UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Educação Física André Luiz Moinhos Muniz Diego Gallo da Silva O PADRÃO DA CORRIDA EM ESCOLARES DE 6 A 7 ANOS EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" Lins – SP LINS – SP 2013 ANDRÉ LUIZ MOINHOS MUNIZ DIEGO GALLO DA SILVA O PADRÃO DA CORRIDA EM ESCOLARES DE 6 A 7 ANOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Bacharelado em Educação Física, sob a orientação da Prof.ª Ma. Maria de Fatima Paschoal Soler e orientação técnica da Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni Lins – SP 2013 M935e Muniz, André Luiz Moinhos; Silva, Diego Gallo da Educação física bacharel: o padrão da corrida em escolares de 6 a 7 anos da EMEI “Profª Alda Therezinha Perches Queiroz” / André Luiz Moinhos Muniz; Diego Gallo da Silva. – – Lins, 2013. 65p. il. 31cm. Inclui DVD. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação de Bacharelado em Educação Física, 2013. Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Maria de Fátima Paschoal Soler 1. Desenvolvimento Motor. 2. Habilidades Motoras Fundamentais. 3. Corrida. 4. Padrão Maduro. I Título. CDU 796 ANDRÉ LUIZ MOINHOS MUNIZ DIEGO GALLO DA SILVA O PADRÃO DE HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS EM ESCOLARES DE 6 A 7 ANOS Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, para a obtenção do título de Bacharel em Educação Física. Aprovada em: ______/______/______ Banca Examinadora: Prof.ª Orientadora: Maria de Fatima Paschoal Soler Titulação: Mestra em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba. Assinatura:______________________________________________________ 1° Prof.ª:________________________________________________________ Titulação:_______________________________________________________ _______________________________________________________________ Assinatura:______________________________________________________ 2° Prof.ª:________________________________________________________ Titulação:_______________________________________________________ _______________________________________________________________ Assinatura:______________________________________________________ Dedico este trabalho aos meus pais Osmar Muniz e Maria Isabel Moinhos Muniz, a minha família e a todos aqueles que de alguma forma acreditam em mim. AGRADECIMENTOS Agradeço a DEUS, a ele que tem me amparado e me dado forças, que acredita em mim até quando eu perco a fé, e que nunca deixou de estar ao meu lado, nem mesmo nos momentos mais sombrios de minha existência. Agradeço aos meus pais e a minha família, que sempre me amaram e estiveram ao meu lado, sem o apoio de vocês eu jamais chegaria onde estou. Agradeço ao meu irmão, Diego Moinhos Muniz, que nos ajudou muito na realização das filmagens e edição das imagens, sem ele este trabalho teria uma qualidade muito inferior. Agradeço a minha namorada, Damaris Ribeiro de Paula, que além de iluminar minha vida desde o momento em que eu a conheci, me ajudou muitíssimo na edição e escrita desta obra. Agradeço com muito carinho ao meu Mestre das Artes Marciais e da Vida, Paulo Roberto Lintz Correa, suas contribuições em minha vida foram de valor inestimável. Agradeço as nossas orientadoras Maria de Fátima Paschoal Soler e Jovira Maria Sarraceni, que foram fundamentais na construção desta obra. Agradeço à Secretária Municipal de Educação, Denise Jorge Magnoler, à Diretora da EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz", Karina de Fátima Gomes, e aos pais e alunos que participaram de nosso estudo, pois sem a permissão e a colaboração destas pessoas nosso trabalho não poderia se realizar. E a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a minha formação enquanto pessoa e cidadão, assim como para a construção desta obra, eu deixo com muito carinho o meu MUITO OBRIGADO!!! André Luiz Moinhos Muniz Dedico este trabalho a Deus e a minha Família. AGRADECIMENTOS Primeiramente eu gostaria de agradecer a Deus por ter nos deixado sua herança, que foi o conhecimento e a sabedoria divina que nos alimenta e nos fornece força para que a vida possa ser prazerosa e cheia de conquistas. Em seguida agradeço pelo maior presente que ele me deixou que foi uma vida cercada de pessoas que me amam e consequentemente me dão suporte para continuar caminhando no sentido certo . Essas pessoas que eu digo, é minha família, onde por eles eu me sinto motivado para continuar lutando superando os obstáculos e adquirindo novas conquistas. Diego Gallo da Silva RESUMO As condições de vida nos centros urbanos vêm se transformando de forma muito significativa nas últimas décadas, implicando em profundas mudanças de hábitos. Grande parte das crianças dos tempos atuais não praticam, e muitas nem conhecem, as brincadeiras e atividades que preenchiam a infância das crianças das décadas passadas. Esse fato, além de ser um problema cultural, afeta diretamente o desenvolvimento motor infantil, pois atividades e brincadeiras que estimulam as crianças a se movimentarem e utilizarem o corpo são muitíssimo importantes para o desenvolvimento motor. É fato que a grande maioria das crianças necessita vivenciar experiências que as estimulem a se movimentar e a aprender novas formas de movimentos para que seu desenvolvimento motor não fique atrasado e limitante. É por este motivo, que as escolas infantis oferecem aulas de educação física para os alunos. E, para muitas crianças, o contexto escolar é a única fonte de estímulos ao desenvolvimento motor. Esta pesquisa tem o objetivo de verificar se apenas as aulas de educação física, oferecidas no contexto escolar, são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada. Para isso, foram selecionadas 20 crianças do 1° ano do ensino fundamental com idades entre 6 e 7 anos da EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" na cidade de Lins. As crianças foram separadas em 2 grupos de 10 alunos cada. Um grupo foi formado por crianças que praticam atividades físicas fora do contexto escolar, e o outro por aquelas que realizavam atividades físicas apenas na escola. Todas as 20 crianças foram filmadas durante o ato da corrida, as imagens foram analisadas e a performance motora das crianças foi avaliada. O resultado desta pesquisa apontou uma diferença muito significativa entre os grupos. Evidenciando que provavelmente a forma como os estímulos motores são oferecidos para as crianças nos tempos atuais necessita ser repensada. Palavras-chave: Desenvolvimento Motor. Habilidades Motoras Fundamentais. Corrida. Padrão Maduro. ABSTRACT The living conditions in urban centers have been becoming very significantly in recent decades, resulting in profound changes in habits. Most children of modern times do not practice, and many do not know, the games and activities that filled childhood of children of the past decades. This fact, in addition to being a cultural problem, directly affects infant motor development, as activities and games that stimulate children to move and use the body are extremely important for motor development. It is a fact that the vast majority of children need to have experiences that stimulate the move and learn new ways of movements so that your motor development does not get delayed and limiting. It is for this reason that infant schools offer physical education classes for students. And for many children, the school context is the only source of stimulus to motor development. This research intends to verify whether only the physical education classes, offered in the school context, are sufficient to stimulate motor development of the children appropriately. For this, were selected 20 children from 1st year of primary school between the ages 6 and 7 years of EMEI "Prof. Alda Therezinha Perches Queiroz" in the city of Lins. The children were divided in 2 groups of 10 students each. One group was formed of children who practice physical activities outside the school context, and the other by those who only performed physical activities at school. All 20 children were filmed during the act of running, the images were analyzed and motor performance of the children was evaluated. The result of this research showed a very significant difference between the groups. Evidencing that probably the way the motor stimuli are offered for children nowadays need be rethought. Keywords: Motor Development. Fundamental Motor Skills. Race. Standard Mature. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ampulheta ......................................................................................................... 17 Figura 2: Recheio da vida ............................................................................................... 18 Figura 3: Desenvolvimento .............................................................................................. 31 Figura 4: Experiências ..................................................................................................... 36 Figura 5: Habilidades esportivas .................................................................................... 41 Figura 6: Estrutura da filmagem ..................................................................................... 44 Figura 7: A corrida ............................................................................................................ 47 Figura 8: Gráfico do grupo praticante ............................................................................ 62 Figura 9: Gráfico do grupo não praticante .................................................................... 63 Figura 10: Gráfico de classificação geral...................................................................... 64 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Corrida............................................................................................................. 40 Quadro 2: Objetos de análise ......................................................................................... 46 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Classificação do grupo praticante ................................................................ 48 Tabela 2: Classificação do grupo não praticante ........................................................ 49 Tabela 3: Diferença entre os grupos ............................................................................. 49 Tabela 4: Classificação Geral ......................................................................................... 50 Tabela 5: Distribuição do nível da habilidade analisada entre os grupos ............... 50 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HMF: Habilidades Motoras Fundamentais CT: Cabeça e tronco EMEI: Escola Municipal de Educação Infantil E: Estágio Elementar I: Estágio Inicial M: Estágio maduro MI: Membros Inferiores MS: Membros Superiores NP: Indivíduo Do Grupo Não Praticante P: Indivíduo Do Grupo Praticante SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11 CAPITULO I – O DESENVOLVIMENTO MOTOR ..................................................... 13 1 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ..................................................... 13 1.1 Fase motora reflexiva ........................................................................................... 19 1.1.2 Reflexos primitivos................................................................................................ 19 1.1.3 Reflexos posturais ................................................................................................ 19 1.1.4 Estágio de codificações de Informações ........................................................... 20 1.1.5 Estágio de decodificações de informações ...................................................... 20 1.2 Fase de movimentos rudimentares .................................................................... 21 1.2.1 Estágio de inibição de reflexos ........................................................................... 21 1.2.2 Estágio de pré-controle ........................................................................................ 22 1.3 Fase de movimentos fundamentais.................................................................... 22 1.3.1 Estágio Inicial ......................................................................................................... 23 1.3.2 Estágio elementar ................................................................................................. 24 1.3.3 Estágio maduro ..................................................................................................... 24 1.4 Fase de movimentos especializados................................................................. 25 1.4.1 Estágio transitório ................................................................................................. 25 1.4.2 Estágio de aplicação ............................................................................................ 26 1.4.3 Estágio de utilização permanente....................................................................... 26 1.5 Outras perspectivas .............................................................................................. 27 CAPITULO II – O DESENVOLVIMENTO E A SIGNIFICÂNCIA DAS HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS........................................................... 29 2 CONCEITOS ......................................................................................................... 29 2.1 Crescimento e maturação biológica .................................................................. 30 2.2 Fatores que afetam o crescimento e a maturação .......................................... 31 2.2.1 Nutrição................................................................................................................... 32 2.2.2 Estresse e idade da mãe ..................................................................................... 32 2.2.3 Fatores teratógenos.............................................................................................. 33 2.3 Experiências .......................................................................................................... 35 2.4 Habilidades motoras fundamentais através da perspectiva de Gallahue e Ozmun................................................................................................................................. 37 CAPITULO III – A PESQUISA ....................................................................................... 43 3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 43 3.1 A EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz” .......................................... 43 3.2 Protocolo ................................................................................................................ 44 3.3 Análise .................................................................................................................... 46 3.4 Resultados.............................................................................................................. 48 3.5 Discussão............................................................................................................... 50 3.6 Parecer final ........................................................................................................... 52 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ................................................................................. 53 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 54 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 55 APÊNDICES ..................................................................................................................... 56 ANEXOS ............................................................................................................................ 58 11 INTRODUÇÃO O tema abordado no presente trabalho é o padrão da corrida em escolares entre 6 e 7 anos de idade, delimitando o nível de maturação desta habilidade motora fundamental das crianças dessa faixa etária que cursam o primeiro ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz". Este estudo justifica-se pelo fato de que a locomoção é um aspecto fundamental no aprendizado de movimentar-se, efetiva e eficientemente, pelo ambiente. Segundo Gallahue e Ozmun (2003) atividades como: caminhar, correr, pular, e saltar obstáculos são consideradas movimentos locomotores fundamentais. Com base em autores como Gallahue e Ozmun (2003), Tani (2008), Piaget (1967), Payne e Isaac (2007), Kail (2004), Schmidt e Wrisberg (2001), pode-se afirmar que a aquisição de padrões maduros para as habilidades motoras fundamentais é muito significativa para a formação do indivíduo. O objetivo geral desta pesquisa é analisar se as aulas de Educação Física no contexto formal (escolar) são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada. E o objetivo específico é analisar o padrão motor da corrida. A pergunta problema que esta pesquisa tenta responder é a seguinte: apenas as aulas de Educação Física escolar são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada? Diante deste questionamento, levantou-se a hipótese de que, devido ao maior sedentarismo dos tempos cotidianos, a atual carga horária das aulas de educação física escolar não é suficiente para proporcionar às crianças os estímulos que essas necessitam para se desenvolverem de forma adequada. Para responder ao questionamento desta pesquisa foram selecionadas 20 crianças da EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" da cidade de Lins. Essas crianças formaram 2 grupos de 10 indivíduos. Um grupo foi constituído apenas pelos indivíduos que praticavam atividades estimulantes ao desenvolvimento motor fora do contexto escolar, e o outro por aqueles que praticavam tais atividades apenas na escola. 12 Todas as crianças foram filmadas durante o ato da corrida, essas filmagens foram analisadas e o desempenho motor das crianças foi avaliado. Esta obra faz um apanhado na literatura do desenvolvimento motor, dissertando sobre o significado do desenvolvimento, as várias fases e estágios do desenvolvimento motor, os fatores que o afetam, a importância de estímulos durante o processo de desenvolvimento, as habilidades motoras fundamentais e, por fim, é apresentado o resultado da pesquisa e suas respectivas interpretações. Portanto este trabalho ficou assim dividido: CAPÍTULO 1: O Desenvolvimento motor. CAPÍTULO 2: O Desenvolvimento e a significância das habilidades motoras fundamentais. CAPÍTULO 3: A pesquisa. Por fim apresenta-se Referências. a Proposta de Intervenção, Conclusão e 13 CAPITULO I O DESENVOLVIMENTO MOTOR 1 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO A palavra desenvolvimento envolve um campo muito amplo de significados, mas no que diz respeito aos seres humanos, ela faz referência a um conjunto de aspectos que embora distintos, estão, em sua maioria, interligados. Para Gallahue e Ozmun (2003), desenvolvimento, em seu sentido mais puro, refere-se às alterações no nível de funcionamento de um indivíduo ao longo do tempo. E ainda segundo os mesmos autores, apesar de o desenvolvimento ser mais frequentemente considerado como o surgimento e a ampliação das habilidades de um indivíduo para funcionar em um nível mais elevado, é preciso reconhecer que o conceito de desenvolvimento é muito amplo e que ele é, de fato, um processo permanente. A ciência do desenvolvimento humano engloba vários campos de estudo. Payne e Isaac (2007) vão além da clássica e pioneira taxonomia desenvolvida por Benjamim Bloom, que em 1956 classificou o desenvolvimento humano em 3 domínios: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. Payne e Isaac (2007) acrescentam um 4º domínio, intitulado de domínio físico. É com base na obra destes mesmos autores, que os breves esclarecimentos acerca de cada um destes domínios (cognitivo, afetivo, psicomotor e físico) foram desenvolvidos e apresentados a seguir. O domínio cognitivo tem enfoque em atividades como: leitura, resolução de problemas matemáticos, ponderação de fatos nos estudos sociais e atividades semelhantes a estas que estejam direta ou indiretamente ligadas às atividades e capacidades cognitivas. O domínio afetivo relaciona-se, principalmente, com os aspectos sociais e emocionais do desenvolvimento humano, e tem seu enfoque em sentimentos como o de valor próprio, a capacidade de interagir no meio social e o modo como o indivíduo se sente a cerca de si mesmo. 14 O domínio psicomotor preocupa-se com as atividades que envolvem a execução de movimentos e os níveis de maturação das mesmas. Estes movimentos vão desde movimentos de coordenação motora fina, como a escrita, até os movimentos que envolvem grandes grupos musculares como correr, arremessar, saltar, entre outros. O domínio físico direciona suas atenções para as mudanças que ocorrem no corpo do indivíduo, tais como: seu crescimento em estatura e a velocidade com que isso acontece; o ganho de massa corporal ou a perda dela; o aumento ou a diminuição da amplitude dos movimentos; e a forma e a velocidade com que o organismo amadurece. É fundamental ter a compreensão de que, por maior que seja o número de aspectos englobados pela ciência do desenvolvimento humano, nem um deles é absolutamente independente, já que todos interagem e influenciam uns aos outros. Por isso, para que haja um entendimento verdadeiro do desenvolvimento humano, é indispensável que os estudos considerem a constante interação entre todos os seus domínios. Os diversos aspectos humanos não devem ser analisados sob uma perspectiva exclusivista. Gallahue e Ozmun (2003) deixam isso bem claro ao afirmarem que o estudo do desenvolvimento deve ser analisado a partir da perspectiva da totalidade da espécie humana. Isso se deve ao fato de que as pessoas vivenciam, em seu cotidiano, diversas atividades que as levam a utilizar de forma aleatória, e na grande maioria das vezes integrada, aspectos englobados por diferentes domínios do desenvolvimento humano. As mesmas afirmações são válidas para o estudo do desenvolvimento motor, já que esta é uma ciência subjacente ao desenvolvimento humano e que também se divide em seguimentos. A compreensão dos domínios do desenvolvimento humano é significativa para o entendimento do desenvolvimento motor, visto que este é uma ramificação do desenvolvimento humano e recebe influências de todos os domínios. Para Payne e Isaac (2007), desenvolvimento motor se define como as mudanças que ocorrem nas capacidades de se movimentar e nos movimentos, em geral, ao longo da vida. 15 “O desenvolvimento motor é um processo contínuo que se inicia na concepção e cessa com a morte” (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 6). Sob a perspectiva de Tani (2008), o desenvolvimento motor tem sido visto nos últimos anos como um processo que envolve emergência, aquisição e aperfeiçoamento de funções e habilidades, a partir de um script que vai sendo escrito com a experiência ao longo da vida. Ao analisar as citações anteriores, fica fácil compreender do que se trata o desenvolvimento motor, pois quando se observa as palavras dos estudiosos desta ciência, e se presta atenção na forma como crianças e adultos se comportam diante de situações que envolvem a aquisição, execução ou o aperfeiçoamento de novas habilidades motoras, o entendimento do significado de desenvolvimento motor acontece de forma espontânea. Ao compreender o significado de desenvolvimento motor, nota-se que esta é uma ciência que envolve o estudo de diversos aspectos humanos englobando muitos sistemas físicos e psíquicos distintos, porém interligados, de um indivíduo. Podemos observar isso nas palavras de Gallahue e Ozmun (2003) quando afirmam que vários fatores que envolvem habilidades motoras e desempenho físico interagem de maneiras complexas com o desenvolvimento cognitivo e afetivo. É de grande valia para a compreensão realizar uma observação que coloque lado a lado a teoria e a prática, para conceber de maneira clara a forma como o processo de desenvolvimento motor se desenrola. Ao estudar obras de autores como Gallahue e Ozmun (2003), Tani (2008), Payne e Isaac (2007), e Haywood e Getchell (2004), nota-se que todos apresentam o desenvolvimento motor como um processo multifatorial que está sujeito às condições ambientais, mas que, no entanto, não se trata de um processo totalmente determinado por essas. Isso é notado nas palavras de Haywood e Getchell (2004) quando as autoras afirmam que o desenvolvimento é uma mudança sequenciada onde um passo leva ao seguinte, de forma irreversível e ordenada, sendo que essas mudanças resultam de interações intrínsecas do próprio indivíduo e de interações do indivíduo com o ambiente. Tais obras têm muito valor para aqueles que desejam iniciar seus estudos nesta ciência, pois elas apresentam discussões contendo as principais 16 teorias de desenvolvimento motor, assim como pesquisas desenvolvidas na última década. E é por meio do estudo dessas, que se nota uma série de fatores que dificilmente seriam percebidos sem o conhecimento que estes autores compartilharam. Esse é o caso do processo de aprendizado de uma nova habilidade motora em um indivíduo normal, pois este fenômeno já contextualizou muitos estudos, e segundo Tani (2008) uma extensa variedade de fenômenos antecipatórios têm evidenciado que movimentos podem ser estruturados antes de serem realizados. Isso mostra que os fenômenos naturais do desenvolvimento motor, que muitas vezes passam despercebidos aos olhos de pais e professores, possuem uma complexidade significativa em seu desenrolar, o que exige um estudo bastante minucioso para que se possa compreendê-los. Após essa observação um pouco mais detalhada do processo de aprendizado de uma nova habilidade motora, amplia-se a compreensão da dimensão dos estudos acerca do desenvolvimento motor. Afinal, essa simples observação mostra uma pequeníssima parte dos aspectos a serem estudados na ciência do desenvolvimento motor. Como o presente estudo se desenvolve dentro deste campo de pesquisa, é vital que haja um entendimento geral sobre o processo de desenvolvimento motor, pois do contrário a compreensão desta obra seria significativamente afetada. Alguns dos aspectos relevantes a serem compreendidos são as ordens de aquisição de habilidades motoras cefalocaudal e proximodistal. Essas teorias são explanadas na obra de Payne e Isaac (2007), que explicam que nosso organismo se desenvolve da cabeça em direção aos pés, e do centro para as extremidades desde a concepção, pois é dessa forma que o feto se desenvolve. Após o nascimento, a maturação do organismo segue na mesma ordem e, consequentemente, a aquisição de novas habilidades motoras também. Apesar de as habilidades motoras surgirem de forma previsível e sequenciada para quase todos os seres humanos, sob hipótese alguma isso significa que o processo de desenvolvimento será igual para todos, e muito menos que todos terão as mesmas habilidades motoras. Essa previsibilidade do surgimento das habilidades motoras mostra que o desenvolvimento já tem 17 um plano pré-estabelecido. No entanto, o processo de desenvolvimento é bastante suscetível aos estímulos e condições que o ambiente oferece ao indivíduo. Para a maioria das pessoas em determinados períodos de suas vidas, o desenvolvimento depende de influências positivas do ambiente para se desenvolver da melhor forma possível. Isso pode ser observado quando Gallahue e Ozmun (2003) afirmam que embora o relógio biológico seja bastante específico, quando se trata da sequência de aquisição de habilidades motoras, o nível e a extensão do desenvolvimento são determinados individual e dramaticamente pelas exigências da tarefa em si. E que também é possível observar diferenças desenvolvimentistas no comportamento motor, provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia), do ambiente (experiência) e da tarefa em si (físicos e mecânicos). A figura 1 ilustra com clareza os dizeres anteriormente citados. Figura 1: Ampulheta Fonte:(GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 100). 18 De acordo com os autores a areia que preenche a ampulheta pode ser compreendida como “o recheio da vida”. Uma parte deste “recheio” vem da herança genética e a outra vem dos estímulos e condições que o ambiente oferece ao indivíduo. Não é possível aumentar a quantidade de areia que vem da herança genética, o que se pode fazer é evitar que condições inadequadas restrinjam seu fluxo. Já a areia que vem do ambiente, essa sim pode ser multiplicada. A figura 2 ilustra com clareza essa questão, pois a jarra da hereditariedade tem tampa, o que significa que ela não pode receber mais areia. No entanto, a jarra do ambiente não tem tampa, ilustrando que é possível despejar mais areia nela. Figura 2: Recheio da vida Fonte:(GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 110). 19 Baseando-se na observação dos movimentos, Gallahue e Ozmun (2003) receitaram em sua obra uma classificação que foi projetada com o intuito de servir como modelo de estudo. Essa classificação sugere uma divisão do desenvolvimento motor em fases, fases estas que podem ser vistas na figura da ampulheta. Essa classificação é explicada nos próximos tópicos. As explicações contidas nos tópicos referentes às fases e estágios sugeridos por Gallahue e Ozmun (2003) é totalmente fundamentada na obra dos autores. 1.1 Fase motora reflexiva Os primeiros movimentos fetais são reflexivos, os reflexos são movimentos involuntários controlados subcorticalmente, que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. É através dos reflexos que o bebê obtém as primeiras informações do mundo ao seu redor. Mudanças ambientais que envolvam alterações na luz, nos sons e na pressão, provocam atividade motora involuntária. Esses movimentos involuntários, em conjunto com o crescente amadurecimento cortical, são peças fundamentais para o aprendizado do bebê acerca de seu próprio corpo e do mundo exterior. No entanto, é importante esclarecer que desde o nascimento o bebê já apresenta movimentos voluntários. Esta fase é classificada como reflexiva, devido à presença muito significativa dos movimentos reflexivos. Os movimentos reflexivos do bebê podem ser classificados em 2 grupos, são eles: 1.1.2 Reflexos primitivos Encaixam-se nessa categoria os reflexos que têm a função de agrupar informações, procurar alimentos e autoproteção. Reflexos agrupadores de informação são aqueles que auxiliam a estimular a atividade cortical e o desenvolvimento. Reflexos como os de sugar e pesquisar através do olfato são considerados mecanismos de sobrevivência primitivos, pois sem eles, o recémnascido seria incapaz de obter alimento. 1.1.3 Reflexos posturais 20 Essa segunda forma de movimentos involuntários é semelhante às formas anteriores, principalmente pelo fato de que essas constituem a base para o desenvolvimento de motricidades mais complexas no futuro, e por serem muito similares em sua aparência aos comportamentos voluntários que as sucedem. Tais reflexos parecem ter a função de realizar testes neuromotores para mecanismos estabilizadores, manipulativos e locomotores, para que sejam utilizados, posteriormente, de forma consciente. Pode-se observar que reflexos primários como os de pisar, o de arrastar-se, o reflexo palmar, o reflexo cortical labiríntico e os de sustentação, relembram e estão intimamente relacionados aos comportamentos voluntários de engatinhar, caminhar, agarrar, soltar e as habilidades de equilíbrio. A fase reflexiva do desenvolvimento motor pode ser dividida em 2 estágios sobrepostos, são eles: 1.1.4 Estágio de codificações de Informações Este estágio se inicia no período fetal e finda por volta do quarto mês do período pós-natal. Por se tratar de um estágio da fase reflexiva, as atividades motoras observáveis são involuntárias. Nesse estágio, os centros cerebrais inferiores estão mais altamente desenvolvidos do que o córtex motor e estão majoritariamente no comando dos movimentos fetais e neonatais. Esses centros cerebrais causam reações involuntárias a numerosos estímulos pelos quais o bebê começa a reunir informações e buscar alimento, como foi explicado no tópico dos reflexos primitivos. 1.1.5 Estágio de decodificações de informações Este estágio se inicia após o anterior, e se caracteriza pela gradual inibição dos reflexos proporcionalmente ao desenvolvimento dos centros cerebrais superiores. Gradualmente, os centros cerebrais inferiores cedem o controle sobre os movimentos esqueletais para que esses passem a ser controlados por atividades voluntárias, dominadas pela área motora do córtex cerebral. Em suma, é neste estágio que o bebê começa a obter o controle voluntário de seus movimentos, substituindo as atividades sensório-motoras 21 pelas motor-perceptivas. Isso significa que, a partir desse estágio, as ações do bebê evoluem de simples reações a estímulos, passando a envolver o processamento dos estímulos sensoriais em conjunto com informações armazenadas para, então, gerar uma ação. É importante ter em mente que a transição de um estágio para o outro acontece de forma gradual e acentuada. Além disso, as perspectivas de início e fim de cada estágio é uma estimativa que busca se adequar à realidade dos bebês. No entanto, elas não configuram um padrão exato, visto que cada sujeito possui suas individualidades. 1.2 Fase de movimentos rudimentares Os primeiros movimentos voluntários de uma criança são considerados rudimentares. Movimentos dessa categoria podem ser observados desde o nascimento até o findar dessa fase, que ocorre aos 2 anos de idade, aproximadamente. Os movimentos rudimentares assinalam-se por uma sequência de aparecimento altamente previsível, e são determinados de forma maturacional. Essa sequencia é capaz de resistir a alterações em condições normais, porém o nível com que essas habilidades surgem varia de acordo com a individualidade biológica do indivíduo, e também está acoplado a fatores ambientais e às exigências da tarefa. Nos bebês, os movimentos rudimentares configuram formas básicas de movimentos voluntários, que são necessários para a sua sobrevivência. Movimentos rudimentares englobam: movimentos estabilizadores, como o controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco; tarefas manipulativas como agarrar e soltar; e movimentos locomotores como arrastar-se, engatinhar e caminhar. Esta fase pode ser dividida em 2 estágios, que representam progressivamente formas superiores de controle motor, são eles: 1.2.1 Estágio de inibição de reflexos Tendo início no nascimento, esse estágio é caracterizado pela crescente influência do córtex cerebral sobre os movimentos do bebê, que ao nascer possui um repertório motor dominado pelos reflexos. Com o passar do tempo e 22 a sofisticação do córtex cerebral, seus movimentos passam a ser cada vez mais influenciados por ele, e de forma proporcional ao seu desenvolvimento. A gradual maturação do córtex cerebral, em conjunto com a diminuição de certas restrições ambientais, faz com que vários reflexos sejam inibidos e gradativamente extintos. Reflexos posturais e primitivos são substituídos por atividade motora voluntária. É importante ressalvar que o processo principiado no nascimento e que substitui os movimentos reflexivos por atividade motora voluntária, tem um início muito tênue, de forma que os primeiros movimentos voluntários são fragilmente diferenciados dos movimentos reflexivos. Isso ocorre porque o aparato neuromotor do bebê ainda está em estágio rudimentar de desenvolvimento. Os movimentos voluntários nesse estágio, inclusive aqueles que possuem objetivos, são descontrolados e grosseiros. Por exemplo, se o bebê deseja pegar algum objeto, os movimentos que ele executará pra isso serão globais e nada específicos. Dessa forma, o simples ato de pegar um objeto que está ao alcance da mão envolverá atividade global da mão inteira, do pulso, dos ombros e até mesmo do tronco. Ou seja, mesmo os movimentos voluntários apresentam falta de controle. 1.2.2 Estágio de pré-controle É aproximadamente com 1 ano de idade que as crianças começam a adquirir maior precisão e controle sobre seus movimentos. A diferenciação entre os sistemas sensorial e motor, e a integração de informações motoras e perceptivas, em um conjunto com maior significância e coerência, acontecem. O desenvolvimento acelerado dos processos motores, assim como de processos cognitivos, encoraja rápidos ganhos nas habilidades motoras rudimentares. É nesse estágio que as crianças aprendem a obter e manter seu equilíbrio, a manipular objetos e a locomover-se pelo ambiente com um significativo grau de eficiência e domínio, considerando o pequeno período de tempo que tiverem para desenvolver essas habilidades. 1.3 Fase de movimentos fundamentais 23 As Habilidades Motoras Fundamentais (HMF) são consequência da fase de movimentos rudimentares. Este é o período do desenvolvimento motor em que as crianças pequenas estão ativamente envolvidas no descobrimento e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos. É um período para descobrir como realizar uma multiplicidade de movimentos locomotores, estabilizadores e manipulativos, primeiro separadamente e, então em conjunto. As crianças que estão aprendendo a reagir com domínio motor e eficiência motora a vários estímulos, estão desenvolvendo padrões fundamentais de movimento. Adquirindo um aumento no controle para exercer movimentos de diferentes tipos, o que é confirmado por suas habilidades em acolher mudanças nas exigências das tarefas. Os padrões de movimento fundamentais são observáveis básicos de comportamento, o que inclui: atividades locomotoras, como pular e correr; manipulativas, como apanhar e arremessar e estabilizadoras como o equilíbrio em um pé só e o andar com firmeza, esses fatos são evidenciados na obra de Gallahue e Ozmun (2003). É importante compreender que para que as HMF se desenvolvam corretamente, é muito relevante que hajam estímulos adequados. A maturação não deve ser considerada o único fator determinante para o desenvolvimento dos padrões de movimentos fundamentais, embora ela seja deveras indispensável e crucial. As condições ambientais, as oportunidades de prática, instruções e encorajamento desempenham um papel muito significativo para o desenvolvimento dos padrões fundamentais de movimento em seu grau máximo. A fase de movimentos fundamentais é dividida em 3 estágios, são eles: 1.3.1 Estágio Inicial É nesse estágio que a criança orienta suas primeiras tentativas para o objetivo de executar uma habilidade motora fundamental. Os movimentos desse estágio são evidenciados por elementos que se fazem ausentes, ou que são erroneamente sequenciados e restritos, devido ao uso excessivo do corpo e pela coordenação e fluxo rítmico ineficiente. Movimentos manipulativos, locomotores e estabilizadores com essas características, são normalmente observados em crianças na faixa etária dos 2 anos. 24 1.3.2 Estágio elementar Envolvendo uma coordenação rítmica dos movimentos fundamentais mais aprimorados que no estágio anterior, em conjunto com um controle motor também mais evoluído, esse estágio é assinalado pelo crescente refinamento e sincronização dos elementos espaciais e temporais dos movimentos. No entanto, os movimentos nesse estágio ainda possuem, em sua grande maioria, padrões exagerados ou restritos, embora melhor coordenados que no estágio precedente. A observação de crianças de 3 ou 4 anos mostrou muitos movimentos fundamentais no estágio elementar. Inúmeros indivíduos, tanto crianças quanto adultos, não passam do estágio elementar em vários padrões de movimento. 1.3.3 Estágio maduro O estágio maduro se caracteriza por performances mecanicamente eficientes, controladas e coordenadas. A maior parte dos dados disponíveis sobre a obtenção de HMF indica que as crianças podem, e devem, alcançar o estágio maduro aos 5 ou 6 anos de idade. Habilidades que exigem funções visuais e motoras mais complexas se desenvolvem mais tardiamente, em decorrência de sua necessidade de um nível mais profundo de integração entre os sistemas visuais e motores. Atividades manipulativas que solicitam o acompanhamento e interceptação de objetos, em movimento tais como derrubar, apanhar e rebater, que são exemplos de habilidades dessa categoria. A observação dos movimentos de adultos e crianças revela que boa parcela deles não desenvolveu suas HMF ao nível maduro. Apesar de alguns indivíduos atingirem esse estágio essencialmente pela maturação e com pouquíssimas influências do ambiente, a maior parte das pessoas necessita de chances para praticar atividades que estimulem o desenvolvimento dessas habilidades. Necessitam de encorajamento e de instruções, em um ambiente que promova o aprendizado. Na falta de recursos e oportunidades que promovam o desenvolvimento dessas habilidades, torna-se dificílimo um indivíduo alcançar o estágio maduro 25 de alguns movimentos fundamentais, o que afetará negativamente na execução dessas habilidades em períodos posteriores. 1.4 Fase de movimentos especializados A fase especializada é resultante da fase precedente. Nessa, os movimentos se tornam ferramentas que são utilizadas em muitas atividades motoras sofisticadas, presentes na vida cotidiana, na recreação e nos esportes. Nesse período, as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são gradativamente refinadas, harmonizadas e organizadas para o uso em ocasiões cada vez mais complexas. Movimentos fundamentais, como saltar em um pé só e pular, por exemplo, agora são conjugados e aplicados a atividades como, pular corda, danças folclóricas e salto triplo, esses fatos são evidenciados na obra de Gallahue e Ozmun (2003). O surgimento e a profundidade do desenvolvimento de habilidades especializadas estão profundamente acoplados em uma relação de dependência a muitos fatores relacionados à tarefa, ao individuo e ao ambiente, tais como: o tipo corporal, hábitos, condicionamento físico, pressão social e estrutura emocional, sendo apenas alguns desses fatores. A fase de movimentos especializados tem 3 estágios, são eles: 1.4.1 Estágio transitório As habilidades transitórias são basicamente o emprego dos movimentos fundamentais em brincadeiras, jogos e em situações comuns da vida diária, que configuram formas mais específicas e complexas de utilização dos mesmos. Atividades como caminhar em ponte de cordas, jogar bola e pular corda são comumente executadas por crianças no estágio transitório. A criança nesse estágio inicia um processo de conjugar e aplicar HMF às atividades especializadas, recreacionais ou esportivas, como ocorre nas atividades citadas anteriormente. Essas habilidades possuem os mesmos elementos que os movimentos fundamentais, mas com formato, precisão e controle superiores. Esse estágio transitório é um tempo alvoroçado para os professores e para os pais, assim como para as crianças. Estas estão 26 ativamente submergidas na exploração e na combinação de inúmeros padrões motores e, comumente, ficam exaltadas com a veloz ampliação de suas habilidades motoras. Professores, pais e treinadores devem, nesse estágio, se empenhar em ajudar as crianças a expandirem o controle motor, assim como a competência motora em diversas atividades. É importante ter cautela para não restringir o envolvimento da criança apenas em algumas poucas atividades. Uma restrição das habilidades nesse estágio, muito provavelmente, ocasionará efeitos indesejáveis nos últimos estágios da fase de movimentos especializados. 1.4.2 Estágio de aplicação Por volta, dos 11 aos 13 anos, alterações significativas ocorrem no desenvolvimento das habilidades do indivíduo. No estágio precedente, quando não ocorre uma interferência incisiva de influências adultas, o normal é que as crianças desenvolvam um interesse generalizado, que envolva de forma abrangente atividades variadas. No estágio de aplicação, a crescente evolução cognitiva e uma base aumentada de experiências, fazem com que o indivíduo seja capaz de realizar inúmeras escolhas de aprendizado e de participação, baseando-se em fatores diversos, sendo que estes podem ser relacionados à tarefa, assim como individuais e ambientais. O indivíduo começa a realizar escolhas conscientes contra ou a favor de sua participação em certas atividades. Essas escolhas se baseiam, em grande parte, na percepção que a criança tem sobre o quanto fatores inerentes à tarefa, a ela mesma e ao ambiente inibem ou aumentam a chance dela obter satisfação e sucesso. Essa percepção do indivíduo começa a diminuir as atividades que ele se propõe, ou aceita realizar. Nesse estágio há progressivo aumento na forma, habilidade, precisão, assim como nos aspectos quantitativos do desempenho motor. Esse é um período muito adequado para refinar e utilizar habilidades mais complexas em jogos mais sofisticados, nos esportes, entre outros. 1.4.3 Estágio de utilização permanente 27 O estágio de utilização permanente inicia-se aproximadamente aos 14 anos e prossegue por toda a vida adulta. Esse estágio significa o auge do processo de desenvolvimento motor, e é assinalado pelo uso do repertório de movimentos contraídos pelo indivíduo por toda a vida. Fatores como tempo disponível, condições financeiras, estruturas, instalações, limitações físicas e mentais afetam esse estágio. Entre outros aspectos, a participação de uma pessoa em certas atividades dependerá do seu talento para executar essas atividades, das oportunidades que ela tiver, de suas condições físicas e da sua motivação pessoal. O nível de desempenho permanente de um indivíduo pode variar desde o status profissional e olímpico, até atividades recreacionais ou, simplesmente, da vida diária. Em suma, esse estágio representa o clímax de todos os estágios e fases precedentes. Ele deve, no entanto, ser compreendido como a continuação do processo permanente. 1.5 Outras perspectivas Apesar de a classificação sugerida por Gallahue e Ozmun (2003) ser largamente aceita nos estudos acadêmicos a cerda do desenvolvimento motor, para que haja uma compreensão mais profunda desta ciência, é muito importante estudar outras perspectivas. Na obra de Tani (2008), ele e seus colaboradores realizam um grande apanhado do conhecimento científico desta área de estudo. O 17° capítulo dessa obra foi escrito por Manoel e Basso. Nesse capítulo, os autores fazem referência a várias outras obras e estudos para discorrer a cerca da modularidade no desenvolvimento motor. A modularidade faz um paralelo bastante interessante com a classificação em fases e estágios descritos anteriormente, pois os próprios autores explicam que dentro do campo do desenvolvimento motor, uma das formas de compreender a modularidade é como uma taxonomia, que agrupa em módulos os processos de mudanças. “Quando se pensa na aquisição dessas diferentes habilidades no eixo temporal de vida do indivíduo, vê-se que a aquisição de várias delas precede a aquisição de outras com as quais elas mantêm relação” (TANI, 2008, p. 237). 28 “No do desenvolvimento motor há um entendimento de que uma habilidade como o andar ereto depende de habilidades de controle postural” (McGraw, 1945, apud TANI, 2008, p. 237). Ao se observar que em 1945 a ligação sequencial das habilidades motoras já era denotada por estudiosos como McGraw, e que até os dias contemporâneos ela é estudada e reafirmada, compreende-se algo que nunca deve ser esquecido. Quando um autor sugere uma taxonomia para classificar e dividir esse processo, a fim de facilitar o estudo deste vasto campo de pesquisa, ele está apenas dando nome a um processo que se desenrola desde a existência dos primeiros seres humanos. Para que haja um profundo entendimento deste processo, não se deve tomar como verdade absoluta ou padrão de classificação as classificações de nem um autor. Embora o conhecimento da obra dos respeitosos estudiosos desta ciência seja fundamental e absolutamente indispensável para que haja um mínimo de compreensão do processo de desenvolvimento motor, a compreensão verdadeira desse fenômeno só pode ser alcançada através da união de um vasto conhecimento e uma observação lúcida do desenrolar do desenvolvimento motor. E um indivíduo que observa através de um conceito já fundamentado em sua mente não pode enxergar o que ainda não foi visto. 29 CAPITULO II O DESENVOLVIMENTO E A SIGNIFICÂNCIA DAS HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS 2 CONCEITOS Como as HMF já foram conceituadas anteriormente, este capítulo tem a intenção de ampliar a compreensão do foco desta pesquisa e chamar a atenção para seu valor. Para cumprir o objetivo de aumentar o entendimento das HMF, é muito útil entender o significado da idade cronológica em questão, antes de se explanar mais minuciosamente as HMF. Pois, dessa forma, adquire-se uma percepção mais completa da criança. As crianças envolvidas na Pesquisa apresentam entre 6 e 7 anos de idade. Essa faixa etária é classificada por Piaget (1967) como pré-operacional, onde a criança demonstra crescente pensamento simbólico pela ligação de seu mundo com palavras. Período em que são constatados os primeiros princípios reais da cognição, pois, até então, as crianças não conseguiam manipular objetos mentalmente sem se apoiar nas atividades físicas. Vale ressaltar que o período pré-operacional descrito por Piaget se inicia aos 2 anos de idade e se encerra aos 7. Sendo que o objeto de estudo deste trabalho é o fim dessa faixa etária, é natural considerar que estas crianças já estão, ou deveriam estar, com seu desenvolvimento motor despontando para o próximo período, que segundo Piaget (1967) é classificado como período de operações concretas, onde a criança raciocina logicamente sobre eventos concretos e consegue classificar objetos de seu mundo em vários ambientes. Havighurst (apud GALLAHUE E OZMUN, 2003) também propõe uma divisão de faixa etária. O período da infância estudado nesta pesquisa se encaixa na fase que Havighurst classificou como média Infância, que se inicia aos 6 anos e se encerra aos 12. Segundo ele, é nessa fase que, entre outras habilidades, a criança deve desenvolver as habilidades físicas necessárias para jogos comuns, assim como construir uma atitude saudável em relação a si 30 mesmo e aprender a relacionar-se com colegas da mesma idade. Enquanto que na perspectiva de Payne e Isaac (2007), o período que vai dos 4 aos 7 anos de idade é denominado de primeira infância. De acordo com a literatura, esse é um período onde ocorre a transição do estágio maduro da fase de movimentos fundamentais, para a fase de movimentos especializados, como já foi visto no capítulo anterior. Baseando-se nesta transição é de se esperar que as crianças com essa idade estejam começando a utilizar os movimentos fundamentais de formas combinadas para possíveis atuações esportivas ou recreativas. No entanto, cada criança tem seu ritmo de desenvolvimento, sendo assim, é normal encontrar crianças mais ou menos desenvolvidas, isso pode ser observado na obra de Payne e Isaac (2007), quando os autores afirmam que todos os seres humanos são ímpares, variando em personalidade, aspecto e habilidades motoras. A forma, a velocidade e a qualidade com que a criança desenvolve suas habilidades motoras são determinadas por 2 fatores: a maturação biológica (que está relacionada à genética) e as experiências pelas quais a criança passa. “Todos os aspectos do desenvolvimento são determinados pela combinação das forças da hereditariedade e do meio ambiente” (KAIL, 2004, p. 19). Além da abordagem feita sobre esse assunto anteriormente, segue-se uma análise mais detalhista destes fatores, visto que eles são absolutamente fundamentais e indispensáveis, para o desenvolvimento das habilidades motoras. 2.1 Crescimento e maturação biológica Payne e Isaac (2007) explicam que nas conversas cotidianas termos como, desenvolvimento, maturação e crescimento podem até ser compreendidos como sinônimos, porém no estudo do desenvolvimento motor eles possuem significados interligados, contudo distintos. Os mesmo autores oferecem os conceitos destes três termos, que serão elucidados no decorrer deste tópico. No contexto acadêmico, o termo desenvolvimento abrange a maturação e o crescimento. Nessa perspectiva, o termo maturação refere-se às alterações funcionais qualitativas que ocorrem com o avançar da idade. Mudanças organizacionais nas funções dos órgãos e 31 tecidos, assim como ocorre com a organização neurológica do cérebro através da segunda infância, são bons exemplos de maturação. Quase todas as partes anatômicas do cérebro já estão presentes desde o início da segunda infância. No entanto, alterações qualitativas nas funções cerebrais continuam ocorrendo, o que permite a criança alcançar níveis mais altos de capacidades cognitivas e motoras. Consequentemente, o comportamento do indivíduo é alterado devido às alterações qualitativas. Em uma perspectiva simplista, pode-se entender crescimento como o aumento no tamanho físico. Mas para que haja uma melhor compreensão do significado deste termo, é importante abordá-lo de maneira mais completa. Através desse prisma mais amplo, pode-se dizer que crescimento refere-se às mudanças estruturais quantitativas que acontecem com o passar do tempo. Esse processo de aumento de tamanho do organismo em todas as dimensões envolve principalmente os fenômenos de hiperplasia (aumento no número de células) e hipertrofia (aumento no tamanho das células). A figura abaixo ilustra a relação entre os termos que foram explicados. Figura 3: Desenvolvimento Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013 2.2 Fatores que afetam o crescimento e a maturação Apesar do processo saudável de crescimento e desenvolvimento dos 32 seres humanos ser previsível, principalmente no que se refere aos fatores biológicos, já que o organismo cresce e se desenvolve baseado na programação do código genético, existe uma variedade de fatores ambientais que podem interferir neste processo. Essa variedade faz com que esse processo deixe de ser normal e saudável. Payne e Isaac (2007) confirmam isso quando dizem que o processo normal de desenvolvimento e crescimento de todos os seres humanos é previsível, e que infelizmente, em certas ocasiões, alguns fatores acabam influenciando negativamente no crescimento e no desenvolvimento do organismo humano. 2.2.1 Nutrição A nutrição é um fator muito importante a ser considerado durante a gravidez, pois uma dieta inadequada durante o período de gestação aumenta consideravelmente a probabilidade do surgimento de síndromes e patologias. Esse fato é evidenciado por Kail (2004) quando ele afirma que mães que não consomem quantidades adequadas de ácido fólico têm maiores riscos de que seus bebês tenham uma patologia conhecida como espinha bífida. Doença na qual o tubo neural do embrião não se fecha adequadamente durante o primeiro mês de gravidez, causando um dano permanente à medula espinhal e ao sistema nervoso. Kail (2004) ainda continua a discorrer a cerca dos efeitos de uma nutrição inadequada para as gestantes, alegando que problemas prénatais também são causados por quantidades inadequadas de proteínas, sais minerais e vitaminas. Por esses motivos, médicos recomendam às gestantes que complementem sua dieta com esses nutrientes. Ao findar a elucidação a cerca da importância de uma nutrição adequada para as gestantes, Kail (2004) revela que uma dieta inadequada durante os últimos meses de gravidez pode afetar principalmente o sistema nervoso, pois esse é um momento de crescimento muito rápido do cérebro. “[...] bebês que não recebem nutrição adequada ficam vulneráveis a doenças.” (Guttnacher e Kaiser, 1986, apud KAIL, 2004, p. 78). 2.2.2 Estresse e idade da mãe 33 “O aumento do estresse pode prejudicar o desenvolvimento pré-natal de diversas formas” (KAIL, 2004, p. 78). Kail (2004) continua a discorrer a cerca dos efeitos do estresse durante a gestação, exemplificando que a exposição prolongada de gestantes a estresses intensos e prolongados, gera alterações fisiológicas prejudiciais ao feto, tais como: redução do aporte de oxigênio para o feto e enfraquecimento do sistema imunológico. O autor segue explicando que, além disso, as gestantes estressadas são mais propensas a fumar e ingerir bebidas alcoólicas, e menos propensas a descansar, praticar atividades físicas e se alimentar adequadamente. Todos esses comportamentos compõem riscos ao desenvolvimento prénatal. “Problemas durante a gravidez são mais comuns quando a nutrição da mulher é inadequada e quando ela está sob estresse crônico” (KAIL, 2004, p. 78). Outro fator a ser considerado é a idade da gestante, Kail (2004) evidencia que mulheres com mais de 40 anos têm maiores probabilidades de terem filhos com síndrome de down. 2.2.3 Fatores teratógenos Ainda existem alguns fatores que devem ser considerados, Payne e Isaac (2007) oferecem a taxonomia que classifica os agentes ambientais que produzem danos ao feto ou ao embrião como agentes teratógenos. Kail (2004) exemplifica que os principais agentes teratógenos são: doenças, drogas e riscos ambientais. Segue abaixo uma breve explicação baseada na obra de Kail (2004) a cerca de cada um desses agentes teratógenos. A maior parte das doenças, como vários tipos de gripes e resfriados, não afetam o organismo em desenvolvimento. No entanto, diversas infecções virais e bacterianas podem ser bastante prejudiciais, e em alguns casos, letais para o embrião e o feto. Doenças como rubéola, sífilis, herpes genital e citomegalovírus oferecem riscos em potencial para o feto e para o embrião. No final dos anos 50, muitas mulheres grávidas tomavam uma droga que as ajudava a dormir: a talidomida. Mas desconheciam que a talidomida é um poderoso agente teratógeno que causa desenvolvimento pré-natal anormal. Os resultados foram mais de 7000 bebês prejudicados até que essa droga fosse retirada do mercado. 34 Depois do desastre da talidomida, os cientistas passaram a estudar os agentes teratógenos mais a fundo, e hoje já se tem conhecimento de várias drogas que podem prejudicar o desenvolvimento pré-natal. Algumas das principais são: o álcool, a nicotina, a maconha, a cocaína, a heroína entre muitas outras. O efeito dessas drogas varia de um caso ao outro. A síndrome fetal alcoólica é um exemplo de patologia gerada por um agente teratógeno, no caso em questão, o álcool. Também é comprovado que a nicotina diminui a oxigenação do feto e aumenta a probabilidade de complicações durante o parto. Após o nascimento, essas crianças geralmente nascem menores do que a média normal, e costumam apresentar problemas de atenção, linguagem e habilidades cognitivas. Os exemplos das complicações causadas pelas drogas durante a gravidez são muitos, já que cada organismo reage a essas de forma particular. Além disso, existe uma enorme variedade de drogas, que vão muito além das que foram citadas. Um dos fatores que determina a extensão dos danos causados por estes agente teratógenos é a quantidade e a frequência do consumo. Mas de forma generalizada, a regra pra gestantes é não consumir drogas, com a exceçãodas que forem receitadas pelos médicos. Os riscos ambientais que são classificados como fatores teratógenos, são, em grande parte, produtos químicos associados ao lixo industrial. Esse fator merece atenção, pois quantidades de substâncias tóxicas, que normalmente passam despercebidas para os adultos, podem causar sérios riscos ao desenvolvimento pré-natal. Alguns dos riscos ambientais classificados como agentes teratógenos são: chumbo, mercúrio eraio X. O chumbo pode causar retardo mental; o mercúrio, além do retardo mental, pode causar paralisia cerebral e atrasar o crescimento; e os raios X podem atrasar o crescimento, causar leucemia e retardo mental. Esses fatores são traiçoeiros, pois, na maior parte dos casos, as pessoas não sabem de sua presença no meio ambiente. No entanto, o que se sabe é que a maioria dos casos de contaminação ocorre pela ingestão de alimentos contaminados, pela inalação de ar contaminado e pela exposição à radiação. São exemplos: consumir peixes de um rio contaminado por mercúrio; ingerir alimentos cultivados em solo contaminado por chumbo; respirar em 35 locais com taxas elevadas de gases poluentes, como túneis congestionados de automóveis, ou arredores de fábricas; ficar perto de fontes de radiação de raios X; entre outros. É importante ressalvar que a presença, assim como a extensão dos danos causados por estes agentes são principalmente determinados pelo tempo e pela intensidade da exposição a estes. Sabendo dos meios mais frequentes de exposição a estes fatores teratógenos, aconselha-se às mulheres grávidas que evitem áreas onde o ar é poluído, se certifiquem de que os alimentos que estão ingerindo vêm de fontes seguras, e se estão limpos, além de se manterem longe de radiação. 2.3 Experiências Até o presente momento, essa Pesquisa dissertou sobre vários aspectos do desenvolvimento motor. Dentre esses aspectos, foi dada uma significativa atenção à necessidade de experiências e estímulos que instigassem o desenvolvimento motor das crianças, para que essas possam alcançar movimentos fundamentais maduros, conforme citado no capítulo precedente. Este tópico visa esclarecer o que seriam essas vivências e estímulos. O termo “experiências” é bastante abrangente, já que engloba praticamente todas as vivências do indivíduo. Porém, o estudo do desenvolvimento motor foca suas atenções para as experiências mais diretamente ligadas aos movimentos que produzem, de forma mais direta, mudanças no comportamento motor. No entanto, é importante lembrar o que foi citado no início do capítulo anterior, com base na obra de Payne e Isaac (2007), de que um ser humano deve ser observado através de uma perspectiva totalitária, já que todos os seus domínios (cognitivo, afetivo, psicomotor e físico) interagem entre si para produzir o comportamento do indivíduo. Isso significa que não são apenas as experiências relacionadas ao movimento e à motricidade que influenciam no desenvolvimento motor. Como as demais experiências capazes de influenciar no desenvolvimento motor não são o foco desta pesquisa, este trabalho irá ater-se às experiências relacionadas aos movimentos e à motricidade. Ao se considerar as experiências de um indivíduo como um fator que afeta o 36 desenvolvimento motor, pondera-se se as vivências pelas quais o mesmo passou continham, ou não, estímulos a esse desenvolvimento. Esses estímulos são muito importantes, pois proporcionam à criança o processo de aprendizagem. “Definimos a aprendizagem motora como mudanças nos processos internos que determinam a capacidade do indivíduo para produzir uma tarefa motora” (SCHMIDT e WRISBERG, 2001, p. 190). Essa é uma das definições de aprendizagem motora, oferecida por Schmidt e Wrisberg (2001), ambos avançam na elucidação deste tema, afirmando que em vários aspectos a aprendizagem humana parece ocorrer quase que continuamente, como se tudo o que os indivíduos fazem no presente gerasse conhecimentos ou capacidades que afetarão o modo como eles se desenvolverão no futuro. A figura abaixo ilustra o que vem sendo explicado no decorrer desse tópico, mas é importante representado nessa ilustração não é obrigatório. Figura 4: Experiências Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. ressalvar que o processo 37 Após observar a imagem e as citações anteriores, é possível perceber o quão íntima é a relação entre aprendizagem e desenvolvimento motor. Da mesma forma, pode-se notar que a aprendizagem não ocorre apenas em ambientes controlados e na presença de um professor, ou instrutor. Schmidt e Wrisberg (2001) afirmam que o maior fator que parece ser consistentemente relacionado ao nível de habilidade é aquele que vem como resultado direto da experiência de aprendizagem. Entende-se que a principal função de proporcionar estímulos motores às crianças é impulsioná-las a um processo de aprendizagem motora, para que se excite seu desenvolvimento motor. Um dos papéis mais importantes da atuação dos profissionais de Educação Física na infância é proporcionar às crianças experiências estimulantes ao desenvolvimento motor. Crianças que não vivenciam atividades estimulantes ao desenvolvimento motor, muitas vezes não passam do estágio elementar da fase de movimentos fundamentais, como visto anteriormente. Sendo assim, a importância de um profissional da Educação Física, que proporcione às crianças estímulos adequados, fica bastante clara, pois nos tempos atuais boa parte da cultura das brincadeiras de rua, tais como: piqueesconde, pega-pega, amarelinha, escalar árvores e pular muros, não são mais praticadas, fazendo com que muitas crianças tenham vidas sedentárias e pouco estimulantes. Dessa forma, o trabalho de um profissional da Educação Física acaba sendo, para muitas crianças, um dos poucos meios pelos quais essas são estimuladas. 2.4 Habilidades motoras fundamentais através da perspectiva de Gallahue e Ozmun Como o foco desta pesquisa são as HMF, torna-se muito importante esclarecer com mais detalhes este assunto. Como a análise do estudo de caso será realizada através da obra de Gallahue e Ozmun (2003), é muito importante elucidar a compreensão desses autores acerca das HMF. Sendo assim, todo esse tópico é fundamentado na obra de Gallahue e Ozmun (2003), principalmente em seu 11° capítulo que leva o título de “Habilidades Motoras 38 Fundamentais” e no 16° capítulo com o titulo “Habilidades Motoras Especializadas”. “O domínio das habilidades motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento motor de crianças” (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 258). Uma das primeiras considerações a se fazer sobre as HMF é que essas são consequências da fase de movimentos rudimentares do período neonatal. Os padrões motores fundamentais formam uma das primeiras fases do contínuo processo de aquisição e desenvolvimento das habilidades motoras. O desenvolvimento de um padrão motor não está especificamente ligado ao ganho de um alto grau de habilidade em poucas situações motoras, e sim ao desenvolvimento de níveis aceitáveis de eficiência e habilidade para variadas situações motoras. Os primeiros anos de desenvolvimento motriz de uma criança promovem a base sob a qual serão alicerçadas as habilidades mais especializadas e complexas usadas em jogos recreativos, esportivos e onde mais forem requeridas. A fase dos movimentos fundamentais é a terceira fase do desenvolvimento motor, e ocorre entre 2 e 6 anos de idade. Uma das principais formas de aprendizagem e desenvolvimento de crianças em idade escolar e pré-escolar é através da execução de experiências motoras. Os movimentos, de maneira geral, atuam com impacto sobre o crescimento e a maturação, e são cruciais para o desenvolvimentodo indivíduo. Sendo assim, ao longo da vida, o ser humano, continuamente, “aprende a se mover” e “se move para aprender”. Movimentos fundamentais são agrupados em três categorias: movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos. É normal que os movimentos realizados pelas crianças envolvam aspectos das 3 categorias, sendo assim, deve-se considerar que a interação entre essas é muito comum. Os movimentos estabilizadores são aqueles no qual algum grau de equilíbrio seja necessário. Movimentos estabilizadores referem-se a qualquer movimento que tenha o objetivo de obter e manter o equilíbrio em relação à força da gravidade. Dessa forma, a função da estabilidade é manter o equilíbrio na relação do indivíduo versus a força da gravidade. Por isso, todas as atividades locomotoras e manipulativas são, em partes, movimentos 39 estabilizadores. Sendo assim, considera-se a estabilidade como o aspecto mais fundamental do aprendizado de movimentar-se. Os movimentos locomotores são aqueles que envolvem mudança na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície. Entre os padrões locomotores estão: caminhar, correr, galopar, corrida lateral, saltar de uma superfície mais alta, salto vertical, salto horizontal, saltar com apenas um dos pés e saltitar. Movimentos manipulativos envolvem o relacionamento de um indivíduo com objetos. A manipulação motora engloba a aplicação de força ou a recepção de força de objetos. Essa manipulação pode englobar a coordenação motora rudimentar ou refinada. Coordenação motora rudimentar envolve o recrutamento de grandes grupos musculares, e a coordenação motora refinada está mais relacionada com a utilização de grupos musculares menores e mais específicos, como é o caso dos extensores e flexores dos dedos e do pulso. Movimentos como arremessar, chutar e interceptar, são exemplos de movimentos manipulativos que utilizam a coordenação motora rudimentar. As ações de escrever, digitar e dobrar papel, são exemplos de movimentos manipulativos que utilizam a coordenação motora refinada. Todos os tipos de movimentos se enquadram nas configurações de coordenação motora rudimentar, refinada ou em um conjunto das duas, porém, nos movimentos manipulativos essa diferenciação é mais evidente. Certos movimentos locomotores como: correr, pular e saltar, ou manipulativos como: arremessar, apanhar e chutar, são exemplos de HMF dominadas pela criança inicialmente e separadamente. Esses movimentos combinam-se e aperfeiçoam-se, gradualmente, por meio de uma série de formas, avançando para fases posteriores do desenvolvimento motor, e podendo ser transformados em habilidades esportivas. Muitas habilidades utilizadas em esportes são versões avançadas das HMF. A fase de movimentos fundamentais pode ser dividida em sua sequência de progressão ao longo dos 3 estágios: inicial, elementar e maduro, nas quais as crianças, normalmente, desenvolvem essas habilidades de maneira sequencial. O que irá variar entre essas crianças será o ritmo, e esse dependerá tanto de fatores ambientais, quanto hereditários. Esses 3 estágios foram descritos no capítulo anterior, sendo assim, neste tópico eles não serão 40 abordados novamente, mas no capítulo seguinte serão descritas as diferenças entre os estágios inicial, elementar e maduro na habilidade motora da corrida. O fato de uma criança atingir ou não o estágio maduro, está intimamente ligado à existência do ensino e das oportunidades de prática. A aquisição de HMF não é dependente da idade, embora exista uma relação com a mesma. A fase de desenvolvimento motor fundamental é significativamente influenciada pelas condições ambientais, pelo indivíduo e pela tarefa que o mesmo executa. Consequentemente, é importante que todas as crianças em idade escolar e pré-escolar tenham acesso a um programa de movimentos efetivos e bem planejados, garantindo que seu desenvolvimento motor seja facilitado nos anos posteriores. Para aprofundar a compreensão sobre a importância das HMF, será apresentado a seguir um apanhado de citações da obra de Gallahue e Ozmun (2003) a fim de expor de forma direta, o quão significativa é a fase do desenvolvimento. Quadro 1: Corrida Fonte: (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 261). 41 O fracasso em desenvolver formas maduras de movimentos fundamentais tem consequências diretas na habilidade de um indivíduo em desenvolver habilidades específicas de tarefas na fase motora especializada. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 432). O quadro 1 faz uma relação entre a idade cronológica da criança e o progresso no desenvolvimento da habilidade de correr. É apontado em destaque que o padrão maduro da habilidade de correr deve ser atingido aos 5 anos de idade. Esse fator foi mais evidenciado no quadro 1, pois é essa a habilidade que será estudada nesta pesquisa. Como as crianças analisadas neste estudo têm entre 6 e 7 anos, fica claro que aquelas que apresentarem padrões motores inferiores ao maduro não se desenvolveram da forma como a literatura científica prevê. Isso pode evidenciar uma variedade de problemas, mas este assunto será melhor tratado no próximo capítulo. Quanto à citação que sucede o quadro 1, Gallahue e Ozmun (2003) justificam-na com o fato de que as habilidades motoras especializadas são padrões motores fundamentais maduros, que foram refinados e combinados para construir as habilidades esportivas específicas e habilidades motoras complexas. Figura 5: Habilidades esportivas Fonte: GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 433. 42 Os autores afirmam ainda que a maioria das crianças tem potencial, aos 6 anos de idade, para realizar bons desempenhos no estágio maduro de grande parte dos padrões motores fundamentais, e para começar a transição à fase motora especializada. “Crianças mais velhas, adolescentes e adultos devem ser capazes de desenvolver formas maduras de movimentos fundamentais” (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 433). Após observar atentamente o quadro 1, a figura 5 e as palavras dos autores, fica evidente a relação de dependência da fase de movimentos especializados para com um estágio maduro nas HMF. Essa dependência é justificada pelos autores quando esses afirmam que o desenvolvimento motor fundamental é pré-requisito para a incorporação bem-sucedida de habilidades motoras especializadas. Complementam ainda, afirmando que o progresso, através dos estágios da fase de habilidades motoras especializadas, é dependente da fundamentação dos padrões motores estabelecidos durante a fase motora fundamental. Com a observação de todos esses conceitos acerca das HMF, compreende-se sua importância e a necessidade de que a fase em que as mesmas se desenvolvem receba a atenção necessária. As HMF servem de base para as habilidades esportivas e para muitos tipos de movimentos específicos que o indivíduo necessita executar. A dificuldade em aprender e executar tarefas específicas pode acarretar dificuldades, ou até mesmo limitações para a vida adulta. No que diz respeito à corrida, os autores têm uma afirmação bastante direta referente a essa: “O padrão amadurecido de corrida é fundamental para a participação bemsucedida em muitas atividades relacionadas aos esportes”. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 282). 43 CAPITULO III A PESQUISA 3 INTRODUÇÃO Foram realizadas no dia 01 de outubro de 2013 todas as filmagens que são os objetos de análise desta obra. O estudo destas imagens realizou-se com o intuito de responder a pergunta problema desta pesquisa: apenas as aulas de Educação Física escolar são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada? Confirmando ou rejeitando a hipótese de que: devido ao maior sedentarismo dos tempos cotidianos, a atual carga horária das aulas de educação física escolar não é suficiente para proporcionar às crianças os estímulos que essas necessitam para se desenvolverem de forma adequada. Para a realização desta pesquisa, utilizou-se o Método de Estudo de Caso, cujo roteiro é apresentado no anexo A. Através deste foi verificado o nível de execução da habilidade motora fundamental da corrida de 20 alunos pertencentes ao 1º ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental da EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz". Para tanto, foi utilizado o protocolo de Mc Clenaghan e Gallahue (1985). 3.1 A EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" A EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" é uma escola de Educação Infantil, da Rede Municipal de Educação de Lins, localizada no Residencial Morumbi, Rua Antônio Fernandes Ibanes, N° 535. A escola tem turmas que vão desde o Ensino Infantil até o 1° ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Apesar de possuir uma boa estrutura de salas de aula, refeitório, banheiros, pátio, playground e equipamentos multimídia, a escola ainda carece de uma quadra poliesportiva. Tal estrutura seria muito benéfica para os alunos. A EMEI conta ainda com um amplo espaço gramado, onde foram realizadas as filmagens. Este estudo foi viabilizado por meio das autorizações da Secretária Municipal de Educação: Denise Jorge Magnoler, da Diretora da EMEI: Karina 44 de Fátima Gomes e dos pais dos alunos participantes, já que sem a autorização de qualquer uma das 3 partes não seria possível realizar esta pesquisa. 3.2 Protocolo Para analisar o nível da habilidade motora da corrida desempenhada pelas crianças, foram realizadas filmagens individuais. Cada uma das crianças foi filmada durante a execução desta habilidade. As imagens foram capturadas por 2 câmeras Cannon modelo EOS REBEL T4I com lentes de 24 e 35 mm, que filmavam simultaneamente nas perspectivas lateral e frontal. A distância percorrida durante a filmagem foi de 15 metros. Para sinalizar para as crianças o espaço onde deveriam correr, assim como a distância que deveriam percorrer, foi utilizada uma fita adesiva de 5cm de largura para formar um corredor de 2,5m de largura e 15m de comprimento. Para facilitar a visualização do início e do fim deste corredor, em cada uma de suas extremidades foi fincada uma estaca de aproximadamente 1m de altura. Para sinalizar as crianças onde elas deveriam ficar, foi colocado um bambolê pouco antes do início do corredor. As câmeras estavam apoiadas em tripés regulados com 1,20m de altura, a câmera lateral estava posicionada a 10m do corredor e a câmera frontal estava a 2,5m do final do corredor. Toda a estrutura é exemplificada na imagem apresentada a seguir: Figura 6: Estrutura da filmagem Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. 45 As crianças receberam a simples orientação de correr em linha reta entre as demarcações realizada no solo, e de que parassem ao se aproximar da câmera frontal. Foram gravados 3 takes com todos os indivíduos, sendo que para a análise, foram utilizados os takes onde as crianças apresentaram seu melhor desempenho. As filmagens foram editadas de forma que viabilizasse a análise, unindo em um único vídeo as imagens das duas câmeras e a classificação do indivíduo. Foi feito um vídeo para cada indivíduo, onde as imagens são reproduzidas uma vez em velocidade normal e uma vez em slowmotion. Após a autorização da Secretária Municipal de Educação e da Diretora da escola, foi enviado aos pais, de todos os 50 alunos dos dois períodos (manhã e tarde) do 1° ano do Ensino Fundamental, um pedido de autorização para a participação de seus filhos em nosso estudo. Foram obtidas 31 respostas aos pedidos, 30 autorizações e 1 negação. No dia da realização das filmagens, 6 crianças faltaram, restando apenas 24. Todas as 24 participaram dos testes, no entanto 4 filmagens apresentaram problemas técnicos, restando apenas 20 filmagens utilizáveis. Participaram das filmagens crianças de ambos os gêneros, todos com idades entre 6 e 7 anos, estudantes dos dois períodos (manhã e tarde). Todos os alunos autorizados a participar do estudo, e presentes no dia da filmagem, foram questionados verbalmente se tinham em sua rotina alguma atividade física orientada por um profissional, fora do contexto escolar. Dentre esses, 14 responderam que sim. Entre as atividades descritas por essas crianças estavam: futebol, futsal, balé, natação, ginástica artística e ginástica rítmica. Essas 14 crianças foram unidas em um grupo que foi classificado como “grupo praticante”, no entanto, problemas técnicos descartaram 4 vídeos deste grupo, restando apenas 10 utilizáveis. As 10 crianças restantes deram respostas negativas ao questionamento e formaram um grupo que foi classificado como “grupo não praticante”. Um fato notável foi o de que dos integrantes do “grupo praticante” apenas 1 é estudante do período da tarde, e no “grupo não praticante” havia apena 1 aluno do período da manhã. Nas imagens, assim como nas tabelas, a sigla “P” indica que a criança é do “grupo praticante”, e a sigla “NP” indica que 46 a criança é do “grupo não praticante”. O número junto à sigla identifica o indivíduo dentro do grupo. 3.3 Análise A análise das filmagens foi realiza segundo as orientações apresentadas por Mc Clenaghan e Gallahue (1985). Essas consistem em um sistema prático e confiável, e são aplicadas para classificar os indivíduos nos estágios inicial, elementar, maduro e de habilidade esportiva. Para desenvolver esta técnica, os autores Mc Clenaghan e Gallahue (1985) utilizaram uma variedade de experiências motoras desenvolvimentistas apropriadas para cada estágio das habilidades motoras fundamentais. Gallahue e Ozmun (2003) realizaram uma revisão nesse método, e em sua obra apresentam uma listagem das formas específicas dos movimentos da corrida nos 3 estágios de desenvolvimento: inicial, elementar e maduro. Essa listagem, assim como a figura ilustrativa que a exemplifica, foram utilizadas na análise das filmagens deste trabalho. Ambas são apresentadas respectivamente no Quadro 2 e na Figura 7. Quadro 2: Objetos de análise Fonte: (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 283). 47 Para aplicação deste método de análise, o profissional deve observar a tarefa utilizando inicialmente a abordagem de avaliação corporal total. Pois essa fornece a ideia do estágio em que o indivíduo está desempenhando determinada habilidade motora. Posteriormente, deverá realizar uma avaliação segmentária, que analisa o movimento em 3 seguimentos: membros superiores (MS), membros inferiores (MI) e cabeça e tronco (CT). Essa forma de análise classifica o estágio de desenvolvimento de cada um dos seguimentos corporais em Inicial, Elementar ou Maduro, podendo determinar qual o seguimento corporal em que o indivíduo apresenta maior dificuldade, caso exista algum atraso. Figura 7: A corrida Fonte: (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 284). As avaliações foram expressas em tabelas classificatórias qualitativas que enquadram os 3 segmentos corporais MS, MI e CT, dentro das 48 classificações oferecidas por Mc Clenaghan e Gallahue (1985): Inicial (I), Elementar (E) e Maduro (M). Nestas tabelas, as classificações gerais dos indivíduos foram determinadas pela menor classificação obtida na análise dos 3 segmentos MS, MI e CT. Posteriormente, foi realizada a análise estatística para proporcionar um estudo claro e objetivo dos resultados. Analisando os valores da pesquisa de forma geral, assim como os resultados obtidos dentro dos grupos e a comparação entre eles. 3.4 Resultados A tabela 1 apresenta o nível do padrão motor da habilidade de correr do grupo participante, em que 2 alunos encontram-se no nível Inicial, 4 no nível Elementar e 4 no nível Maduro. Tabela 1: Classificação do grupo praticante M.S M.I C.T GERAL P1 E M M E P2 I E E I P3 E M M E P4 M M M M P5 E M M E P6 M M M M P7 I E M I P8 M M M M P9 E M M E P10 M M M M Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. Como representado na Tabela 1 (ANEXO C), 40% do grupo praticante indica estágio Maduro da habilidade motora fundamental da corrida, enquanto 20% mostram estágio Inicial e 40% estão no estágio Elementar. A tabela 2 apresenta o nível do padrão motor da habilidade de correr do grupo não praticante, em que 2 alunos encontram-se no nível Inicial, 7 no nível Elementar e 1 no nível Maduro. 49 Tabela 2: Classificação do grupo não praticante M.S M.I C.T GERAL NP1 M M E E NP2 I M E I NP3 E M M E NP4 E M M E NP5 E M M E NP6 E M M E NP7 E M M E NP8 E I M I NP9 E M M E NP10 M M M M Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. Conforme elucidado na Tabela 2 (ANEXO D), 10% do grupo não praticante apresenta estágio Maduro da habilidade motora fundamental da corrida, enquanto 70% apresentam estágio Elementar e 20% apresentam estágio Inicial. Comparando os 2 grupos, nota-se que enquanto 40% do grupo praticante atingiu o estágio maduro, apenas 10% do grupo não praticante atingiu este estágio, gerando uma diferença percentual de 30% a mais para o grupo praticante. No grupo não praticante, 70% dos indivíduos está no estágio elementar, enquanto que no grupo praticante 40% dos indivíduos se encontra neste estágio, provocando uma diferença de 30% a mais para o grupo não praticante. Já o estágio inicial atingiu 20% em ambos os grupos. Conforme representado na Tabela 3. Tabela 3: Diferença entre os grupos INICIAL ELEMENTAR MADURO Grupo Praticante 20% 40% 40% Grupo não praticante 20% 70% 10% Diferença entre os grupos 0% 30% 30% Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. De acordo com os referenciais teóricos apresentados neste trabalho, 50 crianças com idades entre 6 e 7 anos já deveriam estar com a habilidade motora fundamental da corrida no estágio maduro. No entanto, os resultados apontam que apenas 25% de todas as 20 crianças analisadas estão no estágio maduro, enquanto 55% estão no estágio elementar e 20% no estágio inicial, conforme indicado na Tabela 4 (ANEXO F). Tabela 4: Classificação Geral INICIAL ELEMENTAR MADURO 20% 55% 25% Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. De todos os indivíduos classificados no estágio maduro, 80% estão no grupo praticante e apenas 20% no grupo não praticante. Aproximadamente 36,36% dos indivíduos qualificados no estágio elementar pertencem ao grupo praticante, enquanto que aproximadamente 63,63% estão no grupo não praticante. Dos indivíduos classificados no estágio inicial, 50% pertencem ao grupo praticante e 50% ao grupo não praticante, conforme exemplificado na Tabela 5. Tabela 5: Distribuição do nível da habilidade analisada entre os grupos INICIAL ELEMENTAR MADURO Grupo praticante 50% 36,36% 80% Grupo não praticante 50% 63,63% 20% Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. 3.5 Discussão O resultado obtido mostra que a maioria dos indivíduos analisados não está com a habilidade motora fundamental da corrida no estágio maduro, o que de acordo com Gallahue e Ozmun (2003) deveria acontecer nesta faixa etária. No entanto, aponta uma diferença benéfica significativa para os indivíduos que praticam atividades físicas orientadas fora do contexto escolar. Isso revela que 51 o déficit no desenvolvimento motor das crianças que apresentaram atraso na habilidade analisada deriva primordialmente da falta de estímulos adequados. Este é um fato a ser observado, pois conforme afirma Payne e Isaac (2007), esse é um período onde ocorre a transição do estágio maduro da fase de movimentos fundamentais, para a fase de movimentos especializados. É um momento de transição, no qual se espera que as crianças com essa idade estejam começando a utilizar os movimentos fundamentais de formas combinadas para possíveis atuações esportivas ou recreativas. Schmidt e Wrisberg (2001) afirmam que o maior fator que parece ser consistentemente relacionado ao nível de habilidade é aquele que vem como resultado direto da experiência de aprendizagem. Portanto, entende-se que a principal função de proporcionar estímulos motores às crianças é impulsionálas a um processo de aprendizagem motora, para exercitar seu desenvolvimento motor. Gallahue e Ozmun (2003) afirmam que a maioria das crianças, aos 6 anos de idade, tem potencial para realizar bons desempenhos no estágio maduro de grande parte dos padrões motores fundamentais, e para começar a transição à fase motora especializada. Os resultados apontaram para uma realidade diferente na amostra analisada, o que leva a questionar como as crianças que não atingiram o padrão maduro desenvolverão suas habilidades especializadas. É preocupante constatar que 75% das crianças analisadas não estão no estágio maduro da habilidade da corrida, pois esta é uma das habilidades motoras fundamentais mais utilizada nos esportes e em variadas atividades. Isso remete ao aumento do sedentarismo dos tempos atuais e os hábitos sedentários afetam negativamente o desenvolvimento motor infantil. Esse fato é evidenciado por Schmidt e Wrisberg (2001), quando afirmam que vários aspectos da aprendizagem humana parecem ocorrer quase continuamente, como se tudo o que os indivíduos fazem no presente gerasse conhecimentos ou capacidades que afetarão o modo como se desenvolverão futuramente. Com o aumento do sedentarismo, cada vez mais as aulas de Educação Física escolar se tornam a principal fonte de estímulos para muitas crianças. Fazendo com que em muitos casos as atividades físicas extracurriculares sejam o meio mais viável para proporcionar as mesmas estímulos motores em quantidade e forma adequada. No entanto, para as crianças cujo a prática de 52 atividades extracurriculares é inviável, os estímulos ao seu desenvolvimento motor ficam a cargo do professor de Educação Física. Mas, para tanto, é preciso que este tenha o tempo e as condições adequadas para proporcionar estímulos suficientes para promover de forma satisfatória ao menos as habilidades motoras fundamentais. 3.6 Parecer Final É importante esclarecer que os resultados obtidos não devem ser atribuídos exclusivamente ao fato das crianças praticarem, ou não, atividades físicas extracurriculares. Todas as pessoas possuem individualidades biológicas e psicológicas, o que causa diferenças no desenvolvimento motor de criança para criança. Apesar das particularidades de cada criança ser um fator importante na determinação de suas habilidades motoras, a ampla diferença entre os grupos evidencia que os resultados obtidos foram gerados por fatores que vão além das peculiaridades biológicas e psicológicas de um indivíduo. Pois a pesquisa revela que 90% dos alunos, que não praticavam atividades físicas orientadas fora do contexto escolar, não alcançaram o padrão maduro na habilidade da corrida. Enquanto que, entre os alunos que praticavam atividades físicas extracurriculares, houve 30% a mais de indivíduos que alcançaram o estágio maduro na habilidade analisada. 53 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Os resultados desta pesquisa evidenciam que apenas as aulas de Educação Física oferecidas pela escola não são suficientes para proporcionar aos alunos do 1° ano do Ensino Fundamental o padrão motor maduro em uma habilidade motora fundamental, como a corrida. Por esse motivo, esta pesquisa propõe que seja feita uma reavaliação na carga horária e na forma de aplicação das aulas de Educação Física, baseando-se nos resultados de avaliações motoras. Principalmente para os alunos do 1° ano do Ensino Fundamental do período da tarde, pois foi dentre esses alunos que estavam 9 dos 10 integrantes do grupo não praticante. Dessa forma, os dirigentes da escola poderão repensar, com bases concretas, uma maneira mais eficiente de atender as necessidades de estímulos motores dos seus alunos, visando não apenas o 1°ano do Ensino Fundamental, mas também todas as etapas precedentes e posteriores. 54 CONCLUSÃO Conclui-se, ao fim desta pesquisa, que a hipótese de que a atual carga horária das aulas de educação física escolar não é suficiente para proporcionar às crianças os estímulos que essas necessitam para se desenvolverem de forma adequada, está correta. E que esta obra é um precedente motivador para futuros estudos sobre este tema, visto que o cenário encontrado na EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" pode estar se repetindo em muitas escolas pelo Brasil. Os resultados obtidos são muito sérios, pois o atraso em uma habilidade motora fundamental, como a corrida, acarreta ao indivíduo dificuldades e complicações na aprendizagem de muitas habilidades motoras especializadas. A problemática causada por esse déficit no desenvolvimento motor, muitas vezes, desmotiva a criança a praticar esportes e a participar de atividades recreativas, inibindo ainda mais seu desenvolvimento. Outro fato que fica claro nos resultados é o de que as atividades físicas extracurriculares orientadas por um profissional ajudam no desenvolvimento motor das crianças, contribuindo de forma muito positiva em sua formação. 55 REFERÊNCIAS GALLHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: Bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. São Paulo: Phorte, 2003. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004. KAIL, R. V. A criança. São Paulo: Prentice Hall, 2004. MC CLENAGHAN, B. A.; GALLAHUE, D. L. Movimientos fundamentales: su desarrollo y rehabilitación. Buenos Aires: Panamericana, 1985. PAYNE, V. D., ISAACS, L. D. Desenvolvimento motor humano: uma abordagem vitalícia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2007. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1967. p. 146. SCHMIDT, R. A., WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed, 2001. TANI, G. Desenvolvimento motor: aprendizagem e desenvolvimento, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 56 APÊNDICES 57 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ESTUDO DE CASO 1 INTRODUÇÂO Foi realizado um estudo de caso com dois grupos de alunos do 1º ano do ensino fundamental da EMEI Profª Alda Therezinha Perches Queiroz para verificar se apenas as aulas de Educação Física no contexto formal (escolar) são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada. 1.1 Relato do trabalho realizado referente ao assunto estudado O estudo será complementado pela análise do padrão motor da habilidade motora fundamental de correr segundo referenciais propostos por Mc Clenaghan e Gallahue (1985). 1.2 Discussão Confronto entre a teoria (referencial teórico dos primeiros capítulos) e a pratica aplicada para se obter os resultados propostos. 1.3 Parecer final sobre o caso e as sugestões sobre a manutenção ou as modificações de procedimentos. 58 ANEXOS 59 ANEXO A - REQUERIMENTO DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE UM ESTUDO DE CASO NA EMEI "PROFª ALDA THEREZINHA PERCHES QUEIROZ" Venho através deste, requerer a Secretaria Municipal de Educação de Lins a autorização para realizarmos na EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" um estudo de caso para a pesquisa descritiva desenvolvida pelos alunos: André Luiz Moinhos Muniz e Diego Gallo da Silva sob a orientação da Profª. Ma. Maria de Fátima Paschoal Soler elaborada como Trabalho de Conclusão de Curdo da Graduação de Bacharelado em Educação Física do UNISALESIANO de Lins. “O estudo em questão se assim nos for permitido terá o titulo de: O padrão da corrida em escolares de 6 a 7 anos EMEI Profª Alda Therezinha Perches Queiroz” Este estudo tem o objetivo de analisar se apenas as aulas de Educação Física no contexto escolar são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada. Deseja-se cumprir os objetivos realizando um único teste bastante simples que consiste apenas filmar individualmente cada uma das crianças durante o ato da corrida para que possamos analisar seus movimentos e assim determinar o nível desta habilidade motora. Devemos esclarecer que todas as crianças que participarem de nosso estudo terão suas IDENTIDADES PRESERVADAS, e que em qualquer foto ou vídeo anexado ao nosso trabalho será impossível o reconhecimento de qualquer um dos participantes. Caso nos seja permitido a realização deste estudo estimamos que cada uma das filmagens não deverá durar mais do que 10 minutos, e como elas serão realizadas individualmente nem um dos participantes permanecerá mais do que 10 minutos fora de sua rotina escolar normal. _____________________________ Maria de Fatima Paschoal Soler Profª Orientadora Ilma Sra. Karina de Fátima Gomes Diretora da EMEI Profª" Alda Therezinha Perches Queiroz 60 ANEXO B – TERMO DE CONHECIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS PAIS. Viemos através deste, requerer aos senhores Pais ou Responsáveis a autorização para que seu(a) filho(a) ou tutelado(a) participe de nosso estudo de caso realizado na EMEI "Profª Alda Therezinha Perches Queiroz" para a pesquisa descritiva desenvolvida pelos alunos: André Luiz Moinhos Muniz e Diego Gallo da Silva sob a orientação da Profª Ma. Maria de Fátima Paschoal Soler elaborada como Trabalho de Conclusão de Curdo da Graduação de Bacharelado em Educação Física do UNISALESIANO de Lins. O estudo em questão terá o titulo de: “O padrão da corrida em escolares de 6 a 7 anos EMEI “Profª” Alda Therezinha Perches Queiroz”. Nosso estudo tem o objetivo de analisar se apenas as aulas de Educação Física no contexto escolar são suficientes para estimular o desenvolvimento motor das crianças de forma adequada. Desejamos cumprir nosso objetivo realizado um único teste bastante simples que consiste apenas filmar individualmente cada uma das crianças durante o ato da corrida para que possamos analisar seus movimentos e assim determinar o nível desta habilidade motora. Esclarecemos que TODAS AS CRIANÇAS que participarem de nosso estudo terão suas IDENTIDADES PRESERVADAS, e que em qualquer foto ou vídeo anexado ao nosso trabalho será impossível o reconhecimento de qualquer um dos participantes. Estimamos que cada uma das filmagens não deverá durar mais do que dez minutos, e como elas serão realizadas na própria escola e sob a supervisão da coordenadora nem um dos participantes permanecerá mais do que dez minutos fora de sua rotina escolar normal.Nosso estudo conta com a permissão da Secretária de Educação de Lins assim como o da diretoria da escola. Como já foi esclarecido o teste realizado com os participantes é completamente seguro e não irá afetar sua rotina escolar.Sua permissão é muito importante para nós pois sem ela nosso estudo será significativamente afetado. 61 AUTORIZAÇÃO Eu_____________________________________________________________ ________________________________________RG: ___________________ Responsável por: ________________________________________________ _______________________________________________________________ Declaro ter sido informado (a) e concordo em autorizar meu(a) filho(a) a participar do Estudo de caso intitulado: O PADRÃO DA CORRIDA EM ESCOLARES DE 6 A 7 ANOS EMEI "Profª" Alda Therezinha Perches Queiroz". Desenvolvido pelos alunos: André Luiz Moinhos Muniz e Diego Gallo da Silva sob a orientação da Profª. Ma. Maria de Fátima Paschoal Soler elaborado como Trabalho de Conclusão de Curdo da Graduação de Bacharelado em Educação Física do UNISALESIANO de Lins. . ASS:___________________________________________________________ Lins, ____/____/2013 62 ANEXO C – PORCENTAGEM DE ALUNOS PRATICANTES EM RELAÇÃO AO NÍVEL DE PADRÃO MOTOR DA HABILIDADE DE CORRER Figura 8: Gráfico do grupo praticante 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Inicial Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. Elementar Maduro 63 ANEXO D – PORCENTAGEM DE ALUNOS NÂO PRATICANTES EM RELAÇÃO AO NÍVEL DE PADRÃO MOTOR DA HABILIDADE DE CORRER Figura 9: Gráfico do grupo não praticante 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Inicial Elementar Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. Maduro 64 ANEXO F – CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AO NÍVEL DE PADRÃO MOTOR DA HABILIDADE DE CORRER Figura 10: Gráfico de classificação geral 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Inicial Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013. Elementar Maduro 65 ANEXO G – DVD COM AS FILMAGENS Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2013.