Instituição trabalha com arte e cultura para atuar na humanização da saúde e da
educação
Música, literatura e artes visuais fazem a diferença no tratamento de um paciente ou no
desenvolvimento de um aluno. Mas para que esses recursos sejam efetivos, quem os
proporciona precisa utilizar técnicas especiais. Com essa perspectiva, Regina Vidigal
Guarita fundou a Arte Despertar, há 16 anos, na capital paulista. Desde então, já
proporcionou mais de 400 mil atendimentos.
―Na primeira porta em que bati como arte-educadora, em um quarto do Hospital das
Clínicas de São Paulo, encontrei uma menina que estava todinha queimada. Foi um teste
para mim, essa sensação da criança que está deslocada do seu contexto. Estávamos ali na
tentativa de que ela nos mostrasse o seu lado saudável. E, de repente, não era mais a
menina com o problema, era a Débora, de 6 anos, falando do coelho que tinha em casa.‖ O
depoimento de Paula Galasso, 31, dá a dimensão do que é trabalhar em um hospital para
ajudar a humanizá-lo. Por mais que humanização seja um conceito ainda difuso, a
Associação Arte Despertar mostra que pela arte é possível resgatar a história, a
subjetividade e o lado sadio de quem está se recuperando. E isso faz diferença.
Para pacientes, acompanhantes e colaboradores que atuam em hospitais, a Arte Despertar
criada na capital paulista há 16 anos utiliza um rol de atividades conectadas ao contexto da
atuação — faixa etária e tipo de comprometimento da saúde, por exemplo. São muitas
combinações, que envolvem contação de histórias, poesia, lendas, interação com livros,
instrumentos musicais, levantamento de repertório e canções populares, apreciação de
imagens e trabalhos de criação, dentre muitos outros.
Não se trata apenas de oferecer ao paciente uma experiência com a arte para fazê-lo
esquecer sua condição. ―O profissional Arte Despertar precisa criar uma barreira entre a
doença, a precariedade, o sofrimento e o lado saudável do paciente para que seu trabalho
tenha o resultado esperado, diz Regina Vidigal Guarita, 67, mentora da Arte Despertar.
Os primeiros passos aconteceram no InCor (Instituto do Coração), em São Paulo, em 1997,
com a realização de atividades de artes visuais com crianças internadas e neste mesmo
ano, a extensão do projeto para a área de educação ganhou força com a incursão na Aldeia
Infantil SOS Rio Bonito, da zona sul da capital paulista — uma instituição que cria crianças
que não puderam ser mantidas em seus lares naturais. A partir de então, estava fundada
oficialmente a Arte Despertar.
Metodologia replicável
Hoje, no campo da educação, a Arte Despertar atua com orientadores socioeducativos em
programas comunitários, como os Centros para Crianças e Adolescentes (CCAs). Os arteeducadores da instituição acompanham e apoiam professores e orientadores em serviço,
assim como desenvolvem encontros gerais e reuniões de reflexão com atividades formativas
e voltadas à prática pedagógica. Merecem destaque, ainda, as saídas culturais em grupo. O
método resulta em eficazes processos que ressignificam a relação professor-aluno na rotina
escolar.
Um importante diferencial é que o trabalho de campo está a cargo de profissionais
autônomos formados (os arte-educadores), e não de voluntários. A Arte Despertar ajuda no
desenvolvimento desses profissionais, que atuam em uma ou mais das três linguagens
(música, literatura e artes plásticas). Eles vão aos hospitais ou aos CCAs. E, exatamente
porque já possuem uma bagagem sólida, também podem colaborar para a construção de
uma rica e diversificada metodologia aplicada pela Arte Despertar.
Por conta disso, um de seus pontos mais fortes é a sistematização do conhecimento. Guias
e manuais apresentam um minucioso passo a passo, com as informações para a composição
da equipe necessária, as responsabilidades de cada um, detalhamento do conteúdo de cada
atividade, ferramentas de formação e de avaliação.
Políticas recentes
Um dos focos principais da Arte Despertar é o atendimento humanizado, estendido ao
colaborador da área da saúde sob a perspectiva de que ele também carece de cuidado. Dra.
Wilze Laura Bruscato, presidente do Comitê de Humanização Hospitalar da Santa Casa de
São Paulo, assegura a necessidade do trabalho: ―A Arte Despertar está conosco não apenas
olhando para o paciente, mas também para o profissional da saúde. É muito importante
cuidar de quem cuida‖.
As políticas de humanização na saúde são muito recentes no Brasil e até no mundo. Em
2001 surgiu o PNHAH (Plano Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar) e, logo em
seguida, em 2003, o PNH/HumanizaSUS (Sistema Único de Saúde). Universidades e poder
público ainda tateiam nessa área. O mesmo ocorre com políticas de formação do professor.
Consolidar um modelo de trabalho é uma das meninas dos olhos na área da educação, mas
chega a ser considerado utopia.
Nesse cenário, a Arte Despertar vem fazendo história. O tempo de parceria estabelecida
com vários hospitais revela sua eficácia: no InCor, 16 anos; no Graacc, 15; numa das mais
recentes, com a Santa Casa de São Paulo, cinco anos. Com o Albert Einstein foram 14 anos
para um programa voltado à comunidade de Paraisópolis. Mesmo com a descontinuação da
aliança, os trabalhos continuam a ser realizados lá com as técnicas deixadas pela
organização.
A Arte Despertar capta recursos via incentivo fiscal, a partir de projetos aprovados e os
oferece aos seus parceiros sem lhes cobrar pelos serviços. No entanto, a instituição vem
desenvolvendo frentes que gerem renda e fortaleçam sua sustentabilidade: são os
treinamentos comportamentais para colaboradores que atuam na área da saúde.
Pelo pioneirismo e determinação, Regina Vidigal Guarita tornou-se uma das quatro
finalistas do Empreendedor Social 2013, promovido pela Fundação Schwab e Folha de
S.Paulo. Esse prêmio destaca líderes sociais que atuam há pelo menos três anos, de
maneira inovadora, sustentável e com forte impacto na sociedade em áreas como
ambiente, educação, infância e saúde. Automaticamente, ela passou a integrar a Rede
Folha de Empreendedores Socioambientais.
Site da organização: www.artedespertar.org.br
Vídeo da Arte Despertar:
http://player.mais.uol.com.br/embed_v2.swf?mediaId=14758716&p=related
Vencedores do Prêmio Empreendedor Social
2013: Merula Steagall, Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e Abrasta
(Associação Brasileira de Talassemia) – São Paulo (SP)
2012: Cybele Oliveira, Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa) – Palmeiras (BA)
2011: Gisela Solymos, Cren (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) – São Paulo (SP)
2010: Roberto Kikawa, Cies (Centro de Integração de Educação e Saúde) – São Paulo (SP)
2009: Claudio e Suzana Padua, Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas) – Nazaré Paulista (SP)
2008: André Albuquerque, Terra Nova - Curitiba (PR)
2007: Tião Rocha, CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento) - Belo Horizonte (MG)
2006: Fábio Bibancos, Turma do Bem - São Paulo (SP)
2005: Eugenio Scannavino Netto, Projeto Saúde & Alegria - Santarém (PA)
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Ligia Neiva
P&B Comunicação
Tel.: (11) 9 6291-1985
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Folha de S.Paulo: www.folha.com.br
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