EM FAVOR DOS ENFERMOS Dom Luciano Mendes de Almeida Enquanto a cidade dorme, nos hospitais o serviço não pára. Uma legião de abnegados continua pela madrugada adentro a lutar em favor da vida. Dia e noite, heróis silenciosos estão aí, empenhando-se para recuperar e conservar a saúde de seus irmãos. Deixemos de lado, como fruto de fraqueza, de cansaço, alguns casos de negligência, dureza no trato ou falta de ideal. Isso acontece em qualquer setor da vida humana. Não há dúvida, no entanto, que no setor hospitalar de São Paulo continuamos tendo, ainda hoje, um dos ambientes de maior sacrifício e idealismo. Há exemplos de enorme e comovente dedicação. Enfermeiras na cabeceira de doentes graves, médicos de plantão, atendentes incansáveis nas salas de diálise, nas maternidades, em volta das mesas operatórias e nos corredores de pronto-socorro, aí estão atentos aos mínimos sinais do paciente, prontos a aliviar o sofrimento, a sustentar e prolongar a vida, aplicando recursos da ciência e da técnica, da experiência, do devotamento fraterno. Ainda bem que nos dias de hoje, de egoísmo e permissividade moral, podemos contar com expressões de tanta virtude e solidariedade humana. Compreende-se, também, porque tantas religiosas que se consagram a Deus escolhem este campo de apostolado, justamente pela soma de sacrifícios e amor que inclui o atendimento constante aos enfermos, animando-os à paciência e esperança, auxiliando-as a enfrentar a precariedade da condição temporal do homem, à luz da promessa divina de felicidade eterna. Na cidade ruidosa, cenário de tanta violência e desrespeito à dignidade humana, por detrás das janelas acesas dos hospitais, continuam a se entrelaçar o sofrimento e a expectativa dos enfermos com a abnegação e solicitude dos servidores da vida. A saúde do povo precisa, no entanto, não só deste devotamento humanitário do corpo médico, mas das atenções governamentais. Saúde é prioridade. Apesar dos inegáveis progressos dos últimos anos, faltam ainda postos de saúde e hospitais na periferia. Doentes não recebem tratamento por falta de vagas. As filas nos ambulatórios e centros de prontosocorros demonstram que a demanda supera de muito o atendimento. Desde a madrugada, os doentes esperam a consulta médica, rápida e descontínua. O corte recente nos leitos mantidos pelo sistema previdenciário é inexplicável e os atrasos no repasse de verbas criam situações dramáticas para a administração hospitalar. Por outro lado, o doente, ao receber receita médica, vê-se sem condições de comprar o remédio. Numa época de inflação, não sobra dinheiro para a farmácia. Há dias, uma pobre senhora mostrava seu pesar por não poder comprar injeções de setenta mil cruzeiros por unidade. Não basta responsabilizar os governantes para que a saúde do povo se torne prioridade. A comunidade inteira precisa descobrir a dignidade da pessoa humana e agir em favor dos enfermos. Há doentes, de todas as idades, que precisam de atenção e companhia. Nem podemos nos esquecer do imenso campo da medicina preventiva, desde o aleitamento materno e da higiene doméstica até as condições básicas sanitárias em toda cidade. É tarefa para todos nós. Enquanto isso, já poderiam ser acionadas pequenas iniciativas. Haveria condições de assegurar aos que esperam o amanhecer nos corredores do pronto-socorro um pouco de leite, um pedaço de pão ou um copo de água? Pelo menos seria possível aumentar o número disponível de macas e cadeiras? A sociedade individualista, geradora de injustiças sociais crescentes, tem que descobrir o valor da pessoa humana e a lição sempre nova do Bom Samaritano. Continuaremos, como na parábola de Cristo, passando ao lado do desvalido? As grandes e inadiáveis transformações estruturais em bem da saúde do povo exigem de cada um de nós mudanças comportamentais. A concórdia social e a fraternidade só acontecerão através de gestos concretos de amor ao próximo. O apelo em favor dos enfermos reverte, assim, em benefícios da própria sociedade, que aprende no exemplo do Bom Samaritano onde está a verdadeira felicidade. (transcrito da “Folha de S. Paulo” de 17 de novembro de 1984) IGREJA, COMUNIDADE DE VIDA A experiência de Cristo Ressuscitado se faz em comunidade: as aparições de Jesus Ressuscitado acontecem quando os discípulos estão reunidos (Jo 20, 19-31); o nascimento da Igreja se dá a partir de uma comunidade que coloca Cristo Ressuscitado em seu seio: a partilha, a fraternidade, a paz (At 2, 42-47). Não existe Igreja sem comunidade. A Igreja só vive como comunidade, sinal da presença de Cristo no meio dela. Comunidade significa partilhar, participar da vivência de um grupo de pessoas. O “ser cristão” não tem valor fora da comunidade-Igreja. É através da comunidade que a pessoa pode diser-se “cristã”. Podemos perceber, assim, a importância de o cristão participar de uma comunidade, seja a paroquial, seja uma comunidade eclesial de base, onde a presença de Cristo deve manifestar-se através da vivência dos valores evangélicos: fraternidade, caridade, justiça, paz, perdão, alegria. Participar de uma comunidade não é, porém, apenas assistir aos ritos sacramentais, que, aliás, não têm maior valor sem a participação e vivência na comunidade. Igreja e Saúde A saúde de nosso povo também depende desta descoberta de vivência em comunidade, de preocupar-se com o outro, de lutar pelos mesmos objetivos. Uma pergunta que devemos fazer-nos com freqüência é esta: como agentes de Pastoral a serviço da saúde como estamos vivendo essa preliminar, a vida em comunidade, para testemunhar sua importância como sinal de vida em nossa família, no nosso ambiente de trabalho, em nossa comunidade religiosa? As soluções para os problemas de saúde devem ser procuradas através da comunidade e não baseadas em indivíduos. A força da comunidade (favelas, bairros...) testemunha isso. A igreja tem o dever e o mandato específico do Senhor da Vida, mas preocupar-se com a saúde não é tarefa exclusiva da Igreja. Como todos os problemas sociais, também o da saúde deve ser resolvido pelo esforço comum. As mazelas de nossa sociedade são demasiado complexas para serem enfrentadas isoladamente. Nisto está a importância do trabalho da Igreja: ser um fator de aglutinação dos diferentes setores da sociedade para que todos, juntos, possam fazer frente aos diversos problemas, entre os quais se destaca o da saúde. Não é segredo para ninguém que são os segmentos menos favorecidos de nossa sociedade os que carregam “todas as doenças” e que esses agrupamentos vivem nos bairros mais pobres de nossas cidades. Não é por acaso, também, que estão surgindo exatamente nesses locais as Igrejas mais ativas, mais comprometidas, as que dispensam lições e informações sobre seu estado de saúde e pobreza, pois vivem tudo isso na própria carne. Frente a essa situação, o que significará o mandamento fundamental de Amor e Fraternidade? Pode haver amor num mundo doente? Em atitude de autocrítica, parece conveniente questionar-nos seriamente: será que a Igreja já encontrou o seu próximo, já que, apesar de ser um dos fatores mais deteriorados da sociedade, a saúde ainda continua descuidada, malgrado os hospitais, clínicas, dispensários etc., instalados pela Igreja em diferentes lugares? A luta pela saúde é uma luta pela dignidade humana. Por isso, à Igreja cabe não só trabalhar para superar as deficiências sanitárias, mas também denunciar as causas que produzem essa situação. Denunciar as doenças como um mal, uma situação de pecado, reafirmando que a vida real e verdadeira é a que trouxe Jesus Cristo: a vida é saúde, alegria, paz, justiça, respeito e, sobretudo, Amor. Saúde popular e comunitária É a riqueza do viver e lutar dentro de uma comunidade que faz crescer as pessoas, que as faz “serem mais”. Assim também poderemos encontrar soluções para os problemas que se apresentam. Torna-se, por isso, imperiosa a existência da saúde popular e comunitária, a própria comunidade buscando entre seus integrantes as soluções para seus problemas de saúde. A força da saúde popular se medirá pela força das próprias comunidades (favela, bairro, hospitais, igreja) em procurar o bem-estar físico, psíquico, social e espiritual de todos os seus membros, que se reúnem, refletem e partilham os problemas lutando por soluções viáveis para eles. Assim deve ser entendida a expressão de Cristo “para que todos tenham vida e vida em abundância”. A comunidade-Igreja pode e deve proporcionar-nos esta vida verdadeira, que devemos experimentar aos poucos em nossas comunidades. Assim nos tornaremos sinais do Reino de Deus. A Igreja é chamada a denunciar a injustiça e a promover a vida. A Boa Nova inclui o propósito de Deus para toda a criação: as pessoas devem viver em comunidade, com espírito de solidariedade, compartilhando a vida em toda a sua plenitude. Pe. Christian de Paul de Barchifountaine, MI ACREDITO... Acredito na vida que é morte e na morte que é vida. Acredito na morte como parte integrante da vida, participante de toda vida. Acredito que nascemos para morrer ao individualismo que não gera comunidade, à ostentação do supérfluo, à onipotência de tudo querer e poder, ao “profissionalismo” que me descompromete com o ser humano que sente, pensa e também busca um sentido de vida. Acredito que nascemos para morrer um pouco a cada dia, que morremos para viver plenamente. Acredito que, na passagem de uma etapa a outra da vida, sempre morre algo de nós. A inocência e espontaneidade da infância morrem na coragem e arrojo da juventude, na racionalidade e objetividade da maturidade, na sabedoria do acaso da vida. Acredito que a morte está presente na natureza, na flor que murcha, na folha que cai, na chuva que se evapora, na brisa que passa. Acredito que experimento a morte nos momentos de solidão, de ódio, de tristeza, desapontamento e derrota. Quando estou com medo e não me arrisco. Quando peco a coragem e entrego os pontos. Quando vejo meus sonhos desfeitos... Enfim, toda vez que digo adeus. Acredito que estou morrendo antes do tempo, quando vivo no egoísmo que nada partilha, na indiferença perante o outro que caminha a meu lado, na insensibilidade a um drama de dor. Acredito que posso ser ator de minha própria morte antes do tempo, um suicida em potencial, pelo estilo de vida que levo. Acredito que vida e morte são uma realidade única: Num mesmo momento estou vivendo e morrendo. Há muita morte na vida, como também há muita vida na morte. Acredito que Jesus foi ao encontro de sua morte, transformando-a em vida e que ele me convida a fazer o mesmo. Amém. VIVER QUANDO ALGUÉM PARTE Pe. Leocir Pessini MI A morte de um ente querido, por vezes, é a principal ruptura que acontece na vida e requer um ajustamento, tanto no modo de olhar do mundo, como nos planos para se viver nele. A reação a esta perda, a nível físico, emocional, social e espiritual, varia de pessoa para pessoa e depende das circunstâncias que rodeiam a morte: tipo de relacionamento que existe entre o falecido e o enlutado, a força que a pessoa tem a qualidade de seu mecanismo de defesa. Uma pessoa que tem uma imagem positiva de si mesma, uma capacidade de se relacionar facilmente, uma fé para se apoiar e disposição para tomar iniciativas, agirá melhor do que alguém que tende a retrair-se ao invés de se envolver, tem medo de assumir riscos e enfrentar o sofrimento. A dor do sofrimento é o preço que pagamos por amar. Na realidade, quando escolhemos alguém para amar, deveríamos saber que também corremos o risco de sofrer, pois chegará, inevitavelmente a hora em que teremos de dizer adeus... e deixar partir. É quando o sofrimento começa. Assim como levar tempo para se amar, também leva tempo para deixar partir. Dizem que “o tempo cura”. O tempo, por si, não cura: é o que fazemos com o tempo que pode curar. O que fazer com o tempo para que ele se torne uma fonte de cura? A imagem bíblica do êxodo pode oferecer-nos um ponto de referência para entender o nosso sofrimento. O povo israelita, como nós, experimentou o sofrimento da partida: saiu do familiar, defrontou-se com a incerteza do futuro, com o ajustamento a um novo estilo de vida, com a experiência do deserto e sua imensa solidão... Deus lhe deu os 10 mandamentos para guiá-lo em sua jornada para o futuro. Quem perdeu uma pessoa querida prova um pouco dessa experiência de deserto, de sofrimento, de solidão. Creio que também poderíamos encontrar dez mandamentos, dez sinais ao longo dessa jornada desértica pela qual todos nós passamos, e tirar deles algumas força para caminhar pelo silêncio da dor e da tristeza e chagar à Canaã da esperança... da liberdade... da cura. 1 – Dar tempo ao tempo para aceitar a morte Essa é uma condição necessária para continuarmos a jornada da vida. Não haverá melhora até que enfrentemos a morte adultamente, face a face. Nossa fantasia reage como um anestésico “suavizador do sofrimento”: esperamos que tudo tenha sido um pesadelo, de que nos livraremos ao acordar pela manhã. Quando a realidade da morte penetra gradualmente, perguntamos: isto acontece? Não é importante que tenhamos uma resposta, porque a resposta é racional, e a dor é emocional. Importante é compreender o que acontece. O único meio de “entender” a morte é admiti-la. Ela nos coloca diante de nossa própria mortalidade e vunerabilidade, temos a experiência imediata do que significa ser abandonado, desprotegido, ferido, solidário. Enfim, do que significa, verdadeiramente, ser humano. Sim, nosso ente querido morreu! Mas isto não significa que iremos morrer também com ele. Temos de juntar os pedaços. E seguir em frente. 2- Dar tempo ao tempo para deixar parir Uma das mais difíceis experiências humanas é a partida. No entanto, do nascimento à morte, a vida é uma série de partidas. Algumas temporárias; outras permanentes. A partida nos lembra que não temos controle total sobre a vida, e que precisamos aceitar o que não podemos controlar. Por vezes tentamos ser DEUS, porque ser humano é por demais doloroso. A partida significa ajustar-se à nova realidade, em que o outro não está mais presente. A partida acontece quando o nós se torna eu, quando do formos capazes de substituir a presença física de quem se foi pela lembrança que nos deixou. Quando suportamos e aceitamos os sofrimentos que acompanham a morte: aflição, culpa, medo, tristeza, depressão etc. 3- Dar tempo ao tempo para tomar decisões Pessoas que foram muito dependentes na vida em comum se vêem perdidas no mundo, quando o outro falta. Têm medo de autodirigir-se... de errar... de perguntar... de experimentar. É importante que cada um de nós, nessa situação, seja paciente consigo mesmo e aprenda gradualmente a tomar decisões, com meio de manter o senso do próprio valor. É prudente adiar decisões importantes. Mas não esperar demais: decidir sobre nossa vida ajuda-nos a ganhar algum controle sobre ela e aumenta nossa autoconfiança. 4- Dar tempo ao tempo para compartilhar Talvez a maior necessidade de quem perdeu alguém seja ter com quem compartilhar sua dor... suas lembranças... sua tristeza. Na vida só aceitamos aquilo que compartilhamos. As pessoas enlutadas precisam de tempo e espaço para “trabalhar” a dor. Quando somos estranhos ao sofrimento, é fácil colocar nossas expectativas nos enlutados. Quando sofremos, precisamos de alguém que olhe para trás. É o passado, e não o futuro, que permanece como fonte de conforto nos primeiros estágios da dor. 5-Dar tempo ao tempo para acreditar Sobreviver é encontrar sentido no sofrimento. A dor que tem sentido é suportável, mas essa noção não surge de repente. Às vezes, o sofrimento pode abalar nossa fé: gostaríamos de saber o que Deus está querendo, ou se ele se esquece de nós. O único caminho para sair do deserto é atravessá-lo, confiando em que Deus estará conosco. Nossa fé não tira o sofrimento. Ajuda-nos a conviver com ele. 6-Dar tempo ao tempo para perdoar O sentimento de culpa e a necessidade de perdão acompanham muitas de nossas experiências, especialmente as inacabadas. Quando relembramos nossa vida e relacionamento com a pessoa que se foi, sempre descobriremos falhas. Precisamos aceitar nossas imperfeições e encontrar paz dentro de nós. Do mesmo modo que nosso amor não era perfeito e incluía fraquezas e forças, também o dele não era. Por isso, não procuremos idealizar o outro só porque se foi. Ele não se tornou santo porque morreu. É saudável recordá-lo como era. Precisamos achar forças com o tempo, para nos perdoarmos. Para perdoar a vida, por ferir-nos. Para perdoar a morte, por levar nosso ente querido. 7-Dar tempo ao tempo para se sentir bem consigo mesmo Quem perdeu alguém muito próximo não está condenado à infelicidade. Nós não nascemos felizes ou infelizes. Aprendemos a ser feliz pelo modo com que nos ajustamos aos desafios e pelas oportunidades que a vida nos oferece e sabemos aproveitar. Precisamos ser pacientes conosco mesmos e dar-nos tempo para aprender e para errar... Sempre surgirão oportunidades que ajudam o enlutado a investir suas energias e esforços em atividade novas, que lhe dão o sentido de dignidade e valor pessoal. 8-Dar tempo ao tempo para criar novos amigos No velório estavam 560 pessoas. Onde estão elas após seis meses? Muitos se sentem abandonados e esquecidos pelos amigos. A solidão está sempre presente no sofrimento. Deve ser esse o modo como a natureza conserta nossos corações partidos... Somos desafiados a conviver criativamente com a solidão, expandindo nossa autocompreensão e riquezas interiores. Precisamos nos comunicar. Otto Franz diz que as pessoas estão presas entre dois temores: “o temor vital de seguir avante, confiando e arriscando, e o temor mortal de não realizar, retraindo-se e atrofiando”. No processo do sofrimento, a cura acontece quando conseguimos sair de nossos limites e evolver-nos com os outros. 9-Dar tempo ao tempo para rir E por que não? Na vida existem tantas razões para rir como para chorar. No sofrimento, chegará a hora em que nossas lágrimas virão com menos freqüência e intensidade. Aprenderemos a recordar sem chorar. O riso, por outro lado, ajuda-nos a sobreviver. Podemos sorrir de nossas lembranças, erros, ações e pensamentos... Há muita comédia em nossas tragédias. Sem riso e humor, a vida tornar-se-ia uma triste jornada. O riso liberta-nos da tensão e ajuda a conservar as energias. Para sorrir, movemos 14 músculos; para chorar, são 72... 10-Dar tempo ao tempo para amar Uma pessoa liberta-se do sofrimento quando se sente querida e necessária. Ser capaz de ajudar alguém dá sentido a nossa vida, nos faz sentir bem e auxilia a compreender que nossa experiência pode ser colocada a serviço dos outros. Estar envolvido com os outros nos dá o sentimento de que a vida humana continua e nos afasta da auto-piedade. Ajudar os outros, portanto, é a chave para que nos ajudemos a nós mesmos. Conclusão: o caminho para a cura do sofrimento é dar tempo ao tempo, para descobrirmos formas e modos de orientar nossa vida no sentido de algo com significado. No sofrimento, ninguém pode tirar nossa dor, como num passe de mágica, porque ninguém pode roubar nosso amor. O chamado da vida é aprender a amar de novo. O QUE O POVO PEDE A DEUS E AOS SANTOS Nosso amigo Frei Serge Bonnet recolheu 140 mil pedidos ou orações em 11 santuários franceses que costumam deixar cadernos de intenções para os visitantes. São pedidos muito espontâneos, nem sempre ortodoxos, nem totalmente privados, já que inscritos em cadernos num lugar público (“Prières secrètes des français d’aujourd’hui, Cerf, 1976). Eis alguns: - Não vos peço nada, senão escutar-me interiormente, se me julgardes digno disso. - Uma mãe: Santa Virgem, salvai-me do álcool, tendo três filhos que amo mais do que a mim mesma. Obrigada, tenho confiança. - Sua filha: Santa Virgem, cure mamãe do álcool para sempre, a fim de que tenha melhor saúde e cuide melhor dos filhos que precisam dela. Confio em você. - São José, faz com que os homens sejam menos idiotas e menos ruins. - Ninha solidão é atroz, salvai-me. - Nada, já que tudo sabeis. - Peço à Santa Virgem para que meu marido, que não voltou esta noite, seja fiel, em prol de nossos dois filhos. - Faz que minha moreninha me ame. - Ajudai-nos a aceitar o quotidiano. - Virgem Maria, ainda que não nos importemos com você, não leve a mal. - Dê-nos uma mãozinha. Obrigado. - Eis que tenho um tumor maligno no seio, com marido que já foi viúvo com três filhos; nossos outros dois são pequenos e precisam de mim. Tenho de trabalhar porque nossa situação financeira é rum. Amanhã voltarei com as duas crianças. - Santa Virgem, livrai-me do inferno e servirei aos pobres. - Com 20 anos é passeio; aos 60, é peregrinação. - Oh! Nossa Senhora, bem o sabeis. Nossa Senhora da Salete, se Tiago voltar, nunca mais faltarei à missa de domingo. Bom São José, por favor, uma palavra à vossa santa Esposa e serei salva. Fazei que eu ache finalmente um amante. Obrigada. Boa Viagem, fazei com que eu case no próximo ano. Sou muito sozinha por ser virtuosa. Nossa Senhora da Salete, fazei com que ache um homem como aquele que me deixou. Nossa Senhora, guardai-o só para mim. Nossa Senhora da Salete, ajudai-me a não mais o amar. Nossa Senhora da Salete, dá-me de volta a namorada que perdi por meu mau gênio. Serei melhor, mais paciente. Confio em você. Santa Maria, minha boa mãe peço-lhe um pai para meu filho. Para uma mãe solteira, que sofre com o filho de 9 anos, a fim de que encontre finalmente um São José para sustentá-la. Para que mamãe entenda que as diferenças sociais, na felicidade, não têm a mínima importância. Queria que minha noiva mudasse o caráter. Bernardo. Fazei que meu noivo não seja tão colérico. Annette. Rezai para que nos amemos mais. Bernardo e Annette. São José, faz com que meu marido me ame loucamente, que ele me conte tudo o que faz e seja sério até a morte. Eu te recompensarei muito. São José guardai a minha mulher, para que não seja roubada por um malandro. Santa virgem, obrigada: a outra deixou meu marido. São José, faz com que nosso filho não venha ao mundo. São José, faz com que eu não esteja grávida. Para que meu último filho saiba o que o espera se não se comportar. Uma avó carente da afeição dos filhos e netos. Antes de meus 80 anos, dai-me o pequeno estúdio de que preciso. Se o queres, São José, tu podes enviar-nos a importância para pagar a casa de um vez. Para que papai aceite casar no religioso com mamãe. Faz que meu pai dê dinheiro à mãe. Nossa Senhora da Salete, faz que consiga, dia 16 de julho, meu exame, apesar de talvez não o merecer. Meus pais, porém, seriam tão orgulhosos de mim. Santa Joana D’Arc, faz que minha irmã consiga ser Rainha da Ameixa. Santa Virgem da Salete, coloque minha avó no céu. Queria futuramente ser decoradora de bolos. Janine. Nossa Senhora da Salete, faz de mim um grande poeta. Patrício. Senhor, não lhe agradeço. Não me fez passar no exame. Bom São José, faz que todos os homens do mundo, de todas as raças, sejam um dia todos iguais e felizes. Obrigado. Para que nosso amor não sofra acidentes e permaneça eterno. Nossa Senhora, faz com que o rapaz que amo e acaba de casar seja feliz, compreensivo com sua mulher e seu futuro filho; por meu lado, procurarei esquecê-lo e alcançar a felicidade de outro modo. Obrigada. - - Santa Virgem, meu filho único, 15 dias, tem malformação congênita; sou sozinha, mas ele tem o direito de viver, é preciso que ele viva. Conto com você, Maria Imaculada. Aqui peço o dom da conversão. Nossa Senhora, daí às mulheres do município a coragem de se apresentarem às eleições. Para a conversão do presidente e de todo nosso governo. Pe. Hubert Lepagneur RESENHA A segunda opinião, de lsadore Rosenfeld — O livro completa, na estante familiar, a conhecida obra do dr. David Werner, Onde não há médico (Ed. Paulinas) Na realidade, entre as consultas às duas obras, um médico chegou, diagnosticou e prescreveu. Mas acontece que a terapia ou parece muito drástica ou esquisita ao doente (cirurgia importante, por exemplo) ou, após razoável prazo de experimentação, não dá sinal de melhoria. E nesta situação exata que funciona plenamente A segunda opinião, um original compêndio de medicina, muito prático, traduzido e publicado em 1983 pela Ed. Ditei de São Paulo. Compartilho o pressuposto do livro. Contesta a subordinação cega ao médico que trata ou dá consulta (INPS), sem aconselhar a automedicação, proibida pelos profissionais. Livro de consulta, mais do que de leitura seguida, como o manual do dr. Werner, tem por leitor o doente alfabetizado ou alguém de sua familia, não necessariamente um médico. Ele informa com extraordinária riqueza de atualização sobre as ciladas dos diagnósticos precipitados ou incertos e as alternativas terapêuticas, órgão por órgão, doença por doença, em 28 capítulos. Lembra que a medicina não é uma ciência exata; a hesitação é amiúde legitima, o erro possível em geral, o mesmo diagnóstico admite várias terapias possíveis. Quem vai escolher? Um dos problemas humanísticos e não apenas técnicos da atual prática médica, com efeito, é a associação do enfermo ao processo de sua cura, começando pela informação do sujeito — se ele quiser, é claro —, já que não é um animal sem entendimento e que sua psique e sua doença comunicam inevitavelmente a respeito do mal que o acomete. A clínica, portanto, tem muito a ganhar em tratando o doente como sujeito que é: não precisa mais demonstração. Entende-se porque a clínica soviética, pouco disposta em valorizar a pessoa, não se interessa por esta colaboração. A clínica norte-americana informa o paciente e pede—lhe licença antes de engajar terapia pesada, arriscada ou mutilante, por uma razão que bem conhecemos: a drástica responsabilidade civil que pesa, nos EUA, sobre os médicos e suas mal-practices. A medicina brasileira muito zelosa em geral em seguir, como cópia-carbono, a medicina norte-americana, não a imitou nesse ponto, precisamente porque a responsabilidade do medico no Brasil ainda é praticamente inexistente, por razões que não cabe discutir aqui. Ele sabe perfeitamente que uma de suas melhores proteções contra qualquer tipo de processo-queixa do cliente consiste em lhe subtrair sistematicamente as informações que dizem respeito a doença e ao tratamento decidido A confiança celebrada na medicina liberal torna-se sujeição total, incondicional incontrolável Essa desinformação, junto com a solidariedade de classe que impede, aqui, que um médico testemunhe publicamente ou em juízo contra um colega — paralisa qualquer defesa do doente eventualmente prejudicado por erro médico, e a denúncia do caso a Ordem dos Médicos — calorosamente recomendada — não ilude ninguém. A deontologia médica, como está aplicada, protege o médico, antes do doente. O jeito, então, antes que seja tarde demais, é tentar conversar com o médico. Essa tentativa, é melhor esclarecer logo, tem toda probabilidade para abortar, se o doente, ou a família, não dispuser de informações precisas que ninguém pode inventar e que o profissional não está disposto a colocar ao alcance do freguês. Nesse ponto exato do cenário cabe o recurso ao livro do dr. Rosenfeld, mal servido por um titulo enigmático, mas amplamente informado, elucidativo sem esoterismo, prudente sem esconder os problemas, não dogmático, mas pedagógico e amigo, O rico índice remissivo permite orientação rápida no meio de suas 400 páginas, Num certo sentido, este livro não resolve imediatamente nada, não propondo fórmulas mágicas: ele permite, porém, iniciar uma troca com o médico — este ou outro —, troca que pode mudar muita coisa na existência do doente ansioso e que teria sido impossível sem a documentação matizada, mas muito concreta deste manual. Médicos e curandeiros. Conflito social e saúde, de Maria Andréa Loyola — Chegou às livrarias em abril de 1984 este relato sobre comportamentos e conceituações de saúde, a partir de “pesquisa de campo” realizada por uma equipe de sociólogas brasileiras, apenas na diocese de Nova Iguaçu, RJ, no período 197681, não sem financiamentos de diversas instituições norte-americanas e francesas. A obra fornece pormenores sobre uma situação popular já conhecida, sem novidades nas conclusões, mas não sem pendor populista que desconfia da “medicina oficial” e da Igreja católica, apresentada como sua aliada. Primeira parte: os especialistas da cura do corpo são os médicos, farmacêuticos e especialistas de ervas, os especialistas da cura do espirito são paisde-santo da umbanda e do candomblé, pastores batistas e da Assembléia de Deus e religiosas católicas. Estes religiosos são rivais (em “acirrada concorrência”), e usam a ajuda da saúde, dizem, como “meio de atrair fiéis”. Segunda parte: a prática médica familiar conta a percepção, o diagnóstico e o tratamento populares das doenças, assim como a utilização dos remédios, tanto da faixa oficial como de proveniência popular; as doenças, os doentes e os especialistas são outros temas de depoimentos amplamente citados. O positivo do livro é, portanto, juntar dados da prática popular de Nova Iguaçu acerca da saúde. “Meu marido é católico, mas assim... não é fanático. Ele acredita muito em São Jorge, na umbanda!” (p. 177. Mulher de operário, 30 anos, estudos primários). Compreensivelmente, as religiosas esforçam-se por servir o povo, frear as superstições, incutir perspectivas de higiene objetiva, colaborar com os médicos. A interpretação da autora não é das mais benevolentes: “Note-se neste discurso a posição que se estabelece entre uma visão do mundo sensível e própria das médias e dominantes, à qual e reservado o nome de religião por oposição á magia e à superstição ou no melhor dos casos, a religião popular”. Não se pode negar observações exatas: Por oposição á umbanda e ao candomblé. Cujas práticas rituais implicam ostentação e grandes gastos de tempo e dinheiro, e também à Assembléia de Deus, onde as manifestações emocionais e as preces espontâneas criam um clima místico que permite viver a relação com o sagrado diretamente através do corpo (o que ocorre também na umbanda e no candomblé), as práticas litúrgicas católicas encorajam de preferência uma participação discreta no ritual e um controle sistemático do corpo e das emoções’. Mas será que a ideologia populista adotada no livro serve aos reais interesses do povo, por exemplo, nesta contestação: “A doença (para a irmã-enfermeira) é associada à falta de instrução, à ignorância, às superstições e à sujeira, enfim ao fato de os membros dessas classes não seguirem os modelos de higiene, de profilaxia e de cuidados adotados pelas classes dominantes, difundidos pela medicina oficial. A doença e a saúde são concebidas em termos estritamente orgânicos”? A hostilidade ou desconfiança à medicina oficial e patente, ate na conclusão Ao mesmo tempo em que não rejeita e mesmo reivindica o acesso á terapias oferecidas pela medicina oficial, esta população pode —. graças à existência dessa alternativa constituída pela medicina religiosa, mais próxima de suas representações do corpo e de sua relação com o mundo subtrair-se parcialmente a imposição da visão do mundo das classes dominantes, veiculada pela medicina erudita, e contrabalançar a relação de dominação e de possessão de si mesma que resulta da prática médica oficiar. O catolicismo não tem medicina religiosa mas inspiração religiosa para usar as medicinas que mais servem ao povo; seria absurdo, nessa linha, opor-se sistematicamente á medicina oficial ou vetar propositadamente toda medicina popular. Em nome de que a sociologia incentivaria deixar a saúde do Povo entre as mãos dos pais-de-santo, mães-de-santo e rezadores duvidosos? Melhor seria cuidar da formação sanitária do povo, com os recursos da ciência e da pedagogia atuais, por um lado, e por outro abrir mais a medicina oficial para a globalidade dos problemas da pessoa doente, mas o que seria mais realista exigir hoje? Aceitamos, entretanto, este aviso: Assistimos a uma transformação da medicina popular tradicional que, ao invés de racionalizar, tendo em vista a atuação da medicina oficial, torna-se cada vez mais, uma medicina religiosa, ou seja, uma medicina exercida nos quadros de urna religião (no caso, notadamente o espiritismo), que lhe oferece urna forma de legitimação Em compensação, o que tende realmente a desaparecer são as práticas terapêuticas do catolicismo popular, tais como eram concebidas e desenvolvidas no meio rural. Aí são situações e evoluções que não podem deixar indiferente uma Pastoral da Saúde e nos incitam a refletir. Pe Hubert Lepargneur ATENDIMENTO ESPIRITUAL AOS DOENTES Padres, leigos e religiosos que dedicam sua vida ou parte dela a visitar, em nome de Jesus e da Igreja, os doentes em hospitais, sanatórios, asilos e famílias, devem procurar ter uma visão muito aberta dos mistérios de Deus, da doença e do homem. Sobretudo, devem alimentar-se de uma vida intensa de oração e freqüência aos sacramentos e pedir a graça de serem apenas instrumentos do senhor. A Bíblia é sempre o ponto de referência e recolocação de nossa tentativa de sermos membros da Pastoral junto aos doentes. Vejamos Lucas 13, 10-13. Você se encontrará diante de pessoas assim hoje também. Eu diria que mais hoje que nos tempos de Cristo, pois embora o homem tenha crescido no conhecimento técnico, não cresceu no sentido comunitário e nem a comunhão e dependência a Deus-Pai. Exemplifico com fatos reais. 1º - Uma senhora às vésperas de uma cirurgia do estômago foi visitada por mim, a pedido de um membro da Renovação Carismática. A enfermeira estava fazendo a toalete para a cirurgia. Aguardei. Quando terminou, entrei e, após conversarmos, convidei a senhora a rezar. Finda a oração, ela contou-me que a doença tivera início quando, numa sessão espírita, tinha permitido ao caboclo possuí-la sexualmente. Era casada, mãe de três crianças. O refúgio foi a dor de estômago e passar de médico a médico, de hospital a hospital. Foi só refletir que Jesus morreu para nos perdoar, por maior que seja nosso pecado, arrepender-se e prometer, com sua graça, não mais pecar Recebeu o perdão sacramental. No dia seguinte, teve alta. Nunca mais precisou de médico. 2º - Um senhor, também internado, com vômitos e enxaqueca já pela quarta vez em três meses, está ameaçado de perder o emprego. A esposa pediu-me que o visitasse, ela ficou rezando na presença do Santíssimo. Padre, foi logo dizendo, eu não consigo ficar mais em casa. Sinto-me mal. Vejo minhas crianças e me vêm logo dor de cabeça e enjôo. Não sei, não suporto mais minha casa. Lemos um trecho da Bíblia juntos, rezamos para que Jesus Salvador nos revelasse o que estava acontecendo. Ele chorou, chorou bastante. Foi ao banheiro lavar-se. Veio o médico procurá-lo. Pediu ao médico que nos deixasse a sós. E o médico respeitou o direito do paciente. Falei ao doente deve existir algo em seu coração que impede o irmão de abençoar seus filhos, que são presentes de Deus. Sim, padre, trai minha esposa. Por isso, em casa, não tenho mais paz. Vendoa amando-me, e eu a trai. Vendo os filhos, que ela cuida e zela com tanto carinho, e eu trai minha missão de pai. Eu não agüento minha casa. Foi só ajudá-lo a recolocar-se, a confiar no perdão de Jesus, e voltar para casa, para a esposa e filhos, com a experiência amarga, mas disposto a continuar a caminhada da vocação matrimonial. Acabaram-se as dores. Encontrei-o dois meses depois, quando foi à penitenciária com os pais de um preso. Abraçou-me feliz: Tenho o lar mais querido do mundo’, disse-me. 3º - Uma senhora sofrera fratura do fêmur. Submeteu-se à cirurgia, a todos os cuidados médicos. Senhora de posses. Estava em apartamento com enfermeiras particulares. Apesar de toda a assistência, a mulher não sarava, as dores na perna continuavam. Sessenta dias de hospital. Equipe médica foi composta. Não encontraram motivo para tanta dor. E a dor não passava. A vizinha da parenta veio pedir-me que a visitasse. Lá estive várias vezes. A enferma estava de mal com uma filha, solteira e grávida. Ela, senhora da sociedade, com conceito moralista, não permitia que a filha a visitasse nos dois meses de internação. O coração estava bloqueado: a filha era a vergonha da família. Voltar para casa era, de alguma forma, abrir espaços para a filha encontrarse com ela. Isto ela não admitia. Quando, através da oração, da meditação da Palavra e de muitas pessoas rezarem, a filha superou sua auto-suficiência e pediu um encontro com a mãe, ambas se reconciliaram. A dor passou. Dias depois, a senhora voltou para casa 4º — Um senhor, pai de três crianças, vivia adoentado. Praticamente não se alimentava. Era da cama para a TV, da TV para a cama. Os visitadores de doentes descobriram-no e passaram a visitá-lo semanalmente. Fazia anos que não rezava nem recebia os sacramentos, mas ia ao Convento da Penha (um santuário de grande afluência de peregrinos em Vitória). O doente perdera o emprego. Vivia do aluguel de duas casas e do trabalho da mulher costureira. Um dos visitadores é pessoa de muita oração. Numa longa conversa, o doente contou-lhe que guardava ódio de um primo que o prejudicara enormemente num negócio. Rezou-se com confiança pelo doente, para que abrisse seu coração ao perdão e assumisse sua missão de pai. Quando ele conseguiu entender, pela graça de Deus, e perdoar o primo, melhorou. Sarou e voltou ao trabalho, para imensa alegria da família e de Deus-Pai. O pecado alimentado tem influência demolidora na vida do homem. O visitador não pode esquecer-se desta triste realidade. A técnica, a cirurgia mais avançada, a psicologia, a terapia de grupo não atingem o íntimo, onde o homem se encontra consigo mesmo, com Deus e com os irmãos. Esse núcleo é que deve ser libertado do egoísmo e alimentado pelo amor profundo ao próximo e a comunhão intima com Deus-Salvador o mesmo Jesus que libertava do oral, do demônio, da doença, Ele é vivo, está presente no mundo o na Vida das pessoas. Cabe a nos procura-lo e vivenciá-lo na oração. E confiar totalmente nele. É necessário também ter a caridade de pôr o dedo na ferida do doente, falar-lhe a verdade e ajudá-lo a recolocar-se de seu pecado. 5º — Foram também os membros da Renovação Carismática que possibilitaram a visita aos doentes de um hospital que não queria abrir as portas ao trabalho de Pastoral. A custo, permitiu uma pessoa da Renovação. Pois bem, os doentes falavam tão bem das visitas, da oração, do conforto que esse membro da Renovação Carismática lhes trazia, que, vencida a diretoria pela evidência , abriu-se o hospital à visitação pastoral e á própria celebração da Missa para os doentes. Enquanto escrevia esta reflexão, fui chamado à casa de uma doente que, há um mês, só pede a morte, só chora e maldiz sua vida. Descuidou do marido e filhos. Está fechada em si. Todos os recursos foram utilizados, recursos humanos. Ela viu morrer um dos filhos, ou melhor, o único filho homem. Tem uma menina, mas o garoto era sua glória, sua promoção. Agora, tudo acabou. A realidade do mal é mais profunda. Ela não quis mais filhos. Contra o desejo do marido, fez laqueação tubária. Ligou, na sua visão humana, laqueação tubária com vingança de Deus. E fechou-se. Quer dizer-me que isso não é doença?!? Família, parentes, amigos, todos estão de dobressalto por esta atitude errada de mãe. Ela só se curará de seu mal, quando seu núcleo for libertado desse egoísmo e visão errada da vida e de Deus. Há necessidade de o visitador ser homem de fé e de discernimento. A Pastoral, ou melhor, o atendimento aos doentes é sustentáculo da pregação. Jesus une pregação e atendimento aos doentes. Pe. Afonso Pastore – Vitória, ES.