O PAPEL DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PREVENÇÃO AO
SUICÍDIO
Thais Pacheco dos Santos1 - UEPG
Lara Simone Messias Floriano 2 - UEPG
Suellen Vienscoski Skupien3 - UEPG
Ana Paula Xavier Ravelli4 - UEPG
Grupo de Trabalho – Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O suicídio é um dano fatal feito contra si próprio de forma consciente e intencional. Os
fatores de risco para o suicídio incluem problemas mentais, físicos, emocionais, abuso
de drogas e álcool, doenças crônicas, violência e mudanças na vida do indivíduo como
desemprego e divórcio, sendo que, um único fator não é suficiente para explicar o
porquê do suicídio. Em 2013, a 66ª Assembléia Mundial de Saúde adotou o Plano de
Ação em Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde, tendo como um dos objetivos
a redução das taxas de suicídio no mundo em 10%, até 2020. Objetivou-se neste estudo
identificar o suicídio e tentativas de suicídio na área de atuação do 4º Comando
Regional da Polícia Militar do Paraná entre 2012 a 2014 e propor medidas de prevenção às
tentativas de suicídio através da educação em saúde. Foi utilizada a abordagem
metodológica quantitativa, descritiva e documental em 78 boletins de ocorrência. Os
resultados apontaram 33 casos de suicídio e 45 tentativas, sendo o enforcamento o método
mais letal, enquanto que armas brancas estiveram presentes em casos não resultantes em óbito
e os indicadores sociodemográficos prevalentes foram adultos do sexo masculino. Concluiuse que com o aumento dos óbitos/internamentos por lesões auto-provocadas, cabe ao
enfermeiro obter o conhecimento e capacitar sua equipe para identificar grupos vulneráveis ao
comportamento suicida, detectando quais pessoas podem estar contemplando o suicídio para
prestar atendimento adequado, fornecendo suporte emocional, além de prestar à comunidade
educação em saúde mental, dependência química e prevenção ao suicídio, como funcionários
de escolas, bombeiros, militares, líderes religiosos e como no caso deste estudo, policiais.
1
Acadêmica do Curso de Bacharelado em Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Estadual de Ponta
Grossa. E-mail: [email protected].
2
Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela UFSC, Professora Adjunta do curso de Bacharelado em Enfermagem
e Saúde Pública da UEPG. E-mail: [email protected].
3
Enfermeira, Mestre em Tecnologia em Saúde pela PUCPR, Professora do curso de Bacharelado em
Enfermagem e Saúde Pública da UEPG. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela UFSC, Professora Adjunta do curso de Bacharelado em
Enfermagem e Saúde Pública da UEPG. E-mail: [email protected].
ISSN 2176-1396
11598
Palavras-chave: Suicídio. Educação em saúde. Enfermagem. Prevenção primária.
Introdução
Por ser um ato extremamente complexo que envolve diversos fatores, o suicídio é
difícil de ser definido e gera várias divergências, atraindo a atenção de médicos, filósofos,
sociólogos, teólogos e artistas ao longo dos séculos (WERLANG; BOTEGA, 2004;
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006). Seu conceito mais abrangente diz que o
suicídio é um dano fatal feito contra si próprio de forma consciente e intencional, mesmo que
de forma ambígua e vaga (FERREIRA, 2014).
Os principais fatores de risco para o suicídio incluem problemas mentais, físicos,
emocionais, abuso de drogas e álcool, doenças crônicas, violência e grandes mudanças na
vida do indivíduo como desemprego e divórcio, sendo que um único fator não é suficiente
para explicar o porquê do suicídio, motivo que faz deste fenômeno algo tão complexo de ser
entendido e explicado. Muitos atos suicidas são uma resposta impulsiva a um grande estresse
emocional (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006; FERREIRA, 2014;
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014).
O suicídio é considerado um problema de saúde pública, já que, anualmente quase um
milhão de pessoas morrem dessa forma em todo o mundo e esse número pode ser ainda
maior, considerando que por ser um ato ilegal em muitos países, acaba sendo pouco
reportado. No entanto, o suicídio não é priorizado devido ao grande tabu e estigma que gira
em torno deste tema, o que faz com que muitas pessoas que apresentam comportamento
suicida acabem não procurando ajuda, ou seja, deixam de lado. Sabe-se também que muitos
serviços de saúde falham em oferecer uma ajuda efetiva para aqueles que procuram
tratamento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
Do ponto de vista econômico, as tentativas de suicídio geram muitos custos, já que o
indivíduo precisa procurar os serviços de saúde para o tratamento de suas injúrias e assim
demanda recursos públicos que poderiam ser aplicados de forma diferente, assim como pode
sofrer sequelas a longo prazo e gerar perda de capital humano (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE, 2014). Além disso, o suicídio afeta os familiares e outras pessoas que eram
próximas da vítima, gerando reações como culpa, isolamento social, vergonha, raiva, luto e
desestruturação familiar, que vão prejudicar a estabilidade emocional desses indivíduos
(FIGUEIREDO ET AL, 2012).
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Em maio de 2013, a 66ª Assembléia Mundial de Saúde adotou o primeiro Plano de
Ação em Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo que a prevenção do
suicídio faz parte deste plano. O objetivo é reduzir as taxas de suicídio em todo mundo em
10% até 2020 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013). No entanto, por mais que
o suicídio possa ser prevenido, a cada 40 segundos uma pessoa morre por esta causa em
algum lugar do mundo, e neste período um número maior tenta cometê-lo (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2014). Estima-se que para cada caso de suicídio existam também
dez tentativas que necessitam de atendimento médico devido à gravidade, e que o número de
tentativas é quarenta vezes mais frequente do que o suicídio consumado (SANTOS;
BERTOLETE; WANG, 2005).
Mediante esse contexto verifica-se que esta temática é de grande relevância, já que o
suicídio causa prejuízos de caráter econômico e emocional, e por isso necessita receber mais
atenção do governo e outras instituições, assim como da população, para que medidas de
prevenção eficazes sejam implantadas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
Conhecer os métodos mais utilizados para o suicídio é importante para a formulação
das medidas de prevenção, como restringir o acesso das pessoas a certos medicamentos,
produtos tóxicos, armas, entre outros (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014). Por
este motivo, foi realizado este estudo com o objetivo de identificar os suicídios e tentativas
de suicídio cometidos nas áreas de atuação do 4º Comando Regional da Polícia Militar
no período de 2012 a 2014, bem como, os métodos mais utilizados e assim propor aos
enfermeiros medidas de prevenção as tentativas de suicídio associadas à educação em saúde
de profissionais que estão em constante contato com a população (área da educação e
segurança pública).
Método
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, descritiva, utilizando como
referência dados presentes nos boletins de ocorrência do 4º Comando Regional da Polícia
Militar para ter uma amostra dos casos de suicídio e tentativas de suicídio, ocorridos no
período e nos municípios a seguir descritos.
O estudo ocorreu no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2014 e baseou-se na
análise da literatura para compreender os aspectos, conceitos, motivos e tipos de suicídio,
fazendo uma revisão integrativa nos boletins de ocorrência (BO) para identificar os suicídios
11600
e tentativas de suicídio cometidos nas áreas de atuação do 4º Comando Regional da
Polícia Militar, bem como os métodos utilizados para o suicídio.
Os BO foram escolhidos como referência por serem uma fonte confiável, já que é
um documento oficial, com fé pública e que tem como escopo salvaguardar e registrar
fatos, podendo dar início aos processos judiciais de esfera criminosa ou civil.
O BO é um registro oficial ordenado e minucioso mais imediato após a
ocorrência de um fato, produzido cotidianamente pelos militares, onde estão descritos os
dados gerais dos indivíduos e materiais envolvidos no ocorrido (TRISTÃO, 2007).
Os dados coletados nos BO foram: sexo, idade, estado civil, escolaridade,
profissão, método utilizado para o suicídio/tentativa de suicídio, cidade e ano em que
ocorreu. Em relação a idade, foram considerados adolescentes os indivíduos de 12 a 18
anos (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, Lei n. 8.069/1990),
adultos os de 19 a 59 anos e idosos aqueles com 60 anos ou mais (BRASIL, ESTATUTO DO
IDOSO, Lei nº 10.741/2003).
Os critérios de inclusão foram os suicídios consumados ou não nas cidades de
Arapoti, Sengés, Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro, Carambeí, Ponta Grossa, Palmeira e
Porto Amazonas no período de 2012 a 2014. Os critérios de exclusão foram os casos
ocorridos fora do período e região estudados, causa de morte inconc lusiva ou não
considerada suicídio.
Para a análise dos dados foi utilizado o Programa Stata (Stata Corporation. 4905
Lakeway Drive. College Station, Texas 77845 USA).
Resultados
Nos anos de 2012 a 2014 foram encontrados 78 boletins de ocorrência (BO)
envolvendo o descritor “suicídio”, sendo que ao avaliar a breve descrição elaborada pelo
policial após atender a ocorrência foi verificado que ocorreram 33 casos de suicídio
consumado (óbito) e 45 tentativas de suicídio.
Em 2012, houve 11 suicídios e 19 tentativas de suicídio, em 2013 foram 11 suicídios e
13 tentativas e em 2014 também aconteceram 11 suicídios e 13 tentativas.
Dos 33 suicídios, 22 ocorreram na cidade de Ponta Grossa, 3 em Castro, 3 em
Carambeí, 2 em Arapoti, 1 em Sengés, 1 em Piraí do Sul e 1 em Jaguariaíva. Já das 45
tentativas de suicídio, 30 aconteceram em Ponta Grossa, 6 em Castro, 2 em Arapoti, 2 em
Piraí do Sul, 2 em Carambeí, 1 em Jaguariaíva, 1 em Sengés e 1 em Palmeira.
11601
No suicídio consumado os fatores sociodemográficos que prevaleceram foram
indivíduos adultos (66,67%) do sexo masculino (75,76%). O método mais utilizado foi
enforcamento (66,67%), seguido de arma de fogo (18,19%), intoxicação medicamentosa
(3,04%) e arma branca (3,04%), sendo que em 9,10% dos BO foi ignorado o método
utilizado.
Nas tentativas de suicídio, os fatores sociodemográficos prevalentes foram indivíduos
do sexo masculino (57,78%), sendo que não foi possível determinar a faixa etária com
exatidão devido a ausência do dado “idade” em 16 BO. O método mais utilizado foi arma
branca (40%), seguido de intoxicação medicamentosa (13,33%) e queda (13,33%), arma de
fogo (6,67%) e enforcamento (6,67%), atropelamento (4,44%), afogamento (2,22%), sendo
que em 13,33 % dos BO foi ignorado o método utilizado.
As informações escolaridade, estado civil e profissão não foram informadas em muitos
dos BO, fato que dificultou a análise dos dados, e portanto, não serão inclusos nos resultados
por não representarem uma estatística fidedigna. A ausência destas informações em alguns
BO se deve ao fato de que a polícia nem sempre consegue encontrar um parente próximo da
vítima para fornecer os dados de que precisam, e em certos casos a pessoa não sabe informar.
Discussão
Conhecer os principais fatores de risco de suicídio tem importância crucial para definir
intervenções apropriadas para preveni-lo. São muitos os fatores que influenciam no
comportamento suicida, sendo que uma única causa ou estressor não é suficiente para explicálo. Na maioria das vezes, múltiplos fatores vão se acumulando e assim aumentando a
vulnerabilidade do indivíduo a desenvolver esse tipo de comportamento (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2014).
O risco de comportamento suicida pode ser descrito através de indicadores
sociodemográficos, de natureza clínica e fatores genéticos. Existem os fatores predisponentes
(sexo, idade, tentativas prévias, transtornos mentais, estado civil, entre outros) que vão
preparar o terreno para o surgimento deste comportamento, e os fatores precipitantes ou
estressores (separação conjugal, perda do emprego, rejeição social, perturbações familiares,
entre outros), que desencadeiam a ideação/tentativa de suicídio (BERTOLETE; SANTOS;
BOTEGA, 2010; MIRANDA, 2014; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006).
A presença de algum transtorno mental é o fator de risco que está mais fortemente
associado ao suicídio, independente da faixa etária, sendo que os principais são: transtornos
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de humor (depressão e transtorno bipolar), dependência de álcool e outras substâncias,
esquizofrenia e transtornos de personalidade como borderline (MIRANDA, 2014;
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006).
Os aspectos psicológicos que influenciam no comportamento suicida envolvem um
estado psíquico em que o indivíduo apresenta uma dor emocional insuportável, angústia e
desespero por não conseguir minimizar o sofrimento pelo qual está passando. Pode ser
observada uma tríade de sentimentos, conhecida com os 3 “D” (desesperança, desamparo e
desespero). Indivíduos com uma personalidade impulsiva e que apresentam pouca
flexibilidade para lidar com adversidades em sua vida são parte de um grupo de risco para
suicídio, já que possuem o pensamento restrito e portanto, tem dificuldade para enxergar
outras opções além do suicídio. As tentativas prévias de suicídio também são um fator de
risco a ser considerado, já que na tentativa sucessiva, em geral, são utilizados métodos mais
letais e que apresentam maior gravidade clínica. Já os aspectos biológicos estão relacionados
a diminuição de certos neurotransmissores, como a serotonina, que é responsável pela
regulação do humor (FERREIRA, 2014).
Entre os aspectos sociodemográficos mais influentes estão idade e gênero. No que diz
respeito à idade, o suicídio é mais comum na faixa etária que vai do fim da adolescência ao
início da vida adulta e após os 70 anos. O índice maior na adolescência se deve ao fato de que
a maioria dos transtornos psiquiátricos, como a depressão, tem início neste período. Já o
grande número de suicídios entre idosos ocorre devido ao isolamento social, fácil acesso a
medicamentos, menor resistência do organismo (o que diminui as chances de recuperação
após tentar o suicídio) e luto. O gênero está presente na lista de fatores de risco porque o
suicídio é maior no sexo masculino, já que homens utilizam métodos mais letais, procuram
menos ajuda para problemas de ordem emocional/psicológica, são mais impulsivos,
apresentam índice maior de abuso de álcool e drogas associado à depressão e a necessidade
imposta pela sociedade de ser o provedor da família (estresse e desemprego sendo fatores
desencadeantes) (FERREIRA, 2014; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014).
Para definir estratégias de prevenção eficientes é preciso conhecer os números de
suicídios e tentativas de suicídio, os métodos mais utilizados e os fatores sociodemográficos
mais relevantes da região estudada para que seja possível identificar a parcela da população
mais vulnerável (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
As estratégias de prevenção podem ser divididas de três formas: universal, seletiva e
indicada. As estratégias de prevenção universal tem o objetivo de atingir toda a população
11603
para diminuir o risco de suicídios através da melhora do acesso a ajuda e fortalecendo fatores
protetores como apoio social e alterações no ambiente físico. A estratégia de prevenção
seletiva é voltada para os grupos mais vulneráveis (baseado em características como sexo e
idade). Por fim, as estratégias de prevenção indicadas visam indivíduos específicos, que
apresentam sinais de suicídio potencial ou que até mesmo já realizaram tentativas anteriores
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014).
Antes de estabelecer as estratégias de prevenção é preciso definir os recursos humanos
e financeiros necessários e verificar quais estão realmente disponíveis para uso. O capital
humano requerido envolve principalmente profissionais das áreas de saúde mental e atenção
primária, indivíduos responsáveis por desenvolver e implementar políticas de saúde mental,
conselheiros encontrados nos ambientes de trabalho/escolas/presídios e os trabalhadores de
serviços de emergência como SAMU, SIATE/bombeiros e, como no caso deste estudo,
polícia (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014; FERREIRA, 2014).
Um dos maiores obstáculos na formulação e efetividade de políticas para a prevenção
do suicídio é o grande estigma que gira em torno deste tema, já que faz com que muitas
pessoas evitem procurar ajuda e pode afetar a notificação apropriada dos casos de suicídio
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
Melhorar o entendimento que a população tem a respeito da gravidade e riscos do
comportamento suicida é de crucial importância para a prevenção da consumação deste ato, já
que medidas de conscientização tem a capacidade de gerar comprometimento e sensibilização
em relação a este tema tão controverso (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
A maioria das propostas preventivas baseia-se na detecção dos fatores de risco, sem
levar em conta a promoção dos fatores protetores, já que há uma escassez de dados referentes
a eles (BERTOLETE; SANTOS; BOTEGA, 2010). Alguns fatores como segurança em geral,
acesso a boa alimentação e serviços de saúde, períodos apropriados de descanso, vínculos
afetivos, integração com um grupo/comunidade, religiosidade, ter um companheiro fixo e
filhos ainda dependentes podem não só contribuir para a consolidação da saúde física e
mental, mas também reduzir o impacto de fatores estressores ou doenças mentais
(FERREIRA, 2014; BERTOLETE; SANTOS; BOTEGA, 2010).
A abordagem adequada do paciente é essencial para detectar sinais de risco para
suicídio. Em geral, perguntas do tipo “Como você se sente ultimamente?”, “Existem muitos
problemas na sua vida? O que você pensa em fazer para resolvê-los?” abre espaço para o
indivíduo falar sobre si mesmo e desta forma é possível perceber se a pessoa demonstra estar
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cansada de viver, parece querer fugir ou achar a morte atraente. O melhor método para
descobrir se o paciente tem pensamentos suicidas é perguntando para ele. O mito de que falar
sobre suicídio pode ser interpretado como uma forma de encorajamento deve ser quebrado, já
que falar abertamente sobre este assunto pode fazer com que o sujeito que esteja planejando
suicídio perceba que existem outras opções ou tenha mais tempo para repensar no que
pretende fazer, além de proporcionar a sensação de alívio por poder falar abertamente sobre
questões com as quais estão se debatendo (BRASIL, 2006).
A melhor maneira de se tratar sobre a ideação suicida é chegar ao tópico
gradualmente. Tentar estabelecer um vínculo que garanta a colaboração e confiança do
indivíduo desde o início da abordagem é fundamental, pois muitas vezes ele se encontra em
um estado hostil, enfraquecido e pouco colaborativo. Para que a comunicação seja eficiente é
preciso ouvir atentamente e com calma, demonstrar empatia e respeito, focalizar nos
sentimentos da pessoa e mostrar sua preocupação, cuidado e afeição. Também é necessário
evitar certas atitudes que podem ser prejudiciais ao paciente, como interromper
frequentemente, demonstrar choque, fazer o problema parecer trivial, emitir julgamentos
sobre o que é certo/errado e dizer simplesmente que “tudo vai ficar bem” (BRASIL, 2006).
Determinar o risco de suicídio que o indivíduo apresenta é fundamental para realizar
as intervenções adequadas. Para quantificar a probabilidade deste fato ocorrer deve-se
descobrir se a pessoa tem um plano definido para cometer suicídio, se dispõe dos meios
necessários para concretizar a ação e se já fixou uma data (BRASIL, 2006).
Conclusão
Com o aumento dos óbitos por suicídio e internamentos por lesões auto-provocadas,
torna-se cada vez mais necessária a formulação de políticas para a prevenção do suicídio e
promoção da saúde mental. Ao enfermeiro cabe a função de reconhecer aqueles indivíduos
que apresentam fatores de risco para o comportamento suicida e fornecer o suporte emocional
de que ele necessita, tomando as providências cabíveis para que o paciente também receba
atenção de profissionais especializados e devidamente capacitados para ajudá-lo.
Durante a coleta de dados foi visível a importância da intervenção da polícia nas
ocorrências de tentativas de suicídio para impedir o óbito ou agravos para a saúde do sujeito
abordado. Portanto, promover uma maior integração e colaboração entre os agentes da
segurança pública e da área saúde, de modo que ambos possam trocar experiências e
11605
conhecimentos pode ser de importância crucial para que juntos possam educar a população
sobre as formas de prevenir o suicídio e suas tentativas.
Fornecer educação em saúde para a população, especialmente para os professores e
seus alunos é de crucial relevância, já que desta forma é possível desmistificar muitas ideias
erradas sobre o ato suicida e estimular a busca pelo conhecimento e promoção da saúde
mental. Além disso, durante o período escolar muitos fatores como bullying, desestruturação
familiar e estresse podem influenciar no desenvolvimento do comportamento suicida, o que
faz com que seja de suma importância que os educadores saibam reconhecer logo no início os
sinais de ideação suicida, tornando possível a realização de medidas cabíveis para a prevenção
do suicídio.
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