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Literário, sem frescuras!
ISSN 16641664-5243
Ano 3 - Setembro/Outubro
Setembro/Outubro de 2012—
2012—Edição no. 17
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
www.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
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LITERÁRIO, SEM FRESCURAS
Genebra, verão/outono de 2012
No. 17
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL
NO. 16 - Genebra - CH - ISSN 16641664-5243
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
Textos: Vários Autores
Colunas:
O CURTIDOR DE PELES
Daniel Ciarlini
Fabiane Ribeiro
Por Wilton Porto
Sheila Ferreira Kuno
Ilustrações: Vários Autores
Desenhos animais: © ddraw - Fotolia com
Desenhos crianças/estações: © J-Sho - Fotolia
Foto capa: © Chepko Danil - Fotolia com
Quando garoto, curtia o sol,
Que curtia as peles estendidas no
chão.
Curtindo as peles, também curtia os
sonhos,
De um dia nesta vida ter um lugar ao
sol.
Foto contracapa: © fotogestoeber - Fotoliacom
Muitas imagens encontramos na internet sem ter
o nome do autor citado. Se for uma foto ou um
desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente
e teremos o maior prazer em divulgar o seu talento.
Revisão parcial de cada autor
Revisão geral VARAL DO BRASIL
O sol que curtia as peles
Muito mais curtia os sonhos
De ser mais que um curtidor de peles
Na pele em que vivia.
O sol é vida, o sol é sonho,
Mas viver no sol não é a única vida;
Se Curtir as peles é oportunidade,
Oportunidade não é só em peles.
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A
revista está gratuitamente para download em
seus site e blog.
Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL
NO. 18 envie seus textos até 10 de outubro de
2012 para: [email protected]
Viver ao sol – eis o verdadeiro curtir.
Curtiu e curte na pele que é dele.
Porém, para curtir, o que se curte
Nesta vida tão curta,
Antes, é viver no sol,
Pois só ganha a vida quem nada
repele.
(Do livro O CURTIDOR DE PELES).
O tema da edição no. 18 será livre.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Convidamos as pessoas que gostam de escrever para falar da infância e o convite foi aceito por
muitos! Então aqui estamos, falando não só da Nossa Infância, mas da infância de todos. Desde
as infâncias felizes até a mais triste delas.
Lembrar da infância não é fácil para todo mundo, assim também é falar dela. O que para muitos
é algo gostoso e que pode se repetir escrevendo o que vem da memória, para outros pode ser
doloroso demais. Por isto agradecemos a tantos que vieram, atenderam o apelo e falaram da
infância com alegria ou com tristeza.
Quando se pensa em criança é automático: pensamos em doces! Vida doce, festa, tudo doce!
Então fomos buscar algumas receitas culinárias que visitassem nosso paladar infantil, aquele
que, como um pequeno pecado, muitas vezes ainda provamos e adoramos!
Como vocês devem ter percebido nossas férias foram alegremente interrompidas pela edição de
um especial, o Varal do Amor. Foram publicados cinquenta autores. Mas recebemos muitos,
muitos mais. E a sugestão de fazer uma sequência. Quem sabe? Quem sabe não faremos em
breve?
Atendemos com alegria, em meio a todas as histórias e poemas sobre a infância, o chamado da
seriedade de uma publicação científica e publicamos o artigo de André Valério Sales intitulado
Particularidade, Universalidade e Singularidade: definindo conceitos fundamentais para a Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais e que por ele será apresentado na universidade que
frequenta. Talvez um sonho de criança que se realiza!
Em meio a tantas alegrias, uma notícia triste vem fazer parte do Varal. Nossa Livraria, infelizmente, encerrou suas atividades. Não foi possível manter o sonho de comercializar nossa nova
literatura, nossos novos autores aqui na Europa! Constatamos que pouquíssimos brasileiros
aqui na Suíça buscam esta literatura. A grande maioria ainda se atém aos autores consagrados
ou prefere apenas adquirir os livros diretamente no Brasil quando vai em visita. Desta forma,
profundamente tristes, fechamos as portas desta livraria que tinha o sonho de ver seus autores
brilhando por aqui! Mas nem tudo foi perdido, pois depois do sucesso que foi nossa participação no 26o. Salão Internacional do Livro de Genebra, os livros, cedidos por grande parte dos
escritores presentes na livraria, estão sendo doados a várias bibliotecas suíças que demonstraram imenso interesse nos exemplares. São os novos autores brasileiros cruzando fronteiras
através do Varal do Brasil!
Estamos com as inscrições abertas para a seleção de textos para o livro Varal Antológico 3.
Surpresos com a variedade e quantidade de textos a ler, nossos examinadores estão felizes de
observar a qualidade destes mesmos textos. E começamos a lamentar que as vagas sejam limitadas! Você ainda tem tempo para se inscrever e pode solicitar o regulamento através do nosso
e-mail [email protected] . O livro Varal Antológico 3 terá revisão completa incluída e editoração pela Design Editora, símbolo de qualidade na edição de livros no Brasil.
Amigos do Varal, nos preparamos para, em novembro, festejar nossos três anos de revista. Traremos o tema livre, festejaremos juntos. Esperando você para a festa de novembro, deixamos
aqui esta revista especial sobre a infância! Uma boa leitura!
Sua equipe do Varal
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
◊
AFONSO MARTINI
◊
HELIO SENA
◊
ANA MARIA ROSA
◊
HERNANDES LEÃO
◊
ANA ROSENROT
◊
ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS
◊
ANDRÉ VALÉRIO SALES
◊
IVANE LAURETE PEROTTI
◊
ARLETE TRENTINI DOS SANTOS
◊
JACQUELINE AISENMAN
◊
AUDELINA MACIEIRA
◊
JOSANE MARY AMORIM
◊
CARLA RENATA JORGE NEVES
◊
JOSÉ CAMBINDA DALA
◊
CARLOS CONRADO
◊
JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO
◊
CARLOS PINA
◊
JOSÉ HILTON ROSA
◊
CLÉO REIS
◊
JOSSELENE MARQUES
◊
CRISTINA CACOSSI
◊
JU PETEK
◊
DANIEL C. B. CIARLINI
◊
JULIA REGO
◊
DHIOGO JOSÉ CAETANO
◊
KARINE ALVES RIBEIRO
◊
EDNA PIDNER
◊
KRISIANE DE PAULA
◊
ELIANE ACCIOLY
◊
LARIEL FROTA
◊
EMÉRITA ANDRADE
◊
LENIVAL NUNES ANDRADE
◊
ELISE SCHIFFER
◊
LEONILDA YVONNETI SPINA
◊
EVELYN CIESZYNSKI
◊
LÓLA PRATA
◊
FABIANE RIBEIRO
◊
LÚCIA AMÉLIA BRULHARDT
◊
FANI
◊
LUDMILA RODRIGUES
◊
FELIPE CATTAPAN
◊
LUIZ CARLOS AMORIM
◊
FRANCY WAGNER
◊
LUNNA FRANK
◊
GERMANO MACHADO
◊
MARCELO BENINI
◊
GUACIRA MACIEL
◊
MARCOS TOLEDO
◊
HELENA AKIKO KUNO
◊
MARCOS TORRES
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
◊
MADAL
◊
MARIA EUGÊNIA
◊
MARIA MOREIRA
◊
MARIANE EGGERT DE FIGUEIREDO
◊
MARILU F. QUEIROZ
◊
MARINA VALENTE
◊
MARINEY K
◊
MÁRIO OSNY ROSA
◊
MYRTHES NEUSALI SPINA DE MORAIS
◊
MARIO REZENDE
◊
MORGANA GAZEL
◊
NORÁLIA DE MELLO CASTRO
◊
ODENIR FERRO
◊
RAIMUNDO CANDIDO TEIXEIRA FILHO
◊
RENATA IACOVINO
◊
RITA DE OLIVEIRA MEDEIROS
◊
RO FURKIM
◊
ROBERTO ARMORIZZI
◊
ROZELENE FURTADO DE LIMA
◊
SANDRA BERG
◊
SARAH VENTURIM LASSO
◊
SHEILA FERREIRA KUNO
◊
SILVIO PARISE
◊
SONIA NOGUEIRA
◊
SONIA RODRIGUES
◊
VALDECK ALMEIDA DE JESUS
◊
VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI
◊
VO FIA
◊
WILTON PORTO
◊
YARA DARIN
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
jamais esquecerei.
UM PEDAÇO DO CÉU
Fiquei parada no último degrau do corredor,
Por Ana Maria Rosa
fora do tempo, olhando aquele cenário irreal: a mesa
grande, preta de tão encardida; as cadeiras escuras,
Eu era muito criança. Devia ter uns seis
fantasmagóricas; fuligem e pedaços de telha espa-
anos, mas ainda me lembro daquela tarde. A trovoa-
lhados por toda parte; o espelhinho do lavatório co-
da veio muito rápida: de repente, o céu se fez negro,
berto com uma toalhinha branca; a bacia de esmalte
e um vento forte começou a sacudir a copa das árvo-
cheia de água amarela; a pequena cristaleira com o
res. Logo nossa mãe mandou que entrássemos. Fe-
vidro quebrado expando os pratos de visita... A sala
chou as portas e janelas, cobriu os santos e os espe-
e os objetos, tudo, envolto numa penumbra azulada
lhos. Nós queríamos ver a chuva, porém ela nos fez
e, ao mesmo tempo, banhado de luz. Não havia can-
ficar quietos em seu quarto. Amedrontada, sentou-se
deeiro aceso nem luz do sol. As janelas e portas es-
toda encolhida na cama passando as contas do rosá-
tavam fechadas. Mas uma luminosidade suave e
rio e rezando bem baixinho. Ficamos em silêncio
acinzentada clareava tudo. Olhei e vi o teto, negro
ouvindo o ribombar dos trovões e as pancadas da
de fuligem, com um buraco enorme e azulado. Por
chuva no telhado. Parecia que o mundo estava se
aquele buraco, entrava – na sala – o céu cinza-claro,
acabando – diria minha mãe mais tarde. Nós, ao
quase prateado, lavado de chuva...
contrário dela, não tínhamos medo algum e adorávaNão sei por quanto tempo quedei-me ali, re-
mos chuva forte com relâmpagos e trovões. Mas,
daquela vez, fiquei um pouco amedrontada com a
violência da trovoada. Quando, finalmente, a chuva
amainou, saímos do quarto. Era de tardinha, e a casa
estava quase às escuras. Caminhávamos tateando as
paredes do corredor tentando enxergar através da
penumbra. Logo, percebemos que a chuva e a ventania haviam feito muitos estragos, pois havia muita
sujeira e telhas quebradas pelo chão. Ao chegarmos
à sala de jantar, percebemos que algo extraordinário
havia acontecido: o vento destelhara a cumeeira.
verente, olhando aquele pedaço de céu... e admirando aqueles objetos pela primeira vez – em toda sua
pobreza – envoltos numa feiura que, naquele momento, me parecia inexplicavelmente bela. Aproximei-me da mesa: o céu estava perto e pairava sobre
minha cabeça. Como era possível aquilo? O céu
sempre fora tão inatingível, tão distante... E agora
estava tão perto, tão pequenino... meu céu. Achei
que poderia tocá-lo com a mão se conseguisse uma
escada bem alta para subir na cumeeira da casa...
Olhei mais um pouco e vi que sobre a mesa,
nas cadeiras, no chão, em toda parte, havia pequeninas pedrinhas transparentes – cristaizinhos de luz...
Quando eu os colocava na palma da mão (tão frios),
logo eles desapareciam. Alguém falou em chuva de
granizo. Disseram que aquelas pedrinhas eram de
gelo. Gelo!? Na boca, elas derretiam... Eram de
Não sei o que os outros viram, mas o que vi
água!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Saí para o terreiro, e o chão estava salpicado
nenhum som, apenas o Silêncio.
por uma infinidade delas. O terreiro estava ilumina-
Voltei à sala e olhei novamente cada coisa:
do por milhares de pontos de luz, como se fossem
os móveis, os objetos, as paredes, as portas, as jane-
pedras preciosas ou pequeninos pedacinhos de estre-
las, o telhado, o chão... E, de novo, era como se os
las. Eu escolhia os maiores, punha-os na mão e fica-
visse pela primeira vez. Olhava meu pedaço de céu,
va olhando até vê-los sumirem rapidamente restan-
limitado pelas telhas, projetando-se para o infinito, e
do apenas uma porçãozinha de água... Olhava ao
meu coração se regozijava como se tocado por algo
meu redor, e o mundo inteiro estava parado. Não
sagrado. Uma vez li (Não me lembro quem disse,
existia nenhum movimento: as quixabeiras, impassí-
mas foi alguém do grupo que construiu Pampulha)
veis, sobre o tapete de frutinhas escuras; as folhas
das bananeiras, rasgadas, imóveis; os porcos quietos
como as varas negras do chiqueiro; as galinhas e os
perus, extáticos, a contemplar, filosóficos, aquele
mundo novo; o pássaro, preso na gaiola, encolhia-se
que a Poesia às vezes passa num lugar – suave e furtiva – quase como uma brisa. Porém, por alguns instantes, pode-se perceber sua presença. Acho que,
naquela tarde, a Poesia entrou pelo buraco no telhado, iluminou os móveis toscos da sala, assoprou a
em seu terno negro sem vontade de fugir... Não ha-
água amarela da bacia, mirou-se nos cristaizinhos de
via nenhuma cor: o capim, as juremas, os mandaca-
granizo e fugiu... Foi embora antes que a escuridão,
rus, os umbuzeiros e até as flores haviam descolori-
já instalada na cozinha, invadisse a sala; antes que a
do. E o céu cinza-prata – agora imenso – continuava
próximo, redondo, abraçando tudo ao redor. O mundo inteiro era uma fotografia em preto e branco.
menina de cabelos encaracolados, sentada no batente do corredor, pudesse compreender por que queria
guardar – como um tesouro – aquela sensação de
beleza... de mágica. Lembro-me de que fugi pela
penumbra do corredor e quedei-me na sala de visitas, bem perto do lampião. Em meu coração, havia
uma imensa vontade de chorar. Teria a menina descoberto a efemeridade da vida?
Houve um momento em que minhas irmãs
entraram, e fiquei sozinha lá fora. Só eu – uma criança – sozinha naquele imenso mundo ártico... E
escutei as árvores, e escutei o gado, e escutei o vento, e escutei a fonte, e escutei o riacho. Não havia
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Minha infância
Por Luiz Carlos Amorim
Esta noite acordei com a chuva batendo na minha janela. Não fiquei contrariado por ter acordado com o
barulho dos pingos contra o vidro, porque gosto de chuva. Sempre gostei. Gosto de dormir com o tamborilar dos pingos no telhado (morei a maior parte da minha vida em casas, graças a Deus!) ou na janela. Que
eu me lembre, só fico chateado quando chove muito nas épocas da florescência do ipê, do jacatirão, do
flamboaiã, da azaleia e do olho de boneca (um tipo de orquídea comum, em nossa região), pois as flores
caem mais depressa porque ficam pesadas com o excesso de água e porque apodrecem.
E quando a chuva me pega desprevenido no meio da rua, no inverno.
Mas como dizia, choveu esta noite e os pingos na janela fizeram com que me reportasse a minha infância,
já um tanto distante. O tamborilar que agora me traz uma sensação de paz e melancolia, naqueles tempos
de garoto, idos tempos, fazia com que eu e meus irmãos grudássemos nossos narizes nos vidros das janelas
e olhássemos para fora, com uma vontade enorme de sair e brincar, descalços, na água que corria ao lado
da casa e junto da calçada.
Nossa mãe, no entanto, alerta, nos detinha. Mas em ela se descuidando um segundo, lá estávamos nós, fazendo festa debaixo da chuva, jogando água um no outro, estancando-a em pequenos lagos e soltando barquinhos de papel na corredeira, os cabelos escorridos e a roupa encharcada, com aquele ar de felicidade
que só criança tem.
Aqueles dias se foram e eu não corro mais na chuva. Quando me molho ao apanhar chuva, fico aborrecido
por que vou chegar molhado em algum lugar. Não consigo mais ser criança como antes. E gostaria de poder. Porque acho que ainda sou um pouquinho criança dentro deste corpo que vai envelhecendo e ficando
cansado.
Amanhã, quem sabe, talvez eu saia descalço e de peito nu, a cantar pela chuva. Se você encontrar um maluco molhado cantando e dançando na chuva, não se assuste. Pode ser que seja eu.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
LEMBRANÇAS
Por Carla Renata Jorge Neves
Busco agora na memória
Lembranças da minha infância:
Aos seis anos de idade,
Mesmo com toda adversidade,
Posso ver muita alegria
Por ter podido um dia,
Estudar com a tia Estela
Linda, amiga e sincera!
Diferente de outras aulas,
Aguardava ansiosa,
Por saber que neste dia,
Muito mais aprenderia;
Através da geografia,
O mundo conheceria,
Numa viagem maravilhosa!
Ao final desta viagem,
Louvo a Deus por ter um dia,
Me levado à escola,
Onde os meus mestres queridos,
Me ensinavam a toda hora,
Não somente a disciplina,
Mas amor e alegria!
Hoje eu trago na bagagem,
Estas lembranças comigo,
Que me fazem voltar no tempo
Relembrando bons momentos,
Que passei com meus amigos!
Chego agora aos oito anos,
No romper de outra etapa,
Tenho agora a tabuada,
Sem conversa, sem bagunça,
Tia Fauza com firmeza,
Faz o aluno com certeza,
Aprender a matemática!
Tudo isso me levou,
Quando na minha escolha,
A escolher Pedagogia,
Para poder fazer um dia,
Algo pela educação,
Dando contribuição,
À criança, jovem e adulto,
Tornando-os bons cidadãos!
Já na flor da mocidade,
Aos quatorze anos de idade,
Vejo agora a alegria
Na aula de geografia:
Senhor Jorge com seu mapa
Ministrando suas aulas,
Com toda propriedade!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
BALÕES EM SÃO JOÃO
Por Yara Darin
Art de Analice Rodrigues Uchôa
Balões em São João
Balões aos ares
Balões multicores
Que outrora no céu brilhavam, me fascinavam.
Sentia-me em liberdade, sensação de felicidade
Amores de verdade!
Lembro o céu junino todo estrelado
As fogueiras , bandeiras e rojões
Que alegravam o meu coração
Quando em dia de São João !
Tão belos balões já não existem mais
Tão-pouco tenho as alegrias de outrora
E as que ficaram , tão somente
São lembranças saudosas , gostosas
De uma época feliz de criança
Que o tempo não volta jamais...
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Oração de uma criança abandonada
Por Carlos Conrado
Querido Papai do Céu,
Não sei se o senhor tem barba
Mas sei que não é igual a eu!...
Queria estar contigo agora
Pois aí deve ter pão de sobra
E um lugar coberto neste céu,
Para eu me deitar quando estiver cansado,
Nestas nuvens parecidas com algodão.
Senhor por ti junto minhas mãos
E peço sabedoria de gente grande.
Papai do Céu eu quero
Que eu e meus irmãos possamos
Ir à escola e deixar
De pedir esmola para sempre.
Dizem que o senhor
Ama todo mundo, que não rouba e nem mente,
Por isto vou te amar.
Não tenho muito a te oferecer,
Mas mesmo que eu continue nas ruas,
Eu vou te honrar e agradecer
Pois tu és o meu super-herói!...
Senhor se eu me comportar
Talvez eu ganhe mais
Que uma bicicleta, talvez,
Eu ganhe um lar.
Querido Papai do Céu
Abençoa todo mundo.
Dá-me uma mãe para amar,
Um peixinho e um cachorro
E diz a quem precisa escutar
Que o amor não é só namorar.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Por Fabiane Ribeiro
ano seguinte, ela também não veio; nem no próximo...
Anos se passaram sem que ele tivesse notícias de sua amada. Ele já estava velho e cansado,
quando, deitou-se na areia da praia e pediu que o
mar carregasse seus olhos para que ela pudesse encontrá-los. Dona de tudo o que ele já havia visto de
mais belo, ela continuaria a guiá-lo por entre as
mais lindas e inexploradas maravilhas da natureza.
Assim, há um tempo que não se conta, nasceu, junto
ao mar, a saudade e também o primeiro ser humano
que não era mais dono de sua visão”.
Conto 5 – A lenda dos olhos e da
saudade
“Diz um velho pescador que há um tempo
que não se conta, por aquelas bandas, existiu um
jovem rapaz que costumava caminhar a beira-mar
em todo fim de tarde. Ele levava sempre consigo
uma gaita e a tocava, enquanto contemplava a
imensidão das águas e o vazio do horizonte.
O rapaz disse ao sábio que seu coração o
guiara até aquela praia. Então, ele ia para lá, todos
os dias, na esperança de encontrar os motivos.
Até que um dia, do mar ela surgiu. Uma bela
moça. Alguns dizem por aí que era uma sereia. Outros dizem que era um anjo do mar. Mas para aquele rapaz era apenas a dona do seu coração. Uma vez
ao ano, ela surgia e o arrastava até as profundezas.
Então, juntos, eles contemplavam as maiores maravilhas da natureza: o mundo que existe abaixo das
águas do oceano, onde nenhum ser humano jamais
estivera.
Maria Isabel, a coordenadora do grupo, fechou o livro escrito em braile, dizendo:
— Essa é a lenda dos olhos e da saudade.
Ela nos faz imaginar a vida do primeiro deficiente
visual que existiu no mundo. Claro, é só uma história. Como temos observado ao longo de nossa reunião, assim como o rapaz da lenda, nós também vemos o mundo, apenas de forma diferente...
Verdade ou não, em certo canto do mundo,
em uma praia distante de tudo, os viajantes costumavam dizer que podiam ouvir o som de uma gaita
a tocar, sem que ninguém estivesse por lá...
Em todos os outros dias do ano, o rapaz sentava-se junto a um rochedo e tocava sua gaita. Ele
sabia que a moça podia ouvi-lo, de onde estivesse.
Ele apenas gostava de tocar para ela... E, a cada pôr
-do-sol em que ela não vinha, ele derramava uma
lágrima no oceano, que se mesclava por entre as
águas infinitas.
Por décadas, eles encontraram-se apenas
uma vez ao ano. Até que a moça não apareceu. No
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governamental, sem fins lucra"vos, que mantém em seu abrigo hoje mais de 400 animais que são cuidados e alimentados diariamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após
atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso
obje"vo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar
responsável para que eles possam ter uma vida feliz.
doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o
Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando
Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos vi- dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doação,
de qualquer valor por menor que seja, é bem-vinda.
vem nas ruas, passando fome, frio e todos os "pos
de necessidades? Cerca deles 70% acabam em abri- As contas do Clube bem como o des+no de todo o
gos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será ví"- dinheiro estão abertas para quem quiser
ma ainda de atropelamentos, espancamentos e toBRADESCO (banco 237 para DOC)
dos os "po de maus tratos.
Infelizmente, não é possível solucionar este proble- Agência: 0557
ma da noite para o dia. A castração dos animais de CC: 73.760-7
rua é uma solução para diminuir as futuras popula- Titular: Clube dos Vira-Latas
CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou
ções mas não resolve o problema do agora. Sendo
assim, algumas coisas que você pode fazer para ajudar um animal carente hoje:
Banco do Brasil (banco 001 para DOC)
Agência: 6857-8
Adotar um animal de maneira responsável
CC: 1624-1
Voluntariar-se em algum abrigo.
Titular: Clube dos Vira-Latas
Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos. CNPJ: 05.299.525/0001-93
Por que ajudar os animais?
Contribuir financeiramente com ONGs.
(Saiba mais sobre o Clube em h p://frfr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts)
Nunca abandonar seu animal
Como o Clube vive? Somente de doações. Todas as
nossas contas são públicas, assim como extratos
bancários e notas fiscais.
Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de
400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje apenas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Meus animais de infância
Por Renata Iacovino
Desde criança sempre ouvi que gato tem sete
vidas. E uma das histórias que me fez crer nisto,
aconteceu em casa, mas eu apenas ouvi falar, porque era muito pequena, ou talvez, nem nascida.
te era atendido. Vinham de onde estivessem ao ouvir a voz de minha avó.
Bom, com relação à dinastia canina, o primeiro que me lembro é do Sheike, um pequinês. Morreu velhinho. Antes dele tiveram outros. Mas não
me recordo, apenas de ouvir falar e pelas fotografias.
Foto de Renata Iacovino
Soube que meu pai – até então, um não apreciador da raça felina domesticada – atirou pela janela de seu quarto, nosso gato Pelé, a uma altura de
mais ou menos 5 metros. O bichano sobreviveu, como se nada tivesse acontecido. Que bom! Pelo menos não foi daquela vez.
Mas tal antipatia durou pouco.
Lembro-me sempre cercada de gatos, em casa.
E testemunhei muitos deles no colo de meu pai, no
sofá com a gente, enfim, verdadeiros donos e donas
do pedaço.
Manoela veio como verdadeira rainha. Filhos
dela também conviveram conosco, como o Rivelino, o Bado, o Saci...
Mas um vira-lata, em especial, era meu xodó
(e creio, vice-versa). O Brito, que depois virou
Britz, que depois virou... ah, bem, deixa pra lá, eram
tantos os nomes e apelidos que eu dava para um
único gato, que em minha memória estas coisas até
se confundem, hoje em dia.
O Brito, ou Britz, ou... chegava da rua estropiado, sem um pedaço da orelha, muitas vezes, e vinha correndo ao meu encontro. Era um amor só. Todo sujo, com resquícios da farra, parecia saber que
somente eu toleraria aquilo.
E quantas vezes ele desaparecia! Dois, três,
quatro dias! Nós ficávamos preocupados, querendo
saber seu paradeiro. E de repente lá estava ele. Daquele jeito amassado, sujo e cambaleante, mas, claro, sempre com muita energia para recomeçar a farra gatuna. Um vira-lata branco e preto, um autêntico
corinthiano, pois nesta época o Corinthians era uma
de minhas paixões.
Minha avó – que morava conosco – tratava de
todos os gatos e animais de casa, com especial carinho. Preparava “altos banquetes” para os felinos.
Naquela época não existia essa coisa de ração. Ela
ia à feira, comprava sardinhas e fazia um preparo
todo especial para eles. Quando estava na hora do
almoço e os bichanos não se encontravam por perto,
ela tinha um ritual de chamá-los, ao que prontamen-
Depois do Sheike, veio o Snoopy, uma mistura de fox paulistinha com sei lá o quê. Amoroso,
mas sofreu muito, e todos sofremos junto, claro. Ele
teve sinomose.
Então veio o Ringo, este sim, um fox paulistinha. Muito alegre e brincalhão, mas com uma personalidade muito forte. Ele tinha uma característica
interessante: quando ia comer, gostava que o provocassem, até que ficasse bem nervoso e então comia
loucamente, latindo, rosnando e mostrando os dentes. Gostava de tomar água na torneira do quintal.
Bastava abrirmos a torneira e ele estar por perto,
pronto, já vinha dar bocadas nela com uma gana
que, a nós parecia estar se machucando, tamanha a
força que imprimia no gesto. Mas teve vários problemas de saúde. O problema na coluna o fez ficar
curvado, até que não podia mais saltar o tanto que
gostava. Teve uma alergia que lhe tomou o corpo
inteiro, ocasionando falhas na pelagem rala, típica
de sua raça.
Outros animais habitaram nossa casa: dois grandes
jabotis (ou cágados) que viveram muitos anos no
quintal e tinham, dentre suas preferências alimentícias, mamão e banana.
Neste mesmo quintal, dentro de um enorme
aquário construído no chão, em círculo, muitos peixes dividiram aquele espaço, durante muitos anos.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Recordo-me que uma das coisas que mais me divertia era quando íamos limpar o aquário. Que farra!
Mexer com água sempre foi algo que me atraiu, e fazer todo aquele procedimento, abrindo o batoque,
escoando a água, tirando os peixes, limpando tudo, enchendo novamente o aquário (que nada tinha a ver
com os aquários domésticos que conhecemos) e colocando os peixes de volta ao seu habitat, tudo aquilo era
bem divertido e envolvia a todos nós. Acontece que, quase sempre, após a limpeza, algum peixinho morria,
estranhando a água tão limpa.
Este aquário cercava um grande viveiro, onde tínhamos periquitos de várias cores. Eu achava que
aquele era um espaço enorme para as pequenas aves.
Na parte de baixo do quintal, próximo de onde os jabotis ficavam, havia um galinheiro. Não cheguei a
conhecer as galinhas. Apenas ouvi falar, também. Este espaço depois se transformou num orquidário.
Lembro-me da goiabeira, dos limoeiros, das roseiras, da erva-cidreira, da hortelã, do manjericão e dos
inúmeros insetos que ali habitavam.
Recordações da casa da Rangel Pestana, lugar em que vivi boa parte de minha vida.
INFÂNCIA
Por Audelina Macieira
Bonecas ao chão
Carrinhos na estante
meu conjunto de chá
na sala de visita de minha mãe.
Velotrol abusado
eu deixo sempre tudo espalhado
pela casa e não arrumo nada
sou criança.
Mamãe me acuda
Ai! Ai! Ai!
Quero merendar
biscoitos recheados
vou tomar banho com a Lili
minha boneca de pano
a noite vou falar com papai do céu
que quando eu crescer
quero ser bailarina.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Ta escurecendo, a mãe levanta e diz que vai passar
um café fresquinho. Aquele torrado no tacho, pisado no pilão e coado no saco de pano de algodão. Ai
que gostoso.
Pé-de-Moleque
Café quentinho e tapioca com coco!- também bem
cedinho... e o cheirinho da tapioca que a mãe assa e
poe no pau, pra ficar durinha, crocante igual a biscoito.
Por Francy Wagner
Junho. Mês das quadrilhas! Santo Antonio, São Joao e São Pedro!
Bolo de milho, canjica, pé-de-moleque,...
Sabores da minha infância. Sabores do interior do
Ceara, da querida terrinha, onde se pula, dança,
brinca, corre, toma banho de lagoa, de riacho, de
rio, de mar, de chuva...
Pé-de-Moleque, escurinho, dentro da palha da bananeira... daquela touceira que fica logo ali, no rego
de agua que sai da pia da cozinha. Nunca falta água
pra bananeira. E foi justo ali que nasceu aquele pe
de tomate frondoso, que a mãe vai catar um tomate
bem maduro pra temperar a panela do frango...
aquele carijó... almoço do domingo!
Pé-de-Moleque, temperado com erva doce que o
moleque foi correndo comprar na venda do tio Jarbas.
Pé-de-Moleque, enfeitado de castanha de caju, daquelas que o moleque ajudou o pai a juntar debaixo
do cajueiral, assou na palha do coqueiro, o mesmo
coqueiro do qual a mae quebrou o coco para temperar a tapioca de manha bem cedo. Castanha inteira é
pra venda, quebrada ou murcha é pra boca... do moleque.
“Ah! Se se quebrar bem muita!”- sonha o moleque
enquanto vai tirando o miolo da castanha quente e
ficando com os dedos escurecidos, igualzinho ao
seu pe, ali sentado ao lado da mãe e da irmã, debaixo do cajueiro “da cozinha”, onde corre mais vento,
um ventinho fresco da tarde...
Assim o moleque tem forca de correr o dia todo...
vai pra escola de bicicleta e no recreio joga bola
com a molecada, tudo parente e amigo, primo, filho
do padrinho, primo do primo do pai, da mãe, ... uma
família grande...
Pé-de-moleque, gostoso torrado no forno da casa de
farinha... pelo tio Manoel, que faz os melhores da
cidade! Ele também é o melhor pra torrar a farinha,
o melhor forneiro da região. O moleque ajuda o tio
quando ele deixa.... torrar farinha é trabalho de responsabilidade. Tem que saber o ponto certo pra nao
deixar a farinha crua nem queimada. E o moleque
fica ali, aprendendo o ponto certo... quando cansa,
corre e vai brincar de pião ou de bilha com os primos. Farinhada é uma festa.
No final de semana, quando o pai não grita pra fazer
nada, o moleque escapole cedo e vai pra lagoa.
Lagoa cheia.
Inverno bom.
Fartura na porta do terreiro.
Pular da tabua, nadar ate o fundo, dar tainha na
agua. Depois correr e se salgar de areia só para tirar
em seguida noutra tainha.
A mãe chega mais tarde com as meninas e comadres. Ficam mais no raso.
A mãe nem se preocupa com o moleque. Aprendeu
a nadar ainda bebe de colo, ali mesmo nas aguas da
lagoa... assim como a molequinha mais nova, que
agora mesmo aprende a andar e cair sentada na beira d'água, e todos acham muita graça da braveza da
menininha.
Compadre Pedro vai matar um porco no sábado. Já
convidou todo mundo conhecido para a matança...
os homens vão logo de madrugadinha. A comadre
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
só chega mais tarde, para ajudar a prima com o sarrabulho. E a molecada fica no cajueiral do terreno, brincando.
Os pês vai ficar escurinhos, pretinhos... da cor do bolo: Pé-de-moleque!
Da cor nossa de cada dia, pois tira o chinelo para correr e pegar o frango do almoço do domingo. Aquele
carijó, grandão que já tá querendo pegar as galinhas e briga toda hora com o galo... mãe não quer ele de
reprodutor não.
“Vai moleque, pega o frango carijó e bota no grajau!”- grita a mãe do pé da porteira da cozinha.
E la vai o moleque, na carreira, atrás do frango ligeiro, que da cada rabiada, que deixa o moleque ali no pé
da moita. A mãe solta a “Traíra”, a cachorra da casa, pra ajudar. Sem a ajuda da Traíra o moleque não pega o frango hoje não... acaba escapulindo pro mato, aí... adeus!
Traíra segura o frango, mas não fere.
O Carijó vai ficar no grajau até domingo cedinho, pra limpar. Agora a mãe vai botar só milho pra ele comer... e talvez um restinho do farelo...a sobra do balde da comida do porco... que também esta na engorda
pro batizado da pequena... vai ser na festa da santa. A mãe fez uma promessa.
Só a tardinha a mãe grita: “Vai tomar banho menino, limpar esses pês e lavar a chinela! E não vai mais
pro terreiro hoje não!”
Já faz tempo que o pai vendeu umas sacas de castanhas e comprou a televisão com a parabólica. Mas ele
só deixa assistir depois que faz o dever de casa.
O moleque so vai fazer o dever de casa, depois que toma banho a tardinha... quando a mãe grita! Nas sextas ele escapole cedo, pois a mãe vai pro terço na casa da comadre e ele vai brincar de bilha com os primos.
É mais divertido do que ficar ali, sentado na frente da televisão assistindo aquelas novelas. Novelas são
para as mulheres... ele quer ser macho igual ao pai.
Mas ainda esta muito cedo pra tomar uma meiotas na bodega do Chico. Então o jeito é brincar de bilha e
apostar com quem vai dançar quadrinha esse ano. Ele esta pensando na prima, a Marli, filha da tia Janete.
Ela ta ficando danada de bonita. E ele tá deixando de ser... moleque!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Peraltices de menina
Por Lúcia Amélia Brüllhardt
Ela era uma menina muito sapeca que mordia todas as outras
meninas na escola, fazendo amizades somente com os meninos.
Certo dia, esteve precisando de dinheiro, e ninguém
arranjava, então a menina peralta foi à feira do troca – troca, vender seu gatinho de estimação, chamado 'Foen'. Um vizinho a viu
e avisou à família dela. Graças a Deus, ninguém comprou o coitado.
Certa vez, na cidade em que morava, havia chegado a época do
carnaval. Em cidades de interior, costumavam sair os papangus,
homens vestidos de urso. Só que Lúlú ( apelido da menina peralta ) jamais
havia visto um mascarado, nem fantasiado de urso. Estavam andando na feira, quando aparece um cara vestido de diabo e outro de urso. Lúcia estava com mais duas crianças e ambas correram. Um menino se borrou todo e ela desmaiou, chegando a casa quieta, sem acordar ninguém, passando o maior sufoco, pois os
outros dois haviam se perdido na feira.
Em uma outra ocasião, ela foi a uma cidade chamada Capoeiras, em dia de feira ( no interior do Nordeste).
Lá havia uma convenção de partidos políticos. Sua mãe, na época, era escrivã eleitoral e estava presente.
Lúlú vai até ela e pede dinheiro, porém a mãe nada lhe dá. Não esperou mais.
Pegou o pandeiro de uma pessoa com necessidades especiais, (um cego), começou a cantar e tocar no meio
da feira. Pegou as rapaduras de um senhor e saiu vendendo, mas não ficou com o dinheiro, deu o dinheiro
das rapaduras vendidas ao cego.
Aí que saudade dos meus tempos de criança, onde a inocência, humildade e esperança reinavam em meu
coração.
Aí que saudade das peraltices de outrora, que com o passar dos anos ficam somente registrados no livro da
memória.
Aquela menina peralta ainda habita em meu ser, amo muito ela e sempre que tenho oportunidade deixo ela
reviver e fazer suas PERALTICES DE MENINA.
Esta menina peralta hoje se chama Lúcia Amélia Brüllhardt.
VOCÊ SABIA?
A revista VARAL DO BRASIL circula no Brasil do Amazonas ao Rio Grande do Sul...
Também leva seus autores pelos cinco continentes!
Quer divulgação melhor? Venha fazer parte do VARAL! Literário, sem frescuras!
E-mail: [email protected]
Site: www.varaldobrasil.com Blog: www.varaldobrasil.blogspot.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
VARAL ANTOLÓGICO 3
Abriram-se as inscrições para a seleção para o livro VARAL ANTOLÓGICO 3 a ser lançado em
2013.
Os interessados deverão enviar textos (no mínimo um, no máximo 5) num total de quatro páginas A5, letra Times New Roman 12, espaço 1.
Todos os textos serão examinados por uma Comissão Examinadora composta de escritores e
críticos que acompanham e/ou participam do Varal do Brasil.
Os textos selecionados serão comunicados por e-mail a cada autor e farão parte do livro Varal
Antológico 3 mediante participação cooperativa.
O tema será livre e os textos podem ser: contos, crônicas ou poemas (todos os três em todas as
suas variações).
Para o regulamento completo escrever para : [email protected]
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Vale à pena estudar
Por Helena Akiko Kuno
Jennifer era uma garota muito estudiosa, mas nos últimos tempos estava muito distraída. Um dia sua professora Isabel aplicou uma prova de Matemática e enquanto Jennifer respondia as questões, suas amigas
Sofia e Rute não paravam de lhe pedi as respostas.
No dia seguinte a professora entregou a prova corrigida e quando Jennifer pegou a sua, ela não quis acreditar, a nota era 4,5 !!!.
Jennifer ficou tão preocupada que passou mal. Sua mãe Keila foi
correndo buscá-la na escola e a levou ao médico. Como havia
muitas crianças na clinica, Jennifer demorou a ser atendida, tempo suficiente para ela melhorar, o que foi constatado pelo médico. No entanto, o médico alertou que poderia ser um resfriado
que estaria por vir.
À noite em casa, Jennifer contou a sua mãe que havia tirado nota
baixa na prova de Matemática. Ao receber a notícia sua mãe ficou brava, mas resolveu ajudá-la entregando todos os dias 10
páginas de lições até a próxima prova.
No dia da segunda prova de Matemática, Jennifer disse para suas
amigas:
- Não me peçam respostas porque eu não vou dar, pois já foi mal
na outra prova.
Então suas amigas colaboraram e não pediram respostas.
No dia seguinte, a professora novamente entregou a prova corrigida e quando Jennifer recebeu a sua, ela
gritou:
- Jennifer, 10 !!!
Jennifer festejou dentro da sala de aula e todos ficaram felizes.
Jennifer não parava de gritar:
◊
Vale à pena estudar!!!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
mentia que sim.
O Riacho *
Por Ana Rosenrot
Acho que eu devia ter no máximo sete anos;
estava passando o feriado− como sempre fazíamos−, no sítio de meus avós e estava fazendo o
que mais gostava naquele tempo: andar descalça
dentro do riacho.
Sabia que levaria a maior bronca da minha
mãe se fosse pega, pois ela havia me proibido de
fazer aquilo, por considerar a brincadeira boba e
perigosa. Não que eu corresse um sério risco de
me afogar, já que o riacho não tinha mais que um
palmo de profundidade, mas ela temia que eu me
machucasse com alguma coisa cortante ou perfurante, que eventualmente poderia haver na areia
que lhe cobria o fundo.
O problema é que eu não conseguia resistir
à sensação deliciosa de caminhar naquela areia
fria, enquanto o movimento da água −geladíssima−
massageava meus pés, as flores que nasciam na
margem, perfumavam tudo ao redor, era tanta cor
e tanta luz, que minha imaginação corria solta, criando milhões de aventuras.
Naquele dia em especial, o lugar estava lindo, havia chovido à semana toda e agora o sol brilhava novamente, criando reflexos coloridos no fundo do riacho; eu queria aproveitar cada segundo,
antes que alguém sentisse minha falta ou que minhas primas mais velhas −e muito chatas− chegassem, tomando conta de tudo e querendo dar ordens; o que sempre acabava com as minhas brincadeiras. Então andei para o lado mais afastado,
onde as árvores ocultavam a visão do riacho e
afundei os pés na areia com vontade; foi quando
senti uma dor repentina, um cutucão na sola do pé
direito e percebi imediatamente que estava ferida;
fui pulando num pé só e sentei-me na margem, para poder ver o que tinha realmente acontecido, fiquei em pânico quando vi o que era: um caco de
vidro estava fincado dentro da carne do pé e eu
não conseguia puxá-lo para fora, nem podia ter
noção do seu tamanho, pois somente uma pontinha estava visível.
Mesmo sem ter nenhum sangue saindo, fiquei morrendo de medo e quis gritar por ajuda,
mas como queria a todo custo evitar um castigo
pela desobediência, fiquei quieta apesar da dor;
saí do riacho, andando o melhor que pude, calcei
minhas sandálias, fui para dentro da casa dos
meus avós e passei o restante do dia sentada, assistindo televisão; o que fez com que todos estranhassem, pois quando eu ia ao sítio, não parava
quieta nem por um minuto e naquele dia até as
provocações das minhas primas – como elas eram
chatas−, eu aguentei calada; várias vezes me perguntaram se eu estava bem e forçosamente eu
À noite, na hora de dormir, quase não consegui
chegar até a cama, à dor era tanta, meu coração
dava a impressão de estar batendo no meu pé,
que estava cada vez mais inchado; eu sabia que
precisava fazer alguma coisa, mas continuava relutante em pedir ajuda; foi quando ouvi a porta do
quarto abrir-se suavemente e vi minha avó aproximar-se segurando sua enorme caixa de primeiros
socorros −minha velha conhecida−, sentar-se na
beirada da cama, segurar meu pé delicadamente,
examinar o local, pegar uma pinça grande na caixa, arrancar o caco de vidro num único puxão, limpar o sangue, aplicar mercúrio-cromo –o que doeu
mais− e colocar um pequeno curativo; livrando-me
finalmente daquele tormento. Fiquei ainda mais
feliz por saber que não sofri sozinha, pois minha
avó e eterna cúmplice me observara o dia todo e
esperou a hora certa para salvar-me, como sempre.
A autora com um ano de idade
Depois ela levantou-se, deu-me um beijo na
testa e me fez prometer nunca mais fazer aquilo
novamente; isso se tornou mais um de nossos muitos segredos. E claro, eu cumpri a promessa com
prazer, pelo menos até o feriado seguinte.
Como sinto saudades desta época especial;
hoje, após tantos anos, não existem mais meus
avós, nem o amor verdadeiro, ou aquela cumplicidade desinteressada, que deixamos de encontrar
quando nos tornamos adultos; o riacho secou e a
realidade muitas vezes assusta; mas minha infância
viverá para sempre, escondida bem no fundo da minha alma, que jamais deixará de ser criança.
*Para meus saudosos avós S.O. e M.I.O.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
mão, conduzia com perfeição as parelhas de
bois e sabia o nome de todos.
CARRO DE BOI
Por Vó Fia
Durante o ano todo Cidinha estudava no
Grupo Escolar Quincas Tenório, o único existente na cidade de São João da Serra; ela frequentava as aulas do turno da manhã, voltava
para casa e depois do almoço brincava um
pouco na rua com as crianças vizinhas, em seguida ia ajudar sua mãe no trabalho diário de
fazer doces, sequilhos, roscas e bolos de encomenda para as festas do lugar, dona Isaltina
era a melhor doceira da região.
Ajudando sua mãe a pequena Cidinha
ajuntava o útil ao agradável, útil porque estava
aprendendo uma profissão e agradável porque
ela gostava de ajudar dona Isaltina no preparo
dos doces; estudando e trabalhando, a menina
esperava ansiosa pelas férias de fim de ano,
época em que ia para a Fazenda Casa Verde
de propriedade de seu tio Lucio, lá ela se divertia muito, mas o que mais gostava era do
carro de bois.
Aquele carro enorme puxado por três juntas de bois era o sonho de Cidinha, ela passava o ano todo esperando a hora de ser levada
por ele até a fazenda e criando coragem para
fazer um pedido inusitado ao severo tio, mas
os dias passavam, as férias terminavam e o
misterioso pedido não era feito, mas naquele
ano ela se chegou ao tio e disse: tio Lucio me
deixa conduzir os bois do carro? Ele tomou um
susto e disse: onde já se viu?
Quando seu tio descobriu ficou zangado
e disse: vamos ver se você aprendeu mesmo,
carregou o carro com sacas de milho e mandou que ela guiasse os bois até o pátio da fazenda, ela fez tudo certo e o tio achou muita
graça no final; para alegria de Cidinha ele permitiu que ela conduzisse o carro carregado até
a cidade e foi um divertimento para a comunidade a passagem de um carro de bois, conduzido por uma menina.
Cidinha estava no céu, usando a vara de
ferrão com sabedoria ela enfileirava os bois, de
vez em quando tirava o chapéu de palha que
usava e cumprimentava o alegre publico, seu
tio todo orgulhoso seguia atrás do carro e se
aproveitava do sucesso da sobrinha, distribuindo sorrisos para todos; chamando os bois
pelos nomes ela os enfileirava e seguiam em
perfeita ordem e o carro pesado cantava com
os eixos untados de óleo.
De repente apareceu dona Isaltina muito
zangada, tomou a vara de ferrão da filha, dizendo: era só o que faltava, uma filha carreando como um moleque, mocinhas de família não
trabalham como carreiro ou carreira, sei lá como dizer; lugar de menina é na escola estudando ou na cozinha aprendendo arte culinária
para ganhar a vida e no futuro agradar ao marido; virou-se para o irmão e disse: Cidinha
não volta mais em sua fazenda Lucio e nunca
vou te perdoar, ai terminou o sonho da menina.
Com a insistência da sobrinha ele explicou:
meninas não conduzem bois de carro, esse é
um serviço reservado aos homens, por isso se
diz que o condutor se chama carreiro e o menino que vai à frente se chama candieiro, tudo
no masculino, entendeu Cidinha? Entender ela
entendeu, mas desistir não desistiu, porque ela
sempre sonhara em conduzir um carro de bois;
o carreiro era o Francelino e o candieiro era o
Tinim.
Os dois eram amigos da menina e durante a lida carreando coisas variadas, deixavam
que ela viajasse de carona em cima da carga e
varias vezes foram advertidos pelo patrão, que
não achava próprio de mocinhas aquela mania; pela amizade Francelino resolveu ensinar
os mistérios da condução dos bois a Cidinha
e em pouco tempo ela com um chucho na
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
PARTICIPAÇÃO NO VARAL
•
E em novembro, aniversário do Varal! A revista
Varal do Brasil completará 3 anos e conta com
você para festejar! O tema será livre e você pode se inscrever até 10 de outubro (as inscrições
podem ser encerradas antes, dependendo do
número de participantes).
•
E para janeiro de 2013 vamos falar da natureza,
do planeta, dos animais, da vida: em janeiro
nosso tema será o Planeta Terra, porque falar
de nosso planeta nunca será demais! Textos
até dez de dezembro.
Você pode escrever na forma que desejar: verso ou
prosa! Haicai? Trova? Poema? Crônica? Conto? Miniconto? Soneto? Que outras mais você faz? Mostre
pra gente!
Traga sua poesia, sua visão da vida, seus sonhos,
para o VARAL!
Venha conosco!
Varal do Brasil: Literário, sem frescuras!
FAÇA SUA ESTA CAUSA!
ADOTAR É ANIMAL
AJUDANIMAL, GRUPO DE AJUDA E AMPARO
AOS ANIMAIS DO ABC
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa infância
Por Karine Alves Ribeiro
Nossa infância é nosso começo, começamos grandes ou começamos pequenos.
Às vezes nos ferem tantas regras, que parecem inúteis e quando crescemos, são a nossa salvação.
Nossa infância serena, alegre, intensa, livre com horário para voltar para casa, ou desligar a TV. Tudo
isso é saudável...
Nossa infância agredida, pisada, humilhada, violentada, trucidada, esquecida, esta é podridão...
Sim, apodrece-se o fruto antes mesmo de cair no chão...
Colhe-se o limo, se não há aderência
entre pais e filhos, irmãos e irmãs.
O Amor é criança
de olhos vivos, alegres, tranquilos.
Criança é luz
acesa, praiana, colorida.
Luz é Deus, é vida,
é criança que renasce cheia de amor.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
BRIGADEIRO
Ingredientes
1 colher(es) (sopa) de manteiga
2 lata(s) de leite condensado
1 xícara(s) (chá) de chocolate granulado
4 colher(es) (sopa) de chocolate em pó
Modo de preparo
Numa panela junte o leite condensado, a manteiga e o chocolate em pó. Misture
bem até incorporar tudo. Leve ao fogo brando mexendo sempre. Utilize panela de
fundo grosso. Quando a massa começar a se desprender do fundo da panela (o tempo varia de acordo com a panela) passe a massa para um prato untado com manteiga e deixe esfriar.
Unte as mãos com manteiga e enrole os brigadeiros, passando-os no granulado.
Coloque em forminhas de papel.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Você não aprendeu isso na escola?
PÉROLAS AOS PORCOS
-Aquele negócio doido de falar uma coisa querendo dizer outra né? Mas vô você não respondeu minha pergunta: deu ou não pérolas pros seus
porcos?
A louca percebe-se tão vivida,
Lamenta a falta de força e reclama
Já não aguenta o peso pra empurrar na subida,
Nem segurar a carga, pra na descida
Evitar que escorregue e caia na lama!
Por Lariel Frota
-O dia hoje será bem divertido hein? Acho da
hora vocês se juntarem pra uma boa comilança. Igual
no nosso condomínio, não precisa de
muito motivo pra uma churrascada.
-No nosso caso o motivo principal é um trabalho importante, depois a gente aproveita para
colocar a conversa em dia, e saborear as coisas boas que as mulheres preparam no fogão a lenha!
-Já sei vão
Roberto né?
vacinar os porquinhos do tio
-Oito leitoas deram cria, e ele está com uma
porção de leitõezinhos pra vacinar, vamos dar uma
força. Daí a gente fica sabendo das novidades, as
mulheres trocam receitas e a criançada brinca, naquela correria danada de um lado pro outro.
-Todo mundo se dá bem no final né? Vô você
já alimentou porcos?
-Claro Guto, muitas vezes. Hoje já não crio
porcos, mas não é pra me gabar não, a minha criação era conhecida como a mais bem cuidada da região.
-Então você já deu pérolas pros seus porcos
comerem?
-Pérolas aos porcos?
-Sim vô.. Escutei a mamãe falando pro papai
que não adiantava ele falar daquele jeito com porteiro do prédio, que é o mesmo que dar pérolas pros porcos.
-Ah, isso é um ditado popular, uma metáfora.
-Você não acabou de dizer que sabe o que é um
ditado popular, uma metáfora? Então “dar pérolas
aos porcos” quer dizer que não adianta dar pra uma
pessoa, alguma coisa da qual ela não precisa, ou
que não conhece o valor. Os porcos são bastante
gulosos, comem de tudo que encontram, por isso
engordam tão rápido. Pérolas são joias que agradam muito as mulheres, os porcos até podem engolir, mas isso não vai fazer diferença nenhuma.
Elas serão eliminadas junto com as fezes e vão se
misturar naquela lama toda.
-Eca!!! Que nojo!! .....Vô, se as pérolas são
joias que podem até entrar na barriga do porco,
fazem uma viagem grande lá dentro e depois saem
junto com o coco inteirinhas, elas continuam sendo
valiosas, ou se transformam em coco também?
-É disso que to falando. Como elas não se
transformam em alimento, são eliminadas exatamente como foram engolidas, ou seja, se eram pérolas verdadeiras, continuam tendo o valor que as
pérolas verdadeira têm!
-Só que muuuuuuitas sujas e fedorentas né?
-Mas o valor delas não mudou concorda? É só
lavar bem direitinho e pronto.
-Hum...entendi....mas se ninguém nunca achar
as pérolas que os porcos por acaso engoliram, e depois cag…ops, desculpe ai, eliminaram no meio
daquela sujeira toda do chiqueiro….
-Elas continuarão sendo pérolas valiosas, escondidas, camufladas, enterradas, mas ainda assim serão para sempre, pérolas valiosas.
-Vô, nossa que vento forte!.
Levantou um
montão de folha seca, viu que legal, aquela ali parece uma pipa voando bem alto, ufa!!!
Está tudo
voando iiuuuuuuuuuuuuu!!!!
-É mesmo tempo de bater essas ventanias. Fecha os olhos até o vento passar. Tem muito cisco
voando, se um deles entra no olho arde que é uma
barbaridade.
-Ainda bem que passou rápido! Olha vô fez até
nuvem de pó bem fininho, será que essa poeira toda
pode chegar lá no meio daquelas nuvens branquinhas???
-Isso é difícil de saber você não acha?
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
-Seria bem legal heim? Já pensou, um punhado de terra fininha subir, subir bem alto e chegar nas estrelas?
-Mesmo chegando lá,
continuaria sendo apenas uma nuvem de pó, não virariam estrelas.
-Igual as pérolas no meio do coco dos porcos né?
-Como assim?
-Ora vô preste atenção: se a pérola continua sendo pérola, não perde seu valor mesmo enterrada na sujeira, o pó de terra não ganha valor, nem brilho, mesmo que chegue bem alto!!! Sabe mais o que acabei
de descobrir?
-Não, mas estou bem curioso pra saber.
-Acho que a mamãe falou errado sobre o tal ditado popular.Se as palavras que meu pai falou pro porteiro eram tão valiosas como as pérolas, ficarão enterradas bem no fundão da cabeça dele, escondidinhas por muito tempo. Quem sabe um dia fuçando a caixa de pensamentos ele não desenterra e finalmente entende o valor delas né????
RECEITA DE BALA DE GOMA (JUJUBAS)
Ingredientes:
1 colher (sobremesa) de essência do mesmo sabor da gelatina
3 envelopes de gelatina sem sabor (35 gramas)
2 copos de água
1 caixa de gelatina com sabor (85 gramas)
1 kg de açúcar cristal
Modo de Fazer:
Dissolva a gelatina sem sabor em 2 copos de água, adicione a gelatina com sabor e mexa até dissolver. Leve ao fogo por 1 min., não esquecendo de sempre estar mexendo. Após, adicione o
açúcar e mexa para dissolver bem. Coloque a essência e mexa até ferver.
Despeje a calda em um prato untado com óleo. Deixe descansar por 24 horas fora da geladeira.
Corte as balas em cubinhos e passe no açúcar cristal. Guarde as balas por 3 dias antes de consumir, esse período é necessário para que a bala adquira mais consistência.
Fonte: h p://www.mundodasdicas.net/
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
poucos foi perdendo a lucidez, variando, o que fi-
Minha Avó Passarinho
nalmente me fez entender a poesia que há nas avós.
Seu enterro foi uma ocasião de reencontros. A famí-
Por Marcelo Benini
lia reunida e os tantos conhecidos formavam uma
pequena multidão exultante na dor e na alegria. Do
O que há de mais remoto no mundo são as avós.
lado de dentro da sala onde se dava o velório, havia
Antes delas, pairam apenas sombra, bruma e esque-
contrição, choro e corações cheios de saudade. Do
cimento. Quando estiveres dirigindo à noite, em
lado de fora, abraços, casos relembrados e até al-
alguma estrada vicinal a caminho de casa, e se, por
guns risos ousados demais para a ocasião. Tenho
meio minuto, apagares completamente os faróis do
certeza que naquele dia minha avó soube compreen-
carro, entrarás em contato com teus antepassados
der as contradições humanas.
que espreitam para tomar posse de ti. Se vires um
Somente quando fecharam o caixão é que nos de-
cavalo baio atravessando a estrada, sabereis que é
mos conta de que a perderíamos para sempre. Que
uma sombra vinda do mundo que antecede as avós.
nunca mais tomaríamos café com bolo na mesa de
As avós são como um Tratado de Tordesilhas entre
sua cozinha. Que nunca mais seus filhos se reuniri-
vivos e mortos: à esquerda delas é melhor não pores
am na varanda para contar as histórias da infância.
os pés para não imolar o descanso dos esquecidos.
O cortejo subiu em silêncio as ruelas íngremes do
As avós, entretanto, tornam o mundo tangível. De-
cemitério de Cataguases. Passamos pela sepultura
pois delas é que começa a grande aventura de ser
onde meu avô descansava e, alguns metros além,
menino.
paramos para o definitivo adeus. Vi o choro nos
Tinha um pouco de medo de minha avó e repugna-
olhos de alguns tios e a perplexidade nos olhos de
vam-me a pele encarquilhada, a voz rascante e a
alguns primos que, como eu, eram enfim apresenta-
tosse provocada pelo excesso de cigarros. Criança
dos à morte.
tem, entre tantas maldades, essa de não compreen-
Quando o caixão desceu, houve grande tristeza.
der e amar os velhos. Mas um dia eles se vão e aí
Eram os últimos instantes do dia e o sol já se ia por
começam os arrependimentos. Eu me senti culpado
de trás do morro. Em frente à cova havia um peque-
por desejar que ela não aparecesse nunca enquanto
no arbusto iluminado pelos raios do fim da tarde.
eu me regalava em sua cadeira de balanço. Também
Inesperadamente, um passarinho pousou no arbusto,
me arrependi de tantas vezes ter jogado futebol per-
virou o pescocinho e cantou com tanta doçura que
to dos seus vasos de gerânio. Sei que ela nunca me
comoveu a todos. Cantou breve e voou como fazem
perdoou por isso e pelas marcas de bola deixadas
sempre os passarinhos. Percebi então que minha
nos muros brancos da casa, que, confesso, me de-
avó havia partido.
ram enorme prazer.
Minha avó morreu de enfisema pulmonar. Antes,
porém, definhou vários anos sobre a cama. Aos
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
HISTÓRIA DE UM AMOR E UM NOME
Por Norália de Mello Castro
Nossa Infância é o tema proposto para o Varal
do Brasil de setembro 2012. Tema difícil para
mim, que posso dividir em duas histórias distintas:
1ª. Filha de um espírita convicto que brigou com
seu irmão cônego católico, o inventor do nome
Norália, por ter roubado sua filha para batizar,
(História escrita para o grupo Love Quilts, para ex-
sem autorização dos pais, o que resultou num
plicar o significado do nome.)
romance escrito pelo pai, de uma briga ferrenha
entre os irmãos, através de inúmeras cartas esHoje vou contar uma história de amor em
critas, com filosofias diferentes. Norália só voltou a ver o tio padrinho aos 8 anos de idade. Esta
tópicos, para melhor compreensão, e, também, con-
briga aguçou na menina e na jovem toda uma
trolar a emoção intensa dessa história em mim.
procura da VERDADE, que até hoje procura
mais e mais. Tornou-se a eclética que é, nem ca-
SÉCULO XX:
tólica, nem espírita.
DÉCADA DE VINTE
Do pai ficou marcado o seu conceito de LiberdaNo final da década de 20, a família estava
de, principalmente a religiosa. Ele pregava que
religião é de fórum íntimo de cada ser humano, e
que cada um escolhe a Verdade que melhor lhe
encantada por conhecer a bela esposa de um de seus
rapazes: jovem, bonita, simpática, muito comunicativa, essa jovem conquistou totalmente a família do
responder.
marido. E sua primeira viagem ao Sul de Minas foi
total sucesso.
2º. A outra história marcante de sua infância, foi
a de seu próprio nome, escrita para o Love Quilts, grupo de bordadeiras ao qual pertence, e que
Quando souberam que a bela jovem tinha
uma irmã, começaram a brincar em casar a irmã
com mais outro rapaz da família.
hoje apresenta aqui.
Um dos rapazes gostava de brincar com junção de nomes e fazer monogramas. Por sinal, ele
desenhava monogramas belíssimos! Um dia, entrou
cozinha adentro, eufórico, gritando:
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
A bela jovem Francelina era minha tia;
DÉCADA DE 50
Magnólia, minha mãe; Noraldino, meu pai. O esposo de minha tia era primo de meu pai.
Norália, jovem muito ruiva e muito branca,
Quando “fizeram” o casamento de meu pai,
meio tímida, mas alegre, tem um choque grande
lá no Sul de Minas, ele era ainda um jovem adoles-
com o nome que recebera. Este nome e a sua ima-
cente e minha mãe uma garota de seus 12 anos de
gem jovem muito ruiva, faziam-na ser vista como
idade, morando em Capela Nova, hoje Betim, parte
estrangeira, uma gringa legítima dos países do Nor-
da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
te, com um nome diferenciado. Era comum lhe per-
E a brincadeira parou por aí... Mas, hoje,
pensando nesse episódio, imagino que tais nomes
guntarem de que país era. Ela levava na brincadeira
e respondia:
tenham mexido na sensibilidade do adolescente en-
- Sou uma gringa legítima!
volvido, até mesmo inspirado – e muito! – suas fanEra comum
tasias amorosas.
também
lhe perguntarem
“Como?”, ao dizer ao interessado como se chamava.
DÉCADA DE TRINTA
Ao telefone, então, era um desastre: e lá vinha o “Como?”
Por isso, na maioria das vezes, ela respon-
Noraldino, meu pai, um lindo jovem, vem
para a Capital, para continuar seus estudos e fazer
dia:
faculdade. Vai à casa do Primo, da Francelina, e lá
- Nora, apenas Nora.
conhece a “famosa” irmã, Magnólia, uma linda joE o assunto morria por ai. Porém, Norália
vem loira de olhos azuis, no auge de seus 17 aninhos. Meu pai, ainda estudante de Direito, trabalhando como bancário, perdidamente apaixonado,
gostava muito de ter o nome Norália: de tão fácil
grafia, mas de pronúncia que confundia.
Norália veio a ter uma grande decepção
começa a namorar Magnólia e se casam um ano
mesmo quando aquele lindo jovem moreno que na-
depois.
Esperando seu primeiro filho, Noraldino
conta para Magnólia a invenção do nome da filha
morava, por quem era apaixonada, chegou a ela um
dia e disse:
- Encontrei o seu nome no livro O Egípcio.
que ele gostaria de ter e ambos sonham com a vinda
da Norália. Magnólia, até então, não sabia dessa
Ele está lá inteirinho.
história. Mas, quem chegou... foi um menino! Não
se decepcionaram com a chegada do menino, pois
- É mesmo? – respondeu ela – Vou procurar, vou ler o livro.
planejaram logo ter outro filho, para vir a menina.
E Norália chegou no segundo parto de Magnólia,
que acabou tendo 6 filhos ao todo.
E o apaixonado sorriu. Ele lhe chamava de
Lia, abreviatura de seu nome que é “nora” mais
“lia”. Era Lia pra cá e pra lá, nos passeios, nos
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
nos bailes, nos cinemas... e como Norália era apai-
deixava as coisas acontecerem e pronto.
xonada! Adquiriu imediatamente o livro e – sôfrega
– devorou suas mais de 500 páginas. Entretanto, a
personagem com o seu nome não aparecia! Quase
no final do livro, de repente, Norália parou, sua respiração sumiu, ela ficou em estado de choque.
- Então é isso?! Não sou personagem?! Sou
um mundo de estrume?
Noraldino adorava contar essa história do
nome da filha: ele amara Magnólia antes mesmo de
Trêmula, fria, respiração desenfreada, ela
sentiu o ódio entrando dentro dela, com uma força
conhecê-la; dizia que tinha de casar-se com ela para
que Norália existisse.
extraordinária, da raiva à mais profunda indigna-
- Mas, gente, – dizia Noraldino, soltando
ção. Ela, pela primeira vez, não foi ao encontro do
gargalhadas – o nome da filha já existia, mas ela
jovem moreno: odiava-o ao extremo. No livro, nu-
nasceu 4 anos depois que casei com a minha Mag-
ma passagem, um personagem “ficara atolado até
nólia! – e gargalhava – Sim, 4 anos depois! A mi-
as lias”, num bom Português quer dizer: “ficara ato-
nha Magnólia era pura! – e gargalhava.
lado até as fezes”.
Ele adorava contar sua história, seu amor
E Norália mandou o jovem moreno à merda.
por sua esposa e o nascimento precoce de Norália.
Terminou aí essa história de amor juvenil.
Noraldino é nome de origem árabe; e Magnólia, de origem romana. O nome de origem romana na família é compreensível, pois temos ascendência italiana; contudo, o nome de origem árabe,
DÉCADA DE 60
nunca entendi, pois não temos nenhum ancestral
árabe. Ou será que temos e não sei? O nome de
Desde o episódio do livro, Norália começou
meu pai veio por causa de um famoso da família,
a pesquisar e observar seu nome tão diferente. Não
que foi senador e governador interino de Minas, na
conheceu ninguém com o mesmo nome; nem em
década de 40, mas que, acima de tudo, foi um gran-
listas do Tribunal Eleitoral, encontrou alguma No-
de educador, que fez as bases do Ensino que temos
rália.
hoje. Noraldino tinha muito orgulho de seu nome
As
pessoas
continuavam
a
perguntar
“COMO?” quando ouviam o seu nome. Amigos
igual ao do primo famoso. Tinha orgulho mesmo.
tinham mania de pôr apelidos nela: Lia, Nora,
Norô, Nono, Lalaia, Nô; e assim foi que chegou a
contabilizar 21 apelidos! Porém, constatou também
Mas, ao seu nome, o mais próximo que Norália encontrou, foi numa revista argentina lançada
nessa década em Buenos Aires: Norali, revista fe-
que os apelidos não colavam. Normalmente quem o
minina. Penso que o pai Noraldino queria que a
punha é que a chamava assim. Teve até gente que
filha ficasse famosa, assim como o primo famoso:
achou que seu nome fosse pseudônimo. Norália
que fardo ela carregava!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
tra como substantivo comum (não entendeu muito o
DÉCADA DE 90
quê isso quer dizer e nem se interessou; (pensou:
“Talvez fosse igual às lias...”) e uma escritora na
Turquia, que parece ser cristã. Ainda irá fazer mais
pesquisa, principalmente da Norália Turca...
Finalmente, Norália encontrou uma outra
Fato é que este inesperado e único encontro
Norália, dentista, no interior de Minas. Ao saber
com outras Norálias fez levantar esta história: uma
dessa, identificou rapidamente a mãe dela, que co-
história de amor único de meus pais, que viveram
nhecera quando ainda criança e – por coincidência
54 anos juntos até a morte dele. Foram felizes, vivi-
– casou-se com outro Noraldino. Essa mãe conhe-
am em harmonia; nunca vi meus pais brigarem,
cia a história do nome Norália e com o esposo cha-
nunca brigavam na frente dos filhos. Meu pai foi
mado Noraldino foi fácil para ela dar este nome
um eterno apaixonado por Magnólia, totalmente
para a segunda filha. Já o nome Norália, não mais
dedicado à esposa e filhos; a família vinha sempre
pesava a ela: a vida correu, outros amores vieram e
em primeiro lugar para qualquer tomada de decisão
ela passou a achar tudo natural com o seu nome.
sua. E Magnólia foi uma companheira e tanto, total-
Na Internet, encontrou outras Norálias, no-
mente vivendo para a família e meu pai.
me usado, embora não comum, em países latinos e
na América Central; encontrou uma menininha em
Samoa e uma empresa na Noruega. Mas, Norália
continuava quase que única: em nenhum grupo social em que esteve, encontrou igual.
E, eu, Norália, filha de Noraldino e Magnólia, ao escrever tudo isto, percebo, mais uma vez,
como fui amada por meus pais: deram-me um lindo
e diferente nome para marcarem – e muito! – sua
história de amor, que começou antes deles se conhecerem.
SÉCULO XXI
Ano de 2009
Ao fazer o FLICKR na Internet, Norália
queria que saísse o seu nome: flickr Norália e, pela
primeira vez, viu seu nome ser rejeitado, porque já
existia outro flicker Norália. Pela primeira vez, encontrou uma barreira por existir outra Norália. Sentiu alegria e curiosidade; esta última levou-a a pesquisar.
Encontrou três Norálias: uma argentina, ouwww.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
sempre soube dividir o pouco que meu pai conseguia trazer para dentro de casa. E, assim, a gente
vivia, viveu e sobreviveu a todas as intempéries,
mesmo as mais difíceis.
Confiança no meu pai
Por: Valdeck Almeida de Jesus
Meu pai era analfabeto e por isso trabalhava na roça, derrubando madeira, carregando peso e servindo
de burro de carga para fazendeiros. A lembrança
que tenho dele era toda tarde chegando do trabalho,
cansado, com uma roupa surrada e suja de terra. Eu
e minha irmã Valquíria ficávamos sentados na porta
esperando por ele, o Velho João, como chamávamos o nosso saudoso pai.
De longe avistávamos e corríamos para encontrá-lo
antes mesmo de ele chegar em casa. Nos bolsos ele
sempre trazia balas, compradas na venda de "Seu
Júlio", que ficava no caminho para casa. Era uma
festa. Eu e minha irmã ficávamos muito alegres
com aquele presente de todos os dias.
Uma vez eu fiz alguma travessura da qual não me
recordo e meu pai puxou o cinto para me dar uma
surra. Eu estava na porta da frente, que tinha uma
escada de dois degraus para descer. De tanto medo
de apanhar eu me joguei escada abaixo, caí e ralei
toda a barriga, que ficou sangrando. Meu pai disse
"vem, que eu não vou te bater mais". Confiei no que
ele disse e fui até ele, que me pegou e fez carinhos.
Esta foi a lição que aprendi, a confiar no meu pai.
Quando ele dizia uma coisa, ele cumpria.
Nossa vida foi muito dura, difícil, de falta de comida e de tudo. Mas aprendemos que a vitória não
vem fácil, sem uma luta, sem um planejamento.
Meu pai era um lutador e esta garra a gente aprendeu logo cedo. Em tempo de chuva, nossa casa alugada se enchia de água e éramos obrigados a correr
para nos abrigar na casa de vizinhos.
A solidariedade entre pessoas que necessitam até do
básico para sobreviver sempre é mais forte. Mas
aprendemos que não é somente nos momentos difíceis que devemos ser companheiros e solidários. No
dia a dia, até nas horas alegres, devemos estar juntos, somando, compartilhando, dividindo, oportunizando a cada irmão ou amigo a vencer, ser vitorioso.
Viver em comunidade exige dedicação e planejamento, sempre. Assim, cada um somando o pouco
que tem, vai construindo, tecendo uma sociedade
mais justa e mais igualitária, menos preconceituosa
e menos segregadora. A união eu aprendi dentro de
casa, quando a pouca comida era dividida por todos,
para que nenhum ficasse com fome... Minha mãe
A união nos manteve um grupo coeso, marchando
junto, com o mesmo objetivo: sobreviver junto. Hoje, cada um a seu modo, tenta levar adiante as lições
daqueles tempos difíceis e quase insuportáveis. Atualmente eu patrocino pessoas que passam por situações semelhantes as que passei, e incentivo seres
humanos a se tornarem melhores, a se estabelecerem no mundo, graças ao incentivo à leitura e à escrita.
Muitas vezes, apoio de outras formas, que não vem
ao caso relatar aqui. Mas a vida é isso, uma corrente
em que cada um tem uma importância e um valor.
Se um fraqueja, o dever dos demais é se unir àquele
menos resistente para que ele prossiga e faça a corrente não se quebrar... Afinal, se um se perde o restante pode sucumbir junto. Então, não resta alternativa senão ser um corpo só, junto com todos os outros corpos... e seguir, sempre, num único objetivo,
qual seja o do bem comum.
Em tempos de egoísmo e falta de solidariedade, parece utópico se pensar em coletividade. Mas não
posso deixar o sonho dos meus pais se diluírem na
falta de crença das pessoas, nem posso desanimar
diante de mentiras e falsidades. Meu objetivo na
vida é muito maior do que curtir momentos e ter
prazer fugaz. Penso para a eternidade e planejo minha vida pensando num horizonte cada vez mais
real. O horizonte da vida eterna, do amor e da paz.
MEU PAI
Meu pai, João Alexandre de Jesus, era um trabalhador braçal. Pouco eu sei dele, somente que nasceu
em Santo Antônio de Jesus, cidade localizada no
recôncavo baiano. Dali ele partiu para Jequié, conhecida como Cidade Sol, onde conheceu minha
mãe Paula Almeida de Jesus e se casou. Antes, porém, ele já tinha esposado outra mulher, com a qual
teve seis filhos.
Um homem firme, rude, mas ao mesmo tempo humano e carinhoso. Muitas saudades do meu velho...
O que me consola é que as lições que ele me passou
jamais serão esquecidas. Ele foi um exemplo de honestidade, perseverança e persistência. Apesar de
não ter condições de estudar, incentivou quando eu
fui para a escola. O sonho dele e de minha mãe,
Paula Almeida de Jesus, também falecida, era que
os filhos trilhassem um caminho menos árduo na
vida.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
E, graças ao esforço deles, todos os oito filhos conseguiram se dar bem e conquistar um lugar ao sol.
Hoje eu moro em Salvador, minha irmã Ivonete mora em Santo Amaro da Purificação, Valquíria e Vivaldo
moram em Jequié, Valdecy mora em Vitória da Conquista e Valdir, Valmir e Vitório moram em São Paulo.
Todos bem de vida, graças aos estudos. É uma vitória que poucas famílias alcançam. Mas, graças a Deus,
nossa família se orgulha de sua origem e não esquece o passado, exemplo para nosso futuro e de nossos
filhos. Assim, trilhando o caminho indicado pelos meus pais, sigo em frente e incentivo a tantos quantos eu
encontro pela vida a estudar e a lutar por seus sonhos.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Infância
Por Sarah Venturim Lasso
Infância tem cheiro
De terra molhada
Pé de moleque
Pipoca quentinha
Feita pela vovó
Infância tem gosto
De brigadeiro de panela
De chuva
Bolinho de chuva
Em dia cinza
Correndo frenético
Com pé no chão
Infância tem cor
Que chega a pintar a língua
Com pirulito azul
Tem cor de fruta
Colhida de cima da árvore
Ouvindo mamãe mandar descer!
Infância tem tempo
De correr
Dormir
E fazer o dever
Tem tempo de acabar...
Poxa!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
quilamente! Achava ali mais seguro e em paz.
O PÉ DE GOIABA
Por Fani
Naquela época vivíamos muito bem, papai tinha seu
emprego renumerado e bom, casado com uma esposa dedicada, trabalhadeira, bastante esforçada que
essa pessoa que estou falando é minha senhora mãe
que sempre na lida estava ali a lavar roupas para
hotéis e ainda cuidava de sua pensão que na lógica
comiam mais de vinte pessoas por almoço e no jantar.
Minha vida era cheia de compromissos em casa que
papai colocava afazeres aplicados diariamente, éramos cinco irmãos, mais cinco primos e cinco que
mamãe cuidava e moravam conosco, a escola do
meu pai era dura e de uma boa educação, a sua voz
nos trazia respeito em casa, tudo era feito com consultas a ele, e nada se fazia de qualquer jeito eu tinha naquela época seis anos de idade, mas entendia perfeitamente bem o que ele determinava para
todos fazerem. Ah! Ah! !Ah! Que problemas arrumava aquele que não cumpria as regras das obrigações estipuladas por papai, gente! Tem um ditado
que diz: se correr o bicho pega e se ficar o bicho ai!
ai! ai!. O castigo era severo! O Sr. Orozino não alisava nem um pouquinho, olha! Se bem que aquela
época era melhor do que hoje para educar filhos,
somos gratos por ter pais como os nossos, todos
gostam da gente pela educação que recebemos dos
nossos pais. E, por falar nisso eu tinha um costume
de me esconder em cima das galhas de um pé de
goiaba que tinha bem lá no fundo do nosso quintal.
Sabe o que eu ia fazer lá? Adivinha? Estudar tran-
Mas havia um porém: papai já tinha me avisado
que o couro ia cantar se por acaso eu o desobedece e
subisse em cima do pé de goiaba ,mesmo assim
continuava às escondidas subindo e descendo dele;
esse pé de goiaba me ajudou muito obtive tanto sucessos nas provas da escola, eu nunca repeti de ano
sempre estudei e levei a sério os estudos, com sete
anos já desenhava e pintava cada coisas incríveis e
bordava também, até ensinava papai suas tarefas de
escola, naquela época era o Mobral que ele fazia, eu
preenchia seus fichários de trabalho nome por nome
e não errava nenhum, ele levava para consultar com
sua professora e ela dizia: Sr. Orozino está de parabéns sua filha tão pequena mas...inteligente muito
inteligente! Voltando ao assunto do pé de goiaba
certo dia meu pai chegou de viagem, porque ele era
funcionário federal e viajava muito, era trabalhador
da máquina de trem da REFER- a famosa ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL.
Esse senhor moreno, meu pai Orozino, não parava!
Viajava, viajava... era o ganha pão dele então tinha
muita responsabilidade. Nunca vi ele faltar ao trabalho e em casa era fiel, sempre nos deu o melhor e
nunca deixou faltar nada absolutamente nada .Veja
bem, não há nada oculto que não seja revelado uma
frase certa, e dando continuidade naquele assunto
sobre o pé de goiaba, foi feio... desobedeci a autoridade de meu pai e minha mãe subindo como sempre no pé de goiaba. Mas... não foi fácil não. Um
dia ele chegou adiantado dois dias antes e me pegou
bem lá no alto das galhas do famoso pé de goiaba.
Chegando dentro de casa ele perguntou a minha
mãe onde eu estava, e ela disse: está lá nos fundos
do quintal, a minha dedicação era tanta em estudar
que não o vi quando ele chegou, afinal era um local
secreto e proibido por ele. Quando ouvi a sua voz o
chão estremeceu e as galhas balançavam de tanto
que era o meu medo, não deu outra aconteceu aquilo chamado agora você vai apanhar, gente foi um
couro de rebenque que a fumaça levantava, nossa
fiquei muitos dias desapontada e com vergonha,
apesar de ser tão pequena! Mas pense: ele tinha falado, tinha avisado, quem perdeu foi eu pela a desobediência a ele, porque era o meu pai é quem estava
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
me educando ,tenho certeza que se ele desse mole
hoje eu não seria quem eu sou. O meu papai já é
falecido, só que nunca vou me esquecer dele. Posso garantir que tive uma infância bonita, cheia de
vida, caprichos e bem estar, roupas lindas eu tive,
calçados bons, alimentação nem se fala só de primeira qualidade, meu pai era cauteloso com a gente, cuidava bem mesmo, entre os cinco eu sou a
última-famosa caçula da casa. Posso dizer que a
nossa infância foi maravilhosa, tudo de bom E tem
mais, gosto muito de crianças e no que eu puder
ajudá-la na infância me esforço a conversar e a dar
atenção para elas, o diálogo trás uma convivência
bonita e gostosa. Presta atenção quando uma criança se aproxima de alguém ela sempre dá um sorriso, não tem malícia de nada, dá uma bala para ela,
ela pega; um doce ou um chocolate é motivo de
alegria para toda criança.
Com o Senhor meu pai, nos reuníamos os cinco
filhos e a nossa mãe para contar histórias fantásticas, nossa que legal era aquele tempo, tempo que
não voltam mais! Tinha umas piadas que ele contava a gente quase morria de tanto rir e assim a nossa
amizade era sadia, não havia confusão dentro de
casa graças a Deus . Creio que uma infância desenfreada deixa marcas na vida da criança, é bem
por isso que tratar bem, cuidar bem, principalmente
na educação em todas as áreas da vida na infância
deve ser tratada com carinho, amor e dedicação e
dar se o respeito isso é muito bom com certeza só
faz bem aos pais e aos filhos,
Deixo aqui um recadinho: quando papai e mamãe
batem ou corrigem é por bem da criança desde que
seja necessário isso, jamais ficar magoados ou tristes porque apanhou, apanhou porque mereceu, pai
e mãe são direção de Deus na vida de cada criança,
seja na infância, na adolescência, na juventude se
bem pode dizer para o resto da vida somos ligados
aos nossos pais, posso dizer mais um pouquinho
hoje sou casada, mãe de três filhos, avó de quatros
netos, e tenho a minha mamãe que cuido e muito
bem, ainda sou criança de vez em quando brinco
com ursinhos, jogo bola com os meus cachorros, e
eu e meu esposo brincamos de pequi é gostoso ser
infantil quase que um pouco
INFORMAÇÕES SOBRE OS LIVROS
DE JACQUELINE AISENMAN:
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No Brasil:
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
MUITO CEDO
Por Marcos Torres
São seis horas da manhã.
Uma banana amassada com uma xícara de café,
enquanto mamãe dorme no silêncio do quarto.
Sair sem barulho
em meio ao silêncio de uma rua deserta.
A jornada é longa,
o ronco da fome aumenta,
o caminho para o Saber tem um preço.
Bate a campainha da escola
no mesmo compasso do ronco da fome.
O Conhecimento tem um preço, não é barato!
Os dias vão passando junto com a mesma jornada.
A peleja é dura e o sol é quente. É duro o Conhecer!
Brigas, interesses, discussão, inveja, traição, amizade...
Erudição é um valor que não tem moeda.
É muito cedo para um homem que nada sabe...
O menino vai para a escola pensando...
Em busca da solidão.
O Conhecimento é um ato solitário,
assim como acordar às seis da manhã,
em busca de um corpo sem vida e um Ser abstrato.
O intelecto é um alimento cuja fome continua.
A sabedoria é um manancial onde a sede não acaba.
Essa criança busca nas palavras
Um “amor platônico” num lugar inatingível.
Consciência traz poder, e o poder é para quem tem fome.
O menino cresceu e se tornou perigoso.
Instrução é uma arma perigosa.
As palavras se agruparam
para fazer de uma criança um Ser faminto.
Fim de aula, volta pra casa.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
ga, era mais água que fibras.
NOSSA INFÂNCIA
Além do povoado, as casas ficavam
Por Sonia Nogueira
dispersas, a maioria simples, outras poucas
de melhor estrutura. Ia com a avó para a
Não queria se lembrar, evitava falar
casa da tia Maria, casada com marido de
de perdas, perdi a mãe antes de completar
pouca audição, grosseiro, gritava ao chamá-
dois anos. Ficou na lembrança um só ato: a
la.
mamãe está dormindo.
A tia Maria oferecia leite com sal.
pálida,
Estranho, só tomava com açúcar! Fazia ca-
inerte naquele apertado? E foi-se sem beijo,
reta e recusava. Melhor o feijão que parecia
abraço... A dor nunca passou...
papa de tão cozido, gostoso que só comen-
Dormindo...
Acomodada,
do, com rapadura ou melancia ou carne asMeu pai foi mãe, amigo de todas as
sada na brasa.
horas. Do cuidado à noite para forrar com aponta do lençol
Brincadeiras de roda no meio
o bumbum frio de urina, do
da rua, na areia, de esconder,
leite mugido bem cedo, ainda
até cansar e suar. O banho na
na rede e mostrava o bigode
calçada, o pai jogava um bal-
de espuma, para acalmar o
de de água, sem sabonete, en-
choro pela insatisfação ao me
rolava com toalha, aquecia o
acordar, mas terminava em risos a agrados.
corpo no colo, em seguida deitava na rede.
Até voltar novamente a rede, dormir o tanto
O sono chegava de súbito sem pensar, era
que o sono persistisse.
só dormir.
O rio detrás da casa correndo em
As festas de santos: São Francisco,
constante desafio, nas enchentes, início do
em outubro; Nossa senhora da Conceição,
ano. Água barrenta, com galhos, molambos,
em dezembro, no Giqui; Nossa Senhora
madeira, destroços, quem sabe cobras ema-
Santana, em Jaguaruana, Nossa Senhora da
ranhadas, arrastados pela correnteza. Tudo
Boa Viagem, em Itaiçaba; São Sebastião
isso não causava temor, o nado pela manhã
em Aracati, com roupas e calçados novos,
ou à tardinha era sagrado, até o nariz ficar
muita gente de cidades e povoados vizi-
vermelho do assuar e olhos irritados pelo
nhos, sem esquecer as quermesses, fui rai-
excesso de banho.
nha certa vez e ganhei no partido verde.
Melancia comida com as mãos, lá
Saudade de tudo que a lembrança
no roçado, sentada no chão, com tanta li-
arquiva, mas a marca que permanece viva,
berdade e gostosura que o abdome ficava
a mãe que o vazio nunca preencheu.
saliente de tão cheio, logo esvaziava a bexiwww.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Bolinho de chuva (por Mercearia do Conde)
Fonte: h p://vilamulher.terra.com.br
Ingredientes:
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
3 colheres (sopa) de açúcar
1 pitada de sal
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 colheres (sopa) de leite
1 colher (sopa) de manteiga
3 ovos
1 colher de (sopa) de queijo parmesão ralado
Erva-doce a gosto
Óleo para fritar
Açúcar e canela em pó
Modo de preparo:
Misture a manteiga e o açúcar, acrescente os ovos um a um, ponha aos
poucos o trigo já peneirado com o fermento e misture. Acrescente o sal,
a erva-doce e o queijo ralado. Mexa mais um pouco. Frite em óleo quente, pingando aos poucos com colher de chá. Abaixe o fogo, quando o
óleo estiver muito quente. Depois salpique os bolinhos já prontos com o
açúcar e canela.
Rendimento: 10 porções
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
tecido, quem sabe, teve até que pagar pelo tecido,
pois manchas de sangue não saem com muita facilidade.
INFÂNCIA
Por Rita de Oliveira Medeiros
De posse do meu novo brinquedinho, viajei
para um tempo distante, quando tinha algo em torno
de 3 ou 4 anos de idade. Morávamos na “casa da
dona Celina”, para onde fomos quando minha mãe
morreu.
Minha nova mãe bordava à máquina, no mesmo quarto onde dormia com meu pai. Eu, dormia
no mesmo quarto com eles, porque a casa não tinha
muitos quartos e éramos em oito pessoas. Ainda
tenho lembrança da minha cama, pequena, ao lado
da deles, porém, transversalmente. No quarto, havia
uma janela alta, minha mãe precisava subir na cama
para falar com a prima Maninha, que era sua vizinha, também bordadeira.
Como faziam os trabalhos juntas, numa daquelas tardes, ela parou de bordar e foi na casa da
prima e amiga, fazer algo que não sei o que era.
Mais do que depressa eu pulei para a banqueta, lembro que era alta.... e comecei a bordar.
Esta dor, contudo, não deve ter sido tão forte
a ponto de me fazer desistir de bordar, porque eu
ainda repeti a façanha mais uma vez! Novamente, o
mesmo grito! A mesma correria.
E ela não teve outra alternativa a não ser, me
ensinar a bordar. Primeiro, o cordonê, depois os
bordados maiores. Durante algum tempo eu bordei.
Cheguei até mesmo a receber o elogio máximo de
uma virginiana perfeccionista:
- Olha só, Roldão! O cordonê dela é melhor do que
o meu!
Contudo, minha alegria durou pouco. Embora
adorasse bordar, ela quase não me permitia, seja
porque precisava estar bordando o tempo todo,
eram muitas encomendas, seja porque as linhas
eram sempre muito caras, e mesmo que eu pedisse
as sobras, ela nunca as dava, porque dizia que ia
precisar!
Mas, ainda acho que ela teve mesmo foi ciúmes! Do seu bordado, daquela arte tão preciosa, que
ela fazia tão bem. Como estava sempre junto com
ela, ouvia embevecida, as suas conversas com a prima, a Maninha, sobre como fazer, o que fazer,
quando fazer! Era um universo fascinante! Transformar um pedaço de pano em algo tão bonito de se
ver! E os jogos de cama, em bordado Richillieu,
então? E os bichinhos, tão mimosos ficavam, nos
enxovais de bebê que elas faziam? Ninguém bordava como aquelas duas!
- Qués ver, Maria, fais assim, ó!
Só que, para bordar, era necessário movimentar o bastidor com as duas mãos e eu deixei o dedo
indicador no meio do bastidor, próximo demais da
agulha. Bordei alguns segundos e logo a agulha
traiçoeira entrou firme na unha do dedo indicador
direito
- Ô manhêêê.... deve ter sido um grito muito agudo!
Engraçado, não lembro da dor no momento de
retirar a agulha do meu dedo. Pobre mãe! Chovia,
ela veio correndo. O sangue deve ter manchado o
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O tempo passando e eu, sempre curingando, perguntando como fazer. Ficava ao seu lado, olhando
prá ela bordar, via suas caretas, acompanhei sua visão, acabando, pouco a pouco, naquele labor noturno, até 2 ou 3 horas da madrugada. Tudo tinha que
ser sempre muito perfeito, nada mais ou menos.
Havia também os serões que elas faziam.
Eram sempre antes da Festa de Santo Antônio dos
Anjos. Sim, a Opa vermelha. Tinha um emblema do
Santíssimo Sacramento, bordado em fios dourados.
Ficava lindo, o meu pai, vestido naquele traje: terno
marrom, sob a opa vermelha. E lá se ia ele, todo
faceiro e, aos meus olhos, lindo de morrer!
Agora, semi aposentada, estou diante desta
máquina de costura, tão novinha, me vendo novamente naquela expectativa de poder fazer algo tão
belo quanto os bordados que ela fazia. Talvez, seja
uma forma de reviver aqueles momentos de prazer,
de reencontrar-me com a mãe que tive, sem nunca
poder realmente ter!
Outro serão, era em 7 de setembro! Elas bordavam os bolsos dos uniformes do Colégio Ana
Gondin e, às vezes, do Jerônimo Coelho! Viravam
as noites bordando, na casa da Maninha. Eu ia junto
com eles. As vezes, ela e o pai voltavam para casa e
me deixavam dormindo naquela cama de casal, tão
grande! E eu, sempre tão medrosa de dormir sozinha, nem ligava quando me acordava, no outro dia,
sem eles.
Até que, passados alguns anos, quase chegando ao final do Ginásio, eu devo ter falado algo como bordar com ela, ou bordar pra fora também! A
resposta foi taxativa:
-Não! Tu não vais bordar para fora coisa nenhuma,
que isto não é vida! Vais é trabalhar num escritório,
que é isto que tu vais gostar! Tu nasceste foi prá
isto!
E assim, com esta sentença, adormecida foi,
minha vocação para bordadeira!
Mas, no meu coração, permanecem aquelas
imagens, que soam quentinhas, de tão boas que são.
Nem a lembrança da agulha enfiada no meu indicador me remete a alguma dor.... muito pelo contrário,
apenas me lembra de quão obstinada eu era, e isto
me faz bem.
O seu exemplo de esmero, aquele primor de
bordado, o avesso mais do que perfeito que ela fazia
e ostentava com tanto orgulho, foram meu espelho,
para as coisas que fiz, para os trabalhos que realizei.
Nunca comprei bordados prontos, nenhum me agradava, porque sempre ia direto ao avesso: terrível!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
minha cuca! Mas eu safo fui aprendendo... Matar de
“efeito”, retrucar em pleito... Cantar a caçapa do
oeste, devolver a “sinuca” ao mestre, ouvindo “seu
peste”... Sem nunca apostar dinheiro, não é estilo
deste faceiro...
Portão da garagem...
Por José Carlos de Paiva Bruno
Hoje, de súbito, guardando meu jipe em garagem
principal de nosso lar, fui assaltado pelas quimeras
da minha infância querida... “Que os anos não trazem mais Casimiro”...
Avançando meu bólido, eu miro, em frente ao ipê
gateway da lembrança...
Renovo d'alma esperança... Transportado do tempo
que avança e nunca se cansa...
Ali, bem ali, quanta porrada de bola de capotão...
Lúdica em controle no ar... Eu, mais Pitaluga, Niéres, Tony, Fernando, Zé Alberto; às vezes Jair, Bironha e Vadão... Só porradão, e o portão “gol” resistiu a um time que nunca desistiu... Goleiro que
defendesse, vinha pra linha artilheiro desse...
Só admitia-se três toques no “ar”... Esta era a farra
do sábado matinal...
Liberada por mamãe consoante o aproveitamento
no colégio estadual... Onde concursado reinava, dispensado do “admissão”, aquela transição de outrora,
entre o primário e o ginásio...
Bom, este nerd eclético, sacaneado nas festas de
família, onde meus primos ganhavam brinquedos, e
este que voz fala, em maioria das vezes livros, livros, livros... Mas eu me vingava, sendo quase sempre primeiro no colégio, ao que ponderava minha
velha querida – em sua forma de amar – não fez
mais que sua obrigação, “queria ver se não honrasse
o nome limpo de seu pai, te passo o
chicote menino...”, e assim prosseguindo, sempre
inquieto e arguindo, será que a mãe tá me seguindo?
Quando eu driblava a babá, entrando no cursinho de
inglês à tardinha... Esperando ela dar uma voltinha... Escapava matreiro para o fliperama de vidro e
suas mágicas cinco bolas de aço... Eu traço, na
coincidência de final, ou na habilidade na moral...
hehehe... Botar meu nome no recorde do eletromecânico prazer... Por vezes flagrado em “tilt”... aiai...
O “coro” comia...
Tinha também o “totó”, aquele futebol de mão girando, perto do armazém do seu Oto Periardi, camarada o velho, liberava pra mim em conta da mãe; de
bolinhas de gude, pra búlicas rudes; linha 10 pra
pipa, até mesmo um grude... Fazia minhas pipas
extras caprichadas, aí vendia pra comprar figurinha,
torcendo pelas “carimbadas”, ganhando brindes em
completar, até no “bafo” ganhar...
Mas, nem tudo são rosas, golpe do destino, vira
adulto menino... Já contei em outro conto, em
meus onze anos, meu pranto, em verdade mais meu
espanto... pois que olhei pro lado lado e todos choravam meu Pai, por outro também, então... não dá
pra chorar neném, primogênito vai à luta,
esta plena disputa... Trabalhando precoce, cresce e
coce, tosse... Lá pelos meus doze anos,
talvez treze, atreve... Sortilégio breve, loira linda
leve... Eu também jogava voleibol, ela sempre lá
assistindo aos treinos e partidas; até que um dia
abordou este pueril... Fim do treino, ela vem de
mansinho, “Oi”... “Você tem namorada?”... Ela bela, em debutar espera, dois dedos mais alta,
lábios que empresto de Iracema; eu peralta, em minha virgindade convidado pra ribalta...
Respondi “hamham”, em momento não, necessária
mentira aflição; caminhando juntos, à saída
do colégio, perto de prédio velho... Correios em
abençoar, natureza em desembaraçar, ela então...
Pega minha mão, entregando seus lábios aos meus,
Pirineus...
Subida da adrenalina, umidade que fascina... Natural rosa mulher menina,
fazendo homem menino, causo do destino... Como
um brinde vespertino! Tim Tim...
Sou sempre assim, aprendiz de mim... Preste mundão afora, menino sem demora...
Eu nunca desistia... Me lavava na pia, tirando o giz
da sinuca, evitando inspeção de conduta...
Sistemático amigo leal, respirando travessuras, nunca amarguras... Bem dizia Paulo Freire...
Pois que da obrigatória “aula particular” também
fugia... Ia pro barzinho do seu Zé, ou do seu Aristides, na ladeira... Aprendendo sinuca faceira, com
Waldecy do Tufick ou do BB João Faria... Mestre
da covardia... Sinuca dando “sinuca”, pra complicar
É caminhando que se faz o caminho! Porque felicidade é assim, poder olhar pra trás,
construindo a virtude em frente, porque a vida é
chapa quente... Mas há portão que “guente”!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Retorno à infância
havia me levado para o desfile. Eu respondi que
fora o meu pai, pois minha mãe ficara em casa cuidando dos meus irmãos mais novos.
Por Josselene Marques
Enquanto isso, na concentração, as professoras já haviam dado por minha falta e avisado ao
meu pai, que começou a me procurar pelas ruas adjacentes. Devido à ajuda do meu “anjo salvador”,
não teve muita dificuldade para me encontrar. Foi a
minha sorte, pois até que ele foi muito compreensivo comigo (fez apenas um pequeno sermão – a fim
de que eu entendesse o risco que corri. Como resposta, asseverei a ele que isso jamais se repetiria.
Por fim, a travessura foi relevada). Nosso encontro
se deu, exatamente, na lateral de um prédio onde,
atualmente, funciona o Banco do Brasil da Avenida
Alberto Maranhão.
Este ano a Semana Santa foi superespecial
para mim. Depois de muitos anos, reencontrei alguém que me fez voltar à memória os meus seis
anos de idade.
O momento exato do flashback foi um “30
de Setembro”. Todos os anos, nesse dia, declarado
feriado municipal em homenagem à data da libertação dos escravos mossoroenses no ano de 1883,
acontecem os tradicionais desfiles cívicos. Como de
praxe, eu e mais algumas centenas de crianças fomos representar as nossas escolas. No local de concentração, enquanto esperávamos a nossa vez de
desfilarmos, acabei me impacientando e resolvi
passear pelas imediações – atitude da qual me arrependi poucos minutos depois.
A cidade estava bastante movimentada –
lotada de turistas. Centenas de pessoas se deslocavam em várias direções à procura de um lugar melhor para assistirem ao desfile.
Após me distanciar apenas alguns metros,
de repente, eu me vi cercada de estranhos, que caminhavam em grupos e com relativa pressa. Eu era
pequenota e andava com certa dificuldade em meio
àqueles adultos. Houve vezes que, por pouco, não
fui “atropelada” por eles. Justamente por tentar esquivar-me e sair ilesa dessa multidão, afastei-me
mais do que devia e perdi o ponto de referência. Na
verdade, não conhecia bem aquele trecho da cidade.
Conscientizei-me do tamanho da minha imprudência quando constatei que havia me perdido dos
meus pares.
Minutos depois, após ser abraçada pelos colegas que se preocuparam comigo, desfilei com alegria redobrada: primeiro, por poder representar a
minha escola e, segundo, por não ter entrado para a
lista de crianças desaparecidas.
Rever a querida Tia Ceição – a quem serei
eternamente grata – me fez relembrar esse episódio
da infância e chegar a uma conclusão: Deus me
ama e protege desde sempre – não me envergonho
de professar a minha fé. De mais a mais, como nada
acontece por acaso, com esse "susto", aprendi a
prudenciar. Desde então, na medida do possível,
tenho procurado evitar tudo que seja passível de
erro, dor ou dano e, por isso mesmo, vivo em paz
comigo e com as pessoas que me cercam.
De olhos arregalados, a ponto de chorar, segui em frente, mesmo sem saber qual seria o meu
destino. Nesse momento de aflição, fiz o que é peculiar a toda pessoa que tem fé: pedi a ajuda de
Deus e, como por milagre, surgiu na minha frente
um rosto conhecido: o de Tia Ceição (Maria da
Conceição Silva) – a professora das minhas irmãs.
Corri ao seu encontro e pedi que me ajudasse a voltar para a concentração. Sorrindo, ela me disse para
ficar calma e concordou em me conduzir ao local
de onde jamais eu deveria ter saído sozinha. Enquanto nos dirigíamos para lá, ela perguntou quem
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Onde estão meus sapatinhos?
Por Rozelene Furtado de Lima
Aqueles pretos de verniz
Que eu só usava em dia feliz ...
Era só calçá-los e viajávamos num segundo
Para qualquer lugar do mundo
Enfrentei bruxas, beijei sapos,
Transformei carruagens e trapos,
Fui presa em grutas
Envenenada por frutas
Onde estão meus sapatinhos
Com eles entrava em qualquer recinto
Meus sapatinhos sabiam sair de labirintos.
Visitei reinos, conheci muita gente.
Sapatos grandes são muito exigentes!
Eles não vão, nós é que os levamos
Não se importam por onde andamos
Solidão de menina... Vai passando
Solidão de mulher... Vai ficando
Só sapatinhos sabem fazer a diferença
Não conhecem a dúvida nem a descrença
Estrelinha grande amarelinha
Deixa eu ser pequenininha
Escolher um nome desigual
Ir para fundo do quintal
Sentada no balanço atravessar o túnel da ilusão
Pegar o trem numa nuvem de algodão
E ir... ir... ir ... até encontrar a fada madrinha
Pedir a ela outra mágica varinha
Mas, onde estão meus sapatinhos?! ...
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
dos, malandros espertalhões, almas penadas...
As minhas preferidas sempre foram mesmo as
de terror – como aquela que não me deixou
dormir direito... Engraçado: eu morria de medo,
Por Hélio Sena
mas gostava disso! Não consigo explicar direito
essa sensação que até hoje me acompanha,
seja escrevendo uma história assombrada ou
“À meia-noite em ponto, os espíritos dos vendo filmes de terror na calada da noite...
mortos se levantam de suas sepulturas e vão Acho que lá no fundo me agrada sentir aquele
espalhar o medo e o terror sobre o mundo dos friozinho na espinha, será isso?!?
pobres vivos... Eu vou contar, agora, uma história terrível para vocês; uma história de assom...
bração acontecida há muito, muitíssimo temTia Bilu morreu aos 92 anos. Morreu que
po... Então, estão preparados para fazer xixi
nem um passarinho, como já disse alguém que,
nas calças de tanto medo? Olhem lá, hem!
no momento, não lembro quem. Pois esta noite
Quem não conseguir dormir hoje à noite, não
faz exatos 13 anos que ela se foi... Coincidenserá por minha culpa! Eu já avisei que é uma
temente, estou escrevendo meu décimo terceihistória apavorante, sem dúvida uma das mais
ro livro – que será, por motivos óbvios, dedicabrabas que já contei para alguém... Estão predo a ela. O livro chama-se “Histórias Maravilhoparados?”
sas da Tia Bilu”, e é um apanhado das princi...
pais histórias contadas por minha querida Tia –
Não, ninguém chegou a fazer xixi nas histórias que, apesar do tempo (eu era apenas
calças. Ou, pelo menos, ninguém admitiu isso – um garotinho quando as ouvi!), jamais esqueci
e quem seria louco de admitir uma coisa des- ou vou esquecer... Agora, quero compartilhásas?!... Mas a história da minha Tia era real- las com meus leitores, e espero que eles gosmente de arrepiar! Ouvimos tudo em silêncio, o tem tanto de lê-las quanto eu gostei de ouvicoração tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc... Eu mesmo – las...
ANTES DA MEIA-NOITE
estou certo disso! – fui um dos que não conseguiram dormir naquela noite. A toda hora eu
acordava sonhando com elementos da história
– fosse o fantasma do enforcado, a menina de
cara pálida que gostava da lua cheia, as galinhas azuis falantes, ou os gritos histéricos das
mulheres ao ouvirem passos em cima do telhado...
...
Agora, sou eu quem conta histórias para
os outros... Sou escritor – e sei que devo isso à
Tia Bilu, a melhor contadora de histórias que já
conheci! Seu repertório parecia que nunca ia
ter fim – e olha que eram três ou quatro histórias toda noite! Uma vez perguntei onde ela
aprendera tantas histórias, e ela disse
(gesticulando mais que o normal) que as ouvira
de sua avó, que, por sua vez, as tinha ouvido
de sua própria avó – e assim por diante... Não
sei, não, mas, para mim, ela inventava todas
aquelas peripécias... Só sei que, quando a noite caía, lá estávamos nós, meninos e meninas
– e até adultos da vizinhança! –, fazendo festa
ao seu redor; e então ela desfiava um rosário
de histórias de todos os tipos possíveis e impossíveis: casais apaixonados, monstros ala-
...
Hoje – graças a Deus e à minha Tia –
sou um autor de sucesso. São 12 obras publicadas (Tia não leu nenhuma, ela não sabia ler,
mas admirava as capas e sentia orgulho de ter
um sobrinho-filho escritor), e milhares de leitores fiéis em todo o país que expressam seu carinho através de e-mails, cartas, telefonemas...
Ontem mesmo, recebi um e-mail de uma garota
perguntando quando sairá meu novo romance,
“Afinal” – suspirava ela – “já tem dois anos que
o Sr. não publica uma linhazinha sequer!” Respondi o e-mail, evidentemente: “Até o fim do
ano, Diandra. Quem sabe no Natal... Pode esperar!”
...
Mas meu editor está deveras apreensivo
acerca deste meu novo livro. Ele acha que, para quem publicou 12 títulos bem-sucedidos no
segmento “suspense e terror”, será correr um
risco desnecessário lançar uma obra tão divergente... “Imagine só”, disse ele, “o choque que
será para o seu leitor – acostumado a ler ‘A Casa Sombria’, ‘Pacto Mortal’, ‘Terror e Êxtase’...
– de repente se deparar com ‘Histórias Maravilhosas da Tia Bilu’! Cara, você não percebe o
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
perigo, não, Fontana?!” “Aderbal, meu amigo, eu preciso correr este risco!”, respondi
sorrindo...
...
“Tia Bilu, onde você estiver, este novo livro será para você... Para você e para
mim! Se meus leitores não gostarem, fazer
o quê, né? Depois escrevo outro para
eles... Ando mesmo com umas ideias para
um novo romance, que, a princípio, se chamará ‘Calafrios à Meia-Noite’. Acho que
esta história promete, de verdade!... Mas
isso, Tia, é intento para daqui a alguns meses, talvez alguns anos; sei que ainda tenho bastante tempo pela frente, sou apenas um homem a meio caminho da maturidade... Por enquanto, estou vivendo as
nossas histórias maravilhosas, revivendo
as noites felizes da minha infância ao seu
lado... E tudo isso, Tia, pode acreditar –
está me fazendo um bem danado!...”
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O DOCE DOM DE SER CRIANÇA
Por Hernandes Leão
Oh! Como é bom ser Criança...
Viver sem preocupações, sem tentações
Viver e viver intensamente
Ser o símbolo da esperança
Ser a causa constante das motivações
E ter a vida inteira pela frente...
Quando criança, imaginava um mundo melhor
Cheio de belezas constantes
Desprovido de injustiças e podridão
Até as cores pareciam ser mais vivas, não
existia o pior!
Ah! Como é boa a inocência, e suas
variantes...
A todo momento, quando caia, alguém
estendia a mão
Não conseguia, enxergar a luxúria
desenfreada
Muito menos, a dolorosa malícia
Ataúdes definitivos, da infância e juventude
Mas por outro lado, para o adulto é o portal de
entrada
Quando criança achava que o mundo... era,
só delícia!
Que era, só satisfação, e ausência de
maldade
Enganara-me, sobre a visão do porvir e suas
vicissitudes
Mas a visão da criança, inspira ainda hoje, o
que seremos...
Impulsiona-nos à uma busca pessoal
Sobre nossas fantasias, e suas magnitudes
Sobre a reflexão do que nós colheremos...
Pois o cultivo das qualidades, é essencial
Mesmo se tinha uma visão equivocada da
vida
Não me arrependo; o que importa é o caminho
O trajeto e a jornada das experiências...
A oportunidade, de socorrer a ferida
Garantindo assim, a boa escrita do celeste
pergaminho
E garantir o sucesso das vivências
É viver somente exalando a bondade
Mesmo que de forma contraproducente
Mesmo que não consiga, erigir a nobreza da
mente
E executar ações falhas pela frente...
Vai ter valido a pena ser um petiz
Um ser pequenino no tamanho
Mas um ser gigantesco na Alma
Para ser Mestre, antes tem que ser um
aprendiz
Na infância não existe perda, somente ganho...
Já que o Espírito, vive só em calma
Queria só mais uma vez... ter essa confiança
Sentir segurança, nas mãos dos condutores
Olhar pra cima, e ver o desenho das nuvens
Ter o poder natural, e não viver só na lembrança
Sentir a presença do anjo da guarda; não
sentir dores...
As crianças são a misericórdia dos homens!...
Criança... és mesmo, a perfeição Divina!
O desejo mais evidente da redenção
O Dom exequível e sublime da oportunidade
Criança, tem a benevolência, és sua mina!
É a recíproca do aprendizado e evolução
Enfim, é a extrema força, aparentando
fragilidade...
Sem as crianças, não mais haveria o mundo
Criança é o pleno exercício da criação!
São os salvadores do destino...
Sem elas, o homem seria somente um
moribundo
Para nós, elas deveriam ser a salvação!
Basta observar, sua conduta; aí, o ser, é um
mero peregrino!...
Conda no livro: PAPIROS D'ALMA E OS PERGAMINHOS
DO TEMPO
Ser criança, é ser a esperança da
humanidade
É carregar a chama constante da felicidade!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
BEIJINHO DE FESTA
h p://tudodebolo.com.br/
Ingredientes-•
duas colheres de sopa de margarina ou manteiga sem sal
• duas latas de leite condensado
• uma embalagem de coco fresco ralado
açúcar e cravos da índia.
Modo de preparar o beijinho de festa
Se você sabe fazer brigadeiro já vai achar super fácil azer um beijinho. Em
uma panela tradicional coloque a margarina ou com o leite condensado e o coco
ralado e misture tudo antes mesmo de levar ao fogão. Já no fogo baixo, vá mexendo tudo sempre até desgrudar da panela, o que pode ser visto inclinando um
pouco a panela para o lado ainda mexendo. Depois que estiver um pouco menos
quente, vá fazendo as bolinhas com a mão e depois coloque um pouco de queijo
ralado por cima e um cravo da índia por unidade. Algumas pessoas ainda enrolando o beijinho e colocam açúcar por cima, mas fica ao seu critério.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Doce Infância
Por Isabel Cristina Silva Vargas
De sonhos tão imaginados e,
Encantadas ilusões de menina,
Infância de pura inocência,
De delicadas bonecas de porcelana,
Do jogo de amarelinha, do pião e bilboquê,
Das brincadeiras na garagem
Ao som de inesquecíveis músicas
De anos que se tornaram dourados
Infância de muitos aromas
-De chuva na terra secaE, de muitos sabores
-Dos doces de minha avóDo figo, das balas, de guaco e de hortelã,
Infância de mulheres guerreiras
Minha mãe, minha dinda e minha tia
Que me prepararam para o futuro
Das grandes alegrias e imensas tristezas
Que mesmo sem perceber
Ensinaram-me sobre os grandes revezes da vida
Dos quais resultei viva, apesar das mutilações .
Infância que não retorna
Mas, que recordei na infância de meus filhos
Tão diferente da minha
Porém , para eles igualmente doce
Infância, doce período de vida
Que me ensina um novo viver
Na infância de meus netos .
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa Infância
Naquele belo tempo
Sem nenhum contratempo
Por Lenival de Andrade
Aos seis anos começávamos a estudar
Venho aqui nestes versos
Esperávamos a hora do recreio para lanchar
Sem nunca serem adversos
Aproveitar, não perder tempo e brincar
Falar de um tempo super saudoso
Trocávamos o lanche na hora do recreio
Gostoso, vitorioso e vistoso
Não se fazia feio
Para nós também honroso
No fim, começo ou no meio
Tempo maravilhoso e inesquecível
Quem podia estudava nos melhores colégios.
E também lindo e incrível
Também jogava-se futebol com bola canarinho
Que não voltará jamais
Pois o tempo não volta atrás
Às vezes no dedo entrava um espinho
Nunca em época nenhuma.
Deitávamos e o tirava em nosso ninho
Mas as lembranças ninguém apagará
Ou com bola dente de leite descalço no meio
da rua
Sempre guardadas em nossa memória estará
Que era minha e era sua
Nos enchendo de saudades e boas recordações
No inverno tomávamos banho na chuva
Com um bom suco de uva.
Onde começavam inocentemente nossas paixões
Bela passagem para a adolescência
Os casamentos dos nossos pais
Alguns meninos já começavam a namorar as
coleguinhas.
Duravam muito mais e tínhamos muita paz
Obedecíamos aos nossos queridos maiorais
As meninas brincavam de boneca
Pois DEUS razão maior da nossa existência e
obediência
Algumas delas enrolavam sabugo de milho
em um pano
Nos dava sabedoria, força, vigor, paciência e
competência
E os meninos jogavam time de botão
Nesse maravilhoso tempo
Aumentando a emoção
Que foi assim sem nenhuma ganância
Querendo sempre ser campeão
A nossa infância.
Time de botão também era chamado de Futebol de Mesa
Quem podia pagava a despesa.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
ENTRE OS MORROS DA MINHA INFÂNCIA
Por Jacqueline Aisenman
Passo a passo em minha mente vou pisando as ruas.
Foram muitos carnavais. Muitas despedidas e muitos reencontros. Muitas festas, muitas tristezas. Muitas chuvas caíram leves ou ruidosas e com elas lavaram os paralelepípedos e meu rosto e minhas vivências.
Cresci menina-menino. Brincando de casinha
e de Tarzan. De casinha brincava fazendo comidinha em loucinhas de barro ou em louças plásticas
imitando a vó tão fina. De Tarzan iniciava uma luta
feminista pois ser a Jane não me agradava muito:
queria ser herói, pular de cipó em cipó e salvar os
fracos.
Minha infância, viajando entre estados, conheceu as hortênsias azuis e os caminhos longos no Paraná. Viu as estradas e as montanhas de Santa Catarina. Muitos hotéis, muitas estradas. Mas foi quando
ela estacionou entre os verdes morros da Laguna,
morros que volteiam a cidade como um colar natural, que minha infância abriu asas.
Tinha amigas para brincar de boneca de verdade:
Beijoca, Amiguinha, Gui-Gui (esta última que ria,
ria e eu adorava ouvir o seu riso que me fazia rir
também!). E tinha amigas para brincar de bonecas
de papel, recortadas de revistas ou compradas na
banca, aquelas que já vinham com roupinha...
Uma vez vi um tio meu (se ele ler vai lembrar...) muito bravo. Ele que nunca ficava bravo comigo. Estava viajando e encontrei sob sua cama um
monte de revistas. Que alegria eu fiquei!! Naquelas
revistas havia algo inédito: muitas, muitas bonequinhas sem roupa precisando urgentemente ser recortadas para ganhar roupinhas desenhadas por mim!
Foram dúzias de novas bonecas para minha caixinha
e depois dúzias de tapas e castigos de minha mãe
por arruinar uma coleção de revistas que, como eu
poderia saber, eram apenas para adultos!
Uma outra vez, brincando de ré de esconder, aquela
de correr e gritar “33” quando chegava do esconderijo antes da pessoa para quem sobrasse procurar.
Pois é, corri tanto e tão rápido que me joguei na parede com os dois braços e gritei feliz: 33 (ou era
31?)!!! E entortei os dois pulsos que ficaram enfaixados durante um bom momento!
Tem aquela vez que, muito danada que eu era,
joguei a sandália de uma amiga no meio da rua. Ela
me mandou buscar e eu não fui. Ela foi, pegou e em
seguida jogou a minha. Mandei buscar, ela não foi e
minha reação foi espontânea: uma surra separada
apenas pela mãe dela que, a esta altura, já estava
acostumada com meu comportamento nem sempre
muito adequado às boas meninas! Naquela época
minhas respostas vinham mais rápidas pelas mãos
do que pelos lábios.
Pendurada em cipós e em meus sonhos vivia brincando pelas ruas: desfile de modas no Jardim da cidade, jogo de vôlei improvisado em terreno baldio,
“roubos” de alface, peras, goiabas... E a receita que
adorava: comer a pera com a alface e sal. Para horror das amigas e meu deleite.
Uma vez me deram uma linda pitanga.
“Come, é pitanga docinha”. Comi. Engoli. E foi
muito gelo para acalmar meu desespero de ter comido uma enorme pimenta vermelha. Claro que quem
me deu apanhou muito depois que os gelos que o tio
Paulo me deu acalmaram minha dor e minha raiva!
Minha primeira bicicleta não durou uma semana.
Aquele objeto especial e alaranjado que minha mãe
me deu com muito custo partiu em poucos dias. Alguém simplesmente levou, nunca devolveu e me
deixou chorando muito mais do que a semana que
tinha passado.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Gostava de ir à praia, subir o morro com as amigas,
os amigos e, claro, sempre alguém de mais velho
que se responsabilizava (pobre de quem!) por nós.
Num destas vezes a responsável era minha
mãe. Lembro até hoje dos seus gritos na beira do
mar: “Sai daí menina! Sai daí já! Não tá vendo o
quanto está fundo! Volta já pra cá! Ah, mas eu te
pego!” E eu lá, testando as ondas, navegando as
águas fundas daquele mar grosso cheio de espumas
brancas.
Mas na praia também gostava de me jogar das
dunas, altas dunas, e chegar embaixo parecendo um
filé à milanesa! Ou de brincar de se enterrar deixando apenas a cabeça de fora! E os castelos, quantos
castelos! Cidades inteiras para serem levadas pelas
ondas vorazes!
Amava a escola, tanto no Paraná quanto na
Laguna. Passei por várias, lembro com carinho dos
professores e tenho a certa impressão de que todos
eram anjos bons. Como dona Marta, aquela criatura
doce que me abriu os braços quando, no final já do
terceiro ano primário, cheguei tímida para uma nova
fase da minha vida. Tive tantos colegas! Muitos deles chegaram à vida adulta e, coisa fantástica, são
amigos que guardo até hoje.
Aliás, foi nesta fase que também fui colocada
numas aulas de catequese para fazer primeira comunhão. Oh, senhor, o caos tinha chegado. Infernizei
tal qual um diabinho as aulas da boa irmã Analuzia
que fazia o que podia para me conter. E na véspera
da primeira comunhão fui me confessar com o Padre Claudino.
- Pode começar minha filha!
- Começar o que?
- A contar os pecados!
- Pecados? – respondi do alto dos meus nove anos.
E ele todo paciente respondeu: - Faz assim,
vou dizendo os pecados e vais me dizendo se fez ou
não!
Concordei e saí depois da “cabaninha do padre” toda feliz pois minhas peras e goiabas tinham
me rendido algumas ave-marias e pais-nossos.
Mas não podia ser diferente e no dia da comunhão,
depois de espernear pois meu vestido era curto e eu
queria comprido, ainda aprontei na festa. Todos tomando café e comendo bolo e eu sem parar. Até que
um dos meninos, completamente sem querer, derramou café na minha alva vestimenta. Foi o mote pra
agarrar o coitado e começar a bater. Festa encerrada
a irmã pediu discretamente para minha mãe me tirar
dali. Mais uma vez tinha conseguido diria minha
mãe.
Embora pelas ruas vivesse sempre correndo e
quebrando (não exatamente recordes), pulando e
brincando, em muitos momentos escolhia a reclusão
quase total. E me enfiava em meu quarto para recortar, colar, escrever, ler. Ficava lá, ouvia o chamado
dos amigos mas não queria simplesmente responder.
Queria uma paz que eu nem sabia exatamente o que
é que era.
Num destes dias, do quarto ouvi baterem na
porta e minha mãe vir da cozinha resmungando: “O que será que ela aprontou agora???”. E eu, do
meu cantinho: - Não fui eu não mãe, tô aqui no
quarto! Mas ela já estava na porta respondendo que
provavelmente eu não estava. Ou talvez nem tivesse
sido pra mim!
Minha mãe passou poucas e boas comigo. Ela
e meu pai. Sob meu ar semi-meigo, havia uma peralta que se dividia em períodos com a menina estudiosa e calma.
-Aviãoooooo! Traz mais um irmãozinhoooo pra
mimmmm! - Deus me livre, gritou minha mãe! se
ao menos eu soubesse que fosse como teu irmão...
Mas só de pensar que pode vir como tu... (era a traquina deixando rastros!).
Minha mãe na casa dá vó Marta me dando uns cutucões embaixo da mesa ou por trás da vó para eu
parar de comer:
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
- Deixa a menina comer, Terezinha!
- Mas mãe, ela já comeu demais!!!
E eu lá, agarrada no aguidal (era assim que
eu chamava o tal alguidar) de barro preenchido
com pirão daquele feijão inigualável e aquela arraia
seca e ensopada que eu amava de paixão!!
- Chachá se eu fosse tu pagava o hospital por mês,
ela vive aqui dentro esta menina – dizia o Dr. Oscar para um pai todo chateado.
- Pois é...
E eu deitada na mesa, o braço inteiro aberto
depois de atravessar uma porta de vidro na casa de
minha vó esperando para ser costurada. E fui. Mais
de trinta pontos.
Aliás, o Dr. Oscar tinha razão. Na minha infância fui assim, mais ou menos, uma campeã de
pequenos e médios acidentes.
A vó Yvonne que me tomava as lições, me
ensinava, me cobrava:
- E a capital da Itália é...
- Roma...
Para depois, quando estivessem entre amigos
poder dizer o quanto a netinha era inteligente: sabia
as capitais de todos os lugares no Brasil e no mundo (juro que já esqueci 90%!).
Os natais na casa da tia Elisa, tão carinhosa;
os quibes da vovó Diba; o piano que eu adorava
jurar que um dia iria aprender e ali ensaiava sem
tom.
Os primos maternos e paternos que aprendi a
amar a vida inteira mas que algumas vezes odiei
como se faz com quaisquer amigos de verdade!
Descansava da atribulada vida de criança no
colo de meu avô Abelardo. Sua calma me invadia e
me dava tudo o que eu precisava para ser apenas o
peixinho doce que ele amava tanto. Perto dele eu
tinha não só a segurança, mas a certeza de que podia ser criança porque ele estava lá, para o que desse e viesse com seu amor maior do que o mundo.
ENTRE OS MORROS DA MINHA
INFÂNCIA
Um livro de Jacqueline Aisenman
Entre os Morros da Minha Infância está à venda com renda cem por cento rever"da ao Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos de Laguna, Santa Catarina.
Encontre aqui:
Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus Passos
R. Osvaldo Aranha, 280, Centro
Cep: 88790-000, Laguna SC
Fones: Central telefônica: (0xx)48 3646-0522 /
DPVAT: (0xx)48 3646-1237 / Fax: (0xx)48 3644
-0728 h p://www.hospitallaguna.com.br/
* Este texto faz parte do livro “Entre os Morros da
Minha Infância, publicado em 2010.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa infância
Por José Hilton Rosa
Infâncias divididas e planejadas
Evoluindo através de séculos, alcançando o vinte e um
A primeira vigiada e exemplar
A segunda sem vigília, liberal e contemporânea
Futuro orientado com brincadeiras personalizadas
O contraste na outra infância,
acompanhada por terceiros, limites não observados.
Na infância observada, os pais com poderes na educação,
na infância liberada, punição para aqueles que educam.
O contraste na obediência familiar, secular.
Infância privilegiada, fim da obediência do lar, contemporânea
No século anterior, os pilares da formação sustentavam a honestidade
No vinte e um, infância globalizada com formação terceirizada, digitalizada,
futuro arranhado, desestruturado, poderes totais, sem deveres, cidadania incerta.
Recordando e destacando para o crescimento leal, o respeito aos direitos e deveres.
O ócio, abonação, tudo fácil, o caminho para o mundo fugaz, mundo globalizado
Com competição e esperteza, a amizade fácil se desfaz
Na infância secular, a educação vinha do lar, a informação da escola
Na infância globalizada, a educação vem dos holofotes,
o professor além de ensinar tem que educar.
A escola foi transformada em instituição de ressocialização, da incerteza e do medo
Nossa infância, adultos gerados em cada infância, espelho de cada cultura.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
MEUS AVÓS ENCANTADOS!
de um pequena área coberta, junto com as lenhas.
Por Josane Mary Amorim
[...] Quando terminei minha narrativa, meus
pensamentos estavam lá atrás. Voltei à rua Maracajá, nº 25, para minha infância. Vi o quintal da vovó,
tão seguro e gostoso, tão cheio de antigos pés de
manga, abacate, goiaba; vi de novo os muitos pés
de copos-de-leite, os antúrios, vi o verde festivo das
samambaias, das flores-beijinhos; pude sentir o gosto da couve-flor que vovó colhia e, depois, refogava
Roupa branca a vovó fazia questão de alvejar,
lavava tudo com muito capricho. Vi-me sentada de
novo, ao lado do meu primo, perto daquele tacho,
ambos com a tabuada na mão. Lembrei-me de que,
com bastante alho; tão gostoso!
Fui trazida de volta daquelas minhas doces
memórias, quando ouvi o terapeuta dizer: “Vamos
dar início às perguntas? [..]
certa vez, a vovó tinha usado aquela colher de pau
para nos futucar, nos lembrar de que aquela não era
hora de rir ou de brincar com o barro, “aquela era
hora de estudar a tabuada!”. Eu adorava fazer bolo-
Ao chegar em casa fui para o meu quarto,
tinhas com o barro! Eu e meu primo gargalhávamos
precisava de isolamento total, de recompor as mi-
o tempo todo! Minha avó era uma mulher simples,
nhas forças, meu equilíbrio. Fui buscar abrigo em
dedicada, tímida e forte igual a um touro! Lembrei-
recordações maravilhosas. Pensei no quintal da vo-
me também do feijão delicioso que ela cozinhava
vó outra vez. Lembrei-me da sombra maravilhosa
semanalmente, naquele tacho, pude sentir aquele
que o gigantesco pé de jaca fazia naquele quintal.
cheiro maravilhoso mais uma vez. Vovó sabia que
Revi as mangueiras da casa de trás, casa da educada
eu gostava de tomar o caldo do feijão, meu pratinho
Nilce. Lembrei-me de que a mamãe costumava se
estava sempre reservado! Lembrei-me dos muitos
sentar embaixo daqueles pés de manga e se deliciar
pique e esconde com meu primo e meu tio; meu es-
com elas! Mamãe adorava lambuzar a mão enquan-
conderijo era na goiabeira, plantada ao lado da casa.
to chupava mangas, e eram muitas que caíam da-
Lembrei-me do meu avô, aquele caboclo alto, boni-
quele pé. Lembrei-me dos muitos cozinhadinhos
to, com um enorme dragão tatuado em todo o braço
que fiz à sombra do abacateiro, usando como pane-
esquerdo. Lembrei-me do vovô fumando o cachim-
linhas as colherinhas medidas que vinham dentro
bo, e das várias imagens de pai de santo que possuía
das latas de leite em pó, que a vovó usava. Lembrei-
no quartinho dele. Vovó e vovô moravam na mes-
me dela, lavando roupas para a família da Leda, co-
ma casa, porém, há anos separados, não se falavam
mo fonte extra de renda. Eu a vi mexer com uma
mais. Vovô tinha um Centro de Umbanda. Lembrei-
colher de pau comprida a roupa que fervia num ta-
me de que, certa vez, ouvi a vovó insinuar que o
cho enorme, preto, assentado sobre uma pilha baixa
marido era homossexual.
de tijolos; ali era o fogão de lenha, e ficava embaixo
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Aquele assunto nunca foi importante para mim, eu era uma criança, adorava o meu avô do jeito que ele
era, e a mamãe também; eles conversavam muito. Meu avô era maravilhoso, risonho, personalidade forte, e
tinha a cor de jambo! Quando abria um garrafão de vinho, daqueles de cinco litros, costumava dizer que
teríamos de bebê-lo todo, e isso era sempre uma festa! Ele me adorava, chamava-me: Eninha. Também me
lembrei daquele triste dia, quando ele estava no trem indo ao Rio de Janeiro. Dia que roubaram e mataram
meu querido avô. Minha mãe e meu irmão esperavam por aquele trem, para lhe acenarem adeus da janela
da nossa casa. Naquele dia, eu estava participando de uma apresentação de dança na escola. Eu tinha 12
anos, foi um choque terrível receber aquela notícia. Apesar dessa última lembrança, como eu era feliz!...
[...]
Conto re"rado do romance ‘Mevrouw Jane’, de autoria da autora
A primeira leitura ninguém esquece
Por Elise Schiffer
Há mais ou menos 48 anos atrás, no Bairro de Nova Iguaçu, uma região muito pobre bem no interior
do Rio de Janeiro, minha família (meus pais e duas filhas) seguiu numa Lotação (ônibus antigo da época)
para a casa de meus avós. Neste período de nossas vidas tínhamos o hábito de visitá-los uma vez por mês.
Acreditem era uma viagem, o trajeto levava duas horas de Nova Iguaçu a Vicente de Carvalho, local
ainda mais mais pobre que o nosso, se que é possível imaginar.
Neste época eu estava encantada com a leitura, juntar consoantes com vogais era algo mágico, mas
eu ainda não conseguia juntar rapidamente as silabas para ler uma palavra, lembro-me que eu lia pedaços
de tudo que encontrava a minha frente.
Neste dia eu estava sentada a janela da lotação, posição que escolhi para poder soletrar as letras que
formam os nomes das lojas.
Não posso precisar bem o período do ano, mais lembro-me que a lotação estava cheia e fazia muito
calor, só que no Rio de Janeiro faz calor o ano todo.
No meio do caminho a lotação parou na estação do bairro de Nilópolis, enquanto algumas pessoas
desciam e outras subiam na lotação, foi neste pequeno espaço de tempo que eu avistei uma palavra escrita
na parede da estação com tinta (era uma pichação, como se fala hoje), a palavra tinha 3 sílabas e eu as soletrei e li bem alto. Só que era um palavrão. Meu pai me repreendeu enquanto todos os passageiros riam,
mais eu repetia a palavra com orgulho sem saber o significado, juntar as sílabas e ler aquela palavra foi
algo mágico.
Hoje eu estou com 53 anos e minha mãe esta com 79 anos e apesar do tempo transcorrido ela ainda
lembra deste incidente. Desde então nunca mais parei de ler.
Peço desculpas a todos por não citar a palavra.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O Engenho de Açúcar dos meus bisavós
via – não apenas imaginava – não eram fantasmas;
mas lindas mulheres, sendo eu mesma uma delas,
rodopiando em vestidos de seda parecendo verda-
Por Guacira Maciel
deiras borboletas emergindo das vaporosas saias
sustentadas por anáguas com aspecto de asas colori-
Quando criança ia passar férias lá na fazenda
e me lembro como se ainda estivesse diante dos
meus olhos, da reprodução de um retrato a bico de
pena desse senhor bigodudo - Duarte Pacheco Pereira - que mais me amedrontava, pois não sabia o
que, exatamente, fazia ali na parede daquela misteriosa sala. Mas isso parecia já não ter a menor im-
das; os colos cintilantes com as pedrarias ostentadas, elas imitavam pombas arrulhantes, corando aos
elogios dos seus admiradores. Bem, não sei se seria
assim, verdadeiramente, já que entre essa época e
agora, quando resolvi registrar essa história, já se
passou muito tempo e poderei estar descrevendo
uma imagem acrescida de outras experiências, leituras, filmes (inclusive imagens, por exemplo, de “E o
portância...
Vento Levou...), e mais aquela impressão que a genO velho solar ancestral construído sobre uma
elevação que lhe conferia certa imponência era tão
te tem quando olha para um passado tão puro vivido
na nossa infância.
fantástico com aquela infinidade de janelas azuis
(ou verdes?), cujos peitoris assentados sobre paredes de 1.00m de largura, acomodavam deitado o
meu corpo de criança, onde gostava de ficar a sonhar. Acho que já existia em mim, de forma latente,
o gosto pela arte, pois comumente estava fora da
realidade do que ocorria à minha volta; me sentia
uma sinhazinha em seu “feudo”, instalado nos velhos salões em desuso, da parte de trás do assombroso casarão, com o assoalho já carcomido em sua
parte central e que, ao sentir o peso dos nossos corpos, correndo ao brincar de esconde-esconde, gemia
pedindo sossego.
Um pouco abaixo, fora do casarão, ao seu
lado direito, ficava o curral, onde, pelas quase madrugadas, ainda de pijamas de flanela ia beber leite
cru “pra ficar forte”, e observar, encantada, o azáfama dos vaqueiros sob a orientação de Ernesto, neto
Lá, brincava de esconder com irmãos e pri-
de escravos do antigo Engenho. O velho vaqueiro-
mos e às vezes, como me distraia encarnando algum
mor distribuía as ordens em lamentoso tom de voz,
personagem de outra época, que vivia nas histórias
remanescente, talvez, das lembranças retidas na sua
que ouvia das minhas tias e empregados, e também
memória, sobre o dia-a-dia da senzala, cujas casas,
no meu vivo imaginário, nunca era encontrada, fi-
já em ruínas ainda conheci, habitadas por velhíssi-
cando para trás nas brincadeiras. Quando dava por
mos descendentes de escravos que não tiveram ou-
mim estava sozinha e com medo dos fantasmas que
tro lugar para morar após se verem livres do vergo-
os supersticiosos diziam morar por ali. Os que eu
nhoso estado de escravidão em que foram jogados.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Mas como desconhecia todas essas mazelas na pureza da infância, achava doce adormecer na fazenda. As lembranças do ocaso contêm ainda hoje o som da brisa fresca nos canaviais e o cheiro doce da canade-açúcar ao receber o bafejo dos ventos noturnos; dos gritos dos vaqueiros colocando o gado dentro do
curral para passar a noite; do canto dos grilos e dos sapos – a mim, me sabia a canto – além, lá pelas tantas,
dos barulhos do velho casarão, feitos por seus ativos habitantes noturnos; alguma coisa entre ratos e fantasmas, personagens das histórias contadas pelos empregados, sobre escravos arrastando grilhões e entoando
cânticos saudosos que falavam da sua terra natal, de onde haviam sido brutalmente arrancados pela ganância e o desrespeito, muitas vezes com a conivência do seu próprio povo.
O amanhecer, não menos gostoso, exalava um cheiro que prenunciava as delícias que teríamos ao
fartíssimo café . Aliado àquele barulho tão característico, ouvíamos ao longe o burburinho da lida dos empregados. O ranger musical do carro de boi transportando a cana recém ceifada dos pés, ao ritmo cansado
da parelha de animais, e o chiar das palhas se arrastando malemolente no chão por onde o carro passava
entre buracos e saliências do barro vermelho do massapé, a caminho da usina; dos gritos dos vaqueiros separando o gado para levar aos pastos; dos bezerros gritando por se verem afastados das gordas tetas de suas
mães, que agora teriam outras bocas para alimentar. Mas da cozinha...ah!...dali vinha o melhor de todos os
barulhos e cheiros, como aquele do café que em breve agasalharia os nossos ávidos estômagos de crianças,
com banana frita, queijos caseiros, cuscuz, beiju na manteiga, coalhada e outras delícias.
Tempos de criança
Por Maria Moreira
Nossa infância de ternura
Se foi e deixou saudades
Da turma e das travessuras
Que nos seguiu para mocidade
Nossos tempos de peraltice
Levando a vida de brincadeira
Nas poucas hora de chatice
Abrindo a boca numa berreira
Para escola chutado latinhas
La vão meninos levantando poeira
Que belo tempo e que turminha!
Que inocência tão passageira.
Verdes horas desfrutando a vida
Na corrida do tempo lá se foi!
Foi tão rápido como em descida
Deixando Saudades que ainda dói
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Bolo de Chocolate
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Se você não tem muita prática na cozinha, mas gostaria de preparar uma receita simples e saborosa, confira nossa
sugestão de bolo de chocolate.
Ingredientes da Massa
• 1 xícara (chá) de leite
• 1 xícara (chá) de óleo
• 2 ovos
• 2 xícaras (chá) de farinha de trigo
• 1 xícara (chá) de achocolatado em pó
• 1 xícara (chá) de açúcar
1 colher (sopa) de fermento em pó
Ingredientes da Cobertura
• 2 colheres (sopa) de manteiga
• 3 colheres (sopa) de achocolatado em pó
• 3 colheres (sopa) de açúcar
5 colheres (sopa) de leite
Modo de Preparo (MASSA)
Coloque todos os ingredientes sólidos ( trigo, achocolatado, açúcar e fermento) da massa no liquidificador
e bata por alguns minutos. Assim que tudo estiver bem misturado, acrescente os ingredientes líquidos
(leite e óleo). Depois que a mistura estiver bem homogênea, unte uma forma com farinha e manteiga e
despeje a massa. A massa ficará no forno por cerca de 20 minutos, tudo depende da potência de seu forno.
Modo de Preparo (COBERTURA)
Coloque a manteiga na panela e em seguida misture o leite, açúcar e o achocolatado em pó até que a mistura fique consistente. Assim que a cobertura estiver pronta, despeje-a sobre a massa que estava no forno.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
INSCRIÇÕES ABERTAS
1)
DA SELEÇÃO E DA PARTICIPAÇÃO
1.1. O Varal Antológico é promovido pelo VARAL DO BRASIL ®, revista literária eletrônica
realizada na Suíça (ISSN 1664-5243).
1.2 Serão consideradas abertas as inscrições
a partir de 20 de julho até 20 de setembro de
2012. Caso o número de participantes ideal
seja atingido, as inscrições poderão ser encerradas mais cedo.
1.3. Poderão participar da antologia todas as
pessoas físicas maiores de 18 anos, ou menores com permissão do responsável, de qualquer nacionalidade ou residentes em qualquer
país, desde que escrevam na língua portuguesa.
1.4. A coletânea terá tema livre e será composta por diversos gêneros literários, o escritor
podendo enviar contos, poemas, trovas, haicais, sonetos e crônicas ou outros.
2)
DA ACEITAÇÃO DOS TEXTOS
2.1. Serão aceitos textos em língua portuguesa, com tema livre, em formato A4, espaços de
1,5, fonte Times New Roman de tamanho 12 e
que não ultrapassem quatro páginas. Os textos deverão vir acompanhados dos dados de
inscrição (ver abaixo).
2.2. Não serão aceitos textos que pertençam
ao universo de personagens já existentes criados por outro autor. Também não serão aceitos textos politica ou religiosamente tendenciosos, que expressem conteúdo racista, preconceituoso, que façam propaganda política ou
contenham intolerância religiosa de culto ou
ainda possuam caráter pornográfico. Também
não serão aceitos textos que possam causar
danos a terceiros ou que divulguem produtos
ou serviços alheios.
2.3 Os textos não deverão ter ilustrações ou
gráficos.
2.4 Serão recusados os textos que não vierem
na formatação requisitada, assim como os textos que chegarem colados no corpo do e-mail.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
2.5. Os textos recebidos serão examinados
por uma banca formada pela equipe do VARAL DO BRASIL ® e alguns escritores e/ou
críticos convidados. A avaliação se dará com
base nos seguintes critérios: criatividade e originalidade do texto, assim como a qualidade
do mesmo.
2.6 Os textos deverão vir acompanhados de
uma pequena biografia. A biografia, escrita na
terceira pessoa, deverá conter no máximo cinco linhas (A5, letra Times New Roman 12, espaço 1.5). Lembre-se sempre que numa biografia, como em muito na vida, menos é mais.
2.7. Os textos devidamente formatados deverão ser enviados para o email: [email protected], juntamente
com os dados de inscrição e demais documentos de autorização.
2.8. Ao se inscrever na Antologia o autor autoriza automaticamente a veiculação de seu texto, sem ônus para a revista VARAL DO BRASIL ® nos meios de comunicação existentes
ou que possam existir com a intenção de divulgar a antologia.
cerradas antes, caso o número de textos recebidos e avaliados sejam aprovados antes da
data, no formato e padrão já descritos. O livro
será publicado em 2013. As inscrições só poderão ser feitas pelo email [email protected]
OS NOMES DOS SELECIONADOS SERÃO
DIVULGADOS NO DIA 30 DE SETEMBRO
POR E-MAIL.
3.2. Para participar os candidatos deverão,
além de enviar um ou mais textos de acordo
com as regras estabelecidas neste regulamento, fornecer o formulário anexo preenchido.
3.3. Só serão aceitas inscrições através dos
procedimentos previstos neste regulamento.
Os dados fornecidos pelos participantes, no
momento das inscrições, deverão estar corretos, claros e precisos. É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização da Antologia.
3.4. Todo autor é proprietário dos direitos autorais dos textos por ele enviados para publicação no livro e cuja autoria seja comprovada
pela declaração enviada;
3.5. Em caso de fraude comprovada, o texto
será excluído automaticamente da antologia. Cada autor responderá perante a lei por
plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral.
Lançamento Varal 2 em Brumadinho
3) SOBRE AS INSCRIÇÕES PARA A
SELEÇÃO:
3.1. As inscrições para a Antologia serão abertas no dia 20 de julho 2012 e encerradas no
dia 20 de setembro de 2012, podendo ser en-
3.6 Todo autor é livre para divulgar, preparar
lançamentos, noites de autógrafos, individuais
ou em conjunto, do livro VARAL ANTOLÓGICO 3, desde que se responsabilize por todas
as despesas - preparativos para lançamento,
custos administrativos e convites, compra de
exemplares a mais do que os recebidos pela
participação – pertencendo também ao participante o valor das vendas dos livros em questão. Para tanto, o participante apenas deverá
entrar em contato com a revista através do email [email protected] para que o número de exemplares lhe seja enviado mediante pagamento (preço da editora / remessa),
notando-se aqui a antecedência requerida. O
VARAL DO BRASIL® reserva-se o direito de
estar ou não presente nos lançamentos organizados pelo autor.
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64
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
4.3. O recebimento do pagamento total dá ao
autor a garantia de sua participação na coletânea. O não recebimento de nenhuma parcela
até o dia 10 de novembro de 2012 anula a participação do autor.
4.4. O pagamento parcial do valor cooperativo
não dá direito à participação no livro. Caso o
autor não termine o pagamento acordado, será
substituído por outro participante e comunicado através de e-mail.
Lançamento do Varal 1 em Florianópolis
4.5. No dia 20 de dezembro considerar-se-á o
livro fechado.
3.7. Os participantes concordam em autorizar,
pelo tempo que durar a antologia com a editora, que a organização faça uso do seu texto,
suas imagens, som da voz e nomes em mídias
impressas ou eletrônicas para divulgação da
Antologia, sem nenhum ônus para os organizadores, e para benefício da maior visibilidade
da obra e seu alcance junto ao leitor.
4) DO PAGAMENTO PELO SISTEMA
DE COTAS
4.1. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá proceder ao
pagamento da seguinte forma:
(a) Cada autor pagará o valor de R$ 550,00
(quinhentos e cinquenta reais) que podem ser
pagos à vista ou
(b) em duas parcelas de R$ 290,00, sendo o
primeiro pagamento até 31 de outubro de 2012
e o segundo e último pagamento até 30 de novembro de 2012.
(c) O pagamento deverá ser feito no caso do
autor receber comunicação comprovando a
aprovação do (s) seu (s) texto (s)
4.2. A cada depósito o comprovante deve ser
enviado para o email [email protected]
4.6. O (s) depósito (s) deverá (ão) ser feito (s)
em nome de:
*Estas coordenadas serão fornecidas por email
*É imperativo que o comprovante de depósito
seja enviado para nosso e-mail para confirmação do pagamento.
4.7. Não haverá prorrogação dos prazos de
depósito em respeito a todos os participantes
selecionados. Pequenos atrasos podem ser
considerados desde que avisados através do e
-mail [email protected] e em acordo
com a equipe organizadora.
4.8. Os participantes receberão um total de 10
exemplares da Antologia por participação.
O livro terá aproximadamente 250 páginas no
formato padrão (14 x 21 cm)
Capa nas medidas 14 x 21 cm fechado; Laminação BOPP Fosca (Frente);
Capa em Supremo 250g/m² com 4 x 0 cores;
Miolo
Fechado em Pólen Soft 80g/m² com 1 x 1 cores
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Os serviços prestados serão de editoração
completa:
Leitura e seleção
são composta pela equipe organizadora e sua
decisão será irrecorrível.
5.3. Para todos os efeitos legais, o participante
da presente Antologia, declara ser o legítimo
autor dos textos por ele inscritos, isentando os
organizadora a editora de qualquer reclamação ou demanda que porventura venha a ser
apresentada em juízo ou fora dele.
Revisão
Projeto gráfico
criação de capa
ISBN e ficha cartográfica
impressão
4.9. A presente antologia será editada pela
Design Editora com o selo editorial Varal do
Brasil, será registrada e receberá ISBN , mas
cada autor é responsável por registrar suas
obras.
4.10. A remessa dos exemplares para o endereço do autor que não se encontrar presente
quando do lançamento do livro será paga pelo
mesmo, independente do valor pago pela participação. A remessa acontecerá após o lançamento do livro e o autor deverá solicitar o valor
do frete pelo e-mail
[email protected]
Lançamento do Varal 2 em Salvador
5) OUTRAS INFORMAÇÕES
5.1. Dúvidas relacionadas a esta antologia e
seu regulamento poderão ser enviados para o
e-mail [email protected]
5.2. Todas as dúvidas e casos omissos neste
regulamento serão analisados por uma comis-
5.4. O VARAL DO BRASIL ® reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Antologia,
bem como interrompê-la, se necessário for,
fazendo a comunicação expressa aos participantes.
5.5. A participação nesta Antologia implica na
aceitação total e irrestrita de todos os itens
deste regulamento.
5.6. A data prevista para a entrega dos exemplares do livro VARAL ANTOLÓGICO 3 é durante o lançamento do mesmo em 2013 (data
a ser agendada) e pelos correios em média
vinte a trinta dias após o lançamento (O autor
se responsabilizará por pagar o frete caso deseje receber seus livros pelos correios). Será
oportunamente discutida uma noite de autógrafos organizada pela revista VARAL DO
BRASIL ®
5.7 Em caso de, por motivos de força maior,
não puder ser realizado um lançamento físico
do livro VARAL ANTOLÓGICO 3, os livros poderão ser requisitados pelos autores através
do email [email protected] após
aviso por parte do VARAL DO BRASIL ® e
um ou mais lançamentos virtuais poderão ser
realizados.
5.8. Os livros ficarão à disposição na editora
para serem solicitados por TRÊS meses após
o lançamento e/ou aviso aos autores por parte
do VARAL DO BRASIL ®. Após esta data considerar-se-á que o autor não deseja receber
os livros e os mesmos poderão ser doados a
alguma escola, biblioteca ou outros.
5.9. O fórum para qualquer recurso é situado
em Genebra, Suíça.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Pipagaio
Por Valquíria Gesqui Malagoli
Meus irmãos, no quintal,
pegavam linha, bambu,
cola e papel vegetal
branco, vermelho, azul...
Faziam papagaios de papel,
enquanto o de verdade os via.
Mas, os de mentira iam ao céu...
enquanto o verdadeiro os assistia.
Eu falava: “voa, Loro! Voa alto!”.
Só que ele, ah, nem me escutava.
Apenas, no poleiro, dava um salto,
e, rodopiando, assoviava.
– “Mãe, por que o Loro não voa?”,
eu tagarelava igual a um papagaio.
Foto de Valquiria Gesqui Malagoli
E a mamãe: “isso não é à toa...
o loro tem medo de raio!”.
Daí, meu pai me distraía:
– “É papagaio ou pipa, filha?”.
Mas, antes de eu responder, ele já ria:
– “É pipagaio. E não usa pilha!”.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Piloto, o cão amigo
Por Arlete Trentini dos Santos
Pilotinho chegou na casa família Giotti ainda um bebê cão, um filhotinho.
Cheio de graça conquistou a família.
Era brincalhão e também bagunceiro. Gostava de dormir na lareira.
Ela nem era usada mesmo, e para ele era um cantinho bem aconchegante.
Pilotinho e Daniel se divertiam juntos. Rolavam na grama ,brincavam de bola, corriam atrás de
borboletas até ficarem de língua de fora. Os dois é claro...
Um dia na volta da escola Daniel viu que tinham construído uma casinha no jardim para Pilotinho.
Daniel não gostou desta ideia ,e quis saber o porque.
O pai e a mãe explicaram que Piloto já era grandinho, e que estava estragando as coisas da casa.
Daniel choramingou e disse:- quando eu faço alguma coisa errada vocês me explicam que não
é certo, mas vocês não me colocam na rua.
Ele não sabe que esta fazendo bobagem, ele pensa que tudo é brincadeira.
E vocês dizem que o cão é o melhor amigo do homem.
Quando vem um amigo aqui em casa , ele não fica no jardim, ele vem para sala.
O Piloto é ,ou não é, nosso amigo?
-Muito bem, Daniel, nós também somos responsáveis por nossos amigos.
Amizade é uma coisa muito preciosa, e deve ser cultivada .
E em resposta as suas perguntas, vamos lá:
Pilotinho pode continuar dormindo aqui nesta sala, na lareira, mas só se você se comprometer
a deixar o pote da água e da ração sempre bem limpinhos, e levar este cão a fazer suas necessidades na rua.
Nós entendemos que você ama muito o Pilotinho, e quem ama também cuida.
A casinha ficará lá no jardim. Um dia Pilotinho pode querer morar lá.
Ele até pode ter uma família ,mas isso só na casinha dele, certo?
Sorrisos ,latidos e rabinho abanando.
Uma cena muito divertida.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
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INFÂNCIA
Por Emérita Andrade Ramos
As asas da cotovia,
Juntas formavam um par.
O teu canto, cotovia,
Jamais irei escutar...
Lembro-me quando criança,
h p://espacoescolar.com.br
Aquela infinita beleza,
Sabiás e rouxinóis,
Brejeirice camponesa...
Mas, a cotovia triste,
NOSSAS CRIANÇAS
Por Cléo Reis
Com seu canto apaixonado,
Gorjeava solitária,
No mamoeiro do lado...
O sol forte bronzeou a juventude
na areia alheia ao mundo rude
O mar tentou curar corpos idosos,
Oh! Tardes da minha infância,
donos de olhares ainda esperançosos
Carinho arrebatador...
Mesmo agora, meia-idade,
Sinto ainda o teu sabor!
A “ gata” acha que todos olharam
as suas curvas de beleza ideal
O “gato” tem certeza que inventaram
Ovos batidos com açúcar,
a musculação que o torna imortal
Com canela pra enfeitar.
Com que volúpia lambia
As colheres do manjar...
Oh! Ventura deleitosa,
Sempre à memória tornai:
A hora da Ave-Maria,
E o carinho de papai.
Plúmbeas nuvens surgiram para a elite,
indignada no seu veraneio
pela excursão do farofeiro
Não perceberam no verão vivo, de alma nua,
que o céu chorou : água da casa de
pau-a-pique
e chorou o céu, p´ra banhar as crianças de
rua
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
NO MUNDO DA
FICÇÃO CIENTÍFICA
Por Daniel C. B. Ciarlini
O invento de Matias
Hoje o tempo não é mais o da rapidez,
da modernidade. Já não existe mais a poética do presente, que pertencia tão bem a Carlos Drummond de Andrade. Percebemos que
todo o progresso científico não deveria interferir em nossas artes e costumes. Vivemos, portanto, o tempo da nostalgia, onde tudo tem seu
passo para celebrar aquilo que um dia fora
querido por nossos antepassados. Um ser, porém, nunca se adaptara. Ele era Matias.
Foi mais ou menos no ano de 2413 que
o conheci. Rosto pálido, nuca acentuada, poucos cabelos e olhar impreciso. Era um homem,
sem dúvida, misterioso, de poucas palavras e
raros amigos. Naquele tempo, se não me engano, ainda contávamos com os arcaicos sistemas de climatização artificial programados
por botões. Em Parnaíba, por exemplo, existiam os dias de tempestade, os dias de sol e
aqueles de pouca chuva, apenas para resfriar.
Tudo se controlava. Nos tempos de seca, um
pouco de chuva; nos tempos de frio, um pouco
de calor.
As plantações eram as que mais respondiam às benesses da ciência.
Além das alterações gênicas que fortaleciam as espécies vegetais, contava-se com o
sistema climático de apoio. Logo, em pouco
tempo, tornava-se a cultura vegetal o negócio
mais lucrativo da cidade. Todos os lavradores
eram cientistas, não tinham outra formação a
não ser o de doutorado em suas áreas específicas. Viviam em condições agradáveis, sempre experimentando. Ao contrário do que se
pensava nos séculos de antanho, as comidas
não tenderam a ser artificiais, mas orgânicas
em demasia e em abundância.
E em que parte entra a figura de Mati-
as? Bem, Matias era um desses lavradores.
Lavrador e cientista, necessário que se reforce. E dos mais avançados. Desenvolvera o
que se tinha de mais moderno na região: os
processadores universais de energia contínua.
Em outras palavras, o afamado moto-contínuo
sonhado desde o século XVIII, com uma enorme diferença: sendo universal, o seu processo
de síntese energética podia advir de qualquer
matéria existente neste mundo ou em outro, já
que toda matéria encerra energia. Diziam os
mais otimistas que a geringonça podia usar
até as forças siderais, o que não passava de
exagero. O certo era que a invenção de Matias
mudou o rumo da humanidade. Os processadores universais foram responsáveis por tirar o
homem da idade da roda para a sua fase mais
madura na tecnologia, pois que a velha roda
para funcionar necessitava de gastos energéticos.
O aparelho de fato conseguia sintetizar
positivamente energia a partir de tudo. Até do
nada, como falavam. Podia usar a força gravitacional, a força dos ventos, das marés, do calor, da água, enfim, tudo aquilo que encontrasse no seu raio de abrangência com capacidade de exceder a sua vida útil. Um sistema inteligente que depois de finalizado não prejudicaria a matéria ou a não matéria da qual se utilizava.
– Sr. Matias, não pretendes exportar a
ideia?
– Para onde? – questionou ele.
– Para as grandes ligas internacionais,
o mundo cairia diante de teus pés.
– Pouco importa – esnobava –, a grande centelha da ciência humana não é válida aos infames de carteirinha. Ela não passa de um flash
e, ademais, ando já bastante ocupado com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
outras ideias que me têm tirado o sono há
duas semanas.
– E podemos saber do que se trata?, nossa comitiva anda realmente interessada nas tuas descobertas.
CREANÇA
– Tempo ao tempo, homens, tempo
ao tempo.
Por Roberto Armorizzi
Não pudera, porém, desenvolver a
ideia como pensava. Em mais duas semanas Matias havia envelhecido vinte anos.
Mostrava-se cansado. Diziam que o gênio
da tecnologia estava agora esgotado e que
o saldo positivo de sua inteligência sequer
fora capaz de criar algo que o permitisse a
longevidade. Cientistas e médicos sabendo
de seu problema tentavam consultá-lo,
mas Matias não os atendia. As portas de
seu laboratório, sempre fechadas. Estava
trabalhando nos últimos ajustes dos processadores. Dentro de dois meses estariam no mercado.
Um fato inusitado, entretanto, aconteceu. Acordei esta manhã sabendo de
uma notícia das mais tristes, o mundo se
ressentia: a morte de Matias. Motivo? Envelhecimento precoce. Os cientistas examinaram o seu corpo e logo descobriram: os
tais processadores haviam sugado toda a
energia vital do cientista. Tornando-os universais o gênio se esqueceu que os humanos poderiam sofrer com as consequências.
Somente ontem, depois de três dias,
conseguiram desativar a tal máquina. Parnaíba respira melhor e os velhos de outrora
parecem mais vivos e menos doentes, provavelmente durarão mais uns 150 anos,
isso se suportarem aos anseios dos alimentos não iodados.
Neologismo gentil,
que me faz pueril
e meu mundo, invade;
creança,
é criança saudade,
de um outro tempo,
de uma tenra idade...
Hoje ela chega
em tempo – tempestade.
Por fim, sofro com intensidade,
ao saber
que o mundo aparenta bondade.
O que salva?
pura beldade,
criança – realidade,
não como nós,
adultos – desamor – pouquidade.
Ela avança, em futuro se lança,
ao não ser mais criança,
para crer – ser – bonança,
creança,
amor, bela idade,
confiança,
fraternidade,
só criança alcança,
de verdade!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
SONS DA MINHA INFÂNCIA
Por Carlos Roberto Pina de Carvalho
Sons da minha infância
O apito das fábricas
No Ipiranga.
O garrafeiro que passava todos os dias,
O amolador de facas,
O bolacheiro que vinha as quintas e sábados,
O verdureiro.
Sons gravados na memória
O sino da igreja,
Do sorveteiro,
h p://do-alto-da-pedra.blogspot.ch
Do velho do realejo,
Do menino do algodão doce.
Sons impossíveis
De serem esquecidos
Pois dentro de mim
Tornou-se cicatriz!
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
SÓ O AMOR DE MÃE
Por MOR
O que escutei retratar
Só o calor de uma mãe
Poderia tudo enfrentar
Aquele fruto do amor
Um bebe pequenino
Que cabia em sua mão
Era tão miudinho
Enrolado em algodão
Boca bem pequena
Nem conseguia mamar
O maior problema
Logo ele ensinar
Aquela boquinha abrir
Para o mamilo sugar
O gosto de leite sentir
Para logo alimentar
Sua traqueia estreita
Logo ao respirar.
Um assovio se ajeita
A juriti imitar.
Deste bebe cuidar
De uma mãe o calor.
Tudo a justificar
Com seu grande amor.
Infâncias
Por Morgana Gazel
Você sorri um sorriso dourado
protegido entre paredes sólidas
cama macia, barriga nutrida
inocência e folguedos.
Caminhõezinhos tantos
dificultam o trânsito no quarto.
Indumentária do time da família
jogos que a inteligência incentivam
coração sem mágoas acumuladas.
Na adolescência você diz:
“Vou a Disney.”
Você me olha tristonho
face de borralheiro
enquanto o estômago reclama.
Seus brinquedos quebrados
foram tirados do lixão da cidade.
Trapos, pedaços de papelão
são sua cama. No coração
mágoa e ódio guardados.
Na adolescência, você grita:
“Passa a grana aí, meu irmão!”
A arma roubada na mão.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
MEDITAÇÃO (DEPOIS DO BANHO)
Por Ro Furkim
Os arabescos de Matisse são cabelos ao vento, nos quais me agarro e viajo de volta à infância.
Junção dos Sessenta com os Setenta. Acontecia uma revolução estética que eu só viria a conhecer
tarde demais. Por ora havia treliças de madeira separando copas de cozinhas. Numa das residências
Calheiros um cheiro maravilhoso de sopa de legumes picados a miúdo com caldo abundante e enriquecida com bonitos ossos de boi. Nunca vou entender criança que não come pedaços de cebola cozida.
Eu às vezes estava lá esperando minha irmã terminar o serviço para irmos embora. Não me lembro
bem por que ia lá. Decerto para farejar essa sopa vespertina, praxe de todas as melhores residências.
Minha irmã adolescente fora instruída no preparo enquanto a patroa ocupava-se a costurar para as clientes abastadas de Maceió _ entre as quais uma menininha chamada Rosane que viria a ser Primeira
Dama do Brasil. Eu aguardava assistindo à Pantera Cor
de Rosa, que, fato curioso: tinha muita fome e recortava
um peixe de uma revista, fritava-o, comia e jogava fora a
espinha. Se não me engana demais a memória. Engraçado ela também ter miragem de comida. Muitos anos depois leio Clarice Lispector a mencionar a fome brasileira
daqueles dias. O cartoon é de Hollywood, mas a função
da televisão sempre foi catar coisas do mundo todo para
dar espelho à gente.
Pelas treliças acho que se infiltravam azedinhas,
capuchinhas, avencas, samambaias, acácias. Arabescos
enfim. Como os arcos da cadeira de balanço do patrão.
E os da poltrona de fios do titio Pedro, aposentado
da Petrobrás, cuja casa exalava carne de panela temperada com cominho e pimenta do reino moída na hora. O
molho com colorau untava e avermelhava o arroz nos
bocados remexidos no prato. Com garfo. Nalguns ensolarados domingos em que mamãe arranjava uma desculpa
para subirmos à visita no bairro do Farol. Chuveiro no
banheiro e azulejos floreados de um lazuli que se repetia
na parede da igreja de Santo Antônio. Na praça, depois
da missa vespertina, tudo se azulava pelas lâmpadas fluorescentes dos postes. Os buquês de roletes de cana
exibiam tom misteriosamente festivo, espetados numa
tábua perfurada, para se venderem a centavos escassos.
Ilustração de Ro Furkim
Havia um piano, vez em quando? Devia haver, alguém tomava lições. Ou é projeção minha, só
porque Alba Cristina era todos os dias levada ao colégio particular pela babá, que noutras horas bordava sentada atrás do balaústre. Faltava-me assunto com a prima, qualquer tema em comum para desenvolver brincadeira. De segundo grau, porém. O pai, Nelson, é que era primo de mamãe. Funcionário
público de algum status, a julgar pelo estilo de vida. De quais temas, por sua vez, deviam partir as conversações com a lavadeira analfabeta, não sei. Não me lembro de haver reparado. E o odor evocado
pela casa já não é de alguma comida. É só respiração de vida burguesa, tranquila, aprazível e “normal”.
Embora no quadro de Matisse a sensualidade da escultura nua contraste com a rotina burguesa,
mas sem rosto, sem ver, sem ouvir, sem falar, inerte quanto ao tédio, eu sou aquela pequena chama da
vela.
Sei lá. Orientalismo, papel de parede ocre com vinho, madeira escura e trepadeiras, cercas vivas, arabescos azuis... até hoje me matam.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Particularidade, Universalidade e
Singularidade: definindo conceitos
fundamentais para a Metodologia da
Pesquisa em Ciências Sociais
Por André Valério Sales1
1. Introdução:
Este ensaio foi escrito no âmbito de meus
estudos acerca da Cultura Urbana na sociedade capitalista contemporânea, área das ciências sociais à
qual venho dedicando-me há alguns anos. Com ele
busco contribuir para o debate atual acerca de universalismo e particularismos, intentando esclarecer
as definições do que vem a ser: particularidade, universalidade e singularidade, no sentido de ajudar na
reflexão sobre as respostas possíveis que são colocadas pelas interrogações presentes no debate dobre
tais definições e seus usos na análise de fatos contemporâneos, a base do texto é o tema da metodologia de pesquisa em Ciências Sociais.
É de interesse tanto da Sociologia quanto
da História, na atualidade, a questão dos conflitos e
contradições entre atitudes e movimentos sociais de
caráter particularistas ou universalistas. Principalmente no plano político-social do Brasil de hoje
(2012), quando um representante da “classe” trabalhadora, e do Partido dos Trabalhadores, ascendeu
recentemente ao poder, enquanto Presidente do país, Luís Inácio Lula da Silva (por dois mandatos:
2003-2006 e 2007-2010), conseguindo também repassar o maior cargo do Brasil para outra petista, a
atual Presidenta, Dilma Rousseff (2011-2014). Neste contexto, retomam-se com mais intensidade os
debates sobre particularismos e universalismos; como já observou o célebre historiador francês Jacques Le Goff, a universalidade é um valor “cuja ressonância política é clara” (1990: 193). E nós, os críticos sociais do presente, não devemos nos ausentar
destas polêmicas e nem mesmo inserirmo-nos nelas
sem um claro entendimento destes conceitos e de
suas interligações com a realidade social.
Tomando então o exemplo dos dois Presidentes da República citados, utilizo aqui seus papéis
sociais, delegados pela maioria da população que os
elegeu, como pretexto para iniciar a discussão, e
inicio perguntando: até onde poderiam ir os desejos
e interesses pessoais (singulares), de Luís Inácio,
quando ocupou tal cargo, assim como até onde podem ir as vontades singulares da pessoa de Dilma
Rousseff quando ocupa agora a Presidência da República?
Até que ponto se diferenciam e entram em
conflito os interesses particulares de “uma classe”
social (no caso, a classe trabalhadora, representada
pelo Partido dos Trabalhadores) com os de outros
segmentos sociais, como as classes médias e altas
(as elites)? E em quais momentos é preciso que uma
classe social, que esteja no poder, abandone seus
interesses particularistas de classe, em favor das
necessidades universais do conjunto da sociedade
brasileira?
Minha intenção aqui não é a de responder
a estas perguntas, mas, ajudar ao leitor a refletir sobre as respostas possíveis a elas; e o modo melhor
que vislumbro, de contribuir para essas reflexões
tão fundamentais hoje, é buscando tornar mais inteligíveis os principais conceitos aí envolvidos, ou
seja, definindo: particularidade, singularidade e universalidade.
Ao se consultar os dicionários mais comuns, os mais socializados no país, nota-se que são
bastante sintéticos: por exemplo, o célebre Aurélio
(de bolso) conceitua o universal como se referindo
ao universo, ao que é mundial, àquilo que é comum
a todos os homens; ou ainda, “a um grupo dado”; o
singular, por sua vez, é o que pertence a um, ao
número que indica uma só coisa ou pessoa; singularizar é “tornar singular, particular ou específico”; e
o conceito de particular, é o relativo a apenas certos seres vivos ou a certa(s) pessoa(s) ou coisa(s), é
o relativo a “uma pessoa qualquer” (ver MiniAurélio, Ferreira, 2001).
Já o Dicionário Houaiss, considerado por
muitos como “o melhor” do Brasil, conceitua o universal enquanto algo que é “comum, relativo ou
pertencente ao universo inteiro”, algo “comum a
todos os componentes de determinada classe ou
grupo” (2009: 1907); o singular refere-se àquilo
que “se aplica a um único sujeito”, e também coloca
“particularizar” como sinônimo de singularizar (id.:
1750); e particular é “próprio ou de uso exclusivo
de alguém; privativo, privado”, sendo sinônimo,
inclusive, de “um indivíduo qualquer” (id.: 1439).
———————————————————
1 Tem graduação (UECE, 1991) e mestrado (UFPB, 1996) em
Serviço Social. Cursa, desde 2000, enquanto aluno especial,
disciplinas do doutoramento em Sociologia (PPGS/UFPB).
2 Ver, por exemplo: Gabriel Cohn, “Introdução”, In: COHN,
G. (Org.), Weber – Sociologia (2002); e Leopoldo Waizbort,
As aventuras de Georg Simmel (2000).
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
A princípio, o leitor pode confundir-se inteiramente e até mesmo desistir de entender os esses
três conceitos, pois segundo um dos Dicionários
mais usados no Brasil (Aurélio), assim como de
acordo com aquele geralmente considerado “o melhor” do país (Houaiss): o particular diz respeito a
certas pessoas (grupos, portanto), certas coisas, no
plural, mas também poderia ser relacionado a uma
pessoa qualquer (no singular), um indivíduo. Já o
singular, é o que pertence a um só, a um único sujeito, mas, ao mesmo tempo, singularizar é definido
como o mesmo que “tornar particular”, particularizar. Já o universal seria o que é comum “a todos os
homens”, e ao mesmo tempo, pode ser tido como o
que é comum a todos que pertencem a uma classe
ou “um grupo”.
Na verdade, se sairmos dos Dicionários
comuns e adentrarmos às disquisições filosóficas ou
sociológicas mais aprofundadas, encontraremos justamente essa mesma mistura, essas mesmas contradições, porém, entenderemos também que há, por
fim, uma relação de complementaridade entre o singular e o particular, entre particular e universal, assim como podem ser complementares entre si a singularidade e a universalidade, como veremos a seguir.
2. As três definições segundo as Ciências Sociais:
No âmbito das Ciências Sociais contemporâneas, o
pensador múltiplo Georg Lukács, de origem húngara, escreveu em 1957 um livro dedicado inteiramente à elucidação da categoria da particularidade:
Introdução a uma estética marxista: Sobre a categoria da particularidade, e é a partir deste autor que
busco um esclarecimento melhor acerca da definição dos três conceitos em questão. Lukács (18851971) foi amigo dos sociólogos Georg Simmel,
Max Weber, Karl Mannheim, Tönnies, dentre outros (Frederico, 1998: 9); também participou dos
cursos de Georg Simmel na Universidade de Berlim, na Alemanha, entre 1909-1910, chegando a ser
“o aluno favorito de Simmel e assíduo frequentador da sua casa” (Netto, 1981: 11, grifo meu). Todos estes intelectuais, na maioria sociólogos e filósofos a um só e mesmo tempo, participavam de grupos de estudo (Schiur – seminário particular), aos
domingos, variando suas presenças nas casas de uns
e de outros. Isto significa que o contato de Georg
Lukács com a Sociologia, de modo algum, era superficial.
Em seu livro sobre a categoria da particularidade, o escritor húngaro expõe vários exemplos
de situações que demonstram o que vem a ser o singular, o particular e o universal. No capítulo central
de seu trabalho, no qual ele define detalhadamente a
categoria da particularidade e, em consequência,
seus complementos obrigatórios, o singular e o universal, Lukács (1978: 76) inicia definindo que o
singular é o que é próprio ao indivíduo, ao especificamente pessoal; já o particular refere-se aos
“interesses de classe”; e o universal, aos “interesses
de toda a sociedade”.
Já de outra forma, o autor em questão
exemplifica as relações entre as três categorias teóricas, ligando-as então ao conceito de Trabalho. Segundo ele: considerando-se o trabalho em si mesmo, pode-se designar a “divisão da produção social
em seus grandes gêneros, agricultura, indústria, etc.,
como divisão do trabalho em geral”; enquanto divisão do trabalho em particular, a divisão destas classes de produção pode ser feita “em espécies e subespécies”; e, finalmente, de maneira singular, pode
-se pensar a “divisão do trabalho dentro de uma oficina como divisão do trabalho em detalhe” (id.: 96,
grifado no original).
Continuando seus exemplos, para melhor
explicitar os três conceitos em análise, e ainda referindo-se às relações de trabalho sob o capitalismo,
Lukács observa que entre o capitalista e o operário
há uma terceira coisa (como pode ser o caso da
Concorrência), uma coisa particular, portanto, que
faz o intermédio entre dois seres singulares. Ou ainda: esta não é, portanto, uma relação de simples indivíduos, puramente pessoal, mas mediatizada por
um terceiro, que é fruto das relações sociais (id.:
119).
Sendo assim, o que se apreende até aqui, a
partir dos exemplos citados pelo autor, é que as relações dialéticas (contraditórias, mas também complementares) entre singularidade, particularidade e
universalidade, expressam-se na realidade da vida
cotidiana de cada ser social, no dia a dia das nossas
relações sociais, o que lhes retira a possibilidade de
serem considerados como definições apenas abstratas, pertencentes unicamente aos debates intelectuais de economistas, filósofos, sociólogos, etc.
Acrescenta ainda o pensador húngaro que apesar do
idealismo hegeliano, há que se admitir que foi
“Hegel quem primeiro colocou o problema do particular de maneira correta e multilateral” (Lukács,
1978: 73, grifado por mim), e para fugir àquele modo idealista de conceber tais definições, é preciso
ressaltar, de antemão, que as três “categorias lógicas” aqui em questão dizem respeito à “situações
objetivas” na sociedade, e não no pensamento. Elas
são fruto “da realidade que lhes corresponde” (id.:
75), são categorias históricas portanto, completamente opostas às categorias reflexivas idealistas e
puramente subjetivas.
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As definições de singular, particular e universal somente se tornam históricas porque o intelecto humano consegue “elevar a conceito o movimento concreto” do real (id.: 88). Somente desta
forma, então, é que tais categorias podem servir de
instrumento para se compreender “o desenvolvimento vital da realidade em seu movimento, em sua
complexidade” (id.: 87): se elas forem representações concretas do próprio mundo objetivo (id.: 75).
Postos esses aspectos diferenciados que
podem assumir as relações entre a tríade em discussão, voltemos agora ao exemplo concreto da particularidade da classe trabalhadora no Brasil, como
no caso citado inicialmente, ao se tratar das vontades pessoais e dos interesses de classe do exPresidente da República (Lula), da atual Presidenta
(Dilma) e de seu partido político (o PT), relacionando-os com as necessidades universalistas de toda a
sociedade brasileira: sobre este assunto, o ponto de
vista lukacsiano é o de que “Somente em nome dos
direitos universais da sociedade pode uma classe
particular reivindicar para si mesma o domínio universal” (Lukács, 1978: 77, grifos meus).
A partir dessa afirmação, lanço outra pergunta para ser refletida: em se considerando a perspectiva de sociedade (socialista?) do Partido dos
Trabalhadores, será que a “classe particular” que se
encontra no poder – já há uma década – vem conseguindo pôr de lado os seus interesses particularistas,
e exercer um “domínio” verdadeiramente em nome
dos “direitos universais” e dos interesses universalistas do conjunto da sociedade brasileira?
Há que se esclarecer que Lukács usa, neste
ponto de seus escritos, exemplos ligados a política,
ao trabalho e às classes sociais, no entanto, toda a
discussão a seguir tem a ver com seu método de estudo e análise, cujos propósitos são universais e referem-se, portanto, às categorias teóricas de singular
-particular-universal como instrumentos lógicos de
análise que podem ser utilizados por qualquer pesquisador social, sejam eles ligados à Sociologia,
Filosofia, História, etc.
Passo agora à discussão específica acerca
de cada uma das três definições aqui explicitadas,
que são, como já citado, categorias teóricas, porém
lógicas e concretas a um mesmo tempo, que somente por estarem presentes na realidade cotidiana das
relações sociais é que podem ser elevadas ao raciocínio lógico humano, ao nosso pensamento e à nossa reflexão.
3. A Universalidade:
cularidade e universalidade, que as relações entre
elas são contraditórias ao mesmo tempo em que são
também complementares. Especificamente sobre a
definição de universalidade, é preciso afirmar que
há perigo à vista quando se faz dela um mero conceito vazio. O universalismo é necessário, seguindo
nosso exemplo, à classe que esteja no poder, seja
ela de procedência elitista ou operária; a universalidade deixa de existir, observa Georg Lukács (1978:
88), quando é uma característica “pensada apenas
em uma forma particular”. Como antes citado, esse
problema, apesar de parecer “exclusivamente lógico”, depois de Hegel passa a ser distinguido enquanto “um problema da estrutura e do desenvolvimento da sociedade” (id.: 82).
Sendo assim, as relações entre universalidade e particularidade “têm uma função de grande
monta”, pois o particular representa “a expressão
lógica das categorias de mediação entre os homens
singulares e a sociedade” (id.: 93). E nessa problemática da relação dialética entre universal e particular, lembrando de nosso exemplo sobre a tríade Presidente da República-Partido Político-Conjunto da
Sociedade, é necessário, nas palavras de Lukács,
sempre “esclarecer a forma concreta de sua relação
[universal-particular], caso por caso, em uma determinada situação social, com respeito a uma determinada relação da estrutura econômica”, e mais ainda:
é decisivo que se busque “descobrir em que medida
e em que direção as transformações históricas modificam esta dialética”. Também é preciso “estudar e
descrever, de um modo historicamente concreto
(...) e com exatidão, estas relações e suas transformações”. Somente se cumprindo esta “tarefa
importante”, é que se finda descobrindo “que as
contradições concretas assim percebidas devem ser
compreendidas, do ponto de vista lógicometodológico, como casos concretos e expressões
de uma dialética de universal e particular” (id.: 9192, grifos meus). E esta dialética concreta de universal e particular é, desse modo, uma “arma metodológica”, é um “instrumento para esclarecer as conexões reais” entre os fenômenos sociais em análise
(id.: 95).
Para Lukács, a linha fundamental do movimento de pensamento dialético dá-se em um movimento irresistível, em “uma aproximação progressiva que conduz do puramente singular ao universal
através do particular”, de forma indutiva, portanto,
o que significa que “todos os conceitos e processos
mentais, têm o seu ponto de partida na realidade
objetiva [social e histórica] independente da consciência” (id.: 102-103).
Entendeu-se, até aqui, que há uma mistura
– dialética – entre as noções de singularidade, partiwww.varaldobrasil.com
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Ensina o pensador húngaro que a universalidade está sempre “em uma contínua tensão com a
singularidade”, além de estar também em uma
“contínua conversão em particularidade”. Da mesma maneira, e de modo inverso, a particularidade
está sempre em contínua tensão com o universal e
em contínua conversão em singularidade. Ou seja,
as relações entre essa tríade são sempre múltiplas e
contraditórias, e quanto mais autêntica e profundamente os nexos da realidade, suas conexões e contradições, “forem concebidos sob a forma da universalidade”, de forma mais exata e mais concreta
“poderá ser compreendido também o singular” (id.:
104).
Vamos discorrer agora especialmente sobre a definição filosófica/sociológica de singularidade.
Sendo assim, as categorias lógicas da particularidade, singularidade e universalidade não são
idênticas, ao contrário, há entre elas uma “nítida e
precisa distinção”, mas isto não exclui que possa
haver “passagens e conversões” dialéticas tanto entre universalidade e particularidade, como entre singularidade e particularidade. Mas nosso pensador
húngaro adverte que essas distinções, ainda que presentes na realidade cotidiana de todo ser humano,
são pouco desenvolvidas “no modo de pensar da
vida cotidiana” (id.: 110).
No próximo item, passamos à explicitação
do significado da categoria teórico-metodológica da
particularidade, a mais discutida por Lukács em seu
livro Introdução a uma estética marxista: Sobre a
categoria da particularidade (de 1957), além do auxílio na compreensão do conceito de mediações.
4. A Singularidade:
5. A Particularidade – Um Campo de mediações:
Ainda a partir do trabalho de Lukács,
aprendemos que o conhecimento e a compreensão
da singularidade “não pode ocorrer separadamente
das suas múltiplas relações com a particularidade e
com a universalidade”; essas relações múltiplas já
estão contidas na imediaticidade do singular, “no
imediatamente sensível de cada singular”, e tanto a
realidade como a essência da singularidade “só pode ser exatamente compreendida quando estas mediações (as relativas particularidades e universalidades) ocultas na imediaticidade são postas à luz”, o
que significa, também, que “esta aproximação ao
singular enquanto tal pressupõe o conhecimento
mais desenvolvido possível das relativas universalidades e particularidades”. O singular, portanto,
“precisamente como singular, é conhecido tão mais
seguramente e de um modo tão mais conforme à
verdade (...) quanto mais rica e profundamente forem iluminadas as suas mediações para com o universal e o particular” (1978: 106-107).
O que se apreende então, até esse ponto,
especificamente acerca das relações entre singularidade e universalidade, é que suas ligações na realidade são inseparáveis, apesar de opostas entre si.
Tais categorias lógicas estão presentes no real em
unidade dialética, mas, ao mesmo tempo, há uma
conexão contraditória entre elas, não havendo, desse
modo, espaço para identidade entre uma e outra, por
serem opostas; contudo, o singular não existe senão
em sua relação com o universal. Segundo Lukács, o
“movimento dialético da realidade, tal como ele se
reflete no pensamento humano, é assim um incontrolável impulso do singular para o universal e deste, novamente, para aquele” (id.: 110).
Como bem esclarece Lukács, na vida cotidiana, no conjunto das relações sociais, a particularidade “se confunde, em sua determinação e delimitação, ora com o universal ora com o singular”, e é
por isso que “na construção científica e filosófica,
os extremos são desenvolvidos antes do que os
meio mediadores [as particularidades]” (1978: 110,
grifos meus), assim definida, a particularidade é
“um membro intermediário com características bastante específicas” (id.: 112).
Por tudo isso, continua o filósofo húngaro,
é que somente pode existir “uma autêntica e verdadeira aproximação à compreensão adequada da realidade”, uma relação verdadeiramente dialética entre teoria e prática, se houver clareza: dessa “tensão
dos pólos, constantemente em ato”; se houver o entendimento da “constante conversão dialética recíproca das determinações e dos membros intermediários que têm função mediadora”; e se for compreendido que há esta “união entre os pólos”, ainda que
seja uma união tensa e contraditória. Portanto, a tarefa do intelectual é, tal como assinala Lukács, não
julgar a realidade em análise, e nem descrevê-la
ou explicá-la da forma que o intelectual queria que
fosse, ou da forma que o real deveria ser, mas tentar elevar à consciência a “exata relação dos homens
para com a realidade objetiva” (id.: 111).
Ou ainda, o pesquisador deve observar, na
realidade concreta/cotidiana, como as relações sociais se processam, sem que os seus valores pessoais,
seus desejos e interesses influenciem nos tratamento
dos dados observados/coletados por ele. Por exemplo, refletindo sobre a cultura popular, Augusto
Arantes (1987:57) propõe-se a que, neste seu livro
“se projete o foco de atenção sobre o que as culturas
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efetivamente são, ou melhor, sobre como elas são
produzidas, sobre os processos através dos quais
elas se constituem e o que elas expressam, e não
sobre o que elas foram, seriam ou deveriam
ser” (grifado por mim).
Deste modo, Lukács enfatiza que o movimento do singular ao universal, assim como seu
contrário: do universal ao singular, “é sempre mediatizado pelo particular”. A particularidade é então
“um membro intermediário real, tanto na realidade objetiva quanto no pensamento que a reflete” (id.: 112, os grifos são meus).
Não é por acaso, acrescenta o autor, que a
tríade singular-particular-universal se tenha tornado
formalmente dominante, este fato “não é casual, já
que início, meio e conclusão descrevem a estrutura
formal necessária de qualquer operação mental”.
Também, é preciso lembrar que “a relação de forma
e conteúdo é uma relação mais próxima e mais convergente no início e na conclusão do que no meio”,
e este meio, por sua vez, é “uma expressão complexiva e sintética de todo o conjunto de determinações
que mediatizam o início e a conclusão” (id.: 113).
Lukács ressalta que nenhum dos movimentos aludidos acima são “pontos firmes”. Do mesmo
modo que a particularidade – que é na verdade um
“inteiro campo de mediações” –, também “início e
conclusão (universalidade e singularidade) de modo
algum são pontos firmes no sentido estrito da palavra”, pois “o desenvolvimento do pensamento e dos
conhecimentos têm precisamente a tendência a
transferi-los cada vez mais”. Todavia, se se leva em
consideração corretamente o movimento dialético
do particular ao universal, assim como da universalidade à particularidade, observa-se que “o meio
mediador (a particularidade) pode menos ser um
ponto firme, um membro determinado, e tampouco
dois pontos ou dois membros intermediários (...)
mas sim em certa medida, um campo inteiro de
mediações” (id.: 113, grifos meus).
A cada passo que a construção do conhecimento vai sendo aperfeiçoado pelo pesquisador, pode-se “alargar este campo [de mediações], inserindo
na conexão momentos dos quais precedentemente se
ignorava que funções tinham na relação entre uma
determinada singularidade e uma determinada universalidade”. Assim como também se pode diminuir
esse campo de mediações, composto pelas particularidades, “na medida em que uma série de determinações mediadoras – que até um dado momento eram
concebidas como sendo independentes uma da outra
e autônomas – são agora subordináveis a uma única
determinação” (Lukács, 1978: 113).
Torna-se claro, desta maneira, que o particular “não é simplesmente o membro pontual da
mediação em uma tríade, mas sim uma espécie de
campo de mediação para o universal (e, em certos
casos particulares, para o singular)” (id.: 116, grifo
meu).
A partir de uma série de pesquisas, cada
uma voltada para o esclarecimento de um novo aspecto particular do problema, em suas características específicas, pode surgir (graças ao aprofundamento destes novos aspectos particulares) outra concepção diferente, que venha a alargar e aprofundar
mais ainda o seu conceito, elevando-o a um nível
superior de universalidade; de tal modo que “A cuidadosa análise do particular é apenas um meio para
alcançar este grau superior de universalidade”, buscando-se esta ampliação da universalidade do conceito (id.: 114-115). Isto significa que, através de
mediações, em se conhecendo momentos particulares novos, a universalidade dos conceitos envolvidos no problema é ampliada e tornada superior ao
que antes se conhecia.
Após todas essas considerações, Lukács
(1978: 116) afirma que seria enganoso concluir-se
que “o particular é uma amorfa e inarticulada faixa
de ligação entre o universal e o singular (...) as coisas não são assim”. O campo de mediações tratado
aqui é naturalmente articulado, e cada etapa que o
conhecimento leva a compreender em tal campo
pode, apenas por aproximação, “ser claramente determinada e fixada, do mesmo modo que podem ser
fixadas a universalidade e a singularidade”. Também o fato de que, em muitos casos, “deva-se fixar
uma inteira cadeia de membros particulares da mediação, a fim de ligar corretamente entre si a universalidade e a singularidade”, demonstra que, de modo
algum, a particularidade tenha um caráter amorfo.
A partir do prisma da linguagem, continua
o pensador húngaro, são bastante precisos os significados de singular e universal, já a expressão particularidade pode querer dizer muitas coisas: “ela designa tanto o que impressiona, o que salta à vista, o que
se destaca (em sentido positivo ou negativo), como
o que é específico; ela é usada, notadamente em filosofia, como sinônimo de ‘determinado’, etc.”
Contudo, esta oscilação que pode existir no significado do particular “não é casual, mas tampouco ele
indica um amorfismo fugidio; ele diz respeito apenas ao caráter sobretudo posicional da particularidade”. A particularidade que aqui se busca esclarecer
representa, com relação ao singular: “uma universalidade relativa, e, com relação ao universal, uma
singularidade relativa”, e esta relatividade posicional “não deve ser concebida como algo estático, mas
sim como um processo. A própria conversão, por
nós assinalada deste ‘termo médio’ em um dos extremos já implica este caráter processual” (id.: 117,
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grifo meu).
A particularidade, desse modo, é um princípio do movimento do conhecimento, e enquanto
“momentos particularidades mediadores”, ela tem,
na sociedade, “uma existência relativamente bem
delimitada, uma figura própria” (id.: 118). Decidindo-se o pesquisador por eliminar a particularidade,
e operar apenas com os extremos (singular e universal), enfatiza Lukács, é “deformante”, assim como o
fizeram, por exemplo, os pré-socráticos, Aristóteles,
a filosofia burguesa, etc. Estes, buscaram “afastar
idealmente da vida dos homens, justamente com o
particular, as determinações sociais”, passando por
cima, como no caso da filosofia burguesa, do caráter de classe da sociedade capitalista; e esta tendência afirmava que “o homem deve sempre ser compreendido como singular, excluindo-se todas as mediações da socialidade de sua existência, afastandose qualquer particularidade mediadora” (id.: 119120).
Em se tratando das relações dialéticas e
das mediações existentes entre singularidadeparticularidade-universalidade, a eliminação da
particularidade é, por fim, uma luta contra a objetividade, constata Lukács, desconsiderá-la é lutar
contra a concreticidade e contra a apreensão correta
da dialeticidade das relações sociais (1978: 120).
6. Conclusão:
Acredito que o objetivo deste ensaio – o
de contribuir para o esclarecimento das categorias
teóricas de singular, particular e universal – foi atingido. Como foi visto durante o texto, o nosso conhecimento comum acerca de tais conceitos, assim
como dos significados postos pelos Dicionários
mais utilizados no país, não são suficientes para um
entendimento mais aprofundado acerca das relações
existentes entre particularidade, universalidade e
singularidade.
Demonstrou-se também, como é rica a
definição de particularidade, tão usada pela maioria das pessoas com o sentido banal de
“individualidade”, o que faz com que se perca quase que totalmente a sua significância teóricoontológica; enquanto que, na verdade, a particularidade abrange um campo inteiro de mediações, que
se encontram a meio caminho (mas não em uma
posição fixa) entre o singular e o universal. Deve o
pesquisador observar que estas mediações por vezes
se aproximam mais da universalidade e, às vezes,
tornam-se mais próximas ao singular.
O que importa afinal, é que ao se debater
hoje as definições ontológico-sociais de particularismos e universalismos, haja um tanto mais de se-
gurança sobre o que significam tais categorias lógicas.
E, principalmente, aprendemos aqui que
os interesses particularistas, em sendo interesses de
apenas uma “classe social” que se encontre no poder (como no exemplo citado, do Governo do exPresidente Lula e da atual Presidenta Dilma, ambos
filiados ao Partido dos Trabalhadores), poderiam e
deveriam ser convertidos em interesses universalistas, voltados para o bem-estar da maioria da população brasileira. Assim como também, fomos levados
a compreender que, às vezes, um discurso que a
princípio seja universalista pode esconder interesses eminentemente particularistas, noutras palavras: pode ocorrer que aquilo que se apresenta como universalismo hoje, venha a converter-se, amanhã (prejudicialmente à toda a sociedade), em interesses particulares de apenas uma classe, um grupo
ou segmento social!
_________________________________________________
3 Apesar de indelevelmente presentes neste texto, não me
interessa discutir aqui nem a perspectiva de classe e nem o
método lukacsianos, mas apenas demonstrar a sua contribuição para o debate acerca das três definições em análise. Este é
um texto sobre Metodologia de Pesquisa e Análise, e não sobre as concepções marxistas, ainda que cite Marx, Lukács, o
conceito de “classe social”, etc. Mesmo assim, volto a citar
Jacques Le Goff (1990: 192) quando, concordando com o sociólogo-filósofo francês Raymond Aron (1905-1983), afirma
que “Marx deu, do dinamismo permanente, constitutivo da
economia capitalista, uma interpretação que ainda hoje continua válida”.
7. Referências:
ARANTES, Antonio Augusto. O Que é Cultura Popular. 12ª
ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
COHN, Gabriel. “Introdução”. In: COHN, G. (Org.). Weber
– Sociologia. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2002.
FERREIRA, Aurélio B. H. Mini-Aurélio Século XXI: Escolar.
4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
FREDERICO, Celso. Lukács: Um clássico do século XX. São
Paulo: Moderna, 1998.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva/Instituto Antônio Houaiss, 2009.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: EdUnicamp, 1990. (trad. Bernardo Leitão et. al.).
LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista: Sobre
a categoria da particularidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978. (trad. Carlos Nelson Coutinho e Leandro
Konder).
PAULO NETTO, José (Org.). Lukács. São Paulo: Ática,
1981.
WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de Georg Simmel. São
Paulo: USP/PPGS/Ed. 34, 2000.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
BOLO SIMPLES
Fonte: http://tudogostoso.uol.com.br/
Ingredientes
• 2 xícaras de açúcar
• 3 xícaras de farinha de trigo
• 4 colheres de margarina bem cheias
• 3 ovos
• 1 1/2 xícara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento em pó bem cheia
Modo de Preparo
1. Bata as claras em neve
2. Reserve
3. Bata bem as gemas com a margarina e o açúcar
4. Acrescente o leite e farinha aos poucos sem parar de bater
5. Por último agregue as claras em neve e o fermento
6. Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7. Asse em forno médio, pré - aquecido, por aproximadamente 40 minutos
Quando espetar um palito e sair limpo estará assado
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Particularidade, Universalidade, Singularidade: Qual o Significado Destes Conceitos?
Este ensaio pretende contribuir para o debate atual sobre universalismo e particularismo, esclarecendo melhor o significado dos conceitos de particularidade, universalidade e singularidade, na intenção de ajudar na
reflexão acerca das respostas possíveis que são colocadas pelas interrogações postas pelo debate aludido.
Palavras-Chave: Particularidade, Universalidade, Singularidade.
Particularity, Universality, Singularity: Which the Signification of This Concepts?
This essay tries to contribute for the actual discussion about universalism and particularism, elucidating the
signification of particularity, universality and singularity, intending to aid in the reflection about the answers who the debate to ask.
Keywords: Particularity, Universality, Singularity.
ANDORINHAS
Por Afonso Martini
As andorinhas vão e voltam – veraneiam.
Quando há frio excessivo no sul, sobem serras,
Procuram lazer turístico em outras terras;
quando cansam, pousam aqui e acolá – passeiam.
Aos amigos que encontram nessa revoada,
Com abraços e sorrisos gentis presenteiam.
Mais amizades e laços de amor semeiam,
Quando da terra natal estão afastadas.
E assim vivem a vida, encantada, feliz,
Entre dormires e acordares no caminho
E cumprem sua sina de eterno aprendiz.
Vêm do sul; vão ao norte – em outro escaninho;
Sua alminha se veste de novo verniz
... e se amam; ... e se beijam com muito carinho.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
nos.
Vítima de Pedófilos
A cada esquina um olhar enigmático, mas louco!
Por Dhiogo José Caetano
A cada passo um medo e, na garganta, um sufoco.
Quanto medo.
A cada momento nada se pensa, sobre o que aconteceu, o nosso corpo pode ser pertença de quem abusos tece. Mas tudo silencia e nada nos descansa
quando surge um novo dia e alguém se apropria da
doçura da alma de uma criança.
Não entendia o comportamento daqueles monstros
que conviviam à minha volta. Eu era simplesmente
uma criança mas, mesmo assim, aqueles seres me
atormentavam.
Fui perseguido, obrigado a fazer coisas que nem
mesmo eu sabia o que era. Mas, dentro de mim,
sentia que era algo errado e que não deveria ser feito. Mas aqueles monstros me obrigavam, me ameaçavam. E eu era obrigado a fazê-lo.
Por isso respeite as crianças. Seja humano e se coloque no lugar das mesmas, assim você verá, ou melhor, sentirá na pele o medo, o desalinho da alma.
Eu me sentia culpado. Tinha medo e vergonha, também. Mas me sentia obrigado.
Dentro de mim um desalinho, pois sabia que algo
errado estava acontecendo mas, ao mesmo tempo,
tinha medo de contar e omitia pra mim mesmo
aquela cena terrível.
Não fui violentado graça a Deus, mas foram inúmeras as vezes que me deparei com pessoas ditas honestas e humanas, que olharam pra mim, uma simples criança e diziam, olhando para o seu membro
genital: “eu deixo você pegar”.
Não foi uma só pessoa; foram algumas pessoas em
momentos diferentes da minha vida. Eu me sentia
mal, me considerando culpado, um verdadeiro lixo.
Nada aconteceu no meu corpo físico, mas na alma
ficaram as marcas de uma experiência que nunca
será esquecida.
Fui utilizado como parte da fantasia sexual de indivíduos que se diziam humanos mas que, na verdade,
não passavam de seres irracionais, monstros da pior
espécie.
Acreditava que tudo acontecera comigo, era porque
tinha que acontecer; mas viver tal experiência é um
estigma que fica registrado na alma.
No decorrer da vida, encarei essa cruel realidade e
sobrevivi e, hoje, busco defender pessoas que, como
eu, foram traumatizadas por monstros que não respeitam ninguém.
Diga não à pedofilia.
Pois podemos ver ainda na atualidade a coisa acontecer em todos os lugares e de variadas formas, mas
com um único ser; os mais especiais, puros e frágeis também: as nossas crianças que são usadas e
humilhadas por monstros em forma de seres humawww.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Simplicidade da infância
em uma folha que não estava mais branca.
- Terminei.
- Vamos colar na parede do meu quarto. O desenho vai enfeitar tudo.
Por Evelyn Cieszynski
E foi exatamente o que aconteceu. O desenho
deu vida às paredes de madeira sem pintura. O
- O que você tá desenhando?
quarto era pequeno e mal iluminado, mas o dese-
- Nós duas. É um presente pra você.
nho fez o lugar ganhar outra aparência.
- Mas você esqueceu uma coisa.
- Agora vamos brincar!
- O quê?
- Eu conto e você se esconde.
- Não somos do mesmo tamanho.
- Isso não importa. Gosto de você do mesmo
Trocaram um olhar cúmplice. Nada diminuiria
aquela amizade entre duas meninas tão inocentes.
jeito.
Não era um desenho perfeito. Era a imagem de
como duas crianças se viam. Estavam de mãos dadas, e um grande sorriso no rosto de cada uma.
O desenho era marca disso. A imaginação faria
com que elas fossem o que quisessem: duas crianças e um arco-íris.
- Por que você não desenha o gatinho que
achamos ontem?
- E onde posso desenhar ele, do meu ou do seu
lado?
- Desenha no meio, assim ele será de nós duas.
E começou a desenhar com seu lápis preto, um
gatinho de olhos e orelhas grandes, parecia assustado, exatamente como estava quando o encontraram.
- Agora termina com um arco-íris bem colorido.
- Mas eu não tenho lápis colorido, só esse preto
que ganhei da minha vó.
- Não precisa de lápis colorido. É só imaginar
que tá colorido. Se nós pensarmos que o arco-íris
tá colorido, ele estará.
- Tá bom. E vou desenhar também borboletas
Desenho: h p://jenspira"on-now.blogspot.ch/
de todas as cores. E também vou desenhar o sol
brilhando.
Ela começou a traçar vários riscos que não tinham muito significado. Era um monte de borrão
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85
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa Infância
Por Germano Dias Machado
Minha infância foi com muita dor
Embora estivesse nela também o amor
Minha infância é hoje recordação
Do tempo em que era sem saber
O que o mundo é,
Desilusão e Ascenção
Minha infância teve sorrisos, mas também decepções
Diversidades entre pai europeu duro
E mãe brasileira coração amolecido
Amolecido de benquerença
Longe vai minha infância
Oitenta e seis anos sonhando
Com infância.
Infância que se foi
Mas ficou e ficará
No sentimento
Na memória
No ser
Ao mesmo tempo alegre e triste
Sem lança em riste
Minha infância perdura em mim
Com todo Freudismo
E com todo Junguismo
Sensual e ao mesmo tempo espiritual...
Que faz a infância nesta
Minha ancianidade?
Ela, porém, fica...
Na foto, o autor
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86
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O CACHORRO QUE FALAVA INGLÊS
nio em bom e perfeito inglês (aqui traduzido para
exercitar a leitura...) o que ele já esperava:
_ Não entendo porque não chamou seu
irmão. Você sabe que ele poderia estar machucado agora. Aquela brincadeira é para os meninos
maiores. Quando é que vai voltar a conversar?
Por Ivane Laurete Perotti
Plínio morava em um bairro que não tinha rede de
esgoto. A água suja corria a céu aberto em uma
vala que os meninos menores chamavam de “rio”.
Foi nesse “rio” que ele aprendeu a brincar
em grupo, a dividir os poucos brinquedos feitos de
papelão e madeira, a correr com os cachorros que
não tinham dono. Parecia que esse tempo ficara
muito longe, especialmente se olhado da janela de
seu barraco, em uma noite quente, iluminada pelos
vaga-lumes, invadida pelo barulho dos grilos e do
canto das cigarras.
Seus amigos o convidaram para “pescar
o boi”, uma espécie de brincadeira que só era feita
pelos maiores. Existia certo perigo em correr atrás
de alguém que estava com os olhos vendados.
Especialmente naquele terreno cheio de lixo e buracos e coisas velhas jogadas fora. Mas era a brincadeira do momento. Ele até acreditava que o nome não era bem aquele, mas seus amigos gostavam de fazer diferente, então, diziam criar nomes e
brincadeiras novas que eram mais antigas do que
a idade somada de todos eles juntos.
Mas nem mesmo um “bem-feito” Plínio quis dizer
quando viu seu irmão menor ser levado de roldão
pelo grupo que corria. O pequeno caiu e levantou
choramingando. Foi Duque quem o socorreu com
uma lambida e um abano de rabo solidário. Grato,
o menininho voltou para mais perto da porta do
barraco como que segurando o cachorro por uma
coleira invisível.
Será que Duque havia contado o segredo
e agora o seu irmão menor também... não! Duque
não falaria nada para ninguém, até mesmo porque,
ninguém acreditaria nele.
Mas, para não ficar em dúvida, Plínio saiu
da janela pulando-a como sempre fazia. Seus passos pareciam pesados para um menino de apenas
doze anos de idade. Tudo parecia pesar muito nos
últimos dias: até sua língua colara entre os dentes,
e seus lábios haviam esquecido de abrir e fechar.
Ainda assim, sentindo alguma coisa que
não sabia explicar, sentou perto de seu irmão enquanto este dizia ao Duque:
_Você é um cachorrinho bom. Nunca vá
embora daqui. Vou encontrar uma caixa seca para
você dormir.
É claro que a voz do cachorro era suave e doce,
típica voz canina, na raça dos vira-latas. Essa raça
aprende desde cedo a interpretar os estados emocionais dos seres humanos, a reconhecer a tensão
do ambiente, a distinguir um sorriso maroto de um
sorriso bondoso – mesmo quando os dois saem da
mesma boca, um depois do outro. Eles aprendem
a ler o mundo que os rodeia e se descobrem capazes das mais impraticáveis adaptações. Daí a raça
vencer qualquer “pedigree” em uma competição de
sabedoria e sobrevivência. Os vira-latas eram especiais. Tão especiais ao ponto de acompanhar
um ser humano por uma vida inteira sem esperar
recompensa. No fundo eles sabiam que a recompensa era só uma falta de oportunidade humana.
Sabiam disso e viviam de esperança: chegaria o
momento em que sua raça subiria ao “podium”...
com certeza chegaria. Mas antes disso, precisava
dar conta de orientar o seu fiel amiguinho. Plínio
estava silencioso demais até mesmo para um pré-
adolescente.
Duque conhecera outros na mesma fase.
O silêncio era uma forma de dizer mais
alto o que não conseguiam gritar.
Ele entendia bem dessas coisas, por isso
emprestava sua voz para o amiguinho.
Com o único detalhe a se observar que
sua língua era o “inglês”.
Nascera em um navio mercante, daqueles que só aportam para descarregar mercadorias.
Em um dia de muita chuva, após perder uma partida de cartas, Duque resolveu descer para o cais
no qual o navio aportara.
Descera e nunca mais voltara.
Descobrir o calor do sol com os pés firmes na terra era uma experiência que ele queria
manter para o resto de seus dias.
Cansado das marés da vida, encontrara
Plínio sentado em uma calçada suja, enquanto esperava pelo pai, um estivador não muito forte para
a profissão.
Mas, isso era coisa que ele ainda não entendia bem.
Duque, sereno como sempre, disse ao Plíwww.varaldobrasil.com
Aprenderia com o tempo.
Quando disse a primeira palavra:
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_ Hello, boy! (opa!... esquecemos do trato: _ Olá,
menino!).
Teve o silêncio como resposta.
Precisou de muito jeito para mostrar carinho e se fazer ouvir.
Curiosamente Plínio o ouviu.
Ouviu e entendeu como se falassem a
mesma língua.
As palavras só saíam da boca de Duque,
mas Plínio falava com os olhos.
Tinha olhos profundos e inteligentes que
diziam conhecer mais lugares do que ele próprio
conhecera enquanto fora marinheiro de porão.
_ Yes, children, yes! I do... ou seja, sim, criança, sim. Eu lhe dou um algodão-doce, desde
que eu possa comprá-lo, bem entendido.
Dando voltas ao redor de si mesmo, Duque
deixou claro que não iria desistir de “dar” o doce
para o menino.
Plínio tinha certeza disso, conhecia muito e
muito bem o seu amigo canino.
Remexeu nos bolsos furados para ganhar
tempo, pois há muito estava sem nenhuma moedinha. A última delas entregara a sua mãe para completar o dinheiro do ônibus até a cidade.
Olhou para o rosto do irmão menor e se já
não falava nada, sentiu vontade de estar ainda
mais distante.
Eram os olhinhos de uma criança que pedia
um algodão-doce.
Mas doces custam dinheiro e ele não tinha
nada.
Como dizer não a ele se exatamente essa
palavra era a que estava atravessada em sua garganta a cortar-lhe o ar, a alegria, a apertar como
se tivesse dedos fortes e... como dizer sem dizer?
Outra vez o pedido:
Plínio falava em silêncio, o que não queria
dizer que ele não falasse.
Muito pelo contrário. Suas palavras precisavam ser ouvidas de um modo nada tradicional.
E isso era uma coisa um pouco difícil para
os seres humanos acostumados com aquilo que
parece igual.
Enquanto falava com Plínio, foi observando
como ele construía cuidadosamente o seu discurso.
_ Mano... compra?!
Duque podia sentir a tensão aumentar.
E a bicicleta com o mastro colorido se afastava balançando os doces amarrados, como que
dizendo: “... depressa!... ande! compre agora, pois
eu só volto amanhã!”
Ela não pararia a menos que alguém a chamasse.
Foi aí que teve a ideia e pôs-se a latir para
a roda de trás.
Era notável! Cada expressão de sua face
valia por longas frases, por um bom grito, por uma
risada aberta, por um choro molhado.
Latiu, correu, mordeu e, parou o vendedor
em plena rua esburacada.
Cada revirada de olhos valia por listas de
palavras coloridas, ou não!
_ Cachorro louco! Larga daí! – vociferava o
doceiro balançando seus balões coloridos.
Às vezes, sabia que ele precisava ficar quieto para ouvir a própria voz, em outras, preferiria
que a fase do “eu-não-falo-para-me-ouvirem-falar!”
acabasse logo. Era difícil falar inglês em bom cachorrês para um menino em fase de “casulo”.
As crianças que estavam por perto se aproximaram todas de uma vez.
Plínio e seu irmão tentaram puxar Duque
para longe, sem sucesso.
Foi o irmãozinho de Plínio que interrompeu
seus devaneios.
_ Plínio!?Eu quero um algodão-doce... dá?
Dentes, baba de cachorro, rosnados e até
latidos de “eu sou mau” emprestavam à cena um
ar de filme de Charles Chaplin.
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Quanto mais os dois irmãos tentavam tirar
o cachorro do pneu, mais seus dentes enterravamse na borracha.
colorido.
Era um irmão muito querido, chamava-se
Bené, nome que já fora de seu avô nordestino.
Duque não precisou dizer mais nada.
_ De quem é este animal? De quem?_ berrava o vendedor.
Acomodaram-se os dois junto a Bené e assim ficaram pelos poucos minutos que durou o resto do algodão-doce.
_ É nosso, tio! – respondia em seguida o irmãozinho de Plínio.
Por mais de dez minutos, por entre os gritos
de alguns e as risadas de outros, o vendedor soltava a mesma pergunta e o menininho respondia a
mesma resposta.
Não se sabe quem cansou primeiro.
Mas foi o vendedor que propôs:
Com o fim do dia, vinha o silêncio maior.
Era o momento em que Plínio procurava
por razões alheias ao seu entendimento.
Gostava de ficar olhando as estrelas por
detrás das nuvens grossas, de procurar por algum
sinal no céu que indicasse uma novidade.
_ Quem tirar este bicho de minha bicicleta ganha um algodão. Quem...
Nem teve tempo de repetir.
O pequeno que já estava segurando o rabo
de Duque, tomou o cachorro
no colo. Milagrosamente o vira-lata soltou-se da
borracha _ agora babada_, em silêncio absoluto.
Silêncio total, completo!
Plínio olhava atônito para o irmão menor e
para o cachorro empoleirado em seu colo.
Qual? Não sabia.
Apenas sentia vontade de estar ali, quase
sem estar, como uma espécie de viagem sem fronteiras, sem ruídos, sem medos, sem perguntas,
apenas o céu para escorregar devagarzinho, sem
pressa.
Nessas horas, a única companhia era Duque.
O cachorro também viajava pelas lembranças boas e saudosas do seu tempo de marinheiro.
O período da escola era o mais difícil.
Com a mãozinha por entre as patas de Duque, o menino pegou o algodão-doce e agradeceu.
Duque não podia entrar e Plínio ficava sozinho, muito sozinho.
Outras crianças seguiram em alarido a bicicleta que se esforçava para chegar à esquina enquanto o vendedor soltava palavras de tamanho
muito longo para serem escritas aqui.
Seus colegas eram falantes, barulhentos,
gostavam de brincar, jogar, brigar, discutir.
Com boa parte do algodão na boca, o irmão menor de Plínio voltou para a porta do barraco.
Então, ficava olhando tudo de longe, como que vivendo com os olhos o que nem os lábios
nem as pernas conseguiam mobilizar.
Duque profetizou em alto inglês (já traduzido):
_ Esse menino nasceu para a política. Sabe a hora certa de pedir e de aceitar. Veja só com
que satisfação se lambuza nesse doce gosmento...
Plínio ameaçou mover os lábios, mas a cola
invisível vinha de dentro, de muito fundo de sua
alma e não era assim tão fácil retirá-la.
Gostou de ver o irmão lambuzado de açúcar
Conversavam sobre todos os assuntos e
de nenhum deles Plínio participava. Não por falta
de procura, mas com o tempo, todos foram aceitando e acostumando-se com o seu silêncio.
Estava assim há um tempo longo demais
para um menino.
Duque lembrava-lhe constantemente que precisava viajar com os pés no chão; que as suas ideias
deveriam ser compartilhadas, que deveria perguntar suas dúvidas, dizer de seus sentimentos, mostrar a língua vez ou outra, piscar o olho para alguém.
Assim como que se pudesse rir de si
mesmo, conversar com seus botões (é só uma expressão, modo de dizer, mas valeria o esforço tentar se isso lhe fizesse bem).
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No final da aula, Plínio era esperado
por uma enxurrada de observações.
sujeira .
Duque não se calava até o amigo entrar em casa.
Não era impossível para uma criança imaginar um tubarão em plena vala de esgoto.
Durante o almoço que era muito rápido e simples, Duque permanecia deitado em silêncio, tentando compreender o silêncio que Plínio
construíra.
Deveria ele explicar que “aquilo” não passava de água suja e poluída?
Nenhuma resposta em palavras era dada
em nenhum momento.
A mãe, mais apreensiva, dizia que o menino estava com um problema grave.
Já o pai, que também fora menino há
muito tempo atrás e ainda lembrava de como era
interessante crescer, respondia que era coisa de
menino.
Logo passaria.
E tinha: o “rio” arrastava todo o tipo de
Se explicasse, Bené não teria mais onde
brincar e inventar estórias.
Nem ele e nem as demais crianças do
bairro.
Se achava perigoso deixá-las próximas
ao lixo que boiava? Com certeza, mas conseguia
sempre que seu irmão ficasse à margem do “rio” e
não entrasse na água contaminada.
Mas o mesmo não podia dizer das outras crianças. Era comum adoecerem por causa do
esgoto. Era muito comum.
Só Bené tentava obter uma resposta:
_ O Duque comeu sua língua, comeu? Fala...
diz que eu vou buscar outra para você. Comeu?...
Uma espécie de cócegas roçava sua boca
na hora em que ouvia a repetida pergunta do irmão
menor.
Às vezes pensava que essas cócegas estavam correndo depressa demais e explodiriam em
sua boca abrindo seus lábios outra vez.
Em momentos assim, abaixava a cabeça
assustado, imaginando que todas as palavras não
ditas sairiam de uma vez só pela sua boca e junto
com elas as risadas, os gritos, os choros.
Era muito estranho e ao mesmo tempo
conhecido demais.
Era algo que já fazia parte dele sem ser
exatamente dele.
Era como descobrir um outro morador dentro de sua cabeça cheia de pensamentos.
Naquela tarde, Plínio pensou que nada
poderia ser diferente.
As crianças brincavam a sua frente enquanto ele ouvia Duque falar sobre sua necessidade de “abrir-se” para as conversas, para as partidas de futebol, para...
_ Hey!... ops! Ei! Quem é aquela que dobra a
esquina? É a sua prima Marina? Quem é? Quem
é?
Os olhos de Plínio não se voltaram para
responder no silêncio eloquente das palavras ausentes.
Seu pescoço ainda estava no mesmo
lugar: voltado para a esquina onde sua prima Marina caminhava junto a uma outra menina que nunca
vira antes.
Faltou terra embaixo de seus pés.
A tarde era interminável.
Bené ainda não frequentava a escola e então ficava sob sua responsabilidade.
Achava difícil cuidar do irmão que tinha tanta vontade de correr e brincar e ainda mais, que
sentia fome o tempo inteiro, e que fazia tantas perguntas.
Era Duque quem lhe ajudava nos momentos
mais cruciais:
_ Let’s go! ... ou seja: vamos! Vamos Plínio.
Corra atrás de seu irmão porque ele acha que no
“rio” tem tubarão.
Elas caminhavam para eles como se apenas isso
tivessem para fazer.
E se aproximavam animadamente, muito
rapidamente, sem dar-lhe tempo para escavar um
buraco fundo e esconder-se dentro.
Buracos, buracos, buracos... a rua estava
cheia deles mas as suas pernas resolveram não
obedecer.
E Duque, “bobificado” olhando para sua
prima desatara a falar em um inglês tão rápido que
não era possível entender.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
vez.
E agora?, pensava Plínio. Cadê sua
mãe? Não era hora de ela chegar? Por que não
estava ali quando ele precisava dela?
Tudo girava desordenadamente ao seu
redor. Até seu irmão parecia magnetizado por
aquelas duas meninas que invadiam o bairro e
resolvera soltar a pipa que segurava.
Ah!não! cadê a chave da porta? Cadê a
porta? Onde ficava sua...
Não deu tempo para nada.
Foi o tempo que lhe engoliu a vontade,
as forças e o sangue.
A terra afundou seus pés muito vagarosamente a ponto de gerar-lhe uma tontura boa.
Tontura descola cola, tontura descola
lábio, tontura descola palavras, tontura de menino
“bobão”.
Naquela noite as estrelas sentiram
saudade.
Sentiram falta da admiração do menino
que as iluminara com seu olhar sonhador noites e
noites.
Somente Duque sabia que uma estrela
de outra galáxia cintilava pelo bairro pobre.
Era uma estrela “descoladora” de palavras,
uma “desgruda-lábios”, uma “quebra-silêncio” muito especial. Tão especial que Plínio tratou logo de
dizer-lhe que fazer um certo silêncio nesta idade
era normal.
Ele melhor do que ninguém entendia do
assunto.
E a estrela “descola-lábios” respondeu
com um sorriso nos olhos...
Apenas nos olhos!
Não! Bobo ele não era, sabia que não!
Mas ao sentir aquele sorriso que passara
roçando suas bochechas ouviu todas as palavras
agruparem-se dentro de sua boca e saírem ordenadamente para fora:
_ Olá, prima! Passeando aqui no bairro?
Como está a tia Zulmira?
Duque encolheu-se antes do salto.
Bené gritou para quem desejasse ouvir:
_ Devolveram a língua dele... devolveram a língua dele! Ba!Bá!Baba!
Apenas Plínio e as meninas fizeram ares
de não entender.
Se entenderam fingiram não ouvir, se
ouviram, decidiram esquecer.
O motivo das risadas centrou-se nas
estripulias de Duque.
Cachorro estranho esse, muito fora
de controle latia sem parar, levantando o pequeno
rabo e caminhando em círculos, desenhava com
as patas no chão.
_ Stop! Duque. Please!
Ora... e quem sabia que Plínio falava
inglês?
Mais um bom motivo para estender a
conversa para lá e lá e volta de lá para cá outra
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
NAS PÁGINAS DA MEMÓRIA
Por Mariney K
O tempo passa. E passa rápido.
Deixa para trás, uma após outra, finas camadas de lembranças que desfolhamos, de vez
em quando, revivendo momentos ora felizes,
ora nem tanto.
Agora, decido desfolhar algumas.
O que se segue.
Dona Rivka. Uma linda judia polonesa que
aportou por estas terras, com o marido e os
filhos, fugindo de Hitler.
Aqui casou os filhos, teve seus netos e morreu
Mulher do lar, sempre manteve seu espaço
"dentro da linha".
Quando mais nova, frequentemente, às voltas
com convidados e festas. Era uma primorosa
anfitriã.
Pratos de porcelana, talheres de prata e taças
de cristal. Tudo tinha vindo com ela da Europa.
Mãos habilidosas na cozinha.
Com ela, aprendi a fazer macarrão e torta de
ricota.
_ Hindele, a massa! Vem! voz suave buscando
minha companhia.
Hoje esta torta é obrigatória em todas as comemorações da família. Virou tradição.
Suas mãos são a lembrança mais forte pra
mim.
Cortando a massa em tiras bem finas de onde
sairiam a sopa de galinha (o forte aroma, do
aipo, me acompanha até hoje) e a tradicional
macarronada.
_ Hindele! ela me chamava.
Era o som do amor incondicional e devotado.
Eu sabia que, após este chamado, só coisas
boas viriam p'ra mim..
O maior carinho descascando as uvas do tipo
"rubi", tirando os caroços e me entregando,
com doçura, a polpa limpinha e suculenta.
De outra feita, me levando à Confeitaria Colombo. eu, com vestido de organdi e grandes
laços no cabelo, parecendo uma princesinha.
Os garçons a conheciam.
_Lá vem a Senhora Rivka! E se desdobravam
em atenções à nós duas.
Mais páginas desfolhadas, trazendo à tona
momentos únicos de uma convivência abençoada.
Férias! Ahhh...as férias.
Em Atibaia, na Estância Lince. Todos os anos,
no inverno.
E na praia do Gonzaga, em Santos, no Grande Hotel, nos meses de verão.
No carnaval, sempre uma fantasia nova à minha espera: baile no Clube Tietê.
Alegria, disposição, dedicação à família foram
suas marcas indeléveis.
Quando o câncer, chegou, tomou todo o corpo.
Cabelos grisalhos emoldurando uma face sem
rugas, muito branca.
Expressivos olhos verdes.
Não tinha idade mas envelheceu, subitamente.
No final, passinhos trôpegos, vagarosos.
Pelo corredor, só se ouviam:
_Ai...ai...ai...
Um atroz sofrimento acompanhou seus últimos dias.
Eu, muito pequena, não pude me acercar dela
nos seus derradeiros momentos.
Naquele tempo, as crianças eram afastadas
em momentos tristes e solenes.
Personalidade forte e dominadora. Ela era
uma presença, sempre, muito marcante. Elegante e altiva.
O único que conseguia driblá-la era meu pai: o
seu xodó.
Ele era seu filho caçula e fazia "gatos e sapatos" com esta preferência.
Minha amada vovó Rivka. Ela amava ser avó.
Herdei dela os olhos e a personalidade.
Hoje, já sou avó. Mas sou uma avó de computadores...rs...sem os requintes de uma outra
época.
Fecham-se as folhas deste período.
Essas as minhas mais remotas lembranças
dos meus primeiros anos.
Hoje fica a saudade imensa e a lembrança de
alguém a quem pude fazer feliz, sem mesmo
saber.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
DOCE DE LEITE
Fonte: h p://panelinha.ig.com.br/
Ingredientes
4 xícaras (chá) de leite
2 xícaras (chá) de açúcar
Modo de Preparo
1. Numa panela, junte o leite e o açúcar e leve ao fogo baixo, mexendo sempre, até o açúcar dissolver (cerca de 10 minutos).
2. Cozinhe, mexendo sempre para o leite não ferver, por mais 1 hora ou até o
creme engrossar e adquirir uma cor de caramelo-claro. Se necessário, deixe
por mais tempo para atingir o ponto certo.
3. Quando o doce estiver com a cor de caramelo, retire a panela do fogo e deixe esfriar.
4. Transfira para um pote de vidro esterilizado e guarde na geladeira por, no
máximo, 10 dias.
Dica:
Potes de vidro podem ser reutilizados para conservas, ou mesmo geleias, feitas
em casa. Mas primeiro eles devem ser muito bem esterilizados. Para isso, leve
bastante água para ferver numa panela grande; coloque o vidro e sua tampa na
panela e deixe ferver por no mínimo 15 minutos.
Para retirar o vidro e a tampa, utilize uma pinça de cozinha e deixe-os escorrer
sobre um pano de prato limpo. Atenção: não coloque o vidro sobre nenhuma superfície muito gelada, como mármore, pois o vidro pode estourar. Só use os potes esterilizados depois que eles esfriarem totalmente.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
VOVÓ NECA
Por Lunna Frank
Saudades da minha infância na casa da minha avó, que
delicia sentir cheirinho de bolo de fubá, bolachinha de nata.
Pãozinho caseiro, manteiga fresca, tudo quentinho, feito
na hora café da manhã na casa da Vovó Barbara, que mesa farta com coisas, deliciosas e saborosas, lanche, almoço, jantar e a ceia antes de dormir, chazinho de ervacidreira com biscoitinho de araruta.
Na casa da vovó paterna onde passava todas minhas férias não existiam melhor lugar no mundo.
Colinho de Vó, histórias e causos, penteava meus cabelos compridos, umas cem vezes para
dar mais brilho.
Eu a neta caçula, preferida de todos, tios, primos a família toda adorava me paparicar, aos domingos o almoço de domingo lembro-me de meu pai, na cabeceira da mesa e vovó na outra,
meus tios e primos ao redor, mamãe sempre sentava ao lado da vovó.
A reunião de família aos domingos era o orgulho da minha querida avó família estruturada, com
aprendizado do meu Vovô Saturnino que sempre nos ensinou que uma família tem que ser igual
uma arvore com raízes, tronco, folhas flores e frutos.
Minha titia Cidinha, sempre pronta para as ordens da minha Avó, titia não se casou para cuidar
da vovó um amor incontestável.
Minha tia parecia uma formiguinha, pra lá e pra cá, afoita a cuidar da casa das toalhas bordadas
e os lençóis de linho e cambraia com cheirinho de lavanda. Como eu era feliz minha avó sempre muito elegante, olhos esverdeados que mudavam de cor, cabelos bem loiros quase blondor
natural, ondulados e compridos, trançados dos dois lados, 2 pentinhos com florezinhas delicadas enfeitavam as laterais do cabelo , vestido cinturado com estampas claras e delicadas, sapatinho de pelica, combinando com a carteira grande que carregava debaixo dos braços.
Sempre com meia fina cor da pele, minha doce avó tinha um jeito angelical cheirinho de colônia
alfazema e batom rosado bem clarinho levemente passado nos lábios.
De mãos dadas íamos passear e caminhávamos pela cidade ate a confeitaria a Paulicéia, para
tomar sorvetes naquelas tardes quentes de Jundiaí.
Missa aos domingos e o terço nas quartas-feiras na casa de amigos, adorava as reuniões quando a imagem do Sagrado Coração de Jesus, uma imagem enorme que chegava a casa da Vovó
tinha reza, crianças para brincar o lanche servido em seguida.
As casas da vovó, muito grande e aconchegante, com várias arvores frutíferas, adorava subir
no
pé
de
jabuticaba
colher
e
come-las,
um
prazer
inenarrável.
Colo, carinho e beijo da minha amada Vó Barbara ou Vó Neca assim que a chamava, não existe no mundo nada melhor, lembrança saudosa da infância que não volta mais.
Hoje Vovó Neca , com certeza esta no céu fazendo laços de fita no cabelinho dos anjos.
Saudades Eterna…
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa infância num lugar esquecido...
Por Maria Eugênia
Para a minha querida e amada irmã, companheira de aventuras e principalmente de travessuras.
...feita de catar conchinhas pela praia, ou sentadas lado a lado, a observarmos as ondas
quebrarem nas pedras estáticas.
As bicicletas pesadas demais para se andar na areia e o esforço para alcançarmos a enseada antes da cheia.
Festas de aniversário com balões coloridos, e eram sempre iguais nossos vestidos.
Eu sempre fazendo birra e você sempre sorrindo.
E neste mundo perdido eu era Robinson Crusoé e você o Sexta-feira, meu grande amigo.
A areia fina da praia grudava em nossos corpos e brilhava.
E nós éramos encantadas...
Nós éramos fadas...
Fadas de trancinhas.
Havia a caça ao caranguejo, mas não era uma injustiça.
Nós com um pedacinho de carne na armadilha, mas geralmente era o caranguejo quem
vencia.
E assim o tempo passava despercebido enquanto guardávamos aranhas nos vidros, colecionávamos besourinhos e escavávamos riozinhos, onde navegávamos nossos barquinhos
de folhas e gravetinhos.
E quando a noite chegava com lua cheia, ainda havia as conversas em torno da fogueira.
E cada história que se contava, era nossa avó quem protagonizava.
A vovó matava o homem que roubava criancinhas, era ela quem prendia o bicho papão
num porão e debaixo das asas dela, a vida era tão segura...
Era tão certa e bela...
Era tão pura!
Por fim a gente ia, com as mãos passadas sobre os ombros uma da outra, dividir a mesma
cama.
E sempre havia um outro dia para brincar com você...
Minha Irmã...
Minha Amiga!
Numa vida que de tão bela, parecia que nem existia.
Nesse tempo de nossas vidas que mais parecia história de um livro,
perdido no tempo...
Num lugar esquecido.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
A PITANGUEIRA
Por Marilu F Queiroz
Quando se é pequeno o mundo é visto como uma fantasia que não tem fim. Tudo é vasto e intrigante como a nossa imaginação fértil e cheia de sonhos e, como toda criança criada
numa casa cujo quintal era imenso e repleto de árvores, me sentia livre e feliz por ter tanto espaço para brincar e extravasar energia.
Podia desfrutar das mais diversas aventuras, brincadeiras, desde apenas subir nas árvores, até brincar de
balanço ou obrigar o meu irmão a comer as misturinhas
que fazíamos aproveitando lata vazia de manteiga, tomates e verduras colhidos da horta, que meu pai cuidava
com tanto carinho. O fogão era feito com pedras, gravetos
e pequenos pedaços de madeira do quintal, que queimavam muito rápido de tão secos.
De todas as árvores lá de casa, uma velha e grande pitangueira era o meu xodó, subir
nela era muito estimulante, lá no alto era o meu mundinho carregado de fantasias e sonhos,
povoado de criaturas advindas de minha mente criativa.
Debaixo dessa árvore havia um balanço preso a um grosso galho repleto de folhas verdes e frutinhas vermelhas e saborosas, não muito doces e tinham um gostinho meio azedo,
que eu adorava. Em cima da pitangueira imaginava aventuras, cantava e me balançava de braços abertos como num voo, presa somente pelas pernas, nos galhos mais altos. De lá enxergava tudo o que acontecia no quintal e muito mais: via o horizonte até onde a imaginação podia
alcançar.
Nesse meu mundo particular era muito feliz. Para lá carregava meus cadernos de história e estudava falando e cantando tão alto, que meus vizinhos podiam aprender também um pouco
mais, os feitos dos personagens da história do Brasil. Como é bom ser criança num quintal assim repleto de aventuras. Um prato cheio para uma cabecinha recheada de sonhos e imaginação criar histórias e aventuras, onde eu era sempre a heroína.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
QUANDO EU ERA MOLEQUE
Por Mário Rezende
Quantas pipas empinei nos meus dias de
folguedos.
Era um prazer imenso “dar a elas” a linha do
carretel.
Quanto mais de mim elas se afastavam,
mais prazer me davam por poder brincar lá no
céu
com outro menino bem distante, segurando a
linha na mão,
enquanto eu estava bem firme com os pés no
chão.
Ah, Quantas lembranças me traz aquele
tempo lá de trás!
As brincadeiras infantis, meninas e meninos
num trinar alegre quando todos se juntavam
como a algazarra que faziam na hora do
recolhimento,
ao crepúsculo, os bandos de pardais,
avezinhas que pouco se vê ou ouve nos dias
atuais.
Como era divertida a pelada com a bola,
brincar de bandeirinha, pique-esconde e tá
contigo!
Jogar com as multicoloridas bolinhas de gude;
girar no corrupio, a brincadeira do anel à
noitinha,
para ganhar beijinhos das cobiçadas
menininhas
no despertar das intenções de namoro
sorrateiro,
na aurora da juventude, por demais
prazenteiro.
As festas do mês de junho, isso então!
Pular fogueira, comer canjica e batata
assada,
soltar fogos e balões, dançar a quadrilha
sempre animada...
Em qualquer idade ou situação,
sempre valiam muito os folguedos de
improviso
ou o brinquedo feito à mão: a bola de meia,
o jogo de prego, e futebol de botão,
fazer zunir com a fieira o pião.
Com um canudo do talo da folha do pé de
mamão
eu enchia de ar as bolinhas de sabão.
Viravam brinquedinhos as latas de leite em
pó,
que serviam para fazer carrinhos.
Cheias de areia e puxadas por um barbante,
uma, duas, três ou mais formavam um
comboio
tão divertido como o mergulho com a turma
nas águas do arroio.
O desafio que proporcionavam os carrinhos
de rolimã
descendo as ladeiras arborizadas da minha
cidade;
subir na árvore com outros garotos em
disputa
para colher a que parecia a mais apetitosa
fruta
e saboreá-la sentado à sombra que oferecia,
observando bandos de aves em piruetas lá no
céu.
Minha caramboleira preferida, o lugar aonde
eu me escondia
para ficar com meus pensamentos vagando
ao léu.
Amiga e companheira, me balançava em seus
braços
e me enchia de abraços, quando me sentia o
mais infeliz.
Desse modo minha infância passou num
tempo embalado
e pelo menos uma parte do que naquela
época eu fiz,
me dá vontade de viver outra vez.
Isso quando puder, com meus filhos ainda
faço,
ou com os futuros netos, talvez,
apesar de o ambiente estar muito modificado,
tornando muito pequeno o adequado espaço.
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97
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
O garoto que perdeu a sombra
Por Sonia Rodrigues
Marquinho era uma dessas crianças que não perdem a cabeça porque está grudada no pescoço,
como gostava de dizer sua mãe.
Marquinho perdia tudo: seu pião, seu doce, sua
escova de dente, sua mochila da escola, o dinheiro
da pão, a chave do portão...
Naquele dia, ao sair da escola, foi com os amigos
brincar de gigante. Era assim: eles ficavam de costas para o sol do final da tarde e viam quem tinha a
maior sombra. Mas, diante de Marquinho, não havia sombra nenhuma! Os amigos, entretidos com
suas próprias sombras, ainda não haviam percebido nada, então Marquinho tratou de correr para
dentro da sala de aula, a procurar pela sombra
perdida. Nada dentro da carteira, nada debaixo
dos bancos, nada atrás da porta, nem tampouco
dentro do armário da professora, que, irritada, tratou de expulsar dali o aluno retardatário.
Marquinho vagou pelo pátio do recreio, olhou na
quadra de esportes, até no parquinho dos alunos
menores, sem sucesso.
O menino pensou em todos os lugares aonde havia ido desde a manhã.
Marquinho lembrava-se de que havia agitado o
boné da sombra pelos degraus da escada ao entrar no carro de papai... e se a sombra houvesse
ficado no carro? Não havia como saber antes da
noite, então começou a procurar na padaria, na
quitanda, na farmácia, na banca de jornais, e até
na floricultura, onde papai parara pela manhã e
comprara um belo buquê de rosas para mamãe.
O menino entrou na padaria e olhou nas prateleiras de biscoitos, no balcão dos queijos, debaixo do
balcão do caixa...havia muitas sombras por ali,
mas não a sua.
Na quitanda foi mais complicado, o balconista
achou que ele queira levar alguma fruta sem pagar, e ele não queria ser surpreendido sem sombra, e ficou se esgueirando pelos cantinhos escuros, deixando o português mais desconfiado e foi
corrido para fora com ameaça de vassouradas.
A banca de jornal foi o local mais tranquilo para
procurar, porque ali as pessoas normalmente estão lendo e não prestam atenção aos outros, e
muito menos a suas sombras.
E na floricultura, ele esperou que sua sombra, resfriada pela umidade, se denunciasse por um espirro, o que não aconteceu.
Escondendo-se na sombra de outras pessoas,
Marquinho voltou para casa, pulando ao lado da
professora, agachando-se para brincar com o cachorrinho da vizinha, e com isso, ficando na sombra dos outros.
E, entrando em casa continuou a procurar por aqui
e por ali, na esperança de que a danadinha houvesse voltado para casa, até que o irmãozinho o
surpreendeu, e perguntou:
- Posso ajudar?
- Não! – disse Marquinho, enfiando-se debaixo da
cama, só para ser imitado pelo irmão menor quase
no mesmo instante.
- O que você está procurando?
- Eu? Nada...
- Eu venho seguindo você desde a esquina, e...
- Como é que você pode estar me seguindo desde
a esquina se você não saiu de casa?
- Seguindo da janela, eu estava espiando... conta
pra mim, vai, conta logo!
- Ai – suspirou Marquinho – desta vez a encrenca
é das grandes.
- O que é que você perdeu?
- Você nem vai acreditar. – e o menino suspirou,
infeliz.
- A cabeça é que não foi, está bem grudada aí no
seu pescoço. – riu o caçulinha.
- Foi a minha sombra. – e o garoto suspirou de novo, confuso.
- Ah, isto eu quero ver! – e o menorzinho puxou o
irmão para o claro, onde, para seu espanto, só
mesmo o Marquinho, e nada da sombra de Marquinho.
- Vai ver que sua sombra dormiu demais e ficou na
sua cama.
- Eu saí com ela – disse Marquinho, mas, por sim
ou por não, foi olhar debaixo da cama.
Por sorte, a mãe estava no banho, então Marquinho tinha algum tempo para procurar em paz, então, ele e o irmão começaram a vasculhar cada
cantinho da casa: atrás do sofá, das cortinas, dentro da máquina de lavar, e, por fim, na biblioteca,
onde, ao entrar, Marquinho viu, com surpresa, a
sua sombra na parede, debruçada sobre a escrivaninha de papai.
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98
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Marquinho correu para lá. Ele sentou-se ali até
ocupar exatamente o espaço da sombra. Mexeu
de leve a cabeça, e a sombra o acompanhou.
- Graças! Posso voltar para a sala.
Quando ele se levantou, porém, a sombra nem se
mexeu. Ele tornou a sentar-se. E agora? Aberto
sobre a escrivaninha, um livro fininho. Marquinho
olhou de relance para a página aberta:
‘Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de
velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem
ou demasiado velho para alcançar a saúde do
espírito.’
- O que é isso? – perguntou o irmão mais novo,
que ainda não sabia ler.
O menino olhou a capa do livro e leu em voz alta:
Carta sobre a felicidade.
- Quem escreveu isso?
- Com o nome de Epicuro, deve ser grego. Um
daqueles gregos de que o avô tanto gosta de falar.
- Eu adoro as histórias de gregos. – o irmãozinho
animou-se – Aquele Ulisses sabido, que ouviu o
canto das sereias, e enganou o gigante de um
olho só...Você também gosta. Leva o livro com
você.
Marquinho achou a ideia boa. Pegou o livro, levantou-se, e a sombra levantou-se junto. Ele já
estava se sentindo de novo normal, quando a
sombra empacou, bem em frente a uma pilha de
livros de matemática da mãe.
- E agora essa! – e o garoto falou com a sombra,
sentindo-se um tanto quanto bobo – Bem, o que é
que você quer, afinal? – para surpresa dele, a
sombra apontou para a estante.
O irmãozinho riu.
- Pelo jeito, sua sombra é viciada em livros.
Marquinho começou a folhear um por um, até perceber o que a sombra queria: um livrinho cheio de
gravuras coloridas, jogos cheio de números, pequenas histórias sobre curiosidades matemáticas.
O interesse de Marquinho foi imediato.
- Ora, ora, até parece que a matemática pode ser
divertida, como diz o papai.
Mamãe veio chamar os meninos, pois papai acabara de chegar em casa e o jantar estava pronto,
e achou curioso que Marquinho tivesse dois livros
na mão, e que os dois meninos a toda hora olhassem o chão e as paredes.
- O que vocês estão procurando, afinal?
- A sombra do Marquinho – disse o irmãozinho.
- Essa ele não perde – disse a mãe – está bem
grudada no corpo dele.
- Quem dera! – disse Marquinho, assustado. Toda
vez que ele tentava se separar dos livros, a sombra empacava. O jeito foi sentar-se em cima dos
livros pra jantar.
- No meu tempo de menino – disse o papai – a
gente colocava a tabuada debaixo de travesseiro
na véspera da prova, para aprender dormindo. E
funcionava direitinho: se eu recitasse a tabuada
trinta vezes, antes de colocar debaixo do travesseiro, era tiro e queda: decorava tudinho. – e piscou o olho para os meninos, que sorriam em cumplicidade. – mas nunca sentei em cima do livro
pra jantar, não.
Marquinho acabou o jantar, abriu o livro do grego
ao acaso, e, em voz alta, leu:
‘é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente,
tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.’
Mamãe e papai, que eram ambos professores, se
entreolharam. E acabaram por falar, quase ao
mesmo tempo, o que fez a família inteira rir:
- Bem diz o ditado que ‘quem sai aos seus não
degenera’.
- Você sabe o que traz felicidade, papai?
- Claro que sei! É estar em paz com minha família. Isto é felicidade: todos juntos, com saúde, lendo filosofia grega a procurando sombras nas paredes.
- Sombras, não, só a sombra do Marquinho – começou o menorzinho, mas Marquinho o interrompeu:
- A minha sombra gosta de ler. Ela hoje fugiu de
mim e se escondeu na biblioteca.
É claro que a mamãe e o papai pensaram que o
Marquinho estava fantasiando.
O fato é que a sombra do menino lera muitos livros interessantes naquela tarde, e daquele dia
em diante, Marquinho começou a gostar de livros,
e tornou-se um leitor voraz, e mais tarde, um homem muito sabido.
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99
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
NOSSA INFÂNCIA
Por Odenir Ferro
Como éramos felizes nós todos. Sempre unidos,
Ora brincando, pulando, correndo, recriando sons
De bichos, imitando os cantos dos pássaros, tudo
Era uma alegria sem fim, enquanto brincávamos...
Entretanto, pelos motivos mais banais que fossem,
Estávamos brigando, gritando, se agredindo... Com
Nossos egos inflamados de pura adrenalina cheia de
Muitos rancores... Para logo a seguir, abrirmos nossos
Corações, nossos sorrisos, e continuarmos com as inúmeras
Brincadeiras que para nós nunca tinham fim; tudo era festa!
Abrigávamos as nossas almas, as nossas inocentes emoções,
Junto aos troncos dos arvoredos que compunham as diversas
Naturezas das árvores frutíferas das mais variadas espécies de
Qualidades: altos pés de mamões, extensas parreiras de uvas,
Jabuticabeiras de frutos suculentos e doces; pés de romãzeiras,
Muitos pés de limoeiros e uma grande quantidade de laranjeiras.
Compostas por diversas qualidades de laranjas. Envolvíamo-nos,
Adjuntos aos troncos, nos mais altos galhos daqueles frondosos
E velhos arvoredos. Fazíamos deles, os nossos esconderijos,
Acariciando por horas a fio, todas as texturas mais nobres,
Daqueles nossos imensos sonhos que nunca tinham fim...
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100
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Campinho da várzea
Ao Sonhador Thalles Teixeira )
Por Raimundo Cândido Teixeira
A bola era como uma doce balinha,
e o campo de futebol em terra chã
na beira do rio, no declínio da tarde,
fazia a gente salivar, só em pensar.
Os meninos surgiam de todo canto,
poeira que vai chegando sem convite
num faro, num verme roendo o desejo.
Brotavam em profusão, em magote.
Era só correr sem obrigação,
com o dever de casa por fazer,
enfurecessem, fosse quem fosse,
o mundo era uma bola de futebol.
Sumo instante e suprema alegria.
Um traço, um chute e um gol.
Invulgar, inigualável, inexprimível.
Aquela adocicada magia, nunca mais!
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101
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
NOSSA INFÂNCIA
que não teve o amor dos pais.
Por Lóla Prata (Bragança Paulista)
7Convidada a esperança
1-
a sentar conosco à mesa,
Voltando o circo à cidade
ergueu-se um brinde à criança:
no espetáculo singelo
- Conserve sempre a pureza!
traz o riso à toda idade
e para a infância, o belo!
8- “Protejam nossas crianças!”,
2-
exortou Pelé há anos,
É grande ação benfazeja
mas as piores mudanças
promover a esperança
vieram de desumanos.
por um tiquinho que seja
no viver de uma criança.
9Vê-se no noticiário,
3-
muitas crianças sofrendo...
A criançada debanda
Oh, Deus, que triste cenário
esquecendo as brincadeiras,
dos inocentes morrendo!
pra irem atrás da banda
e vão... fazendo zoeiras.
4Toda criança merece
em qualquer tempo e lugar,
cuidados dos quais carece,
muito amor e bem-estar.
5Na floresta do Amazonas
há indiozinhos selvagens:
são crianças brincalhonas
que vivem entre as folhagens.
Desenho de PapaTi"a
6Supliquei à esperança
pra que não fuja jamais
de um coração de criança
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102
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Trovas de membros da UBT
União Brasileira de Trovadores
- seção de Bragança Paulista
Naquela casa da esquina
a minha infância passei.
Quando ainda era menina
doce paz vivenciei.
Por Myrthes Neusali Spina de Morais
Desde a infância, cultivada,
uma sincera amizade
é qual árvore plantada:
dá frutos em quantidade.
Por Marina Valente
Em cada olhar ... esperança.
De suas bocas ... canção.
Em todo gesto ... bonança.
Lembranças no coração!
Por Cristina Cacossi
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103
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Criança
Por Silvio Parise
Criança,
Que brinca, que fala, que briga e que chora,
Que canta e que marca, que dança, mente, mas é cheia de graça.
Criança,
Futuro de todos, verdadeiramente a nossa esperança!
Criança,
Fruto gerado no ventre
De um amor sempre presente,
Cuja aliança se reflete
Na multiplicação de toda espécie.
Criança,
Do sorriso vindo das eternas lembranças...
Criança,
Sinônimo de uma mera segurança.
Criança,
Que, como a história aponta,
Independente da idade,
Porque essa, na realidade,
Não tem nenhuma importância.
E, como o poeta mesmo conta,
Completamente livre de preconceitos,
A verdade nos mostra
Que, nessa existência Gostosa,
Criança, somos todos nós,
Amantes da voz e de uma eterna prosa.
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104
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Por Sheila Ferreira Kuno
O DBA MASSAGISTA
muitos funcionários.
Estávamos todos ansiosos com a chegada do
novo Administrador de Banco de Dados
(DBA), pois havia muito trabalho na área de
desenvolvimento.
Mais o pior estava por vir, a coordenadora de
TI da empresa cliente, Cecília, uma moça muito doce e delicada, estava grávida e Emerson
adorava conversar com ela e dar dicas de
exercício, alimentação e tudo mais.
Logo pela manhã, uma das garotas que trabalha na empresa, teve um problema passageiro
na coluna e mal conseguia se mexer, ela então se deitou no sofá da recepção para esperar o irmão que viria buscá-la. A gerente de
recursos humanos Diana, que estava ajudando Sofia fechou a porta da recepção para que
ela ficasse a vontade.
Foi quando um dia Emerson se superou e disse para Cecília:
Alguns minutos depois, Emerson, o novo DBA
chegou e abriu a porta da recepção. Ao encontrar Sofia naquela situação, perguntou o
que ela tinha. Eles ainda não se conheciam,
mas mesmo com dor Sofia lhe explicou, foi
quando Emerson, preocupado, começou a
massagear suas pernas, dizendo que ela melhoraria com aquela massagem.
Cecília ficou horrorizada com aquela pergunta,
mas disfarçou dizendo que não e que eles
precisavam trabalhar.
Sofia então começou a gritar:
- Cecília, por acaso aqui na empresa não tem
uma sala reservada, onde você possa ficar de
quatro para eu lhe ensinar umas posições de
relaxamento, que você poderá fazer com seu
marido?
Cecília contou o ocorrido para seus amigos e
Emerson tornou-se chacota na empresa cliente. Inclusive fiquei sabendo desta história um
mês após a demissão de Emerson, quando eu
e meu amigo Sandro fomos a uma reunião
nessa empresa e os amigos de Cecília nos
contaram.
Diana correu até a recepção e presenciou
aquela cena bizarra. Diana, então repreendeu
Emerson, que mesmo sabendo que Sofia não
queria sua ajuda, pois não o conhecia, continuou insistindo.
Mas Emerson não parou por aqui, ele continuou sendo protagonista de outras cenas constrangedoras.
Quando Emerson participava de implantações
de sistemas em empresas clientes, ele costumava ir de mesa em mesa e orientar as pessoas em relação à postura, ao invés de realizar suas funções de DBA, atitude que irritava
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- Socorro, socorro! Tira esse cara daqui, eu
não consigo me mexer!
105
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Nossa infância
MAMÃE
Por Mariane Eggert de Figueiredo
Por Erna Pidner
Mamãe, me conta
uma história bonita
pra eu dormir.
Eu sou pequenina
e tenho medo
de bicho e do escuro.
Mamãe, me proteja
quero lhe pedir.
De você eu preciso
pra crescer
forte e sadia
e o mundo lá fora
eu enfrentar.
Mamãe, eu necessito
do seu aconchego
do seu carinho
e do seu amor.
Mamãe, sou criança,
mas discernir
os laços que unem
nós duas, enfim
mãezinha querida
seja, nessa vida
tudo pra mim!
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Quem nunca sonhou em voltar a ser
criança? Pelo menos uma vez na vida? Poder voltar a um tempo em que a fantasia permitia todas
as coisas imagináveis e aquelas em que criatura
alguma ainda ousou pensar...
A infância é uma cama de algodão. Um
berço esplêndido. Uma caverna mágica em que
tudo é possível. Nela são dados os primeiros passos para a vida. As primeiras experiências do futuro indivíduo se constroem. As conexões no organismo se formam. Os órgãos preparam suas
funções posteriores a fim de dar ao futuro corpo
adulto todas as suas potencialidades. Por isso a
infância é também fase de aprendizado, de maturação, de preparação.
A infância é, finalmente, um livro de páginas em branco em que tudo e todas as coisas
podem vir a serem escritas da maneira que se desejar. Todo e qualquer borrão nele feito, trará erros de leitura na história posteriormente vivida e
contada. Suas cores pintadas deixarão mais ou
menos tons, seus caracteres tornarão mais ou
menos fácil a compreensão dos textos inscritos.
Nossa infância nos marca para sempre.
Nossos pais. Irmãos. Primos, tios, avós, parentes.
Nosso lar. A casa, o cachorro, a escola. Lembramos de nossa rua e dos vizinhos. Das brincadeiras e dos castigos. Das rotinas e de detalhes que
às vezes esquecidos, afloram à alma ante um
cheiro - ah, como fazem bem à alma os cheiros
da infância, o da comida de mãe, de avó, de domingo! - tudo o que evoca a infância faz bem até
ao pensamento.
Mesmo quem já é muito feliz, fica ainda
mais feliz quando pode voltar à infância! Ou você
nunca voltou em sonhos ou em viagens às paisagens em que cresceu? Pense nisso! E certamente
será feliz!
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106
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
e a vida era uma festa
MINHA INFÂNCIA
parecia nunca ter fim.
Até de professor
Por Ju Petek
eu e meus irmãos brincávamos
Serelepe ...
Até de missa brincávamos
saltitante e agitada,
Enfileirávamos cadeiras
meu pai me chamava de pipoca
e num ônibus imaginário
minha vó de massaroca
viajávamos
eu gostava,
e a vida era uma festa
quanto mais apelidos
parecia nunca ter fim.
mais corria, saltava,
Ah os encantos da minha infância
com os amigos jogava
Saudades não tenho
amarelinha
Porque são dias cravados
caçador
na alegria do meu coração
passa anel
esconde esconde
policia ladrão
meia meia lua ... 1, 2, 3 !
Tudo era alegria e algazarra
como uma festa sem fim.
Minha infância nas ruas do Passo D'Areia
foram estonteantemente felizes.
Ah! e os dias na casa da vó
brincava com as galinhas
coelhos e porcos.
Meu cãozinho Bob.
Subia nas árvores
e dá-lhe comer maçã, pera, pêssego
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no parreiral deliciosas uvas.
E a noites de verão
cadeiras na calçada espalhadas
conversa fiada dos adultos
e a criançada rodava
brincava, jogava
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
POESIA DA NOSSA INFÂNCIA
Por Sandra Berg
Lembro-me de nosso quintal
Um cercado com cerca de pau,
Foi palco das brincadeiras
Testemunha já desaparecida
Do que a vida foi um dia.
Apaches em montarias,
Generais em suas brigadas,
Espadachins guardiões
De um reino dos sete anões,
Brincávamos de farda em farda.
Cinderela sempre bela
À janela dos vagões
O príncipe de suas quimeras
Que rechaçava vilões
Estava sempre a sua espera.
Trincheiras imaginárias,
Guerreiros ainda em paz
Aureolados pelo carinho,
Redomados em seu ninho
Sob a aliança dos pais.
Entre pequenos privilégios
Que logo nos são tirados
Posto que o tempo, cavaleiro,
É mais veloz e contumaz
Que a nossa imaginação,
Ainda não se compreendia
O mundo, um campo em batalha,
Onde há também dor e mortalha,
Queda e desilusão
Que não se cura com mertiolate.
Mas, a nossa linda infância,
Movia-se num estirão,
Pulava-se amarelinha,
Nadava-se nos igarapés
Tomava-se banho de chuva,
Curava-se gripe com rapé.
Estórias do Curupira
Fazia-nos aquietar
Temendo o seu grande pé,
Que, ao progresso desmedido,
O dito deu marcha a ré!
Oh! Nossa infância querida
Inspiração a minha alma,
Que oculta dor, a requer?
Doce inocência perdida
Tolhida nos malmequeres da vida.
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108
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Saudade da Saudade
Por Leonilda Yvontetti Spina
Tenho saudade de pitanga, amora,
lírios, dálias, malvas, copos de leite...
(Onde essas flores dos jardins de outrora?)
De bom-bocados, bem-casados, canudinhos
- não havia elaborados docinhos.
Tenho saudade das brincadeiras de roda,
bola-queimada, pular corda, amarelinha,
- me dá foguinho? Vai no vizinho...
O tempo passou bem depressa...
A infância fugiu de mansinho.
Tenho saudade da esperança,
verde como a relva macia.
Dos sonhos, da confiança
de ser feliz algum dia.
... Hoje, mamão papaia, cereja, melão...
Frutas sofisticadas em cada estação.
Cadê os sapatos de verniz, de pulseirinha
(band-aid no calcanhar...) e os românticos
boleros com que aprendíamos a dançar?
Não havia pagode, forró, lambada...
Éramos felizes com quase nada.
Apraz-me saborear pitanga, amora,
sentindo o gosto de meu ontem no agora.
Tenho saudade da saudade
que em meu coração florescia.
Saudade da esperança
de ser feliz alguma dia!
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109
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Ímpio florescer
Por Ludmila Rodrigues
Uma limonada rala talvez a levasse àqueles
dias outros. Foi à cozinha e espremeu a fruta, misturou água e entupiu de açúcar. Precisava de açúcar no sangue e na vida. Foi
transportada para os dias azuis de calor, família por perto, cheiro de banana da terra frita com canela. A casa ainda tinha grama macia, aquele parque construído quando veio a
notícia do seu nascimento, o carrossel ainda
completamente amarelo. As pessoas da casa
eram como permaneciam na parte boa da
memória, cheias de um cansaço vivo, gritavam "menina, pare de girar tão rápido nesse
brinquedo" com um sorriso na cara de família
boa e alegre, sem mortes, esquecimentos,
rancores e amarguras. A menina suada, vestido sujo, inundada de infância daqueles dias
sorria e gargalhava, não tinha que se preocupar com escola, somente com a hora do banho que era sempre depois de o sol se pôr.
Em seguida, vinha a comida de sempre, mas
com gosto de férias, a casa já iluminada pela
lua, cabelos limpos esfregando a terra porque ela olhava para o céu de sua infância.
Então, ouvia "menina, você acabou de tomar
banho, levante dessa terra", palavras proferidas por uma gente toda sorridente que também tinha cara de férias. A verdade é que,
mesmo quando não estava de férias, aquela
gente era feliz e lindamente cansada. Vinha o
sono. Cama quente envolvendo tão bem corpo de menina exausta que dormia e sonhava
com o brincar de esconde-esconde. A escola
se encarregava de vestir meninas de flor nas
primaveras, a mãe ia assistir ao espetáculo e
sempre chorava vendo a menina vestida, vez
era de violeta, vez, de tulipa branca. O ano
passava com suas estações marcadas, sanduíche e limonada pela manhã, sempre uma
vontade que renascia, era o saber da existência das férias, era a certeza de que a felicidade não era só o hoje, era ter família com
almoço aos domingos e remédio só quando
vinha doença de criança.
A acidez do limão começava a corroer língua
e garganta, esôfago, estômago. A limonada
não ficara rala. Doía. Sim, porque estava de
férias, mas os dias não voltavam, eles não
voltavam, tudo era tão diferente, meu deus,
não havia mais mato em flor na primavera,
isso porque também não havia mais menina
vestida de flor aos setembros, choro doce de
mãe. Não havia mais festa com bolo de aniversário e bom mesmo era esquecer que todo ano aquele dia insistia em nascer. Precisou-se de remédio para dormir, remédio para
acordar, remédio para conseguir ver um dia
inteirinho existir. Sabia que casa não havia
mais, também não mais havia nada do que
antes ficava dentro dela.
O cansaço vivo daquela gente ficou no que
há de memória: no colorido de livros, filmes,
fotos, na ferrugem do carrossel amarelo, nas
tulipas brancas de outros setembros.
Conheça o Grupo Literário A Ilha, de Santa Catarina,
encabeçado pelo escritor Luiz Carlos Amorim
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110
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Éramos Crianças!
Por José Cambinda Dala
Jamais me esquecerei
Aquela humilde e pobre infância
Naquela época de muitos problemas…
Ciente das dificuldades
Amamos sempre ir a escola
Relevante mesmo era estudar
Não importava tanto as dificuldades…
Permanecíamos sempre felizes com o ambiente escolar
Aprender e brincar, eram os nossos objectivos
Na escola, nos parques, praias, campos e nas ruas, lá estávamos
Com bastante alegria infantil, seguíamos em frente
Inteligentemente que hoje estamos aqui!
Agora e sempre apenas para recordar.
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111
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
LÁ NA INFÂNCIA
Por Madal
Lá na Infância, a vida inscreveu tudo que eu iria editar ao longo do viver.
Os gostos que eu iria ter,
Os desprazeres que era pra odiar.
As imagens que era para amar: o dia nascendo ou o sol se pondo,
o cheiro de terra chuva molhando a terra seca,
o nascimento de todas as sementinhas
com pressa de desabrochar manifestando e testemunhando
o milagre da vida se reproduzindo com beleza e precisão.
Apequena semente como um mágico
rompendo o invólucro que a reveste apresenta com a maior singeleza a grandeza de
uma grande árvore contida dentro de si,
primeiro mostra uma folhinha tenra e verde.
É o enigma da vida se manifestando.
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112
Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Rei Guilherme, o Breve
Por Eliane Accioly
Me sentia o rei, dono de minha casa e dos bichos que por aqui vivem. Tem árvores em volta dela. Sabiás, bem-te-vis, maritacas, papagaios, uma coruja branca e outra rajada, e os
gaviões. Ah, e Chiquinha, cadela de uma raça
Sul Africana, que papai acha foi maltratada
antes de vir pra nossa casa. Ela é carente, e
tem medo de chuva, principalmente as de raio
e trovão. Como sei que Chiquinha é carente?
Desde bebê ela mostrava os dentes para qualquer pessoa de fora, até para minhas avós Eliane e Gisela, que ainda hoje falam com ela
como se a cachorra fosse gente. Acho que fazia isso por medo de ser machucada. Minhas
avós fizeram de tudo para conquistar a Chiquinha, e acho que agora as três são boas amigas... mas colocar a mão no bicho nenhuma
das duas coloca, apesar de bem tratá-la.
concertar sapato e roupa.
Um dia Alicia, nossa vizinha andava pela rua
com os netos João, Pedro e Antônio, que são
menores que eu. Do lado de dentro do portão
Chiquinha esgoelava pros quatro. Passeavam
na rua, e nem iam entrar em casa. Fiquei curioso e vim ver que barulhão era esse que minha cadela fazia, e parei pra conversar. Alicia
falou:
_ Chiquinha é muito brava?!
Respondi que não, não era braveza, ela era
carente. Contei pra Alicia e pros meninos como imaginamos a história de infância de Chiquinha. Alicia, colega de vovó Eliane, as duas
são terapeutas de gente, não de cachorro.
Bem, ela e os netos ficaram me ouvindo. Alicia
que sempre conversa muito dessa vez ficou
calada, só me olhando. Depois vovó contou
que ela ficou impressionada comigo e não
com Chiquinha. Se entendi bem, Alicia me
acha um filósofo.
Perguntei pro Papa o que é filósofo, tive dúvida se era elogio ou xingação. Papa contou
que filósofo é um homem que pensa. Pensar
penso, mas será que sou filósofo? Ah, é coisa
de gente grande, nem sei se quero ser filósofo, por enquanto gosto de surfar.
Mas do que tenho saudade é de quando eu
era o rei de minha casa, e daquele quintal. Até
pensava em mim como Rei Guilherme. Aí
aconteceu:
h p://cachorrosblogs.blogspot.ch/
O cuidado de minhas avós com as próprias
mãos veio depois de Chiquinha dar-o-chegapra-lá na Oma, marcando seu braço com os
dentes. Só arranhou, mas Oma sentiu-se traída. Se fosse comigo eu também me sentiria.
Olhei para vovó Eliane e vi nela um desconcerto. Desconcertar é quando a gente se sente
desconjuntado, assim meio fora do lugar. Oficina pra concertar gente não tem, como pra
Um casal de gaviões fez ninho no abacateiro e
botou ovo. O gavião achava que era o dono de
tudo aquilo. Falei pro Papai: "Não é justo, você
que paga o IPTU". "O gavião não sabe disso",
Papai disse.
Os ovos foram o máximo. A gente podia ver
do escritório da Mama. No jardim o gavião dava rasantes em todo mundo que passava perto do abacateiro.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Aconteceu comigo e com todos nós. E come-
Muito custoso ser rei. Se eu fosse rei odiaria
cei a duvidar de meu reizismo. Pedi pro papai
gaviões. Agora sei que nem Chiquinha é mi-
expulsar o gavião, o que ele recusou, o IBA-
nha. Ela acha que é a minha dona, de meus
MA ia brigar. E o bicho me derrubou. Me atirei
pais, da minha irmã e da nossa casa. Vai ver
de barriga ao chão, pra não ser atingido pelo
por isso deu o chega-pra-lá na Oma. Se bobe-
rasante dele. Zanguei-me deveras quando Pa-
ar, Chiquinha acha que é dona até dos gavi-
pa falou em comprar um capacete de moto-
ões. Bicada não vai levar, odeia abacate.
queiro pr´eu andar no jardim. Respondi:
_ Papa, está maluco? Aqui quem manda sou
eu! Se o gavião quiser ele que use capacete!
_ Por que? Você dá rasante nele?
_ Claro que não, se nem voo!
Bem, Papa não comprou capacete nenhum,
no lugar disso assistimos dia a dia os ovos
chocados. E cada gaviãozinho deixar o ninho,
crescer e poder voar. O ninho vazio o gavião
não ataca mais. Sem dos filhotes pra proteger
está calmo. Desistir do abacateiro não desiste.
Nem ele nem a fêmea. Outro dia quem quase
pagou o pato foi um papagaio, xereta de abacate. Achei que o papagaio ia pro papo. O gavião voava e assentava num galho de cima, e
a gaviona assentava no galho de baixo. Caçavam juntos. O papagaio xereta pulava de galho em galho. Os gaviões cercavam o bicho
verde e laranja, gritando feito um montão de
maritacas. Teretecoteteco, barulheira de um
bando, não de um só. O papagaio fugiu. Barriga cheia de abacate os gaviões deixaram, não
precisavam de carne de papagaio, que deve
ser dura de roer.
ANIMAIS EM CIRCOS NA GRANDE
MAIORIA DAS VEZES NÃO SÃO BEM
TRATADOS.
SÃO FORÇADOS A ATIVIDADES NÃO
NATURAIS PARA SEREM
“TREINADOS”.
E ISTO APENAS PARA O ENTRETENIMENTO DOS HUMANOS.
SEJA HUMANO, BOICOTE CIRCOS
COM ANIMAIS!
Desisti de ser rei e não só daquele pedaço.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
minha obrigação é lhe proteger.
MENINO DE RUA
-Proteger-me? Eu ia morrer? Agora, além
de menino de rua ainda é vidente?
Por Marcos Toledo
- Não sou vidente, sou seu anjo da guarda.
Sentado a beira da calçada, ali de cabeça
baixa, sem olhar para nada e ninguém.
Transeuntes sequer olhavam-no, mas
também ele sequer levantava a cabeça para
vê-los.
Do outro lado da rua aquela figura, chamou-me atenção, passei a observá-lo sem ser
observado por ele.
Vez por outra ele levantava a cabeça,
olhava para o céu por instantes e voltava a
baixá-la, com a mão corria pelo chão como
que escrevesse algo.
Já se fazia quase meia hora que estava
ali e nada dele receber algum tipo de ajuda, ou
ser importunado por alguém. Resolvi atravessar a rua e ficar mais próximo dele. Estranho o
que estava acontecendo, pois já era hora de
estar no trabalho, mas lá estava eu observando um menino de rua, em mais uma atividade
que mais sabia fazer. Nada.
- Ah, tá, meu anjo da guarda... Assim
neste trajes? E como posso saber se é verdade?
- Olhe em volta e veja que estão lhe vendo conversar sozinho, estão rindo de você.
Olhei em volta, realmente estavam passando e olhando para mim, quando voltei os
olhos para o menino, ele não estava mais ali.
Meio envergonhado, levantei-me, pois
estava de joelhos no chão e fui para meu trabalho. Chegando lá, todos do prédio estavam
na rua, pois o elevador havia despencado, por
sorte não tinha ninguém dentro.
Voltei a trabalhar normalmente, mas nunca mais deixei de acreditar que alguém lá em
cima me protege.
AMÉM
Uma hora se passara, olhei para o relógio
e resolvi ir perto dele oferecer-lhe algo para
comer.
- Oi menino, tudo bem com você?
- Sim, está!
- Posso oferecer-lhe algo para comer?
- Não! Já comi!
- Posso fazer alguma coisa para lhe ajudar?
- O senhor já fez!
- Hã! Como assim?
- O senhor não estava ali me observando,
há algum tempo?
- Estava! Como sabe?
- Eu o vi e, por isso, estou aqui sentado.
- O que tem a ver, ter me visto e estar
aqui sentado?
FOTO DE JOSÉ FERREIRA
h p://radyrgoncalves.blogspot.ch/
- É que eu não queria que você fosse para o trabalho agora!
- Por quê?
- Porque o senhor ia morrer no elevador e
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
... letras sós, só letras...
Por Felipe Cattapan
a
criança
só
soletra
a letra
impressa
sem pressa
passado
futuro
só presente:
presente do presente
só presente no presente
- a surpresa permanente
da descoberta constante
de um som em um desenho:
nem vogal nem consoante,
só música soante;
cada letra é
só o que é:
foi e é
sendo e será,
sem saber qual foi
nem qual virá;
- dura e perdura...
na eternidade sem idade.
... ainda
não há a verdade
- que só surgirá
com a idade e com a vinda
da soma de muitas letras
decompostas em palavras.
(ainda não há
a solidão desta verdade:
o verdadeiro sentido
da soma destas palavras
é só tentar recompor
a cartilha do tempo esquecido).
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
BIA, BEATRIZ
Por Júlia Rego
Estive pensando em como as crianças deste tempo tem o
poder de nos surpreender.
Costumo passar o dia de sábado com Beatriz, quando estou de folga, e, geralmente, programo um passeio, que
varia entre shoppings centers, teatro ou cinema. A depender da vontade dela, claro!
Nesses dias, arruma-se da forma mais caprichada possível, ela mesma escolhendo o figurino, coisa que não nos
seria permitida há alguns anos atrás, e, toda serelepe, põe bolsinha, pulseiras, colar e, claro, o
brilho nos lábios. E não adianta dizer-lhe que é ainda uma criança e não lhe cabe usar esses
complementos e, menos ainda, incorporar trejeitos de mulher adulta. De dedinho em riste e
mãos na cintura, ensaia um ar de autoridade, ignorando minhas observações, e puxa-me pela
mão. Só me resta pegar minha própria bolsa e segui-la, rumo à porta da rua.
Nosso destino? Adivinhem? Como uma criança filha da pós-modernidade e fruto do mundo capitalista com suas irritantes imposições, preferiu ir ao shopping. Não que não goste de ir a teatro,
parques, circos, ou outros programas mais infantis, mas, nesse dia, seu espírito de passarela
estava aflorado.
Entre fascinantes e luxuosas lojas de roupa, a pequena se mistura entre pernas de mulheres frenéticas, em busca de beleza, qualidade e preço, e braços de vendedores ávidos por empurrar o
último lançamento das fashions weeks nacionais e internacionais. Esforço-me para não perdê-la
de vista, tento agarrar seu bracinho, desesperada, mas ela ali está, olhinhos brilhando diante
dos tecidos multicoloridos, transformados em roupas de princesa, sonho de consumo de quase
todas as mulheres, ainda que pequeninas. Insiste para que eu lhe solte e, ao mesmo tempo, que
lhe compre aquele vestido rosa, brilhante e lindo pendurado na sessão teen. Chora, esperneia
como se estivesse diante de um brinquedo interessante, mas dessa vez eu não cedo a seus caprichos e convenço-a de que aquela roupa não lhe serve, ainda.
Ela só tem seis anos, meu Deus! E sua infância, onde fica? Acho que não foi uma boa ideia ir ao
shopping...
Depois de travar uma luta para conseguir sair dos, digamos, recintos perigosos para uma criançola cheirando a fraldas, vamos à sessão de cinema.
Pipoca, guaraná e milk-shake. Sim, afinal de contas ela é, sim, uma criança!
Entre vozinhas barulhentas e olhinhos curiosos, nos acomodamos nos assentos, mas noto certa
inquietação diante da iminência do escuro, resquícios do efeito de histórias infantis que remontam a antiguidade. Ponho-a em meu colo, por fim.
Tagarela durante todo o filme, perguntando, vibrando, fazendo observações, rindo, numa inquietude pueril típica que, ora me encanta, ora me impacienta. Quero assistir ao filme, externar meu
lado infantil, já que o dela anda um pouco duvidoso.
Final do filme, emoção, os bichinhos do bem saem vencedores e a criançada vibra de alegria
com seus heróis.
Está na hora de voltarmos para casa, mas, surpresa! Beatriz quer parar numa livraria que avistou de longe. Como resistir a esse delicioso desejo de uma menininha nessa idade?
Reflito que essa tal contemporaneidade tem lá suas vantagens, quando, em outra época, nos
interessaríamos por entrar numa “biblioteca”, segundo ela, dentro de um Shopping Center...
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Uma das coisas que mais me deixam feliz é vê-la
sentadinha, folheando páginas de histórias que a
remetem ao reino mágico da imaginação. Feliz da
criança que se atrai e é atraída para esse fantás"co
caminho.
As horas passam e Bia não se cansa de par"cipar
daquele mundo encantado, passando de um livro a
outro numa ansiedade frené"ca e surpreendente.
Depois de dúvidas intermináveis sobre qual deles
iria levar, compro-lhe um volume colorido e repleto
de histórias incríveis. Vibro de alegria por antever,
ali, uma herdeira de um dos meus mais caros prazeres.
Mas é hora de voltar para casa!
O caminho de volta é permeado por uma sucessão
de perguntas, comentários, movimentos intermináveis e caracterís"cos de uma menininha esperta.
Volta e meia, lembra do ves"do que ficou para trás
e lamenta por eu não ter comprado, prometo-lhe
que, quando ela "ver 10 anos, volto para comprar.
Dez não, rebate ela, oito! E sou obrigada a concordar, mais para encerrar a conversa do que como
promessa real.
Chegando em casa, enfim, tento "rar-lhe a roupa, e
fazê-la descansar, mas o dia não "nha acabado, ainda, e agora é hora de fazer os personagens saírem
dos livros.
De repente, improvisa ves"do longo e rodado, sapa"nhos de cristal, agora ela é a Cinderela e eu, claro, sou o príncipe que a levará ao castelo para o final feliz.
Toda sua imaginação vem à tona e uma infinidade
de roupas, sapatos e contos de fadas se desenrola a
minha frente. Hora sou personagem, hora sou narrador. E ela, sempre, as belas e maravilhosas princesas.
O tempo para ela não passa, mas eu estou exausta,
e os personagens também, mas ela não dá sinais de
querer dormir.
Quando, finalmente, seus olhinhos começam a coçar, chama-me a um canto e diz, “vovó você me nina”?
Seu olhar suplicante me enternece. Pego a minha
criança no colo e, apesar dos seus quilinhos já me
doerem as costas, embalo-a, cantando Boi da Cara
Preta, Dorme Neném, Ciranda Cirandinha, o Cravo e
a Rosa, A"rei o Pau no Gato, Se essa rua, se essa
rua fosse minha...
Ela se entrega a seus sonhos encantados, povoados
de princesas ves"das com ves"dos brilhantes, cor
de rosa, lindos príncipes montados em cavalos
brancos, fadas, bruxas e duendes, reis e rainhas,
lobos maus e vovozinhas, piratas e pós de pirlimpimpim...
E dorme...
Nesse momento, meus olhos também começam a
coçar, não de sono, mas de emoção.
Deixo as lágrimas caírem, admiro seu ros"nho angelical, compreendendo que a menina Beatriz é,
sim, uma criança, uma criança, muito, muito feliz.
Levo-a para a cama, mas, antes, de deitá-la, ainda
lembro-me de uma canção que fiz para ela, quando
nasceu.
Beijo seus cabelos e a aperto contra meu peito, cantando baixinho:
“O Anjo Gabriel desceu do céu
Para ninar a menina Beatriz
Dorme, dorme, dorme Beatriz
Dorme, dorme, dorme
Oh, menina tão feliz”
Deito-a, mansamente, na cama, e então "ve a certeza de que ela dormia, protegida pelas asas do
amor.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
Quando eu era pequena
Por Krisiane de Paula
Quando eu era pequena gostava de brincar.
Nas férias eu ia à casa dos meus avós bagunçar.
Lá tinha plantações que eram cuidadas pelo vovô João.
Eu nunca estava sozinha, eu tinha duas priminhas, que mesmo mais novas, eram minha turminha.
Uma delas, a Gigi, gostava da plantação de abacaxis, e a mais novinha, a Kelinha, era
cuidadosa com as galinhas e eu, a Krikri sempre gostei das florzinhas.
O dia passava voando entre as brincadeiras que escolhíamos em todos os cantos.
Até a vovó desconfiava da nossa animação.
O problema era o vovô João que ficava de marcação, afinal, era na sua horta a nossa curtição.
E quando as férias iam acabando, nós ficávamos pensando no dia de voltar para mais
confusão aprontar.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012
COCADA BRANCA
Ingredientes da Receita de Cocada Branca:
3 + ½ de Coco ralado
4 xícaras (chá) de açúcar
5 cravos da índia
1 xícara (chá) de água
Canela em pau
Modo de preparo da Cocada Branca:
Primeiramente coloque o açúcar e a água em uma panela em fogo alto até que forme uma calda, não precisa mexer, o ponto certo é aquele semelhante a uma bala
mole. Assim que der o ponto retire do fogo e acrescente o coco, os pedaços de canela em pau, e os cravos da índia. Coloque novamente a panela no fogo e mexa sem
parar, até que a calda adquira novamente ponto de bala mole, retire do fogo e com
uma colher retire quantias formando montinhos e coloque em uma superfície lisa
para que a cocada esfrie. Depois é só saborear.
Fonte: h<p://www.mundodasdicas.net/
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Revista Varal do Brasil
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VARAL 17 SET 2012