Segundo Marx, o conjunto das relações de produção constitui a base, uma infra-estrutura sobre a qual se assenta a superestrutura jurídica, política e ideológica. Um dos pensadores a se opor à versão dogmática do marxismo, acentuando o seu caráter dialético foi Gramsci (1891-1939) que enfatizou a importância da ideologia na luta revolucionária, reafirmando que ela não pode ser vista como simples reflexo mecânico das condições sócio-econômicas. Gramsci (1982) não nega a função reprodutora da escola, porém, atribui a ela, assim como outras instituições da sociedade civil, uma função dialética, ou seja, manter e abalar as estruturas do sistema capitalista, assumindo, nesse segundo caso, o compromisso da sociedade. Dessa forma, à dominação econômica se aliam a dominação política e a dominação ideológica. A concepção de mundo imposta pela classe dominante, aceita e assimilada pelas classes subalternas, através da persuasão e do consenso, é o que Gramsci denomina de senso comum. O senso comum é, portanto, uma forma de concepção de mundo ocasional e desagregada que prevalece nas classes dominadas antes da formação de sua consciência de classe. A passagem desse estágio para uma concepção de mundo coerente e homogênea se faz através da filosofia da práxis. Há no senso comum um núcleo sadio e positivo, resultante da experiência e da observação da realidade, chamado por Gramsci de bom senso. É esse núcleo sadio do senso comum que deve ser trabalhado e transformado em consciência de classe, ou seja, uma concepção de mundo adequada às necessidades e aspirações das classes dominadas. Compete aos intelectuais orgânicos a tarefa de lançar, no âmbito da sociedade civil, uma contra-ideologia proletária, promovendo a elevação cultural das camadas subalternas e realizando, assim, uma reforma intelectual e moral na sociedade que deve caminhar conjuntamente com as lutas econômicas e políticas. Gramsci propõe a escola unitária. A articulação dessas concepções com o processo concreto atual carrega características da consolidação do poder burguês com a sua visão liberal, resultando numa escola como instrumento de realização dos ideais liberais. Numa breve retrospectiva, surge, por volta de 1850 a 1900, a idéia da “Escola Redentora da Humanidade”, campanhas pela escola pública, universal e gratuita, os sistemas nacionais de ensino, etc. No século XX, a partir da Primeira Grande Guerra, as esperanças de redenção através da escola frustram-se. Passa-se a acreditar que a razão do fracasso não estava na escola, mas no seu tipo, daí a procedência das reformas. Eclode o movimento da escolanova, que perde seu ímpeto a partir da Segunda Grande Guerra. Passa-se a falar em educação permanente (educação informal) e até a advogar a destruição da escola, atribuindo-se importância educativa aos meios de comunicação de massa. A “Escola Redentora da Humanidade” corresponde à escola convencional de concepção humanista tradicional. A escola nova, de inspiração humanista moderna, pretendeu reformular o aparelho escolar. A fase seguinte, tecnicista, vem do aproveitamento das conquistas tecnológicas no processo educativo. A última fase da concepção dialética vem provar que até então, tudo o que se disse incorre numa falácia. Não é verdade que uma etapa sucede a outra linearmente, no sentido de ser substituída ou superada sucessivamente, haja vista a predominância da escola convencional nas redes escolares oficiais até a presente data. A escola nova constitui uma exceção, com influências apenas superficiais nas escolas oficiais e reduzidas às escolas experimentais para grupos de elite. Idem os meios de comunicação de massa da terceira etapa. Contudo é útil acompanhar todos esses movimentos, principalmente para ver o que não se deve fazer, já dizia A. Gramsci. Para dissipar a falácia é necessário adentrar os fatos e vincular o processo educativo às condições estruturais da sociedade, uma vez que é essa, em última instância, que o possibilita. Numa retrospectiva histórica, a burguesia, ao consolidar-se no poder, torna-se classe dominante e hegemônica, a sua visão liberalista transforma-se em senso comum, sem anular os antagonismos de classe do modo de produção capitalista, que agora ao invés de claros, são pressupostos. Essa sucessão de etapas e suas concepções diferenciadas são mecanismos acionados pela classe dominante para perpetuar e garantir sua hegemonia. A escola tradicional é um instrumento político para se implantar a democracia efetiva an-