n o s p r i m e i r o s t e m p o s da H i s t ó r i a , q u e o h o m e m da p l a n í c i e e r a g e r a l m e n t e pacífico, e se e n t r e g a v a a o comércio. S e n d o assim, a língua do h o m e m da planície v i v i a const a n t e m e n t e e m a t r i t o com a l í n g u a d o u t r o s p o v o s c o m os q u a i s se c o m e r c e a v a , e da v a r i e d a d e de p r o d u t o s de i m p o r t a ç ã o , res u l t a r i a c e r t a m e n t e a i m p o r t a ç ã o implícita dos t e r m o s q u e d e s i g n a v a m os m e s m o s p r o d u t o s . Com o h o m e m da_ m o n t a n h a sucedia de m a n e i r a diferente. E s t e e n t r e g a v a - s e geralmente à guerra, à pilhagem, e vivia i s o l a d o ; q u a n d o n ã o se e n t r e g a v a a e s s a n e c e s s i d a d e , p a s t o r e a v a os g a d o s . D a í a sua língua ser m a i s c o n s e r v a d o r a , m e n o s e v o l u t i v a . J ú l i o de C a s t i l h o afirma n o s seus e s c r i t o s , ao falar-nos do C a r a m u l o , que ali se e n c o n t r a t o d a a r i q u e z a clássica do nosso v o c a b u l á r i o , q u e ali se m a n t e v e i n a l t e r a d o a t r a v é s d o s t e m p o s , e q u e se u m d i a se p e r d e s s e m os d o c u m e n t o s d a l í n g u a , s e r i a ali q u e a e n c o n t r a r í a m o s sã, rica, como n o s l i v r o s d o s n o s s o s clássicos. N ã o n e g o q u e em p a r t e a s s i m seja, a p a r t e os e x a g e r o s l i t e r á r i o s d o clássico. Ao lado d a s m o n t a n h a s , os r i o s t a m b é m se p o r t a m como f r o n t e i r a s l i n g u í s t i c a s , e t a n t o as p r i m e i r a s c o m o os s e g u n d o s s ã o afinal reflexo de fronteiras políticas. Os g r a n d e s rios s e r v i a m de linhas de defesa e n t r e p o v o a ç õ e s de m a r g e n s o p o s t a s ; e e r a t a l a oposição que e n t r e esses núcleos p o p u lacionais e x i s t i a q u e v a m o s e n c o n t r a r n a s p r ó p r i a s p a l a v r a s rival e rivalidade a existência do d e s e n t e n d i m e n t o e n t r e as m a r g e n s do r i o . Os e n c o n t r o s h o m o n í m i c o s de que fala Gilliéron, r e s u l t a m de f a l t a de r e c u r s o s d a l í n g u a , q u e se v ê o b r i g a d a a d e s i g n a r p o r u m m e s m o n o m e u m a v a r i e d a d e g r a n d e de objectos. Isso acontece sobretudo nos c e n t r o s que m a i s i s o l a d o s vivem do convív i o e x t e r n o , e o n d e o p r o g r e s s o lento d a i n d ú s t r i a , s o b r e t u d o , se n o t a pela d e s i g n a ç ã o dos objectos e dos i n s t r u m e n t o s n e l a utilizados. Deste modo a homonímia nos c e n t r o s linguísticos p o b r e s ó r e s u l t a n t e de um metaforismo, muitas vezes rudimentar, b a s e a d o s o b r e as leis d a analogia. N e s t e s p e q u e n o s n ú c l e o s , o n d e a civilização c h e g a muito lentamente, a linguagem é sobretudo c o n c r e t a e q u á s i n a d a a b s t r a c t a , e o seu v o c a b u l á r i o ó o d e t o d o s os d i a s , l i m i t a d o pelo â m b i t o social em que o h o m e m v i v e . P o d e m o s t a l v e z afirmar que, em g r a n d e p a r t e , a h o m o n í m i a se b a s e i a a q u i , s o b r e - t u d o , n a s p a l a v r a s q u e d e s i g n a m os elem e n t o s geográficos d o meio, e s p e c i a l m e n t e da f a u n a e da flora. E ' q u e , q u a n t o m e n o s civilizado é o h o m e m , t a n t o m a i o r a t e r r a de q u e êle v i v e , lhe i m p r i m e directrizes e n o r m a s de c o n d u t a . E m c o n c l u s ã o : d e s t e p o n t o de v i s t a p o d e m o s afirmar que a v a r i a ç ã o do m e i o geográfico é u m g r a n d e e l e m e n t o da difer e n c i a ç ã o d a l i n g u a g e m , q u a n t o ao a s p e c t o s e m â n t i c o . Mais t a r d e , q u a n d o e n t r a r m o s propriamente no âmbito da Semântica, veremos até que ponto esta conclusão nos parece verdadeira. Apontemos, porém, que o isolamento n u n c a ó c o m p l e t o e q u e se n o t a s e m p r e , m e s m o n o s p o n t o s m a i s r e t i r a d o s da civiliz a ç ã o , c e r t a p e r m e a b i l i d a d e a influências externas e irradiações. Assim, várias regiões a p r e s e n t a m c e r t o s p o n t o s de cont a c t o , c e r t a s afinidades, e c o n s t i t u e m a s s i m as c h a m a d a s á r e a s v o c a b u l a r e s , em q u e se n o t a c e r t o p r e d o m í n i o da forma, ( a p o n t a d a p o r Gilliéron), m a s l i g e i r a s , e às v e z e s p r o fundas diferenças fonéticas». Do agrupamento das chamadas áreas resulta a língua dum País, e esta a distanciar-se d a s l í n g u a s d o u t r o s p a í s e s , e m virt u d e d a s fronteiras p o l í t i c a s e s t a b e l e c i d a s , que n ã o só dificultam o i n t e r c â m b i o , c o m o p õ e m s o b s a l v a g u a r d a a l i n g u a g e m nacional. N ã o c o n t a n d o a influência e x p u r g a d o r a dos g r a m á t i c o s e dos p u r i s t a s , e a influência benéfica d a s e s c o l a s . Alas, d e n t r o d a s á r e a s l i n g u í s t i c a s d u m P a í s , c a r a c t e r i z a d a s p o r f e n ó m e n o s especiais, r e s u l t a às v e z e s a c o e x i s t ê n c i a do m e s m o f e n ó m e n o , como t i v e o c a s i ã o d e verificar. I s t o explica-se p o r flutuações dos n ú c l e o s p o p u l a c i o n a i s , q u e se o b s e r v a m d e s d e o s t e m p o s m a i s r e m o t o s a t é aos n o s s o s dias com c a r a c t e r í s t i c a s diferentes, b e m e n t e n d i d o . E ' a e s s a s flutuações de n ú c l e o s q u e se deve a i m p o r t a ç ã o e a export a ç ã o dos f e n ó m e n o s linguísticos, os q u a i s c o n s t i t u e m o p r i m e i r o p a s s o p a r a a uniform i z a ç ã o d a s l í n g u a s . Mais t a r d e , q u a n d o e n c a r a r m o s o e s t u d o da l i n g u í s t i c a p e l o a s p e c t o social, d e s e n v o l v e r e m o s e s t a s concepções. O segundo passo para a uniformização da l í n g u a é c r i a d o pelo s e n t i m e n t o de n a c i o n a l i d a d e , q u e faz i r r a d i a r d u m o r g a n i s m o c e n t r a l p r o c e s s o s de i n s t r u ç ã o e cult u r a q u e e s t r e i t a m c a d a v e s m a i s as á r e a s l i n g u í s t i c a s . C a b e às e s c o l a s , s o b r e t u d o , o