OCORRÊNCIA DE RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS EM LEITE CRU, PASTEURIZADO E UHT PRODUZIDOS NO ESTADO DE GOIÁS SILVA, Thaysa dos Santos1*; NICOLAU, Edmar Soares2; OLIVEIRA, Antônio Nonato2; LAGE, Moacir Evandro2; ASSIS, Jaqueline Vanessa3; LEÃO, Jordana Oliveira3; TEIXEIRA, Sarah Rozette4; FERREIRA, Priscylla Paulina4** ¹Mestranda, UFG, Escola de Veterinária, Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. ²Doutor, UFG, Escola de Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária. 3 Graduanda, UFG, Escola de Veterinária.4Graduanda, UFG, Engenharia de Alimentos. *Endereço para correspondência: [email protected] ** Bolsista de iniciação científica PIBIC. Palavras - chave: Antibióticos, mastite, saúde pública, serviço de inspeção. INTRODUÇÃO O leite e seus derivados são amplamente consumidos, para o leite ter qualidade os seguintes critérios devem ser levados em consideração: sabor agradável e característico, nutritivo, baixa carga microbiana (sem agentes patogênicos) e outros contaminantes como os resíduos de antibióticos, carrapaticidas, pesticidas, metais pesados e desinfetantes (SANTOS, 2003). De acordo com GOMES (2005) o leite contaminado por substâncias químicas, como o antibiótico, deve ser considerado adulterado e impróprio para o consumo, tanto por representar riscos à saúde (reações toxicológicas, hipersensibilidade, choque anafilático, seleção de cepas bacterianas mais resistentes, desequilíbrio da flora intestinal e discrasias sanguíneas), quanto por ocasionar prejuízos à indústria de laticínios e produtores. Assim, quando a detecção de resíduos de antibióticos no leite for confirmada, o mesmo deve ser descartado, sendo o prejuízo contabilizado ao produtor. O Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Leite (PNCRC/Leite) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem ações direcionadas para conhecer e evitar a violação dos Limites Máximos de Resíduos (LMR’s) de substâncias autorizadas, bem como a ocorrência de compostos químicos de uso proibido no país. Já a Instrução Normativa n.° 51 estabelece o regulamento técnico de produção, identidade e qualidade do leite produzido; incluindo a detecção de resíduos de antibióticos nas análises obrigatórias, com a finalidade de verificar a presença do grupo dos ß-lactâmicos, além da detecção de gentamicina e tetraciclinas. A pesquisa de resíduos de antibióticos em leite deve ser periódica e a presença não deve ser superior aos LMR’s, previstos para cada princípio (BRASIL, 2002). Atualmente, existem vários testes de detecção de resíduos no leite, variandose desde a inibição microbiana, reações enzimáticas, aglutinação em látex, receptores microbianos, radioimunoensaio, eletroforese, até a cromatografia. Segundo DIETRICH (2008) no Brasil, os métodos rápidos para detecção de resíduos de antibióticos são os mais utilizados e o Delvotest® SP-NT (DSM Food Specialities Holanda) encontra-se entre os melhores na identificação dos LMR’s de antibióticos, estabelecidos pela Food and Drugs Administration (FDA) e a União Européia (UE). O Delvotest® SP-NT é um teste simples que detecta qualitativamente pela leitura visual a presença de antibióticos (penicilina G, sulfonamidas, um número substancial de outros antibióticos e substâncias inibidoras) no leite, podendo detectá-los quando presentes em níveis iguais ou próximos aos LMR’s. Baseia-se por um diagnóstico microbiológico por meio da inibição de crescimento do Bacillus stearothermophilus var. calidolactis e na mudança de pH, conferindo resultados em três horas. Levando-se em consideração os danos à saúde do consumidor pela ingestão de leite com resíduos de antibióticos, os prejuízos econômicos causados às indústrias e aos produtores, o presente estudo tem por objetivo verificar a ocorrência de resíduos de antibióticos no leite cru, pasteurizado e UHT produzidos no Estado de Goiás sob fiscalização federal (SIF) e da Vigilância Sanitária. MATERIAL E MÉTODO Foram analisadas de abril a setembro de 2010, cerca de 586 amostras, dentre estas, 256 de leite cru, 12 de leite pasteurizado e 209 de leite UHT (Ultra Higth Temperature), sob fiscalização do SIF, produzidos no estado de Goiás. As amostras de leite cru eram de produtores rurais fornecedores de 98 indústrias de laticínio (total de 106), sendo coletadas e enviadas nas mesmas condições (porém sem conservante) e juntamente com as amostras de leite cru enviadas para análise de rotina ao Laboratório de Qualidade do Leite do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (LQL/CPA/EV/UFG) situado em Goiânia, laboratório onde as análises da pesquisa estão sendo realizadas. As amostras de leite UHT e pasteurizado foram coletadas aleatoriamente, com datas de fabricação e lotes diferentes, nos hipermercados e supermercados da grande Goiânia. Coletou-se amostras de leite UHT de todas as marcas e 4 de pasteurizado (total de 7 e 10 indústrias respectivamente), após a coleta as amostras foram enviadas ao LQL, respeitando as condições de conservação dos produtos. As amostras foram avaliadas pelo kit Delvotest® SP-NT, para a execução das análises foram seguidas as recomendações do fabricante. A interpretação dos resultados baseou-se na alteração do pH quanto à coloração do cultivo, indicando um resultado positivo quando não houvesse alteração da coloração do meio (cor púrpura) e negativo, por meio da alteração total da cor púrpura para amarelo. Foi realizado um levantamento analítico e descritivo simples, com distribuição amostral de ocorrências e proporções, para efeito de cálculo foram adotados valores para a confiança de 95%, erro de 5% e ocorrência de resíduos de antibióticos de 40% para leite cru, 25% pasteurizado e 15% UHT (baseado na literatura). A amostragem foi estratificada (por recebimento de leite cru e produção de leite pasteurizado e UHT diárias) e probabilística (proporção da participação de cada estrato acrescido de 10% do cadastro reserva, calculado sob a proporção). Após determinado o número de amostras por estrato realizou-se sorteio aleatório, sem reposição dos produtores rurais fornecedores de leite cru às indústrias de laticínio pertencentes aos estrados. Já para o leite pasteurizado e UHT foram coletadas amostras de acordo com as proporções de cada estrato e igualmente entre as indústrias. Os dados relativos foram especificados como uma razão relativa ao total (porcentagem). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos das análises pelo Delvotest SP-NT® mostraram que das 586 amostras de leite cru, pasteurizado e UHT juntas apresentaram ocorrência de resíduos de antibióticos de 8,73%, sendo que, para leite cru foi de 13%, leite pasteurizado 5,8% e leite UHT de 4,8%, Gráfico 1. O PNCRC/Leite desde o seu início em 2002 não detectou violação dos LMR’s, quanto comparado ao resultado desta pesquisa percebe-se diferença, concluindo que as diretrizes do programa devem ser revistas. De acordo com os dados obtidos, nota-se que a ocorrência de resíduos de antibióticos em leite cru da ordem de 13% expressa valor encontrado por NERO et al. (2007) que pesquisaram resíduos de antibióticos em quatro regiões produtoras de leite, detectando 11,4%, porém se difere do encontrado por TETZNER et al. (2005) que observaram ocorrência de 33% em amostras do Triângulo Mineiro. O resultado da ocorrência de resíduo de antibiótico em leite pasteurizado desta pesquisa se assemelha com o valor encontrado por BORGES et al. (2000) que detectaram resíduos de antibióticos em 9,95% das amostras de leite pasteurizado no estado de Goiás. Por outro lado, difere dos dados obtidos por BARROS et al. (2001) no qual 38,5% das amostras apresentavam resíduos de antibióticos. 13% 15% 5,80% 10% 4,80% 5% 0% LEITE CRU LEITE PASTEURIZADO LEITE UHT GRÁFICO 1: Resultados em porcentagem da ocorrência de resíduos de antibióticos em leite cru, pasteurizado e UHT pelo método Delvotest® SP-NT A alta ocorrência de resíduos de antibióticos no leite pode ser atribuída ao fato dos produtores rurais utilizarem de forma indiscriminada os antibióticos, incorporando-o no leite de forma proposital (fraude) ou principalmente para tratamento de doenças (mastite), não respeita o período de carência do antibiótico. Uma vez presente no leite, o antibiótico gera riscos à saúde pública e prejuízos para a indústria, pois não é eliminado no beneficiamento, o que explica a alta ocorrência de resíduos de antibióticos no leite pasteurizado e UHT. Este fato comprova a não ou baixa realização de análises de antibióticos nas plataformas de recepção das indústrias de laticínio e nem a sua fiscalização. Esta alta ocorrência gera preocupação, pois este alimento está sendo consumido de forma direta pelos consumidores. CONCLUSÕES Os resultados das análises da pesquisa confirmam a existência de resíduos de antibióticos no leite produzido e consumido em Goiás, o que representa risco a saúde pública (perigo químico) e prejuízos econômicos para indústria e produtores. Embora se tenha legislação para regulamentar a presença de resíduos de antibióticos no leite, estas não são eficientes, tampouco são fiscalizadas corretamente por órgãos responsáveis, além disso, os produtores não respeitam os períodos de carência dos antibióticos. Assim são necessários mais estudos na área para estabelecer políticas públicas mais rigorosas, bem como programas de educação continuada e conscientização do produtor rural pelo serviço de inspeção e as indústrias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, G.M.S.; JESUS, N.M.; SILVA, M.H. Pesquisa de resíduos de antibióticos em leite pasteurizado tipo C, comercializado na cidade de Salvador. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 2, n. 3, p. 69-73, 2001. BRASIL, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n.° 51 de 18 de setembro de 2002. Dispõe sobre a Aprovação dos Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo A, B e C do leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento técnico da coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a granel. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 2002. Seção 1, p.13. BORGES, G.T.; SANTANA, A.P.; MESQUITA, A.J.; MESQUITA, S.Q.P.; SILVA, L.A.F.; NUNES, V.Q. Ocorrência de resíduos de antibióticos em leite pasteurizado integral e padronizado produzido e comercializado no Estado de Goiás. Ciência Animal Brasileira, v. 1, n. 1, p. 59-63, 2000. DSM FOOD SPECIALTIES. DELVOTEST. On farm testing supplies delvotest. Disponível em: <http://www.dsm.com/le/en_US/delvotest/html/home.htm>. Acesso em: 26 mai. 2010. DIETRICH, J.M. Controle do resíduo de antibióticos no leite. Leite & Derivados, São Paulo, n. 106, p. 156-162, jul. 2008. GOMES, M. F. Avaliação da eficiência de "kits" destinados à detecção de resíduos de antimicrobianos em leite de vacas tratadas com Ivermectina e Abamectina. 2005. 39f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal). Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte. NERO, L.A.; MATTOS, M.R.; BELOTI, V.; BARROS, M.A.F.; FRANCO, B.D. G.M. Resíduos de antibióticos em leite cru de quatro regiões leiteiras no Brasil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 27, n. 2, p. 787-792, 2007. SANTOS, M.V. Antibióticos: como não deixar resíduos no leite. Balde Branco, v. 460, p. 54-57, 2003. TETZNER, T.A.D.; BENETTI, E.; GUIMARÃES, E.C.; PERES, R.F.G. Prevalência de resíduos de antibióticos em amostras de leite cru na região do Triângulo Mineiro, MG. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v.19, n.130, p. 69-72, abril., 2005.