Inclusão social como pressuposto da mídia cidadã
Angélica Santini
No Brasil, o conceito “mídia cidadã” ainda é pouco praticado em sua essência. As
diferenças ideológicas dos meios de comunicação e a ocorrência das desigualdades
regionais caracterizam a não utilização correta do termo “mídia cidadã” na sociedade.
Muitas vezes, utopicamente, a população acredita estar vivenciando a “mídia cidadã”, pelo
direito simplesmente de poder comunicar-se. Mas viver uma verdadeira “mídia cidadã” é
muito mais que isso. São necessárias atitudes concretas dos veículos de comunicação, da
academia e do governo, propondo e realizando ações atreladas com a sociedade.
O Brasil possui realidades muito diferentes. Por isso, a mídia cidadã não dever ser
contextualizada e caracterizada de forma homogênea. Ela deve ser embasada pelas
diversidades culturais do país, que deverão dar visibilidade às expressões comunitárias. É
preciso, no entanto, minimizar as desigualdades regionais, em nível de educação, situação
sócio-econômica e inclusão digital...
Há contrastes significativos no território brasileiro. Ao mesmo tempo em que temos
grupos pesquisando TV Digital, formas de implantá-la no país, existem pessoas que não
têm acesso nem ao telefone e muito menos à Internet, pois ainda não têm as condições
básicas de sobrevivência. As ações de cidadania deverão começar por esta base !
Fazer mídia cidadã é pensar também na inclusão digital dos cidadãos. O direito ao
acesso já lhes é concedido,. mas os programas de inclusão digital deverão ser incentivados
e implantados realmente. Mas será que ser usuário simplesmente basta? Na verdade, para
fazer a mídia cidadã, o usuário não deverá ser somente um receptor de conteúdos; ele
deverá também produzir conteúdos e participar consideravelmente desse contexto. Cosette
Castro considera que a formação de receptores como interlocutores capacitará os sujeitos
sociais a exercerem o seu pleno direito à comunicação.
Outro ponto bastante discutido no Seminário de Mídia Cidadã foi a Imprensa Local.
O termo “Imprensa Local” pode ser substituído para “Mídia Local”, pois diz respeito à
mídia local em todos os segmentos como: rádio, tv, jornal, revistas...Mais uma vez,
ocorrem diferenças básicas nas regiões brasileiras, no que diz respeito à mídia locais.
Existem regiões em que essa mídia desenvolve muito bem o formato da mídia cidadã.
Beatriz Dornelles cita a realidade do Rio Grande do Sul, na qual a mídia impressa produz
jornais realmente com intuito de informar a população, sem vínculos políticos e que dão
“vozes” verdadeiras para os cidadãos.
O contexto da mídia local em outras regiões parece-me não ser igual à imprensa
local do Rio Grande do Sul, pois geralmente está vinculada a interesses políticos e
econômicos. Além disso, tem postura elitista em seus conteúdos e retrata formatos de
jornais estaduais.
Fazer mídia cidadã com a questão dos preconceitos existentes entre os gêneros é
algo complicado. O problema parece, equivocadamente, estar resolvido com as leis que são
criadas para a participação de negros nas produções televisivas e a proibição de fotos de
mulheres em cartões – postais e mensagens publicitárias que envolvam o país... Mas será
que está resolvido realmente? A problemática é muito mais profunda, ela está ainda
presente e enraizada nas ideologias dos próprios cidadãos. O preconceito ainda está
impregnado e muitas ações ainda devem ser tomadas para buscarmos uma mídia cidadã na
questão dos gêneros.
Um ponto discutido no Seminário foi a participação ativa da academia na mídia
local. Acredita-se que o mapeamento e a análise da mídia nas diversas regiões poderá
diagnosticar a verdadeira realidade. Partindo daí, as universidades poderão atuar em suas
políticas públicas de produção, distribuição e de consumo. A academia deverá formar
profissionais conscientes do que é fazer mídia cidadã, dando mais ênfase à mídia local. O
seminário foi composto por ativistas midiáticos e acadêmicos. Ficou claro e transparente
que a academia está “longe” da realidade de mercado e, por isso, ela deverá estar presente
neste contexto com mais intensidade e participação.
As rádios comunitárias também não estão alinhadas e organizadas. È preciso que
haja uma sistematização para fortalecer essa mídia; o ponto de partida poderá ser das
rádios-escolas e das rádios universitárias. Unidas, elas talvez possam perfilar
verdadeiramente o ideal da rádio comunitária e assim, consigam, efetivamente, produzir
mídia cidadã.
Parece-me que fazer mídia cidadã não é algo fácil e nem simples. Ainda, temos no
Brasil desigualdades regionais, com agravantes econômicos e políticos. Com a força e
competência da academia ao “trazer para si” essa responsabilidade o caminho será
encurtado. Procurar formar profissionais com muita ética, formadores de conhecimentos e
denunciar conteúdos e programas indevidos, constitui o pontapé inicial. É preciso buscar o
gerenciamento de uma mídia cidadã verdadeira e real, saindo da utopia de que o simples
direito à comunicação já está bom para o cidadão. Não! È necessário que a ética nos meios
e as igualdades sociais prevaleçam, a fim de vivermos em um país justo e muito melhor!
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