É POSSÍVEL MODELAGEM MATEMÁTICA COM INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO? Ednilson Sérgio Ramalho de Souza1 Mário José Siqueira da Silva2 Francisco Hermes Santos da Silva3 RESUMO Neste trabalho discutimos a possível relação entre modelagem matemática e informática na educação como conhecimentos inter-relacionados à prática docente, que favorece um ensino - aprendizagem da matemática de qualidade. Vimos também que a informática na educação é mais uma tendência da educação matemática e que a propomos como parte integrante do processo de modelagem matemática. ABSTRACT This paper discussed the possible relationship between mathematics modeling and computer in education, knowledge and inter-related to teaching practice, which favors an education - learning of mathematics in quality. We also saw that the computer education is more a trend of mathematics education and propose that as part of the process of mathematical modeling. 1 Mestrando em Educação em Ciências e Matemáticas do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas – PPGECM – do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica – NPADC da Universidade Federal do Pará- UFPA. 2 Mestrando em Educação em Ciências e Matemáticas do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas – PPGECM – do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica – NPADC da Universidade Federal do Pará- UFPA., Especialista em Informática na Educação e Educação em Ciências e Matemáticas/UNAMA, Atualmente é Professor efetivo da SEMEC/Belém e SEDUC/Pa. 3 Dr. em Educação Matemática – Psicologia da Matemática – pela FE-UNICAMP e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas – PPGECM – do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica – NPADC da Universidade Federal do Pará- UFPA. Palavras-chaves: Educação Matemática, Modelagem Matemática, Mídias Informáticas, Informática na Educação. Keywords: Mathematics Education, Mathematical Modeling, Computer Media, Information Technology in Education. INTRODUÇÃO O objetivo central deste artigo é buscar relações e aplicações matemáticas que envolvam a modelagem matemática e a informática na educação simultaneamente em prol de uma aprendizagem significativa, ou seja, subsidiar os processos de ensino e aprendizagem especificamente da matemática. Então para isso desenvolveremos uma tripla abordagem, onde teceremos um olhar sobre o que representa modelagem matemática e suas possibilidades no ensino de matemática, em seguida discorreremos sobre os pontos relevantes do o uso da informática/computador na educação e por último trataremos as duas anteriores como recursos, onde uma auxilia a outra e as duas o ensino da matemática. Antes de buscarmos respostas a essa intrigante pergunta que é o tema do artigo, temos que primeiro entendê-las como recursos independentes que são no ensino e aprendizagem da matemática, então responder a tal questionamento significa determinar que caminho devemos tomar em busca do mesmo, pois falar de possibilidades na educação é do ponto vista prático ter uma aprendizagem significativa. Então olhemos para a modelagem matemática e informática na educação, não como duas teorias dissociáveis da prática matemática, e sim como elementos construtores do processo de ensino e aprendizagem significativa da mesma. O QUE É MODELAGEM MATEMÁTICA? Antes de responder a essa pergunta, temos que, primeiramente, responder a outras duas: O que é um modelo? E o que é um modelo matemático? MODELO Biembengut e Hein (2003) dizem que a formulação de modelos interpretativos dos fenômenos naturais e sociais é inerente ao ser humano. Os mesmos autores citando Granger (1969) dizem que “o modelo é uma imagem que se forma na mente, no momento em que o espírito racional busca compreender e expressar de forma intuitiva uma sensação, procurando relacioná-la com algo já conhecido, efetuando deduções” (BIEMBENGUT & HEIN, 2003, p. 11). Bassanezi (2004) diz que se cria o modelo quando se procura refletir sobre uma porção da realidade, na tentativa de explicar, de entender ou de agir sobre ela (a realidade). Assim, entendemos por modelo a representação de uma estrutura cognitiva que foi compreendida, desenvolvida e expressa de alguma forma, que possamos relacioná-las com o mundo ao nosso redor, através de predições, explicações, manipulações, formulações. MODELO MATEMÁTICO Se usarmos um conjunto de símbolos e relações matemáticas a fim de traduzir um fenômeno ou problema real, estaremos utilizando um modelo matemático (Biembengut e Hein, 2001), pois, como afirma Bassanezi “um modelo matemático é um conjunto consistente de equações ou estruturas matemáticas, elaborado para corresponder a algum fenômeno – este pode ser físico, biológico, social, psicológico, conceitual ou outro modelo matemático” (BASSANEZI, 2004). Segundo Kneller (1980, apud Pinheiro, 2001) a construção de modelos e teorias utiliza a Matemática de três maneiras: a) Construir um formalismo matemático e posteriormente interpretá-lo fisicamente; b) Buscar entre as funções matemáticas já conhecidas uma que atenda a uma idéia ou hipótese física, o que significa dizer que o cientista tem uma previsão sobre o comportamento de determinado fenômeno e busca uma forma de representar matematicamente seu modelo interpretativo; c) Construir uma função matemática que represente matematicamente o fenômeno físico. Estamos, agora, em condições de responder a pergunta O que é modelagem matemática? De acordo com D’Ambrósio “modelagem é um processo muito rico de encarar situações e culmina com a solução efetiva do problema real e não com a simples resolução formal de um problema artificial” (1986 apud Júnior e Espírito Santo, 2004). Para Biembengut e Hein modelagem matemática é a “arte de expressar por intermédio de linguagem matemática situações problema de nosso meio” (2003, p. 8). Na visão de Bassanezi a modelagem possui duas funções principais: obtenção e validação de modelos “Modelagem matemática é um processo dinâmico utilizado para obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual” (BASSANEZI, 2004, p. 24). No entender de Chaves e Espírito Santo (2004) “Modelagem Matemática é um processo que transforma, uma situação/questão escrita na linguagem corrente e/ou proposta pela realidade, em linguagem simbólica da matemática, fazendo aparecer um modelo matemático que, por ser uma representação significativa do real, se analisado e interpretado segundo as teorias matemáticas, devolve informações interessantes para a realidade que se está questionando”. (p. 579). Desta maneira, entendemos por modelagem matemática o ato de abstrair, da realidade a nossa volta, um modelo matemático representativo desta realidade, que nos permita compreender melhor a relação entre os acontecimentos e o mundo; através de análises, reflexões, deduções, predições. Este modelo deverá ser testado de diferentes maneiras para verificar em que grau corresponde à realidade analisada. Podemos também entendê-la, como toda ação matemática representativa de uma dada realidade, tendo como finalidade, compreender a essência do objeto estudado objetivamente a partir de uma construção pautada em recursos matemáticos, que permita a descrição e inferência de mundo. Ensinar matemática tendo como recurso a modelagem não é algo pronto, que se encontra nas literaturas ou livros didáticos e que será utilizado num dia determinado pelo planejamento do professor, pois não devemos esquecer que para uma determinada realidade tal modelagem poderá representar um processo realmente significativo de aprendizagem para o aluno; porém, em outras, isso poderá não funcionar da mesma forma devido a diferentes variáveis. A modelagem matemática como estratégia poderá fazer sim a diferença no ensino – aprendizagem da matemática de forma significativa, desde que se tenha a consciência necessária das limitações não recorrendo a desenvolvimentos de projetos em que o próprio professor não tenha o total domínio dos passos que irá seguir. Para entendermos claramente e objetivamente sobre o contexto em que a modelagem matemática se enquadra como uma estratégia de ensino, temos que buscar subsídios nas literaturas e autores que tem a pesquisa e aplicação da mesma no ensino da matemática, como não apenas mais uma teoria distante da prática, mas sim também como um recurso, cujo potencial é inesgotável, porém precisando ainda, ser explorado como fonte de auxilio ao ensino e aprendizagem da matemática. A DINÂMICA DO PROCESSO DE MODELAGEM MATEMÁTICA De acordo com Biembengut e Hein (2003) o processo de modelagem matemática pode ser realizado em três fases: Interação, Matematização e Modelo Matemático. a) Interação: É o reconhecimento da situação-problema e a familiarização com o assunto a ser modelado. A situação-problema torna-se cada vez mais clara, à medida que se vai interagindo com os dados. b) Matematização: Formulação do problema (hipótese) e resolução do problema em termos do modelo. É aqui que se dá a “tradução” da situação problema para a linguagem matemática. O objetivo principal deste momento do processo de modelar é chegar a um conjunto de expressões aritméticas, fórmulas, equações algébricas, gráficos, ou representações, ou programa computacional, que levem à solução ou permitam a dedução de uma solução. c) Modelo Matemático: Interpretação da solução e validação do modelo (avaliação). Para concluir o modelo, torna-se necessária uma avaliação para verificar em que nível ele e aproxima da situação-problema representada e, a partir daí, verificar também o grau de confiabilidade na sua utilização. O ensino de matemática por modelos matemáticos tem como fundamentação verificar uma dada realidade, onde se propõe simulações do cotidiano e aplicações que favoreçam um olhar mais apurado da realidade com vista à inserção de idéias implícitas à cidadania. A figura 1 proposta por Biembengut (1999) mostra a dinâmica da modelagem matemática. Fig. 1- Dinâmica da modelagem matemática (BIENBENGUT, 1999) MODELAGEM MATEMÁTICA E SIMULAÇÃO Como fora visto anteriormente, o produto final da dinâmica da modelagem é um modelo, e este poderá ser representado por um gráfico, uma equação algébrica, uma função, etc. Para que estes sejam mais significativos ao aluno é necessário durante toda a construção desse modelo ter como suporte o computador como forma de estruturação para a busca do referido modelo; imaginemos que durante o processo de modelagem obtêm-se vários dados e variáveis distintas que necessitem ser tabuladas, para isso é essencial utilizarmos simultaneamente à dinâmica da modelagem e o computador para essa tabulação. Como afirma Cox (2003), “Dentre as características dos instrumentos em estudo, destacase a plasticidade – os computadores são programáveis, portanto, podem ser úteis a diversos fins: podem servir como máquinas de escrever ou calcular, auxiliar a gerência escolar, armazenar bases de dados para consulta, tutorar estudos, estabelecer malhas de comunicação entre pessoas distantes.” (p. 19) Contando com a singular capacidade plástica que o computador oferece e de posse do modelo já estruturado, é possível dinamizarmos e/ou otimizarmos a aula com o uso de recursos informáticos, podendo estes serem um software ou até mesmo um aplicativo, desde que seja adequado à situação proposta servindo para simularmos, e assim mostrar ao aluno algumas particularidades as quais servirão para melhor compreender a situação-problema em questão. INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Para Almeida (2000, p. 19), informática na educação. “É um novo domínio da ciência que em seu próprio conceito trás embutida a idéia de pluralidade, de inter-relação e de intercâmbio crítico entre saberes e idéias desenvolvidas por diferentes pensadores. Por ser uma concepção que ainda está em fase de desenvolver seus argumentos, quanto mais nos valemos de teorias fundamentadas em visões de homem e de mundo coerentes, melhor será para observarmos e analisarmos diferentes fatos, eventos e fenômenos, com o objetivo de estabelecer relações entre elas”. Na citação anterior, Almeida deixa claro que a informatização é algo que vem permeando todos os ramos da sociedade contemporânea, aproximando os conhecimentos desenvolvidos por esta sociedade, tendo a finalidade de possibilitar, através dessa informatização a socialização dos vários conhecimentos desenvolvidos nos diferentes contextos. Segundo Borges Neto informática na educação “Se caracteriza pelo uso pleno da informática como um instrumento a mais para o professor utilizar em suas aulas. Aqui, o professor especialista deve utilizar os recursos informáticos disponíveis, explorando as potencialidades oferecidas pelo computador e pelos softwares, aproveitando o máximo possível suas capacidades para simular, praticar ou evidenciar situações, geralmente, de impossível apreensão desta maneira por outras mídias. Nesse modelo, a informática exerce o papel de agente colaborador e meio didático na propagação com conhecimento, posta à disposição da educação, através do qual o professor interage com seus alunos na construção do conhecimento objetivado.” (1999, apud PERRIER & ESPIRITO SANTO, 2005, p. 334). Historicamente a evolução da tecnologia teve um crescimento significativo a partir da segunda grande guerra, onde em busca de recursos bélicos mais sofisticados, o homem acabara por desenvolver tecnologias que trouxeram mudanças significativas para a sociedade. A evolução das tecnologias, em especial o computador, vem causando ainda, mudanças radicais na forma de pensar e agir do homem contemporâneo, pois não se concebe mais o mesmo sem essa tecnologia. O mundo globalizado gira em torno de um sistema informatizado, onde a inserção desses aparatos tecnológicos tornou a vida deste homem, de certa forma mais dinâmica, trazendo consigo novas exigências acerca de sua utilização e de seus conhecimentos. “O que é verdadeiro para os indivíduos é ainda mais verdadeiro para as nações. A força competitiva de uma nação no mundo moderno é diretamente proporcional a sua capacidade de aprendizagem, ou seja, uma combinação das capacidades de aprendizagem dos indivíduos e das instituições da sociedade”(PAPERT,1994, p. 5) A informática (computador) está cada vez, mais presente na vida cotidiana das pessoas como algo que vem trazendo mudanças significativas em todos os setores da sociedade em especial a educação. No sistema educacional, uma das primeiras aplicações pedagógicas do computador fora implantada como uma máquina de ensinar skineriana, ou seja, dentro de uma abordagem totalmente instrucionista4, porém fora com Seymour Papert que a mesma ganhou uma nova conotação e impulso, onde com base no processo de descrição – execução – reflexão – depuração, passou-se a ter uma abordagem construcionista5. A partir das idéias de Papert, começou-se a buscar novas formas de ter o computador como uma ferramenta pedagógica, que possibilitasse realmente um ensino-aprendizagem mais dinâmico e capaz de tornar o aluno um individuo, com efetiva participação na construção do próprio conhecimento, porém essa inserção na escola não ocorreu como se esperava, pois a grande resistência dos professores a tornou difícil. Os argumentos diversos contra a utilização dos computadores eram do tipo: “Se meu aluno utilizar a calculadora, como ele aprenderá a fazer conta?” “Se o estudante do ensino médio aperta uma tecla do computador e o gráfico da função já aparece, como ele conseguirá, de fato, aprender a traçá-lo?” (BORBA & PENTEADO, 2001, p. 12). Há também aqueles que vêem a inserção da informática na educação como algo que possa realmente transformar as rígidas concepções de parte de alguns educadores, tornando-os mais flexíveis e estimulados às mudanças e ao aperfeiçoamento, que permitirá ao mesmo, através da sua prática, fazer educação de forma mais interessante no sentido de poder contribuir significativamente com o processo de ensino-aprendizagem. A inserção da informática trás novas significações ao professor, pois muitos advogam o uso do computador devido à motivação e o dinamismo que o mesmo poderá trazer às aulas. Na chegada dos computadores à educação, uma dúvida assombrou grande parte dos professores, que se questionavam se com a chegada desses novos atores os mesmos seriam substituídos, como acontecera, por exemplo, nos bancos com os caixas que foram substituídos pelo caixa eletrônico. Cremos que hoje esta pergunta está respondida, pois não se pode educar uma pessoa, sem a figura humana do professor, porque no processo educacional estão envolvidas varias situações implícitas como: afetividade, reciprocidade, valores 4 O computador pode ser usado na educação como máquina de ensinar ou como máquina para ser ensinada. O uso do computador como máquina de ensinar consiste na informatização dos métodos de ensino tradicionais. Do ponto de vista pedagógico esse é o paradigma instrucionista. 5 Construcionismo é uma reconstrução teórica a partir do construtivismo piagetiano, feita por Seymour Papert (1994) pessoais, respeito, percepção a um olhar social, etc,, coisas que jamais o computador poderá fazer ou perceber. Por isso faz grande diferença no contexto educacional a figura do professor, mas é necessário que este tenha também prédisposição às mudanças com relação às tecnológicas educacionais. Sabemos que inserir os computadores na escola não é apenas construir um espaço diferenciado, são necessárias mudanças em toda a estrutura escolar passando pelo corpo técnico e direção que precisam entender a importância dessa inserção e do aparato para o desenvolvimento cognitivo do aluno, porém deve-se começar com investimentos na qualificação do corpo docente, pois é a partir desses, que tal recurso ganha significado. O professor precisa romper as amarras do comodismo, da espera interminável pelas decisões administrativas e políticas, e avançar em seus propósitos de construção e fazeres em nome da educação escolar. O professor precisa ousar. (COX, 2003, p. 114) Dando este primeiro passo, começaremos a pensar de que forma poderemos utilizar o recurso computador em prol do processo de ensino aprendizagem. Este pensar não seria apenas no momento do tão criticado planejamento e sim em encontros constantes entre o corpo docente e o técnico para se ter parâmetro de como tal recurso está contribuindo com o processo educativo. Percebemos que cada vez mais, o uso dos computadores na educação tem-se afastado do objetivo principal que é ser um recurso pedagógico para as necessidades da disciplina do professor, o que não tem acontecido nas escolas, pois vemos o mesmo sendo utilizado para atividades das secretarias escolares e também como disciplina escolar com direito a horário estabelecido por turma, pois se dessa forma o for, o recurso tecnológico perde sua finalidade principal que é auxiliar o professor no processo de ensino-aprendizagem. O fato de as turmas terem horários previamente determinados para utilizarem o laboratório de informática, nos deixa claro que, não há relação entre o que o professor de sala de aula ensina e o que o professor do laboratório de informática desenvolve, na verdade são dois conjuntos disjuntos, pois as atividades da sala de informática não partem das necessidades das aulas das disciplinas ministradas pelos professores. Em contra partida, há também a resistência e obstáculos por parte do professor que não se habilita a modificar suas aulas e isso acontece porque a escola não tem sequer autonomia para gerenciar o desenvolvimento das atividades dos laboratórios, pois se tivessem poderiam desenvolver programas de forma a amparar a realidade específica da própria escola e não de ser extensão dos NIED’S (Núcleos de informática educacional - Municípios) e NTE’S (Núcleo de Tecnologias educacionais - Estados) que tem objetivos amplos que às vezes pode não ter nada haver com certas realidades escolares. O sentimento partilhado por professores é de que aceitar o novo traria possibilidades desconhecidas, as quais. (BORBA & PENTEADO, 2001, P64) chamam de ‘zona de risco’, pois aspectos como incerteza e imprevisibilidade, geradas num ambiente informatizado, fazem com que os professores desistam quando percebem essa tal zona, porém é difícil negarmos que potencialmente esta zona poderá estimular, provocar e impulsionar o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, mesmo que este caminho, seja árduo para o professor, pois seria mais simples ao mesmo utilizar as tecnologias informáticas para as velhas rotinas sem a preocupação de ter que utilizá-las como um recurso educacional. As tecnologias chegaram à escola, mas não houve uma consolidação maciça da sua aplicação em detrimento de uma ação significativa. Claro que vários projetos que foram desenvolvidos, deram bons frutos, mas está claro que o professor ainda não criou uma identidade que lhe permita fazer da informatização uma poderosa ferramenta de ensino – aprendizagem. O sistema educacional parece tão indiferente às tecnologias que “Imagine um grupo de viajantes do tempo de um século anterior, entre eles um grupo de cirurgiões e outro de professores primários, cada qual ansioso para ver o quanto as coisas mudaram em sua profissão a cem anos ou mais do futuro. Imagine o espanto de os cirurgiões entrando numa sala de operações de um hospital moderno. (...) Os professores viajantes do tempo responderiam de uma forma muito diferente a uma sala de aula de primário moderna. Eles poderiam sentir-se intrigados com relação a alguns poucos objetos estranhos. Poderiam perceber que algumas técnicas padrão mudaram - e provavelmente discordariam entre si quanto se as mudanças que observaram foram para melhor ou para pior, mas perceberiam plenamente a finalidade da maior parte do que se estava tentando fazer e poderiam, com bastante facilidade, assumir a classe”. (PAPERT, 1994, p. 9). Essa colocação de Papert deixa claro que, algumas áreas passaram por mudanças extraordinárias como a medicina, telecomunicação, etc., onde talvez não seja mais possível o seu desenvolvimento sem recursos da tecnologia. Já a escola é um exemplo notadamente de área que não sofrera tantas mudanças, mas que ainda assim, tem nas tecnologias, uma aliada indispensável na busca da construção significativa de conhecimentos. INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO COMO TENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA BORBA & PENTEADO (2001), afirmam que “a informática se constituiu em uma das principais tendências da Educação Matemática”. Então como se pensar nos dias atuais em uma matemática dissociada do uso de recursos da informática? É contraditório que professores de matemática resistam a algo que poderá tornar suas aulas mais dinâmicas e produtivas permitindo ao aluno maior tempo para discutir os processos matemáticos envolvidos em cálculos com algoritmos imensos e complexos. “Usualmente a ênfase para o ensino das funções se dá via álgebra. Assim, é comum encontrarmos em livros didáticos um grande destaque para a expressão analítica de uma função e quase nada para os aspectos gráficos ou tabulares. Tal destaque muitas vezes está ligado à própria mídia utilizada. Sabemos que é difícil a geração de diversos gráficos num ambiente em que predomina o uso de lápis e papel e, então, faz sentido se buscar um novo recurso em prol de tais representações” (BORBA & PENTEADO, 2001, p.29). Percebe-se então que a utilização de recursos tecnológicos como o computador, no ensino – aprendizagem da matemática nos permite desenvolver representações gráficas que são melhores exploradas por este recurso, permitindo ao aluno refletir sobre o comportamento de toda estrutura desenvolvida. Imagine que um professor de matemática esteja mostrando gráficos da função quadrática, o quadro branco ou outro qualquer deverá ser com certeza a primeira fonte de demonstração desse professor (aula expositiva) para o aluno, porém para que este aluno perceba claramente o comportamento do gráfico dessa função através da variação dos seus coeficientes é necessário, que o professor construa vários gráficos no referido quadro (lousa) o que tornaria inviável uma discussão a respeito de tal comportamento do gráfico dessa função, pois com o pouco tempo disponível, não conseguiria sequer desenhá-los no quadro. Neste caso, a utilização de um recurso tecnológico seria um auxiliador com grande potencial nessa atividade, além de ser um elemento motivador, podendo atrair maior atenção por parte dos alunos, deixando claro que a ferramenta computador poderá sim, ser um importante aliado na construção de novas possibilidades de conhecimento. MODELAGEM MATEMÁTICA E INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Vimos que o uso de recursos computacionais é imprescindível ao se fazer a validação de um modelo matemático. Neste enfoque, o uso dos computadores revela-se um ponto-chave para se trabalhar com a modelagem em sala de aula. A escolha da tecnologia informática, em especial o computador, deverá ser utilizada, baseada em alguns fatores como: praticidade, exeqüibilidade, acessibilidade. A utilização de um recurso informático deve possibilitar ao aluno, compreender as estruturas matemáticas de maneira prática e dinâmica, isto é, utilizando-a efetivamente; deve também executar as tarefas essenciais à simulação de modelos matemáticos com o objetivo de que através do recurso, o aluno consiga perceber e interagir com a realidade à sua volta. Essas simulações, dependendo de qual estrutura estivermos abordando, poderão ser viabilizadas através de softwares como, por exemplo, o FORTRAN, PASCAL, SLAM, GPSS e outros (Silva, 2006), ou aplicativos como Cabri Geométrico, Modellus, GeoGebra, Word, Excel, PowerPoint, Movie Maker, etc. De acordo com SILVA (2006) para implementarmos o uso de modelos matemáticos de simulações através do uso do computador é importante termos claramente as seguintes recomendações: “i) Reconhecer o problema: identificar todos os fatores e aspectos relevantes na formulação do modelo. ii) Formular o problema: relacionar, selecionar, analisar os fatos e os objetivos de estudo. iii) Obter e analisar dados do sistema: atribuir valores às variáveis de entrada. iv) Formular e desenvolver o modelo: representação gráfica (fluxogramas) e “tradução” para relações lógicas e matemáticas. v) Verificar e validar o modelo: comparação dos dados gerados em relação aos dados reais (verificar até que ponto o modelo é aceitável). vi) Documentar o modelo: elaboração de relatórios que contemplem todos os procedimentos realizados. vii) Definir tipos de experimentos: condições para realizar o experimento (confiabilidade). viii) Estabelecer as condições de uso: aplicação do modelo”(SILVA, 2006, pp 6-7). Percebe-se, então, a grande utilidade que a informática oferece para consolidar todo o processo da modelagem matemática. É principalmente na fase da validação do modelo que o professor poderá lançar mão de todo o instrumental tecnológico, ou melhor, das tecnologias da informação: calculadoras científicas, calculadoras gráficas e especialmente o computador. Fig 2. Modelo de simulação para empréstimo. 6 Todos estes recursos podem ser utilizados para mostrar ao discente, simulações que lhe garantam melhor compreensão daquilo que o modelo representa em relação à realidade analisada; isto é, através da variação dos parâmetros de entrada, o aluno verifica qual alteração ocorrerá nos parâmetros de saída e, assim, poderá fazer relações com a situação real em foco. Por exemplo, se após um procedimento de modelagem conseguiu-se o seguinte modelo M = VE x (1+P)T que representa o total a pagar (montante) de um certo empréstimo bancário, pode-se fazer uma simulação deste modelo matemático através de um modelo informático próprio do aplicativo Excel, onde o 6 Modelo desenvolvido pelos autores a partir do aplicativo Excel. professor estimulará o aluno a manipular o aplicativo passando este modelo para o Excel e também a atribuir valores na tabela, onde o mesmo verificará qual o valor a ser pago por este empréstimo facilitando ainda determinar a parcela se for o caso, como mostra a tabela da figura 2. Na situação descrita pela tabela da fig. 2 é possibilitado ao aluno perceber que, através de um modelo matemático de simulação, pode-se fazer estimativas ou previsões dos valores a pagar (montante), determinando também nesta atividade desenvolvida com o aplicativo Excel as idéias de JUROS e PARCELAS, pois é natural nas pessoas quando fazem um empréstimo, perguntar o número de parcelas e quanto irá pagar de juros. Essa idéia permite ao aluno exercer melhor controle e fiscalização do serviço (empréstimo) que possa estar sendo oferecido, a ele, ou alguém da família, tendo como conseqüência uma visão mais acurada da realidade a sua volta constituindo assim a sua cidadania. Borba e Penteado (2001) fazem o relato de uma experiência em Educação Matemática onde foi utilizada uma calculadora gráfica como tecnologia em sala de aula. Na primeira experiência foi utilizado, além da calculadora, um equipamento (um sensor) que, acoplado a ela, permite medir a distância desse sensor a um alvo qualquer. Solicitou-se a dois estudantes que movimentassem o sensor e imaginassem uma representação gráfica para esse movimento. Depois os estudantes teriam que comparar o gráfico da calculadora com relação ao gráfico imaginado por eles. Este experimento mostrou que é relevante coordenar: movimento do próprio corpo, a representação cartesiana desse movimento e a tecnologia envolvida. Numa outra experiência foi realizado um estudo do gráfico da função y = ax2 + bx + c por uma turma de Biologia. O uso da calculadora gráfica permitiu perceber como os diferentes coeficientes de polinômios influenciam os gráficos de funções, ou seja, que alteração ocorre no gráfico quando um determinado coeficiente é alterado. Finalmente, os autores citados relatam um exemplo envolvendo modelagem. O tema escolhido foi germinação de sementes de Melão, e o grupo se propôs a explicar qual a interferência da temperatura em relação ao percentual de sementes que germinam. Os dados coletados são os mostrados na tabela 1. A partir desses dados, os alunos chegaram ao seguinte modelo matemático: Y = 0,15 (x – 27)2 + 98. Tabela1. Germinação de sementes (BORBA & PENTEADO, 2001, P.40) Temperatura °C Germinação % 20 90,72 25 97,43 30 95,76 35 90,76 Com o uso da calculadora gráfica, foi possível representar graficamente o modelo encontrado, pois sem ela, fatalmente os alunos teriam grandes dificuldades de construção deste gráfico, o que não permitiria aos estudantes interpretarem o fenômeno descrito. germinação y = 0,15 (x - 27)2 + 98 100 95 90 85 20 25 30 35 teperatura °C Figura 3 - germinação x temperatura. (adaptado no Excel) Segundo Borba e Penteado (2001), “O trabalho com a modelagem e com o enfoque experimental sugere que há pedagogias que se harmonizam com as mídias informáticas de modo a aproveitar as vantagens de suas potencialidades. Essas vantagens podem ser vistas como sendo a possibilidade de experimentar, de visualizar e de coordenar de forma dinâmica as representações algébricas, tabulares, gráficas e movimentos do próprio corpo.” (BORBA & PENTEADO, 2001,p. 42). Deste modo, as tecnologias informáticas surgem como recursos pedagógicos que auxiliam os processos de modelagem matemática dinamizandoos em prol dos possíveis resultados. Este auxílio verifica-se principalmente, mas não exclusivamente, quando há a necessidade de se validar tal modelo matemático, ou seja, de experimentá-lo para que se possa verificar a sua fidelidade em relação ao objeto de estudo modelado. CONSIDERAÇÕS FINAIS É importante entendermos que a informática não é a panacéia dos problemas do ensino-aprendizagem da matemática, pois o computador por si só não poderá educar ninguém, pois “os novos ‘modos de aprender’ são ainda uma incógnita para a maioria dos professores” (PERRIAULT, 1996 apud BELLONI, 2005, p28). Porém cremos que a partir de tudo que fora exposto, onde destacamos em determinadas situações pontos positivos e negativos acerca da utilização do computador na educação e em especial no ensino da matemática, ficando realmente claro que essa tendência da educação matemática que é a informática na educação tende realmente a trazer contribuições significativas para o ensino da matemática podendo também ser aplicada à modelagem matemática, pois o fato de a informática se valer de estruturas matemáticas como a lógica, algoritmos e etc., já nos permite compreender que as possibilidades de termos nos softwares e aplicativos informáticos o uso de simulações a partir de argumentos matemáticos nos deixa claro que poderá facilitar tal aprendizagem. Podemos dizer também que o uso da modelagem matemática como metodologia pedagógica entra em perfeita consonância com as mídias informáticas, uma vez que é através destas que se pode simular a realidade a nossa volta. Tabulando dados, fazendo gráficos, experimentando, o pesquisador estará utilizando a dinâmica necessária ao processo da modelagem. Por outro lado, o fato das mídias pertencerem ao cotidiano do aluno favorece com que este desenvolva atividades frente ao computador, não de forma construcionista (apenas aluno X computador), mas sim mediada pelo professor. Temos que ser críticos ao ponto de entendermos que apenas ilustrações perfeitas e coloridas na tela do computador não representam garantia de sucesso para o ensino da matemática, pois entendemos que este sucesso depende mais do professor, que ora representa o facilitador das relações que serão desenvolvidas e discutidas entre ele e os alunos, que do computador, permitindo neste caso uma via de mão dupla, não centralizando as ações na sala de aula. É importante tomarmos todo o cuidado de não transformarmos a inserção dos novos recursos como inovações derivo - repetitivas7, a fim de se tornarem obsoletas para o sistema de educação. 7 Entendemos como um novo recurso, porem sendo utilizado para fazer a mesma atividade que um “velho recurso” fazia. Um exemplo apenas para ilustrar a idéia: A utilização do computador somente para digitação de textos é algo que pode ser feito por uma máquina de datilografia, onde fica clara a diferença de qualidade. O título do artigo é na verdade uma pergunta É POSSÍVEL MODELAGEM MATEMÁTICA COM INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO? As idéias do pesquisador e matemático Seymour Papert foram fundamentais na discussão da inserção do computador na sala de aula, pois através do construcionismo, buscava o ensino - aprendizagem numa relação aluno – computador. Se olharmos a modelagem como estratégia de ensino, veremos que na grande maioria de situações em que se tem a modelagem, é possível utilizar a informática, ora como recurso, ora como forma de permitir ao aluno perceber melhor os acontecimentos, agora se é significativo o que o aluno vive, só é possível responder quando tivermos essas duas práticas juntas. No delinear do artigo é possível percebermos grandes semelhanças entre os dois saberes abordados com relação a zona de risco, citada por (BORBA & PENTEADO, 2001, P. 64), onde ao invadir o desconhecido, o professor se vê num total desconforto e receio de levar adiante o que pretende ensinar aos alunos e essa mesma idéia percebemos também no ensino da matemática por modelagem, onde o professor por não prever o que poderá acontecer acaba buscando caminhos já conhecidos. . Podemos tomar como uma situação onde fica claro a zona de risco, por exemplo um professor de matemática ensinando função exponencial e desenvolvendo dentro desta a redução de tempo de vida de elementos químicos. Se este docente estiver trabalhando apenas os cálculos do tempo de vida de cada elemento, não precisará nada mais do que alguns simples dados para chegar no resultado esperado, porém se o mesmo estiver trabalhando este mesmo assunto tendo a modelagem como estratégia, terá que se aprofundar em alguns estudos químicos que fogem a sua “competência”, ou seja o professor estará invadindo uma área desconhecida para si (Zona de Risco), precisando também buscar respostas. Neste momento há uma construção coletiva onde não só o aluno aprende com o professor, mas sim todos aprendem coletivamente, construindo algo que será melhor explorado por todos, pois assim teremos um envolvimento da classe na busca do conhecimento matemático inserido em outros contextos. O grande número de Softwares relacionados ao ensino da matemática, mesmo não sendo específico da modelagem, por si só já representam um modelo pronto, com vista a objetivos educacionais, então não temos como dissociar informática na educação e modelagem matemática, pois as duas podem caminhar juntas na construção do conhecimento. REFERÊNCIAS BASSANEZI, Rodney C. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática: uma nova estratégia. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2004. BELLONI, Maria L. O que é Mídia – Educação. Polêmicas do nosso tempo.2 ed. Campinas, SP: Autores associados, 2005. BIEMBENGUT, Maria. S; Hein, Nelson. Modelagem matemática no ensino. São Paulo: Contexto, 2003. BORBA, Marcelo de Carvalho; Penteado, Miriam G. Informática e Educação Matemática. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. COX, kenia k. Informática na educação escolar: polêmicas do nosso tempo. São Paulo: Autores Associados, 2003. PAPERT, Seymou. A máquina das crianças: Repensando a escola na era da informática. Porto Alegre: Artes médicas, 1994 SILVA, Luiz. C. Modelagem e Simulação. Boletim técnico da Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, n 2, jun. 2006. SOARES, Narciso.das Neves ;Espírito Santo, Adilson, O. A modelagem Matemática na prática de ensino de matemática: Uma alternativa de ensino – aprendizagem. In: Anais do VII congresso Norte/Nordeste de Educação em Ciências e matemáticas: Conhecimento complexo e multiculturalidade, Belém, 8 a 11 de dez. 2004.