos pormenores referentes aos enterramentos. O cadáver da mulher que apresentava sinais de pertencer a um grupo social mais elevado foi coberto através da “colocação criteriosa de conchas de berbigão, lambujinha, esturjão, raia, ossos de animais, três escápulas de veado, um fragmento de crânio de cão e alguns pequenos artefactos em pedra”. Os materiais descobertos pela equipa são, normalmente, encaminhados para a Universidade do Algarve e Universidade de Coimbra. Outros saem do país para serem estudados no estrangeiro. A musealização do espólio encontrado é falada desde há vários anos pelo município de Salvaterra de Magos. Sendo que já veio a lume, a possibilidade de se criar num espaço artificial uma espécie de réplica do que se encontrou nos concheiros de Muge, conforme foi falado informalmente durante esta visita entre o presidente da Câmara de Salvaterra, Hélder Esménio, e Nuno Bicho. A escavação em curso, tem um financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, contando com o apoio da Casa Cadaval, em cujos terrenos se situam os concheiros. Nuno Bicho e a sua equipa