UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EM SAÚDE MARISA SILVA DE OLIVEIRA O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: COMPREENSÕES E REFLEXÕES DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANA Londrina 2014 2 MARISA SILVA DE OLIVEIRA O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: COMPREENSÕES E REFLEXÕES DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Especialização em Gestão em Saúde da Universidade Federal de São Paulo, como Requisito Parcial para obtenção do Grau de Especialista em Gestão em Saúde, sob a Orientação da Profa. Dra. Márcia Mello Costa De Liberal e do Prof. Ms. Valter Palmieri Júnior. Londrina 2014 3 O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: CONCEPÇÕES E REFLEXÕES DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANA MENTAL HEALTH CARE IN PRIMARY HEALTH: CONCEPTS AND REFLECTIONS OF HEALTH PROFESSIONALS IN A FAMILY OF MUNICIPALITY OF WEST REGION STATE OF PARANA Autora: Marisa Silva de Oliveira E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo desse estudo foi apresentar as concepções dos profissionais da Atenção Básica sobre a Atenção Primária em Saúde e o cuidado em saúde mental, buscando compreender as ações realizadas, as dificuldades e sugestões de melhorias. Foram analisadas 21 entrevistas, sendo 3 de cada categoria: enfermeiro, médico, psicólogo, farmacêutico, educador físico, fisioterapeuta e nutricionista. A investigação teve abordagem qualitativa, os dados foram coletados (no período de maio a junho de 2014) através de entrevistas semiestruturadas e individuais que após foram submetidas à análise de conteúdo. A pesquisa ocorreu em um município localizado na região norte do estado do Paraná. Do total de entrevistados predominou o sexo feminino com 71,4%, o tempo médio de atuação no cargo de 4,4 anos e 66,6% possuem curso de Especialização em Saúde Pública. Os profissionais compreendem o significado de Atenção Primária, entretanto apresentam insegurança para realizar o cuidado em saúde mental. Os sintomas e as doenças destacadas foram as depressões e as ansiedades, sendo 61,90% classificados como leves – moderados. A alta medicalização foi motivo de preocupação dos profissionais. As principais dificuldades foram: desorganização da rede, problemas no processo de trabalho e qualificação profissional insuficiente. A organização da rede, o fortalecimento do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e a co-responsabilização de outros níveis de atenção evidenciaram como sugestões de melhora. O olhar dos profissionais é interessante para a análise da situação de saúde e pode colaborar com a gestão no diagnóstico e implementação das ações de saúde mental. Palavras-chave: Atenção Primária em Saúde, Cuidados em Saúde Mental e Saúde da Família. 4 ABSTRACT The objective of this study was to present the views of primary care professionals on Primary Health and mental health care, seeking to understand the actions taken, the difficulties and suggestions for improvements. 21 interviews were analyzed, three from each category: nurse, doctor, psychologist, pharmacist, physical educator, physiotherapist and nutritionist. The investigation took a qualitative approach, data were collected (in the period May-June 2014) through semi-structured individual interviews after that were submitted to content analysis. The research took place in a town in the northern region of the state of Parana. Of the total respondents, most were female with 71.4%, the average operating time in office 4.4 years and 66.6% have the specialization in Public Health. Professionals understand the meaning of Primary Care, however insecurity have to perform mental health care. Symptoms and diseases were highlighted depressions and anxieties, being 61.90% classified as mild - moderate. The high medicalization was a concern of professionals. The main difficulties were: disorganization of network problems in the labor and insufficient qualification process. The organization of the network, the strengthening of the Nuclei of Support to Family Health and the co-responsibility of other levels of care as evidenced improvement suggestions. The look of the professionals is interesting to analyze the health situation and can collaborate with management in diagnosis and implementation of mental health activities. Key words: Primary Healthcare, Mental health, Family health. 5 INTRODUÇÃO A Atenção Primária à Saúde é uma política pública de saúde que foi muito discutida nos países da Europa e da América Latina no século XX. A conferência de Alma Ata (1978) definiu que a APS seria a principal porta de entrada do sistema de saúde com capacidade para resolver 80% dos problemas de saúde da população. (NEGRI, 2002) Nas ultimas décadas a APS tem estado cada vez mais presente nas reformas de sistemas de serviços de saúde de vários países com vistas a superação do modelo de saúde biomédico, hospitalocêntrico e focado nas ações curativas. Há três principais enfoques de APS: a APS como sendo o primeiro nível do sistema de saúde, a APS como atenção seletiva e a APS “ampliada” (OPAS, 2011). Esses três enfoques estão presentes em vários países e, às vezes, dois ou mais desses enfoques aparecem mesclados (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006). O entendimento da APS como atenção seletiva refere-se a um programa limitado que oferta um conjunto de tecnologias simples e de baixo custo destinado a populações e regiões pobres. O entendimento da APS como um nível primário do sistema refere-se à concepção de porta de entrada do sistema e possibilidade de maior resolução dos problemas de saúde mais comuns (OPAS, 2011). O entendimento de APS como APS “ampliada”, alusão a definição de Alma-Atá, refere-se ao primeiro nível de contato, cobertura universal com base na necessidade, ação intersetorial pela saúde, tecnologia adequada e custoefetividade em relação aos recursos disponíveis (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006). Atualmente, diversos documentos da Organização Pan-Americana de Saúde e do Ministério da Saúde colocam a APS como integrante e ordenadora das redes de atenção à saúde. Dessa forma, busca-se a superação do entendimento de APS como atenção seletiva e de apenas como primeiro nível de atenção (OPAS, 2011). A Estratégia Saúde da Família (ESF), variação brasileira da APS, é considerada a principal modalidade de organização dos serviços da Atenção 6 Básica (termo correspondente à Atenção Primária à Saúde), que tem como princípios: a atuação no território delimitado, diagnóstico situacional, enfrentamento dos problemas de saúde de maneira pactuada com a comunidade, cuidado integral dos indivíduos e das famílias ao longo do tempo, integração com instituições e organizações sociais e construção da cidadania (BRASIL, 2012). Neste sentido, conceber o cuidado em saúde mental na APS é algo bastante estratégico pela facilidade de acesso das equipes aos usuários e viceversa, bem como pelo acesso das pessoas ao sistema. Por estarem no território de vida das pessoas, os profissionais que atuam na ESF estão percebendo cada vez mais o aumento das demandas de saúde mental entre os usuários. Isso tem sido notado devido ao vínculo de confiança desses profissionais com a população e a comunidade (BRASIL, 2013). A atuação em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) como membro do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) que integra a APS do município estudado, proporcionou a observação atenta dos casos de saúde mental que chegavam até a equipe, bem como o quanto essas situações mobilizavam diversos sentimentos (medo, dúvida, raiva, pena e curiosidade) e resistências nos profissionais de diferentes categorias de saúde. Essa vivência motivou o estudo sobre as concepções e compreensões dos profissionais acerca do conceito de APS e das questões de saúde mental. Nesta compreendida as demandas e classificação dos casos, as ações realizadas para atender as necessidades, as dificuldades em acolher adequadamente e as sugestões de melhoria na atenção em saúde mental. Para isso, foram eleitos profissionais integrantes das equipes de saúde da família e das equipes do NASF. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa realizado com profissionais que atuam na Atenção Primária em Saúde (APS) integrantes da Estratégia Saúde da Família (ESF) e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). A pesquisa ocorreu em um município localizado na região norte do estado do Paraná que apresenta população superior a 400.000/hab. A 7 pedido da Autarquia Municipal de Saúde (AMS) o nome do município foi omitido no presente trabalho. A Atenção Primária em Saúde (APS) é desenvolvida pela AMS nas 6 regiões do município (norte, sul, centro, leste, oeste e rural) compondo o total de 52 UBS: sendo 40 na zona urbana e 12 na rural. A cobertura da APS é de 52,17% enquanto que a cobertura da ESF é de 50,61% (Plano Municipal de Saúde, 2014). Em 2008 foram implantadas as equipes do NASF, atualmente são 10 equipes constituídas por cinco categorias profissionais de diferentes áreas da saúde (nutrição, fisioterapia, farmácia, educação física e psicologia) que atuam junto as equipes de SF em seus respectivos territórios (Plano Municipal de Saúde, 2014). Fizeram parte do estudo profissionais atuantes na APS que concordaram em ser entrevistados em dias e horários previamente combinados com a entrevistadora, bem como profissionais que estavam disponíveis nos dias em que a pesquisadora se encontrava nos serviços de saúde para a coleta de dados. A maioria das entrevistas ocorreu nas UBSs no horário de trabalho dos profissionais, apenas 05 entrevistas foram realizadas fora de horário de trabalho, a critério de escolha do entrevistado, em locais tais como estabelecimentos comerciais e residências. Foi realizado levantamento bibliográfico em artigos científicos, textos do Ministério da Saúde e documentos oficiais do município. Três testes pilotos validaram o questionário utilizado nas entrevistas. Foram entrevistados 21 profissionais atuantes na função há pelo menos um ano e que possuíssem ensino superior completo. Desses, foram inclusos três de cada categoria utilizando-se como critério a técnica da saturação, a saber: enfermeiro, médico, psicólogo, farmacêutico, educador físico, fisioterapeuta e nutricionista. A investigação ocorreu através de entrevistas semiestruturadas e individuais realizadas pela pesquisadora. As coletas de dados foram realizadas no período de maio a junho de 2014, após parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que segue as orientações da Res. CNS 466/12 8 (parecer de aprovação número 618.125 / 2014) e também após autorização da Secretaria Municipal de Saúde do município onde a pesquisa foi realizada. Os entrevistados foram orientados sobre o tema da pesquisa, seus objetivos e procedimentos, com sua concordância em participar da mesma, o profissional assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todas as entrevistas foram realizadas em local apropriado, gravadas, transcritas e analisadas. A análise dos dados obtidos foi feita por meio da análise de conteúdo, que segundo Bardin (2004, p. 78), se caracteriza por: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. A análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está oculto pelas palavras, de forma a trabalhá-las, bem como as suas significações, buscando outras realidades através das mensagens. CARACTERIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS Com relação ao sexo, do total de profissionais da saúde entrevistados (21), predominou o sexo feminino com 71,4% (15) em relação ao masculino com 28,6% (6). Com relação à idade, a mínima foi de 25 anos e a máxima de 49 anos, sendo a média de 32 anos. Sobre a formação profissional, todos os entrevistados referiram possuir curso de pós-graduação na área da saúde. Dentre os cursos de pós-graduação observou-se que 66,6% se referiam a cursos de Especialização em Saúde Pública (71,4% desses também possuem também cursos em outras áreas), 23,8% a especialização na modalidade de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, 4,8% a Mestrado e 4,8% a Aprimoramento. Sobre o cargo de atuação na Atenção Primária, 71,4% trabalham no Núcleo de Apoio à Saúde da Família, enquanto que 28,6% trabalham nas equipes 9 de Saúde da Família. Acerca do tempo de atuação no cargo, o período máximo foi de 12 anos e o mínimo de 01 ano, sendo a média de 4,4 anos. O vínculo de trabalho predominante foi 100% de estatutário, sendo que a maioria desses ingressou por meio de concurso público ocorrido no final de 2013. RESULTADOS E DISCUSSÕES Todos os profissionais convidados a participar da pesquisa colaboraram de forma atenciosa e espontânea. A análise das entrevistas possibilitou que elencasse as seguintes categorias de análise: Significado de Atenção Primária à Saúde, Classificação dos casos de Saúde Mental, Demandas de Saúde Mental na APS, Ações de Saúde Mental realizadas na APS e Dificuldades e Sugestões. No decorrer do texto, algumas falas estão reproduzidas para exemplificar conhecimentos ou opiniões dos participantes. Estas citações serão identificadas pela letra P, acompanhada por números que correspondem aos entrevistados. a) Significado de Atenção Primária em Saúde: A autora Barbara Starfield (2002) apresenta um conceito de APS de cunho abrangente que considera quatro atributos considerados diretos: porta de entrada preferencial do sistema de saúde, integração com demais níveis de complexidade, coordenação do cuidado pela atenção primária e continuidade da atenção. E ainda mais dois atributos indiretos: cuidado centrado na família e orientação para a comunidade. Os documentos oficiais brasileiros tais como a PNAB de 2006 e 2012 utilizam um conceito de APS baseado neste apresentado pela autora (SUMAR; FAUSTO, 2014). Para a produção do cuidado é fundamental que os profissionais da saúde tenham conhecimento sobre o nível de atenção a qual o serviço de saúde em que trabalha está inserido, considerando que há práticas especificas para cada nível. 10 Nesse sentido todos os entrevistados referiram conhecer o significado de APS, em suas falas é possível identificar alguns atributos da APS. As seguintes falas se referem ao atributo da APS como “porta de entrada” que implica a acessibilidade e o uso de serviços para cada novo problema ou novo episódio de um problema para os quais se procura atenção à saúde (OPAS, 2011 apud Starfield). “Atenção Primária são os primeiros cuidados que uma pessoa precisa né que está mais próximo da casa dela, mais próximo da realidade da pessoa até antes dos problemas surgirem né...” (P2) “A APS pra mim é o contato inicial dos pacientes com os profissionais da saúde, é o início da inserção deles no sistema de saúde / na rede de saúde.” (P7) Também, foram mencionados os atributos de “cuidado focado na família” e “orientação comunitária”, o primeiro visa considerar a família como sujeito da atenção, a necessidade de desenvolver formas de abordagem familiar e o conhecimento integral de seus problemas de saúde; já o segundo se refere ao reconhecimento das necessidades das famílias considerando o contexto físico, econômico, social para o enfrentamento dos determinantes sociais da saúde (OPAS,2011 apud Starfield). Esses atributos podem ser observados na seguinte fala: “Atenção primária é aquela que esta envolvida com o cotidiano das pessoas né... que conhece as famílias, às vezes conhece até o jeito de cada um, conhece o dia a dia mesmo, então ela sabe o lugar que elas frequentam as atividades que fazem, a história de vida e a atenção que precisam também.” (P3) Foi citada tanto a função essencial da APS de “resolubilidade” que esta relacionada a necessidade cognitiva e tecnológica para solucionar 80% dos problemas de sua população, quanto a função de “comunicação” que se refere a atuação da APS como centro de comunicação das redes de atenção à saúde, a ordenação dos fluxos das pessoas, dos produtos e das informações entre as diferentes unidades das redes (OPAS,2011 apud Starfield). Isso pode ser observado na seguinte fala: 11 “Atenção Primária é a porta de acesso de todo usuário é aonde tudo deveria começar, é aonde 80% de todos problemas de saúde deveriam ser resolvidos, é aonde eu tenho o maior vínculo entre saúde e comunidade, é aonde acontecem todas as ligações das redes de serviço.” (P4) Não foram observadas dificuldades para os entrevistados em responder o significado de APS. Entretanto, quando questionados sobre quais serviços de saúde que compõe a APS, alguns entrevistados se mostraram inseguros e confusos para responder. A maioria dos entrevistados citou corretamente a Unidade Básica de Saúde (UBS) e a Unidade de Saúda da Família (USF) como sendo os serviços integrantes da APS. Do total de entrevistados 33,3% citou erroneamente como resposta: a equipe de saúde bucal, a endemias, o núcleo de apoio à saúde da família (NASF), o consultório de rua, o centro de referência da assistência social (CRAS), o centro de referência especializada da assistência social (CREAS), o centro de atenção psicossocial (CAPS), a escola e os serviços de urgência e emergência. As equipes de saúde bucal, NASF e consultório de rua fazem parte da APS, mas não se constituem como serviços com unidades físicas independentes; o setor de endemias faz parte da vigilância sanitária; o CAPS compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); o CRAS e o CREAS fazem parte da Política Nacional de Assistência Social; a escola faz parte do Ministério da Educação; e os serviços de urgência e emergência compõem pontos de atenção que se relacionam com a APS, mas que não integram a Atenção Básica. A mais recente edição da PNAB (2012) reforça o compromisso da APS como coordenadora do cuidado nas Redes de Saúde, articula a APS às ações intersetoriais e de Promoção da Saúde, bem como, reconhece diversos formatos de equipes para responder as necessidades de diferentes populações e realidades brasileiras. Talvez, essa ampla gama de possibilidades de conformação e atuação da APS tenha provocado dúvidas em alguns profissionais em relacionar qual o serviço é essencialmente integrante da APS. 12 b) Classificação dos Casos de Saúde Mental Foi solicitado que os entrevistados respondessem, de forma subjetiva, qual a classificação que fariam para os casos de saúde mental observados em sua prática cotidianas nos serviços de saúde. Como resultado observou-se que 61,90% dos entrevistados classificaram como sendo de leves – moderados, 23,81% como sendo leves, 9,52% não souberam classificar e 4,76% como sendo graves. Essas classificações estão respectivamente representadas nas seguintes falas: “Os casos que chegam para mim nos grupos são leves – moderados. Os leves chegam um pouco tristes, cabisbaixos, não conversam muito, [...] mas aí depois de dois meses de aula já estão comunicando, melhora o autocuidado da saúde, e começam a se valorizar mais. Os casos moderados tem algum problema de convívio /relacionamento, nesse sentido é aquele aluno que você tem que dá um pouco mais de atenção, ele sempre fica para conversar com você no final da aula, ele sempre tem alguma dor [...]” (P5) “[...] Acredito que a grande maioria de fato é de problemas leves, poderiam ser resolvidos através da atuação da atenção primária senão uma boa parcela deles pelo menos.”(P6) “Eu não saberia classificar, eu acho que isso é uma falha do sistema, eu acho que o mesmo que eu sinto aqui os nossos funcionários também sentiriam em classificar de qual ordem que é isso porque é algo que eu não percebo visualmente.” (P4) “Eu acredito que seriam de casos graves. Por não ter o profissional habilitado e suficiente dentro das unidades na APS para acompanhar e dar mecanismos de ajuda. Então os pacientes que começam leves se tornam moderados e estes se tornam graves porque simplesmente não tem tratamento adequado, dessa forma há uma grande medicalização.” (P11) A pesquisa apontou que predominam os casos leves – moderados seguidos pelos casos leves. Apesar de 9,52% dos entrevistados terem referido não saber classificar, uma porcentagem maior dos profissionais referiram se sentir inseguros para fazer essa tal classificação. As práticas de saúde mental são atribuições de todos os profissionais de saúde, o cuidado em saúde mental não é uma prática descolada das outras ações desenvolvidas na APS por isso, 13 independente de ser ou não profissional especialista da saúde mental é importante se refletir sobre as ações realizadas cotidianamente e saber classificar adequadamente a gravidade para direcionar o usuário ao acompanhamento adequado a sua necessidade. Nesse quesito a formação e a capacitação profissional são necessárias. (Cadernos AB Saúde Mental, 2013) Muitos profissionais da saúde tiveram na sua formação a ênfase em práticas focadas nos sintomas físicos e nas doenças. Isso impacta em profissionais inseguros frente a sintomas subjetivos (não observáveis) e com uma alta expectativa em resolver ou curar todos os sintomas do paciente. Entretanto, na saúde mental não é possível corresponder a essa expectativa e o profissional precisa compreender que o cuidado é processual. (BRASIL, 2013) O alto uso de medicamentos psicofármacos e a opção por essa terapia muitas vezes como o único recurso terapêutico disponível na APS apareceu como preocupação bastante significativa nos profissionais como podemos observar nas seguintes falas: “Um dos problemas que a gente identifica é que mesmo o problema leve é tratado com medicação, aí acaba gerando um transtorno de fluxo na APS [...] Acaba sendo alta a taxa de encaminhamentos para serviços especializados desses casos que às vezes não seriam necessários, poderiam ser priorizados os casos realmente mais graves.” (P6) “O que a gente observa é uma supermedicalização de casos leves. Uma alternativa são os fitoterápicos só que aí não adianta substituir um medicamento pelo outro, o paciente precisa ter um acompanhamento e entender como se comportar diante da situação porque senão a pessoa acaba ficando dependente [...]”. (P10) “[...] a população está muito medicalizada nessas questões de depressão e ansiedade [...], a pessoa não pode passar mais pelo sofrimento, se perdeu alguém na família claro que vai ficar triste, mas não pode ficar triste tem que dar um medicamento para a pessoa.” (P14) “[...] eu não posso negar a receita para um paciente que vai surtar ou vai correr o risco de ocorrer uma convulsão e morrer simplesmente porque eu não acredito na medicação ou ache que o tratamento está errado. Então a gente dá continuidade ao erro. O paciente que chega e diz para mim que toma o medicamento há 14 20 anos para dormir, não é agora que eu vou tirar, infelizmente ele vai ter que continuar tomando.” (P19) Essas situações relatadas acabam compondo um processo de medicalização social que vai transformando os sentimentos, os sofrimentos, as vivências e as dores que até então eram acolhidas e cuidadas no ambiente familiar e comunitário, em necessidades médicas. É preciso que haja um olhar ampliado para os fatores de adoecimentos e que se considere os aspectos subjetivos e sociais no processo saúde-doença. A ESF propõe a superação da tradição medicalizante na saúde e a transformação de toda queixa em síndrome, transtorno ou doença de caráter biológico descontextualizando-se a singularidade do usuário e do território onde ele vive. (TESSER; POLI NETO; CAMPOS, 2010) Os casos de transtornos mentais comuns se configuram como problemas de menor gravidade tais como somatizações (queixas físicas sem explicação médica) e sintomas mistos de ansiedade e depressão associados a problemas psicossociais. Quando essas situações são acompanhadas pelas equipes, individualmente ou nos grupos das UBSs observa-se melhora significativa dos sintomas, a promoção da saúde e a autonomia no sujeito para que possa buscar por respostas aos seus problemas. (BRASIL, 2013) Mas quando há a confirmação de um transtorno de ansiedade, depressão ou somatização crônica, bem como o comprometimento funcional com prejuízos nas diversas esferas da vida da pessoa, é necessário se considerar o tratamento com medicamento. Em todas as situações, o importante é ter um olhar integral para o sujeito com queixa de saúde mental e se disponibilizar várias alternativas terapêuticas, sem recorrer somente a um único recurso terapêutico e sem fragmentar o sujeito, pois isso acaba por restringir as oportunidades de superação do paciente. (DULCE, 2011) É importante que o usuário possa ser acompanhado pela equipe da Saúde da Família e ter o acompanhamento da medicação, nos casos necessários, bem como ter a possibilidade de escutar a si mesmo, ser ouvido e perceber diferentes formas de significar os seu sofrimento. (BRASIL, 2013) 15 c) Demandas de Saúde Mental na APS Dentre as demandas de saúde mental os profissionais destacaram: as doenças psicossomáticas, as renovações de receitas, as depressões, as ansiedades, as violências, os problemas relacionados ao uso abusivo e dependência de drogas, os transtornos comportamentais nas crianças e as reações emocionais às dificuldades da vida. Os sintomas e as doenças mais citadas entre os entrevistados foram as depressões e as ansiedades como expresso na seguinte fala: “Eu vejo muitos transtornos relacionados a ansiedade e também relacionados a depressão. Eu acho que em torno de 90% do casos...daí tem outras situações relacionadas a violência, ao adoecimento devido ao uso de drogas que é muito forte nesse bairro especifico.” (P2) Segundo Lancetti e Amarante (2006), o acolhimento é um dispositivo fundamental nas práticas de saúde que se dá através do modo de se escutar as pessoas. Nesse sentido, evidenciou-se nas entrevistas uma preocupação de alguns profissionais com a qualidade e com a produção do acolhimento realizado pelos profissionais da APS, isso por conta da dificuldade de muitos desses em identificar as necessidades, avaliar corretamente os casos de saúde mental, bem como de direcionar ao usuário o acompanhamento necessário. “O que me preocupa exatamente são as definições equivocadas. Eu vejo muitas pessoas que são diagnosticas como esquizofrênicas, e na verdade são muito mais crises conversivas de outra ordem do que uma esquizofrenia clássica por exemplo. Então eu tenho a impressão que a equipe da atenção primária tem dificuldade de diagnosticar e ter uma linha de cuidado para esses transtornos [...]” (P1) Por se tratar de uma área de conhecimento complexa em que convergem práticas interdisciplinares, transdisciplinares e intersetoriais, houve entrevistados que relataram dificuldades para delimitar o próprio campo da saúde mental na APS. (LANCETTI; AMARANTE, 2006) 16 “Então... eu já tenho até uma dificuldade aí do que é saúde mental.” (P3) Ficou destacado na pesquisa que muitos profissionais se acomodam e se desresponsabilizam pelo acolhimento das queixas de saúde mental. Isso evidencia a necessidade de se reforçar na prática a co-resposabilização que é uma característica imprescindível para a saúde mental. A co-responsabilização é importante para a efetividade das ações e para a criação de vínculos entre profissionais e usuários. (LANCETTI; AMARANTE, 2006) “Acho que falta um pouco da responsabilização em relação ao paciente, fazer um acolhimento necessário e rico, uma escuta qualificada. Desde quando chega o usuário na UBS eles já tem isso de “ahh o paciente tá com esse problema, eu vou encaminhar para o psicólogo”, [...] talvez haja falta de capacitação ou uma falta de interesse também de quem está na APS em aprender também a lidar com esses transtornos leves.” (P6) Muitas vezes por acomodação, desinteresse e insegurança do profissional, os casos de saúde mental são desenfreadamente encaminhados para os psicólogos do NASF e para os serviços especializados tais como o CAPS, sem a devida utilização de critérios. “[...] eu percebo que a Psicologia e as outras categorias do NASF ainda são vistos como profissionais especialistas, como um ambulatório com a possibilidade de ter um especialista mais próximo da unidade.” (P13) “Então eu vejo que a dificuldade é pessoal assim de as pessoas entenderem que eles também fazem saúde mental indiretamente né... mesmo que não seja psicólogo o fato de você ouvir uma pessoa não te torna psicólogo... é uma ferramenta... é uma coisa do dia-a-dia”. (P8) O NASF é orientado pelo referencial teórico-metodológico do apoio matricial e se constitui como retaguarda especializada para as equipes da ESF. As dimensões clínico-assistencial e técnico-pedagógico são os suportes oferecidos pelo NASF que atua no mesmo espaço físico das equipes da ESF. (BRASIL, 2014) É necessária a discussão acerca dos critérios de coresponsabilidade e encaminhamentos para que os serviços da APS não se 17 transformem em “ambulatórios especializados” e para que o usuário se sinta amparado na rede de cuidado. d) Ações de Saúde Mental realizadas na APS Os casos de saúde mental que se apresentam nos serviços de saúde da APS são oriundos da procura espontânea e da demanda programada do próprio serviço, da rede assistencial das áreas da saúde, da educação, da assistência social e da justiça. Historicamente as formas de acolhimento dessas demandas foram através de práticas focadas na doença e centralizadas no atendimento médico. Apesar de ainda persistir essa visão as entrevistas mostraram que houve uma ampliação das práticas que agora também focam as ações preventivas e de promoção. O acolhimento e o atendimento também tem sido realizados por diferentes profissionais através de diferentes atividades na APS. “Eu faço grupos, atendimentos individuais, avaliações né e quando eu percebo assim que o paciente tem uma queixa que vai muito além da causa física eu tento dar um olhar mais cuidadoso.” (P7) “[...] a gente faz algumas ações nas escolas de prevenção ao uso de drogas, a gente faz ações nos grupos de tabagismo e a própria atividade física ela esta muito relacionada com a qualidade de vida.” (P6) “[...] Temos o trabalho de apoio com a equipe que é de orientar sobre o que é um transtorno leve/transtorno moderado o que é um transtorno mais grave que é um tipo de apoio matricial.” (P9) “[...] faço um levantamento de quem são os pacientes que estão ali e que tipo de medicamento eles estão usando, então por conta disso a unidade consegue observar um pouco melhor o que está acontecendo.” (P12) A partir desses relatos, percebe-se uma gama maior de ações de saúde mental sendo realizadas na APS. O apoio matricial é um arranjo que visa dar suporte às equipes de AP através do compartilhamento do trabalho com vistas a produzir co-responsabilização e promover a qualidade e resolutividade das ações. (CAMPOS, 2011) 18 e) Dificuldades e Sugestões Com relação às dificuldades no acolhimento e no acompanhamento dos casos de saúde mental na APS, percebeu-se muita angústia nos profissionais que delongaram mais nos relatos, como numa espécie de desabafo. Foram destacados os seguintes itens: problemas de relacionamento com a coordenação local das unidades, preconceito com as situações de saúde mental, estrutura física inadequada das unidades, formação profissional inadequada, problemas no processo de trabalho e questões relacionadas à rede assistencial e fluxos. “[...] Então essas coordenadoras que são todas da enfermagem não compreendem a saúde mental, elas tentam fragmentar a equipe do NASF [...]” (P1) “[...] muito preconceito, a concepção que as pessoas tem em relação a saúde mental de modo geral [...]”. (P17) “A estrutura física própria da unidade, [...] não tem espaço nem pra fazer uma reunião de equipe, para eventualmente fazer um atendimento individual.” (P2) “[...] eu não tive formação sobre saúde mental... fiz poucos estágios na área clínica, eu me sinto despreparada [...].” (P3) “O próprio processo de trabalho na atenção básica que tem a dificuldade de incorporar a demanda de subjetividade, de trabalhar com processos [...]” (P3) “Falta compreensão do fluxo em saúde mental para outros serviços, falta referencia e contra referencia [...] Tb a necessidade de conhecer a rede para se trabalhar em rede para poder se responsabilizar.” (P10) “A maior limitação que a gente tem na UBS é que não há tempo devido o grande número de consultas [...] e nem tranquilidade para oferecer uma abordagem mais completa [...] quando você fica mais que 10 minutos com um paciente na sala invariavelmente alguém da equipe bate na porta para saber o que esta acontecendo [...]” (P21) 19 Os relatos acima mostram sob a ótica dos entrevistados algumas barreiras para o cuidado especificamente em saúde mental na APS. O preconceito com a área da saúde mental, principalmente pelo profissional da saúde, pode impactar negativamente na produção do cuidado através da negligência e da não valorização da queixa de fundo emocional do paciente. (BRASIL, 2013) Nesse sentido, é importante que haja orientação, esclarecimentos de dúvidas e mitos sobre os sintomas e transtornos mentais. O conceito de integralidade é interessante para analisarmos essas dificuldades relatadas, com base na definição de legal (BRASIL, 1990) a integralidade é concebida como um conjunto articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e curativos, individuais e coletivos nos diferentes níveis de complexidade. As dificuldades relacionadas ao processo de trabalho na UBS devido a não compreensão dos aspectos subjetivos pela equipe e coordenação local; a desarticulação dos membros das equipes, principalmente do NASF e a falta de espaço físico e relacional para se oferecer uma escuta completa, requerem a reflexão sobre a incorporação do conceito de integralidade nas práticas cotidianas e na organização dos serviços. Segundo Cecílio (2001, p.116), “a integralidade da atenção, no espaço singular de cada serviço de saúde, poderia ser definida como esforço da equipe de saúde de traduzir e atender, da melhor forma possível, tais necessidades”, ou seja, a integralidade focalizada. E considerando os déficits na formação dos profissionais, a ênfase da gestão deveria ser no sentido de melhorar a capacidade de escuta e atenção às necessidades de saúde de forma ampliada. (CECÍLIO, 2001) Sobre a dificuldade com o trabalho em rede, há também que se considerar a integralidade no nível “macro” que se refere a articulação entre os serviços podendo ser definida também como a “integralidade ampliada”, nesta há “articulação em rede, institucional, intencional, processual, das múltiplas integralidades focalizadas [...], que se articulam em fluxos e circuitos, a partir das necessidades reais das pessoas”. (CECÍLIO, 2001, p.119) Sobre as dificuldades com a condução dos usuários pela rede é algo que precisa ser refletido para possa haver suporte às necessidades do usuário e melhora na qualidade do cuidado. 20 Nesse sentido, é importante tomarmos como eixo o conceito de integralidade nas suas dimensões da organização dos serviços, do conhecimento e das práticas dos trabalhadores da saúde. No que diz respeito a sugestões para melhorar a saúde mental na APS, buscou-se analisar a implicação dos profissionais com a temática da saúde mental relatada. Ao contrário do que apareceu no item relacionado às dificuldades, nas sugestões houve certa resistência em responder, e alguns consideraram a questão como sendo difícil. “Sinceramente eu nunca parei para pensar no que a gente poderia fazer pra poder melhorar esse fluxo da saúde mental.” (P19) “É preciso urgentemente capacitar os profissionais que estão trabalhando.” (P11) “Olha eu acho que a gente teria que começar a trabalhar em rede mesmo né porque o trabalho em rede eu acho que ele está na teoria, não está na pratica...” (P7) “Fortalecer e ampliar o número de NASF para que talvez a gente consiga por meio do apoio matricial fazer algumas ações na atenção primária, isso inclui também ter um psiquiatra compondo a equipe do NASF o que é possível de acordo com a portaria [...]” (P16) “Então acho que nessa discussão era importante que todos os níveis se apropriassem do cuidado em saúde mental porque a gente tem visto bastante negação de atendimento, dificuldades de acesso quando tem uma questão de saúde mental envolvida, até o próprio SAMU não sabe exatamente o que fazer nessa hora em que ele é acionado. E a gente precisa ter também um fluxo de saúde mental no município né”. (P18) Para melhorar a saúde mental na APS os profissionais sugeriram: a capacitação dos profissionais das equipes, o trabalho em rede, o fortalecimento e a ampliação das equipes do NASF com a inclusão do profissional psiquiatra e a responsabilização pelos casos de saúde mental por todos os níveis de complexidade. O conceito de rede deve ser organizado com base na horizontalidade entre os serviços entre os diferentes pontos de atenção e os fluxos devem ser construídos de acordo com a necessidade da região de forma objetiva e passível de mudanças e avaliações. 21 A necessidade de capacitação dos profissionais foi algo que apareceu em 100% das entrevistas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa teve o intuito de apresentar os conhecimentos de diferentes categorias profissionais que atuam na Saúde da Família acerca das concepções de APS e sua interface com a saúde mental. A maioria dos profissionais de saúde conceituou adequadamente APS, mas tiveram dificuldades em apontar quais os serviços de saúde que compõe essa rede. Com relação à saúde mental, a maioria dos profissionais avaliou as demandas como sendo predominantemente leves-moderadas, e apontaram como grande preocupação a alta medicalização dessas situações. Com relação às dificuldades evidenciou-se a falta de organização da rede de saúde mental municipal, falta de estrutura nas unidades, problemas no processo de trabalho e profissionais com qualificação inadequada. Nessa temática percebeu-se a angústia dos entrevistados, os relatos foram mais extensos como numa espécie de desabado. Na sessão de sugestões para os problemas evidenciados houve colocações bem pertinentes tais como organização da rede municipal de saúde mental, capacitação dos profissionais da APS, mais investimento da gestão municipal, fortalecimento do NASF e a necessidade de que outros níveis de atenção sejam qualificados e comprometimentos com o cuidado em saúde mental. Isso significa que muitos desses profissionais refletem a sua prática. Entretanto alguns ainda remetem a gestão municipal todos os problemas, sem se responsabilizar também por esses acontecimentos, isso se evidenciou no momento de apresentar sugestões para os problemas. Uma contradição que se destaca é que apesar de o município contar com profissionais qualificados academicamente com pós-graduação na área da saúde pública principalmente, esses profissionais se mostraram incapacitados para 22 atender a demanda de saúde mental. Essa situação remete ao questionamento da formação oferecida pelos cursos de especialização em saúde pública, pois ou não comtemplam a saúde mental ou a apresentam de forma superficial. Dessa forma, percebeu-se que o olhar dos profissionais que atuam nos serviços de saúde, diretamente com o usuário, é interessante para a análise da situação de saúde de uma região e pode colaborar em muito com a gestão no momento de definir e implementar ações para responder uma necessidade de saúde. REFERÊNCIAS ANDRADE, L.O. M.; BARRETO, I. C. H. C.; BEZERRA, R. C. Atenção primária à saúde e estratégia saúde da família. In: Tratado de Saúde Coletiva. Hucitec; Fiocruz, 2006. p. 783-836. BARDIN, L. Definição e relação com as outras ciências. A inferência. In:______. Análise de conteúdo. 3. Ed. Lisboa: Edições 70, 2004. Cap. 2. P. 37-41 p. BRASIL. Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde. Relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 1986. 21p. BRASIL. 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Que propostas você faria para qualificar a atenção em saúde mental na APS de Londrina? 25 26 27 28 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa para o desenvolvimento do meu trabalho de conclusão do curso de Especialização de Gestão em Saúde pela Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP com o título “Análise das Estratégias de atenção Psicossocial desenvolvidas na Atenção Primária em Saúde”. O objetivo desse estudo é analisar as estratégias de atenção psicossocial realizadas no contexto da Atenção Primária em Saúde (APS) dos profissionais que atuam em ações de Saúde Mental, bem como compreender a avaliação que fazem de suas práticas em saúde mental na Atenção Primária em Saúde. Gostaria de contar com a sua participação, esclarecendo que esta participação é voluntária, se você não quiser participar isso não implicará em prejuízos financeiros ou assistenciais para você ou qualquer pessoa próxima. Para participar desta pesquisa não haverá nenhum custo para você ou para o serviço de saúde. Uma vez participante do presente estudo você tem todo o direito de desistir em qualquer momento. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas formuladas neste questionário. Sua resposta ao questionário não representará qualquer risco de ordem física ou psicológica para você. A pesquisa trará como benefícios maior conhecimento sobre o tema abordado, sem benefício direto para você. As informações fornecidas por você serão confidenciais e de conhecimento apenas da pesquisadora e orientadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em momento algum, mesmo quando o resultado da pesquisa for divulgado. A pesquisa será feita através de anotações e entrevistas gravadas exclusivamente para este estudo. Esses dados serão arquivados sob a responsabilidade da pesquisadora e ao término de cinco anos serão destruídos. Esta pesquisa foi apresentada ao Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP e aprovada em todas as instancias da Universidade. Em caso de dúvidas, estas poderão ser esclarecidas com a pesquisadora e/ou orientadores abaixo identificados ou com o Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP, pelo telefone /FAX (011) 5539-7162 – E-mail: [email protected]. _________________________________ Pesquisadora: Marisa Silva de Oliveira End. Rua Juhei Muramoto, n°177, Bloco 06, Casa 03. Bairro: Jardim Tókio. Fone: (43) 9614 - 7053 __________________________________ Orientadores: Prof.ª. Marcia Liberal e Valter Palmieri Junior Aceite: Eu, _______________________________________, RG _________________, aceito participar da presente pesquisa e afirmo que fui esclarecido (a) sobre os motivos da realização deste trabalho, os riscos aos quais estou submetido (a) e tenho ciência de que minha participação é voluntária. Assinatura do participante: _____________________________________ Data: Assinatura da pesquisadora: ____________________________________ Data: