CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS FAFIL CAMILA ANILE ALVES IDENTIFICAÇÃO DO GENE BOOROOLA EM OVINOS POR MEIO DE EXAME DE DNA SANTO ANDRÉ 2012 CAMILA ANILE ALVES IDENTIFICAÇÃO DO GENE BOOROOLA EM OVINOS POR MEIO DE EXAME DE DNA Relatório final apresentado ao Programa de Incentivo à Iniciação Científica do Centro Universitário Fundação Santo André. Orientadoras: Dra. Débora Levy Profª Ms. Roseli Corazzini Co-orientadora: Natalia Novaes Zanetti Santo André 2012 2 SUMÁRIO 1 Introdução 4 2 Atividades desenvolvidas 7 3 Métodos e materiais utilizados 8 3.1 Local de estudo e análise 8 3.2 Materiais 8 3.3 Procedimentos 8 4 Resultados 11 5 Considerações finais 11 Referências 12 3 1. INTRODUÇÃO A disputa comercial crescente e constante, que ocorre também na agricultura, exigiu a melhoria de rebanhos de várias espécies. Uma ferramenta importante nessa trajetória foi a utilização da tecnologia do melhoramento genético, onde indivíduos de uma população que possuem uma característica superior aos demais indivíduos, assim como a fertilidade, são selecionados para a reprodução, originando uma prole com uma combinação de alelos favoráveis à essa característica. No Brasil, já existem várias empresas especializadas em aplicar o melhoramento genético nos rebanhos de diversas espécies com efeito econômico. Para o criador é um ótimo empreendimento, pois, com o certificado de qualidade do seu animal nas mãos o valor agregado à ele aumenta. Gene Booroola Um dos genes estudados no melhoramento genético dos ovinos é o gene Booroola (FecB), um gene autossômico dominante encontrado no cromossomo 6 que é análogo ao cromossomo 4 humano, sendo o maior gene da prolificidade identificado em ovinos, resultante de uma mutação no receptor BMP-1B (WILSON et al., 2001). Esta mutação é encontrada nos oócitos, em folículos primordiais, células da granulosa dos folículos e também no corpo lúteo (HOLANDA; ADRIÃO; WISCHRAL, 2006). Os primeiros animais observados portadores deste gene foram encontrados em rebanho da raça Merino, na Austrália. No Brasil, a linhagem foi introduzida pela Embrapa no final da década de 70 (BETEMPS, 2008). Nos anos 90, foi realizada uma pesquisa científica, onde o gene Booroola foi estudado. Esse projeto ocorreu na Austrália, e segundo o pesquisador responsável, Dr. Colin Earl, uma de suas maiores dificuldades foi identificar animais homozigotos para o gene. Em 1999, foi desenvolvido, na Nova Zelândia, um marcador para o gene Booroola, assim, através de técnicas de biologia molecular, é possível identificar a presença ou não deste gene (DIETRICH, 2008). 4 No Brasil, essa tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sul, obtendo-se animais mais reprodutivos, principalmente nas raças comerciais ovinas Corriedale e Texel. Segundo o pesquisador responsável, Dr. Carlos Hoff de Souza, o uso das ovelhas portadoras do gene Booroola nos rebanhos pode até duplicar o número de cordeiros desmamados por fêmea acasalada. Também, segundo Wilson et al. (2001), o gene pode levar ao nascimento de 1-2 cordeiros extra por cada cópia da mutação FecB. No entanto, o criador deve adotar outros cuidados necessários em paralelo a essa tecnologia. Dr. Souza esclarece que é importante que o animal não possua as duas cópias do gene, pois a quantidade de crias por parto seria excessiva. É necessário realizar planejamento de cruzamentos na utilização de ovelhas portadoras do gene Booroola, conforme tabela 1 (BETEMPS, 2008). Tabela 1. Planejamento do cruzamento entre animais portadores ou não do gene Booroola. (Nadal, 2011) Heterozigoto cruzado (x) com animal sem alelo = 25% Heterozigoto + 75% sem alelo; Heterozigoto x Heterozigoto = 50% Heterozigoto + 25% Homozigoto + 25% sem alelo; Homozigoto x sem alelo = 50% Heterozigoto + 50% sem alelo; Homozigoto x Heterozigoto = 50% Homozigoto + 50% Heterozigoto; Homozigoto x Homozigoto = 100% Homozigoto. Aplicação do exame e análise O teste através do exame de DNA para detectar se o animal é portador heterozigoto (FecBB/FecB+), homozigoto (FecBB/FecBB) ou não portador (FecB+/FecB+), é realizado por meio da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). Esta, desenvolvida em 1983, amplifica seletivamente seqüências de DNA. Ela pode ser usada com quantidades mínimas de DNA original, até mesmo uma única molécula, e permite que seja amplificada um bilhão de vezes em algumas horas. A reação em cadeia da polimerase revolucionou a biologia molecular e é hoje uma das técnicas moleculares mais amplamente usadas (PIERCE, 2003). A visualização dos fragmentos de DNA é realizada utilizando a técnica de eletroforese em gel de agarose, onde durante a eletroforese, os locais dos filamentos de DNA que diferem em tamanho por apenas um nucleotídeo podem ser diferenciados. Após 5 esta fase, os locais dos filamentos de DNA no gel são visualizados, por um aparelho chamado transiluminador, que utiliza luz UV para visualizar o Brometo de Etídio que é um intercalante de DNA (PIERCE, 2003). Importância econômica Atualmente no Brasil, o número de cabeças de ovinos ultrapassa os 17 milhões, estando nas regiões Sul e Nordeste a maior fração deste valor. Apesar do consumo da carne ovina não ser tão frequente no cotidiano dos brasileiros, a produção total de carne de cordeiro no Brasil não é o suficiente para suprir a demanda, quase 60% da carne formalmente consumida no Brasil é importada do Uruguai. A ovinocultura tem sendo vista como um bom negócio para os investidores rurais nos últimos tempos, porém, há a necessidade de um bom planejamento para a criação destes animais já que as duas regiões que mais produzem carne ovina apresentam climas adversos. Uma característica benéfica para o criador é o rápido desenvolvimento reprodutivo dos ovinos, segundo dados do BNDES, a maturidade sexual nos machos se apresenta aos oito meses e nas fêmeas se apresenta entre o sexto e o sétimo mês de vida, com um índice de gestações por ano de 1,5, gerando no máximo três crias por parto, valor que pode ser até duplicado na presença do gene Booroola. Além da rápida produção dos carneiros, outra característica importante é o nível nutritivo que esta carne apresenta, contendo altos níveis de proteína, alta digestibilidade, vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e potássio, além de ser rica em HDL, considerado um bom colesterol, e possuindo baixo nível de gordura saturada, sendo uma ótima opção de consumo para a população mundial que nos últimos anos vem procurando uma vida cada vez mais saudável. (Paganoti e Rodrigues, 2010). Pensando no aumento do consumo da carne ovina no Brasil, grandes empresas que produzem alimentos congelados já estão investindo na venda deste produto em grandes supermercados, facilitando ainda mais para que a carne de cordeiro esteja mais frequente na mesa dos brasileiros. Algumas das maiores dificuldades para o aumento da produção da ovinocultura no Brasil é a falta de organização e comunicação entre os criadores e o 6 abate informal que chega a representar aproximadamente 93% do consumo da carne do Brasil. (Paganoti e Rodrigues, 2010). Portanto, deve-se investir no planejamento da criação, no registro dos animais junto às associações de criadores e na aplicação do melhoramento genético para que o Brasil seja exemplo de animais de alta qualidade e com alto valor econômico. 2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Conforme previsto no cronograma, após a entrega do projeto iniciou-se a aplicação dos exames nas amostras já identificadas e cadastradas. Em paralelo, o levantamento bibliográfico continuou sendo realizado, agregando mais informações técnicas e científicas ao trabalho. O conhecimento de trabalhos semelhantes trouxe uma visão mais ampla dos alcances do tema deste trabalho, que certamente será utilizado para a melhoria e o aumento dos rebanhos de ovinos no Brasil. Para a realização dos exames foram aprendidas diversas técnicas laboratoriais que possibilitaram obter resultados precisos e em menor tempo. O manuseio dos equipamentos, a utilização dos reagentes, a preparação de soluções e o método de leitura dos resultados foram aplicados de acordo com o protocolo descrito neste relatório. O relatório parcial foi apresentado com os resultados de quarenta animais que foram testados e seus dados coletados para uma avaliação percentual. Posteriormente, sendo concluídos os exames dos cento e onze animais – número total de amostras - os dados foram coletados de maneira que permitiram a análise final dos resultados obtidos, alcançando os objetivos deste trabalho. 7 3. MÉTODO E MATERIAIS UTILIZADOS 3.1 Local de estudo e análise O estudo foi conduzido em amostras já coletadas e identificadas de propriedade do Laboratório LinkGen Biotecnologia Veterinária. O levantamento bibliográfico, a realização, e a análise dos exames foram realizados entre o laboratório colaborador e o Centro Universitário Fundação Santo André. 3.2 Materiais Os materiais utilizados para o presente estudo incluem: amostras de pelos de ovinos de propriedade do Laboratório LinkGen, álcool, pinça, lâmina para corte do pelo, lamparina para esterilização da lâmina, tubos de 0,2 ml, racks, termociclador, centrífuga, vortex, pipetas, ponteiras, luvas cirúrgicas, avental branco, fluxo para preparo das amostras, soluções tampões, água ultra pura, dNTPs, MgCl2, primer sense e anisense, Taq, enzima para digestão AVAII, freezer e refrigerador para armazenamento das amostras, becker, cuba de eletroforese, pente, bandeja, tampão TAE (1x e 10X), padrão de peso molecular (100bp), corante loading buffer (5X), agarose, brometo de etídio, microondas, transiluminador (VDS), NaOH (0,2 normal), Tris HCl 1M. 3.3 Procedimentos Com o auxilio da pinça e da lâmina, os pelos foram separados e cortados, somente na região do bulbo, que é onde está contido o DNA, foram cortados seis bulbos, estes foram colocados em um tubo de 0,5 ml. Com os tubos identificados, adicionou-se 3,0μl de NaOH (0,2N), que foram levados ao termociclador e incubados por vinte minutos à 80 ºC, após esta etapa foi adicionado 27μl da solução de Tris HCl 1M. A reação de PCR foi realizada utilizando-se 10 pM de cada primer (Foward, 5‘-CCAGAGGACAATAGCAAAGCAAA-3’ e Reverse, 5’- CAAGATGTTTTCATGCCTCATCAACAGGTC -3’), 100 μM de cada dNTPs, 1.5 mM de MgCl2, 10x de PCR buffer, 2 ul de amostra de DNA e 1 unidade de Taq DNA 8 polimerase em reação de 25 μL. As amostras foram homogeneizadas em vortex, por quatro segundos e colocadas no termociclador para a PCR, sendo as tempeturas e tempos: 94ºC por dois minutos, trinta e nove ciclos de 95ºC por vinte segundos, 60ºC por trinta segundos e 72ºC por trinta segundos. Uma extensão final de 72ºC por cinco minutos e 4ºC até a reação ser retirada do termociclador. Após a etapa da PCR, as amostras foram digeridas com uma unidade de enzima de restrição AVAII a 37ºC por cinco minutos para a ativação da enzima e 65ºC por dez minutos para a inativação da enzima . As amostras foram armazenadas em refrigerador. Após a digestão, foi preparado gel de agarose em um becker contendo 194g de agarose em pó e 50ml de TAE 1X. A solução foi colocada no microondas por dois minutos e foi adicionados 2μl de brometo de etídio. Posteriormente, a solução foi despejada em uma bandeja, o pente inserido e esperou-se a gelificação por trinta minutos. As amostras foram preparadas utilizando-se 3μl de loading buffer e foram aplicadas nos poços do gel de agarose, também foi adicionado em um dos poços do gel 4μl do padrão de peso molecular de 100pb. O gel foi colocado na cuba de eletroforese com a solução tampão TAE 20X. O tempo de corrida do gel foi de trinta e cinco minutos. Após a corrida, o gel foi retirado da cuba e segue para a etapa da análise. A leitura dos resultados é realizada por meio das bandas que aparecem no gel quando este é submetido à luz UV. Comparou-se as bandas correspondentes às amostras com as bandas do padrão de peso molecular, interpretando-as da seguinte maneira: 120bp Não portador FecB+/FecB+ 90bp e 120bp Heterozigoto FecBB/FecB+ 90bp Portador homozigoto FecBB/ FecBB 9 100bp SR SR B+ ++ SR B+ B+ ++ B+ B+ ++ ++ Análise dos resultados após PCR e digestão das amostras no gel de agarose: 100bp Figura 1 - Análise para identificação do gene Booroola. Considerando que B+ representa B + heterozigoto para o gene (FecB /FecB ) e ++ representa indivíduo não portador do gene + + (FecB /FecB ). O levantamento da freqüência com que o gene aparece nos animais estudados foi realizado em amostras previamente identificadas e cadastradas, descrevendo esta freqüência em valores percentuais. A pesquisa referente à importância econômica da carne de ovinos no Brasil foi realizada a partir de levantamento bibliográfico com materiais produzidos para o próprio criador de ovinos e pesquisas e estudos científicos. 10 4. RESULTADOS A partir dos resultados analisados e das informações obtidas pode-se registrar os dados de cento e onze amostras que resultaram em cinquenta e oito animais que não possuem o gene Booroola (FecB+/FecB+), cinquenta e três animais que se apresentaram heterozigotos para a mutação (FecBB/FecB+) e nenhum animal homozigoto para o gene Booroola (FecBB/ FecBB), assim, os animais não portadores do gene Booroola representam 52,25% e os animais heterozigotos para o gene representam 47,74% das amostras analisadas, números que se apresentam muito próximos aos números do relatório parcial apresentado anteriormente, na qual vinte e um animais não apresentaram o gene Booroola (52,5%) e dezenove animais se apresentaram heterozigotos (47,5%). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ovinocultura brasileira necessita de mais atenção por parte do governo, dos consumidores e principalmente dos criadores dos ovinos. É preciso que haja organização entre criadores e associações, planejamento para que a produção aumente e o preço da carne diminua e investimento para a popularização da carne de cordeiro e para tecnologias que melhoram o rebanho. O gene Booroola pode colaborar muito com o melhoramento genético dos ovinos e com o aumento da produção, diminuindo o alto índice de importação deste tipo de carne e o índice de abatimentos clandestinos, tornando a economia da ovinocultura mais significante para o Brasil, podendo até mesmo estar próximo das produções da carne bovina e suína. Sendo assim, a identificação do gene Booroola nos ovinos por meio do exame de DNA é indispensável para que tais melhorias de fato ocorram. 11 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Bernardo. Planejamento na Ovinocultura de Corte: 1º Passo para o Sucesso. 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