Experiências de Inclusão Digital em Escolas Municipais em Rio Grande Diana F. Adamatti, Jonata T. Carvalho, Vinícius A. Hax, Daiane da Silva, Douglas Felix, Eliane Flores, Erik R. da Fontoura, Guilherme Lindenau, Mamadu Djalo, Ricardo C. Guedes Centro de Ciências Computacionais Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Rio Grande – RS – Brasil [email protected] Resumo. Este projeto consiste em uma ação de extensão visando a inclusão digital em comunidades carente do município de Rio Grande(RS). O principal desafio do projeto consiste exatamente em garantir a continuidade da transferência de conhecimento, mesmo que o projeto deixe de ser conduzido pelos agentes formadores iniciais. Para isso é sugerida a figura dos multiplicadores, que são agentes da comunidade, e ferramentas do tipo rede social, que incluem a comunidade nas atividades sociais da sua comunidade,, proporcionando uma maior chance de que o conhecimento não se perca ao longo do tempo. 1. Introdução Na área de Inclusão Digital e Social, a Universidade Federal de Rio Grande desenvolveu o Projeto Escuna (Projeto Escola Comunidade Universidade), que foi financiado pelo BNDES, no período de 2003 a 2007. Os principais objetivos deste projeto foram o trabalho com a metodologia de projetos de aprendizagem e a informatização das escolas da rede municipal de ensino. Este projeto foi uma parceira entre a FURG e a Prefeitura Municipal de Rio Grande, via Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC). Tinha como metas proporcionar aos estudantes e professores das escolas da rede municipal de ensino e às comunidades próximas a construção do conhecimento através da informática e da Internet; desenvolver a metodologia de projetos de aprendizagem a partir do desejo e da curiosidade dos estudantes e dos professores e construir ambientes virtuais de aprendizagem a fim de constituir comunidades virtuais comprometidas com suas aprendizagens. As escolas beneficiadas receberam uma sala de aproximadamente 35m² e equipada com Internet, um servidor, 16 computadores e uma impressora. Estiveram envolvidas, durante os 5 anos do projeto, aproximadamente 30 escolas. Também foram realizados cursos de formação de professores, a partir do Curso de Especialização em Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação (TICEdu). Os objetivos deste curso foram: formar professores de cada uma das escolas envolvidas com o projeto e assessores da SMEC para atuarem como articuladores e disseminadores do Escuna; trabalhar com a metodologia de projetos de aprendizagem, potencializando a interdisciplinaridade a partir da curiosidade e do desejo de aprender dos alunos e professores; possibilitar dinâmicas de trabalho interativas com diferentes formas de comunicação – on-line e off-line – e construir comunidades virtuais cooperativas. Muito embora algumas escolas de comunidades carentes possuam uma infraestrutura adequada para a realização de atividades voltadas para a inclusão digital, isso geralmente não acontece devido à falta de pessoas qualificadas que promovam este tipo de ação. Na maior parte das vezes, tais laboratórios são montados com recursos de projetos desta natureza, contando inicialmente com pessoal qualificado para gerir a infra-estrutura e orientar as pessoas quanto a sua utilização. Entretanto, ao término do projeto as pessoas responsáveis por ele, que na maior parte das vezes são externas às instituições na qual o projeto é realizado, acabam indo embora e deixando a infraestrutura ociosa por falta de pessoas que responsabilizem-se em dar seqüência aos trabalhos. O problema a ser atacado com este projeto é a capacitação de pessoas da comunidade e da instituição onde o projeto é realizado, de forma a comprometê-las com o processo de inclusão digital transformando-os em multiplicadores. Desta forma o objetivo é que elas possam não só beneficiar-se individualmente dos conhecimentos adquiridos com o projeto, mas também que sejam multiplicadores de conhecimento, dando seqüência ao projeto mesmo quando seus fundadores não estejam mais presentes, trazendo benefícios coletivos para todos os membros da comunidade e da instituição. Fora esta atividade, a instalação de ferramentas do tipo Rede Social estão sendo realizada nos laboratórios, para que estes alunos possam iteragir junto a comunidade utilizando a tecnologia. O presente projeto está desenvolvendo o processo de inclusão digital em três comunidades carentes do município de Rio Grande/RS, desde Dezembro de 2010, utilizando a infraestrutura já adquirida. Para tanto, alunos dos cursos de Engenharia da Computação e Sistemas de Informação, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG estão ministrando aulas com o intuito formar alunos. As comunidades onde estão as escolas são formadas por famílias em vulnerabilidade social, com poucas oportunidades de desenvolvimento técnico, visando a sua inserção na era digital. Este artigo está dividido em 6 seções. Na seção 2 é apresentado o público-alvo do projeto. A seção 3 expoem os objetivos e metas que o projeto estabelece e na sção 4 está a metodologia para atingir esses objetivos. Na seção 5, as atividades em desenvolvimento são apresentadas e na seção 6 estão as conclusões do trabalho até o momento. 2. Público-Alvo e Infraestrutura Para determinar a demanda e público das escolas onde o projeto está sendo aplicado, a primeira atividade foi a aplicação de um questionário com diversas perguntas. Aproximadamente 200 pessoas responderam estes questionários. As perguntas do questionário envolvem desde a escolaridade dos interessados no curso até questões mais abrangentes, como a utilização do computador. Dos questionários respondidos, alguns pontos relevantes que podem ser salientados são: • A grande maioria das pessoas, próximo a 100% das respostas, já utilizaram o computador em alguma situação, seja para acesso a internet, edição de textos, acesso ao email, etc. • Mais de 70% das pessoas já acessaram a rede social Orkut e possuem uma conta no sistema; • Contudo, menos de 50% das pessoas responderam que tem conta de email e apenas 10% possui computador em casa. Desta forma, pode-se concluir que grande parte dos usuários acessa os computadores em Lan Houses ou em organizações públicas, como ONGs; • Sobre onde às pessoas consideram o uso do computador relevante, todos responderam ser fundamental a utilização para criar e editar textos e trabalhos. Também se apresentou relevante utilizar o computador para acesso a internet para pesquisas, aprendizagem e relacionamentos, com cerca de 90% das respostas. Pode-se concluir que existe uma demanda reprimida dessas comunidades, em relação a utilização e ao aprendizado das funcionalidades do computador, pois a maioria das pessoas já utilizaram o computador de alguma maneira e para alguns fins, mas ainda não tem uma idéia mais ampla de suas potencialidades. A partir destes dados, o projeto visa atender dois públicos: a) Professores da escola-alvo, de forma que possam aplicar junto a seus alunos novas tecnologias, com intuito de melhorias na qualidade de ensino; b) Pais de alunos e comunidade em geral, de forma a incluí-los no mundo digital e também no auxílio da melhoria da qualificação dos mesmos para aumento de renda e empregabilidade, além de melhorar a comunicação entre os moradores, facilitando a sua articulação para a solução dos problemas do bairro, garantindo o desenvolvimento sustentável da comunidade. A estrutura para desenvolvimento do projeto em cada uma das escolas é a seguinte (todas equipadas pelo projeto ESCUNA): • 16 computadores AMD Sempron LE 1110, 512 Mb RAM, 160Gb HD; • 1 notebook; • 1 projetor Epson S8; • 1 impressora Lexmark; • 1 máquina de Xerox; • 1 sala de 35 m2, onde estão os 16 computadores e a impressora (telecentro); • 1 espaço multimídia, leitura e mini-auditório, com dimensão de 50 m2; • 1 sala de montagem e configuração de computadores, com dimensão de 20 m2; • Conexão internet, banda larga, da empresa OI, de 10 Mb; • Ar condicionado e cadeiras estáticas/estofadas; • Acesso a portadores de necessidades especiais, contando inclusive, com uma cadeira de rodas, se necessário. 3. Objetivos e Metas do Projeto Os objetivos do projeto são: • Utilização ampla dos equipamentos já existentes junto a escola; • Qualificação de multiplicadores para a retroalimentação do sistema; • Inclusão Digital e Social dos professores, pais e comunidade em geral do entorno da escika. Para atender estes objetivos, as seguintes metas são propostas: 1. Desenvolvimento de apostilas e apresentações de slides, visando servir de apoio didático durante os cursos à serem ministrados; 2. Aplicação de cursos relativos ao tema da inclusão digital, tais como noções de hardware e software, editores de texto, planilha eletrônica e apresentações, conceitos de segurança digital, especialmente na Internet, utilização da Internet e ferramentas afins; 3. Criação de uma infraestrutura tecnológica do tipo rede social; 4. Cadastro de membros da comunidade na rede social criada; 5. Treinamento específicos sobre atendimento ao público, solução de problemas comuns, entre outras competências que se mostrarem necessárias para a função, ministrados para os agentes multiplicadores selecionados entre a comunidade. 6. Acompanhamento contínuo e visitas presenciais ao local de permanência dos agentes multiplicadores. Dos objetivos expostos acima, os dois primeiros foram colocados em prática já no início do projeto, com a elaboração de material (apresentações e apostilas) para os cursos e sua execução junto as comunidades. Os objetivos 3 e 4 estão em processo de desenvolvimento, bem como a ideia dos multiplicadores (objetivos 5 e 6). 4. Metodologia Sendo o principal intuito do projeto, a formação de multiplicadores, a metodologia a ser empregada visa principalmente obter o comprometimento das pessoas beneficiadas com o projeto. Desta forma, para participar dos cursos de qualificação básica, a serem oferecidos através do presente projeto, as pessoas precisarão doar um número de horas do seu tempo para trabalhar em prol do projeto (normalmente uma tarde – aproximadamente 4 horas semanais). Essas horas doadas são gastas ministrando cursos básicos nas quais tenham conhecimento, fazendo manutenção em equipamentos ou dando suporte aos usuários da escola-alvo. Será fornecida à comunidade onde o projeto será realizado, uma ferramenta do tipo rede social, onde todos os moradores interessados daquela comunidade se farão presentes. O intuito é melhorar a comunicação e a articulação da comunidade para resolver problemas sociais que afetem àquela comunidade, e por conseqüência que requeiram o envolvimento de todos para solucioná-los. A ferramenta poderá ser utilizada também para a identificação de oportunidades onde a cooperação as torna viáveis. Para a operação da ferramenta, serão oferecidos cursos que capacitem os cidadãos a usarem as operações básicas de um computador, incluindo a navegação pela internet, e principalmente como operar a rede social criada pelo projeto. Ao longo do projeto, serão realizadas avaliações simples com o único propósito de identificar as pessoas mais indicadas para serem os multiplicadores do projeto. Nessa ação de extensão haverá um compartilhamento de conhecimentos, bastante característico quando há a interação entre acadêmicos e comunidade. Para que isso ocorra deve haver o respeito entre os saberes técnico e os saberes populares, pois conforme Freire (2000), a ação educativa deve acontecer com os educandos e não para eles. Assim, os estudantes da Universidade buscam associar a teoria à prática e aprendem com a comunidade as aplicações do seu conhecimento técnico. A comunidade com seus saberes, decorrentes da sua experiência cotidiana relacionam os potenciais da ferramenta aprendidos com as suas necessidades. Disto decorre uma síntese dos saberes, a qual provoca a mudança da prática da comunidade ou individual, bem como a produção de novos conhecimentos na academia. Para tanto, os estudantes apresentam seus conhecimentos técnicos ao público para interagirem com a ferramenta e a medida que vão conhecendo os participantes do curso, os acadêmicos podem direcionar os conhecimentos conforme as necessidades daqueles. Neste processo os moradores devem ser estimulados à reflexão sobre o que lhes está sendo apresentado para que repensem suas práticas a luz dos novos conhecimentos. Neste trabalho a extensão se dará através da comunicação de uma tecnologia para a inclusão social por meio da inclusão digital proposta pelos autores Silva Filho (2003) e Cabral (2006) que afirmam que esta inclusão só vai ser efetiva se progredir junto com a geração de renda e a educação. E neste contexto é necessário muito mais que o acesso ao computador e a internet, bem como, conhecimento técnico, que por si só não constituem a inclusão digital, pois, a educação para o uso da ferramenta digital em benefício próprio ou coletivo deve acompanhar todas as medidas aplicadas, a fim de que, estas melhorem a qualidade de vida e dignidade, tornando-se efetivamente inclusivas. Conforme Cabral (2006), a apropriação da tecnologia consiste na capacidade de compreender o universo que a envolve concretizado nas possibilidades de uso e nos rumos que a tecnologia toma com o objetivo de não estar sujeito a ela, mas sim sujeitála, isto é, influir na importância e finalidades dela. As tecnologias da informação e comunicação (TIC) propiciaram uma mudança nas formas de organização e uma atuação em um cenário global. As culturas ao mesmo tempo em que estão disponíveis para o local, também se encontram disponíveis para o regional, o nacional e o global. Desta forma o aporte tecnológico comunicado oportuniza maior autonomia aos beneficiados criando espaços para buscarem informação, aprimorarem conhecimentos, comunicarem-se entre si e com o mundo, acessarem e produzirem cultura, organizarem-se, acessarem lazer, alem de, gerarem renda. Será fornecida à comunidade onde o projeto será realizado, uma ferramenta do tipo rede social, onde todos os moradores interessados daquela comunidade se farão presentes. O intuito é melhorar a comunicação e a articulação da comunidade para resolver problemas coletivos que requerem o envolvimento de todos. A ferramenta poderá ser utilizada também para a identificação de oportunidades onde a cooperação as torna viáveis. Para a operação da ferramenta, serão oferecidos cursos que capacitem os cidadãos a usarem as operações básicas de um computador, incluindo a navegação pela internet, e principalmente como operar a rede social criada pelo projeto. Ao longo do projeto, serão realizadas avaliações simples com o único propósito de identificar as pessoas mais indicadas para serem os multiplicadores do projeto. 5. Atividades em Desenvolvimento O projeto teve seu início em Dezembro de 2010, com a aplicação de questionários aos professores e uma comunidade interessada nos cursos, para descobrir o nível de conhecimento de cada grupo, bem como as necessidades expostas pelos mesmos. As outras duas comunidades foram inseridas gradualmente, seguindo a mesma abordagem. Os dados expostos na seção 2 são uma compilação dos questionários aplicadas nas três comunidades. O passo seguinte foi a elaboração do material para os cursos iniciais (apostilas e apresentações). Com apoio das direção da escola, escolheu-se os horários para os cursos, podendo ser nos períodos da manhã e da tarde para as comunidades, e para os professores no período da noite (turno inverso ao de trabalho). Até o momento, 9 turmas já foram ministradas, nos três diferentes turnos, sendo 7 turmas para formação básica e 2 duas de formação mais avançada. Na formação básica com duração de 20 horas/aula, foram abordados aspectos de utilização de um computador, como suas partes básicas, ligamento e desligamento da máquina, utilização básica do sistema operacional, editor de textos e finalmente navegação pela Internet e utilização de e-mail. Na formação mais avançada, também com duração de 20 horas/aula, abordando planilha eletrônico e editor de apresentações. Até o momento, cerca de 200 pessoas já foram atendidas, nas 9 turmas, envolvendo pais de alunos/comunidade em geral e professores da escola. Todas as turmas receberam material didático no formato de apostila, produzidas pelos membros do projeto. Ao final do curso, todos os participantes deste nível de nivelamento responderam a questionários sobre o andamento do curso, bem como futuros conhecimentos que julgassem necessários. Baseado nos dados destes questionários, foi elaborado o material (apostilas e apresentações) para o curso avançado, o qual envolve aspectos avançados do editor de texto e a utilização de planilha eletrônica. Além disso, há na comunidade uma demanda para a formação básica. Desta forma, além da turma avançada, novas turmas de nivelamento foram criadas. Estas turmas, nos turmos manhã/tarde iniciaram em Agosto/2011, sendo uma turma avançada e duas de nivelamento. O software escolhido para criar a rede social do projeto foi Elgg, que é uma plataforma de código aberto para a criação de redes sociais. O fato desta plataforma ser de código aberto, e seguir a filosofia de software livre foi determinante para a sua escolha. Acredita-se que realizar a inclusão digital das pessoas construindo de forma conjunta a visão de software livre é fator importante não só para a sociedade mas também para a computação, criando uma visão mais coletiva do que individual. 6. Conclusões Pela experiência com as primeiras turmas do curso, percebe-se uma grande demanda reprimida na comunidade para o aprendizado da tecnologia. Por se tratar de uma escola de educação infantil, isto é, os alunos possuem de 3 a 5 anos em média, o público alvo é, além dos professores e funcionários da escola, os pais dos alunos. Na verdade, como foi citado anteriormente, toda a comunidade do entorno da escola é público alvo do projeto, entretanto as primeiras turmas estão sendo realizadas com pais de alunos, tendo em vista que estes tem um vínculo maior com a escola, tornando mais fácil a definição de alguns que serão os multiplicadores. Percebeu-se que a inserção dos alunos na Internet foi realmente motivacional, pois eles não aprenderam apelas aspectos básicos de navegação (utilização da ferramenta), mas aspectos sociais com a indicação mbém indicam alguns sites úteis para a comunidade do ponto de vista de assistência e serviços (site da prefeitura da cidade e etc.). Atualmente, os cursos básico/avançado estão em execução, com previsão de encerramento em Setembro/2011. Fora isso, a instalação do software de rede social está em progresso, bem como customização do mesmo, para atender a comunidade envolvida. Como atividades futuras, além de novas turmas dos cursos básico/avançado, estão a formação da comunidade na utilização do software de rede social, bem como a escolha dos multiplicadores. 7. Referências CABRAL A. Sociedade e Tecnologia Digital: entre incluir ou ser incluída, acessado em: Liinc em revista, vol.2, 2006 Semestral. http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/SOCIEDADE%20E%20TECNOLOGIA %20DIGITAL.pdf FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000 SILVA FILHO, A. M. da. Os três pilares da Inclusão Digital. Revista Espaço Acadêmico Ano III, No 24, 2003 Mensal – ISSN 15196186 acessado em: http://www.espacoacademico.com.br/024/24amsf.htm