BRASIL
EM FOCO
Humberto Dantas
Análises & Comentários
FEVEREIRO 2014
O Brasil em 2014 – os desafios da
“nova política”
Para muitos o principal desafio do país
em 2014 está relacionado ao universo
econômico. O grande problema é que
algumas das principais análises do setor carregam consigo convicções ideológicas e preferências partidárias tão
nítidas que parecem incapazes de ofertar credibilidade para quem coloca a
política como filtro para compreender
tais realidades. Em quem confiar? Se
você tivesse dinheiro para investir em
um novo negócio, investiria? Se tivesse
dinheiro para deixar rendendo nos
bancos, deixaria? Se estivesse pensando em mudar de emprego e arriscar,
arriscaria? Se fosse estrangeiro e pensasse num novo negócio por aqui, negociaria? Seria capaz de pensar num
ano sabático agora? E gastar suas economias? As respostas vão depender
muito de sua visão sobre o país. Se
utilizar as análises do governo, certamente optará por apostar na atividade
mais ousada. Se observar o que vêm
dizendo alguns analistas econômicos
respeitados e claramente alinhados
com a oposição, temerá movimentos
mais bruscos. Como separar? Como
conceber qualquer aspecto econômico
sem passar pela política? Como desprezá-la? O que será dela?
A política passa por uma crise de credibilidade mundo afora. E por aqui não
é diferente. Pesquisas de confiança
mostram as instituições públicas associadas ao tema em posições muito ru-
ins no Brasil. Hoje assistimos a um duelo de interpretações sobre o país que
se mostram claramente distantes e
quase intolerantes. No “mercado” afirma-se que existe gestão de menos e
política demais. Entre os analistas políticos fica clara a incapacidade política
do atual governo, chamado por muitos,
até as eleições de 2010 e o primeiro
ano de poder, de “muito técnico”. O
fato é que a técnica, ou a lógica gerencial, e a política não são excludentes.
Pelo contrário. São absolutamente
complementares. Faz alguns anos um
grande empresário brasileiro afirmou
que o Brasil deveria ser governado
com apenas seis ministérios, em crítica
ao Planalto. Quem entende um pouco
de política sabe: um presidente sequer
tomaria posse com um número desses.
Mas como associar “o mais técnico dos
governos”, ao maior número de ministérios de nossa história? Atualmente
são 39. Falta política. Para alguns sobra, mas nesse caso é nítido que falta
liderança política para o país. Falta articulação. Falta planejamento, diálogo,
capacidade de empreender politicamente. Assim sendo, o bambolê que o
hoje presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, ofereceu em tom de absoluta ironia para a
então ministra da Casa-Civil Dilma
Rousseff quando a criticou por falta de
jogo de cintura precisa entrar em cena.
Chegou a hora de o Brasil rebolar.
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O intuito desse artigo não é, entretanto, apontar caminhos econômicos para
esse movimento. Mas sim apontar a
importância da política para o bom desempenho do país. Ela não precisa estar presente “de menos” em nossa realidade, mas sim estar presente “de
bem”. Um bom gestor de negócios seria incapaz de governar esse país. Sobra pra velha política. Para a velha? Na
verdade para a nova. Para a nova? Esse é o problema. Alguns agentes têm
dito que representam um novo modo
de fazer política no Brasil. O discurso
ficou por conta de Marina Silva em
2010 e deve ser buscado por Eduardo
Campos nesse ano. Será possível? Ambos têm pouco do novo para oferecerem ao modo de o país fazer política.
Infelizmente.
Eduardo Campos governa com a família de um lado e seu partido de outro.
A quantidade de oportunidades que arruma para seus agentes próximos assusta pelo caráter político tradicional. A
mãe foi para o Tribunal de Contas da
União por manobra sua. Outros tantos
parentes aparecem em posições estratégicas em seus governos e estratégias. Aos amigos tudo, os inimigos se
queixam de perseguição. Na contabilidade do partido despesas com diárias
nababescas em hotel de luxo no Rio de
Janeiro durante o Carnaval. O ilustre
hóspede é “dono” do PSB, e a lei partidária garante às legendas certa liberdade para gastos aparentemente injustificáveis. Parte expressiva do dinheiro
das legendas vem do Fundo Partidário.
É dinheiro público tratado como “doação” e sobre ele a prestação de contas
existe, mas as exigências apontam para uma lógica de leniência preocupante. É assim que funciona.
Marina Silva, por sua vez, foi levada
para o PSB após aparente frustração
pela não criação de seu próprio partido. Um deputado federal do Rio de Janeiro ficou surpreso à época. Afirmava
ter caminhado ao lado da líder e não
ter sido consultado sobre a definição. A
descreveu como uma pessoa dotada de
processo de decisão confuso. Hoje está
ao seu lado de novo. Mas parece possível ir além: Marina prega um movimento ético na política que nada tem
de ético. Utiliza-se de partidos com a
desculpa de que “avisou que sairia em
caso de sucesso na formação de sua
legenda”. Mas aqueles que sairão, se é
que um dia teremos Rede e que efetivamente estes sairão, têm alguma sinalização de seus eleitores acerca desse movimento? E os votos que receberam de outros candidatos dos partidos
que serão abandonados? Isso é o novo? É o correto? O ético? Impossível
dizer, mas difícil defender.
A dupla, no entanto, tem um desafio e
uma possibilidade. O desafio é conter
os conflitos que já aparecem em torno
de ideias e estratégias eleitorais. Palanques estaduais são montados de
forma confusa e complexa. Em São
Paulo, por exemplo, as alternativas afastam os simpatizantes de Marina dos
membros mais tradicionais do PSB de
Campos. É possível apostar em vitória
quando a articulação no maior colégio
eleitoral estadual do país está fragmentada? O tempo ainda pode reparar
e trará respostas. Mas a possibilidade
que a dupla tem é significativamente
atraente para os objetivos eleitorais do
grupo. Em 2010 o Partido Verde (PV)
de Marina Silva não tinha capilaridade
alguma no país. Sua estrutura era frágil, e ainda assim foram alcançados
cerca de 20% dos votos válidos em
primeiro turno. Parte expressiva desse
contingente (analistas falam em 15 dos
20 milhões de votos) advém do desgaste da polarização entre PT e PSDB.
Dilma e Serra afastaram parcelas do
eleitorado, que teriam migrado para a
alternativa. A alternativa, no entanto,
era partidariamente frágil em 2010.
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O PSB, por sua vez, foi o partido que
mais cresceu nas eleições municipais
entre 2000 e 2012. A legenda mais do
que dobrou de tamanho em número de
participações eleitorais locais. Além
disso, conquistou cidades relevantes
como Campinas (SP) e cinco capitais.
Em nenhuma delas estava aliado ao
PT, de quem se afastou nos últimos
anos. Ademais, em 2010 conquistou
seis estados e se tornou um agente
importante no nordeste, reduto eleitoral do PT – destaque para o fato de
que em 2013 o governador do Ceará
abandonou a legenda em direção ao
recém-criado PROS em movimento
contrário à ida do PSB para a oposição
federal, enfraquecendo um pouco o argumento. Assim, o PSB tem estrutura
muito mais expressiva que o PV, e pode se firmar como uma terceira via
mais sólida. Sobretudo porque Marina
era uma incógnita em 2010, enquanto
Campos parece se posicionar claramente entre Aécio e Dilma. Isso o faz
ser o pivô da campanha em caso de
segundo turno, e sua presença na segunda rodada pode ser indigesta. O
problema é colar em Eduardo Campos
o adesivo de novidade, e mais especificamente de novidade desejada. Alternativa requerida. Em reportagem da
Revista Época de 2011, por exemplo, o
PSB aparecia como a legenda mais governista do Brasil nos estados e nas
capitais. Em apenas uma variável: esse
é um modo novo de fazer política? Difícil dizer. O novo, nesse caso, está mais
para o que digo que para o que faço.
Mas as campanhas têm mostrado isso
nos últimos anos. Resta ao povo crer
ou não.
Sobraria então para Dilma Rousseff do
PT e Aécio Neves do PSDB defenderem
um novo modo de fazer política no país? Difícil acreditar, pois seus partidos e
grupos estão no poder faz anos. Fiquemos primeiramente com esse segundo. Seu discurso está totalmente
focado em algo que gosta de chamar
de choque de gestão. Em 2008, no alto
de um palanque montado no interior
de Pernambuco, dizia que ninguém conhecia a máquina pública tão bem
quanto o candidato de seu partido por
ali. “Máquina pública”? O que o cidadão
comum entende por esse termo? Qual
a expectativa de parte expressiva dos
brasileiros em relação à máquina pública? Falta encontrar um discurso. Para
muito a eleição será o momento, mas
em se tratando de oposição, um posicionamento mais claro deveria ter sido
tomado em 2003. Faz 11 anos.
Ademais, Aécio Neves tem o desafio de
mexer no passado de forma expressivamente delicada para se viabilizar
como candidato competitivo. Três
questões devem ser destacadas. Primeiramente o PSDB vai se deparar
com o julgamento do que se convencionou chamar de Mensalão Mineiro
protagonizado pelo detento Marcos Valério em associação ao então governador tucano Eduardo Azeredo – estávamos em 1998, o político hoje é deputado federal. De acordo com algumas
versões para o caso, ali estaria a gênese dos escândalos que resultaram na
prisão dos petistas da Ação Penal 470.
O criminoso mudou de lado na guerra
partidária, reafirmando a tese de que
enquanto milhões enxergam a polarização entre PT e PSDB como uma
guerra passional, alguns poucos encontram em diferentes governos as oportunidades para se apropriarem da lógica pública da “melhor forma possível”.
O que será de Azeredo? Se renunciar
ao mandato seu processo pode até voltar à justiça comum e o absolver – em
2019 terá 70 anos e se beneficiará da
mesma forma que Walfrido Mares Guia, envolvido no mesmo escândalo e
absolvido em razão de sua idade. Mas
se renunciar estará próximo de confessar que efetivamente tem alguma culpa na história? Pode ser.
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Um segundo desafio está associado à
tentativa de resgatar o insano golpe
que seu próprio partido deu em Fernando Henrique Cardoso. Desde a
campanha de 2002 pouco se falou ou
se tentou ofertar à sociedade, nas
campanhas do partido, o legado positivo dos oito anos de FHC no Planalto.
Problemas existiram? Indiscutivelmente sim. Mas o PSDB deixou que o PT, e
principalmente Lula, grudasse com naturalidade o rótulo de “herança maldita” no governo tucano. Agora, doze
anos depois da eleição de 2002, haveria espaço para o país reconhecer de
forma mais ampla o que foi feito? O
PSDB, e sobretudo Aécio, apostam que
sim. Mas em relação aos dados de
2012, vejamos: tínhamos 17,5% dos
eleitores com 24 anos ou menos. Isso
representa dizer que quando FHC deixou o poder, quase um quinto dos eleitores brasileiros de 2012 tinha 14 anos
ou menos de idade. Esse resgate pode
ser feito nesse instante? Certamente
sim, mas qual o seu efetivo impacto?
O terceiro e último desafio evidente está associado ao passado do comportamento eleitoral de Aécio no PSDB. Entre 2006 e 2010 ele é acusado de não
ter se empenhado de maneira expressiva nas campanhas de Geraldo Alckmin e José Serra à presidência. Nos
bastidores do partido, inclusive, há
quem diga que contribuiu com o dossiê
do jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor
do livro Privataria Tucana, onde a filha
de José Serra aparece como agente
central de escândalos associados às
privatizações do governo Fernando
Henrique Cardoso. Ademais, em Minas
Gerais, as campanhas do PSDB foram
acusadas de constituírem chapas estranhas, solicitando votos em Lula ou
Dilma para presidente e em Aécio e
Anastasia (seu vice e atual governador
de Minas Gerais) para governador. O
movimento ficou conhecido como Lulécio em 2006 e Dilmastasia no pleito
seguinte. E agora? São Paulo tinha, em
2012, 22,22% do eleitorado brasileiro,
sendo Minas Gerais o segundo colocado com menos da metade. Como contornar o mal estar?
Diante dos cenários complexos, caberia
então à Dilma Rousseff o novo modo
de fazer política? Seu modelo gerencial, técnico e pouco político, que parecia
agradar, hoje está em crise no Brasil.
Falta política sim. Bem feita. Feita de
forma consistente. Não basta gerenciar, sem política não existe gerenciamento. Vivemos uma crise de liderança. Pesquisas recentes de intenção de
voto mostram a presidente com expressivos 43% de apoio nas eleições
de outubro. A vitória poderia vir ainda
no primeiro turno. Seu governo é bem
aceito, e a imagem negativa criada após os protestos de 2013 estaria sendo
arrefecida. Muita propaganda foi feita
desde então. Só no ano passado foram
sete pronunciamentos em rede nacional de rádio e TV. Em seis deles as
mensagens eram de louvor absoluto.
Da mais ampla e plena glorificação. Estaríamos efetivamente vivendo nesse
país mostrado nos discursos? Difícil dizer, mas o fato é que as mesmas pesquisas que apontam para a aprovação
à presidente são capazes de mostrar
que 60% dos brasileiros desejam mudança. E quando se depararem com
um mínimo de equilíbrio no debate? Ou
seja, e quando o horário eleitoral gratuito começar, a partir de agosto, e as
pessoas forem apresentadas a Aécio
Neves e Eduardo Campos? O primeiro
carrega a fragilidade de uma oposição
pouco consistente. O segundo a fragilidade de sequer ter sido oposição em
parte expressiva dos governos petistas. Assim, para a presidente, a vantagem e a desvantagem é que o novo
não necessariamente precisa SER novo, basta que ele PAREÇA novo. Ela
pode parecer? Sim. E a oposição?
Também. Tempo de entender o eleitor.
Construir mensagem. Quem terá a cara do que se pretende e deseja?
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Dilma tem algumas etapas a vencer
até a eleição. São sinalizações que apontarão para o sucesso ou o fracasso
de seu desafio político junto às urnas.
O primeiro está associado à Copa do
Mundo. Grupos da sociedade afirmam
que não haverá Copa no Brasil. Haverá. Mas certamente não será a Copa do
Mundo o evento prometido e comemorado entre 2007 e 2010.
Revistas especializadas da Europa dão
conta de que a FIFA reconhece, nos
bastidores, que foi um péssimo negócio
aportar seu evento no chamado “país
do futebol”. Deixando a paixão de lado
os analistas enxergam o futebol como
negócio. No Brasil, o negócio sofreu
profundos atrasos, mesmo tendo sido o
país com mais tempo para se organizar
na história, a imagem da organização
ficou abalada e os legados estruturais
associados à boa visão do evento não
serão entregues como planejado. Para
completar, o povo foi às ruas e promete estar nelas novamente – a paixão se
transformou em questionamento. O
governo busca se defender lançando
campanhas publicitárias para resgatar
o orgulho de realizar o mundial, afirma
que as obras dos estádios estão em dia
e desconversa quando o assunto é a
infraestrutura. O próprio ministro dos
Esportes afirma que tais atrasos são
normais, os comparando com noivas, e
diz que os protestos durante a Copa
em nada abalarão a imagem da presidente. Será? Esse é o primeiro grande
teste para Dilma. Em 2013 sua imagem se dissolveu ao longo da Copa das
Confederações. Vaias e protestos nas
ruas marcaram sua queda nas pesquisas. Seu marqueteiro prometeu devolvê-la aos maiores patamares de aprovação, uma vez que ela não era o alvo
central do inconformismo. A tarefa foi
cumprida em partes. Muito foi gasto
em comunicação. Pouco se viu na oposição.
O segundo e expressivo desafio está
associado ao ambiente econômico doméstico. Em outrora, Lula afirmou ser
a Crise Mundial uma marolinha, em críticas ao tsunami que abalava o planeta
e ameaçava com incertezas todas as
economias do mundo. O problema é
que agora o mundo parece cobrar a
conta, e o mesmo governo se defende
dos problemas com discursos associados ao complexo cenário internacional.
Mudança? Miopia? Difícil afirmar. O governo não admite publicamente que o
país atravessa uma crise de confiança.
No máximo alega existirem problemas
em alguns setores da economia, chamando a oposição de “cara de pau” em
relação às críticas que recebe. Politicamente, no entanto, sabe do instante
delicado, e ao povo nas ruas diz inconformado: “fizemos tanto por essa gente, parecem ingratos”. O empresariado, além disso, não parece satisfeito
como antes. A queda nas taxas de juros impulsionou o ímpeto empreendedor de alguns, mas o governo não ofertou contrapartida estrutural que gerasse confiança ao país. Além disso,
optou por alterar a lógica das tarifas de
energia elétrica e parece ter desvendado uma crise de oferta, pois mostrou
que o sistema brasileiro é tecnicamente frágil, a despeito de oportunidades
imensuráveis para a geração segura de
energia no país. Grandes obras públicas se arrastam, projetos se arrastam.
Há quem diga que o Brasil parou.
Diante desse cenário, no entanto, ainda existe emprego em alta no país e
parcelas da população ainda apostam
no consumo exacerbado como princípio
de vida. Esse binômio pode assegurar
a boa avaliação do governo por parte
de quem efetivamente o legitima: o
cidadão. À oposição, fica a impressão
de aposta em dois aspectos que carregam fragilidades políticas: no primeiro
caso parece que reza por uma capacidade duvidosa de o cidadão comum
entender que estamos, efetivamente,
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atravessando um momento que pode
se mostrar ameaçador; e no segundo
caso torce para que efetivamente o cenário se deteriore e a realidade seja
efetivamente sentida no cotidiano dos
brasileiros, com perda de emprego, redução do poder de consumo, aumento
da inflação e consequente redução da
sensação de bem estar. Algo semelhante ao que aconteceu em 2002,
quando a economia deu sinal de fraqueza. O ponto favorável à oposição
naquele instante, estava associado à
acentuação do cenário negativo em virtude do sentimento, concretizado, de
vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
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AUTOR:
Humberto Dantas – doutor
em ciência política, professor
universitário,
conselheiro
e
parceiro da Fundação Konrad
Adenauer em ações de educação e análise
Nesse momento, o ponto pode estar
associado às manifestações e à insatisfação do brasileiro com o cenário atual.
Entende-se, nesse caso, porque 60%
desejam mudança e quase 50% votariam na presidente. A conta não fecha?
Fecha sim. O Brasil não apresentou
uma opção razoável e conhecida aos
olhos do cidadão. Essa opção, é claro,
pode ser o próprio governo. Testes
comportamentais realizados com brasileiros para o desenvolvimento de estratégias de campanhas eleitorais já
mostram que Lula ainda é o cabo eleitoral mais expressivo do país. O mesmo não se pode falar da imagem de
Dilma. Os testes apontam distanciamento. Seria possível mudar? Lula assinou um documento em cartório, nos
últimos dias de seu governo, registrando todos os seus feitos. Desde 2008,
até 2010, passou a encampar o discurso que ninguém poderia fazer menos
do que ele. Assim, apostava em sua
sucessora como agente capaz do feito
de ampliar. A despeito do que ocorra
no país e no mundo, o cidadão comum
terá a capacidade de analisar o atual
governo como alguém que faz mais do
que Lula? O ex-presidente certamente
dirá que fez mais no segundo mandato
do que no primeiro, e que comparar
oito com quatro anos não é correto.
Terá a compreensão da sociedade? Di-
fícil afirmar, mas existe um conjunto
de instantes a serem observados com
atenção: a Copa, o poder de Lula e a
entrada de Aécio Neves e Eduardo
Campos no jogo eleitoral efetivo. O fator surpresa, no entanto, o “algo a ser
temido” não é mais um partido político
e seu candidato.
Voltando a 2002 temos a histórica imagem da atriz de novelas Regina Duarte na propaganda eleitoral de José
Serra (PSDB). Em tom de desespero
tentava demover o brasileiro do voto
em Lula afirmando medo. Quando Lula
venceu, ouviu-se soar o ditado: a esperança venceu o medo. De forma semelhante, mas sem entregar o protagonismo a uma personagem, o PT buscou fazer o mesmo com afirmação associada ao término do Bolsa Família
em caso de vitória tucana. O fato é que
em 2002 a “ameaça” era um partido,
seu candidato e um discurso radical do
passado em contraste com uma presente “carta ao povo brasileiro”. A “ameaça” hoje é menos conhecida e depende muito do que o povo fará às ruas e como se comportará a economia e
os agentes alternativos. Não existe um
agente claro e seu partido. Será a nova
política? Difícil acreditar. A velha com
roupa nova? Pode até ser. E a mesma
em novo visual? Hoje é o cenário mais
provável.
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