Camões, Identidade Nacional Portuguesa Diretoria Cultural do Conselho da Comunidade Lusobrasileira do Maranhão. 10.06.2010 “Se gostas de afetação e pompa de palavras e estilo que chamam culto, não me leias.” Padre Antônio Vieira A cronologia da História Portuguesa nos mostra no século XIX, Carta de Lei de 20 de maio de 1880, declarando 10 de junho – Dia da Festa Nacional; o Decreto-Lei nº 33.596 de 4 de janeiro de 1952 o instituiu Dia de Portugal; em 1977, o Decreto nº 50 de 4 de março de 1978, o Decreto-Lei nº 39-B de 2 de março consagra 10 de junho à tripla comemoração Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no estrangeiro. Não existindo informação da data de nascimento do poeta e sabendo-se que, em 10 de junho de 1580, num hospital do quinhentista bairro lisboeta da Mouraria, falecera o grande LUIZ VAZ DE CAMÕES, o Poeta da Raça, vítima da peste e, segundo Diogo Couto, pobre e abandonado, acompanhado apenas, de sua mãe; seu sepultamento foi custeado pela Companhia de Cortesãos do Mosteiro do Convento de Santana. Dez de junho tornou-se data emblemática, referência da identidade nacional portuguesa. Camões nutria tanto amor pela Pátria que, no leito de morte, teria dito: “Enfim acabarei a vida e verão todos que fui afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela.” Estava certo de que Portugal cairia sob o poderoso domínio da Espanha, motivado por uma crise dinástica, que o levaria à dinastia Filipina, dos reis Felipe II e III, período que durou 60 anos, de 1580 a 1º de dezembro de 1640, data em que se comemora a Restauração da Independência de Portugal com o retorno da Casa de Bragança na pessoa de D. João IV. Os genealogistas de Camões apresentam dúvidas nos seus dados pessoais, vejamos: nascimento – ano 1524 ou 1525; mês – janeiro ou fevereiro e dia desconhecido; local – Lisboa, provavelmente, porém Coimbra, Alenquer e Santarém disputam a honra de lhe servir de berço. Bisneto do trovador galego, guerreiro e fidalgo Vasco Pires Camões, que se mudou para Portugal (1370), recebendo do rei grandes benefícios, honras, cargos e terras, avô 2 de seu pai Simão Vaz de Camões, que se casou com Ana de Sá Macedo, de família fidalga, sua mãe. Era uma família de pequena nobreza de tronco da Galiza. Mesmo com dados da árvore genealógica, muitos negam seu pai ter sobrenome Camões e concluem ser o poeta bastardo por elogiar a bastardia do Canto IV de Os Lusíadas, sua obra prima. Vários biógrafos afirmam ser portador de esmerada educação recebida de dominicanos e jesuítas, mas não nominam os colégios. Seu pai servia na Marinha Real, mas deixou a esposa e o filho menor em Portugal e partiu para a Índia, mas faleceu em Goa. Órfão, ainda pequeno, Luís não gostou do novo casamento de sua mãe. Seu tio paterno D. Bento de Camões, bibliotecário e depois Chanceler da universidade de Prior do Mosteiro de Santa Cruz, na cidade de Coimbra, leva-o e Luís cursa Artes (7 Artes: Gramática, dialética, retórica, música, aritmética, geometria e astronomia) no Convento do Mosteiro de Santa Cruz. Inteligente, Camões domina a literatura clássica grega e romana (Homero, Ovídio) lê latim, italiano e castelhano, conhecimento da mitologia greco-romana, frequenta centros aristocráticos e, pela influência do tio, foi-lhe facilitado acesso ao acervo bibliográfico da instituição, o que muito o ajudou. Na juventude era benvindo na Corte de Dom João III, conhecido como cavaleiro – fidalgo, amores com damas da nobreza, mas lavava vida boêmia e desregrada e sua correspondência particular mostra-o em brigas noturnas com fidalgos e mulheres do Bairro Alto. Há um período ignorado de sua vida, a chamada “mancha cega”, anterior a sua partida para a Índia. Camões é mestre em gêneros literários; sua obra é dividida em três: o lírico, o épico e o teatral. Iniciou-se como poeta lírico e seus poemas foram reunidos (1567) no Parnaso Lusitano, que lhe foi roubado. A obra lírica dispensa em manuscritos, reunida, foi publicada, postumamente (1595), sob o título Rimas, canções, elegias, redondilhas, odes, sonetos... Na lírica camoniana o amor é o tema central, pois o amor valia a pena se vivido. O poeta épico está sintetizado no Os Lusíadas (1572), a glorificação dos feitos portugueses, a história de Portugal, a epopéia dos descobrimentos, a expansão marítima, o 3 episódio de Inês de Castro, a batalha de Aljubarrota, a visão de D. Manuel I, a transitoriedade das coisas do mundo, a defesa do catolicismo, cantada no verso por ele metrificado. Os Lusíadas são a pedra fundamental da língua portuguesa, a “última flor do Lácio”, no dizer do nosso poeta Olavo Bilac, que foi instituída língua oficial do Brasil pelo Marquês de Pombal, em 1758. A obra de Camões é documental e perene. Sua forma poética e sublime de narrar lhe valeu o título de Poeta dos Poetas da Espanha”. Escreveu em castelhano e em português castiço onde, segundo o historiador Pedro Calmon “depara-se com o trovador, o cidadão e o memorialista”. A expressão Os Lusíadas equivale a “os lusitanos” tomados como descendentes de Luso, companheiro filho do deus Baco, sendo o neologismo introduzido por André Resende. Lusíadas deriva da antiga denominação romana de Portugal. Lusitânia. “Autores há que afirmam Camões por si só valer uma literatura inteira”, o que se justifica por ser diferente dos escritores de seu tempo, por haver mergulhado em quase todos os gêneros literários. Sua gigantesca obra o eternizou. Os Lusíadas foram traduzidos para o espanhol, francês, alemão, holandês e polonês, sendo elogiado por grandes nomes não lusófonos da cultura ocidental (Torquato Tasso, Lope de Vega, Cervantes, Voltaire, Goethe e outros). No teatro no gênero comédia e no formato de autos, os mais divulgados Anfitriões (tema moralidade) e Filodemo (amores do criado Filodemo pela filha do fidalgo em casa de quem serve). Herói das letras e das canções líricas, dos campos de batalha é o poeta-soldado, que tem uma das mãos a pena e na outra, a espada, que combatendo em Ceuta, perdeu o olho direito (1549), na batalha naval no Estreito de Gilbraltar. Pouco depois, durante a procissão de Corpus Christi (1552), feriu à espada um fidalgo sendo preso e processado. Perdoado pelo rei D. João III, foi servir na Índia. Retornando do castigo, escapou a nado de um naufrágio carregando o manuscrito de Os Lusíadas perdeu sua companheira chinesa – Dinamene, inspiração de famosos sonetos. Visitando Moçambique encontrou o amigo Diogo Couto, que o levou para Lisboa, vai viver com a mãe, e pede ajuda para publicação de Os Lusíadas. O censor, Frei Bartolomeu Ferreira concedeu-lhe o imprimatur e dá alguns retoques no poema. Após a publicação da obra prima da literatura portuguesa (1572), o jovem, rei D. Sebastião concedeu a Camões uma terça trienal (pensão) “em respeito aos serviços prestados na Índia e pela suficiência que mostrou no livro sobre as coisas de tal lugar.” 4 Leite Vasconcelos em sua obra Lições de Philologia Portuguesa denomina nosso idioma “língua de Camões”, tal como francês é a de Racine, alemão a de Goethe e italiano a de Dante. Camões está para a cultura, que a língua portuguesa é a expressão, como Shakespeare para a língua inglesa. De Camões, o grande modelo da língua portuguesa moderna, Faria e Sousa dissera que ele não escrevia para ignorantes; sua linguagem era erudita e contribuiu para a evolução da nossa língua. Deve-se a Camões a introdução de latinismos na linguagem corrente (aéreo, áureo, aquático, celeuma, diáfano, diligente, excelente e muitos outros). Camões exerceu muita influência na literatura brasileira nos épicos Bento Teixeira, Gregório de Matos, Basílio da Gama, Frei Santa Rita Durão e nos líricos Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e outros. Em 1924, a Faculdade de Letras de Lisboa criou a disciplina autônoma intitulada Camonologia e, em 1963, surgiu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, o que demonstra o valor do grande poeta português. Nos anos 80 foi publicado Camões e a Identidade Nacional, elaborado pela Imprensa Nacional oficializando-o símbolo nacional português. Em sua homenagem, em 1989, pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil foi instituído o Prêmio Camões, o maior galardão literário, honraria das terras lusófonas homenageando um escritor de língua portuguesa em cada ano, que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultura em português. A premiação tem ainda como objetivo estreitar e desenvolver os laços culturais entre toda a comunidade lusófona. Muitos brasileiros já premiados: João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Atononio Candido de Mello e Sousa, Rachel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto. Este ano de 2010, para orgulho dos maranhenses, foi vencedor o poeta Ferreira Gullar, autor do Poema Sujo, portador dos Prêmios Jabuti (2007) e do Machado de Assis, a maior honraria da Academia Brasileira de Letras. Anunciado o resultado o júri composto por professores da Universidade de Lisboa, Universidade de Coimbra, da Universidade do Rio de Janeiro e três escritores, realizado em 5 Portugal e anunciado, na última semana de maio, pela Ministra da Cultura de Portugal Gabriela Canavilhas. Em 1992, houve a transformação do Instituto de Línguas e Cultura Portuguesa em Instituto Camões, que passou do Ministério da Educação para o Ministério dos Negócios Exteriores. Em 1999, em Macau, a Organização Mundial de Poetas homenageou Camões como o autor que ultrapassou barreiras temporais e nacionais. Luís de Camões recebeu muitas homenagens em Portugal: diversos retratos em telas, esculturas, vários monumentos, inclusive um instalado na Praça Luís de Camões, em Lisboa, local de cerimônias públicas oficiais e manifestações populares, medalha com sua efígie, composições musicais, cédulas monetárias, selos, moedas, filme apresentado no Festival de Cannes em 1946; Camões é o nome de uma cratera no planeta Mercúrio e de asteróide e outros. Luís Vaz de Camões teve uma vida muito tumultuada, muitos amores, mas nunca se casou. Nosso eminente conterrâneo Henrique Maximiano Coelho Neto professor, escritor, teatrólogo, poeta, político e jornalista que, em 1928, foi eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, assim se expressou: “Portugal e Brasil permiti-me a imagem – são as duas capas de um livro imenso, unidas pela carneira verde dos oceanos, contendo um texto, o impresso poema, que é a Bíblia vernácula dos dois povos, e esse poema que ocupa o centro do altar da Raça, não é outro – vós sabeis – senão Os Lusíadas.”