Língua Portuguesa B – 1ª série – Ensino Médio – v. 3 Exercícios Professor(a), lembramos que as datas indicadas como início e término de uma escola literária têm objetivo meramente didático, uma vez que a produção artística de modo geral vai sendo construída à medida que vão se desenvolvendo as relações humanas, científicas, políticas, sociais e econômicas. Desse modo, quando se indica uma data/evento/obra como elemento(s) propulsor(es) de uma linguagem artística, pretende-se oferecer ao aluno informações histórico-cronológicas que lhe possibilitem ampliar as referências que já possui sobre a produção literária em estudo. Suas leituras prévias e as de seus alunos enriquecerão o estudo, especialmente na relação com o momento sócio-histórico em que o tema estiver sendo tratado, resgatando textos, imagens e outros, inclusive de escolas literárias trabalhadas em volumes anteriores, evidenciando o que difere, o que permanece ou evolui, o que é novo ou surge como reação ao que se tinha. Em relação às questões discursivas, cabe ressaltar que não pretendemos apresentar respostas únicas e definitivas; a intenção é contribuir com indicativos de interpretação, possibilidades de sentido, alternativas para a provocação de discussão a respeito do questionamento apresentado. No endereço apresentado a seguir, você encontra uma apresentação sobre o Arcadismo que pode contribuir com as suas aulas. Slide 1 – Educacional www.educacional.com.br/upload/.../Arcadismo_Geral_Brasil.ppt Similares Formato do arquivo: Microsoft Powerpoint - Visualização rápida A proposta de trabalho que inicia este material pressupõe que antes da leitura da imagem o aluno tenha acesso a informações sobre o autor dessa obra, assim como sobre as características de sua produção artística. Para tanto, sugerimos que se encaminhe junto aos alunos uma pesquisa sobre o pintor francês Jean-Antoine Watteau ou que se assista com eles a um vídeo disponível no seguinte endereço: http://tvescola.mec.gov.br/ index.php?option=com_zoo&view=item&item_ id=720. Nesse local, além de informações mais detalhadas sobre a obra Embarque para Citera/ Peregrinação para Citera e seu pintor, os alunos poderão observar com maior nitidez os detalhes da obra em questão e obter algumas informações sobre a simbologia da cena registrada pelo artista. Além do vídeo, sugerimos a você, professor(a), a leitura de uma resenha sobre a obra de Norbert Elias A peregrinação de Watteau à ilha do amor, disponível em:<http:// w w w. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? p i d = S 0 1 0 2 69922005000100011&script=sci_arttext>. A seguir disponibilizamos um texto adaptado para este material com algumas informações sobre a obra Embarque para Citera/Peregrinação para Citera, de Watteau. Embarque para Citera – Jean-Antoine Watteau (texto adaptado) É um quadro do gênero de ilustração das festas galantes ou festas elegantes. Representa uma ideia própria da poesia francesa: uma viagem a uma ilha de bem-aventurados na qual reside o amor. Conta-se que desde a Antiguidade essa ilha tinha um templo dedicado a Afrodite/Vênus, deusa do amor. Citera representaria o símbolo dos prazeres amorosos. Propõe-se uma leitura dessa composição de Watteau a partir da direita para a esquerda, da escultura do busto de uma deusa (à direita) à popa do barco, através de uma diagonal formada por vários casais em diferentes atitudes amorosas. Esses casais ocupam o primeiro plano e se dirigem para um barco sobre o qual dois remadores se preparam para marchar. Watteau estabeleceu um verdadeiro equilíbrio dentro do quadro, distribuindo adequadamente seus diferentes elementos. Por um lado pôde compensar o desequilíbrio cria- Língua Portuguesa B 1 do pelas linhas verticais entre as árvores e o eixo da estátua. Por outro distribuiu os diferentes casais estruturando um ritmo admirável na pintura, com um sutil sentido de continuidade entre os grupos de figuras que compõem a obra. Watteau pintou com pinceladas rápidas e vibrantes, sem precisão nas linhas. As cores são belas, predominando os cálidos dourado e rosa, que estão acompanhados do verde ou do azul. Mediante contrastes e gradações de luz, representa os raios do sol que assinalam, possivelmente, o final do dia. Essa clareza descendente acrescenta mistério ao quadro, criando confusão, uma vez que não se sabe se os casais estão chegando à ilha ou se, pelo contrário, preparam-se para abandoná-la. A paisagem é idealizada, com grandes árvores que dominam todo o segundo plano. O lado esquerdo está dominado pelo azul do mar e do céu e pelo rosado das montanhas longínquas. Essa misteriosa paisagem neblinosa na distância recorda as paisagens de Rubens e Leonardo da Vinci. Os personagens são pequenos, mas foram minuciosamente tratados, com especial atenção aos efeitos de luz sobre as roupas que vestem. Há neles elementos alusivos a uma caminhada: cajados, capas (pelerines) e chapéus de peregrinos. Simbolismos na obra Há na obra numerosos símbolos mitológicos, como a estátua de pedra que representa Vênus, deusa do amor, ou a popa da barca em forma de concha. Há outros indícios mitológicos, como os anjos (cupidos ou querubins) suspensos no ar. Alude-se também, de maneira simbólica, ao erotismo ou ao amor carnal. Assim, o barco teria forma de cama, os casais enlaçados evocam o amor, que se interpreta como uma viagem das personagens à ilha de Citera, uma peregrinação para a ilha dos prazeres e do amor. O escultor Rodin considerava que Watteau havia representado uma cena de teatro que enquadrava três ações sucessivas entre os casais em destaque: proposição e súplicas do homem à mulher que duvida de seu amor – o que a faz parecer indiferente –, aceitação da amante convencida desse amor e abandono do casal. O verdadeiro sentido está na atitude ambígua dos casais da direita, que representam passos ou momentos opostos ao cortejo: a vulgaridade, o atraso, a indecisão e o amor. Os três casais do primeiro plano representariam as etapas da sedução dos apaixonados. Da direita para a esquerda, observamos: •o elogio galante. Um jovem, como o Cupido, atira flechas no vestido da moça, como um alerta sobre a sedução que começa entre ela e o galã com o qual mantém uma conversa; •o convite à dança. O galã, de pé, toma a jovem mulher pelas mãos e convida-a a levantar-se; •o enlace. É um terceiro casal que se dirige para o barco. A jovem olha para trás com nostalgia, como se lamentasse deixar a ilha onde passou horas felizes, ainda que possivelmente lamente a indiferença de sua paixão anterior. O casal está acompanhado por um cachorro, que simboliza a fidelidade. À distância, uma série de figuras sobe a um soberbo barco com querubins que o sobrevoam. O mistério que envolve o quadro é que ele pode provocar mais de uma interpretação, diferentemente do que possa parecer à primeira vista: tanto é possível encontrar indícios de que os casais estão chegando à ilha, como de que estão saindo dela. Não se verifica no quadro nenhum protesto social, comparando aristocratas e pessoas do povo, mas uma representação do universo do teatro, inspirado na comédia. Uma interpretação do tema é que o ato de deixar a Ilha de Citera representa o abandono dos prazeres da sedução para o amor concreto e real. Pode-se dizer que representaria uma passagem do sonho para a realidade. (Disponível em: <http://pt.wikilingue.com/es/Peregrinaci%C3%B3n_%C3%A0_ilha_de_Citera>. Acesso em: 14 jul. 2010.) 2 Língua Portuguesa B Embarque para Citera, de Jean-Antoine Watteau, 1717. Professor(a), para facilitar a análise da obra, se possível apresente a imagem em versão ampliada – em lousa digital ou data-show. 01)Primeiro plano (da escultura para o barco) a)Nesta cena aparecem homens e mulheres adultos, agrupados aos pares, além dos querubins. b)É importante que os alunos percebam que na cena as pessoas estão dispostas em casais, com exceção dos dois homens que seguram o barco com os remos. Pode-se deduzir que os pares sejam casais apaixonados que desfrutam da companhia um do outro, que estão namorando. c)Os três casais que estão em destaque – sob a grande árvore – parecem pertencer a uma classe social mais abastada, considerando-se a aparência deles – as cores, as sobreposições de tecidos, penteados, calçados e meias (homens). Quanto aos casais mais próximos do barco, por estarem distantes, há poucas condições de observar detalhes de suas vestes. Percebe-se que usam roupas de um colorido menos vibrante e que alguns homens utilizam chapéu. d)Os anjinhos, querubins ou cupidos são personagens mitológicos que pertencem a um mundo idealizado, distante do mundo concreto e real. Espera-se, no entanto, que os alunos percebam essas figuras aladas como cupidos, que são personagens eminentemente mitológicos, símbolos do amor. A presença de cupidos nesse ambiente intensifica o clima de namoro que os casais e a própria Citera representa. O maior número de querubins ou cupidos sobre o barco pode possibilitar a compreensão de que aquele é o barco do amor, ou um barco que transporta casais apaixonados para o paraíso do amor – a Ilha de Citera. Se no lugar de querubins o artista tivesse representado crianças (ou bebês), a ideia de idealização, ainda assim, permaneceria, pois seria irreal que crianças levitassem sobre as pessoas e o lugar. Mas crianças pairando no ar (sem asas) não reforçariam a ideia de ilha do amor, dos prazeres amorosos, o santuário do amor, que é o sentido de Citera. Língua Portuguesa B 3 02)Segundo plano (o ambiente) a)O lugar retratado é predominantemente natural. Vê-se a estátua da deusa do amor e árvores. Em destaque uma frondosa árvore sob a qual estão alguns casais. Mais adiante o azul que pode representar o céu ou a água e uma cadeia de montanhas ao longe. Embora contenha duas construções humanas – um barco e uma estátua –, o que se destaca nesse ambiente é a natureza, privilegiando o convívio das pessoas com o ambiente natural. 03)A mensagem a)Há alguns elementos que indicam características desse local como a ilha mitológica do amor e dos prazeres, tais como: a estátua de uma deusa do universo mitológico, a predominância de casais de namorados e a presença de querubins. b)Festas galantes ou festas elegantes são expressões que nomeiam obras produzidas antes da Revolução Francesa, consideradas de estilo rococó, que registravam festas, bailes, comemorações em grandes salões, adoção de roupas desse período, enfim, registros dos encontros da aristocracia. Receberam esse nome porque retratavam o ócio da sociedade cortesã da época, que via o artista como capataz ou um funcionário que registrava a vida dos aristocratas. Essas obras não se preocupavam em promover a crítica social. Espera-se que os alunos percebam que as representações das festas elegantes apenas retratavam com a maior fidelidade possível a aparência dessas festas da aristocracia, apresentando-as como ideais, como ambientes idílicos ou que remetiam a um ideal da classe social retratada, a exemplo da obra em estudo. c)Se relacionarmos o ambiente retratado nessa obra ao seu título (Embarque para Citera/Peregrinação para Citera) e a partir disso analisarmos as imagens tendo como referência que Citera é uma ilha grega – compreendida na época como a ilha do amor e dos prazeres, um espaço mitológico de sonhos e idealizações –, podemos entender que a obra de Watteau tem o objetivo de representar uma passagem entre o real e o imaginário. Desse modo, é possível compreender que o título da obra seja referência a uma viagem que deixa o mundo concreto e real rumo à ilha do amor e dos prazeres, onde prevalecem os sonhos e a fantasia. Professor(a), é importante discutir com os alunos que a leitura e compreensão de uma imagem, especialmente de uma obra de arte, estão diretamente relacionadas às informações que o leitor tem sobre o conteúdo a ser lido. Se no caso específico da obra de Watteau não soubéssemos que Citera é uma ilha grega e não tivéssemos a informação de que em 1717 ela era considerada a ilha mitológica do amor e dos prazeres, não seria possível compreendê-la como a representação de uma passagem de um ambiente real e concreto (qualquer lugar ou nação) para outro imaginário (Citera). Soneto XIV 04)O poeta vê os campos como um bem que se transfere para o espírito (gênio/modo de ser) do pastor como o bem da inocência. O campo é um lugar de paz, e essa paz contamina os pastores. 05)Embora o pastor não tenha boa aparência, na verdade ele é um cortesão interiormente, ou seja, um nobre cuja nobreza é disfarçada por sua aparência simples. É interessante chamar a atenção do aluno para a diferença existente entre a imagem de campo/ pastor, relacionada ao que há de positivo e bom, e a de cidade/corte ao que há de desprezível/ mal. 4 Língua Portuguesa B 06)Ali se refere aos lugares de pastoreio e Aqui às cidades ou centros urbanos. Os campos de pastoreio são referenciados como o lugar de amor e sinceridade, e a cidade como local de sofrimento e de ausência de valores verdadeiramente humanos e dignos. urbano, que poderia acarretar o isolamento do indivíduo da sociedade em geral, ou que colocar em prática esse projeto de vida seria criar um lugar idealizado, uma espécie de "ilha da fantasia", que seria capaz de repelir a maldade. 07)Ali não há fortuna que soçobre seria equivalente a Ali não existe fortuna que naufrague, que afunde, que desapareça. Isso é considerado um bem do pobre, porque a vida simples do campo é avessa à fortuna, vaidade e ostentação, comuns nos centros urbanos. 11)A certeza dos amigos do peito, dos limites do corpo e nada mais. A certeza que o eu lírico quer ter revela a ausência de ambição, contraria as expectativas próprias do mundo capitalista de acúmulo de bens, propondo uma valorização maior do ser. 08)A intenção do poeta é valorizar o campo, a vida no campo; por isso diz que ali é lugar de sinceridade e amor. A imagem do campo é idealizada, um local puro, inocente, onde as perturbações que acometem o viver não conseguem penetrar. Para potencializar essa ideia, diz que a vida nos centros urbanos se caracteriza pela mentira, a hipocrisia, a traição. Se o amor pode respirar apenas no campo, então se pode dizer que ele é sufocado na cidade, devido à mentira e à hipocrisia. 12)Carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim tem o sentido da convivência pacífica, seres se respeitando, vivendo em perfeita harmonia no mesmo hábitat. Outra possibilidade de interpretação é a que reafirma a oposição ao ambiente urbano e a valorização da simplicidade do ambiente rural. 09)Tanto o Soneto XIV, de Cláudio Manuel da Costa – campo e pastoreio –, quanto Embarque para Citera – Ilha mitológica do amor –, de Watteau, indicam a idealização de um lugar como possibilidade de felicidade, de paraíso ou de boas influências (soneto). Outro aspecto comum às duas obras é a valorização da natureza, do lugar idealizado, especialmente daqueles em que as construções humanas são quase inexistentes, que apresentam pouca interferência humana. Entretanto, é importante destacar que na obra de Watteau, se considerarmos os casais dispostos em primeiro plano, constatamos que a classe social em evidência é a aristocracia. Contrariamente, Cláudio Manuel da Costa prefere enaltecer a simplicidade da vida dos pastores. Casa no campo (música) 10)O projeto de vida defendido nessa composição é o de uma vida simples, longe da cidade e perto dos amigos, lugar onde se possa viver livremente com tudo o que é precioso a alguém. Pode-se pensar que o tipo de vida proposto implicaria o abandono de um estilo de vida 13)Plantar meus amigos, discos e livros. Essa metáfora pode significar que o eu lírico deseja ter sempre por perto seus amigos, discos e livros. Ficar do tamanho da paz. Isto é, encontrar um lugar (casa no campo) onde se possa ficar em paz, plenamente, sem espaço para conflitos, com tranquilidade. Destacam-se a seguir outras expressões que possuem sentido figurado e que podem ser compreendidas como metáfora, ou seja, uma comparação em que não se explicita o termo comparado, nem o termo comparativo, nem o ponto de comparação (Campedelli; Souza, 1999): O silêncio das línguas cansadas – pode-se ficar em silêncio por várias razões: por não se ter o que dizer, por não se querer dizer ou porque se quer apenas descansar. O silêncio das línguas cansadas é o silêncio de quem sabe o que dizer, mas prefere descansar ou se calar momentaneamente. A esperança de óculos – os óculos são um acessório que auxilia o ser humano a enxergar melhor, com mais nitidez, a ver melhor como as coisas são. Assim, pode-se dizer que querer uma esperança de óculos é querer uma espeLíngua Portuguesa B 5 rança consciente do mundo a sua volta, não uma esperança ingênua, infundada ou impossível. É importante dialogar com os alunos e verificar como eles compreendem outras expressões poéticas (versos), como ter somente a certeza dos amigos do peito e nada mais; somente a certeza dos limites do corpo; ter um filho de cuca legal e outras. 14)Embora a composição analisada seja da década de 70, portanto muito posterior à produção de Cláudio Manuel da Costa (1768) e ainda mais distante da obra de Watteau (1717), há em comum entre essas obras o sonho humano de encontrar um local ideal, próximo à natureza, onde se possa ser feliz, cercado de bons amigos ou de pessoas que façam o bem. O ideário de viver feliz com a simplicidade do campo está presente tanto na obra do poeta Cláudio Manuel da Costa quanto na de Zé Rodrix, Tavito e do pintor francês. Watteau, no entanto, é o grande intérprete do refinamento das elites francesas do século XVIII, antes da Revolução Francesa. Mesmo assim, cenas campestres e referências pastoris constituem o seu universo temático, a exemplo dos textos do Arcadismo. 16)E •Em “Que alegre campo! Que manhã tão clara!” fica evidente a exaltação da natureza, o bucolismo. • Em Amores (observe-se a grafia com inicial maiúscula) o autor faz alusão a cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido, valorizando a cultura greco-romana. 17)B I. Incorreta. O imperativo afirmativo do verbo ouvir é OUVE TU (Presente do Indicativo de ouvir é tu ouves), e não ouça. II. Correta. A forma verbal VÊ está no imperativo e expressa um convite do eu lírico para que a amada se delicie com ele do belo cenário. III. Incorreta. A forma verbal VÊS está no presente do modo indicativo (tu vês) e não significa que a amada já viu o que seu amado lhe mostrou Como perceber a poesia árcade 18)22 15)A proposta de viver no campo presente na composição de Zé Rodrix e Tavito atende ao ideário árcade do fulgere urbem (fugir da cidade): quero uma casa no campo [...]/ compor muitos rocks rurais [...]/carneiros e cabras pastando [...]. Ao instituírem a natureza como refúgio para o poeta, os compositores brasileiros aproximam-se do desejo de busca do locus amoenus (lugar ameno): onde eu possa ficar do tamanho da paz [...]/ nada mais. Dessa forma, reforçam a intenção de aurea mediocritas, ou seja, de uma vida simples em relação ao consumismo e ao desejo desenfreado de acúmulo de bens materiais (plantar e colher com as mãos/ [...] tamanho ideal, pau a pique e sapê [...]). No entanto, esse estilo de vida deverá ser rico em realizações espirituais (amigos, discos e livros [...]/ filho de cuca legal / ficar do tamanho da paz [...]). Carpe diem – viver o momento presente intensamente, cada dia como se fosse o último – é uma atitude neoclássica que pode ser observada no último verso: meus discos e livros e nada mais. 6 Língua Portuguesa B O Arcadismo no Brasil AUTORES BRASILEIROS Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)- Soneto XIII Sobre a poesia de Cláudio Manuel da Costa [...] O amor aparece na poesia de Cláudio, a exemplo de outros autores, como o sentimento que vivifica, e sua perda é igualada à desumanização e à morte: [...] A busca da amada está presente de maneira direta em quase todos os sonetos e, naqueles em que esse tema não é explícito, a melancolia do texto e a ideia de um poema maior mantêm a continuidade da falta. Nessa busca, o pastor canta o nome de várias mulheres, sendo Nise sua "figura predileta" (Lopes, 1975, p. 21). O chamado "ciclo de Nise" (p. 30), composto por 16 sonetos, sendo 12 em português e 4 em italiano, apresenta a mulher amada que se torna a presença mais marcante dos sonetos. Assim como Dante exaltou Beatriz, Petrarca cantou Laura, Camões teve Natércia como amada e Tomás Antônio Gonzaga tornou-se o Dirceu de sua Marília, o arcadismo de Cláudio o transformou no lírico de Nise. Em Hesíodo, aparece o nome Nesea; em Camões, existe uma ninfa marinha com o nome Nise. Alguns consideram que Nise provém da combinação das letras do nome Inês, que possui sua origem em Agnes, significando a pureza. No entanto, nenhum desses nomes serve como referência para a Nise pastoril de Cláudio Manuel da Costa. A mulher amada por Cláudio, geralmente nomeada por Nise, apresenta-se como a "desejada inacessível" (Lopes, 1975, p. 22) e possui como provável imagem prototípica a Nise cantada por Virgílio e que não cede aos apelos de Damon. O jogo de espelhos provocado pela inacessibilidade da amada que se faz presente na lembrança cria um duplo sofrimento, pois, ausente no mundo externo e presente no mundo interno, Nise inscreve o amor impossível, configurando a falta: "É uma temática em que Cláudio não tem competidores em nossa língua. A tomada de consciência da falta por meio da auto-observação e do estrago causado pelo sentimento da perda". (Lopes, 1997, p. 127) Dentre todos os sonetos de Cláudio Manuel da Costa, o mais conhecido, que faz parte do ciclo de Nise, é o de número XIII, "que é o mais verdadeiro dos poemas que tratam do delírio amoroso" [...]. O pastor Fido mostra-se sempre fiel ao amor de Nise, que, com total liberdade, se apresenta como o desejo que se torna difícil de alcançar. Levando em consideração que a poesia do grupo mineiro é a representação artística dos ideais libertários que não se fizeram possíveis, não é improvável que Nise, "o mais querido nome de mulher" (Lopes, 1975, p. 21) presente nos sonetos de Cláudio, seja a configuração da liberdade, desejada e amada, mas que ficou reservada para um período tardio. (MELO, Walter. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/psicousp/v18n1/ v18n1a06.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.) Soneto XIII 19)Pode-se dizer que o eu lírico é alguém que procura muito por Nise e não a encontra; sua amada é inacessível (LOPES). O corpo de eu lírico entra em desespero: a vista se dilata, os olhos giram, suspira desesperado sem encontrá-la. No 4º verso o pronome te junta-se ao verbo encontrar (encontrar-te). 20)O contexto nos permite deduzir que: •O sentido de cuido no verso 7 pode ser entendido como fico atento, presto atenção, escuto com cuidado. •O sentido de cuidei, no verso 8, pode ser achei/pensei que ouvia. 21)O eu lírico pede às grutas, aos troncos e aos grandes penhascos que mostrem Nise caso ela se esconda entre eles. É como se a natureza exercesse o papel de confidente, participando da desventura amorosa do poeta, escutando suas queixas, sendo testemunha de seu desespero. 22)Para que o eu lírico não sofresse desventura seria necessário que existisse eco, que ao menos o eco repetisse seu chamado. Como isso não acontece, ele vê como certa essa desventura. 23)Pode-se dizer que na realidade Nise não existe, pelo menos no cenário descrito, pois ele não a encontra em lugar algum e nem sequer consegue ouvir o nome dela. Mesmo quando pensa ouvir o nome da amada, confirma a seguir que isso não acontecia – era mentira (verso 7). Pode-se dizer que na realidade Nise não existe. Nise era sua amada idealizada, era fruto de sua imaginação. 24)De acordo com a norma culta, utiliza-se o advérbio aonde somente em contextos que indicam movimento. No entanto, em Onde estás? o verbo estar não indica movimento e é a ele que se referem os advérbios seguintes: Aonde? Aonde? Uma das justificativas possíveis para a utilização do advérbio aonde é a importância dada à regularidade do número de sílabas poéticas – a métrica –, que permite aos poetas certa flexibilidade no uso da linguagem, a chamada licença poética. Outra forma de explicar a utilização de aonde num contexto linguístico que solicita a utilização de onde pode ser a que transcrevemos a seguir, de um texto da professora Maria Tereza Língua Portuguesa B 7 de Queiroz Piacentini, que pode esclarecer o uso que Cláudio Manuel da Costa fez desses advérbios, em meados de 1700, no Soneto XIII. Onde/Aonde M. T. Piacentini tem ligação com onde/aonde, qual seja, o verbo principal (o que vem por último). É o caso desta frase, retirada da revista IstoÉ: •Na terça-feira, antes de viajar para Madri, onde foi receber o prêmio "Príncipe de Astúrias", o presidente Fernando Henrique Cardoso estava preocupado com a retomada da onda de violência nos Estados. Desde logo devo esclarecer [...] que na fala pouco se faz distinção entre onde e aonde – a diferença de pronúncia é pequena, então não se costuma reparar muito nisso. Aliás, na língua clássica essa distinção não existia. [...] Onde = lugar em que/ em que (lugar). Indica permanência, o lugar em que se está ou em que se passa algum fato. Complementa verbos que exprimem estado ou permanência e que normalmente pedem a preposição em: Uma frase que merece comentário à parte: Nossos produtos vão até onde (ou aonde?) você está. Como se pode usar até a ou simplesmente até (pela questão da ambiguidade de que falei no artigo Não Tropece na Língua, n. 4), valem as duas formas: •Onde estás? – Em casa. •Você sabe onde fica o Sudão? – Na África. •Onde moram os sem-terra? •Não entendo onde ele estava com a cabeça quando falou isso. •De onde você está falando? •Não sei onde me apresentar nem a quem me dirigir. Só que, nesse caso, tão importante quanto escrever corretamente é escrever com estilo. Voto, portanto, na frase (1). Aonde = a que lugar. É a combinação da preposição a + onde. Indica movimento para algum lugar. Dá ideia de aproximação. É usado com os verbos ir, chegar, retornar e outros que pedem a preposição a. Exemplos: •Aonde você vai todo dia às 9 horas? – A Brusque. •Sabes aonde eles foram? – Ao cinema. •A mulher do século 21 sabe muito bem aonde quer chegar. •Não sei aonde ou a quem me dirijo. •Aonde nos levará tamanha discussão? •Faz três dias que saiu do Incor, aonde deverá retornar brevemente para uma revisão. •Estavam à deriva, sem saber aonde ir. •Há lugares no universo aonde não se vai sozinho. É preciso atentar para a colocação desses termos quando complementam uma locução verbal com o verbo auxiliar ir, que pode confundir o redator. O que interessa observar é o verbo que 8 Língua Portuguesa B 1.Nossos produtos vão até onde você quiser. 2.Nossos produtos vão até aonde você quiser. (Disponível em: <http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=40&rv=Gramatica>. Acesso em: 28 jul. 2010.) 25)Se o pássaro quiser ser inconveniente, ou se não tiver ciência dos tormentos que o eu lírico vive, deve cantar para trazer-lhe um doce contentamento. Mas se, contrariamente, quiser ser favorável a ele, deverá erguer o corpo, romper os ares e procurar a amada do eu lírico. 26)Segunda estrofe – 1o verso: não cantes/ não cantes – Imperativo negativo; 2º verso: Se me queres ser propício (quer dizer: se queres agradar a mim) – a locução verbal está no presente do indicativo; 3º verso: Eu te dou (presente do indicativo) que me faças (presente do subjuntivo). Se considerarmos que a forma verbal do primeiro verso (não cantes – imperativo negativo) é repetida, poderemos dizer que o modo indicativo é predominante na segunda estrofe, pois está presente no 2º e 3º versos. 27)A trajetória até a casa de Marília expressa no poema envolve os seguintes lugares: Sobe a serra, e se cansares/Descansa num tronco dela. (3ª estrofe) Passa uma formosa ponte,/Passa a segunda e a terceira. (5ª estrofe) O leitor pode observar que o sujeito lírico direciona o seu olhar para a paisagem geográfica de Minas e também recria as construções da cidade de Vila Rica, tais como: a ponte, a igreja, o palácio e a janela da casa de Marília. (LEAL, Rachel Pantalena. Disponível em: <http://www.mafua.ufsc.br/rachelpantalena.html>. Acesso em: 28 jul. 2010.) Esse roteiro assinalado pelo eu lírico sugere uma paisagem acidentada com serra, árvores e rios (três pontes). Assim, essa paisagem pode ser considerada incompatível com um lugar ameno (locus amoenus) próprio dos pastores, afinal Vila Rica possui uma topografia íngreme e montanhosa, muito distante do ideal propício a campos de pastagem e rebanhos. Percebe-se, no entanto, a preocupação do poeta em registrar a valorização da natureza árcade – essa que se revela como referência importante, idealizada, que compõe o cenário poético. 28)Marília mora em um palácio, como indica o verso Tem um palácio defronte. A casa onde habita sua Marília é idealizada ou possui características opostas àquelas que seriam próprias da simplicidade da moradia de uma pastora, pois um palácio é destinado à moradia de pessoas nobres, monarcas, alguém do alto poder eclesiástico, de um chefe de Estado, etc. Obs.: Os alunos podem entender que a primeira questão se refere à localização da “casa” (palácio) de Marília. Uma possível resposta: A casa em que se encontra Marília, localiza-se em Minas Gerais, depois de Porto Estrela, no alto da serra, onde há árvores em uma grande terra, ao lado esquerdo de uma igreja nova, após três pontes (uma delas formosa) e em frente a um palácio. Pela descrição, observa-se que a casa deve se localizar em região próxima à área urbana. 29)Verso 23: É da sala onde assiste/ A minha Marília bela a)O verbo assiste, nesse contexto, pode ser compreendido como o local onde se encontra a amada do poeta: é da sala onde permanece/ onde está a minha Marília bela. Outra possibilidade de interpretação é: ao pé da porta há uma rasgada janela – a da sala – onde Marília vê (o mundo). É lá que o passarinho pode encontrá-la. b)Aonde acompanha o verbo assistir, e se considerarmos que seu sentido nesse contexto é o de indicar o lugar onde Marília vê/está, a norma culta atual indicaria o uso de onde, não de aonde. 30)a)Nesse contexto a palavra talhe faz referência ao corpo de Marília e pode ser entendida como porte ou configuração física da amada. b)Marília é uma moça alegre (risonha) e a mais bela de todas (a mais formosa) c)Rosto redondo, sobrancelhas arqueadas, cabelos negros e finos, pele clara – a mais formosa. Ela é descrita como um modelo de beleza. [...] Marília que é, por sua vez, descrita fisicamente como uma mulher bela, pois possui o "semblante redondo", as "sobrancelhas arqueadas", as "faces cor-de-rosa", as "carnes de neve" e os "cabelos negros e finos". E é entre todas as mulheres a mais formosa, representando um modelo de beleza e perfeição como a própria natureza árcade. [...] A personagem Marília "surpreendentemente e em assimetria com os outros personagens da Arcádia (poetas ou amadas) é a única a manter o seu nome literário o tempo inteiro" (ZAGURY, 1973. p.85). Nos cinco poemas que tratam da personagem Marília, diferentes imagens femininas são construídas, tais como a Pastora, a amada que borda o lenço do exílio, a inconformada e a velha. Os poemas: o "Romance LXX ou do lenço do exílio", a "Imaginária serenata" e o "Romance LXXIII ou da Inconformada Marília" vão explorar o sofrimento amoroso; já os poemas: o "Retrato de Marília em Antônio Dias" e o "Romance LXXXV ou do testamento de Marília" referem-se à velhice da mulher. (OLIVEIRA, Ilca Vieira de. Disponível em: <http://www.ufesc.br/seminariomulher/anais/pdf/ilca%20 viera%20de%20oliveira.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.) Língua Portuguesa B 9 31)O momento em que a parte II da poesia lírica de Gonzaga foi produzida era de intensa movimentação política no Brasil. Sabe-se que Tomás Antônio Gonzaga foi um inconfidente mineiro preso e deportado para Moçambique, onde morreu. Provavelmente esse contexto histórico é relevante para que se analise os versos da última estrofe: Dize, que sou eu quem te mando,/Que vivo nesta masmorra,/ Mas sem alívio penando. Esses versos permitem a compreensão de que o eu lírico encontrava-se num cárcere ou prisão subterrânea e que sofria muito (penando sem alívio) distante de sua amada Marília. Assim, percebe-se uma coincidência entre o estado do poeta e o do eu lírico. Obs.: Professor, na última estrofe desse poema há uma vírgula que a norma culta não recomendaria. Tal situação possibilita que se proponha aos alunos o seguinte desafio: Na última estrofe da Lira XXXVII há uma vírgula que, segundo a norma-padrão, foi utilizada inadequadamente. Qual é? Explique. Espera-se que o aluno perceba que a segunda vírgula dessa estrofe – Dize, que sou eu – é inadequada, pois a expressão que sou eu não deveria ser separada do verbo dizer, uma vez que lhe completa o sentido, exercendo a função de complemento verbal (objeto direto). 32)Relembrando: o modo imperativo é formado a partir do presente do indicativo e do presente do subjuntivo. Do presente do indicativo, derivam-se a segunda pessoa do singular (tu) e do plural (vós), retirando-se a letra s. As demais pessoas (ele, nós, eles) conjugam-se como o presente do subjuntivo. O imperativo negativo é o presente do subjuntivo conforme foi utilizado por Gonzaga na 2ª estrofe – Não cantes, mais não cantes. O imperativo é utilizado para manifestar ordem ou apelo pela concretização da ação. São ações não realizadas que o falante quer ver consumadas. A leitura do poema possibilita entender que o eu lírico ordena ao passarinho que faça com que ele encontre sua amada. Ergue o corpo, os ares rompe, Procura o Porto Estrela, Sobe a serra, e se cansares, Descansa num tronco dela. 10 Língua Portuguesa B Toma de Minas a estrada, Na Igreja nova, que fica Ao direito lado, e segue Sempre firme a Vila Rica. Entra nesta grande terra, Passa uma formosa ponte, Passa a segunda e a terceira Tem um palácio defronte. Segundo o professor Sérgio Nogueira, o imperativo não é tão violento (no sentido de ordem) como se imagina. Pode ser utilizado como um convite para que a pessoa faça aquilo que está sendo aconselhada. Assim, o verbo na forma imperativa não é utilizado apenas para dar ordem, mas também para fazer um convite, aconselhar e, até, implorar. Talvez seja essa a intenção do eu lírico na lira XXXVII, pois na época em que publicou esse poema (1799 – Parte II de Marília de Dirceu) estava preso por ser um dos inconfidentes mineiros e por isso não conseg bservar nos últimos versos – Dize, que sou quem te mando, / Que vivo nesta masmorra, / Mas sem alívio penando. O professor Nogueira aponta ainda que há também um lado psicológico para o uso do imperativo, que seria utilizar essa forma verbal como um recurso para fazer o outro prestar mais atenção, focar naquilo que se está dizendo, sem necessariamente parecer uma ordem. Extraído e adaptado de <http://oglobo.globo.com/emprego/na-hora-de-dar-dicas-uso-do-imperativo-chama-atencao-ao-que-se-esta-falando-3165254>. Acesso em: 03.jul.2012. 33)A alternativa B é a única que não está de acordo com os recursos de construção do texto de Tomás Antonio Gonzaga, pois o predomínio de períodos curtos por si só não é suficiente para facilitar a compreensão e assimilação das ideias nele contidas. Cartas chilenas - Carta 1 Professor(a), sobre Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, sugerimos os seguintes endereços eletrônicos que podem ampliar os seus conhecimentos sobre essa obra árcade: • www.bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec02/article/ • http://dominiopublico.qprocura.com.br/dp/92933/As-cartas-chilenas-sob-uma-perspectiva-da-historiografia-linguistica.html 34)a)Esses versos poderiam ser assim escritos: [O que poderás contar de tanto valor, que valham tanto quanto vale] dormir em cama macia, confortável, em noite fria, com chuva de granizo e ventos fortes que movimentam grandes ramos das árvores? b) Acorda, se ouvir queres coisas raras./Que coisas, (tu dirás), que coisas podes/Contar que valham tanto, quanto vale/ Dormir a noite fria em mole cama,/Quando salta a saraiva nos telhados/E quando o sudoeste e outros ventos/Movem dos troncos os frondosos ramos? Critilo procura motivar/convencer Dorotheo (ou aqueles que leem sua carta) de que as notícias que contará são dignas de se abandonar todo o conforto de que se desfruta para tomar conhecimento das novidades que anunciará. Professor(a), seria interessante ressaltar que, embora as Cartas chilenas tenham sido endereçadas a Dorotheo, foram lidas pelo público em geral e pode-se compreender também que tal solicitação (Acorda se queres ouvir coisas raras) seja dirigida ao povo brasileiro, mais especificamente ao povo mineiro, sobre a exploração a que está sendo submetido por seu governo. Resumo de Dom Quixote 35)O trecho a que a questão se refere é: Não falta tempo em que do sono gozes:/Então verás leões com pés de pato/Verás voarem tigres e camelos. Nesse trecho, Critilo diz a Dorotheo que mais tarde ele poderá dormir (não faltará tempo), mas se ele acordar para o que está acontecendo, verá muitos absurdos tais como: leões com pés de pato, e tigres e camelos voando. Isso quer dizer que, se ele prestar atenção a sua volta, poderá ver os absurdos que estão acontecendo. 36)Os incultos gentios mencionados no verso 44 é uma referência aos índios, àqueles que não são civilizados, entre os quais existem nações que furam os beiços, outras que matam os pais que ficam debilitados quando envelhecem. Todas essas notícias já são velhas para o(s) leitor(es) da carta. Não é sobre os índios as novidades que o narrador pretende contar. Essa referência a eles nesse contexto é um modo de motivar o(s) leitor(es) para a novidade que virá. Contudo, professor, seria interessante chamar a atenção dos alunos para o modo como o texto refere-se aos índios, as características que salienta desse povo. Muito provavelmente hoje não se faria referência aos índios desse jeito. Após o nosso – Cavaleiro da Triste Figura – ler tantos livros de cavalaria andante, enlouquece, veste uma armadura velha e convida seu vizinho Sancho Pança, um ingênuo e materialista lavrador, para ser seu fiel escudeiro, que aceita seguir o fidalgo pela promessa de uma ilha governar. Saem pelo mundo querendo Dom Quixote endireitar o que está torto. Pensando em salvar os fracos e oprimidos, donzelas em perigo e tantos outros injustiçados, faz confusões com rebanho de ovelhas, atos de bravura diante de leões, declarações à amada Dulcineia e ao encontrar moinhos de vento, confunde-os com gigantes. Se Cervantes ao início de sua obra teve a intenção de apenas satirizar os livros de cavalaria, foi além, ao mostrar a eterna luta do homem vivendo entre o sonho e a realidade e sua obra transformou-se num verdadeiro sentido universal da vida. Revela sentimentos, paixões, fraquezas e grandezas do ser humano. Sua história extrapolou os limites da literatura e da arte para se fazer presente em momentos da vida de todos nós. Dom Quixote e Sancho Pança tornaram-se símbolos e protótipos da vida humana. Quixotismo incorporou-se no vocabulário de todas as línguas para designar o comportamento daquele que sobrepõe a fantasia à realidade, o idealismo ao realismo o desprendimento à conveniência. Há em Dom Quixote uma identidade com as pessoas reais, já que o homem está sempre aquém da imagem que faz de si mesmo e dos ideais a que aspira. Entretanto, muitas vezes também somos Sancho Pança por cobiça (ou outro intuito qualquer) e não por idealismo. Sancho Pança dispôs-se a se meter naquela aventura e deixar-se levar pelo delírio do amo, ainda que em troca de nada, ou melhor, em troca de preferir o sonho à banalidade do real. (Disponível em: <http://pt.shvoong.com/humanities/1625947-dom-quixote-sancho-pan%C3%A7a-identidade/>.) Língua Portuguesa B 11 Sua abnegação pelo amigo é tal que Sancho Pança dedica sua vida a ajudar Dom Quixote sem pensar em seus próprios interesses. Tema central: Pelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha a Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por índios e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama dedica o poema ao irmão do Marquês de Pombal e combate os jesuítas abertamente. [...] 37)Primeiramente, Sancho Pança é o amigo ingênuo e inseparável do herói Dom Quixote, personagem principal do romance do espanhol Miguel de Cervantes, na viagem que empreendem até a ilha em que vão governar. Sancho está sempre pronto para ajudar o enlouquecido herói a transpor os piores obstáculos, superando todas as dificuldades que ele e o fidalgo encontram durante a viagem. Entretanto, é um aventureiro que se deixa levar pelo delírio de seu amo, preferindo o sonho à realidade. Um imitador à Sancho Pança que no contexto das Cartas Chilenas pode ser compreendido como um chefe que irá governar sobrepondo a fantasia à realidade, o idealismo ao realismo, o desprendimento à conveniência. Resumo da narrativa 38)Ele vai contar a história do regente da Capitania das Minas Gerais (nosso Chile) entre 1783 e 1788, o senhor Luís da Cunha Meneses – portanto trata-se da história de um político, e da forma como ele governava. Diferente do modelo camoniano de dez cantos Basílio da Gama opta por um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos brancos, ou seja, versos sem rimas. 39)Os quatro últimos versos do texto: Que o gesto, mais o traje nas pessoas/Faz o mesmo que fazem os letreiros/Nas frentes enfeitadas dos livrinhos,/ Que dão, do que eles tratam, boa ideia, segundo o contexto, significam que o modo como as pessoas agem, aliado à forma como se vestem, indica quem elas são, anuncia como se organizam interiormente, do que gostam, em que acreditam. Canto I: Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo. Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeira entrada dos portugueses enquanto esperam reforço espanhol. O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade. José Basílio da Gama (1741-1795) Professor, sugerimos um endereço onde é possível encontrar outras informações sobre a obra O Uraguai, de José Basílio da Gama: <http://profalufonseca.blogspot.com/2007/09/baslio-da-gama-o-uraguai-uma-epopia.html>. A seguir transcrevemos uma análise dessa obra. Canto IV - A morte de Lindoia Análise da obra: O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para serem eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro. 12 Língua Portuguesa B Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É relatado o encontro entre os caciques Cepê e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada. Canto III: O General acampa às margens de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Cepê. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindoia. A mando de Balda, prendem Cacambo e matam-no envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindoia: a índia "vê" o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas. Canto IV: Maquinações de Balda. Pretende entregar Lindoia e o comando dos indígenas a Baldeta, seu filho. O episódio mais importante: a morte de Lindoia. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza: Abandona a linguagem mitológica, mas ainda adota o maravilhoso, apoiado na mitologia indígena. Foge, assim, ao esquema tradicional, sugerido pelo modelo imposto em língua portuguesa, Os Lusíadas. Por todo o texto, perpassa o propósito de crítica aos jesuítas, que domina a elaboração do poema. A oposição entre rusticidade e civilização, que anima o Arcadismo, não poderia deixar de favorecer, no Brasil, o advento do índio como tema literário. Assim, apesar da intenção ostensiva de fazer um panfleto antijesuítico para obter as graças de Pombal, a análise revela, todavia, que também outros intuitos animavam o poeta, notadamente descrever o conflito entre a ordenação racional da Europa e o primitivismo do índio. Variedade, fluidez, colorido, movimento, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do poema, não obstante equilibrados e serenos. Ele será o modelo do decassílabo solto dos românticos. Além dessas, outras características notáveis do poema são: Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste Que os corações mais duros enternece, Tanto era bela no seu rosto a morte! Sensibilidade plástica: apreende o mundo sensível com verdadeiro prazer dos sentidos. Recria o cenário natural sem que a notação do detalhe prejudique a ordem serena da descrição. Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia. [...] Senso da situação: o poema deixa de ser a celebração de um herói para tornar-se o estudo de uma situação: o drama do choque de culturas. Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes. Simpatia pelo índio, que, abordado inicialmente por exigência do assunto, acaba superando no seu espírito o guerreiro português, que era preciso exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como filho da "simples natureza", ele aparece não só por ser o elemento esteticamente mais sugestivo, mas por ser uma concessão ao maravilhoso da poesia épica. Apreciação crítica O poema é escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, mas é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Devido ao tema do índio, durante todo o Romantismo, o nome de Basílio da Gama foi talvez o mais frequente, quando se tratava de apontar precursores da literatura nacional. Convém, entretanto, distinguir neste poeta o nativismo do interesse exterior pelo exótico, havendo mesmo predomínio deste, pois o indianismo não foi para ele uma vivência, foi antes um tema arcádico transposto em linguagem pitoresca. Língua Portuguesa B 13 O preto africano lhe feriu a sensibilidade também, tendo sido o primeiro a celebrá-lo no poemeto Quitúbia, mostrando que a virtude é de todos os lugares. Basílio foi poeta revolucionário com seu poema épico. Enquanto Cláudio trazia ao Brasil a disciplina clássica, Basílio, sem transgredi-la muito, mas movendo-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levava à Europa o testemunho do Novo Mundo. (Disponível em: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/ o/o_uraguai>.) 40)Embora se encontrem características do lugar em outros versos, tem-se a descrição do lugar até o 8º verso. a)De acordo com as informações contidas no poema, é possível imaginar que o lugar que Lindoia escolhe para morrer fica numa floresta com alta densidade de árvores, por isso é uma parte negra e escura do bosque, ... ao pé de uma lapa cavernosa, quer dizer próximo a uma caverna, local onde existe água corrente (rouca fonte que murmura), numa curva onde há relva além de rosas e jasmins. b)Lindoia preferia a morte a entregar-se a outro homem que não fosse Cacambo, seu grande amor. Então escolhe um lugar na floresta onde existiriam serpentes que pudessem picá-la e assim morreria envenenada, de modo que não seria mulher de outro homem. 41)Caitutu lança a flecha (versos 25 – 35) e atinge a serpente na testa, e a boca, e os dentes (verso 29) cravando a flecha com a serpente num tronco onde o irado monstro se contorce e deixa escorrer sangue e veneno. 42)A morte de Lindoia não foi acidental, pois foi ela própria quem escolheu o lugar e como morrer – a voluntária morte (verso 48). Ela foi ferida no peito, onde o irmão encontra as marcas dos dentes da serpente e reconhece no rosto da irmã os sinais do veneno. 43)Cacambo é o nome do esposo amado de Lindoia – nome que ela havia registrado na entrada da gruta onde tudo aconteceu. 14 Língua Portuguesa B José de Santa Rita Durão – (1722-1784) Uma bem humorada descoberta do Brasil Caramuru – (Fragmento – Canto II) Enquanto a luta se desenvolve, Diogo, magro e enfermo para a gula dos canibais, veste a armadura e, munido de fuzil e pólvora, sai para ajudar os seis companheiros que serão comidos. Na fuga, muitos índios buscam esconderijo na gruta, inclusive Gupeva que, ao se deparar com o lusitano, saindo daquele jeito, cai prostrado, tremendo; os que o seguiam fazem o mesmo; todos acham que o demônio habita o fantasma-armadura. Álvares Correia, que já conhecia um pouco a língua dos índios, espera amansá-los com horror e arte. Levantando a viseira, convida Gupeva a tocar a armadura e o capacete. Observa, amigavelmente, que tudo aquilo o protege, afastando o inimigo, desde que não se coma carne humana. Ainda aterrorizado, o chefe indígena segue-o para dentro da gruta, onde Diogo acende a candeia, levando-o a crer que o náufrago tem poder nas mãos. Sob a luz, vê, sem interesse, tudo que o branco retirara da nau. Aqui, o poeta, louva a ausência de cobiça dessa gente. Entre os objetos guardados pelos náufragos, Gupeva encanta-se com a beleza da virgem em uma gravura. Tão bela assim não seria a esposa de Tupã? Ou a mãe de Tupã? Nesse momento, encantado pela intuição do bárbaro, Diogo o catequiza, ganhando-lhe, assim a dedicação. Saindo da gruta, o índio, agora manso e diferente, fala a seu povo Tupinambá, ao redor da gruta. Conta-lhes sobre o feito do emboaba, Diogo, e que Tupã o mandara para protegê-los. Para banquetear o amigo, saem para caçar. Durante o trajeto, Álvares Correia usa a espingarda, aterrorizando a todos que exclamam e gritam: Tupã Caramuru! Desde esse dia, o herói passa a ser o respeitado Caramuru - Filho do Trovão. Querendo terror e não culto, Diogo afirma-lhes que, como eles, é filho de Tupã e a este, também, se humilha. Mas que como filho do trovão, (dispara outro tiro) queimará aquele que negar obediência ao grande Gupeva. Nas estrofes seguintes, o poeta descreve os costumes da selva. Caramuru instala-se na aldeia, onde imensas cabanas abrigam muitas famílias, que vivem em harmonia. Muitos índios querem vê-lo, tocá-lo. Outros, em sinal de hospitalidade, despem-no e colocam-no sobre a rede, deixando-o tranquilo. Paraguaçu é uma índia, de pele branca e traços finos e suaves. Apesar de não amar Gupeva, está na tribo por ter-lhe sido prometida. Como sabe a língua portuguesa, Diogo quer vê-la. Após o encontro os dois estão apaixonados. José de Santa Rita Durão (1722-1784) (Disponível em: <http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/ ArcadisPreromant/O_CARAMURU_DURAO.htm>.) Das pesquisas que eu fiz sobre Diogo Álvares Correa, o Caramuru, boa parte delas entre os índios do Brasil é esta que passo a interessados como eu sou pela História do Brasil. Segundo amealhei, o fidalgo da casa real Diogo Álvares, originário do norte de Portugal, Viana do Castelo, nascido por volta de 1473, foi parar na Bahia entre 1509 e 1511, como náufrago de uma embarcação francesa. Alguns historiadores dizem que ele viajava para São Vicente, por volta de 1510, quando naufragou nas proximidades do Rio Vermelho, na baía de Todos os Santos. Seus companheiros foram mortos pelos Tupinambás, mas ele conseguiu sobreviver e passou a viver entre os índios, de quem recebeu o apelido de Caramuru. Bem acolhido que foi por causa do seu célebre tiro certeiro que abateu uma gaivota que voava na praia, os índios, que não conheciam armas de fogo, logo o apelidaram de Caramuru. O morubixaba chefe da tribo lhe deu uma das filhas, chamada Paraguaçu. Ao longo de 60 anos manteve contatos com novos europeus que aportavam na Bahia. As relações comerciais com os normandos levaram-no entre 1526-1528 a visitar a França, onde a sua Paraguaçu foi batizada em Santo-malos, com o nome de Catarina (Katherina Du Bresil) em homenagem a Catherine dês Granches, esposa de Jacques Gartier. Na mesma ocasião foi também batizada outra índia Tupinambá com o nome de Perrine, o que fundamenta a lenda de que várias índias, por ciúmes, se jogaram ao mar para acompanhar Caramuru quando este partia para a França com Paraguaçu. Catarina Paraguaçu e Caramuru tiveram vários filhos e filhas, Ana, Genebra, Apolônia, Graça, Gabriel, Gaspar e Jorge Álvares, que casaram com moças da corte que vieram com Martim Afonso de Souza, dos quais descendem as mais importantes famílias da aristocracia baiana. Caramuru foi sepultado no Mosteiro de Jesus, dos jesuítas, em Salvador, onde depois foi enterrada a sua mulher Paraguaçu. (Disponível em: <http://www.artigonal.com/literatura-artigos/diogo-alvares-correa-o-caramuru-888033.html>.) Obs.: Na primeira estrofe, no verso 7, aparece o verbo crer – “... a Grécia creu”. Pode-se aproveitar para comentar sobre esse verbo, que é irregular. Esse verbo aparece em outros poemas com outras flexões. Formas Nominais: Infinitivo: crer Gerúndio: crendo Particípio: crido Perfeito do Indicativo eu cri tu creste ele creu nós cremos vós crestes eles creram Reflexões sobre o texto 44)A expressão selvagem rude presente no primeiro verso desse trecho refere-se ao indígena. 45)A ação descrita na primeira estrofe desse trecho descreve o modo como os índios brasileiros acendiam o fogo. Eles esfregavam um graveto (lenho) no outro e a partir dessa fricção produziam o fogo. 46)Roupas, barris de pólvora ou outros pertences oriundos do naufrágio não eram artigos que interessassem aos nossos índios. Eles não conheciam esses objetos, por isso não poderiam desejá-los, ou ter interesse em possuí-los. Assim, a expressão apeteça nesse contexto tem sentido de desejar intensamente, aspirar, pretender, cobiçar. Para o narrador, tais pertences não despertavam o interesse de gente nada avara, isso quer dizer que nossos índios não se importavam em acumular coisas, eram desapegados de bens materiais, não se interessavam por estocar artigos que não usavam. Língua Portuguesa B 15 47)Dom Diogo fica admirado ao perceber que os indígenas não manifestam qualquer admiração pela quantidade de ouro e prata que veem acumulados dizendo: Nação feliz! Que ignora o que é cobiça. Desse modo ele revela a característica positiva dos nossos indígenas de não ver sentido em acumular o que para eles não tem utilidade. 54)A 55)D 56)D 57)C 58)B 48)a)O objeto que encanta Gupeva é uma pintura num quadro precioso. c)A imagem do quadro é a imagem de uma mulher, pois é vista como a Mãe da formosura, parecia uma pessoa tão digna que deveria ser mãe de Tupá (= tupã – nome utilizado pelos índios para designar o Deus cristão). O quadro que Gupeva admira é a imagem de Nossa Senhora – mãe de Jesus. A alternativa correta é a B. A oposição feita por Cláudio Manuel da Costa entre a metrópole e a colônia é semelhante à dicotomia entre a cidade e o campo, temática árcade. O poeta viveu em Portugal na civilidade e quando retorna ao Brasil depara-se novamente com a rusticidade dos “montes” e “outeiros”. 59)A 49)A explicação entre parênteses nessa estrofe (pergunta o Bárbaro) refere-se ao índio Gupeva. Os colonizadores portugueses viam os índios brasileiros como um povo muito diferente deles – os civilizados – e dirigiam-se a eles como selvagens, bárbaros. A, pois o poeta se dirige ao seu interlocutor e utiliza o vocativo, como se falasse aos montes, ao destino: Torno a ver-vos, ó montes; o destino. O ARCADISMO E A LITERATURA FEMININA 50)O pronome esse – da estrofe em análise – refere-se a Deus – ou seja, aquele que se assenta no sol sobre os céus. 51)Quando o índio, ao admirar a imagem do quadro, soube que a mulher ali estampada era a Mãe de Tupá, disse que não podia ser, pois divindade não tem mãe. Essa declaração do índio Gupeva fez o português explicar a ele quem era a imagem do quadro segundo os princípios cristãos. Diogo explica que Deus eterno fez-se humano/E sem lesão da própria Virgindade,/ A Donzela o gerou, que pisa a Lu, Digna Mãe de Tupá, Mãe minha, e tua. (Nossa Senhora – a Virgem Maria, mãe de Jesus) 52)Estão corretas as alternativas A, C, D, E. A alternativa B está incorreta, pois Cláudio Manuel da Costa incorporou em suas obras o espírito bucólico próprio do arcadismo, o espírito dos pastores. 53)Estão corretas as alternativas B, C, D, E. A alternativa A está incorreta porque o nome da índia é Lindoia. 16 Língua Portuguesa B Arcadismo brasileiro Obs.: Professor(a), Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira nasceu em São João del-Rei em 1758 — e morreu em São Gonçalo do Sapucaí, em 24 de maio de 1819 – foi uma poetisa árcade brasileira. Há outra escritora brasileira conhecida como Bárbara Heliodora – (Bárbara Heliodora Carneiro de Mendonça). Ela nasceu no Rio de Janeiro – RJ, em 1923. É colunista do jornal O Globo. Crítica, ensaísta, professora e tradutora. Acompanha a atividade teatral desde os anos 60, especializada na obra de William Shakespeare. Conselhos a seus filhos 60)Não. Embora diferente, a ortografia é bastante semelhante, o que permite o reconhecimento das palavras. Os termos desconhecidos, tais como os dos versos: De taful o quarto voto e Em jogos de paro e tópo não chegam a com- prometer a compreensão geral das respectivas estrofes. 61)Explicitamente a autora dirige-se aos filhos, que, por se tratar de substantivo masculino, poderia ser traduzido por meninos – certamente, pela mensagem, adolescentes e jovens. Na primeira estrofe ela aconselha a refletir sobre o que se lê, já que é a reflexão que possibilita que as pessoas se tornem sábias, e não a mera leitura mecânica. Diz também que, para se viver bem, é necessário ponderar sobre o que se lê, pensar, analisar. 62)Certamente, já que ela mesma foi exemplo de emancipação feminina. Os conselhos dados caracterizam-se como sugestões de boas maneiras para a vida em sociedade em geral; não há especificidade que caiba apenas aos “meninos”, embora o título seja: Conselho a seus filhos. 63)Quando se fala deixa-se a mensagem, a informação a mercê do ouvinte; permitindo que ele tenha maior liberdade de interpretação, já que a fala é efêmera. Essa ideia é ratificada quando faz referência ao ditado: “quem conta um conto, aumenta um ponto”. A escrita, ao contrário, documenta o que é dito, limitando as possibilidades de expressão e interpretação pela possível comprovação da mensagem. 64)Desde a primeira estrofe, Heliodora chama a atenção para a importância da reflexão, da análise a respeito do que se lê (e certamente, ouve e vê). Assim, fecha o poema dizendo que teria mais o que aconselhar mas que, como não dispõe de tempo para isso, deixa para o leitor a responsabilidade de concluir sobre o que diria usando da sua capacidade de análise e raciocínio. 65)Conforme o comentário apresentado em resposta à questão anterior, Heliodora explicita sua preocupação com a racionalidade, com a necessidade de se refletir sobre o que se lê, com a importância de se analisar objetivamente (com o uso dos cinco sentidos) o que se fala e se ouve em uma conversa. Imitando os clássicos, a autora preocupa-se em “ser simples, racional, inteligível”. Utiliza uma linguagem simples e direta – sem exageros, sem rebuscamento – para tratar de questões comuns do relacionamento humano geral, sem subjetividade. Nos versos Neste tormentoso mar/D'ondas de contradicções, /De caras a corações/A muitas legoas que andar os termos mar e ondas e mesmo léguas (comumente utilizado para se referir a grandes distâncias, especialmente relacionadas ao mar) são utilizados, por meio de metáforas, em referência à natureza. A expressão “rebanho”, na antepenúltima estrofe, também remete à natureza e ao ambiente pastoril: rebanho de ovelhas. Romantismo – século XIX Amor, meu grande amor 66)Amor, meu grande amor é uma composição contemporânea e, portanto, não foi produzida durante o período do Romantismo. Mesmo assim, ela apresenta a característica fundamental desse período literário que é a subjetividade expressa pelo uso da 1ª pessoa do singular (eu). Além disso, a opinião popular considera essa uma música romântica porque fala de amor. 67)Os versos dão a entender que o amor, a paixão e as palavras não têm hora para chegar, aparecem nas vidas das pessoas inesperadamente. 68)Se considerarmos que o amor próprio do Romantismo é eterno, razão de vida; que quando não se realiza é motivo de morte, concluiremos que o amor cantado nessa canção difere do amor tipicamente romântico. Nessa canção espera-se que o amor Só dure o tempo que mereça ... Enquanto me tiver/ Que eu seja O último e o primeiro ... 69)Não há questão 69 – apenas apresenta os textos da questão 70. 70)E Os três textos afirmam que homem não chora verdadeiramente por amor. Se chora, está Língua Portuguesa B 17 mentindo. Suas lágrimas são utilizadas para enganar a mulher. O que se pode compreender das proposições: a)Nos versos, os autores se referem ao choro do homem; b)os autores afirmam que, quando o homem chora é falsidade; c)não fazem referência à poesia; d)essa ideia foi expressa apenas na música interpretada por Frejat – e em outro verso; e)alternativa correta – quando o homem chora por amor é falsidade. 71)Espera-se que os alunos concluam que segundo os autores dos três textos (Bandeira, Macedo e Boldrin – e também Frejat, que interpreta a música), quando o homem chora por uma mulher, chora lágrimas de crocodilo, ou seja, trata-se de falsidade, de mentira. Esse sentimento se mantém nos diferentes séculos em que vivem os autores (e intérprete – Frejat). É interessante observar que são três homens que fazem essa declaração e que, nos dois primeiros casos, o eu lírico se dirige a mulheres próximas (a irmã e Tereza) como se quisessem, em demonstração de amizade e cuidado, alertá-las. Os versos negritados afirmam que é próprio do homem não chorar por amor, independentemente da época em que vivam. A música interpretada por Frejat é ainda mais radical: homem não chora (nem por amor, nem por dor). Romantismo – Contexto históricocultural Poema de Byron traduzido por João Cardoso de Menezes e Souza 72)A característica essencial do Romantismo é o subjetivismo ou o individualismo, perceptível no texto pelo uso da primeira pessoa do discurso (eu). O poema de Byron apresenta tal característica na maioria das estrofes: 18 Língua Portuguesa B Quando o tempo me houver trazido esse momento, Em meu leito de morte ondule, Esquecimento, (1a estrofe) Não quero (eu) ver ninguém ao pé de mim carpindo, Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio; (2a estrofe) Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo, Receio a placidez quebrar de um peito amigo,(3a estrofe) Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro. 73)Nesse poema de Byron é possível perceber o sentimentalismo exacerbado, um distanciamento da felicidade e realização pessoal do eu lírico aliados à forte presença da tristeza e do desejo de morte. O eu lírico quer morrer sozinho, não quer ninguém perto de si, quer apenas o silêncio, sem luto oficial. Somente o amor poderá trazer ao eu lírico a paz derradeira. 74)O poema de Lord Byron apresenta o pessimismo exagerado próprio dos românticos, com o uso intenso do subjetivismo concretizado no texto pelo uso da 1ª pessoa do discurso. É um poema lírico uma vez que o texto expressa emoções e sentimentos do eu lírico. 75)A um agrupamento de quatro versos por estrofe chamamos quadras ou quartetos. 76)B A ocorrência que marca profundamente a produção Barroca é o conflito religioso. A oposição entre duas forças (o teocentrismo medieval – que a Igreja queria reimplantar – e o antropocentrismo renascentista – que o homem não queria perder impulsiona o homem desse período a buscar conciliação entre razão e fé, espiritualismo e materialismo, carne e alma. Assim, a consciência de que a vida é efêmera e, por isso, precisa ser aproveitada antes que acabe representa um sentido contraditório ao homem barroco, pois gozar a vida implica pecar e, a quem peca, não há salvação. 77)30 78)A ríodo inicia com o pronome relativo que, deve-se alterar a colocação do pronome oblíquo, colocando-o em próclise, ou seja, antes do verbo trocou. 79)C Romance de uma caveira (Alvarenga e Ranchinho) 80) a)O fato de um texto possuir a palavra romance em seu título e de seu primeiro verso afirmar Eram duas caveiras que se amavam, ou seja, mencionar amor pode indicar que o texto aborde um relacionamento amoroso, porém não necessariamente a visão de amor defendida pelo Romantismo, possui características muito peculiares. Desse modo, pode-se compreender que a postura da caveira ao trocar o caveiro por um novo amor não é compatível com os ideais amorosos do Romantismo, pois nesse período o amor é eterno, e no texto, quando trocavam juras de amor, a caveira dizia que pelo caveiro de amor morria (verso 7). O caveiro, no entanto, assume os princípios do amor romântico, pois ao perceber a traição ou a impossibilidade de continuar o relacionamento com sua amada: matou-se de um modo romanesco (verso 14). Isto é, não seria mais possível viver com o desamor da caveira. b)São elementos humorísticos no texto: o relacionamento amoroso de duas caveiras, o encontro dos enamorados no cemitério, a paixão da caveira por um defunto fresco... c)Sentados os dois sobre a sepultura. d)O caveiro tomou uma bebedeira e cometeu suicídio. Por mais incrível que pareça, esse era o modo idealizado pelo Romantismo para solucionar as dores do amor não correspondido, mais especificamente por aqueles que defendiam os princípios pregados pelos poetas do "mal do século", ou 2ª geração romântica. e)O mais adequado a uma linguagem formal seria: 81)23 A única afirmativa incorreta é a 08, porque a terra estrangeira é diferente para o eu lírico de cada poema. Para Canção do exílio, a nação estrangeira é Portugal; e para o Texto II é o Brasil. 82)V – V – F – V – V. 83)30 A afirmativa 01 faz referência à Carta de Pero Vaz de Caminha – texto da literatura informativa. 84)A 85)C 86)a) Passam tantas visões sobre meu peito/ palidez de febre meu semblante cobre. b)Um nome de mulher... e vejo terna (doce, sensual)/No véu suave de amorosas sombras. c)Inutilmente a chamo, em vão (as) minhas lágrimas. 87)A 88)O conflito do eu lírico entre sonho e realidade pode ser observado nos seguintes versos: Acordo palpitante [...] inda a procuro; Imploro uma ilusão [...] tudo é silêncio!/Só o leito deserto, a sala muda! Amorosa visão, mulher dos sonhos, nunca virás iluminar meu peito/Com um raio de luz desses teus olhos? O caveiro tomou uma bebedeira e matou-se de um modo romanesco por causa dessa ingrata caveira que o trocou por um defunto fresco. 89)Expressões do poema que caracterizam a amada podem ser encontradas nos versos: e vejo lânguida/No véu suave de amorosas sombras/Seminua, abatida, a mão no seio,/ Perfumada visão romper a nuvem,/Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras. A norma culta sugere que o pronome pessoal do caso reto ele seja substituído pelo oblíquo o. Como a última oração desse pe- 90)O poema fala de um amor inacessível e distante. É um amor que não se concretiza e que faz parte dos sonhos do eu lírico, como Língua Portuguesa B 19 podemos observar especialmente nos versos seguintes: E sem na vida ter sentido nunca/Na suave atração de um róseo corpo [...] Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas/ Passam tantas visões sobre meu peito! 91)O poema de Álvares de Azevedo em estudo apresenta subjetividade, expressa através da individualidade (uso de primeira pessoa do discurso) e de uma visão pessimista sobre a vida e o amor. A felicidade e realização amorosa são metas inatingíveis, por isso a tristeza e a infelicidade se fazem presentes. Essas características constituem traços marcantes tanto nos poemas de Azevedo quanto nos de outros poetas da segunda geração do Romantismo. 92)a) Alugo (três mil réis) por uma tarde/Um cavalo de trote que piada (que esparrela!) b)ela irritada/Bateu-me a janela.../ou Bateu-me a janela na cara (sobre as ventas) c)A calça inglesa/Rasgou-se no cair de meio a meio,/O sangue pelas ventas me corria/ Foi o resultado de um sonho de amor (ou Foi o que o que recebi em troca de um sonho de amor) Em paga do amoroso devaneio! [...] 93)De acordo com o poema, o namoro do eu lírico com Dulcineia era um namoro à distância (2ª estrofe: Só para erguer meus olhos suspirando/À minha namorada na janela [...]). Talvez nem a própria Dulcineia soubesse que era namorada do "poeta", pois segundo o que indica no poema ele enviava flores e versos que furtava de algum poeta (3ª estrofe). Na 4ª estrofe, encontra-se a afirmação de que ele ficava extremamente tímido quando estava próximo a Dulcineia – junto dela/Nem ouso suspirar de acanhamento [...] poema a felicidade e a realização amorosa como objetivos inatingíveis, já que a intenção do eu lírico de namorar Dulcineia é frustrada; e a realização amorosa não se confirma, pois a amada, que estava na janela, fecha-a repentinamente (bate com a janela na cara do enamorado), impossibilitando a realização dos objetivos do amante. 96)D 97)O poema de Casimiro de Abreu Meus oito anos, obra da segunda geração romântica, é marcado pelo saudosismo da infância (Oh! Que saudades que tenho – 1º verso) e esse sentimento está fortemente relacionado a lembranças da infância (Que amor, que sonhos, que flores,/Naquelas tardes fagueiras/À sombra das bananeiras,/Debaixo dos laranjais! – 1ª estrofe; O mar é – lago sereno,/O céu – um manto azulado, – 2ª estrofe; Que aurora, que sol, que vida/ Que noites de melodia/... O céu bordado d'estrelas,/A terra de aromas cheia/As ondas beijando a areia/E a lua beijando o mar! – 3ª estrofe). Em todas as estrofes encontram-se as lembranças do eu lírico relacionadas à natureza. Esse poema em especial expressa a saudade de tempos que não voltam mais – sente saudade das carícias da mãe, dos beijos da irmã, mas não propriamente de amores perdidos ou não correspondidos. 98)Meus oito anos é um poema simples, de linguagem simples, pois a maioria das frases foi construída na ordem direta, e o vocabulário utilizado está muito próximo ao da linguagem coloquial. 94)29 99)A descrição dos sentimentos que remetem à infância revela as sensações individuais do poeta e a sua visão particular. O subjetivismo é marcado no texto pelo uso de primeira pessoa do discurso – eu, minha – e pelas flexões do verbo na primeira pessoa do singular. 95)Pode-se dizer que a subjetividade está presente no poema Namoro a cavalo na medida em que no episódio relatado encontra-se utilização do discurso em primeira pessoa (eu, meu, minha etc.). Confirma-se também nesse 100)Além das características românticas já mencionadas nas questões anteriores, podem-se distinguir outros traços marcantes na poesia de Casimiro de Abreu que são característicos do Romantismo literário, tais como: 20 Língua Portuguesa B • O pessimismo decorrente do "mal do século" – o presente é duro demais, a felicidade e a realização não estão acessíveis, fazem parte do passado, da infância; •A saudade se revela na melancolia e na referência à terra natal (aquela de sua infância) que em muitos poemas aparece como nacionalismo; •O uso de adjetivos como força expressiva capaz de qualificar e ao mesmo tempo de expressar muitos sentimentos. Os adjetivos para os românticos têm o poder de ampliar o sentido conotativo das palavras, imprimindo ao texto uma carga emotiva para expressar a natureza e as paixões humanas. O uso repetido de alguns adjetivos nos textos românticos tornou-se verdadeiro lugar-comum na produção desse período literário: doce, fagueira, inocência, mimoso, ingênuo, infeliz, fatal, puro, cândido, celestial, etc; •A abundância de interjeições e exclamações, criando um tom de exaltação retórica. 101)As funções predominantes são a emotiva, pois há um eu lírico expressando emoções, e a poética, uma vez que estamos diante de um texto literário. Professor(a), transcrevemos a seguir um texto sobre a produção poética romântica que pode contribuir no trabalho com os alunos. Pequena conversa sobre a mulher na poesia romântica Poesia romântica • Primeira geração • Segunda geração • Terceira geração Entretanto, essa ideia que carregamos desde sempre transforma-se num grande erro quando se trata de literatura. "Romântico" no sentido literário é muito diferente de "romântico" no sentido figurado. O romantismo a que nos referimos a torto e a direito por aí não corresponde de jeito nenhum ao movimento artístico burguês do século XIX, e, quando muito, é apenas uma face muito pequena e deformada dele. Embora o exagero sentimental seja marca registrada, esse período literário tem outros traços, bem particulares e até estranhos para quem não conhece o movimento. Por exemplo: dizer que um escritor é romântico pode significar que ele é satânico. Ou que gosta da noite e do sobrenatural, ou que é religioso, ou que é promíscuo, indianista, medieval, burguês, ou que gosta de mulheres mortas... Romantismo é um movimento amplo. Sua compreensão se torna mais fácil se percebermos que dentro dele cabem coisas sem relação alguma com o sentido tradicional da palavra, e, às vezes, sem aparente relação entre si. Na verdade, falando de poetas românticos, eles são tão diversos entre si que temos o hábito de estudá-los em 3 grupos, ou 3 gerações. Essa divisão é bem imperfeita e não serve para a prosa, mas estudá-la é uma forma de entender como o poeta romântico se comporta em cada uma dessas 3 épocas. Interessante é observar que, a cada comportamento, existe uma forma de amar diferente e, portanto, um ideal de perfeição e beleza diferente, o que gera a necessidade de uma nova musa. Assim, da mesma forma que existem 3 gerações românticas, há 3 mulheres românticas. E convido o leitor a conversar sobre cada uma delas. Poesia romântica Primeira geração Eis aqui uma conversa informal sobre o papel da mulher na poesia romântica. E, pra começo de conversa, acho conveniente cutucar meu leitor com uma pergunta simples: o que é poesia romântica? Todos temos uma noção intuitiva disso. Esse assunto povoa nossa mente com elementos doces. Traz em si a ideia de flores, estrelas, amores, é novela, fofura, geralmente enternece mulheres e entedia homens. Na poesia da primeira geração, o amor é angelical, idealizado e – palavra-chave – cortês. Lembra bastante o trovadorismo medieval, no qual o homem é um cavaleiro, e a mulher verdadeira princesa, a mais bela dentre todas. Ela é jovem, adolescente e virgem, puríssima, imaculada. O homem dá-se por muito feliz se puder apenas cantar sua senhora, cobrir-lhe de glórias e andar seguindo seus pés, pensando nela, apenas. Mesmo Língua Portuguesa B 21 no plano do pensamento, não observamos sensualidade, muito menos sexo. O amor é puro, o homem é protetor submisso, e nada de concreto se realiza entre os amantes, devido à enorme distância entre ambos. Há muita contemplação e pouca ação, como podemos perceber na estrofe de Gonçalves Dias: Dizei vós, ó meus amigos, Se vos perguntam por mi*, Que eu vivo só da lembrança De uns olhos cor de esperança De uns olhos verdes que vi! Que ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi [...] autores, rendendo muitos casos de mortes prematuras. Era raro um poeta chegar aos 30 anos. Justamente por ser tão triste e conflituoso, o ultrarromântico se reconhece um "precito", ou seja, um maldito. E ele não quer macular sua amada virgem com isso. Assim, forte característica da geração é o medo de amar, em conflito com o forte desejo de consumar o amor. Casimiro resume bem: Se te fujo é que adoro e muito,/És bela – eu moço; tens amor, eu – medo! A moça continua virgem, porém, frequentemente é vista seminua, desejável e inatingível. O poeta "mal do século" deseja aquilo que não pode ter. Então, quer esquecer, divagar no passado, beber, morrer [...] Segunda geração Aqui, já temos um início de sensualidade, apesar de fortemente reprimida e muito conflituosa. Ineditamente, o poeta sugere que deseja carnalmente a amada, porém, em virtude da idealização feminina extrema, ele se sente inferior e indigno de tocá-la. Por isso, Casimiro de Abreu diz: Vampiro infame, eu sorveria em beijos/Toda a inocência que teu lábio encerra. De modo geral, esses poetas são perturbados. Fruto de uma época caótica, em que a humanidade viu desmancharem-se as promessas de igualdade da Revolução Francesa, eles observam a permanência das injustiças no mundo com desespero. Preferem então fugir dessa realidade insuportável. Fazem isso de várias formas: ora lembram saudosos os momentos da infância, ora refugiam-se nos prazeres do álcool, do sexo (byronismo), ora afagam com carinho a ideia de morrer. Sim, com carinho. A atração pela morte é uma constante na segunda geração romântica. Por isso, nem é de se admirar que seja forte, aqui, o gosto por mulheres magras, pálidas, e, muitas vezes, mortas. A segunda geração é chamada ultrarromantismo ou "mal do século". Realmente, nesse período a sociedade literária passou por uma onda de desespero e depressão que abalou seriamente a vida dos 22 Língua Portuguesa B Terceira geração Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica de terceira geração sem falar no poeta baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele foi responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição para jogá-la, literalmente, na cama. Em Castro Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor. Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte. E o poeta dos escravos, como ficou conhecido por sua poesia social, soube transplantar para a lírica amorosa o gosto pelas imagens monumentais, tornando sua poesia ao mesmo tempo erótica e lírica, interessante, pois, até para os mais acanhados. De modo geral, o poeta posiciona-se claramente contra os desesperos e medos ultrarromânticos. Castro Alves ama a vida e gosta mesmo é de fazer amor. Boa noite, Maria! Eu vou-me embora. A lua nas janelas bate em cheio. Boa noite, Maria! É tarde [...] é tarde [...] Não me apertes assim contra teu seio. Boa noite!... E tu dizes – Boa noite, Mas não mo digas assim por entre beijos [...] Mas não mo digas descobrindo o peito, – Mar de amor onde vagam meus desejos [...] amor carnal, voraz, voluptuoso, possível. Há vocábulos que fazem referência a essa paixão, a esse amor-desejo: volúpia, sangue, ardente, leito, seio, morro, desfaço-te. Há também expressões com a mesma conotação romântico-sensual: noites andaluzas, sangue ardente, trenos da vida, leito de amor, seio brilha, desfaço-te a mantilha. (Jéssica Callou. Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/151890>. Acesso em: 27 set. 2010.) 102)a)Espera-se que os alunos percebam que a relação amorosa, assim como a proximidade entre os amados, é diferente em cada uma das estrofes. Na estrofe I, o amado está distante, porém mesmo longe sente o seu perfume e segue os passos de seu amor. O amor nessa estrofe é contemplativo e contido. Encontramos referências ao poeta italiano Tasso, e o eu lírico, ao encarná-lo, passa a sentir um amor profundamente idealizado por sua amada Eleonora. (Encontra-se nesse primeiro verso a utilização de vocábulos à moda dos românticos clássicos: alma e sonhadora.) Na estrofe II, as palavras remetem à sensualidade, mas a amada ainda é distante, inatingível, pois aparece seminua em sonhos e na imaginação do poeta. Nessa segunda estrofe, o eu lírico deixa de lado o plano espiritual e assume o plano terreno e, propriamente, amoroso. Para isso, ele pede ajuda aos ícones da literatura amorosa: Romeu e Julieta – os célebres personagens de Shakespeare. A referência a Romeu e Julieta possibilita ao eu lírico descrever psicológica e fisicamente sua condição à amada, fazendo alusão ao amor transcendental, capaz de superar as barreiras sociais. Na estrofe III, percebe-se a proximidade entre os amantes, o eu lírico faz referência a um amor que se realiza e, diferentemente das estrofes anteriores, o amado não se contenta apenas com o sonho e a idealização do contato físico. Nessa estrofe, o amor dá lugar ao desejo ardente, à volúpia, à paixão descontrolada. Há vários signos, nessa estrofe, que comprovam a concretude desse amor. É um amor espiritual e sublime que abre passagem para o b)A relação do eu lírico com sua amada se concretiza na terceira estrofe: Sobre o leito do amor teu seio brilha [...]/ Eu morro, se desfaço-te a mantilha [...] 103)a)O poeta diz que sua alma é como uma face sonhadora. Pode-se deduzir que a fisionomia de uma pessoa sonhadora caracteriza-se por um olhar distante, perdido e por um comportamento distraído e ausente. b)A paráfrase de teu lânguido poeta pode ser teu mórbido (doentio) poeta ou Sou teu Romeu [...] teu doce poeta/teu sensível poeta. c)Don Juan é um conquistador, um amante irresistível para as mulheres. Do mesmo modo posiciona-se o eu lírico do poema de Castro Alves. Nesse poema – Os três amores – o eu lírico posiciona-se como amante irresistível. d)Espera-se que os alunos percebam que há diferenças entre o eu lírico posto em cada uma das estrofes. Mas pode-se dizer que o poeta Castro Alves, de certa forma, transgride a concepção do amor romântico na medida em que esse amor ultrapassa o plano da idealização e mistura-se ao amor concreto, objetivo e carnal. Essa intencionalidade do poeta resulta em um poema em que cada uma das estrofes apresenta o eu lírico posicionando-se de modo diferente em relação à amada e à concepção de amor. Na primeira estrofe, ele está distante da amada e sua relação com ela também é distante. Trata-se da alusão a um amor não realizado, sublime, sereno, referente à primeira fase da poesia lírico-amorosa romântica. Na segunda estrofe, embora os enamorados estejam fisicamente distantes, há entre eles uma relação de maior proximidade e de Língua Portuguesa B 23 muita sensualidade, e a relação amorosa possui o perfil da segunda geração romântica. Na terceira estrofe, o eu lírico vive a paixão e não para no plano do ideal, ao contrário, ele mescla esse ideal romântico ao palpável, ao objetivo. Enfim, nesse poema o amor não possui apenas uma face, mas três faces de uma única mulher. A mulher, para o poeta, é idealizada, mas ao mesmo tempo pura e sensual. É Eleonora, Julieta e Júlia, a Espanhola. 104)E 105)Professor(a), antes de os alunos produzirem o texto solicitado nesta questão, sugerimos que se organize um período de leitura em voz alta de poemas de Castro Alves. A produção poética desse autor visa à oratória, tanto que ficou conhecido como poeta declamador, pois soube como nenhum outro poeta de seu tempo fazer poemas que comoviam plateias, utilizando a linguagem como instrumento para sensibilizar, impressionar e incitar o público. Uma atividade com a leitura declamatória de poemas de Castro Alves possibilitará aos alunos apreciarem a obra desse autor, conhecerem tanto a poesia lírica quanto a social, perceberem o quanto sua obra se destaca entre os poetas românticos, além de proporcionar-lhes o reconhecimento das diferentes dimensões de um poema (a dimensão da linguagem, da sonoridade, das imagens, dos significados). A respeito da elaboração do texto que esta questão solicita, acredita-se que a discussão em sala sobre as questões 22 e 23 proporcionem aos alunos os subsídios necessários para essa produção. 106)B O texto 7 – Boa-noite (Castro Alves). Apresentamos no material didático do aluno apenas um trecho do poema, pois o objetivo é evidenciar a concepção de amor e de mulher na poética do Romantismo brasileiro. 24 Língua Portuguesa B Transcrevemos a seguir um trecho de um artigo que analisa essa obra. [...] Em Boa-noite, poema de 1868, a epígrafe em francês, extraída da cena dos jardins dos Capuletos, indica a fonte inspiradora desse poema. Mais uma vez, o poeta busca em Shakespeare o mote para seus versos. Nessa epígrafe, Julieta tenta convencer Romeu de que é do rouxinol, ave que canta à noite, o canto ouvido e não da cotovia, que anuncia a chegada do dia. Julieta não quer que o amado se vá. Boa-noite inicia com o eu lírico anunciando que "é tarde" e ele "vai embora". Essas duas atitudes proclamadas são constantes em outros poemas de Castro Alves. A sensação de abandono por parte do eu lírico é mais um ponto em comum com a figura donjuanesca, já que cabe a esse personagem seduzir e depois abandonar. No entanto, nesse poema, o abandono não se concretiza, antes instaura a sedução ao espaço poético, introduzindo o jogo sensual: da necessidade de ir e do desejo de ficar. Nas duas primeiras estrofes, entende-se que o eu lírico, mesmo anunciando sua partida, almeja ficar e se sente seduzido pela amada, como se pode ver em: Boa-noite, Maria! É tarde [...] é tarde .../Não me apertes assim contra teu seio. e Boa-noite! [...] E tu dizes – Boa-noite./[...]/Mas não digas assim por entre beijos .../Mas não mo digas descobrindo o peito,/– Mar de amor onde vagam meus desejos. Na terceira estrofe, o eu lírico chama por Julieta e segue a se referir a ela até a oitava estrofe. As cenas sensuais, pendendo ao erotismo, seguem uma gradação de volúpia que alimenta ainda mais a vontade de ficar. A descrição do espaço amoroso, assim como a descrição do corpo da mulher, alimenta-o com o fogo da paixão. Nesse instante, as imagens são ligadas à noite, tempo dos amantes: Boa-noite, a lua, é tarde, cabêlo preto, a frouxa luz da alabastrina lâmpada e negro e sombrio firmamento. [...] (Disponível em: <http://www.cintiabarreto.com.br/artigos/castroalves-liricaamorosa. shtml#ixzz10CCyZvbx>. Acesso em: 30 set. 2010.) 107)a)Espera-se que os alunos percebam que a relação amorosa mencionada no Texto 3 (Álvares de Azevedo) é diferente daquela expressa no Texto 7 (Boa-noite – Castro Alves). Em Azevedo a relação amorosa é idealizada, não se consuma, embora seja evidenciada a sensualidade – Meus olhos turvos se fechar de gozo,/Seminua, abatida, a mão no seio,/Só o leito deserto, a sala muda! Mesmo assim, o eu lírico expressa seu desejo e sua intenção. Diferentemente, a relação amorosa no poema Boa-noite de Castro Alves é real, concreta, pois há descrição do contato físico – não me apertes assim contra teu seio, por entre beijos, descobrindo o peito. b)A amada, para Álvares de Azevedo, é uma donzela a que o poeta se refere de modo genérico. Essa amada tem corpo róseo, um nome de mulher (qualquer um), lânguida, seminua..., sabe-se ao certo que ela é distante, que embora o poema apresente características dela, não é possível determinar quem ela é. Ela pode ser sonho, delírio, não se materializar. No poema de Castro Alves é diferente. A amada se materializa e relaciona-se concretamente com o eu lírico. Seu poema refere-se a uma amada em especial – Maria, que está materialmente próxima ao eu lírico. c)Os dois poemas (Álvares de Azevedo e Boa- noite, de Castro Alves) apresentam características determinantes do Romantismo, que são a presença da paixão, da emoção e da liberdade, características relacionadas ao subjetivismo. Esse último expresso nos dois poemas pelo uso da primeira pessoa do singular. A paixão pode ser observada em ambos os poemas, evidenciando-se pelo sentimento de amor em realização (Castro Alves) ou a se realizar (Azevedo). Percebe-se também nos dois poemas em estudo a presença do amor romântico. Um amor que se situa no tempo presente, intenso e verdadeiro, como o bem mais importante da existência humana. A mulher – eixo do amor romântico – é divinizada, cultuada, pura. Contudo, em Castro Alves esse amor se materializa, e em Álvares de Azevedo ele é fruto da idealização do eu lírico. Essa diferença de proximidade da relação amorosa é o que indica que a obra de Azevedo seja didaticamente considerada da segunda geração romântica e que a obra de Castro Alves pertença à terceira geração romântica. 108)No verso Não me apertes assim contra teu seio a preposição contra reforça o sentido de apertar ou de oposição de um corpo contra outro, que é um sentido importante desse enunciado. Ao substituir essa preposição por outra sem alterar o sentido, poderíamos ter: •Não me apertes assim bem junto a teu seio. A locução prepositiva bem junto a permitiria manter a ideia de apertar um corpo contra o outro. Embora alterando um pouco o sentido, poderia ser também: •Não me apertes assim no teu seio. Com a preposição no (= em+o) a ideia inicial de oposição entre os corpos perde a ênfase e salienta-se a forma como ela aperta seu amado, ou o lugar onde ela o aperta. •Não me apertes assim ao teu seio. A preposição ao acrescenta ao enunciado o sentido do meio utilizado para apertar um corpo contra a outro. 109)O poema de onde foi retirado esse verso (penúltimo) é Boa-Noite de Castro Alves (Texto 7). Em Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira [...], a conjunção pois tem o sentido de "oposição", indica "contraste", equivale a mas, porém etc. 110)A Os poemas de Castro Alves ficaram conhecidos como poemas-discurso; foram elaborados muito mais para serem declamados para o grande público do que para serem lidos. 111)E Para Castro Alves a escravidão era motivo de vergonha nacional. Ele ficou conhecido como o poeta dos escravos, uma vez que o abolicionismo era a temática de maior destaque de sua poesia social. Língua Portuguesa B 25 112)D A única alternativa incorreta é a I, porque as personagens femininas de Castro Alves proporcionam a realização plena: deseja-se e faz-se. Ele foi responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição para torná-la concreta. Em Castro Alves, acabaram-se as idealizações e veio, fortemente, a consumação erótica do amor. 26 Língua Portuguesa B 113)C 114)C