Técnicas para evitar a dispersão dos nematóides no cerrado. Rosangela Aparecida da Silva Até 1997, a área de produção do algodão concentrava-se nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, ocupando 620.417 ha. A partir de 1998, essa cultura teve aumento significativo em área plantada, devido à migração para os estados do Mato Grosso, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul. Atualmente, o Brasil é classificado como quinto maior produtor, com área de 1.124.249 ha (Agrianual, 2005). Portanto, foi apenas nos últimos anos que grandes áreas passaram a ser utilizadas para o cultivo do algodão e, em função disso, há algumas lacunas nas informações sobre essa cultura, como, por exemplo, sobre o estabelecimento e dispersão dos fitonematóides. Há três espécies de nematóides que mais costumeiramente atacam o algodão no Brasil, o nematóide de galhas (Meloidogyne incognita) raças 3 e 4, o nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematóide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Alguns estudos têm mostrado que esses patógenos já ocorrem nas principais áreas algodoeiras do Brasil. Pesquisa realizada em regiões produtoras do estado do Mato Grosso, no ano de 2002, com 603 amostras coletadas, mostrou que Pratylenchus brachyurus ocorreu em 94 %, Meloidogyne incognita 3,7 % e Rotylenchulus reniformis em 2% (Silva et al., 2003). No Mato Grosso do Sul, Asmus e Comunelo (2004) relataram a ocorrência de M. incognita, R. reniformis e P. brachyurus, em 27,7; 16,8 e 65,2%, respectivamente, das 184 amostras coletadas. Seguindo a mesma linha de pesquisa, Gielfi et al (2003) verificaram que P. brachyurus e M. incognita ocorreram em 79 % e 54 % das 187 amostras. No estado de São Paulo, trabalhos preliminares realizados por Machado (2005, comunicação pessoal) mostraram que R. reniformis é o nematóide mais disseminado nas áreas de produção de algodão. Uma vez que os nematóides de importância para a cultura do algodoeiro estão presentes nos principais Estados produtores, o próximo passo é evitar que esses fitopatógenos venham inviabilizar a produção; uma forma de evitar que isso aconteça é impedir a infestação das áreas indenes, evitando a disseminação desses patógenos. Como os nematóides são organismos pouco móveis no solo, as atividades agrícolas são os principais fatores de disseminação dos mesmos, devendo-se ficar atento. Para isso é necessário que os agricultores conheçam os fatores que contribuem para a disseminação, afim de que possam adotar as práticas agrícolas mais adequadas. Durante um período de cultivo do algodoeiro, as máquinas agrícolas (pulverizadores, tratores, plantadeiras, colhedeiras) chegam a entrar cerca de vinte vezes em um mesmo talhão, para efetuar as práticas agrícolas necessárias. Com isso, acabam disseminando os nematóides dentro do talhão e para talhões próximos. Lee et al (2003) avaliaram as possibilidades de dispersão de R. reniformis em campos de produção de soja e algodão. Os autores coletaram amostras de terra em plantadeiras e verificaram a presença em média de 726, 963, 896 e 659, nematóide por 100 cm3 de terra, coletado em partes implementos e de 633 nematóides/ 100 cm3, de terra coletada em amostras dos pneus do trator. Isso mostra que as práticas culturais são potenciais agentes de dispersão de nematóides. Todos os meios de transporte que circulam em diversas propriedades sem passar por processo de pré-limpeza, podem carregar partículas de terra aderida e, com ela, os nematóides. Sem barreiras entre as propriedades, as enxurradas e as tempestades de poeira, que passam por áreas infestadas e podem carregar os fitonematóides. Existem diversos trabalhos que atribui a dispersão de nematóide às tempestades de poeira. Gaur (1988) trabalhando com amostras de poeira coletadas em armadilhas, constatou a presença dos seguintes gêneros de nematóide: Pratylenchus, Meloidogyne (juvenis), Rotylenchulus (fêmeas imaturas, machos e juvenis). Estudos recentes mostraram que o nematóide das lesões radiculares, P. brachyurus, é carregado por torrões que acompanham as sementes de forrageiras e, portanto pode ser assim distribuído nas áreas de cultivo. Isso talvez explique a distribuição dessa espécie em áreas de primeiro ano de algodão no cerrado, as quais, quando abertas, foram cultivadas com forrageiras. Os nematóides também podem ser disseminados através de mudas. Portanto, todos os cuidados devem ser tomados com as mudas que entram em uma propriedade, seja ela de frutífera, ornamental ou mesmo essência florestal utilizada para recompor a reserva florestal legal. Entre os cuidados que devem ser tomados para realizar as práticas agrícolas deve-se incluir o levantamento nematológico do local, a fim de conhecer as espécies daninhas presentes e o nível de infestação, para que as medidas – de - controle adequadas possam ser tomadas. Portanto não existe uma receita única geral para todos os casos, mas algumas sugestões seguem como propostas que poderiam ser levadas em consideração para minimizar a disseminação desses fitopatógenos: • Utilizar sempre sementes beneficiadas, que não contenham torrões de terra que possam estar alojando esses fitopatógenos. • Ao verificar a presença do nematóide em algum ponto da lavoura, deixe este local para ser preparado por em último lugar e lave bem os equipamentos após o preparo. • Se houver estrada com trânsito intenso cortando a propriedade, cultive uma faixa de cada lado da estrada, com plantas não hospedeiras de nematóides de importância para cultura. • Sempre que possível, faça semeadura direta para que o solo não seja muito revolvido. O solo deve ser coberto com palha no inverno. Esta técnica evita que o nematóide seja carregado pela enxurrada ou pelo vento. • Construa barreias física ou vegetal, em sua propriedade, para evitar entrada de enxurrada advinda de áreas contaminadas. Literatura Citada AGRIANUAL, 2005, FNP, Consultoria e Comércio, p. 181 – 198. ASMUS, G.L. Ocorrência de nematóides fitoparasitos em algodoeiro no Estado de Mato Grosso do Sul. Nematologia Brasileira, v.28, n.1, p. 77-86, 2004. Gaur, H. S. Dissemination and mode of survival of nematodes in dust storms. Indian Journal of Nematology. 18, 1988, p. 94 – 98. GIELFI, F. S.; SANTOS, J. M. & ATHAYDE, M. L. F. Reconhecimento das espécies de fitonematóides associadas ao algodoeiro (Gossupium hirsutum L.) no estado de Goiás. In: IV Congresso Brasileiro do Algodão, Goiânia, GO, 2003. (resumo) LEE, H. K.; LAWRENCE, G. W.; DUBIEN, J. L.; KELLEY, A.T. Cultural pratiices and the Reniform nematode in Mississipi. Journal of Nematology, v. 35, (3), p. 350, 2003 SILVA, R. A.; SERRANO, M. A. S.; GOMES, A. C.; BORGES, D. C.; SOUZA, A. A.; ASMUS, G. L. & INOMOTO, M. M. Nematóides associados ao algodoeiro no estado do Mato Grosso. In: XXIV Congresso Brasileiro de Nematologia, Petrolina, PE. p.150. 2003. (resumo) Mini-currículo Nome: Rosangela Aparecida da Silva Naturalidade: Cassilândia/MS (06/03/72) Formação: Engenheiro Agrônomo (1998) Pós-graduação: Mestrado em Fitopatologia (2001) e Doutorado (cursando) em Fitopatologia Profissão: Professor do UNIVAG, Centro Universitário, Várzea Grande no Mato Grosso (desde 2001) Especialidade: Nematologia Agrícola (desde 1995)