A ORIGEM DA CIDADE DE RIO BRANCO (ANTIGA VOLTA DA EMPREZA) O rio Acre foi um dos primeiros a ser explorado quando da chegada do homem branco nestas paragens. É famosa a frase que definia nos mapas bolivianos esta imensa região dos confins da Amazônia: “Tierras no descubiertas”. Somente a partir da década de 1860, as expedições oficiais, estrangeiras ou particulares começaram a desvendar toda a riqueza imersa e inculta no interior dessa floresta que parecia infinita. E, seja por forças inexplicáveis, seja por motivos materiais e objetivos, foi exatamente o rio Acre o primeiro a ser efetivamente povoado. “Ia terminando o ano de 1882. O vapor Apihy subia o rio com esforço para suas máquinas e seus homens. Não havia paradeiro certo. O grupo de pioneiros estava entrando em território indomado. Região de índios que há milênios percorriam praias e barrancos na difícil lida de sobreviver em meio à selva imensa. Tudo era novidade então, apesar da paisagem parecer sempre a mesma. Matas que se debruçavam sobre as margens do rio como que querendo invadir até mesmo o canal caudaloso de águas barrentas. Um combate colossal onde o rio reagia todos os anos, no tempo das águas abundantes do inverno amazônico, e cheio invadia as matas de suas margens, alargando seus domínios, destruindo barrancos e removendo enormes porções de terra que um dia seriam lançadas ao Oceano, muitas milhas dali distante. Os líderes da expedição tentavam vencer a monotonia das voltas do rio, para permanecer atentos e identificar sinais favoráveis à exploração. Procuravam, principalmente, sinais das árvores mais cobiçadas da Amazônia: as seringueiras que generosamente ofertavam seu leite branco para enriquecer a multidão de nordestinos que começava a perseguir um futuro melhor e mais farto. Identificar terras ricas em seringueiras era, portanto, o principal objetivo de todos ali embarcados. Havia apenas três dias que o vapor Apihy tinha ancorado nas margens daquele rio desconhecido para passar o dia de Natal. Nesse mesmo local, uma parte do grupo, chefiada pelos irmãos Leite, decidiu se estabelecer e abrir um seringal chamado Apihy, em referência ao vapor que os havia trazido até ali, mas depois se tornou conhecido como Bagaço. A bem da verdade, quase todas as terras cortadas pelo rio Acre eram muito ricas em seringueiras. Fazia tão pouca diferença estar aqui ou ali, que os sinais para a escolha de um lugar para se estabelecer podiam ser completamente lógicos ou mesmo bastante subjetivos. Como saber, então, o que atraiu a atenção de Neutel Maia e seus companheiros para aquela volta pronunciada do rio, apenas seis horas acima do Bagaço? Talvez tenha sido a presença de um bom porto para atracar os vapores. Talvez tenha sido o estirão que revelava terras baixas em sua margem direita e terras altas à sua esquerda numa excelente composição para o desenvolvimento de diferentes atividades. Ou talvez tenha sido mesmo a presença de uma grossa e ereta árvore bem a cavaleiro da curva do rio. Perfeita para amarrar com segurança os cabos das embarcações e inexplicavelmente bela. Como saber? Pois foi ali, no dia 28 de dezembro de 1882, exatamente aos pés da imponente gameleira, que Neutel Maia resolveu fundar sua Empreza. Enquanto isso, o restante dos pioneiros embarcados no vapor Apihy e comandados por Raimundo Girão seguiu subindo o rio até a confluência do rio Xapuri, onde acabaram por se estabelecer. Acompanhado de familiares, como Silvestre, seu irmão, Juvêncio, Anísio, Teófilo, Henrique, e outros companheiros, como o português Guilhermino Bastos, Neutel Maia construiu a sede do seringal Empreza dando início à sua exploração”.1 Porém, mais do que seringal como tantos outros formados ao longo dos rios acreanos, Empreza e mais especificamente o porto da Volta da Empreza logo se revelou um lugar de comércio. A firma aberta por Neutel Maia em 1884, começou a abastecer de lenha os vapores que por ali passavam, comercializar aviamentos diversos e principalmente abastecer toda a região com carne bovina. Foram os primeiros marchantes, comerciantes e fazendeiros de todo o Acre. Logo essa atividade comercial atraiu outros negociantes que procuraram ali se estabelecer. Estavam lançadas as bases de um grande povoado sob a proteção da sombra frondosa da gameleira que dominava a grande volta do rio Acre, que a história iria revelar o mais rico de todos os rios acreanos. “Foi ali, onde os primeiros povoadores da Volta da Empreza construíram uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, dando lugar, anos depois, à atual igreja que dominaria a volta do rio. A volta do rio, a gameleira e a igreja foram a referência essencial da sociedade que a partir dela se formou. Foi ali que nasceu uma sociedade ímpar, amazônica, ocidental, guerreira até seus limites mais extremos. Local dos símbolos mais caros de um povo que se fez aos pés de uma árvore, de uma volta do rio e de uma fé”.2 1 2 Baseado nos textos da revista Rio Branco Centenária. Marcos Vinicius Neves. Um lugar especial. 50 anos da Paróquia Imaculada Conceição. Pág. 2.