RAZÕES PELAS QUAIS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS COOPERAM
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APRESENTACAO ORAL-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e
Agroindústria
PAULO CESAR RODRIGUES QUINES; JAMUR JOHNAS MARCHI.
UNIPAMPA, SANTANA DO LIVRAMENTO - RS - BRASIL.
Razões pelas quais pequenos produtores rurais cooperam
ou não cooperam: um olhar sobre a cooperação na fronteira da paz
Reasons for the which small rural producers cooperate or they don't
cooperate: a glance about the cooperation in the border of the peace
Grupo de pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria
Resumo
Ao longo da historia o ser humano utilizou a cooperação como meio de alcançar as suas
metas e objetivos, tanto individuais quanto coletivos. Assim, a cada novo grupo
cooperativo que se forma, quer seja uma associação, uma equipe ou uma cooperativa,
ocorrem ganhos pessoais e sociais. Melhorando-se cada um com a força da cooperação,
melhora-se a sociedade como um todo. O presente trabalho buscou verificar no referencial
teórico fatores e aspectos que influenciam a formação de grupos cooperativos, com a
intenção de avaliar quais deles se fizeram presentes e influenciaram na decisão de dois
grupos de produtores rurais de Santana do Livramento - RS, um de produtores de leite que
cooperou, e outro de fruticultores que não cooperou. Utilizou-se da metodologia de estudo
de caso, através de um conjunto de entrevistas estruturadas, que ouviu vinte produtores de
cada um dos grupos e quatro informantes-chave, onde se verificou que dos dez fatores
apurados no referencial teórico (confiança, interação, reciprocidade, cultura, colaboração,
identificação de pensamento, motivação, metas, individualismo e capital), apenas o fator
‘identificação de pensamento’ não foi apontado como influenciador das decisões dos
produtores de cooperar ou não cooperar. O grupo de produtores que cooperaram
apresentou os demais fatores como relevantes e influentes para a formação do grupo. O
grupo de produtores que decidiu não cooperar reconheceu também a importância e a
influência dos fatores, porém com uma significância menor que o grupo que cooperou, o
que pode ter contribuído para a desistência da ação de cooperar. Outros fatores como
facilidade ou dificuldade de comercialização, sazonalidade de produção, infra-estrutura e
aspectos sociais, intelectuais e humanos também foram identificados ao longo do trabalho
como importantes para a tomada de decisão dos produtores no momento de formar um
grupo cooperativo.
Palavras-Chaves: cooperação, grupos, produtores rurais, associativismo.
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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Abstract
Throughout history the human being used the cooperation as a way to achieve their target
and objectives, not only the individual but also the collective ones. This way, for each new
cooperative group that is formed, even if it is an association, a work team or a cooperative,
personal and social achievement was obtained being, each one, improved with the
cooperation’s work strength, being the society improved as a whole. The actual work tried
to verify, in the theoretical referential, facts and aspects that have influence on the
cooperative group formation, with the intention to assess which ones were presents and had
influence on two groups of rural producers’ decision in Sant’Ana do Livramento, one
group of milk producers that cooperated and another one of fruit producers that did not do
it. It was used a case study methodology through a group of structured interviews , I
listened to twenty producers of each group and four key informers, where it was found out
that from the ten facts recorded in the theoretical referential (reliability, interaction,
reciprocity, culture, collaboration, thoughts’ identification, motivation, aims, individualism
and capital) just the factor identification was not pointed out as a factor of influence on the
producers’ decisions to cooperate or not. The group of producers that cooperated
presented the other factors as important and influential for the formation of the group. The
group of producers that decided not to cooperate also to recognize the importance and the
influence of the factors, however with a smaller importance than the group that
cooperated, what might have contributed to the cessation of the action of cooperating.
Other factors such us facility or difficulty to commercialize, production seasoned, infrastructure and social, intellectual and human aspects were identified throughout the work as
important for the decisions taken by producer’s in the moment for then to form a
cooperative group.
Key words: cooperatives, groups, rural producers and associativism.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo buscou avaliar, dentro de fatores extraídos do referencial teórico,
quais influenciaram a cooperação em dois grupos de pequenos produtores rurais da cidade
de Sant’Ana do Livramento no Rio Grande do Sul. A justificativa para o trabalho encontrase embasada no fato de que a cooperação é um fator que leva as pessoas, e os grupos por
elas composto, a conquistarem seus objetivos, evoluírem e, conjuntamente com ela, evolui
a sociedade como um todo. Batalha (2001, p. 632) afirma que “as formas de cooperação
são algo de muito antigo na história da humanidade”.
O homem desde os primórdios dos tempos buscou na vivência em conjunto a
solução para superar obstáculos estabelecidos. Ele sempre procurou por algo mais do que
a simples sobrevivência ou perpetuação da espécie. Conforme Abrantes (2004, p. 36)
“entre os homens, a ajuda mútua vem desde a antiguidade, quando se vivia em
comunidades naturais de forma coletiva”. Atualmente, o reflexo dessa atuação coletiva
pode ser visto nas organizações usualmente sob o termo “cooperação”. Axelrod (1984)
explicita que o fenômeno da cooperação pode ser observado em situação nas quais os
indivíduos buscam a otimização de seus interesses pessoais, levando a um conjunto
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subótimo para todas as partes, podendo a cooperação surgir mesmos entre egoístas. Motta
(1994) indica que o termo cooperação tem um valor positivo, geralmente incluindo a ideia
de espontaneidade, caráter voluntário e tolerância. Olson (1999) enfatiza que a cooperação,
através da ação coletiva, leva indivíduos que possuem interesses comuns a buscar a
consecução destes interesses.
No Brasil, conforme Abrantes (2004), observa-se que o meio rural tem na
cooperação a base para sua organização e desenvolvimento, através de sistemas
cooperativos e associativos. Segundo Neto (2000), o cooperativismo desenvolve-se mais
intensamente no setor primário, sendo que perto de dois terços das entidades estão ligadas
a ele. Identifica ainda este sistema como um intermediário entre o mercado e os
cooperados, promovendo a integração entre o produtor e a cadeia produtiva, e explica que:
Quando diversas unidades econômicas, geralmente da mesma natureza de
produção, chegam a conclusão de que certa atividade se torna demais custosa
para cada uma delas isoladamente, elas se congregam, formando uma
comunidade dotada de organização administrativa especial, e transferem a esta
organização determinadas tarefas de modo agregado. Assim, estas unidades
produtivas, anteriormente isoladas, renunciam, no todo ou em parte, ao exercício
independente de certas atividades, formando economias intermediárias, as quais,
na qualidade de organizações comunitárias, se põem a serviço das economias
particulares associadas (NETO, 2000, p. 629).
Como destacado, parece que a cooperação, seja nos primórdios ou no contexto atual
das organizações, mais especificamente na área rural, vem sendo utilizada como um meio
para se atingir objetivos organizacionais e pessoais. Em Santana do Livramento – RS,
município com características marcantes do meio rural, e de grande extensão territorial, o
2º maior do Estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2009), notadamente se percebe o esforço
dos poderes constituídos para a organização dos trabalhadores rurais através de realização
de projetos, cursos, seminários e outros que busquem o associativismo e o cooperativismo
entre eles. Contudo, existem razões ou motivos que levam alguns produtores rurais a terem
dificuldades em cooperar e organizar-se de maneira associativa.
Conceituar cooperação e identificar estas razões e motivos pelos quais alguns
cooperam e outros não, mais especificamente pequenos produtores rurais da cidade de
Santana do Livramento no Rio Grande do Sul, a ponto de serem criadas associações ou
não, foram os objetivos do presente trabalho.
1.1 Problemática
O presente problema surgiu a partir da realização de um curso sobre cooperativismo
e associativismo realizado na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), no primeiro
semestre de 2007, com objetivo de capacitar pequenos produtores rurais da cidade de
Santana do Livramento, na região da Fronteira Oeste no Rio Grande do Sul (conhecida
como Fronteira da Paz), para o planejamento e gestão de empreendimentos coletivos
através da cultura do associativismo, indispensável às ações coletivas; e da reflexão
compartilhada sobre o futuro da organização coletiva, com a elaboração de planos de ações
para sua formação e manutenção (UNIPAMPA/UFPEL, 2007).
O curso foi realizado diante da necessidade de buscar a associação de pequenos
produtores, focalizada pela Secretaria de Agricultura do Município, com a finalidade de
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operar uma cantina para produção de sucos e vinhos a partir da produção de uvas. Era,
portanto, um curso destinado a produtores de frutas (fruticultores) com vista na formação
de uma associação, cuja finalidade seria constituir uma empresa (cooperativa), a fim de
fomentar o trabalho, a agregação de valor e a geração de emprego e renda.
Participaram também do curso pequenos produtores rurais ligados a outros setores
produtivos, como do leite, do mel e de pedras preciosas. Passado mais de dois anos, o
resultado das atividades, é de que os produtores de fruta não deram o andamento na
formação do grupo. Em contrapartida, os produtores de leite formaram uma associação que
se encontra atuando.
Considerando então a relevância da cooperação para a prosperidade de indivíduos e
grupos, e os destinos diferenciados de ambos os grupos de produtores de Santana do
Livramento, um buscando a cooperação e o outro se dissolvendo, definiu-se como
problema investigativo a seguinte questão: quais os fatores que levam os pequenos
produtores rurais de Santana do Livramento a cooperar ou não cooperar?
1.2 Objetivos
O objetivo geral do trabalho foi comparar dois grupos de produtores rurais de
Santana do Livramento - RS, um de leite e outro de frutas, que encontravam-se num
mesmo contexto local, e identificar quais os fatores que influenciaram a cooperação, e ao
mesmo tempo afetaram a decisão de formar ou não a entidade cooperativa, apresentandose para tal os seguintes objetivos específicos:
a) Identificar na literatura os fatores que promovem a cooperação.
b) Verificar quais fatores levaram pequenos produtores rurais de Santana do
Livramento, especificamente os de leite e de frutas, a cooperar ou não cooperar.
c) Analisar os fatores que levaram pequenos produtores rurais de Santana do
Livramento , de leite e frutas a cooperar ou não cooperar.
1.3 Justificativa
O presente trabalho se justifica por ter a intenção de contribuir para o conhecimento
humano, buscando o esclarecimento de situações que venham a ser utilizadas no
desenvolvimento das pessoas e das organizações produtivas. A melhora dos indivíduos e
das organizações refletem-se na sociedade em que estão inseridas. Melhorando-se a
sociedade, melhora-se o mundo em que se vive. A cooperação aparece como um problema
de pesquisa na medida em que através dela os indivíduos conquistam seus objetivos
individuais e coletivos. Agostinho (2003, p. 58) explica que “sob condições propícias, a
cooperação pode ser mais eficaz do que a competição como forma de alcançar objetivos
individuais”. E complementa que com o passar do tempo, os comportamentos cooperativos
tendem a ser recompensados, tornado-se predominante nas relações. Já Bernandes &
Marcondes (2005) indicam que em grupos onde não existe cooperação, ou onde ela é
menos percebida, pode emergir ações competitivas entre os indivíduos.
Para Barnard (1979), tanto as organizações informais como as formais são sistemas
cooperativos. Ainda segundo ele, estes sistemas cooperativos menores estão inseridos num
sistema cooperativo maior que é a própria sociedade, denominada pelo autor como uma
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grande organização informal. As pessoas se reúnem em grupos e sociedades para atingirem
objetivos e superarem limitações, buscando na cooperação os meios para isso. Assim,
através da cooperação, no conceito do autor, melhora-se a sociedade como um todo,
justificando-se por que pesquisar a cooperação.
Conforme a OCERGS, entidade que congrega o sistema cooperativo e associativo
no estado do Rio Grande do Sul, as cooperativas, no ano de 2008, foram responsáveis pelo
investimento de R$ 1 bilhão de reais na economia do estado do Rio Grande do Sul, com a
geração de 7.561 novos empregos (OCERGS, 2009). Já a nível nacional, Abrantes (2004)
indica o envolvimento, no ano de 2002, de quase cinco milhões e meio de cooperados ou
trabalhadores neste mesmo sistema.
Assim, evidencia-se a relevância de pesquisar a cooperação como formadora de
entidades/grupos que venham a contribuir para o desenvolvimento da sociedade como um
todo. A ideia de Barnard (1979) nos indica que, conseguindo as organizações (formais e
informais) na base da cooperação a consecução de seus objetivos, a sociedade como
organização maior, englobadora daquelas, também conquistará os seus. Esses conceitos
também podem ser aplicados aos pequenos produtores rurais de Santana do Livramento,
contribuindo para que eles e a sociedade alcancem seus anseios, sonhos e desejos.
Torna-se então importante pesquisar a cooperação e o que leva os indivíduos a
cooperar na realização de objetivos e, por outro lado, o que leva indivíduos a decidirem
não cooperar.
2. COOPERAÇÃO
Nesta seção será abordado o conceito de cooperação, destacando as razões que
conduzem os indivíduos a cooperar, e os fatores que podem influenciar a cooperação nos
grupos.
2.1 Conceituando cooperação
Existem diferentes formas de abordagem do termo cooperação. Conforme
Bernardes & Marcondes (2005), a cooperação caracteriza-se por uma meta comum, mas
em que sua consecução depende do trabalho de todos, significando que os esforços são no
mesmo sentido. Simon (1976, apud AGOSTINHO, 2003) identifica que um padrão
cooperativo surge quando os indivíduos são capazes de reconhecer as estratégias daqueles,
ao seu redor e de, então, ajustar suas próprias estratégias de forma que o resultado seja
benéfico para todos. Agostinho (2003) classifica como um processo vantajoso o uso da
cooperação na busca de resultados gratificantes para todos. Axelrod (1984) indica que a
cooperação se dá em situações em que os envolvidos conquistem retribuições uns com as
ações dos outros, configurando uma típica situação ganha-ganha.
Nas idéias de Olson (1999), a cooperação pode se dar mesmo que não haja
objetivos (metas) comuns entre os integrantes. A ideia do autor é de que os grupos sempre
agem para promover seus interesses baseados na premissa de que, na verdade, os membros
de um grupo agem por interesses pessoais e individuais.
Através das diversas ideias destes autores, tem-se que a cooperação é então um
meio das pessoas ou grupos atingirem seus objetivos, quer sejam eles iguais ou diferentes,
desde que ocorra uma ajuda mútua para serem alcançados.
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2.2 Razões para cooperar
Axelrod (1984) utilizou o clássico Dilema do Prisioneiro para demonstrar como
situações de cooperação tendem a ser melhores do que ações ou decisões não cooperativas.
O Dilema do Prisioneiro é um problema da teoria dos jogos, criado originalmente por
Merrill Flood e Melvin Dresher, e mais tarde formalizado por Albert W. Tucker
(PONTALTI, 2008). Nele dois cúmplices de um crime são interrogados separadamente.
São dois jogadores que tem duas opções, negar, confiando que o outro também fará o
mesmo; ou confessar (decisão individual) para obter algum ganho. Cada um toma a
decisão sem saber qual a decisão do outro. O dilema é que se ambos confessam, ambos
ficam em pior situação do que se tivessem cooperado um com outro, negando o crime.
A matriz “payout”, ou matriz de ganhos (quadro 1), largamente utilizada por
aqueles que trabalham no desenvolvimento da teoria dos jogos (PRADO, 1999), expressa
bem o contexto acima no caso do dilema do prisioneiro. Considerando que o único meio
de comprovar a participação no crime seria com a confissão de pelo menos um dos
prisioneiros (entregando o outro), e que o mesmo tinha uma pena prevista de 10 anos,
diminuida pela metade com a confissão, temos a matriz de ganhos evidenciando que a
cooperação (nenhum confessar) é melhor resultado para os prisioneiros do que se os dois
( ou um deles) confessarem para terem a pena abrandada.
Matriz de Ganhos
Estratégias
A Confessa
A não confessa
B confessa
(5 B, 5 A)
(5 B, 10 A)
B não confessa
(10 B, 5 A)
(0 B, 0 A)
Quadro 1 : Matriz de Ganhos.
Fonte: Adaptada de Prado (1999).
Axelrod (1984) para analisar o desempenho de variadas estratégias frente a
situações em que o comportamento cooperativo seria o preferível, aprimorou o Dilema do
Prisioneiro, criando o “Dilema do Prisioneiro Iterado”, constituindo-se de um jogo em
computador em que os jogadores enviavam seus programas, tendo sagrado-se vencedor
aquele optou pela estratégia de “iniciar cooperando, e a partir dai, fazer tudo o que o outro
fizesse, isto é, agir com reciprocidade”. Essa teoria indica que, ao contrário de jogos de
soma-zero (onde para um ganhar outro têm que perder), o programa vencedor foi o que
apresentou uma estratégia de interesses mútuos e cooperativos, não explorando o
adversário, constituido-se num jogo de ganha-ganha, aquele em que ambas as partes obtém
determinada vantagem (AXELROD, 1984).
Agostinho (2003) também dá enfaze à cooperação como fomentadoras de situações
ganha-ganha na consecução de objetivos. Ela explicita as trocas entre empregado e uma
determinada empresa, sendo que os melhores resultados para ambas as partes surgem
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quando eles cooperam. Explica ainda que, quando empresas e trabalhadores colaboram
mutuamente ocorrem ganhos para ambas partes, como eficiência e produtividade para a
empresa, e breneficios e recompensas para os empregados.
O quadro 2 foi apresentado pela autora para evidenciar ganhos recíprocos entre a
empresa e empregados em caso de cooperação, evidenciando os resultados em quatro
situações distribuídas entre a empresa e o empregado cooperarem ou não cooperarem.
O Dilema da Cooperação
Empregado coopera – Empresa coopera
Situação estável. Ambos se beneficiam com a
cooperação mutua.
Empresa ganha eficiência e empregado crescimento
Empregado coopera – Empresa não coopera
Situação instável. Risco de o empregado se cansar e
sair, gerando perda de eficiência por parte da
empresa.
Empregado não coopera – Empresa coopera
Situação instável. Risco de a empresa perder
mercado para a concorrência
Empresa coopera dando estabilidade e altos salários.
Empregado não retribui gerando ineficiências
Empregado e empresa não cooperam
Situação estável, porém medíocre (insustentável em
ambiente muito competitivo).
Como dito popular: “Empresa finge que paga e o
Empregado dá o sangue, mas a empresa não oferece Empregado finge que trabalha”.
coisa alguma em troca
Quadro 2: O dilema da cooperação.
Fonte: Adaptado pelo autor com base em Agostinho (2003).
A cooperação também pode contribuir para a da tomada de decisão em grupo.
Quem nos traz este conceito é Bernardes & Marcondes (2005), afirmando que a tomada de
decisão em grupo é vantajosa em diversas situações. Segundo eles, quando é necessário um
grande número de conhecimentos diferentes, existe a facilidade de coleta das informações
individuais, cuja integração constituirá o elemento básico para posteriores decisões. Existe
também o confronto de várias abordagens e a presunção de que o grupo cooperativo aceita
mais os riscos das decisões do que cada um agindo individualmente. Eles citam como
desvantagem a tomada de decisão em grupos cooperativos quando estas devem ser feitas
com emergência, ou quando a mesma é irrelevante para o processo.
Com relação a esta vantagem de tomada de decisão em grupo, diz-nos Spector
(2005) que estudos de soluções de problemas em grupos frequentemente comparam a
resolução de problemas feita pela decisão do grupo com a resolução formulada pelo
melhor de seus membros, ao que a primeira, em geral, oferece igual ou melhor resposta.
2.3 Fatores que influenciam a cooperação
A razão principal do presente trabalho é identificar os fatores que levam os
indivíduos a cooperar ou não cooperar, para então compará-los com a decisão tomada
pelos dois grupos pesquisados. Estes fatores serão tratados nesta seção. Ao longo do
trabalho alguns destes foram destacados, sendo tratados novamente agora, com o
acréscimo de outros.
A teoria de Axelrod (1984) aponta para a bondade, sempre cooperando no primeiro
encontro; a reciprocidade, coopera ou se opõe, dependendo da postura dos outros; o
perdão, uma vez que é capaz de retribuir um ato de cooperação, mesmo que haja uma
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história de oposições passadas; e a clareza, identificando que a estratégia seguida é tão
simples e consistente, que logo fica claro quais serão as próximas atitudes, como premissas
para ocorrer à cooperação. O autor também nos indica que se a interação não é repetida,
ou seja, se não ocorre encontro futuros entre as partes, é muito difícil que surja a
cooperação. Diz ele que a base da cooperação é a durabilidade das relações e as interações
existentes entre elas. (AXELROD, 1984).
O capital financeiro é atribuído por Neto (2000) como um dos problemas
enfrentados pelos sistemas cooperativos. Segundo ele, as unidades independentes de
produção têm menos condições de disputar os mercados, quer de compra ou quer de venda,
do que se estivessem trabalhando em conjunto. Bernardes & Marcondes (2005) indicam a
identificação de pensamentos entre os membros do grupo como fator influenciador dos
entes cooperativos. Dizem eles que à proporção que o número de membros de um grupo
se eleva, a heterogeneidade de pensamentos tende a ficar mais ampla e mais difícil. Dos
autores também vem a ideia de que metas individuais também influenciam na cooperação
dos grupos. No conceito dos autores, as metas, quando comuns, podem levar os
participantes a situações de competição, co-orientação ou cooperação, ao mesmo tempo em
que metas divergentes pode levar a situações de conflito.
Da teoria dos jogos utilizada por Axelrod (1984), extraí-se a confiança entre os
prisioneiros como fator influenciador na tomada da decisão de cooperar ou não cooperar.
Este aspecto também é evidenciado por Putnam (2000 apud, MALAFAIA 2007) quando
indica que a confiança leva a um ambiente que favorece a coletividade e o
desenvolvimento conjunto.
A cultura do ambiente também é ressaltada como fator influenciador por
Bernardes & Marcondes (2005) quando nos dizem que existe nos grupos uma subcultura
da cultura da sociedade mais ampla, sendo natural que aquela possua de forma abrandada
ou reforçada, os vícios e as virtudes desta. A esse respeito Ilha nos diz que:
A produção agropecuária remete ao problema da estrutura fundiária, que leva a
concentração de renda, tendência do não empreendedorismo, entre outros. Do
ponto de vista da estrutura fundiária, cidades onde predominam as grandes
pastagens, não possibilitam as economias de aglomeração (ILHA, 2002, p. 14).
Citando Sehn (1999, apud ILHA, 2002), o autor nos indica que, na metade sul do
Rio Grande do Sul, local da presente pesquisa, há a predominância de grande propriedade
e, portanto uma cultura tendente ao não empreendedorismo e não aglomeração produtiva.
Estudo da empresa Engevix Engenharia (ENGEVIX, 1997) denominado Plano de
Reestruturação Econômica para a Metade Sul do Rio Grande do Sul, indica a existência de
uma cultura conservadora na Metade Sul do estado. Alves (2008), citando Becker e
Bandeira (2003, p.15 apud ALVES, 2008, p. 9), nos diz que “os traços culturais são
relevantes para fazer com que os membros de uma localidade se tornem propensos a
colaborar para a solução de problemas de interesse comum”.
Outro aspecto extraído do contexto teórico é a colaboração, justificada quando se
diz que: “a existência de capital social e de uma forte cultura de colaboração entre os
participantes de um grupo cooperativo ou rede de empresas é fator fundamental para o
sucesso das ações coletivas” (MALAFAIA, 2007, p. 1). A respeito da colaboração extraise a ideia de Cunliffe (2002, apud DAVEL 2007), onde indica que na medida que as
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pessoas interagem em contextos práticos, colaboram e cooperam mutuamente para a
competência social da comunidade na qual estão engajadas.
A motivação é outro fator influenciador quando se trata de ações em grupos.
Somos diferentes uns dos outros, nossas motivações também o são. Elas influenciam para
nos levar ao sofrimento, tédio, desespero e desconforto existencial em relação a nossa
organização, ou ao contrário, nos dá um sentido, um significado para crescer junto com a
mesma (VERGARA. 2007).
Por fim, estudo do Sebrae (2003) indica que situações como individualismo,
competição, hostilidade e falta de confiança interferem diretamente nos resultados, pois
num ambiente como este, as pessoas não se comprometem, e, cada vez mais buscam os
objetivos pessoais em detrimento dos organizacionais. O estudo explica que estes fatores
podem estimular um melhor desempenho individual, mas que, em contrapartida, reduz a
eficácia em equipe e o trabalho cooperativo. Em artigo científico Rela (2006) explica que
pesquisas indicam que um ambiente individualista não produz resultados tão positivo
quanto o de um ambiente cooperativo. Neste ambiente todos estão envolvidos pelas trocas
com estimulo a cooperação, refletindo em um aumento das interações e consequentemente
um melhor resultado para todos.
Assim, os fatores reciprocidade, confiança, interação, capital, metas,
identificação, cultura, colaboração, motivação e individualismo, serão os aspectos
utilizados para avaliar a cooperação, ou a não cooperação, entre os dois grupos de
produtores rurais escolhidos para este trabalho. O quadro 3 faz a ligação destes aspectos
com alguns de seus referenciais teóricos.
Fatores que influenciam a cooperação nos grupos
Confiança
Axelrod (1984), Putnam (2000)
Interação
Axelrod (1984), Rela (2006)
Reciprocidade
Axelrod (1984)
Cultura
Bernardes & Marcondes (2005), Sehn (1999)
Colaboração
Malafaia (2007), Cunliffe (2002)
Identificação
Bernardes & Marcondes (2005)
Motivação
Vergara (2007)
Metas
Bernardes & Marcondes (2005)
Individualismo
Rela (2006)
Capital
Neto (2000)
Quadro 3: Fatores que influenciam a cooperação nos grupos.
Fonte: Elaborado pelo autor com base no referencial teórico.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Dentre as diversas estratégias de pesquisas existentes definiu-se como a mais
apropriada para a presente situação o estudo de caso. Yin (2001) indica que o estudo de
caso como estratégia de pesquisa é utilizado em situações que se pretende verificar
ligações sociológicas e psicológicas da comunidade, e em estudos gerenciais e
organizacionais. Explica também que “como esforço de pesquisa, o estudo de caso
contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos de fenômenos individuais,
organizacionais sociais e políticos”, (YIN, 2001, p. 21)
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3.1 Característica do estudo de caso
O estudo de caso deve ser a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos
contemporâneos através de uma investigação empírica, e de seu contexto na vida real
(YIN, 2001). O autor indica que a principal tendência nos estudos de caso, é que ele tenta
esclarecer os motivos pelos quais foram tomadas certas decisões, especialmente quando os
limites entre os fenômenos e o contexto não estão claramente definidos. Por esse motivo, o
presente estudo de caso teve um caráter exploratório definido por Hair (2005) como
situação em que as questões de pesquisa são vagas, ou quando a pouca teoria para orientar
as previsões. São planos que não tem intenções de testar hipóteses, mas sim orientar-se
para desvendar descobertas (HAIR, 2005).
Outra característica do presente estudo de caso foi que o mesmo tratou-se de um
estudo de caso único, ainda que pesquisasse dois grupos com percepções diferentes. Yin
(2001) indica que o mesmo estudo de caso pode envolver mais de uma unidade de análise,
quando dentro do mesmo caso de análise se dá atenção a uma subunidade ou a várias
subunidades, denominando-se estudo de caso único incorporado.
3.2 A população da pesquisa
Considerando como população o conjunto de pequenos produtores rurais de
Santana do Livramento, o trabalho utilizou-se da técnica de amostragem intencional para
definir sua amostra. Uma amostra intencional no conceito de Hair (2005) é a seleção de
elementos baseado em um fim específico. Nesta seleção, o julgamento do pesquisador é
usado para selecionar elementos da amostra. Estes elementos são escolhidos por que se
acredita que os mesmos representam à população alvo, mas não são necessariamente
representativos. Por se tratar de uma amostragem não probabilística a seleção dos
elementos da amostra não é necessariamente feita com o objetivo de ser estatisticamente
representativa da população. A amostra do trabalho ficou dividida em dois grupos de
produtores rurais, os que formaram e os que não formaram a cooperativa.
Para fins de levantamento dos dados (cujos métodos serão avaliados na seção
específica) foram considerados 20 produtores rurais de cada um dos grupos prédeterminado. Esse número advém da lei federal 5764/71, que baliza a criação de
cooperativas e estabelece que:
As sociedade cooperativas são consideradas:
I. Singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas,
sendo excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham
por objeto a mesma, ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou,
ainda, aquelas sem fins lucrativos. Art. 6º (Lei 5764/71)
Definiu-se então o número de 40 produtores (20 de cada grupo) como um número
razoável de entrevistas para que os objetivos deste trabalho fossem atingidos.
Foram entrevistados também quatro informantes-chave, sendo um técnico da
Prefeitura, um técnico da Emater/RS, os quais estavam vinculados ao processo, e um
produtor de cada grupo, notadamente, os que estavam liderando o trabalho de organização.
3.3 Métodos de levantamento de dados e evidências
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A coleta de dados para o estudo de caso pode se basear em muitas fontes de
evidências. Yin (2001) enumera seis fontes de evidências, das quais três foram utilizadas
no presente trabalho. São elas a entrevista estruturada, a entrevista focal e a observação
direta.
“Uma das mais importantes fontes de informações para um estudo de caso são as
entrevistas” (YIN, 2001, p. 112). O autor estabelece alguns tipos de entrevistas que foram
utilizadas no presente trabalho. Ele define a entrevista focal como uma entrevista no qual o
respondente é entrevistado em um caráter um tanto informal, mas em que provavelmente
estará sendo seguido certo conjunto de perguntas (estrutura). Cita também a existência de
uma entrevista que exige questões mais formais, denominada de estruturada, sendo
utilizado um mecanismo semelhante a um questionário para a coleta dos dados. Hair
(2005) define que entrevistas são tradicionalmente utilizadas para obter informações
detalhadas a partir de um número relativamente pequeno de indivíduos, denominando-a
como questionário em profundidade.
No caso dos quarenta produtores foi utilizada a entrevista estruturada definida por
Hair (2005) como uma seqüência de perguntas predeterminadas. Para cada entrevista, deve
ser usada à mesma sequência, e conduzido o trabalho do mesmo modo, a fim de evitar
tendenciosidade. Uma abordagem padrão, no conceito do autor, também assegura que as
respostas de diferentes entrevistas sejam comparáveis.
Os questionários foram iguais para os dois grupos, apenas diferenciados pelas letras
“A”, para o grupo que está montando cooperativa, e “B” para o que desistiu, de modo que
possam ser avaliados dados qualitativos e quantitativos. Dados qualitativos representam
descrições de coisas sem atribuição direta de números. Dados quantitativos são
mensurações em que números são usados diretamente para representar as propriedades de
algo (Hair, 2005). Assim, os questionários em voga tiveram aspectos qualitativo –
evidenciados nas qualidades e percepções dos entrevistados, e quantitativos - por que nas
análises comparativas, entre respostas dos grupos dos questionários A e B, foram levadas
em conta a quantidade de cada uma delas.
A ideia principal foi identificar em cada um dos grupos a tendência de respostas
para os mais diversos fatores, de modo a avaliar de qual modo cada um deles contribuiu
para a tomada da decisão dos participantes de um ou de outro grupo. Para esta entrevista
foram utilizadas questões fechadas, numa escala likert de cinco pontos em questões
descritivas (não numéricas). Conforme Hair (2005) questões fechadas são aquelas em que
o entrevistado pode escolher entre um número determinado de resposta. Escala Likert é
aquela que possui um ponto de origem e que torna possível comparar razões de pontos na
escala. Questões descritivas são as que, ao invés de usar conjuntos numéricos na escala,
utiliza expressões verbais como discordo totalmente, discordo, não concordo nem
discordo, concordo e concordo totalmente (HAIR, 2005). Os cinco pontos referem-se as
cinco possibilidades de respostas, conforme enumerado no exemplo.
Para a entrevista estruturada com os informantes-chaves, foi utilizado um
questionário semi-estruturado, com questões fechadas, cujo conceito já foi explicitado
anteriormente, e abertas, que se referem à questões cuja resposta não é restrita a um
conjunto pré-determinado de itens, e onde o entrevistado é livre para usar as suas próprias
palavras (HAIR, 2005). O caráter semi-estruturado se dá justamente no fato de que parte
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do questionário foi de perguntas fechadas e outro de abertas. As respostas e percepções
deste grupo de informantes foram igualmente comparadas com as advindas do questionário
feito aos produtores rurais, que embora com redação diferentes, levaram em conta os
mesmos fatores e aspectos.
A terceira fonte de evidências que foi utilizada no trabalho é da técnica de
observação direta. Yin (2001) indica que ao longo do trabalho estarão disponíveis para
observação alguns comportamentos ou condições do ambiente de caráter relevante.
Conforme ele, estas observações podem variar de atividades formais a atividades informais
de coleta de dados. Formalmente ele descreve observações em reuniões, atividades de
passeio, salas de aula e outras. Informalmente as que podem ser verificadas nas visitas para
entrevistas. De acordo com Yin (2001, p. 115) “as provas observacionais são, em geral,
úteis para fornecer informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado”. No
presente estudo, as observações do autor referem-se às atividades participantes no curso
citado na introdução, na participação ativa de formulação de documentação (atas e
estatutos) da cooperativa, e nas visitas que foram realizadas para realização das entrevistas.
A Figura 1 caracteriza a convergência das várias fontes de evidência e sua triangulação em
torno do fato investigado.
Convergência de várias fontes de evidências
Entrevistas e levantamentos
estruturados
FATO
Entrevista
Focal
Observação
Direta
Figura 1: Convergência de várias fontes de evidências.
Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Yin (2001).
As orientações para criar os questionários das entrevistas foram extraídas de Hair
(2005) conforme já explicitado ao longo da seção. O questionário levou em conta os
fatores extraídos da revisão literária como influenciadores da cooperação entre as pessoas,
relacionados aos aspectos de percepção de importância, existência e influência dos
mesmos para a decisão de cada entrevistado. Esses aspectos foram tomados de acordo com
indicações de Hair (2005) quando diz que após definidos os conceitos (fatores) a serem
pesquisados, o autor deve definir informações de classificação ou resultado, que possam
ser mensurados, bem como a redação, apresentação e leiaute do questionário.
A coleta de dados foi realizada, conforme explanado, através de entrevista
estruturada, onde necessariamente o autor fez contato com o entrevistado. Para
apresentação do entrevistador foi confeccionada uma carta, que foi apresentada a fim de
comprovar a formalidade do ato, e contribuiu para os aspectos de confiança e interação
entre o entrevistador e os entrevistados.
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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Para fim de apuração do resultado foi atribuída pontuação a cada uma das respostas
possíveis, sendo os pontos em valor de 01 a 05, conforme a escala likert descritiva, na
ordem crescente das respostas, sendo somados os pontos para se obter um valor final do
qual se identificou o resultado de cada resposta. Assim, a pontuação mínima possível para
cada aspecto (importância, existência e influência), em cada uma das perguntas, foi no
valor de 20 para os questionários A e B, e de quatro, para o questionário dos informantes
chaves, supondo-se a resposta de todos os envolvidos no primeiro item. A pontuação
máxima possível de ser obtida foi de 100 nos questionários A e B, e de 20 no questionário
dos informantes chaves, supondo-se a indicação de todos na última questão, com valor de
cinco pontos. A média entre os extremos é a pontuação 60, sendo quanto mais se aproxima
de 100, mais o aspecto se torna significativo, e quanto mais se aproxima de 20 ele se torna
menos significativo, determinando, quanto mais importante, existente e influente dentro de
cada um dos grupos ele foi.
Para melhor visualização, os gráficos serão apresentados em cores, sendo que os
itens importância dada ao fator e influência do mesmo para a formação do grupo terão as
cores azul quando a resposta for superior a 60 (em direção ao número 100) e amarelo de
60 para baixo (se aproximando do 20). Os itens de percepção de existência do fator dentro
do grupo e percepção de existência no foco pessoal terão suas respostas indicadas em barra
verde para somatório superior a 60 (em direção a situação mais significativa ou desejável ao número 100), e barra vermelha para somatório do número 60 para baixo (em direção a
situação menos desejável - ao número 20). Depreende-se então que gráficos nas cores azul
e verde serão mais desejáveis ou mais significativos para a formação do grupo cooperativo,
enquanto que gráficos amarelos e vermelhos serão menos significativos nesta formação,
conforme a percepção dos entrevistados.
No quadro 4 são apresentados os gráficos referentes a cada um dos fatores, com o
resultado do somatório das respostas dadas pelos produtores (dos grupos A e B) e pelos
informantes chaves dentro de cada um dos aspectos. Com a disposição dos gráficos em
cores, fica nítida a diferença existente entre os dois grupos, indicando-se também se o
aspecto é significativo e desejável (conforme a distribuição das cores) para a formação dos
grupos cooperativos. Conforme os gráficos, verifica-se que o grupo A (o que cooperou),
teve significativamente mais resultados desejáveis – barras verdes em detrimento a barras
vermelhas - nas suas respostas que o grupo B (o que não cooperou e que apresentou mais
barras vermelhas). Mesmo onde os resultados deste último podem ser considerados
satisfatórios, vê-se que são em pontuação inferior ao do grupo A como caso do aspecto
existência pessoal nos fatores interação, reciprocidade, cultura, colaboração, motivação e
individualismo. Apenas o item identificação de pensamentos é que apresentou incoerência
entre as respostas dadas pelos produtores e informantes-chave, uma vez que o grupo que o
considerou importante e disse que não possuía este fator (A), acabou cooperando, enquanto
que no outro grupo, o B, o resultado foi inverso (existindo o aspecto, mas não cooperando).
No fator capital cabe destacar que embora um dos aspectos, o de existência do fator no
grupo, tenha apresentado uma pontuação menos desejável para o grupo A e, em igual valor
ao do grupo B, nos demais aspectos (importância, existência pessoal e influência) a
pontuação sempre foi maior e mais desejável no grupo A do que no grupo B, sendo que no
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conjunto dos dados dos gráficos, verifica-se uma maior significância do fator no grupo que
cooperou do que no grupo que não cooperou.
Gráficos com resultados das entrevistas
Importância
Existência
GRUPO A (cooperou)
Existência Pessoal
GRUPO B (não cooperou)
CONFIANÇA
INTERAÇÃO
20
50
75
78
8
60
16
88
20 30 40 50 60 70 80 90 100
71
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
20
20
53
79
82
16
84
86
RECIPROCIDADE
INFORM. CHAVES
91
87
10
68
83
14
71
20 30 40 50 60 70 80 90 100
20 30 40 50 60 70 80 90 100
82
85
77
81
87
20 30 40 50 60 70 80 90 100
8
12
16
20
17
51
08
63
85
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
74
87
15
70
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
16
20
88
91
CULTURA
Influência
18
47
08
70
17
69
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
16
20
14
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COLABORAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
80
84
76
82
08
67
82
20 30 40 50 60 70 80 90 100
15
70
20 30 40 50 60 70 80 90 100
MOIVAÇÃO
4
8
12
16
70
78
11
77
66
20
18
77
51
51
18
80
20 30 40 50 60 70 80 90 100
20 30 40 50 60 70 80 90 100
80
85
82
20 30 40 50 60 70 80 90 100
12
16
20
18
08
67
18
70
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
75
77
80
79
8
50
84
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
79
88
METAS
20
48
16
20
14
48
09
52
18
68
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
16
20
15
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INDIVIDUALISMO
80
89
75
08
68
71
16
71
20 30 40 50 60 70 80 90 100
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
80
20 30 40 50 60 70 80 90 100
20
10
60
93
16
17
53
53
12
87
95
CAPITAL
14
52
65
15
83
20 30 40 50 60 70 80 90 100
4
8
12
16
20
Quadro 4: Representação gráfica dos resultado obtidos por cada fator nas entrevistas com os grupos de
produtores A e B e com os informantes-chave.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos resultados das entrevistas
Ao longo das entrevistas estruturadas e na observação direta foram verificados
outros fatores que influenciaram as duas decisões diferentes e que não foram referendadas
no referencial teórico, talvez por que dizem respeito a questões e características locais. Um
destes fatores apontados como facilidade por um grupo (A) e dificuldade pelo outro (B),
foi à possibilidade de escoar a produção com facilidade. Existem empresas comprando
leite diariamente na região, o que não acontece com os fruticultores, que não raro não
possuem mercado organizado para vender seus produtos. Outro aspecto apontado pelos
grupos é a sazonalidade da produção, uma vez que o leite produz retornos o ano inteiro, e
as frutas dependem de época. Um terceiro fator apontado é o tempo de retorno do
investimento. Enquanto que no leite este retorno começa mais rápido, na fruticultura
existe toda a necessidade de aguardo de maturação e produção da planta, o que em alguns
casos leva até anos.
Outro aspecto citado especificamente pelos produtores de leite como de grande
importância na decisão de montar a cooperativa foi a obrigatoriedade de adequação legal
a Instrução Normativa nº 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de
18 de setembro de 2002, que obriga a entrega do produto para a indústria, proibindo a
venda do mesmo in-natura no popular “de porta em porta”. Na opinião da ampla maioria
deles, a formação do grupo foi a solução encontrada para ganhar escala de produção a fim
de conseguir melhores preços na entrega do produto para a indústria leiteira. Por fim,
também foram citados aspectos como a má qualidade de infra-estrutura (estradas, energia
elétrica, etc...) que isolam o produtor não permitindo a sua participação efetiva nos
trabalhos em grupo; a falta de lideranças qualificadas e o baixo capital social, intelectual e
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humano dos atores envolvidos, como empecilhos para o trabalho cooperativo entre os
produtores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados coletados através dos questionários aos produtores e informantes-chave, e
na observação direta, nos levam a considerar como reposta para o problema de pesquisa
(Quais os fatores que levam os pequenos produtores rurais de Santana do
Livramento, de leite e de frutas, a cooperar ou não cooperar?) os fatores: Confiança,
Interação, Reciprocidade, Cultura, Colaboração, Motivação, Metas, Individualismo e
Capital, sendo que a existência em maior ou menor grau, dentro de cada grupo, influenciou
a sua formação ou não. Também foram apontados como fatores influenciadores das
decisões dos produtores rurais pesquisados, evidenciados na observação direta, a
capacidade de escoamento do produto, a sazonalidade da produção, o tempo de retorno do
investimento, a adequação legal e questões estruturais.
O resultado da pesquisa contribui para a identificação destes fatores de modo que
pode ser um balizador para ações voltadas a resolução do problema por ele exposto. Como
visto ao longo do mesmo, a cooperação e a formação de grupos cooperativos é um
importante instrumento para melhoria das pessoas e em conseqüência de nossa sociedade.
Trabalhar a formação destes grupos cooperativos, atacando os fatores que contribuem para
que eles não se constituam pode ser um importante passo para a resolução de melhoria de
renda e trabalho, com a conseqüente geração de emprego desenvolvimento econômico e
dignidade a todos que possam dele se beneficiar. A grande contribuição desta pesquisa é a
de justamente tentar identificar o que torna difícil a associação de um seguimento
produtivo da cidade de Santana do Livramento em torno de um objetivo.
O resultado do estudo pode apresentar limitações. Uma é que por tratar-se de uma
situação envolvendo pessoas, estas podem ser suscetíveis às mudanças das percepções no
decorrer do tempo, sendo uma medição subjetiva. Outro limitador do estudo pode estar
relacionado ao fato do mesmo não representar a população de pequenos produtores rurais
de Santana do Livramento, mas uma amostra intencional, não sendo possível afirmar que o
resultado desta possa ser transferido para aquela. Apesar destas limitações, o trabalho tem
sua validade ao pelo menos apresentar uma ideia do que pode vir a ser os problemas
relativos à falta de capacidade de associativismo na cidade.
Esta pode ser até a sugestão para uma pesquisa futura, que englobe uma quantidade
maior de produtores, a fim de verificar estas percepções num universo maior, e, ai sim ter
uma ideia da influencia destes fatores na decisão de cooperar ou não cooperar em todo o
município. Sugere-se também um comparativo, semelhante ao ocorrido entre os pequenos
produtores de leite e de frutas de Santana do Livramento, mas em relação aos produtores
rurais da região da campanha (onde está inserido o município), e produtores de outras
regiões do estado, a fim de verificar as semelhanças e diferenças entre eles no que tange ao
trabalho cooperativo e ao associativismo.
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Razões pelas quais pequenos produtores rurais