OS CAMINHOS DO CONHECIMENTO: SENSO COMUM E CIÊNCIA
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O senso comum é aquela forma de explicar a realidade onde o conhecimento é adquirido por
tradição, aprendido com os antepassados. É um conhecimento que não é refletido e está relacionado
a costumes, crenças e preconceitos. É ingênuo (não-crítico), fragmentário (difuso, incoerente) e
conservador (resistente às mudanças). Buscando distinguir o senso comum da ciência podemos
caracterizá-la por basear suas conclusões em organizações sistemáticas que fundamentam o
controle dos fatos na experimentação.
Sendo assim, saber que a água muda a sua forma de acordo com a temperatura em que se
encontra, não implica em saber as causas que levam a esta mudança. O senso comum é impreciso
em sua investigação, enquanto que para a ciência a precisão é fundamental. O senso comum é um
conhecimento particular, restrito, a partir do qual muitas afirmações apressadas e sem
aprofundamento são feitas. Por exemplo, quando uma pessoa vai atravessar uma avenida, ela olha
para os dois lados, sem precisar calcular a velocidade média, a distância, ou o atrito que o carro
exerce sobre o solo, ela simplesmente olha e decide se dá para atravessar ou se deve esperar.
No senso comum acaba-se, equivocadamente, concluindo para todos os objetos aquilo que
só vale para um ou para o grupo observado. O particular é indicado como universal. As suas
afirmações são assistemáticas, enquanto que as da ciência são sistemáticas e controláveis pela
experiência, esta sim atinge conclusões gerais, ou seja, não são válidas apenas para os casos
observados, mas sim para todos os outros que se assemelham. Afirmações como, dois corpos não
ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo; a cor de um objeto depende da luz que ele reflete, são
válidas para todos os objetos e não apenas para os utilizados na experiência.
O saber comum observa o fato a partir do conjunto de dados sensíveis que formam a nossa
percepção imediata e subjetiva do mundo. O saber científico é abstrato e atinge um grau de
generalidade: quando nos referimos a dilatação ou ao aquecimento, por exemplo, é possível que
estejamos muito distantes destes fenômenos.
O senso comum é fragmentário, visto ser incapaz de estabelecer relações entre fenômenos,
como por exemplo, a relação entre a Lua e as marés. O senso comum é subjetivo e a ciência
objetiva: se quisermos avaliar a temperatura de um ambiente, o senso comum utiliza sua função tátil,
ou seja, a própria pele, enquanto que a ciência utilizaria um termômetro. Percebemos que a ciência
se mostra neste caso, muito mais precisa que o saber comum, que irá fundamentar-se também em
juízos pessoais e, portanto em emoções e valores. Quando, por exemplo, vamos julgar alguém em
seu aspecto profissional, há a influência de nossa empatia ou antipatia por esta pessoa. De igual
maneira, diante de pessoas com costumes diferentes, muitas vezes os consideramos, estranhos,
engraçados e até inferiores.
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Baseado em: Martins, Maria Helena Pires/ Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à
filosofia. 3 ed. Revista, São Paulo: Moderna, 2003. p. 439. pp. 60-62, 156-161.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Senso_comum (acessado em 23 de novembro de 2010).
A ciência, por almejar a objetividade, deverá conseguir que as conclusões obtidas possam ser
verificadas por qualquer outro membro da comunidade científica, visto que a sua racionalidade
procura eliminar a influência do emocional. Para tal ela utiliza uma linguagem rigorosa, cujos
conceitos são estabelecidos a fim de evitar desentendimentos. Esta linguagem é muito precisa e
utiliza-se da matemática para transformar qualidades em quantidades.
Outra diferenciação é que o senso comum busca uma aplicação prática de seu
conhecimento, buscando sempre resultados e benefícios imediatos. A ciência, embora sua aplicação
prática seja inegável, sua intenção com a investigação é a de compreender a estrutura causal do
mundo; compreender de que modo funciona a natureza.
O senso comum precisa ser transformado em Bom senso, entendido como posicionamento
crítico frente ao saber e como explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres. É o que
podemos chamar de juízos sábios.
A rigorosidade do método científico é que permite a ciência atingir esse conhecimento
sistemático, preciso e objetivo, estabelecer relações universais entre fenômenos, prever
acontecimentos e agir seguramente sobre a natureza.
Desta forma podemos ter sobre o senso comum a impressão de que seja uma forma precária
e distorcida de se enxergar o mundo e que a ciência seria uma possibilidade de fuga a esta pobreza
mental. No entanto isso não é verdade. A ciência não deve ser vista como a única forma de se
explicar a realidade e muito menos como sendo infalível. Além disso, ela está em constante evolução
e seus resultados são sempre provisórios. Ao fazermos a distinção entre senso comum e ciência
estamos apenas levantando diferenças, sem supervalorizar a ciência em detrimento de qualquer
outra forma de se explicar a realidade, como o mito, a religião, a arte, a filosofia.
Renunciamos ao exercício do bom senso, quando nos submetemos ao poder dos técnicos e
especialista. Cultuamos as pessoas “estudadas” como sendo detentoras de todo o conhecimento. E
esquecemos que qualquer indivíduo é capaz de desenvolver a autoconsciência, de elaborar
criticamente o próprio pensamento e de analisar a situação em que vive. Essa passagem do senso
comum para o bom senso não é automática e um dos obstáculos deste processo encontra-se na
difusão da ideologia.
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