UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PÓS- GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA SUPERIOR
Título:
GERENCIAMENTO DOS RECURSOS DE TRIPULAÇÃO
CREW RESOURCE MANAGEMENT – CRM
Por
SANDRA FERNANDES BRAGA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção de título de especialista em
Docência Superior
Orientadora: Profª Maria Esther
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PÓS- GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA SUPERIOR
Título:
GERENCIAMENTO DOS RECURSOS DE TRIPULAÇÃO
CREW RESOURCE MANAGEMENT – CRM
Por
SANDRA FERNANDES BRAGA
Janeiro/2002
RESUMO
Os trágicos acidentes aéreos ocorridos na década de 70 tiveram grande
repercussão a nível mundial e na comunidade aeronáutica internacional. Não só por
envolver companhias aéreas renomadas e pela dramaticidade dos fatos, mas pela
conclusão dos estudos, onde o erro humano fora apontado como a causa central dos
acontecimentos. Esses acidentes despertaram na comunidade aeronáutica, a
necessidade de desencadear um processo de educação básica sobre Fatores Humanos.
A mídia, as entidades normativas e fiscalizadoras e associações profissionais
ligadas às atividades aeronáuticas, notadamente nos Estados Unidos, reacenderam, com
vigor, o debate em torno da Segurança de Vôo e sua eficácia. Relatórios com estatísticas
foram publicados apontando que o mau Gerenciamento dos Recursos de Tripulação, é
fator que causa 70%, em média, dos acidentes fatais com jatos comerciais.
As falhas dos equipamentos e as más condições meteorológicas não são
apontadas como as principais causas dos acidentes aéreos. Computadores de bordo
tornaram-se cada vez mais sofisticados, substituindo várias tarefas ligadas à pilotagem.
Os relatórios da NTSB – National Transportation Safety Board – apontam
freqüentemente problemas relacionados com a falta de disciplina na cabine de comando,
pois a tripulação não segue os procedimentos prescritos. Assim sendo, o papel do
Comandante é ampliado incluindo, não só as tarefas rotineiras ligadas à operação, mas o
gerenciamento eficaz da equipe de tripulantes, visando o controle do erro humano e maior
Segurança de Vôo.
Surgem, portanto, no final dos anos 70 e durante os anos 80, estudos e
recomendações indicando que companhias aéreas devem acrescentar nos treinamentos
da tripulação abordagens ligadas ao gerenciamento de recursos ou como ficou conhecido
na aviação, os treinamentos de CRM (Crew Resource Management).
Em 1986, a OACI (Organização Internacional da Aviação Civil), realizou uma
Assembléia onde foi discutida a Segurança de Vôo e os Fatores Humanos – Resolução
A26-9.
Em 1990, na Circular 216-NA/131, a OACI estabelece os Conceitos Fundamentais
sobre Fatores Humanos. Na introdução desse importante documento, afirma que “o
comportamento e o rendimento humano são apontados como fatores causadores da
maioria dos acidentes aéreos”
No início do 1º capítulo, que é dedicado ao significado dos Fatores Humanos, são
feitas as seguintes colocações:
•
“O elemento humano é a parte mais flexível e valiosa do sistema aeronáutico e
é também o mais vulnerável a influências que podem afetar negativamente seu
comportamento.
•
Três em cada quatro acidentes tem sido o resultado de comportamentos
humanos considerados menos que ótimo, por conseguinte são registrados
como erro do piloto, porque encobrem fatores subjacentes que devem fornecer
evidências, para que se possa evitar outros acidentes.
•
A preocupação primária dos Fatores Humanos é a compreensão das
capacidades e limitações humanas previsíveis.
•
Fatores Humanos devem envolver todos os aspectos do comportamento e
desempenho humano: a tomada de decisão e outros processos cognitivos, o
desenho dos instrumentos, os controles, a comunicação, suporte dos
computadores, mapas e cartas, etc.
•
Fatores Humanos se referem às pessoas e suas situações de vida e de
trabalho; suas relações com a máquina, com os procedimentos e com o
ambiente que as rodeiam, e se referem, também, às suas relações com os
demais colegas de trabalho.
•
Na aviação, os Fatores Humanos envolvem uma série de considerações
pessoais, médicas e biológicas para se obter a excelência nas aeronaves e no
controle do tráfego aéreo”.
Habilidades ligadas aos Fatores Humanos devem ser desenvolvidas para garantir
a excelência do relacionamento entre pilotos e comissários e o desenvolvimento de suas
atividades que impactam diretamente o gerenciamento do vôo, visando:
maior segurança, menos erro, maior eficiência operacional e maior conforto
ao passageiro.
É comum dizer-se que o Homem é o centro do universo.
No Gerenciamento de Recursos de Tripulação (CRM), a mensagem principal é
voltada para as relações humanas com o objetivo final de cumprir a missão mantendo a
segurança.
Caso se pudesse resumir o conceito de CRM em uma frase seria:
“AUTORIDADE COM PARTICIPAÇÃO E ASSERTIVIDADE COM RESPEITO”
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da aviação, os acidentes são uma preocupação mundial. Não só
pela perda de vidas e equipamentos, mas também pela repercussão negativa dos mesmos
para os operadores das aeronaves acidentadas, sejam militares, comerciais, executivas ou
particulares.
Sabe-se que voar e fazer voar são atividades muito dispendiosas. Objetivamente,
além dos danos afetivos irreparáveis, acidentes poderão trazer prejuízos financeiros aos
operadores que podem culminar na contração da “empresa “ envolvida ou até mesmo em sua
extinção. Já preocupadas com tais fatores, empresas aéreas comerciais, em trabalho
conjunto com fabricantes de aeronaves, evoluíram com o tempo nas providências tomadas
para diminuir as ocorrências de acidentes aéreos.
Nas décadas de 30 e 40, as preocupações eram exclusivamente voltadas para a
melhoria dos materiais e equipamentos utilizados na fabricação, de forma a tornar mais
seguro o produto final, qual seja, o avião.
Atingindo um nível bastante satisfatório nesse aspecto, nos anos 60 e 70 as
preocupações voltaram-se para o incremento do treinamento técnico operacional dos
tripulantes, a competência técnica, tendo em vista a incidência de acidentes causados por
falhas operacionais decorrentes de falta de treinamento ou conhecimento da aeronave.
Finalmente, a partir dos anos 80, observou-se o aumento de ocorrências trágicas no
meio aeronáutico causadas por “falhas humanas” (Fator Humano) no gerenciamento e na
administração dos recursos técnicos e humanos presentes nas aeronaves.
Tais observações foram fruto de análise dos CRV (Cockpit Voice Recorder) existentes
nas aeronaves comerciais.
Uma estatística de 1987 a 1996 divulgada pela Boeing mostra que 72% dos acidentes
aéreos foram causados por erros de tripulação. Tal percepção impulsionou as empresas
aéreas e fabricantes, principalmente, a buscarem soluções que reduzissem tais ocorrências,
nascendo então o “CRM”.
Em termos, a evolução acima descrita pode ser resumida da seguinte forma:
1ª preocupação: melhoria do equipamento;
2ª preocupação: incremento da melhoria técnica;
3ª preocupação: gerenciamento da tripulação.
Assim, o somatório “Equipamento + Competência Técnica + Gerenciamento da
Tripulação” certamente resultará em “Segurança de Vôo”.
Além disso, houve também uma evolução no termo “CRM”, bem como nas suas
características, o que veremos a seguir.
Três históricos acidentes ocorridos na década de 70 contribuíram para o aparecimento
do CRM, sendo o último deles considerado o marco do início da “Era CRM”.
O primeiro deles ocorreu com o Loockheed L-1011 Tristar da EasternAirline, vôo
401, em 29 de dezembro de 1972, que mergulhou nos pântanos do Parque Nacional de
Everglades, a 18.7 milhas oeste do Aeroporto Internacional de Miami, em virtude da falha
de indicação de travamento do trem de pouso do nariz da aeronave.
O segundo ocorreu em 27 de março de 1977, no Aeroporto de Los Rodeos, em
Tenerife, Ilhas Canárias, onde as condições de visibilidade eram muito baixas. A
aeronave B-747 da KLM, composta por uma tripulação experiente, iniciou a corrida de
decolagem sem autorização da torre. Mais à frente, outro B-747 da Panam taxiava pela
pista, porque a área
de manobras estava cheia. O KLM colidiu com o Panam causando o maior número de
mortes em um só acidente, um dos mais trágicos acidentes da história da aviação, onde
foram ceifadas 583 vidas. A causa fundamental do acidente foi que o comandante da KLM
decolou sem autorização da torre em decorrência da falta de comunicação.
O terceiro ocorreu em 28 de dezembro de 1978, com um MaC Donnell Douglas
DC-8 da United Airlines, vôo 173, que caiu a seis milhas Sudeste da cabeceira de pouso
do Aeroporto de Portland nos Estados Unidos, com pane seca, após mais de uma hora de
espera na resolução sobre a indicação de uma pane no abaixamento do trem de pouso.
Após esses grandes acidentes, por recomendação da Organização Internacional
de Aviação Civil – OACI, as grandes empresas comerciais programaram-se para
implementar o “CRM” na instrução de seus tripulantes.
Os CRM conhecidos como de 1ª e de 2ª gerações, direcionavam suas atividades
exclusivamente para a tripulação de cabine de comando, daí a denominação “Cookpit
Resource Management”. Os que vieram a seguir chamados de 3ª e 4ª gerações, tratam
da tripulação como um todo e são chamados de “Crew Resource Management”.
Já se fala de uma 5ª geração, que envolveria toda a empresa, desde a diretoria
geral, passando pelas tripulações, até os funcionários de solo, resultando no “Company
Resource Management”.
1 - A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL- OACI
1.1 – FATORES HUMANOS
A
OACI celebrou o primeiro de uma série de simpósios mundiais sobre
Segurança de Vôo e Fatores Humanos em 1990. Desde o começo, quando a primeira
atividade se realizou em uma cidade então conhecida como Leningrado, existia a
convicção que a Aviação Internacional poderia avançar muito na melhoria de segurança
operacional, aplicando conhecimentos sobre Fatores Humanos.
Esse primeiro simpósio foi um marco e abriu caminho para ulteriores reuniões nos
Estados Unidos em 1993, na Nova Zelândia em 1996 e finalmente no Chile em 1999.
Tem havido alentadoras novidades desde 1990, porém deve-se destacar que ainda
enfrentamos desafios: o erro humano continua sendo uma importante preocupação de
segurança.
A finalidade dos dez seminários internacionais celebrados na década passada
resultaram aumentar a consciência dos Estados Contratantes da Convenção de Chicago,
indústrias e organizações de todas as regiões regulamentadas pela OACI sobre a
importância dos Fatores Humanos na Aviação Civil.
A implementação, em curso, dos Sistemas de Navegação, Vigilância e Gestão
do Tráfego Aéreo ( sistema de radares CNS/ATM) da OACI, introduziram novos desafios
e também novas possibilidades de erro humano, criando assim outra oportunidade de
aplicar o conhecimento sobre a matéria Fatores Humanos.
A razão pela qual a comunidade aeronáutica deve responder a essa necessidade
é, certamente, assegurar que a Aviação Civil continue alcançando seu objetivo final: o
transporte seguro e eficiente de passageiros e mercadorias.
Porém, antes que a comunidade aeronáutica possa aplicar esse conhecimento
com êxito, os requisitos fundamentais devem ser satisfeitos.
Primeiro, a indústria aeronáutica deve assegurar-se que a interação humanotecnológica segue centrando-se no ser humano.
O segundo requisito trata da integração. A indústria desenvolveu excelente
tecnologia que sem dúvida contribuiu para melhorar a segurança, porém devemos
reconsiderar os contextos operacionais onde se aplicam as tecnologias. Em outras
palavras, as capacidades e limitações humanas devem ser levadas em conta ao se definir
o planejamento do sistema e antes que o sistema entre em funcionamento.
A OACI tomou a iniciativa elaborando normas sobre os Fatores Humanos, que
levam em consideração a atuação humana nos procedimentos os operacionais e futuros,
e exorta, com ênfase, a comunidade aeronáutica a seguir essas normas.
O programa da OACI sobre Segurança de Vôo e Fatores Humanos está orientado
para a segurança, em especial, nas operações. Além disso, é prático, dado que, deve
tratar de problemas reais num mundo real.
É importante ter um enfoque sistêmico da segurança operacional e dos fatores
humanos, uma vez que, o requisito de integração vai muito além da consideração de
aspectos isolados da interface humano-tecnológica. A atuação humana ocorre em um
contexto operacional e por conseguinte, deve-se, também, aplicar o conhecimento dos
fatores humanos nos sistemas operacionais.
A primeira iniciativa prática foi o Plano Global da OACI para a Segurança
Aeronaútica (GASP), elaborado pela Comissão de Aeronavegação da OACI , em 1997, e
posteriormente aprovado pelo Conselho da OACI e avaliado pela Assembléia da
Organização. O GASP foi delineado para coordenar e proporcionar uma direção comum
às atividades dos Estados e da indústria na maior medida possível em assuntos de
Segurança. É um mecanismo que permite à OACI concentrar recursos e estabelecer
prioridades, sublinhando aquelas atividades que mais contribuíram para melhorar a
Segurança de Vôo.
Não obstante, para que o GASP tenha êxito, é absolutamente crucial um alto grau
de cooperação mundial na implantação de seus principais elementos. A OACI pode
proporcionar o marco de referência, porém, em última instância, será o esforço
concentrado da comunidade aeronáutica , dos Estados Contratantes e da indústria, em
global cooperação, que determinará em grande medida o seu êxito.
Essa cooperação mundial é a base de outra importante iniciativa sistêmica: o
Programa de Auditoria da Vigilância da Segurança Operacional. As informações obtidas
por intermédio dessas auditorias, periódicas, obrigatórias, sistemáticas levadas a cabo em
todos os Estados Contratantes, permitirá, em prazos razoáveis, minimizar as deficiências
na responsabilidade da vigilância operacional. Foram elaborados mecanismos que
melhoram a transparência e o efetivo intercâmbio das informações, ampliando o programa
a todos os setores relacionados com a Segurança da Aviação Civil.
Não há, até o momento, melhor exemplo de cooperação global em execução.
Significativas forças políticas e sociais dão nova forma a nosso mundo,
diariamente, conduzindo inexoravelmente à globalização…
A Segurança Operacional na Aviação Civil não é um aspecto regional, nacional ou
continental, e sim um problema mundial.
A OACI, como órgão mundial, pode e deve assumir o papel de liderança, por
intermédio de várias iniciativas, porém os Estados Contratantes da Convenção de
Chicago, através de seus órgãos reguladores, e a comunidade aeronáutica internacional,
em geral, devem comprometer-se plenamente para lograr o maior nível de segurança
possível. A Segurança Operacional da Aviação Civil é particularmente notável quando
consideramos o meio extraordinariamente hostil em que se realizam os vôos. De um lado
o entorno físico, com temperaturas e pressões extremas, fazem impossível a vida humana
sem suporte adequado. Além disso, as velocidades que permitem operações entre
imensas distâncias através dos meridianos, em curto espaço de tempo, exigem
cuidadosas considerações de aspectos básicos da atuação humana como a defasagem e
a disritmia circadiana. Por outro lado, o entorno sócio-econômico, com exigências do
mercado que obrigam as organizações aeronáuticas a tratar de produzir “mais com
menos” para manter a viabilidade econômica, gera cargas inevitáveis para quem opera,
mantém e controla o sistema.
É consenso geral que há um obstáculo importante para que o histórico da
segurança da aviação seja perfeito: o erro humano. Não somente na cabine de
pilotagem, mas também em todos os processos que servem de base às operações de
vôo, incluindo o projeto e a fabricação das aeronaves, os equipamentos de auxílio à
navegação e as decisões comerciais que afetam as operações cotidianas.
O objetivo, tanto agora como antes, é continuar melhorando a segurança
operacional da aviação, fazendo com que os Estados e a indústria aeronáutica conheçam
melhor e respondam à importância dos Fatores Humanos nas operações da Aviação Civil,
mediante conscientização de todos e medidas práticas sobre a matéria, elaboradas com
base na experiência já adquirida.
2 - CONCEITUAÇÃO - CRM (CREW RESOURCE MANAGEMENT)
Desde o final da década passada, o conceito de Gestão de Recursos de tripulação
(CRM) se estendeu pelo mundo, sofreu críticas, e atualmente encontra seu lugar na
nossa cultura de segurança concentrando-se na “Gestão de Erros e Ameaças”.
A instrução de CRM é obrigatória para os pilotos em todos os Estados
Contratantes da OACI, e também é exigida em linhas aéreas de alguns países da União
Européia que avaliam a idoneidade individual em comportamentos relacionados ao CRM.
No que tange a sua aplicação, se acumularam provas consideráveis que
demonstram a efetividade da instrução CRM em modificar comportamentos e atitudes.
O CRM consiste na aplicação do conhecimento sobre Fatores Humanos, no caso
especial de tripulações de vôo e suas interações entre si, com outros grupos e com a
tecnologia do sistema. Em definição mais ampla, o CRM consiste na efetiva utilização de
todos os recursos disponíveis: humanos, de informação e do equipamento, para lograr o
objetivo maior, do vôo seguro e eficiente. Mais concretamente, é o processo ativo
implementado pelos membros da tripulação para identificar as ameaças existentes e
possíveis, e elaborar, comunicar e implementar planos e medidas para evitar ou minimizar
as ameaças percebidas. O CRM também apoia as formas de evitar, gerenciar e minimizar
os erros humanos.
As vantagens secundárias dos programas efetivos são a melhoria do moral do
pessoal envolvido e um aumento da eficiência nas operações.
Muitos opinam que os aspectos do CRM são subjetivos e não podem ser
avaliados. O medo de uma avaliação injusta é certamente uma preocupação legítima dos
pilotos, cuja maneira de ser, de se relacionar, está em cheque. Não obstante, os
programas de CRM contemporâneos se concentram em comportamentos específicos e
bem definidos. Estes comportamentos eleitos para avaliação na União Européia ( e
estritamente relacionados com os “marcadores de comportamento” definidos pelo grupo
de investigações da Universidade do Texas) são objetivos e observáveis.
Atualmente já está estabelecida qual a função do treinamento de CRM em uma
organização. Alguns sustentavam que o CRM deveria em última instância, integrar a
instrução técnica. Não obstante, a maioria dos especialistas se dão conta, atualmente,
que a gestão dos recursos de tripulação é, e deve continuar sendo, um aspecto separado
da instrução.
A Gestão de Recursos de Tripulação – CRM, corresponde a intercessão dos
setores de segurança operacional, instrução de vôo e operações de vôo; a instrução de
CRM se realiza e funciona graças a dados objetivos que refletem aspectos operacionais.
O CRM não é uma intervenção especial, senão um componente crítico e contínuo da
cultura de segurança.
2.1- A CULTURA – O ELO PERDIDO
Os primeiros programas de CRM de investigação do erro humano em acidentes,
consideravam a cabine de pilotagem como um universo isolado. Com o crescente
perfeccionismo técnico, se entende agora que as operações de vôo são parte de um
complexo sistema, fortemente influenciado pelas culturas.
Existem três culturas que se unem em torno de cada tripulação de vôo: nacional,
da organização e profissional.
Um especialista definiu muito adequadamente a cultura como “o suporte lógico da
mente”. Mais tecnicamente, a cultura consiste
nas normas, valores e práticas
compartilhadas por uma nação, organização ou profissão. Alguns aspectos da cultura
nacional podem influir no comportamento da tripulação.
2.1.1 - Cultura Nacional
Duas dimensões relacionadas com a cultura nacional têm particular pertinência
para a aviação: o individualismo se opondo ao coletivismo e a “distância do poder” (quer
dizer, o afastamento de quem tem na sociedade autoridade para tomar importantes
decisões políticas); em uma cultura com pouca distância do poder, por exemplo, esses
funcionários são geralmente accessíveis.
Aqueles que procedem de culturas individualistas, que também têm pouca
distância do poder, tendem a concentrar-se em si mesmos, na autonomia e nas
vantagens pessoais, enquanto os que procedem de culturas coletivistas caracterizadas
por grandes distâncias do poder, mostram maior preocupação com o grupo e pelas
relações harmoniosas, assim como deferência para com os dirigentes.
Outra relação pertinente se relaciona com a atitude frente às normas.
De um lado, estão aqueles que acreditam que as normas não devem ser violadas,
que são necessários os procedimentos escritos para todas as situações e que se deve
observar estritamente os limites do tempo. Esta dimensão tem demonstrado ser a que
contém maiores e mais importantes diferenças culturais. No extremo superior, muitas
culturas asiáticas estão orientadas para as normas, enquanto que os Estados Unidos e o
Reino Unido são exemplos do outro extremo do “continuum”, demonstrando muito menor
preocupação com as normas e procedimentos escritos.
A cultura influi em como os novos tripulantes se relacionam com os pilotos de mais
experiência, incluindo sua disposição para expor sua visão crítica, o que demonstra a
forma como compartilha a informação.
A cultura influencia no cumprimento dos procedimentos operacionais
normatizados. Também foi detectado, insuspeitadamente, que a cultura está fortemente
relacionada com uma percepção da automatização e com as atitudes sobre o uso
apropriado da mesma.
2.1.2 – Cultura da Organização
As organizações podem funcionar em uma cultura nacional ou transcender
fronteiras nacionais. A cultura de uma organização demonstra suas atitudes e políticas
sobre o erro humano, o grau de abertura das comunicações entre a administração e a
tripulação de vôo e o nível de confiança entre a tripulação de vôo e a administração
superior. A cultura da organização também influi nas normas relativas ao cumprimento
dos regulamentos de operações. Tem grande importância, também, que a cultura da
organização determine o nível de compromisso para com a segurança e o fortalecimento
de uma cultura de segurança.
2.1.3 – Cultura Profissional
Muitas profissões exibem fortes características e desenvolvem suas
próprias normas e valores segundo características reconhecíveis como uniformes ou
distintas. Na aviação, os aspectos positivos da cultura profissional se mostram na forte
motivação para trabalhar bem e um elevado nível de orgulho profissional.
Existe também um componente no sentimento de invunerabilidade pessoal. Os
investigadores da Universidade do Texas encontraram, que, a maioria dos pilotos de
todas as nações estão de acordo em que suas decisões são tão boas em emergências
como em situações normais, que sua atuação não é afetada por problemas pessoais e
que não cometem mais erros quando aumenta a tensão.
Se bem que os aspectos positivos da cultura profissional contribuam, sem dúvida,
para o excelente histórico da Segurança da Aviação, esse sentimento de invunerabilidade
pode levar a riscos, a desconfiar dos outros tripulantes e a cometer erros.
2.2 – PROGRAMAS CRM BASEADOS EM DADOS
Existem cinco fontes principais de dados sobre os quais basear os programas
CRM e cada uma delas esclarece um aspecto diferente das operações de vôo.
Pode-se obter dados de avaliação oficiais da atuação na instrução e no trabalho,
assim como em informes de incidentes de sistemas não punitivos que fomentam a
comunicação aberta, assim como estudos das percepções das tripulações sobre
Segurança e os Fatores Humanos.
Registros de rápido acesso permitem informações sobre a realização do vôo.
Não obstante, cabe ressaltar que embora esses dados contemplem um indício
confiável do que ocorreu, não indicam a causa do erro.
As auditorias de Segurança de Operações em linhas aéreas são também uma
importante fonte de informações.
Os observadores codificam as ameaças à segurança e como os tripulantes as
enfrentam, os erros e seus gerenciamentos e comportamentos específicos relacionados
com acidentes e incidentes ( e que formam a base da instrução CRM contemporânea).
O risco à segurança provém de ameaças esperadas e inesperadas. As ameaças
esperadas compreendem fatores como a rota, condições meteorológicas previstas e
condições do aeroporto. As inesperadas compreendem ordens não entendidas do
Controle de Tráfego Aéreo (ATC), falhas nos sistemas e pressões operacionais. O risco
também pode aumentar por erros fora da cabina, por exemplo, por falhas do ATC,
manutenção ou despacho. As ameaças externas se defrontam com as defesas
proporcionadas por comportamentos CRM que, quando têm êxito, levam a um vôo
seguro.
Além dos erros externos, as próprias tripulações podem equivocar-se, e uma vez
mais, os comportamentos CRM são sua última linha de defesa. Se as defesas têm êxito, o
erro é contido e se restaura o vôo seguro. Se as defesas caem, podem ocorrer mais erros
ou um acidente ou incidente.
Pesquisas da Universidade do Texas demonstraram que 72% de todos os vôos
enfrentam uma ou mais ameaças para a segurança, cujo número por vôo varia de zero a
onze. A média foi de duas ameaças por vôo.
As ameaças mais comuns foram em rota perigosa (58% dos vôos), condições
meteorológicas adversas (28%), falhas da aeronave (15%), ordens inusitadas do ATC
(11,%), erros externos (8%) e pressões operacionais (8%).
As ameaças para a segurança se devem mais freqüentemente nas fases de
descida, aproximação e aterrissagem (40%).
3 – MODELO DE ERRO BASEADO NA TRIPULAÇÃO
Os erros na cabine têm recebido maior atenção das investigações de segurança e
o erro da tripulação tem incidido em torno de dois terços dos acidentes aéreos. As
análises do erro humano levaram a reclassificar e redefinir o erro no contexto aeronáutico.
Em operações, o erro da tripulação de vôo se define como ação ou falta de ação
que leva a desviar-se das intenções ou previsões da tripulação ou da organização. Esta
definição classifica cinco tipos de erros:
•
não cumprimento intencional ou violação das regras de operação, por
exemplo, omitir informações ou listas de verificações requeridas;
• procedimentos em que a intenção se corrige, porém a execução falha;
•
erros de comunicação quando transmite ou interpreta incorretamente a
informação; por exemplo, incorreta interpretação do ATC ou comunicação equivocada
com outro piloto;
•
erros de idoneidade que indicam conhecimento insuficiente ou falta de
perícia ou prática; e
•
erros de decisão operacional nos que a tripulação toma uma decisão que
aumenta desnecessariamente o risco, por exemplo, manobras extremas na aproximação,
decidir o vôo em condições meteorológicas adversas ou confiar demasiado na
automatização.
Foram identificados três tipos de respostas a erros.
•
em primeira instância, o erro é detectado pela tripulação e gerenciado
antes que tenha conseqüências ou conduza a outros erros;
•
no segundo caso, o erro se detecta, porém a ação ou falta de ação da
tripulação leva a um resultado negativo;
•
o último tipo de resposta é, na realidade, uma não resposta. A tripulação
não reage porque o erro não é detectado ou prefere ignorá-lo.
4 - A CULTURA DO ERRO: PUNIÇÃO X TREINAMENTO
Pilotos erram e causam acidentes; mas a simples punição do indivíduo nem
sempre é a maneira mais eficaz de se prevenir novos acidentes. Muitas vezes, é
necessário modificar toda a cultura de uma empresa.
Vamos supor que acabou de acontecer um acidente em uma companhia aérea.
Ninguém morreu, mas a aeronave ficou destruída. A investigação ainda está em curso,
mas não é preciso esperar pela conclusão do relatório final do acidente para dizer o que
aconteceu: o piloto errou. O diretor de operações deve decidir qual medida deve ser
tomada em relação ao piloto. A primeira reação, nesses casos, costuma ser a punição do
profissional: suspensão de missão, pagamento pelos danos, etc. Porém algumas
perguntas devem ser feitas: essa atitude fará alguma diferença para a Segurança de
Vôo? A punição vai mudar o comportamento do piloto? Vai mudar o comportamento dos
outros pilotos da companhia? Esse tipo de acidente poderá ser evitado no futuro?
4.1 – O OBJETIVO DA PUNIÇÃO
Os conceitos adotados pela nossa sociedade sobre punição provavelmente são
herança de tempos antigos, onde o ato de punir era usado simplesmente como vingança
– olho por olho, dente por dente. Alguns conceitos mais recentes vêem a punição como
uma forma de proteger a sociedade ou de intimidação para garantir que não haverá
comportamento negativo ou impróprio no futuro.
Vamos então examinar as razões para se punir e os seus efeitos.
“Sim, senhor presidente, o piloto errou, mas já foi demitido. Isso não deverá
acontecer novamente.” Ficamos com a sensação de que algo foi feito. Entretanto em
termos de prevenção de acidentes, essa atitude não terá eficácia alguma.
Precisamos, então, definir dois importantes conceitos: Erro e Violação. Podemos
entender o erro como um lapso, um desvio não intencional das ações pretendidas pelo
tripulante: uma falha de atenção, um erro de avaliação, um esquecimento, uma decisão
inadvertidamente incorreta. Já as violações são desvios deliberados dos procedimentos,
onde a ação é intencional – embora, muitas vezes, a conseqüência negativa resultante
não o seja.
Quanto ao acidente relatado, como estamos analisando erros, falhas de
julgamento, podemos dizer que o piloto não tinha a menor intenção de se desviar dos
procedimentos e, muito menos, de sofrer um acidente. Depois do acidente, então, ele terá
menos ainda a intenção que isso se repita. Por exemplo: se o piloto inadvertidamente
entrou veloz na aproximação porque estava atento a outros parâmetros, e ultrapassou o
final da pista, ele estará, a partir de agora, mais atento do que qualquer outro tripulante ao
observar a velocidade do avião. Um piloto que tenha pousado com o trem de pouso
recolhido tem poucas chances de cometer essa falha novamente.
Portanto, uma punição, nesses casos, não traria qualquer benefício para evitar a
repetição do acidente.
Podemos então assumir que a punição servirá de exemplo para os outros pilotos.
Se o acidente aconteceu devido a um erro de julgamento, a punição não terá nenhum
efeito sobre os demais pilotos, pois eles não planejam nenhuma ação parecida, nem
acreditam que podem cometer o mesmo tipo de erro. Além do mais, o próprio acidente já
serve de alerta.
Digamos que o piloto acidentado se desviou intencionalmente dos parâmetros
previstos. Ele fez a aproximação a alta velocidade conscientemente. Não previa o
resultado negativo, mas tinha consciência de que estava executando um procedimento
contrário às normas operacionais e procedeu assim mesmo. Como a administração ou a
diretoria de operações deveria agir para evitar a repetição do fato?
4.2 – MOTIVAÇÃO DO COMPORTAMENTO SEGURO
A aviação busca eficiência com segurança. Um acidente é tão inacreditavelmente
caro e nefasto, que a companhia aérea deve ser administrada de modo a motivar os
comportamentos que valorizam a segurança de vôo. Para atingir esse objetivo, é
necessário compreender o que motiva as pessoas a desejar fazer coisas, a agir dessa ou
daquela maneira.
O teórico que expôs a teoria mais simples ( não necessariamente a melhor) sobre
motivação foi o psicólogo chamado Maslow. Ele definiu motivação como o impulso para
satisfazer uma necessidade, e desenvolveu uma hierarquia de necessidades,
representadas em níveis de uma pirâmide . Na sua visão, as pessoas são conduzidas a
satisfazer suas necessidades no sentido de baixo para cima na pirâmide. Assim que uma
necessidade é satisfeita, ela não é mais um fator motivador. Em teoria, o modo de motivar
um determinado comportamento seria descobrir uma necessidade não satisfeita e dar ao
indivíduo a oportunidade de satisfazê-la.
Quando falamos em prevenção de acidentes, a abordagem mais óbvia seria
atender às necessidades de segurança de um indivíduo. Assim, geralmente, tentamos
convencer o piloto sobre Segurança de Vôo, mostrando-lhes as conseqüências trágicas
de um acidente. Entretanto, não há qualquer necessidade deste tipo a ser preenchida:
nenhum piloto entra em um avião achando que pode sofrer um acidente. Tentar
convencê-lo desta forma simplesmente não funciona.
O próximo estágio das necessidades é o nível social.
Todos temos a necessidade de pertencer e sermos aceitos pelo grupo, e estamos
dispostos a mudar nosso comportamento, de alguma maneira, para obtermos a aceitação
social. Sempre existirão necessidades não preenchidas neste nível e esta é uma força
motivacional bastante poderosa. Por isso, quando pretendemos mudar o comportamento
de um tripulante, precisamos observar o contexto no qual ele está inserido e quais os
valores que aquele grupo cultua.
A violação de procedimentos, diferente do erro não-intencional, está geralmente
associada com fatores motivacionais e culturais do grupo social. Se um tripulante
rotineiramente se desvia das normas, provavelmente é porque convive em um ambiente
permissivo a esses desvios. Se trabalhar em uma empresa onde todos executam
procedimentos incorretos de maneira intencional, então uma punição focalizada no
indivíduo que cometeu o desvio não será eficaz. É uma situação muito comum, porque
em alguns segmentos da aviação, existe uma cultura que valoriza o resultado mais que o
método utilizado para atingi-lo . Fazer vista grossa para decolagens com excesso de
peso, se com isso conseguir embarcar todos os passageiros e nada acontecer; tolerar
uma aproximação em alta velocidade, se isso diminui o tempo de vôo e economiza o
combustível; admitir baixar um pouquinho a MDA, durante um procedimento IFR, se
assim conseguir pousar e evitar prosseguir para aeródromo de alternativa. O ser humano
tende a tolerar desvios se o resultado for alcançado, contanto que não hajam
conseqüências desagradáveis. Essa tendência em valorizar mais o resultado que o
método é um sério obstáculo ao desenvolvimento de uma doutrina de segurança.
É preciso, portanto, agir nos valores adotados por esse grupo de profissionais, isto
é, mexer na cultura organizacional da companhia. O ideal é conseguir evoluir para um
grupo que valorize a realização dos procedimentos de forma correta, sempre. Quando
algo não vai bem , uma avaliação cuidadosa costuma revelar, na maioria dos casos, que
o problema começa em níveis elevados da organização, influenciando os demais
funcionários. Portanto, para modificar a cultura e os valores, basicamente precisa-se
mudar o comportamento de alguns poucos: os líderes formais e os líderes informais. Os
líderes formais são aqueles oficialmente reconhecidos, como o piloto-chefe, o diretor de
operações, o chefe do setor de treinamento e padronização. Os líderes informais são
respeitados e admirados pelo grupo. Geralmente estão incluídos aí os instrutores e
comandantes mais experientes, ou aqueles bem inseridos socialmente no grupo. Se
esses, líderes formais e informais, mudarem o comportamento, eles servirão de exemplo
e os demais membros do grupo se ajustarão.
Modificar uma cultura pode levar algum tempo, mas é a maneira mais eficaz de
trabalhar na segurança. Quando uma organização ou companhia, consegue atingir um
estágio em que a execução correta dos procedimentos é valorizada, a probabilidade é
menor de que os tripulantes se desviem das normas; pois é algo que estará indo contra
os valores da organização, e certamente irá provocar a desaprovação por parte dos
demais pilotos. Quando existe uma cultura arraigada do cumprimento dos padrões de
operação, os desvios serão eventos isolados. Nesse contexto, então, a punição é válida
como ferramenta de prevenção, contanto que ela seja aplicada ao comportamento
indesejado, independente do resultado, isto é, ter acontecido o acidente ou não.
Punir os erros não-intencionais não traz benefícios, pois os erros acontecem
principalmente devido a problemas de processamento de informações, ao esquecimento,
à desatenção, à falta de conhecimento ou falhas inadvertidas de julgamento e decisão. A
punição não resolve porque esses fatores são involuntários. Os erros podem ser
diminuídos melhorando a capacidade do indivíduo em processar as informações que
recebe, melhorando o nível do seu treinamento: e a companhia é a parte principal nesse
processo.
As violações, ao contrário, estão geralmente associadas a problemas
motivacionais, como exemplos negativos dos superiores, convivência do grupo com
desvios e falta de incentivo. Desta forma, as violações exigem atitudes motivacionais e
organizacionais.
Em resumo, a punição justa e aplicada corretamente pode mudar o
comportamento do piloto e servir de exemplo para os outros. Aplicar punição em um
contexto onde os desvios são comuns não trará resultados.
5 - APLICAÇÃO DO CRM
Voar sempre foi um desejo da humanidade. Mesmo antes de Santos Dumont, já
era sentida a necessidade de um transporte ágil, que levaria ao progresso, ao
desenvolvimento e a melhor intercomunicação entre as nações.
A aviação tornou-se, com o desenvolvimento tecnológico, parte fundamental nesse
processo de interação.
No Brasil, país de dimensões continentais, a abertura do mercado para novas
companhias aéreas tem incrementado amplamente a demanda de vôos domésticos.
Segundo estatísticas do Departamento de Aviação Civil (DAC), só em 2000, foram
abertas 13 ( treze) novas empresas aéreas e o país possui a segunda maior frota de
aeronaves do mundo.
Estatísticas divulgadas pela INFRAERO, empresa responsável pela administração
dos aeroportos no país, informam que o movimento de embarque e desembarque de
passageiros cresceu em torno de 10% em 2000. O desenvolvimento crescente nas
empresas aéreas regionais também é fato nos Estados Unidos, Europa e demais
continentes.
O treinamento de Gerenciamento dos Recursos da Tripulação (CRM), visa
melhorar o processo decisório dentro de uma aeronave e concentra-se nas atividades e
no comportamento dos membros da tripulação, bem como em suas repercussões em
matéria de Segurança.
O CRM oferece oportunidade às pessoas de examinarem seu comportamento e
adaptarem decisões individuais para melhorar o trabalho de equipe da aeronave, tudo em
busca de uma ação sinérgica, visando evitar erros e violações.
Assim, o CRM possibilita:
•
•
•
•
Incrementar um gerenciamento eficaz
Controlar o erro
Desenvolver a autoconsciência
Aumentar a segurança
Apesar de não ser algo comum, poderá ocorrer inicialmente um falso
entendimento do que é CRM. Por isso, esclarecemos o que o CRM não é:
•
•
•
•
•
Uma tentativa de mudança da personalidade
Uma diminuição da autoridade do comandante
Democracia na cabine
Incentivo ao motim ou desrespeito dentro da aeronave
Um substituto para as habilidades técnicas do vôo ou para o
conhecimento teórico
5.1 - ESTRUTURA DO TREINAMENTO EM CRM
Basicamente a estrutura do CRM abrange cinco grandes áreas:
COMUNICAÇÃO, RELACIONAMENTO INTERPESSOAL, CONSCIÊNCIA
SITUACIONAL, TOMADA DE DECISÃO E PROFICIÊNCIA TÉCNICA
Cada uma dessas áreas aponta para características básicas ou índices de
performance que o tripulante deverá apresentar, visando a segurança e a eficácia da
operação.
Comunicação
Relacionamento
Interpessoal
Consciência
Situacional
Tomada de
Decisão
Proficiência
Técnica
Brifar
⇓
Liderar
⇓
Não limitar
⇓
Ser claro e
objetivo
⇓
Consolidar a
sinergia
⇓
Administrar o
estresse e a
fadiga
⇓
Praticar o
modelo *“PROA”
⇓
Evitar o erro
⇓
Manter as
habilidades
⇓
Conhecer a
aeronave
⇓
Indagar
⇓
Adaptar-se às
diferenças
⇓
Conhecer-se e
controlar-se
⇓
Administrar
conflitos
Reconhecer a
distração
⇓
Não ser
complacente
⇓
Gerenciar a
carga de
trabalho
Não violarar
normas⇓
Conhecer as
regras
⇓
Utilizar a
padronização
Saber ouvir
⇓
Crítica habilidosa
⇓
Informar
decisões
Ser assertivo
*PROA – Problema – Recurso – Objetivo – Ação
Todo e qualquer recurso pessoal ou material que possa ser utilizado como auxílio
para a tomada de decisão, com segurança, é considerado como recurso disponível.
Recursos internos são aqueles disponíveis dentro da aeronave, tais como, os
comissários, tripulantes de vôo, tripulantes extras, passageiros, check list, manuais, caixa
de ferramentas, etc.
Recursos externos são aqueles que provêem informações, suporte e serviços para
manter e elevar , sempre que possível, o nível de segurança da operação de vôo.
Podemos citar as estações táticas, a manutenção da companhia, os controles de tráfego
aéreo, bombeiros, serviços médicos, enfim, o ambiente ou quaisquer resíduos de
informações que possam ser úteis para resolução de um problema.
Muito importante é o tripulante reconhecer e utilizar todos os recursos disponíveis,
sejam eles internos ou externos, nunca esquecendo que o principal recurso é ele próprio.
6 - INSERÇÃO DO CRM NOS CURSOS SUPERIORES DE AVIAÇÃO
O 2º grau é o nível de escolaridade exigido pelo Departamento de Aviação Civil –
DAC, que é o órgão oficial para concessão de licenças e habilitações, para a formação
do piloto comercial.
Com o mercado de Aviação em franca expansão e os avanços tecnológicos
relativos à operação das aeronaves, as empresas aéreas têm elevado o nível de
exigência ao formar suas equipes.
Nesse novo contexto, algumas universidades brasileiras criaram cursos de
formação em nível superior denominados “Curso de Ciências Aeronáuticas”. Esses cursos
têm como objetivo formar profissionais de primeira linha para ocupar as posições
existentes e as que surgirão progressivamente no setor da Aviação Civil.
O objetivo é formar profissionais de 3º grau, dentro de padrões internacionais de
capacitação profissional, que pretendem entrar nesse mercado de trabalho promissor,
garantindo à sociedade profissionais cada vez mais bem preparados para assumir cargos
de responsabilidade, desempenhando suas funções com qualidade e precisão.
Essa mudança de paradigma na formação de profissionais para a Aviação Civil,
motivou as Universidades que ministram o Curso de Ciências Aeronáuticas a introduzirem
em seus conteúdos programáticos, disciplinas que contemplam os ensinamentos
preconizados nas cinco áreas que compõem o treinamento em Gerenciamento de
Recursos de Tripulação (CRM)
É interessante relembrar que, de nada adiantará por em prática os conceitos do
CRM se o tripulante não mantiver bom nível de proficiência técnica, da manutenção de
sua habilidade, da busca incessante do conhecimento da aeronave e das regras de vôo,
bem como operar a aeronave de maneira padronizada pelas normas.
.
CONCLUSÃO
O Comandante de uma aeronave é o responsável pela operação de um vôo
seguro. Ele detém total autoridade e responsabilidade, porém outros tripulantes podem
exercer liderança alertando para uma ação desnecessária, que esteja fora do envelope de
vôo e comprometa a segurança, devendo, então, sugerir outra ação. Isto significa , que o
Comandante deve sempre ouvir atentamente outros membros da tripulação, estando
atento e não descuidar com relação à disciplina no vôo. A atitude de ouvir, não tira a
autoridade de comando. Os “inputs” dos tripulantes podem ser decisivos para evitar
incidentes e acidentes.
O relacionamento interpessoal saudável é o pressuposto básico para o trabalho
em equipe. Cabe ao lider reforçar as atitudes positivas e isolar as negativas. Atitudes
ligadas à inveja, disputa de poder, autopromoção, complacência, falta de disciplina,
invunerabilidade etc, em nada contribuem para a segurança de vôo. Muito ao contrário,
são elementos desagregadores da relação interpessoal que podem trazer conseqüências
drásticas.
O comandante é o catalizador do relacionamento ideal durante um vôo. A sinergia
entre a equipe ocorre quando o líder otimiza as relações interpessoais, fazendo com que
os recursos sejam mobilizados e multiplicados. Atitudes
de profissionalismo,
companheirismo , empatia, altruísmo e cooperação fortalecem as relações interpessoais e
contribuem para o sucesso da equipe para atingir sua missão.
A atuação da tripulação de forma cooperativa depende fundamentalmente da
atitude do líder na busca da coesão da equipe. O bom trabalho em equipe é mensurado
pelos resultados alcançados. Sabemos que a sinergia acontece quando o resultado é
superior a qualquer contribuição individual em potencial.
Ter autoconhecimento dos seus estados interiores e manejá-los de maneira
apropriada é fundamental. Pilotos que desconhecem suas limitações físicas e emocionais
, ou as negligenciam , não estão se colocando numa posição de alerta para a possível
diminuição dos níveis ideais de sua performance.
O treinamento de Gerenciamento dos Recursos da Tripulação (CRM), visa
melhorar o processo decisório dentro de uma aeronave e concentra-se nas atividades e
no comportamento dos membros da tripulação, bem como em suas repercussões em
matéria de Segurança
O CRM oferece oportunidade às pessoas de examinarem seu comportamento e
adaptarem decisões individuais para melhorar o trabalho de equipe da aeronave, tudo em
busca de uma atuação sinérgica, visando evitar erros e violações.
A plena compreensão do erro humano, é a chave para a humanidade continuar
utilizando, cada vez mais, o meio de transporte mais rápido e seguro da história.
Deve dizer-se que os homens jamais poderão compensar as deficiências do
sistema que os limita. Em grande medida, os especialistas da aviação são os
protagonistas da definição de novas estratégias para compreender o erro humano e fazer
o possível para lograr os objetivos da Segurança da Aviação.
É consenso geral que há um obstáculo importante para que o histórico da
segurança da aviação seja perfeito: o erro humano. Não somente na cabine de
pilotagem, mas também em todos os processos que servem de base às operações de
vôo, incluindo o projeto e a fabricação das aeronaves, os equipamentos de auxílio à
navegação e as decisões comerciais que afetam as operações cotidianas.
O objetivo, tanto agora como antes, é continuar melhorando a segurança
operacional da aviação, fazendo com que os Estados e a indústria aeronáutica conheçam
melhor e respondam à importância dos Fatores Humanos nas operações da Aviação Civil,
mediante conscientização de todos e medidas práticas sobre a matéria, elaboradas com
base na experiência já adquirida.
A questão chave é detectar o erro o mais breve possível, eliminando-o antes que
ele propicie a cadeia de erros subseqüentes e a segurança seja comprometida.
Os cinco mecanismos fundamentais que o tripulante deve desenvolver para evitar
o erro são: proficiência técnica, profissionalismo, liderança eficaz, trabalho em equipe e a
busca da autoconsciência.
Habilidades ligadas aos fatores humanos devem ser desenvolvidas para garantir a
excelência do relacionamento entre pilotos e comissários e suas atividades que impactam
diretamente no gerenciamento de vôo, visando: maior segurança, menos erros, maior
eficácia operacional e maior conforto ao passageiro.
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aeronauta. Rio de Janeiro. Cooperativa dos Profissionais de Imprensa do
Estado do Rio de Janeiro – COOPIM, 1982
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Análise do estresse mental dos comandantes de grandes jatos da aviação
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10. OACI – Organização de Aviação Civil Internacional. Compêndio sobre fatores
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227-NA/136 – 1991) Montreal
11. WEISINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho. Rio de Janeiro,
Editora Objetiva,1997
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