ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIAO AUTONOMA DOS ACORES Gabinete da Presidéncia VOTO DE CONGRATULACAO Decorria o ano de 1862 quando se criou a Sociedade Tomes Boim & C.a, atual Ceramica Vieira, na Vila de Lagoa, ilha de Sao Miguel, pelas maos de Bernardino da Silva, natural de Vila Nova de Gala; Manuel Leite Pereira, de Peso da Regua, Tomas d'Avila Boim, da ilha do Pico e Manuel Joaquim d'Amaral, do Boim & C. situava-se no Porto dos concelho da Povoagao. A sede da Tomes Carneiros, na unidade fabril de ceramica entao criada. Sete anos depois Boim e Amaral desligavam-se da sociedade. Por seu lado, Manuel Leite Pereira criou a sua prepria unidade - a "Ceramica Agoriana" - no lugar das Alminhas da mesma Vila, entre 1870 e 1872. A Sociedade inicial, do Largo do Porto, tomou o nome de Ceramica de Bernardino da Silva, ate a morte deste em 1896. Corn o passar do tempo, a febrica foi conhecendo novos proprieterios, maioritariamente familiares de Bernardino da Silva. A gestao atual é da responsabilidade de Antonio Jose da Silva Martins Vieira e de suas filhas Maria Teresa e Maria Manuala. As duas irmas sac), portanto, a quinta geragao da familia de urn dos fundadores da Sociedade que, de forma ininterrupta, a gerem e fazem crescer. Ern Janeiro de 1985, a Ceramica Vieira comprou a Ceramica Leite, transferindo a maior parte da unidade para a Rua das Alminhas, onde se mantern. A primitiva febrica, do Porto dos Carneiros, alberga varias pegas de aspen° e serve para a produgao esporadica de telhas. 0 seu barro é Onico. De cor avermelhada, é produzido na prepria fabrica a partir de uma mistura de barro de Santa Maria corn o dos Barreiros, o que o torna caracteristico e bastante resistente a cozedura. 0 vidrado das suas pegas sempre constituiu urn patrimenio impar. Feito com chumbo e ferro, confere aos utensilios consistencia e brilhos especificos. Durante largas dezenas de anos, a produce- 1:i da Ceramica Vieira foi inteiramente artesanal. 1 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIAO AUT6NOMA DOS ACORES Gabittete do Presidéncia Quer as pegas, quer a decorageo - de inicio corn linhas simples - ganhavam uma grande variedade de tons beges e amarelos, de grande beleza, conforme a localizageo nos tradicionais fornos a lenha. A venda da louga da Lagoa era feita ern carrogas por vendilhOes independentes que percorriam toda a ilha. A base da produce° era inicialmente a louga domestica e a telha. So ern meados do seculo XX se iniciou o fabrico regular de pegas decorativas. Hoje, sec) estas a principal base de sustentageo e a grande atrageo da casa, verdadeiro ex-libris do concelho da Lagoa, lugar de paragem obrigatOria de muitos turistas que vem de todas as partes do mundo. Conta atualmente corn uma dezena de arteseos, cujas maos /labels esculpem e decoram verdadeiras obras de arte, em que cada urn pode usar a imaginageo e conferir livremente a pega urn pouco de si. Se° polivalentes e aprendem corn os mais velhos. A Ceramica Vieira é a Unica produtora e dinamizadora da azulejaria agoriana. Estas pegas olãricas, com os seus tons inconfundiveis de azul e branco, sec) utilizadas ern revestimentos, enquanto os paineis decorativos ganham cada vez mais protagonismo. Uns e outros decoram apeadeiros, fontenerios, placas comemorativas, igrejas, bibliotecas, restaurantes e inUmeras casas agorianas. Reproduzem uma grande variedade de motivos: pâssaros, flores, padr6es geornetricos, temas e figuras religiosas ou profanas e reprodugOes de fotograflas. Embora a olaria se tenha desenvolvido em praticamente todas as ilhas, apenas S. Miguel e Terceira produziram faianga. A Cerernica Vieira foi a primeira e a (mica a sobreviver ate aos nossos dias. A producer) de ceremica nasceu da necessidade das pegas para uso domestico: talhäo para a egua ou cereais, alguidar para amassar o pão, bola° para salgar o porco, canjireo do vinho, lava-M.5os, pratos, terrinas, cagarolas e telhas para cobrir as habitacees. As formas e tdcnicas de fabrico da louga agoriana revelam, desde sempre, urn misto de influencias, sejam hispano-mouriscas como o celebre talhao de Santa Maria ou greco-romanas, nas linhas, desenhos e policromia, corn especial destaque para a louga vidrada da Lagoa. hleo menos importante foi a adaptagâo das pegas 2 ASSEMBLE1A LEG1SLATIVA DA REGIÁO AUTONOMA DOS ACORES Gabinete do Presidéncia cerernicas as especificidades e cultura das nossas ilhas, de que sgo exemplos a sertà, o prato de fava, a tigelinha de beber vinho, os pesos de rede e as cagarolas de apanhar polvo. o micaelense Eduino Borges Garcia, arqueOlogo, medievalista e estudioso da cultura e da identidade, organizou e doou, para integrar urn dos nkleos ceramolOgicos do Museu de Olaria de Barcelos, uma colegäo de ceramica popular onde predomina a faianga lagoense. Mas a encantadora louga da CerSmica Vieira inspirou muitos outros autores, de entre os quais destaco Rui de Sousa Martins, que se interessaram pelos engenhos ou fabricas, tknicas utilizadas, tipo de pegas produzidas, sobretudo pela individualidade da azulejaria. Como se pode ler no Centro de Conhecimento dos Agores "a cer8mica agoriana é urn born instrumento de estudo para o conhecimento da vivéncia do povo das ilhas. Ern barro se cozinhava, ern barro se comia, ern barro se cuidava da higiene, corn barro se trabalhava e corn barro se adorava Deus". A Cerárnica Vieira é, assim, parte integrante das nossas vidas, da nossa histOria e da nossa cultura. Cabe-nos, pois, reconhecer e louvar o seu percurso. Assim, nos termos regimentais e estatutärios aplic6veis, a Assembleia Legislativa da Região Autônoma dos Acores, aprova um voto de congratulagâo pelos 150 anos da CerSmica Vieira, da Vila e concelho de Lagoa. Aprovado, por unanimidade, pela Assembleia Legislativa da Regiào AutOnoma dos Acores, na Horta, ern 16 de fevereiro de 2012. 0 Presidente da Assembleia Legislativa da Regiào AutOnoma dos Acores Francisco Manuel Coelho Lopes Cabral 3