4 Oportunidades
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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 1 DE MARÇO DE 2015
Reportagem de capa
FELIPE RAU/ESTADÃO
Evolução.
Bianca (à
esq.) entrou
na Luz no
nível júnior e
virou sócia
de Queiroz e
Lisiane dois
anos depois
Associar
funcionários
fortalece
os negócios
Fórmula funciona tanto para reter talentos
quanto para ampliar perspectivas da empresa
Cris Olivette
Tornar colaboradores que têm
desempenho destacado em sócios da empresa é uma fórmula
queresultanaretençãodetalentos e no fortalecimento de pequenas e médias empresas.
Com 54 funcionários e 17 sócios, a Luz Soluções Financeiras nasceu em 1999, já com o
propósito de adotar esse sistema, que nos Estados Unidos é
chamado partnership.
“É uma forma de motivar a
equipe e fazer o colaborador
participar das decisões da empresa”, afirma o CEO, Edivar
Queiroz. A sócia e gerente de
RH da Luz, Lisiane Luchesi,
acrescenta que é uma maneira
de diferenciar o negócio. “Desejamos atrair pessoas que
queiram contribuir, fazer diferença. É uma estratégia de atração e retenção.”
Segundo ela, para virar sócio, o funcionário deve ocupar
cargo de nível sênior ou de
coordenação. “Também precisa atuar em uma área estratégi● Indispensáveis
“Eram funcionários
muito comprometidos
e que estavam se
tornando pessoas-chave
na operação”
Rafael Rojas
FUNDADOR DA TARGET
ca para o negócio e ter histórico de entrega de resultados.”
O CEO ressalta o rigor do
processo. “A pessoa deve manifestar interesse para o seu gestor, que fará a proposta a um
comitê executivo. Se aprovada, passa por entrevista com o
RH e com o conselho executivo, que dá a resposta final.”
Um exemplo é Bianca Ortelã, que entrou no nível júnior,
em 2009, e se tornou sócia em
2011. “Ela teve papel importante na área de pesquisa e desenvolvimento, a principal da empresa. Recentemente, assumiu
a gerência de projetos. Antes,
porém, passou seis meses sendo acompanhada por um sócio
sênior”, diz Queiroz. “Neste
processo, ela já teve direito a
adquirir mais cotas, ampliando a participação societária.”
Entre os benefícios, os sócios, podem ser reavaliados e
receber sinal verde para adquirir mais cotas, além de ter participação nos resultados financeiros da companhia proporcionalmente a suas cotas.
Há 13 anos, a Emdoc, empresa que cuida dos trâmites de
imigração para o Brasil e de
transferência de brasileiros para o exterior, fez a primeira
oferta societária a um funcionário. “A iniciativa tinha dois
objetivos: reter talentos e dar
melhor perspectiva à carreira
deles”, conta o fundador, João
Marques da Fonseca Neto.
Ele diz que a decisão foi tomada após estudo para identificar a melhor maneira de envolver os funcionários nos negócios. “Concluí que fazer o pro-
SERGIO CASTRO/ESTADÃO
Renovar. Rojas (centro) com Diz, Miquelino e Coimbra
fissional se sentir um dos donos da empresa era a melhor
solução.” Hoje, com 200 funcionários, a empresa tem 18 sócios, mas o plano de expansão
prevê até 50. “Neste ano, devemos ganhar mais dois”, afirma.
Neto diz que ter mais de um
ano de casa, curso superior e
um segundo idioma são regras
básicas. “Também avaliamos o
comportamento no dia a dia,
como o candidato a sócio assume as responsabilidades e o
seu espírito de renúncia em
prol da equipe.” Depois de
aprovado, conta com o apoio
de mentores e coach.
Ele afirma que o profissional
começa como sócio júnior.
“Com o tempo, eles vão liderando times e projetos maiores e automaticamente ocupam o cargo de diretor, e depois o de sócio pleno. Conforme crescem na carreira, sobe o
valor do bônus e seu reconheci-
mento profissional”, conta.
Fundada em 1995, a Target
atua nos setores de logística e
de distribuição e implantou o
programa partnership em
2007, quando tinha 60 funcionários e fazia a transição de pequena para média empresa. De
início, seis profissionais se tornaram sócios. Hoje, com 150
colaboradores, eles são oito.
“Optamos pelo programa
porque a empresa estava crescendo, tínhamos funcionários
extremamente comprometidos, que estavam se tornando
pessoas chaves na operação”,
afirma um dos três fundadores, Rafael Rojas.
Segundo ele, era preciso
apresentar um plano de carreira diferenciado, para que os
funcionários enxergassem
uma perspectiva interessante. “Ao mesmo tempo, queríamos incorporá-los às discussões envolvendo as dire-
trizes da empresa.”
Além imprimir fôlego ao negócio, os novos sócios passaram a fazer a ponte entre a direção e a equipe. “Eles já tinham bom trânsito e penetração com o pessoal. Essa linha
de comunicação foi muito importante”, afirma.
Antes de adotar o sistema,
porém, os fundadores pesquisaram os trâmites jurídicos, estudaram casos de outras empresas que haviam adotado esta política, e construíram um
modelo próprio. “Fizemos
uma apresentação para explicar tudo o que isso representava e quais seriam as novas responsabilidades de cada um.
Deixamos claro que não importava o porcentual da sociedade, porque a partir daquele momento eles deveriam olhar a
empresa como sendo deles.”
Rojas afirma que os sócios
continuam atuando na área
técnica, mas precisam imprimir em seu DNA o espírito empreendedor. “Se não tiver esta
postura, não dá para continuar
no papel de sócio. Tivemos o
caso de um sócio que concluiu
que sua paixão era a área de
tecnologia. Ele deixou a sociedade e está feliz em uma grande corporação de TI.”
Segundo ele, a empresa crescia cerca de 34% ao ano. Após a
implantação do projeto, passou a crescer 37% ao ano. “A expansão territorial também foi
acelerada. Estamos formando uma nova geração de
gestores, que certamente darão vida longa para a Target.”
“Conforme crescem na carreira, sobe o valor do bônus e o reconhecimento”
João Marques da Fonseca Neto, fundador da Emdoc
ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO
DIVULGAÇÃO/ZEMA PETRÓLEO
‘É um incentivo que estimula a
motivação do colaborador’
Diretor de consultoria
diz que esse tipo de
relação envolvendo
partnership deve ser
uma via de mão dupla
Perfil proativo e a dedicação ao
trabalho, fizeram com que Cézar Chaves e Eddy Costa virassem sócios do grupo Zema e da
consultoriadeRHThomasCase
& Associados, respectivamente,
mesmo os negócios não tendo
essetipo depolítica implantada.
Em 1977, aos 20 anos de idade,
Chaves começou a trabalhar
como frentista na Zema, que na
época operava seis postos de
combustíveis. “Em pouco tem-
po, fui promovido a gerente.
Neste cargo, ajudei a implantar
mais oito postos e me tornei
coordenadordarede.Paraaproveitarasoportunidadesquesurgiam, fiz curso técnico em contabilidade e fui crescendo junto
com a empresa.”
Chaves conta que nos anos
1990, quando houve a desregulamentação do mercado de
combustível, ele ficou preocupado quanto ao futuro do negócio, já que o mercado ficaria
bem mais competitivo.
“Procurei o dono da empresa,RicardoZema,epropusabertura de uma companhia de distribuição de petróleo. Ele ficou
em dúvida se conseguiríamos
entrar nesse mercado, marcado
pela presença de multinacionais. Falei que se eu tivesse o
seu apoio, colocaria o projeto
em prática”, recorda.
Chaves conta que é bem persistente e que enfrentou várias
dificuldades para concretizar o
plano. “Dois anos depois, em
1997, consegui o registro na
Agência Nacional de Petróleo
(ANP) para iniciar a operação.
Na hora de redigir o contrato
social da Zema Petróleo, Ricardo me deu uma participação na
empresa, e virei sócio. Nesse
momento, decidi fazer faculdade de administração.”
Segundo Chaves, sua trajetória de 20 anos de dedicação à
empresa foi fundamental para
ser transformado emsócio. Ho-
Devotado.
Chaves
trabalha há
38 anos na
Zema e
virou sócio
em 1997
je, aos 58 anos, ele comanda 110
funcionários. “Segundo a ANP,
a Zema Petróleo é um das 15
maiores distribuidoras de combustíveisdo Brasil. Encerramos
2014 com faturamento de R$1,5
bilhão”, diz Chaves.
A história de Eddy Costa segueroteirosemelhante.“Trabalho há sete anos na Thomas Case. Entrei como gerente financeiro. Hoje, eu ocupo o cargo de
diretoradministrativofinanceiroetenhoparticipaçãonasociedade”, conta.
A associação, segundo ele, foi
uma questão de confiança. “É
claro que este é um tipo de incentivoqueestimulao comprometimentoeamotivaçãodo colaborador, principalmente
quando as regras são bem estabelecidasefica claroo quea empresa espera de mim e eu dela.
Esse tipo de relação deve ser
uma via de mão dupla.”
Costa diz que no momento
conduz um projeto para incluir
outros colaboradores ao quadrosocietário.“Estouconcluindo o estudo para implantar esse
projeto em uma outra divisão
da empresa.”
Quando for colocado em prática, ele conta que irá pesar na
escolha dos novos sócios oriundos do quadro de funcionários
seráo tempodecasa, a evolução
da carreira, o cumprimento de
metas e o engajamento.
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