TEORIAS DE LÍNGUA E SEGUNDA LÍNGUA AULA 03: GERATIVISMO TÓPICO 03: A TEORIA GERATIVA E A RELAÇÃO LÍNGUA MATERNA E LÍNGUA ESTRANGEIRA VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(o) , seja bem vindo(a) ao tópico 3 da aula 3 do Módulo Teorias da Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico conceituar a Gramática Gerativa proposta por Noam Chomsky. Os objetivos específicos deste tópico são os de comparar e contrastar os conceitos de princípios e parâmetros, e reconhecer a contribuição do Programa Minimalista para os estudos de diferentes línguas. Tenha uma boa Aprendizagem! REFLEXÃO Estudamos anteriormente o processo criativo da aquisição da língua materna. Vamos agora voltar nossas reflexões para o processo de aquisição da língua estrangeira, do ponto de vista da GU? O que você já pode antecipar a esse respeito? Esta reflexão é a base para o estudo deste tópico! Dada a velocidade com que a criança adquire a língua a que está Fonte [2] exposta, Chomsky adianta que levaria muito tempo marcar todas aquelas regras, mesmo sendo através da faculdade da linguagem. Após estudar todas as regras apresentadas, ele postula que o conjunto de regras que era comum para todas as línguas seriam princípios, que já viriam prontos dentro da faculdade da linguagem, uma vez que são os mesmos para todas as línguas; e os haveria também os parâmetros, que seriam marcados pela criança de acordo com a língua de sua experiência. Esse avanço dentro da Teoria Gerativa vai dar impulso aos estudos de aquisição de primeira língua. Os estudiosos dessa questão investigaram de que forma se dava o processo de aquisição e observaram que há sim uma regularidade espantosa entre os estágios da aquisição, independentemente da língua sendo adquirida. Além disso, a ordem dos estágios em que os fenômenos acontecem é universal para todas as línguas. Os estudos em aquisição de primeira língua apontam que a criança começa aprendendo a melodia da sua língua. Com poucos dias de vida, ela já é capaz de reconhecer a prosódia da língua dos pais. Em seguida a criança aprende os fonemas do seu idioma, ou seja, até a idade de cerca de dez meses o bebê é capaz de distinguir qualquer fonema produzido por uma língua humana. Nesta fase esta característica da faculdade da linguagem começa a desaparecer e outra capacidade aparece a aquisição das palavras. Entre 10 e 24 meses há um crescimento muito grande de palavras, a criança começa a nomear os objetos a sua volta e por volta dos 2 anos já combina duas palavras. Essas palavras não apresentam uma combinação aleatória, elas já mostram um sistema governado por regras: a marcação de parâmetros para sua língua. Essa fase da teoria gerativa ficou conhecida como Modelo de Princípios e Parâmetros. Dentro desse modelo postulou-se que as línguas organizam-se através de uma estrutura X-barra formada de constituintes sintáticos: sintagmas nominais (SN), verbais (SV), adjetivais (SAdj), e preposicionais (SP), colocados de forma hierárquica. Essa estrutura sintática é regularmente representada através de esboços que apresentam galhos, as partes da estrutura X-barra, e ficaram conhecidos como árvores. Estes sintagmas se combinam hierarquicamente dando origem a uma sentença, um período, etc. Veja como fica a sentença (5) abaixo colocada em uma árvore. Observe como existe uma hierarquia, onde o verbo tem posição de destaque por decidir quais complementos ele precisa; sujeito, sim ou não, no português; objeto direto ou indireto, depende do verbo. A distribuição dos outros sintagmas se dá a partir do verbo comer para o caso da sentença (5). Esse modelo apresenta variações que serão marcadas entre as línguas: os parâmetros. Vários parâmetros foram postulados e todos com uma estrutura binária do tipo sim ou não, que a faculdade da linguagem acionaria quando da exposição da criança à língua. Um dos parâmetros mais famosos que envolveram o português, o espanhol, inglês e francês, entre outras línguas, foi o parâmetro do sujeito nulo. Esse parâmetro estudava como a criança aprende que sua língua obrigatoriamente tem um sujeito, ou não. O português, assim como o espanhol, pode ter sujeito nulo. O inglês e o francês têm que marcar a posição de sujeito, nem que seja com um sujeito sem valor semântico. Este fato remete a sentença (1) apresentada acima. A criança exposta ao português sabe que sua língua admite: (6) Choveu. (7) Comi. (8) Eu falei. Assim, como a criança, falante do inglês, sabe que sua língua admite: (9) It rained. (10) He plays the guitar. Assim, o parâmetro do sujeito estaria por ser marcado, ou seja, escolhido em língua com ou sem sujeito nulo, pela faculdade da linguagem. Ao ser exposta, a criança marca essa possibilidade. Como esse, existem outros parâmetros, que a criança vai marcando ao ouvir, e essa sucessão de escolhas dará origem a um conjunto de parâmetros que formará a sintaxe da sua língua materna. Como podemos ver, nesses mais de 50 anos do Programa Gerativista, Noam Chomsky fez vários ajustes e até recortes nos dados que sua imensa equipe de linguístas espalhados pelos quatro cantos do mundo recolheu. Ele julgou que tal era necessário para poder permanecer fiel ao seu objeto de estudo. Em virtude desse rigor científico, em 1995, mais uma vez, ele ajusta o foco da pesquisa para responder a pergunta de Platão. VERSÃO TEXTUAL Estes 50 anos têm sido dedicados a descobrir como é essa estrutura linguística inata, com a qual os seres humanos nascem, e ao preenchê-la com qualquer língua humana, nasce uma língua natural, que é o que conhecemos. Com base no conhecimento que se tem do corpo humano, postulou-se que a mente/cérebro humano é modular, ou seja, é composta por módulos, partes do cérebro que são responsáveis por diferentes atividades. Indo mais longe, a própria faculdade da linguagem deve ser modular e seus módulos responsáveis por áreas diferentes que se interconectam no momento de produzir uma sentença ou na hora de interpretá-la. Um destes módulos seria responsável pelo armazenamento do vocabulário, chamado de Lexicon, que acumularia todas as palavras que aprendemos. Existem evidências que fazem crer que o Lexicon guarda as palavras separando os radicais das desinências, da morfologia da língua, etc. Outro módulo seria a semântica que atribuiria o sentido às palavras, à própria morfologia, etc.s Este movimento que tenta dar um novo enfoque à estrutura gramatical da GU, chama-se Programa Minimalista. Esta nova etapa dos estudos, tenta aliviar as operações da sintaxe dentro da GU, atribuindo a outros módulos, tarefas antes atribuídas à sintaxe, como a formação de palavras, ou seja, acrescentar aos radicais a morfologia, ou seja, colocar nos radicais as desinências de plural, feminino, masculino, tempo, entre muitos outros. Esta tarefa agora fica por conta do Lexicon, que já os manda prontos para a sintaxe. Cabe agora ao Programa Gerativista, dentro da perspectiva Minimalista, entender como se dá as interfaces entre módulos, como eles se comunicam. Os dados robustos obtidos através dos estudos da aquisição de primeira língua fizeram com que muitos estudiosos, desta vez de aquisição de segunda língua, se perguntassem se a Gramática Universal estava disponível no adulto que aprende língua estrangeira. Após vários anos de pesquisa durante a década de 90, os estudos acabaram por mostrar que a GU já não pode operar como o fez na aquisição da língua materna, pois já foi preenchida com os dados dessa língua. Assim, estudos mais recentes apontam que os princípios ainda estão operantes, mas não os parâmetros. Tal constatação explica porque é muito mais difícil para um adulto aprender língua estrangeira do que para uma criança aprender sua língua materna. O adulto vai então, apoiar-se, não nos parâmetros, mas na sua experiência linguística prévia, seja a língua materna ou qualquer outra língua estrangeira com a qual tenha tido contato. Assim, nos estágios iniciais, a língua estrangeira que está sendo adquirida apresentará uma forte interferência da língua materna. Essa mistura da língua materna e da língua estrangeira é conhecida como interlíngua. Pesquisas recentes mostram que a criança tem recursos fonológicos que lhe permite quebrar as sentenças em palavras, e provavelmente estes sinais são os que seriam responsáveis pela marcação dos parâmetros. Como o ouvido humano adulto já tem dificuldade para reconhecer estes sons, esse seria um possível motivo para a não marcação de parâmetros. OLHANDO DE PERTO Ao fim desses três tópicos, pudemos compreender que a teoria gerativa tenta estudar a estrutura de uma língua interna, que está na faculdade da linguagem no cérebro humano, com a qual todos os seres humanos nascem equipados. Como não temos acesso a essa gramática dentro do cérebro, os gerativistas a estudam através da produção dos falantes. Essa produção, a fala, tem uma parte ligada a uma estrutura interna, a sintaxe da GU, e outra ligada aos fatores sociais externos. A gramática gerativa enfoca a sintaxe interna da língua, a GU, através da sua produção e interpretação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Um aluno, falante do português do Brasil, nos estágios iniciais de aquisição de espanhol como língua estrangeira, muito provavelmente produzirá sentenças como: a) *Yo gusta de bailar. Baseado nas evidências acima, tal sentença foi produzida baseando-se na sintaxe do português ou do espanhol? Como seria esta sentença em espanhol? Quais as diferenças sintáticas existem entre os verbos gustar e gostar? REFERÊNCIAS BENTES, A. M. & MUSSALIM, F. Introdução à Linguística Vol. 3 .São Paulo: Cortez Editora, 2ª ed. 2005. BCHOMSKY, N. Knowledge of Language: Its Nature, Origin and Use. Westpoint, Connecticut: Praeger Publishers 1986. BMIOTO, C. et alli Novo Manual de Sintaxe. Florianópolis: Editora Insular, 2ª ed. 2005. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://www.logolicia.com.br/wp-content/uploads/2008/noid-letras.jpg Responsável: Profª Gislayne Silva de Oliveira RUniversidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual