TRANSPORTE ESCOLAR RURAL: Um Estudo Estratégico sobre a Influência dos Indicadores de Qualidade no Desempenho da Educação no Ensino Fundamental no RN Autoria: Ruan Rodrigo Araújo da Costa, Adrianne Paula Vieira de Andrade, Afrânio Galdino de Araújo, Gabriela Figueiredo Dias RESUMO Este artigo faz uma análise do Programa de Transporte Escolar do Estado do Rio Grande do Norte (PETERN) procurando identificar a relação entre indicadores do programa com o desempenho dos alunos mensurado pelo IDEB. O estudo utilizou regressão linear múltipla e análise discriminante para análise dos dados. Os resultados mostraram que o transporte escolar tem atingido o objetivo de atender os alunos da zona rural. Foi constatado que apenas o transporte escolar não é suficiente para aumentar o desempenho dos estudantes da zona rural. Esta pesquisa pode contribuir com a discussão sobre gestão de políticas públicas no ensino fundamental. 1 1. INTRODUÇÃO A rede de centros educacionais públicos no país é financiada pela sociedade e os recursos aplicados nela são essenciais para o desenvolvimento do Brasil. Gradativamente, os governantes vêm tentando aprimorar as políticas públicas destinadas à educação. Contudo, Alves (2008) relata que, apesar dos avanços, a educação no Brasil ainda apresenta graves problemas e o desafio dos pesquisadores é compreender como a dinâmica social e as políticas educacionais relacionam-se com a evolução dos indicadores educacionais. A educação no meio rural vem passando por diversas transformações ao longo dos anos, e um dos pontos chaves dessa questão é o acesso dos alunos à escola. Muitos dos estudantes residem em regiões longínquas e têm que percorrer distâncias consideráveis para irem à escola, o transporte escolar tenta solucionar este problema. Dessa forma, é notável que a falta de uma política voltada para o transporte dos estudantes é um fator de exclusão, a dificuldade de deslocamento existente faz com que os alunos não atendidos pelo programa de transporte escolar não consigam ter uma qualidade de ensino igual aos estudantes moradores da zona urbana (EGAMI et al., 2006). Neste contexto, surgiram programas federais e estaduais que pretendem garantir a oferta do transporte escolar aos alunos residentes em área rural. O Ministério da Educação executa atualmente dois programas voltados ao transporte de estudantes: o Caminho da Escola e o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE), que visam atender alunos moradores da zona rural. No âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, foi instituído o PETERN, o qual foi estabelecido pelo Governo Estadual por meio do decreto nº 21.495/2009. Poucos estudos têm sido realizados no Brasil sobre o transporte escolar rural e o acesso dos estudantes rurais as instalações de ensino (CARVALHO et. al, 2010). Pegoretti (2005) também elucida que o tema do transporte rural ainda é pouco estudado e não obteve espaço na agenda das políticas públicas, apesar de ter um impacto direto na vida social das pessoas que residem no campo. Sendo assim, a realização deste estudo é importante pois pode fornecer informações ao Governo para avaliar o efeito do investimento em transporte escolar no desempenho dos alunos e reformular as políticas para o estudante da zona rural. Diante disso, o presente trabalho objetiva identificar e avaliar a relação entre as variáveis ligadas ao PETERN e variáveis relacionadas ao perfil socioeconômico dos municípios com o desempenho dos alunos mensurado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). A avaliação do programa de transporte escolar será feita de modo a fornecer informações e determinar o efeito desta política pública na qualidade de ensino. Tendo em vista a Política do Governo para a educação e as metas de desempenho do IDEB propostas pelo INEP para os municípios, também será analisada a relação das variáveis do transporte escolar e do perfil socioeconômico na diferenciação dos municípios que estão de acordo com a expectativa de desempenho para o ano de 2011 e dos que não estão. Além disso, é feita uma análise do PETERN e do alcance dos objetivos do programa no ano de 2010. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 – A educação no meio rural no Brasil A criação de diversos programas e políticas que visam melhorar e garantir uma educação de qualidade e tentam legitimar o direito a educação também devem alcançar as localidades mais afastadas ou de difícil acesso. Apesar de ser necessário para o desenvolvimento da população, o acesso à educação na área rural enfrenta uma série de dificuldades, isto pode ser notado pela taxa de analfabetismo. De acordo com os dados do 2 IBGE (2010), o percentual de analfabetos nos centros urbanos foi de 6,8% em 2010. Na zona rural, esse índice foi de 21,2%. A educação rural no Brasil pode ser entendida como a educação de alunos provenientes de áreas rurais, seja ela feita em escolas urbanas ou rurais. A educação no meio rural vem apresentando melhorias significativas, principalmente no que diz respeito ao acesso as escolas, todavia ainda existem desafios que precisam ser enfrentados no que se refere ao desempenho do sistema (BOF et. al, 2006). As escolas multisseriadas foram os primeiros tipos de escolaridade nas zonas rurais, a característica básica delas é a junção de diversos alunos de várias séries em torno de um único professor (FERRI, 1994). Elas apresentam alguns problemas que inibem o processo de ensino-aprendizagem. Hage (2003) constatou que as principais dificuldades de uma escola multisseriada estudada foi à precariedade da estrutura física, a falta de condições adequada para o cumprimento metodológico das aulas, a sobrecarga do trabalho do professor e a multiplicidade de funções etc. Para superar os problemas gerados pelo modelo das escolas multisseriadas, surgiu o processo de nucleação das escolas rurais. Segundo Fagundes e Martini (2003), a nucleação das escolas foi implantada para atender as mudanças estruturais da educação estadual, principalmente as relacionadas à manutenção e desenvolvimento do ensino, que mostram a necessidade de neutralizar discrepâncias, sobretudo nas escolas rurais, com a adoção de políticas educacionais compartilhadas. Assim, este processo consiste em transferir os alunos para as escolas-núcleos que atende os alunos das comunidades com um professor para cada série. Hage (2009) elucida que a implantação das escolas-núcleo no Brasil também ocorre com o fornecimento de transporte dos estudantes para as escolas núcleo. Segundo Bof et. al, (2006), a estratégia da escola-núcleo tem sido criticada por não apresentar uma relação de custo/efetividade favorável, pelo fato do deslocamento consumir uma parcela considerável do tempo dos estudantes e também por desarraigá-las do seu contexto natural. Outra questão crucial referente à educação no meio rural elucidada por Bof et. al, (2006) e Hage (2009) é o fraco desempenho escolar resultante do cansaço causado pelas longas viagens de ônibus ou outros meios de transportes, que contribui para o aumento do abandono e evasão dos alunos. 2.2 – Transporte Escolar Rural Diante das dificuldades de acesso dos alunos da zona rural à educação de qualidade, surgiram diversos programas de Transporte Escolar. Segundo Silva e Arnt (2010), a oferta deste serviço é uma das políticas de universalização da educação. Assim, o transporte escolar torna-se essencial no acesso ao centro educacional. Assegurar as vagas não é suficiente para manter o aluno nas escolas rurais, é preciso que esse aluno tenha acesso a ela, para isso tornase necessário possibilitar o transporte das crianças e adolescentes à escola. (SILVA E ARNT, 2010) O transporte escolar pode ser entendido como o transporte de alunos a partir de determinado ponto de origem, geralmente próximo a sua residência, até a escola em que está matriculado, e também no sentido inverso (EGAMI et. al, 2006). O transporte escolar pode ser dividido em duas categorias, o rural e o urbano. Silva (2009) define o transporte escolar rural como um transporte gratuito e em veículo específico para alunos residentes em área rural. Esse transporte também pode ser usado por alunos que moram em zona urbana e estudam em zona rural. Junto aos problemas que as áreas rurais enfrentam em relação à educação, a distância pode ser considerada como um dos principais fatores que levam à evasão escolar e ao baixo rendimento dos alunos (ARAÚJO, 2008). Silva (2009) elucida que existe uma relação entre a 3 escola e o meio que lhe dá acesso. O baixo rendimento dos alunos pode ser provocado pelo cansaço devido à caminhada de longos trajetos da residência deles para a escola. O Governo Federal, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), criou e mantém o PNATE. Ele foi criado pela lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004 e o seu objetivo é oferecer transporte escolar aos alunos da educação básica pública, residentes em área rural, por meio de assistência financeira, em caráter suplementar, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, observadas as disposições desta Lei (BRASIL, 2004). Por sua vez o PETERN tem por objetivo garantir a oferta de transporte a alunos da Educação básica da rede pública de ensino que residem em área rural. Sendo viabilizado através de repasse de recursos, com caráter suplementar, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte para os municípios atendidos (RIO GRANDE DO NORTE, 2009). 2.2.1 – Estudos sobre o transporte escolar rural Alguns estudos que trataram de transporte escolar foram encontrados na literatura e são sintetizados neste tópico. Pegoretti (2005) definiu um indicador para avaliar a acessibilidade dos alunos da zona rural à zona urbana que pode ser utilizado no planejamento do transporte rural escolar. O estudo mostrou a segregação da população rural, a dificuldade de acesso à zona urbana no acesso dos alunos à escola e a precariedade das escolas rurais. Silva (2009) reflete sobre critérios de distribuição e alocação dos recursos destinados ao transporte escolar de forma a diminuir a repetência e a evasão escolar. O autor argumenta que a alocação de mais recursos em municípios mais carentes poderia alavancar o sistema de transporte escolar, enquanto que a diminuição em municípios mais desenvolvidos poderia não acarretar prejuízos. O estudo ainda mostra que apenas a liberação de mais recursos não garantirá aos municípios melhorias significativas no serviço de transporte escolar se não existir uma gestão dos recursos. Martins (2010) analisou os impactos das condições do transporte escolar rural no rendimento escolar dos alunos através das variáveis do transporte escolar rural e a médias escolares dos alunos. O resultado encontrado mostra que não há associação entre o tempo de viagem e a distância percorrida da casa até a escola com a média escolar dos alunos. Carvalho et. al, (2010) delinearam um panorama do transporte escolar rural no Brasil. Foi visto que o transporte escolar ainda é fornecido em condições precárias. Alguns fatores destacados pelo autor que podem influenciar no desempenho escolar são: os longos tempos de viagem, as grandes distâncias, os longos tempos de espera, a falta de provisão, a condição das estradas e dos veículos. Diante disso, os pesquisadores sugerem o desenvolvimento de alguns mecanismos planejamento, regulação e operação do transporte escolar rural que permitam organizar e gerenciar o serviço. 2.3 – Instrumentos de mensuração do desempenho dos estudantes de ensino fundamental A fim de conhecer melhor os diversos fatores socioeconômico, cultural e escolar que influenciam o desempenho dos alunos e propor alguns subsídios para ajudar a superar as dificuldades diagnosticadas, o Ministério da Educação vem desenvolvendo indicadores para avaliar e mensurar o nível de aprendizado dos estudantes no Brasil, muitos deles dependem da aplicação de testes padronizados para verificar a situação dos alunos diante das expectativas de aprendizado para determinada série. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) foi a primeira iniciativa, criado em 1990 e aplicado em 1995, para avaliar o desempenho dos alunos. Este teste é realizado com um intervalo de dois anos. A metodologia do SAEB consiste na aplicação de testes de 4 matemática e língua portuguesa em uma amostra aleatória de alunos da educação fundamental, junto com um questionário socioeconômico com tais alunos, escolas e diretores (MARTINS, 2010). Visando complementar as informações fornecidas pelo SAEB foi criada a Prova Brasil. Segundo Gremaud et. al (2007), a Prova Brasil foi implantada em 2005, e consiste na primeira avaliação universal do ensino público fundamental. A realização desta avaliação pretende verificar o aprendizado dos alunos em questões de matemática e português do 9º ano e do 5º ano do ensino fundamental. Pelo seu caráter universal, esta prova faz com que sejam produzidos resultados por município e por escola, desde que a unidade de educação tenha 30 ou mais alunos matriculados. Todavia, o rendimento dos alunos em testes padronizados não pode ser a única métrica para avaliar a qualidade da rede de ensino. Fernandes (2007) elucida que um sistema muito rígido pode gerar muitos estudantes reprovados, resultando em vários alunos evadidos da escola, o que não é aceitável mesmo produzindo elevados indicadores de aprendizagem. Ou seja, o sistema ideal é aquele que o aluno adquire o conhecimento necessário para concluir determinada série sem ter a necessidade de repetir o ano. Com o objetivo de produzir um indicador mais robusto foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que considera além da nota em testes de conhecimento o tempo médio de conclusão dos alunos por série. Fernandes (2007) afirma que o IDEB é um indicador misto, medindo o fluxo dos alunos pelo sistema e a pontuação deles em testes padronizados. Diversos estudos já foram realizados utilizando tais instrumentos para análises comparativas com algumas políticas adotadas nos âmbitos municipais e Estaduais (GOMES e AMORIM, 2012; PAZ e RAPHAEL, 2011; FERNANDES, 2010; GOUVEIA et. al, 2009; MESQUITA, 2012; ALVES e SOARES, 2013; ANDREWS e VRIES, 2012; CROZZATI, 2010). As pesquisas referenciadas acima têm em comum a utilização do IDEB e outros índices de desenvolvimento socioeconômicos e educacionais para analisar a situação da educação do ensino fundamental em escolas e municípios Brasileiros. Assim, o presente estudo utilizará o IDEB e estudará a relação dele com variáveis ligadas ao PETERN e com outras variáveis socioeconômicas dos municípios do RN. 2.4 – Avaliação de Políticas Públicas O programa de transporte escolar será avaliado sobre a ótica de avaliação de uma política pública, ou seja, será avaliado os resultados do programa em relação aos objetivos e o impacto no desempenho educacional dos alunos. A avaliação de um programa pode ser definida como uma análise sistemática de aspectos importantes de um programa e seu valor, visando fornecer resultados confiáveis e utilizáveis pelos gestores dos programas e pela própria sociedade. (ALA-HARJA e HELGASON, p.5, 2000). A importância de uma avaliação está associada com a melhoria do gasto público, com a qualidade da gestão pública e principalmente com a percepção da sociedade em relação a efetividade de determinada ação do estado, pois a avaliação pode ser instrumento de divulgação dos resultados da ação do Governo (RAMOS e SCHABBACH, 2012). De acordo com Cotta (2001) as avaliações podem ser classificadas em vários tipos, visto que podem enfatizar diferentes aspectos, como o seu timing (antes, durante ou depois da implantação da política ou do programa), da posição do avaliador (interna, externa ou semiindependente) e da natureza do objeto avaliado (contexto, insumos, processos e resultados). Trevisan e Bellen (2008) classificam as avaliações em avaliação antes (ex ante), avaliação intermediária ou formativa e avaliações posteriores (ex post) ou somativas. 5 A avaliação que será realizada neste trabalho é do tipo somativa, pois é realizada quando o programa já está implementado para estudar a sua eficácia e analisar os resultados obtidos. As questões quanto ao resultado ou relevância geral do programa devem ser abordadas (ALA-HARJA e HELGASON, 2000). Segundo Costa e Castanhar (2003), a avaliação é uma forma de mensurar o desempenho dos programas, todavia é preciso definir os critérios de avaliação que serão utilizados. Neste trabalho, será utilizado o critério de impacto, que indica os efeitos do projeto no ambiente externo, em termos técnicos, econômicos, socioculturais, institucionais etc. Assim, será analisado o impacto do programa de transporte escolar na quantidade de alunos atendidos e no desempenho dos alunos da educação básica. Para isso serão utilizados indicadores de desempenho, como por exemplo o custo de transporte escolar por aluno e o número de alunos atendidos pelo transporte escolar. Na avaliação, pode ser utilizado uma sequência de definições correspondentes ao desenho de um programa público, Costa e Castanhar (2003) sugerem que a avaliação seja feita de acordo com a seguinte sequência propósito > objetivo > meta > atividade do programa a ser avaliado. Sendo assim, o propósito do programa de transporte escolar é garantir que estudantes da zona rural tenham acesso à educação. O objetivo é garantir a oferta de transporte para os alunos da educação básica residentes em área rural. A meta expressa poderia ser o compromisso de garantir o acesso à escola a todos os estudantes que precisam. A aferição do desempenho pode se referir aos resultados do programa que poderá ter como produto a melhoria do desempenho dos alunos na escola. Diante disso, a avaliação serve como requisito para atualização dos planos e realização de mudanças na sociedade, e além disso também serve como um instrumento imprescindível para a realização da gestão estratégica nas instituições públicas (GARCIA, 2001). 3. METODOLOGIA O presente estudo é exploratório visto que procurou aprofundar o conhecimento sobre a questão do transporte escolar rural, no Estado do Rio Grande do Norte, a qual ainda é pouco abordada. Quanto aos meios, a pesquisa consiste em uma investigação ex post facto a qual refere-se a um fato que já foi ocorrido o qual o pesquisador não pode controlar ou manipular as variáveis (VERGARA, 2011). No que se refere a abordagem, o estudo é quantitativo uma vez que utiliza técnicas estatísticas para investigar a relação entre variáveis. A população do estudo consiste em todos os municípios do Estado do Rio Grande do Norte os quais são 167. Todavia a amostra da pesquisa foi de 124 municípios nos quais 13.112 estudantes do ensino fundamental são atendidos pelo transporte escolar. Esta redução se deve à indisponibilidade de dados nos bancos de dados consultados e a existência de 22 observações atípicas (outliers) observadas a partir do diagrama de caixa (boxplot). Os dados utilizados na pesquisa foram dados secundários. Este trabalho apresenta duas suposições básicas. A primeira suposição é que as variáveis ligadas ao programa do transporte escolar influenciam o desempenho dos alunos dos municípios do RN mensurado pelo IDEB. A outra suposição é de que os resultados do IDEB dos municípios do RN são influenciados pelo perfil econômico e socioeconômico deles, que será mensurado por meio do PIB e do IDH. Esta segunda suposição está apoiada nos estudos de Barreto Neto e Menezes (2010) e Gouveia et. al, (2009). Para a análise dos dados, serão utilizadas técnicas de estatística descritiva, regressão linear múltipla e análise discriminante. Segundo Corrar et. al (2009), a regressão linear múltipla é uma técnica multivariada de dados que possibilita analisar a relação entre uma única variável dependente e duas ou mais variáveis independentes. Assim, a variável dependente utilizada foi o resultado do IDEB dos municípios do RN. Para cada município são 6 divulgados dois resultados deste índice os quais são referentes ao desempenho dos alunos das séries iniciais e finais do ensino fundamental. A primeira regressão terá como variável dependente o IDEB das séries iniciais dos municípios do RN. E, para a segunda regressão será utilizada o IDEB dos anos finais como variável dependente. As principais variáveis independentes utilizadas no trabalho estão relacionadas ao PETERN. A primeira variável é o gasto com transporte escolar por aluno do ensino fundamental. Esta variável consiste no valor repassado pelo PETERN para o município dividido pelo número de alunos total matriculados no ensino fundamental no ano de 2010. A outra variável é o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo programa. Tais variáveis foram obtidas junto a SEEC. Também foram utilizadas variáveis independentes, o PIB per capita e o IDH, relacionadas a indicadores econômicos dos municípios. Segundo Alves e Soares (2013), estudos anteriores foram realizados analisando os contextos territoriais, diferenças sociais e econômicas no resultado do IDEB de municípios ou escolas. Diante disto, foram incluídas no modelo o PIB per capita dos municípios ao quadrado, o qual foi utilizado devido a relação não-linear com variáveis da educação o que corrobora com Dias et. al (2009); e o Índice de Desenvolvimento Humano do Município que foi utilizado por Gouveia et. al (2009). A tabela 1 apresenta as variáveis utilizadas nas análises estatísticas de regressão múltipla e análise discriminante, as respectivas fontes e os estudos de referência. Além disso, foi aplicada a análise discriminante para identificar se as variáveis independentes utilizadas nesta pesquisa tinham capacidade de diferenciar os grupos presentes nesta população, que são o grupo dos municípios que cumpriram a meta e o grupo daqueles que não alcançaram a meta do IDEB proposta pelo INEP. Tabela 1 Variáveis utilizadas no estudo. Variáveis Nota do IDEB do 5º ano Nota do IDEB do 9º ano Número de alunos atendidos pelo transporte escolar Gasto por aluno com transporte escolar PIB per capita ao quadrado IDH Meta para o IDEB do 5º ano Meta para o IDEB do 9º ano Fonte: Elaboração própria, 2014 Fonte INEP (2011) INEP (2011) Estudo de Referência Alves e Soares (2013) Alves e Soares (2013) SEEC – RN (2010) Suposição Própria SEEC – RN (2010) Censo – IBGE (2010) Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2010) INEP (2011) INEP (2011) Suposição Própria Dias et. al (2009) Gouveia et. al (2009) Suposição Própria Suposição Própria 4. RESULTADOS 4.1 – Uma análise do PETERN O PETERN tem por objetivo garantir o transporte escolar para os estudantes de ensino básico. Aparentemente o programa cumpre o seu objetivo em propiciar o acesso do aluno à escola. Isso pode ser visto, por meio da taxa de abandono escolar em 2009, ano em que o programa não havia sido implantado, e em 2010 que foi o primeiro ano de execução do PETERN. Os dados do endereço eletrônico “Todos Pela Educação” (http://www.todospelaeducacao.org.br/) mostram a queda das taxas de abandono escolar nos anos de 2009 e 2010, conforme expõe a tabela 2. 7 Tabela 2 Taxa de abandono escolar Ensino Fundamental Taxa de abandono no RN (anos iniciais) Em 2009 3,80% Em 2010 3,20% Fonte dos dados: Todos Pela Educação Ensino Fundamental (anos finais) 9,90% 8,70% Ensino Médio 20,90% 17,30% O resultado na redução do percentual de abandono dos estudantes em todo o Estado pode ser atribuído à amplitude alcançada pelo programa logo no primeiro ano de execução. Dos 167 municípios do Rio Grande do Norte 156 aderiram, o que representa um pouco mais de 93% de aceitação. Em relação ao número de alunos efetivamente beneficiados, não é possível obter um dado conclusivo. Entretanto, de acordo com informações da SEEC, o valor repassado é suficiente para atender 54.226 alunos em todo o Estado. Para uma comparação foi utilizado o número total de matrículas em todo o ano de 2010 na rede básica, o qual foi disponibilizado pelo INEP (567.045 matrículas). Assim, o número de estudantes que foram beneficiados pelos PETERN representa 9,57% de todas as matrículas no ensino básico no ano letivo de 2010. Isso reforça o caráter inclusivo da política de transporte escolar, já que sem o auxílio financeiro muitas das prefeituras não teriam como financiar uma rede de transporte para os estudantes provenientes do meio rural. 4.2 – Análise descritiva das variáveis O IDEB dos municípios do Rio Grande do Norte incluídos na amostra é, em geral, maior para os anos iniciais do ensino fundamental com média de 3,7 em comparação com os anos finais, com média de 3,0. Da amostra utilizada no estudo, 26 municípios tinham notas maiores que 4 para os anos iniciais e apenas 5 obtiveram notas maiores que 4 para os anos finais. O gráfico 1 mostra a frequência das notas do IDEB na amostra para os anos iniciais e finais. Gráfico 1 Frequência das notas do IDEB dos anos iniciais e finais. Fonte: Elaboração própria (2014) Para medir os indicadores socioeconômicos, o estudo utilizou o PIB per capita e o IDH dos municípios. Em relação ao PIB per capita, a média dos municípios da amostra foi de R$ 5.617,74 e apenas 5 municípios com valores maiores que R$ 8.000,00. O IDH médio dos municípios da amostra ficou em 0,61, este valor é mais baixo que IDH médio do Brasil que foi de 7,3 (PNUD, 2013). O PETERN foi avaliado a partir de duas variáveis, o gasto por aluno com transporte escolar, com média de R$ 22,93 em 2010; e o número de alunos atendidos pelo transporte escolar, com média de 105,74 alunos em 2010. 8 4.3 – Análise da regressão múltipla A regressão linear múltipla foi utilizada para analisar a relação entre o IDEB dos municípios e as variáveis independentes relacionadas ao PETERN e a indicadores socioeconômicos dos municípios do Rio Grande do Norte. Assim, foram realizadas duas regressões com os resultados do IDEB dos anos iniciais e finais dos alunos do ensino fundamental. A primeira regressão foi realizada tendo como variável dependente o IDEB dos anos iniciais. A tabela 3 expõe os resultados. Tais resultados mostram que dentre as variáveis relacionadas com o PETERN, o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo programa tem uma relação estatisticamente significante com o IDEB dos anos iniciais. Apesar de ser significante, esta variável apresentou uma relação inversa com a variável dependente. Além disso, o IDH apresentou relação positiva com o IDEB dos anos iniciais. As demais variáveis independentes não apresentaram relação significante com a variável dependente. Tabela 3 Resultados da primeira regressão linear múltipla Variáveis independentes Constante Gasto por aluno do ens. fund. com transporte Número de alunos do ens. fund. atendidos pelo programa PIB per capita ao quadrado IDH Sumário do Modelo Beta não padronizado -2,228 Erro padrão 0,822 Beta padronizado -0,001 0,002 -0,001 -1,571E-9 10,037 R 0,571 T Sig. -2,708 0,008 -0,027 -0,321 0,749 0,000 -0,203 -2,367 0,020 0,000 1,390 R² 0,326 -0,067 0,580 R² ajustado 0,303 -0,824 7,221 0,412 0,000 Sig. 0,000 Nota Variável Dependente: IDEB anos iniciais Fonte: Resultados da pesquisa (2014) Foram realizados alguns testes para avaliar os pressupostos requeridos para a análise desta primeira regressão. O pressuposto da multicolinearidade foi atendido, os valores que compõem o VIF (Variance Inflaction Factor) das variáveis estão entre 1 e 10, tendo multicolinearidade aceitáveis. O pressuposto de ausência de auto-correlação serial também foi atendido pelo teste de Durbin Watson que foi de 1,974, a literatura indica que índices próximos de 2 tendem a atender o pressuposto. O pressuposto da homoscedasticidade, realizado através do teste de Pesarán-Pesarán, também não foi violado, o nível de significância encontrado foi de 0,126. Esse teste é violado quando o nível de significância é menor que 0,05 em que rejeita-se a hipótese nula de que os recursos são homoscedásticos. O pressuposto da normalidade também foi atendido, verificou-se que o nível de significância do teste Kolmogorov-Smirnov (K-S) foi de 0,628 sendo significante, pois é maior que 0,05 e a hipótese nula de que a série é normal não foi rejeitada. O pressuposto da linearidade também foi atendido e constatado por meio de diagramas de dispersão. Dessa forma, pode-se perceber que todos os pressupostos foram atendidos. A segunda regressão foi realizada com o IDEB dos anos finais como variável dependente. A tabela 4 mostra que o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo programa tem relação inversa com o IDEB dos anos finais. Nas demais variáveis, a única que obteve significância com a variável dependente foi o IDH, sendo esta relação direta e positiva. 9 Tabela 4 Resultados da segunda regressão linear múltipla Beta não Variáveis independentes Padronizado -0,819 (Constante) Gasto por aluno do ensino fundamental -0,001 com transporte Número de alunos do ensino fund. -0,001 atendidos pelo programa 9,026E-10 PIB per capita ao quadrado 6,431 IDH R Sumário do Modelo 0,412 Erro Padrão 0,908 Beta Padronizado 0 T Sig. -0,902 0,369 0,002 -0,022 -0,235 0,814 0,000 -0,212 -2,223 0,028 0,000 1,534 R² 0,169 0,039 0,374 R² ajustado 0,141 0,429 4,191 0,669 0,000 Sig. 0,000 Nota Variável Dependente: IDEB anos finais Fonte: Resultados da pesquisa (2013) Assim como a regressão anterior, esta atende todos os pressupostos, os resultados foram: teste de Durbin Watson de 1,821; o VIF de todas as variáveis entre 1 e 10; o teste de Pesarán-Pesarán de 0,881; o teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S) com significância de 0,313, e linearidade atendida por meio da dispersão. 4.4 – Análise Discriminante Os 124 municípios que constituem a amostra desta pesquisa podem ser classificados em dois grupos no que concerne a nota do IDEB. O INEP estabeleceu alguns parâmetros técnicos para comparar os indicadores dos sistemas de ensino do Brasil com os de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Diante isso, para que fosse alcançada uma meta nacional que tem como referência a qualidade dos sistemas em países da OCDE, foram traçadas metas para cada rede e escola para que todas as esferas possam contribuir com a melhoria do sistema educacional brasileiro. Assim, os municípios que compõem a amostra desta pesquisa podem ser classificados segundo o cumprimento da meta do IDEB. A análise discriminante foi utilizada para analisar se existem diferenças significativas entre dois grupos que são o grupo dos municípios que cumpriram a meta e o dos que não cumpriram a meta em relação às variáveis do transporte escolar e aos indicadores socioeconômicos. Foram realizadas duas análises discriminantes, a primeira análise teve como variável independente categórica a meta do IDEB dos anos iniciais a qual apresentou resultados significativos. E em seguida, foi realizada outra análise discriminante utilizando a meta do IDEB dos anos finais como variável independente categórica a qual não apresentou nenhuma variável com significância estatística nem uma função discriminante válida. Sendo assim, será utilizada apenas a análise discriminante com os municípios que cumpriram a meta do IDEB dos anos iniciais e com aqueles que não cumpriram. O primeiro teste realizado foi o de igualdade de médias dos grupos. De acordo com Corrar et. al, (2009) este teste identifica quais são as variáveis que melhor discrimina os grupos e objetiva rejeitar a hipótese nula de igualdade de médias entre os grupos. Os resultados do teste constam na tabela 5 o qual mostra que apenas para a variável do gasto com transporte escolar rejeita a hipótese nula ao nível de significância de 0,05 (sig = 0,031). Como resultado pode-se perceber que a única variável que influenciou a equação discriminante e apresentou uma relação com o alcance da meta do IDEB foi o Gasto por aluno com o transporte. A função discriminante foi formada a partir da estimação Stepwise a qual envolve 10 a inclusão das variáveis independentes na função por meio do seu poder discriminatório (HAIR et. al., 2009). Tabela 5 Teste de igualdade de médias dos grupos dos municípios do RN. Wilk's Lambda F df1 Gasto por aluno com transporte Número de alunos atendidos ensino fundamental IDH PIB ao quadrado Fonte: Resultados da pesquisa (2014) df2 Sig. 0,962 4,77 1 122 0,031 0,994 0,995 0,997 0,698 0,603 0,339 1 1 1 122 122 122 0,405 0,439 0,561 Existem algumas suposições que precisam ser atendidas para aplicação apropriada da análise discriminante, os quais são: normalidade, linearidade, ausência de outliers, ausência de multicolinearidade e homogeneidade nas matrizes variância-covariância (HAIR et. al, 2009). Os pressupostos da normalidade, linearidade e ausência de outliers já foram atendidos conforme os testes apresentados na análise da regressão. O pressuposto da multicolineridade foi atendido, por meio da verificação da matriz de correlação em que observou-se que nenhuma das variáveis apresentam correlação superior a 0,6. Também foi realizado o teste de Box`s M o qual confirma a premissa de igualdade entre as matrizes de covariância. O resultado do teste pode ser visto na tabela 6. Tabela 6 Teste de igualdade das matrizes de variância e covariância Box's M - F Approx. df1 0,008 Resultados0,008 1 Fonte: da pesquisa (2014) Fonte: Resultados da pesquisa, 2014 df2 Sig. 21977,533 0,929 A variável gasto por aluno com transporte tem um coeficiente positivo (0,049), indicando que esta variável tem uma contribuição positiva com a variável dependente categórica. A constante tem um coeficiente negativo (- 1,113). Para cada grupo predefinido pelo estudo, é gerada uma função de classificação denominada de funções lineares de Fischer. A tabela 7 mostra tais coeficientes. É possível perceber que os municípios que dispenderam uma maior parcela de recursos por aluno com transporte escolar tendem a ser classificados no grupo dos municípios que não cumpriram a meta, o que se confirma na análise das médias de cada grupo, já que o gasto por aluno com transporte escolar é, em média, maior nos municípios que não atingiram a meta do IDEB. Tabela 7 Coeficientes da função de classificação Meta do IDEB 5 ano Municípios que não Municípios que cumpriram a meta cumpriram a meta Gasto por aluno com transporte 0,07 0,048 (Constant) -1,737 -1,19 Média de gasto por aluno em Reais 29,78 20,55 Fonte: Resultado da pesquisa (2014) A análise discriminante classifica os casos da amostra nos grupos com base nas variáveis selecionadas. A tabela 8 mostra os resultados desta classificação. Estes resultados mostram que o grupo dos municípios que cumpriram a meta apresenta maior porcentagem das 11 classificações corretas (67,4) que o grupo dos municípios que não cumpriram a meta (50%). Por fim, foi visto que 62,9% dos casos foram classificados corretamente. Tabela 8 Resultados da Classificação Grupos Preditos Municípios que não Municípios que cumpriram a meta cumpriram a meta Grupos Count. Original % Municípios que não cumpriram a meta Municípios que cumpriram a meta Municípios que não cumpriram a meta Municípios que cumpriram a meta Total 16 16 32 30 62 92 50 50 100 32,6 67,4 100 Nota *62,9% dos casos foram corretamente classificados Fonte: Resultado da pesquisa (2014) Para analisar o poder explicativo da função discriminante, foi analisada a própria função discriminante e o coeficiente de correlação canônica. Conforme consta na tabela 9, o Wilks’Lambda da função discriminante é alto. De acordo com Corrar et. al (2009), quanto mais próximo esse valor estiver de zero maior será a capacidade da função de discriminar os elementos entre os grupos. Neste caso, a função é significante, mas não tem um alta capacidade discriminante. Isso também pode ser visto quando analisado o coeficiente de correlação canônica. Segundo Corrar et. al (2009), quando esse número é elevado ao quadrado, é obtida uma medida do poder explicativo da função discriminante. O coeficiente foi de 0,194. Elevando esse número ao quadrado, é possível afirmar que esse modelo explica aproximadamente 3,8% da sua classificação. Sendo assim, foi visto que a variável do Gasto com o Transporte escolar é uma variável discriminadora dos grupos que cumpriram e os que não cumpriram a nota do IDEB. Todavia, esta variável sozinha não faz com que a função discriminante tenha um alto poder preditivo. Tabela 9 Resultados da Função discriminante Test of Function(s) Wilks' Lambda 1 0,962 Fonte: Resultado da pesquisa (2014) Chi-square 4,66 df Sig. 1 0,031 4.5 – Discussão dos resultados Em relação aos padrões utilizados para a avaliação, quando considerado o padrão teórico, ou seja, o decreto que estabeleceu a criação do programa pode-se dizer que o programa conseguiu atingir os objetivos e metas estabelecidas na própria elaboração do PETERN, que é garantir a oferta de transporte para os alunos da educação básica residentes em área rural dos municípios do Rio Grande do Norte. Todavia, ao considerarmos os indicadores utilizados na análise realizada neste trabalho foi verificada uma relação negativa entre os indicadores do programa de transporte escolar e o desempenho dos alunos do ensino fundamental. O IDEB dos anos iniciais e finais apresentou uma relação negativa com o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo programa a qual não era esperada. Esse resultado parece mostrar que apenas a inclusão do aluno da zona rural na escola na zona urbana, propiciada pelo PETERN não causa uma melhoria no desempenho dos estudantes, o 12 que deixa evidente que outros aspectos podem influenciar o desempenho dos alunos. Além disto, pode-se notar que a nota do IDEB dos municípios do Estado ainda é relativamente baixa se comparada com a meta da região Nordeste que é 4,6. 33% dos municípios do Estado tem uma nota nos anos inicias de até 3,4, 58% tem entre 3,5 a 4,4% e uma pequena minoria tem acima de 4,5. Uma possível justificativa para o resultado negativo é o processo de materialização das políticas educacionais que pode interferir no rendimento escolar dos alunos (BARETTO NETO e MENEZES, 2010). Os autores constataram em seu estudo em dois municípios no interior da Bahia que tinham implantado o PNATE, mas que encontraram algumas dificuldades que acabaram contribuindo para o abandono escolar, e concluíram que a gestão deficitária dos programas suplementares ao ensino, em que está incluído o PNATE, juntamente com a falta de investimento em formação e o descaso com a educação influenciaram o rendimento escolar e afetou os resultados do IDEB. Esta questão pode ser um indício de que o processo de materialização do PETERN ainda não esteja adequado para a realidade dos municípios do Rio Grande do Norte. O resultado da análise discriminante mostrou que o gasto com o transporte escolar por aluno do ensino fundamental apresenta-se como uma característica diferenciadora entre os municípios que atingiram a meta do IDEB e dos que não atingiram. Os municípios do Rio Grande do Norte que não cumpriram a meta proposta pelo INEP, em média, receberam valores maiores por aluno para o transporte escolar. Uma possível explicação para o menor desempenho pode ser verificada no estudo de Diaz (2012) que mostrou que o aumento de gastos com educação não garantem automaticamente a melhoria da qualidade de ensino a qual foi mensurada pelo IDEB. Também foi visto que o IDH dos municípios é um importante preditor das notas do IDEB dos anos iniciais e finais, apresentando uma relação positiva, ou seja, quanto maior o IDH dos municípios, maior será a nota do IDEB. Esse resultado corrobora com o estudo de Gouveia et. al (2009) que mostraram que o IDH Médio da cidade estudada tem correlação com o IDEB. Outra questão que deve ser levada em consideração é que o PETERN ainda é recente, teve início em 2010 e os resultados de desempenho dos alunos analisados foram referentes ao ano de 2011, o que mostra um efeito de curto prazo do programa. O caráter recente do programa parece não permitir um grande efeito no desempenho dos alunos, ou a correção profunda de déficits históricos que alguns municípios podem apresentar em relação à qualidade da educação. Assim, é preciso que mais estudos sejam realizados para examinar o impacto da política de transporte escolar para o desenvolvimento dos estudantes originários da zona rural. 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados mostraram que o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo programa está inversamente relacionado com a nota do IDEB dos estudantes das séries iniciais e finais do ensino fundamental, e que um maior investimento em transporte escolar considerado o número de alunos do município é uma característica dos municípios que não atingiram a meta do IDEB. Também foi observado que o IDH apresentou relação positiva com o IDEB dos anos iniciais e finais. Sendo assim, o estudo se mostra importante para avaliar a situação do transporte escolar rural no RN, a pesquisa ainda avança sobre a situação educacional dos estudantes dos municípios do Rio Grande do Norte após a implantação do programa do transporte escolar. Os gestores públicos poderão utilizar as informações disponibilizadas e análises realizadas para 13 refletir e aperfeiçoar as políticas voltadas para os alunos rurais, tendo em mente que o PETERN é apenas uma das soluções para enfrentar as dificuldades da educação rural. As principais limitações da pesquisa consistem no curto espaço de tempo analisado, a investigação foi realizada após um ano da implantação do programa devido à indisponibilidade de dados mais recentes do IDEB. Sendo assim, os resultados consistem em uma observação preliminar dos efeitos gerados. Outra limitação está relacionada a falta de dados de alguns municípios nos bancos de dados consultados, o que acabou reduzindo a amostra estudada. Para estudos futuros sugere-se observar o programa do transporte escolar com um maior recorte temporal. E também a realização de um estudo que inclua novas variáveis ligadas à gestão dos recursos para educação que, conjuntamente com o transporte escolar, seja possível investigar o desempenho dos alunos. Ainda sugere-se a realização de um estudo com todos os envolvidos no programa, a partir de uma análise qualitativa, visando identificar questões mais específicas da realidade dos envolvidos na problemática da educação rural. Por fim sugere-se uma reflexão sobre o IDEB como principal métrica de qualidade do ensino fundamental, já que, dentre suas falhas, ele não observa parte da população que se encontra em idade escolar, no entanto não tem acesso à educação. REFERÊNCIAS ALA-HARJA, Marjukka; HELGASON, Sigurdur. Em direção às melhores práticas de avaliação. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 51, n. 4, p. 5-59, out./dez. 2000. ALVES, Fátima. 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