SAÚDE MENTAL EM CONTEXTOS DE CRISE ECONÓMICA. O CASO DE
PORTUGAL.
A saúde mental resulta de um conjunto de fatores biológicos, psicológicos, sociais, e de
contexto. A evidência empírica sugere que aspetos do ambiente podem influenciar a
saúde mental para além das características individuais.
As crises económicas estão associadas ao aumento das doenças mentais. Portugal é um
dos países europeus com maior prevalência de doença mental, sendo o terceiro país
onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos. Este estudo procura evidências
relativas ao impacto das características do local de residência na saúde e na doença
mental, particularmente durante uma crise social e económica, avaliando o efeito do
contexto nas várias componentes dependentes do capital social e outros “determinantes”
ambientais e territoriais, com impactes na saúde mental das populações.
Foi desenvolvido um estudo transversal ecológico que utiliza dados de mortalidade por
suicídio e lesão autoinfligida (CID9: E950-E959; CID10: X60-X84), para os períodos
de 1989-1993, 1999-2003 e 2007-2011, e um índice de privação sociomaterial (PSM)
(taxa de analfabetismo, percentagem de trabalhadores manuais e alojamentos de
residência habitual sem retrete em 1991, 2001 e 2011) à escala do concelho (n=278).
Tentando ultrapassar a variabilidade dos pequenos números na estimação da Razão
Padronizada de Mortalidade (RPM), foi construído um Modelo Hierárquico Bayesiano,
proposto por Besag, York e Mollié, para o cálculo da RPM suavizada (RPMs). O Risco
Relativo (RR) de mortalidade por PSM, introduzido como contínuo, foi também
calculado, com um intervalo de confiança a 95% (95%IC). Analisou-se, adicionalmente,
a existência de um padrão urbano-rural.
A mortalidade por suicídio e lesão autoinfligida apresenta um padrão geográfico de
oposição norte-sul e acentuadamente rural. Entre 1989-93 e 2007-2011 registou-se um
aumento da mortalidade, mais acelerado nas áreas rurais, e uma diminuição da RPMs
nos territórios urbanos.
Nos períodos em análise verifica-se que a privação sociomaterial aumenta o RR de
RPMs por suicídio, identificando-se uma associação significativamente superior a 1
(RR: 1,08; 95%IC: 1,05-1,10) em 2007-2011, sugerindo que os efeitos da crise poderão
vir a aumentar o risco de suicídio e lesão autoinfligida em Portugal.
Palavras-Chave: Saúde Mental, Suicídio, Lesão Autoinfligida, Crise Económica,
Privação Sociomaterial, Portugal.
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