ISSN: 2236-8221
O Corpo
Jornal de popularização científica
Vitória da Conquista, 04.08.2013
nº 23
[email protected]
http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
EXPEDIENTE DE O CORPO
Coordenação geral – Nilton Milanez
Editor responsável – Nilton Milanez
Organizador - Tyrone Chaves Filho (UESB)
Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) – Henrique
Nesta edição, O corpo é discurso traz informações sobre o grupo de pesquisa
Magalhães
artigo de Atilio Butturi Junior e Yan Kaue da Silva Brasil, da Universidade Federal da
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Elmo José dos Santos (UFBA)
Profa. Dra. Flávia Zanutto (UEM)
Profa. Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB)
Profa. Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB)
Profa. Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)
Prof. Dr. Nilton Milanez (UESB)
Profa. Dra. Simone Hashiguti (UFU)
Fronteira Sul; um artigo de Kauana Candido Romeiro, graduanda em História pela
LABOR, da Universidade Federal de São Carlos; uma resenha de José Josemir
Domingos, doutorando em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba; um
Universidade Estadual de Londrina; um artigo de Alita Carvalho Miranda
Paraguassú e Eliane Marquez da Fonseca Fernandez, da Universidade Federal de
Goiás; uma resenha de Emmanuele Monteiro e Regina Baracuhy, da Universidade
Federal da Paraíba, além de notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análise do
Discurso.
lítico, considerando a intervenção das novas tecnologias nos programas de
governo, nas propagandas políticas eleitorais, nos discursos de posse. Observase, então, a necessidade de análise da multimodalidade a que o discurso
político está sujeito, estudando-o não somente em sua organização verbal e
imagética, mas em seu caráter semiológico a ser analisado a partir de sua
inscrição na história. As pesquisas desenvolvidas no grupo orientam-se na
busca de respostas às questões: é possível, com o quadro teórico da Análise do
Discurso, analisar o texto sincrético? Qual é a importância de se estudar as
imagens como operadoras de memória social e quais são as contribuições
desse estudo para o quadro teórico dos estudos do discurso? São essas, com
Labor - Laboratório de estudos do discurso
efeito, as motivações que regem os encontros semanais e as produções
O LABOR congrega pesquisadores da UFSCar, alunos de pós-graduação em
Linguística e da graduação em Letras e em Linguística da UFSCar. O objetivo é
bibliográficas do grupo.
Pesquisadores
discutir teórica e analiticamente questões relacionadas ao campo teórico da
Análise do Discurso como o contexto epistemológico de constituição da teoria, a
organização do corpus de análise, considerando as multimodalidades e as
articulações entre discurso e história na constituição dos enunciados. As
investigações organizam-se em dois eixos temáticos: (i) a inseparabilidade entre
a construção histórica dos discursos e o processo de produção de identidades, e
(ii)
o
papel
da
multimodalidade
na
produção
dos
discursos
Vanice Sargentini é professora Associada do Departamento de Letras e do
Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em Análise do
discurso e coordenadora do Grupo de Pesquisa LABOR/UFSCar, publicou diversos
artigos e capítulos de livros e organizou entre outras obras “Michel Foucault e os
domínios da linguagem” (Claraluz, 2004), “Análise do discurso: heranças, métodos e
objetos” (Claraluz, 2008) e “Legados de Michel Pêcheux” (Contexto, 2011).
na
contemporaneidade, em especial, na produção do discurso político. No primeiro
Carlos Piovezani é professor Adjunto do Departamento de Letras e do Programa de
analisam-se as construções de processos históricos discursivos operados em
Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em Análise do Discurso e
discursos sobre a resistência política, sobre os textos midiáticos divulgados na
História da fala pública e vice-coordenador do LABOR/UFSCar, publicou “Verbo,
mídia, todos eles, caracterizando-se como discursos que são espaços de
Corpo e Voz: dispositivos de fala pública e produção da verdade no discurso
encontro da língua com a história e âmbito ideal para a produção de
político” (Editora UNESP, 2009) e diversos artigos e capítulos de livros e organizou
identidades. No segundo eixo, investigam-se as transformações no discurso po-
“Legados de Michel Pêcheux” (Contexto, 2011).
Luzmara Curcino é professora Adjunta do Departamento de Letras e do Programa de
Jocenilson Ribeiro é Licenciado em Letras pela Universidade Estadual de Feira de
Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em História Cultural, Ensino e
Santana (UEFS), concluiu o mestrado em Linguística pelo Programa de Pós-
Aprendizagem da Leitura e Análise do Discurso e coordenadora do Grupo de
Graduação da UFSCar, onde atualmente desenvolve pesquisas de doutorado, cujo
Pesquisa LIRE/UFSCar, publicou vários artigos e capítulos de livro, organizou o livro
projeto financiado pela FAPESP intitula-se “Arqueologia da imagem na historiografia
Discurso, Semiologia e História (Claraluz, 2011) e traduziu “Inscrever e apagar:
linguística brasileira: discurso, ensino e sistema de avaliação”. Publicou alguns
cultura escrita e literatura (séculos XII a XVIII)” (Editora UNESP, 2007), de Roger
artigos e capítulos de livro e organizou, com Julio Cesar Machado, o livro
Chartier.
“Linguagem e Discurso: pesquisas e reflexões contemporâneas” (Pedro & João
Editores, 2012). Obteve concessão de Bolsa BEPE/FAPESP para realizar seu estágio
Amanda Batista Braga é graduada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba
sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle – Paris III.
(2006), Mestre em Lingüística pelo Programa de Pós-Graduação em Lingüística da
Universidade Federal de São Carlos (2008) e Doutoranda do Programa de Pós-
Juliane de Araújo Gonzaga é graduada em Letras (Bacharelado com Habilitação de
Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba com período co-tutelar na
Tradutor) pela UNESP, campus de São José do Rio Preto (2010). Atualmente é aluna
Universidade Federal de São Carlos. Pesquisa Análise do Discurso de linha francesa
do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Linguística da
com ênfase nos seguintes temas: discurso, imagem e semiologia.
Universidade Federal de São Carlos sob orientação da Profa. Dra. Vanice Sargentini.
Atua na área de Análise do Discurso Francesa e desenvolve pesquisa sobre a
Israel de Sá é mestre e doutorando em Linguística, subárea da Análise do Discurso,
sexualidade feminina na Imprensa Alternativa Feminista da década de 1980, tendo
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Membro do grupo de pesquisa
como objetivo específico analisar discursos sobre o corpo e o sexo feminino, bem
Laboratório de Estudos do Discurso (LABOR/UFSCar), é estudioso dos processos de
como as relações de poder e a constituição dos sujeitos.
construção de identidades e de espetacularização do discurso político e também da
produção/construção da memória/história contemporânea da Ditadura Militar
Marcelo Fila Pecenin é doutorando em Linguística pela Universidade Federal de São
brasileira e tem artigos publicados acerca desses temas.
Carlos, possui graduação em Letras (2004) e Mestrado em Linguistica (2007) pela
mesma universidade. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Linguística,
Marcelo Giovannetti Ferreira é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em
ensino de línguas e revisão de textos, atuando principalmente nos seguintes temas:
Linguística da UFSCar e membro do LABOR/UFSCar. Especialista em Análise de
teoria do discurso, filosofia da linguagem, língua portuguesa e língua inglesa.
Discurso e aspectos enunciativos do discurso. Seus interesses de pesquisa atuais
concentram-se em discurso político, práticas discursivas políticas e constituição de
Geovana Chiari é estudante da Universidade Federal de São Carlos. Tem
suas regularidades e estudos sobre aspectos enunciativos relacionados às práticas
experiência na área de Letras.
discursivas.
Livia Maria Falconi Pires é graduada em Licenciatura Plena em Letras
português/espanhol na Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR no ano de 2009,
Parla Camila dos Reis de Souza é mestranda em Linguística pela Universidade
titulada mestre em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística da
Federal de São Carlos. Especificamente, na área de Análise do Discurso.
mesma universidade. Participa do grupo de estudos em Análise do Discurso-Labor
desde 2007, desenvolvendo pesquisas relacionadas com as mudanças no discurso
político , na esteira da teoria da Análise do Discurso de linha francesa. Integrou a
comissão executiva do segundo Colóquio Internacional de Análise do Discurso
ocorrido em setembro de 2009, repetindo o que fez em 2006, no I CIAD. Integrou,
Principais publicações do LABOR
também, a comissão organizadora do Gel 2010 e do V Seminário de Pesquisa do
Programa de Pós-Graduação em Linguística e Ciclo de Palestras em Linguística
ocorrido em 2011.
Luciana Carmona Garcia Manzano é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação
em Linguística da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Paulo. Tem
Mestrado (2011) em Linguística pela mesma instituição. Licenciou-se em Letras pela
mesma instituição em 2001. É membro do grupo de pesquisas LABOR-Laboratório
de Discurso Político (CNPq: 401122/2010-7) da UFSCar desde 2007. Desenvolve
pesquisa na área de Teoria e Análise Linguística, com ênfase em Análise do Discurso,
atuando principalmente nos seguintes temas: análise do discurso, semiologia
história, discurso político, televisão.
Pedro Henrique Varoni de Carvalho é Jornalista, com 23 anos de experiência em
Discurso, Semiologia e
Análise do Discurso -
telejornalismo em afiliadas da Rede Globo, na maior parte do tempo ocupando
História. Vanice Sargentini,
Heranças, métodos e
cargos executivos. Foi Professor de teoria da comunicação, escritor e roteirista,
Luzmara Curcino e Carlos
objetos. Vanice Sargentini
manteve durante dois anos o blog no ar no site da EPTV, com textos sobre
Piovezani (Orgs.)
(Org.)
Legados de Michel
Pêcheux. Carlos
Piovezani e Vanice
Sargentini (Orgs.)
identidade , cultura e sociedade . Idealizador e produtor de documentários , séries
jornalisticas e DVDs musicais. É Doutor em Linguística (Análise do Discurso) pela
Universidade Federal de São Carlos com uma tese sobre o poético e o político em
Gilberto Gil. Pesquisador da área de linguagem, discurso e mídia, especialista em
música popular brasileira e tropicalismo.
Sobre as publicações dos pesquisadores do grupo, bem como outras
informações e notícias, acesse http://www.labor.ufscar.br/
Botando corpo e (re)fazendo gêneros
JJ Domingos
UFPB/PROLING/CIDADI
Em Botando corpo e (re)fazendo gêneros, a professora Anne Christine
Damásio empreende uma discussão sobre a fabricação do feminino nos corpos
das travestis e dragqueens, a fim de compreender como as mudanças corporais
que esses sujeitos experimentam se relacionam com a construção das
Que relações se estabelecem a partir dessa atribuição de significações? Quais
os significados atribuídos a gênero e identidades sexuais? Como os significados
sobre gênero e identidades sexuais se materializam, enquanto organizadores
das relações sociais estabelecidas pelas travestis e drag queens? Sem
demarcar limites precisos entre elementos teóricos e etnográficos e sem
qualquer pretensão de esgotar as questões propostas, a autora, ao longo de
sua análise, toca a superfície das questões abertas em sua pesquisa.
O corpo em sua materialidade entra em cena a partir do tópico
expressões de gênero. A partir de um vasto material etnográfico, a autora
articula suas reflexões acerca das relações de gênero com a problemática
contemporânea do corpo enquanto suporte principal para toda a construção
identitária, dessa corporeidade que foge aos ideais heteronormativos, que
adere a formas corpóreas definitivas, ou não, “numa lógica do 'nem sou isso
nem aquilo, não estou indo para lugar nenhum'”.
(In)corporando: ou de como ser uma “mona trucada”. Por via das narrativas
dos sujeitos em questão, a pesquisadora apropria-se do processo de
construção dessas diversas formas de corporeidade para pensar o corpo como
lugar de fabricações indefiníveis, que possibilitam mimetismos, obscurecendo
e eclipsando linhas de fronteiras, desestabilizando significados e trazendo para
seu centro as relações de poder que se refletirão em reposicionamentos
sociais e discursivos.
No item histórias experienciadas em corpos, a autora toma o discurso
das travestis, e das drags como falas de si, como fragmentos de vozes
comumente silenciadas que ora podem ressoar pelo espaço e falar de
impressões da existência, existência que se constitui paralelo a um fazer
De início, Damásio lança um conjunto de questões que nortearão suas
continuado do corpo. Uma forma de confissão por onde se intercalam
reflexões ao longo do texto, a saber: que mecanismos sociais, enquanto parte
“silêncios e falas acerca de amores, desejos, acontecimentos, medos, paixões,
desse processo de construir-se generizadamente, são acionados para que os
ódios”. Através da fala, enquanto prática de si, e do olhar sobre os corpos
sujeitos pesquisados se reconheçam enquanto travestis e drag queens? Que
desses
significados sobre corpo e corporeidade e sobre o que é considerado masculino
tecnológicas/protéticas materializadas, e enquanto tais, eivadas de um
e feminino são mobilizados pelos sujeitos e como essas significações
conjunto de significações dispostas no imaginário social. Significações que
reverberam nos corpos? Como se dá o processo de construção (re)generizada?
abrem possibilidades infindas para uma nova estética/ética de existência.
Que
sujeitos,
a
pesquisadora
sublinha
as
intervenções
Após registrar o deslizamento
de sentido em torno das noções
de
masculino
empreendido
e
feminino
pelos
sujeitos
pesquisados no processo de
invenção corporal, a autora
finaliza
mostrando
sujeitos
que
pesquisados,
os
assim
como todo sujeito histórico e
social,
buscam
tentativas sempre
fornecer coerência
através
de
renovadas
e estabilidade ao lugar para onde convergem os
elementos que possibilitam a construção de uma identidade. Mas para além
das tentativas de fixação, possibilitadas por conceitos confortadores que
caminham para o fechamento, sua pesquisa objetiva pensar essas
identidades em contínua construção, “sem a procura obsediante por um
desenho final, levando em conta a movência que tangencia os encontros, os
corpos, as relações”. As identidades por onde se imbricam sexo, gênero e
sexualidade têm no corpo, elo inconcluso, o suporte para sujeitos em trânsito
que seguem à parte de caminhos convencionais.
III SEMANA DE LETRAS
Epistemologias, práticas, contribuições
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, por meio do DELL –
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários e da PROEX – Pró-Reitoria de
Extensão realizou, entre os dias 15 e 18 de Julho de 2013, a III Semana de
Letras, cujo tema foi Epistemologias, práticas, contribuições. As atividades,
durante o evento, movimentaram os dois turnos, manhã e tarde, nos quais
alunos e professores interagiram em sessões de palestras, mesas redondas,
conferências e sessões de comunicações. O evento reuniu trabalhos de alunos
de Letras da UESB do campus de Vitória da Conquista e de Jequié, além de
estudantes da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz e da UNEB –
Universidade do Estado da Bahia, de diferentes campi. Ao todo, a atividade
extensionista contou com quatro palestras, duas conferências e nove mesas
redondas, que versaram sobre temas diversos que abarcam os conteúdos do
curso de Letras. Do mesmo modo, a III Semana de Letras contou com a intensa
colaboração de estudantes de graduação e pós-graduação com apresentação
Referência
de trabalhos, que ao todo somaram cinquenta trabalhos inscritos. Como
DAMÁSIO Anne Christine. Botando corpo e (re)fazendo gêneros. In: Bagoas:
revista de estudos gays, gênero e sexualidades. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. - V. 5, n. 6
jan./jun. 2011. - Natal: EDUFRN, 2011. p. 211–241.
resultado, a organização do evento selecionará os artigos enviados e publicará
em e-book. Sobre outras informações, o caderno de resumos e sobre os
conferencistas, acesse o site www.uesb.br/eventos/semanaletras
O DISCURSO HOMOSSEXUAL NA IMPRENSA DO RIO GRANDE DO SUL
específico de colocar o prazer em discurso: o dispositivo da sexualidade, que atua
Atilio Butturi Junior (UFFS)
como um poder regulamentador, cria métodos de disciplinar e produzir formas de
Yan Kaue da Silva Brasil (UFFS)
subjetivação e normatização. O mesmo Foucault (1993), a partir da discussão do
dispositivo da sexualidade e suas estratégias de produção de subjetividades,
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste texto é, de uma perspectiva arqueogenealógica,
entende que, ao contrário do que se postula, não há uma relação ontológica entre
o sexo e o sujeito, mas um dispositivo que engendra um discurso onde o
averiguar os mecanismos discursivos de produção da homossexualidade
comportamento sexual é constantemente ligado à verdade do sujeito.
masculina na imprensa do Rio Grande do Sul, em 2012. O corpus foi composto de
Assim, na esteira desestabilização da relação ontológica apontada por Foucault,
discursos midiáticos retirados dos seguintes jornais: Bom Dia, Diário da
Butler (2003) considera que o sexo é categoria normativa que funciona como uma
Manhã e Zero Hora (sendo os dois primeiros da cidade de Erechim e o terceiro,
prática regulatória, seja para produzir os corpos que se governa, seja para
de Porto Alegre), consultados no período de 1 de abril a 31 de maio. A tentativa
viabilizar a existência do sujeito como “domínio da inteligibilidade cultural”
foi de estabelecer análises sobre discursos contemporâneos ligados ao gênero e à
(BUTLER, 2003, p. 155)
sexualidade e entendê-los a partir de regramentos de um arquivo que cinde o
discurso sexual na díade masculino-feminino.
É, pois, a partir do discurso como domínio de inteligibilidade, que se
analisará o corpus de enunciados da imprensa do Rio Grande do Sul. Para fins
metodológicos, os discursos foram agrupados de acordo com três formações
2 OS DISCURSOS SEXUAIS NA IMPRENSA
A análise do recorte desta pesquisa constrói a hipótese de que há, no
discurso da imprensa do Rio Grande do Sul, uma axiologia que difere práticas
discursivas. De acordo com Foucault (1997), as formações discursivas (FDs) são
sistemas descontínuos de regramentos que possibilitam a existência de
enunciados sob uma série de dispositivos – nesse trabalho, generico-sexuais.
masculinas e femininas e silencia práticas homocorpóreas/homoafetivas. Os
recortes aqui presentes não se pretendem, pois, exaustivos, mas representativos
2.1 A FD religiosa
da produção de verdades normativas sobre gênero e desejo e, por outro lado, da
Na imprensa da cidade de Erechim, o discurso sobre a homossexualidade
diferença entre os regimes de dizer que configuram a imprensa no interior e
ou a diversidade sexual ocupa um espaço restrito, marcado pela força do
aqueles que circulam na imprensa da capital do Rio Grande do Sul.
silenciamento. Nesse caso, há uma insistência em enunciados da ordem da família,
Retome-se, para análise, a problemática da sexualidade discursivamente
do casamento e de uma identidade heteronormativa regrada e metafísica.
constituída. Em História da Sexualidade I: A Vontade de Saber, Foucault (2009)
Metodologicamente, pode-se agrupar tais enunciados de permanência do
defende a tese de que há, a partir do século XVII, no Ocidente, um modo
discurso monogâmico-cristão, limitando os prazeres à procriação e ao seu controle
como pertencente à FD religiosa. Leia-se o recorte:
Note-se no recorte a permanência de um discurso biologizante, típico da
[...] Pedra angular da família – o culto dos deveres morais –
, a construção do lar nele se faz mediante as linhas seguras
do
enobrecimento
dos
cônjuges,
objetivamente
o
equilíbrio da prole. Somente reduzido número de pessoas,
se prepara convenientemente, antes de intentar o
consórcio matrimonial; a ausência desse cuidado, quase
sempre, ocasiona desastre imediato de consequências
lamentáveis. [...] (DIÁRIO DA MANHÃ, 2012, p.8, grifos
medicalização da sexualidade "desviante". Destaque-se a "sexualidade atribulada"
que aparece como "insensata" - fora da razão e da verdade do discurso, portanto.
Ao que parece, todo desvio da norma heteronormativa deve ser entendido a partir
da ordem do "engodo" e do "erro". Tal discurso, no Brasil, teve domínio até boa
parte do século XX e que ainda exerce sua força. Estrategicamente, enunciados
desta série discursiva são parte de um interdiscurso higienista (GREEN, 2000),
vinculando diversidade de práticas sexuais ao engodo, social e natural, e à
consequente periculosidade. Os "desviantes", nesse caso, seriam ferramenta
principal de dissolução das práticas afetivas e sexuais da "normalidade" desde o
nossos).
discurso da República Velha, qual seja, a heterossexualidade patologicamente
O enunciado marca a bifurcação entre dois tipos de prática: a do culto dos
normativa.
deveres e a do desastre que se infere da ausência desses cuidados. Este culto traz à
tona uma identidade religiosa interdiscursivamente bíblica: "deveres", "prole" e
"consórcio matrimonial” fazem as vezes de uma voz metafísica e exigente.
2.3 A FD da diversidade
A imprensa do interior do Rio Grande do Sul, especificamente da cidade de
Erechim, como se viu, caracteriza-se pelo discurso de caráter heteronormativo e
2.2 A FD biologizante
metafísico - biológico ou religioso - do tratamento do gênero e da sexualidade.
Ainda na imprensa da cidade de Erechim, há a produção de discursos que
Acrescente-se, ainda, que no corpus analisado há uma ausência completa de
enquadram o sujeito supostamente desviante em uma sexualidade atribulada,
aparecimento de enunciados sobre a homossexualidade. Esses silenciamentos já
produzindo um discurso de relação ontológica entre a sexualidade e o sujeito.
foram amplamente discutidos na teoria do discurso. Em Foucault, na Ordem do
“[...] Partidários da libertinagem, porém, empenham-se em
insensata cruzada para torná-lo livre, como se jamais não o
houvera sido. Confundem-no com a sensualidade e
pensam
convertê-lo
apenas
em
instinto
primitivo,
padronizado pelos impulsos da sexualidade atribulada.”
(DIÁRIO DA MANHÃ (2012, p.8)
Discurso, podem ser inferidos pela ordem do interdito, a proibição dos regimes de
se enunciar o "erro". Orlandi (1997), nessa esteira, faz considerações importantes
sobre a "política do silêncio": ao enunciarmos um mundo, apagamos
necessariamente o outro. Silenciar, ainda, passa a ser um ato de constituição da
linguagem: toda produção de sentido exige, para que possa existir, que seus nãoditos se façam, fantasmaticamente, presentes.
No caso da imprensa de Porto Alegre, representada no corpus pelo jornal
Zero Hora, a "política do "pluralista", um recorte do jornal de Porto Alegre:
“[...] É a Europa, aliás, o continente mais avançado nos
REFERÊNCIAS
direitos civis de gênero. Berço do Iluminismo, do Estado de
bem-estar social e das ideias libertárias, já houve até uma
ministra lésbica: Johanna Sigurdardottir, na Islândia. [...]”.
(ZERO HORA,2012, p. 19)
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad.
Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
FELIPPI, A. C. T. Reflexões a respeito da identidade cultural gaúcha em Zero Hora.
In:
No caso dos enunciados do Zero Hora, é flagrante a preocupação em
CONGRESSO
BRASILEIRO
DE
ESTUDOS
INTERDISCIPLINARES
DA
COMUNICAÇÃO, 26., Belo Horizonte, 2003. Anais... Belo Horizonte, 2003.
estabelecer uma relação direta entre o "racionalismo" - o recorte chega a citar o
(paginação irregular).
Iluminismo - e a luta justa e liberal pelos direitos e pela diversidade, estampada na
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 5.ed. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio
figura que apresenta dois homens trocando carícias. Essa discrepância entre as
de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
formas de dizer e silenciar da imprensa do interior e da capital, então, fazem
______. História da sexualidade I: a vontade de saber. 19.ed. Trad. Maria
pensar nas condições de produção de sentido e nos regramentos do discurso que
Thereza Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 2009.
diferenciam a identidade de cada um dos locais e promovem, de um lado, uma
______. Não ao sexo rei. In: ______. Microfísica do poder. 11. ed. Trad. Roberto
discursividade de efeitos e estratégias mais democráticos e, por outro, uma
Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1993. p. 229-242.
insistência em discursos da família heteronormativa, da tradição e das práticas de
GREEN, J. N. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do
normalização dos sujeitos.
século XX. Trad. Cristina Fino e Cássio Arantes Leite. São Paulo: Editora UNESP,
2000.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que tange às conclusões da pesquisa, até o momento, aponta-se para
HEILBORN, M. L. Dois é par: gênero e identidade sexual em contexto igualitário.
Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
um regime de dizer bastante marcado no que se refere à discursivização da
ORLANDI, E. As formas do silêncio no movimento dos sentidos. Campinas:
homossexualidade. Assim, enquanto a assunção das identidades e a proliferação de
Unicamp, 1997.
suas práticas é descrita segundo uma formação discursiva liberalizante na imprensa
TREVISAN, J. S. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à
de Porto Alegre, permanece no discurso da imprensa do interior um silenciamento
atualidade. 6.ed. revista e ampliada. São Paulo: Record, 2010.
quanto à diversidade e uma permanência de modelos heteronormativos, que
podem ser inferidos como formações discursivas mais tradicionais.
O CUIDADO DE SI: O CUIDADO COM O CORPO, A MENTE E ALMA
pela meditação, pelo silencio, a leitura e a escrita; já gymnázein significaria
exercitar-se realmente o corpo para a vida, para uma situação real.
Kauana Candido Romeiro (UEL)
O cuidado de si envolveria, então, várias práticas e exercícios do sujeito
O pensador contemporâneo, Michel Foucault, há uma hipótese, “[...] que
para consigo, para fortalecer a mente e a alma para que ambas não sejam
seu pensamento seria composto por três eixos temáticos: (1) arqueologia do
atingidas, levando o homem a cuidar de si, de suas atitudes, de sua vida. Isso era
saber; (2) genealogia do poder e (3) ética do cuidado de si.” (OLIVA, 2011, p. 101-
característico das atitudes filosóficas, como Foucault nos mostra, ao longo do
102.) E é sobre este possível terceiro eixo temático que concentro minhas
período helenístico, nas escolas filosóficas da Antiguidade greco-romana nos
pesquisas. A ética do cuidado de si trata-se de ações empreendidas pelo sujeito
séculos V a.C. até o século V d.C. O cuidado de si perpassa as culturas grega,
sobre si mesmo com a finalidade de transformar-se em algo distinto do que é, ser
helenística e romana, não só na filosofia, mas também como princípio de
mais forte frente à morte, frente à perda de uma pessoa próxima, tendo uma
racionalidade para a condução moral, empreendida pelo próprio sujeito sobre si.
liberdade
Inicialmente, com Sócrates, o cuidado de si estaria muito próximo da paidéia, uma
de
autocriação
“reservada”
às
pessoas,
um
autodomínio,
principalmente na Antiguidade.
preparação dos jovens para o exercício do poder, para a política. Nos séculos I e II
Esta investigação resultou-se em dois livros, A Hermenêutica do sujeito
d. C o cuidado se tornaria coextensivo à vida, todos em qualquer idade poderiam
(curso transcrito ministrado no Collège de France, entre 1981 e 1982) os dois
cuidar de si, como forma de não se deixar abater pelos acontecimentos da vida e
últimos volumes da História da sexualidade (“Uso dos Prazeres” e “O Cuidado de
nem pela morte.
Si”). Assim, as pesquisas de Foucault sobre o cuidado de si foram empreendidas
A prática de exercícios físicos, exame de consciência, meditações, leituras,
em direção à antiguidade clássica, entre os antigos gregos e romanos. Para isso,
anotações de conversas, tarefas práticas pedagógicas, filosóficas, médicas, são
se dedicou a um grande conjunto documental que abrangia um extenso recorte
desenvolvidas nas grandes escolas filosóficas helenísticas, principalmente no
estoicismo, devendo fazer parte da rotina, dos pensamentos. A vida torna-se como
temporal, que ia do século V a.C. ao Vd.C.
Analisa várias expressões da cultura
silêncio" é colocada em xeque e, inversamente ao que se passava na imprensa erechinense, surgem os discursos de apropriação dos debates de gênero e
uma obra de arte, cada pincelada, um exercício, e com estas modificações se
antiga grega que se liga ao cuidado de si: epiméleia heautóu, (os latinos
sexualidade contemporâneos. Essa apropriação revela, é certo, a estratégia de produção de um discurso do próprio jornal. Segundo Felippi (2003), o " [...]
desenham na tela a fim de delinear uma figura, assim ocorre também no sujeito
traduziram por cura sui) cuja etimologia nos remete às formas de atividades
Zero Hora constrói a identidade cultural gaúcha num contexto de mudanças nas identidades fruto da globalização e de suas conseqüências, entre elas a
constituindo, ele mesmo, sua subjetividade.
físicas e espirituais: ocupar-se consigo; melétai: exercitar-se em ginástica, em
maior interconexão entre culturas, o fim do isolamento e do purismo cultural". Veja-se, a partir de tal discurso
O cuidado com o próprio eu serviria tanto para fortalecer a alma, a mente e o
treinamento militar; epimélesthai: forma de atividade vigilante, contínua,
aplicada, regrada, etc. E, “[...]gymnázein: que indica o fato de fazer ginástica para
corpo quanto para atingir uma velhice tranquila e na correção de vícios. Assim, o
si mesmo, [...] reporta-se mais a uma prática em situação real”. (FOUCAULT,
cuidado de si tem também funções de “corrigir, reparar, reestabelecer um estado”
1982, p. 77, 382). Meletân seria mais no sentido de exercitar-se em pensamento,
(FOUCAULT, 1982, p. 88). Em virtude do tamanho do artigo, darei atenção aos
exerc
interior dessa questão que se formulou o principio
“ocupar-se consigo mesmo”. [...] Para um grego, a
corpo. Foucault estudando o mundo antigo nos dá dois exemplos de registro
liberdade humana encontra sua obrigação não tanto ou
não apenas na cidade, não tanto ou não apenas na lei,
desses exercícios físicos: a prática de provas e de abstinências (FOUCAULT,
tampouco na religião, mas na tékhne (essa arte de si
1982, p. 383-384).
A
prática
de
provas
seria
a
preparação
atlética,
com
corrida,
mesmo)
(FOUCAULT,
1982,nas
p. 402).
Este trabalho se filia à disciplina Análise do Discurso para analisar os sentidos construídos
para [...]
o corpo
da mulher
imagens de
exercícios mais reais, práticos para a vida, que envolveria mais a questão do
lutas, ginástica, no salto, envolveria, também, “[...] a preparação atlética requer
desfiles das escolas de samba do carnaval carioca, produzidas e veiculadas
discurso
mídia.noCompreendemos
o corpoformar
é
A técnica pelo
de vida
que se da
inscreve
cuidado de si tem que
por objetivo
o eu,
certamente muitas renúncias, muitas abstenções, ou mesmo abstinências [...]”
uma materialidade simbólica que pode – por sua visibilidade e pelarelacionar-se
injunção no/pelo
discurso
ter diferentes
como,
por exercícios
consigo mesmo
por– meio
de práticas,sentidos,
de exercícios
físicos,
(FOUCAULT, 1982, p. 384). A meta de tais esforços não estaria apenas na
espirituais
(meditação,
exameimagens
de consciência,
diálogo),
abstinências
(sexuais, de
exemplo, um tipo de feminino, tal qual exploraremos neste estudo.
A análise
traz algumas
midiáticas
produzidas
pela
competição, nos jogos, mas em não temer as adversidades exteriores, os
alimentos, de
bens), afim
assumir
os acontecimentos,
enfrentando-os,
Revista Manchete e pela Rede Globo de Televisão sobre a festa carnavalesca
brasileira,
mais
especificamente
os desfiles
de escolas vivendo a
acontecimentos e os infortúnios, e sim, dar força e foco no enfrentamento da
vida dadamelhor
possível,um
comimaginário
bons hábitos,
o melhor:
tendo o melhor
de samba da cidade do Rio de Janeiro. Essas imagens, em seus recortes
festa, maneira
fazem circular
deecorpo
feminino
vida.
convívio Entendemos
consigo mesmo.
Afinal,
palavrasmaneiras
de Hannah de
Arendt
(2004, p,
que tende a ser tomado como estereótipo nacional em alguns discursos.
que
há nas
diferentes
significar
o 154):
Já o outro quadro de exercícios comporta “[...] um regime de
[...] mesmo
que eu como
seja umo só,
sou simplesmente
um
corpo ao longo da história da humanidade a partir das inscrições dos sujeitos em diferentes
discursos,
donão
carnaval,
por
resistências em relação à fome, ao frio, ao calor, ao sono.” (FOUCAULT, 1982, p.
só, tenho um eu e estou relacionado com esse eu como o
exemplo,
bem
como
hásede,
diferentes
interpessoais
que se estabelecem a partir de sua
meupresença
próprio eu.
ou [...],
ausência
portanto,
ao nível
é melhor
do que
que eu
é primeiro
384) Beber
quando se
estiver
com
comer relações
na medida
em que o alimento
tente estar de acordo comigo mesmo antes de levar todos
opticamente
apreensível.
Dessa“resistir”
forma, aapontamos
(1) as imagens veiculadas por algumas
mídias sobre o corpo da mulher,
for saudável,
não exagerar,
ou até mesmo
comida nos que
banquetes,
os outros em consideração.
nos
desfiles Adeabstinência
escolas de
samba
da levaria
cidadea do Rio de Janeiro, produzem um sentido de feminino pelo efeito
portanto,principalmente
viver e usufruir do
necessário.
seria
algo que
dassuportando
imagens, tanto
para
carnaval
brasileiro
quanto para um sentido de brasilidade; e (2) as imagens desses corpos são
melhorarparafrástico
o modo de vida,
quando
algoofaltar,
e ainda
não temendo
Referências
que sono
se constituem
por discursos outros e funcionam para regularizar os tipos de corpos que podem (discursivamente)
a ausênciarecortes
de alimento,
ou algum bem.
ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Companhia das
Letras,
2004. (3) discorre também sobre a idéia de regularidade
As provasrepresentar
de corrida, salto,
ginástica,
olhar de
parasamba.
si, o sujeito
o carnaval
de direcionam
desfiles deum
escolas
O percurso
de análise
CHAUÍ, Marilena. Introdução à historia da filosofia: as escolas helenísticas. São
interrogaenunciativa
sobre si se será
capazimagens,
de realizar
tal esse
exercício
ou prova. “[...]
trata-se a docilização, regularização e organização dos corpos de mulheres
das/nas
pois
funcionamento
possibilita
Paulo: Companhia das Letras, 2010. V. 2.
A Hermenêutica
do sujeito.
Paulo: Martins Fontes, 2004.
essencialmente
de saber
do que
é capaz,presentes
se se é capaz
de fazer determinada
construídos
como
femininos
nas imagens,
na tentativa de FOUCAULT,
fechar umaMichel.
rede de
sentidos. Portanto,
essaSão
regularidade
FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
coisa e de fazê-la ate o fim. Em uma prova pode-se vencer ou fracassar, pode-se
FOUCAULT. Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
OLIVA, Alfredo dos S. Algumas considerações sobre 1 Timoteo 4,1-16 a partir da
ganhar ou perder [...]” (FOUCAULT, 1982, p. 387). Assim, pode-se medir o
ética do cuidado de si de Michel Foucault, Revista Pistis, 1, 2011, p. 99-119.
progresso com o corpo, com a mente, como se estava e como se está.
PORTOCARRERO, Vera. Governo de si e cuidado de si. Disponível em:
<http://www.curriculosemfronteiras.org/vol11iss1articles/portocarrero.htm>.
Foucault percebe que:
Acesso 26 set 2011.
[...] desde a época clássica, parece-me, o problema
RAGO, Margareth. O efeito foucaultiano na historiografia brasileira. Disponível
estava em definir uma certa tékhne toû bíou (uma arte
em: http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/
de viver, uma técnica de existência). E, [...] foi no
v0712/efeito.pdf. Acesso: 27 mai. 2012.
interior
ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E ABORDAGENS METODOLÓGICAS
O grupo de pesquisa NEAD (Núcleo de Estudos em Análise do Discurso), neste
ano de 2013 em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua
Portuguesa da UNESP/Araraquara (SP), promove o IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO
II EDIA Encontro de Análise do Discurso na Amazônia
I DCIMA- Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia
DISCURSO: fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas. Os três
eventos anteriores foram realizados na UEMS/Nova Andradina-MS, UFMS/Campo
Grande-MS e UNEMAT/Alto Araguaia-MT, respectivamente. Esta quarta edição do
Entre os dias 7 e 9 de Agosto de 2013, será realizado, na
evento pretende propiciar reflexão sobre diferentes bases epistemológicas e
Universidade Federal do Pará, o II EDIA Encontro de Análise do Discurso na
abordagens metodológicas nos estudos discursivos, dando-se ênfase a linhas de
Amazônia e o I DCIMA - Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia. O
pesquisa desenvolvidas no Brasil. O objetivo é discutir a identidade de pesquisas
evento é uma promoção do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e
brasileiras que têm por objeto o discurso, em momento em que essa identidade tem
Amazônia, da UFPA, do Metrado em Letras da Unama e do Programa de Pós-
sido buscada pela pós-graduação do país. O IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO
Graduação em Letras da UFPA. O encontro contará com presenças ilustres como a do
DISCURSO: fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas será realizado
professor Dr. Philippe Dubois, da Sorbonne Nouvelle-Paris 3 e da professora Dra. Maria
na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
do Rosário Gregolin, da UNESP. Além disso, o evento contará com várias mesas
Mesquita Filho” (UNESP/Campus de Araraquara, SP) de 14 a 17 de agosto de 2013. O
redondas coordenadas por grandes pesquisadores da Análise do Discurso como
evento conta com mesas compostas por pesquisadores convidados, sessão de
Cleudemar Alves Fernandes, da UFU, Nilton Milanez, da UESB, Pedro Navarro, da UEM,
painéis, sessões de comunicações individuais e minicursos (estes são optativos e a sua
Simone Hashiguti, da UFU, Vanice Sargentini, da UFCar, dentre outros. O Laboratório
inscrição deve ser feita separadamente – ou seja, a inscrição no evento não dá direito
de Estudos do Discurso e do Corpo – Labedisco, estará presente com o GT “Quem
à participação nos minicursos, os quais ocorrerão imediatamente antes e depois do
somos nós hoje? Discurso e corpo no audiovisual”, coordenado pelo professor Dr.
evento). As informações sobre o IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO:
Nilton Milanez e pela Dnda. Cecília Barros-Cairo. Para maiores informações, acesse o
fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas encontram-se no site do
site do evento, clicando aqui.
evento, para acessá-las, clique na imagem.
POSSIBILIDADES DE OBJETIVAÇÃO DO CORPO A PARTIR DAS LEITURAS DE
BAKHTIN
Alita Carvalho Miranda Paraguassú (UFG)
Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (UFG)
Segundo Bakhtin (2009, p. 31), “todo corpo físico pode ser percebido como
símbolo”, ou seja, todo objeto ou elemento físico pode permitir relações de
sentido. É neste ponto que posso enunciar como Bakhtin compreende o corpo,
para ele os signos são: ideológicos, têm materialidade e são o veículo da vida
interior. Como qualquer outro objeto, o corpo pode ser percebido como signo, pois
Com o objetivo de compreender o que é o corpo como objeto da Análise
[c]ada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma
sombra da realidade, mas também um fragmento material
dessa realidade. Todo fenômeno que funciona como signo
ideológico tem uma encarnação material, seja como som,
como massa física, como cor, como movimento do corpo
ou como outra coisa qualquer. Nesse sentido, a realidade
do signo é totalmente objetiva e, portanto, passível de um
estudo metodologicamente unitário e objetivo. (BAKHTIN,
2009, p.33).
de Discurso, este artigo curto expõe algumas das reflexões construídas na
dissertação O corpo no discurso pedagógico: aberturas para uma reflexão
epistemológica. Estudou-se nessa dissertação o discurso sobre o corpo em
Pêcheux, discurso da Análise de Discurso francesa, e em Bakhtin e Foucault,
constituintes da “tríade da AD”, procurando verificar o corpo, para esses autores,
como elemento participante da constituição dos sujeitos.
Neste artigo serão consideradas as leituras em Bakhtin e como o corpo
Assim, posso posicionar Bakhtin em uma perspectiva materialista do
pode ser compreendido como objeto de estudo a partir das reflexões do filósofo
discurso, da língua, do homem. É por essa perspectiva materialista que ele enuncia
russo. Os sujeitos são geridos socialmente e essa gestão se materializa nos
o corpo e a palavra sobre o corpo. Enquanto o discurso necessita de um material
discursos e também no corpo. O corpo é, desse modo, aprisionado a compleições
linguístico e esse material permite o estudo da língua, o corpo é uma das
físicas características de tal e tal agente de uma determinada classe social. O
materialidades pelas quais o sujeito torna-se objeto de saber.
corpo não é, portanto, visto apenas do ponto de vista biológico, ele é “uma forma
Em Para uma filosofia do ato responsável, Bakhtin (2010b) afirma que cada
moldada pela interação social” (Le BRETON, 2010, p.16, grifo meu), conceito-
sujeito é um centro individual de responsabilidade ou responsividade, ou seja, cada
chave em Bakhtin.
sujeito responde ao mundo interior e exterior e é responsável pelo modo como
Bakhtin (2009) não se debruça sobre um indivíduo natural isolado. O sujeito que
responde. Já a consciência é participante e encarnada, portanto, cada sujeito
a ele interessa é aquele que se apresenta como a relação entre a infraestrutura e
constitui-se de uma unidade articulada entre consciência e carne, ou seja, entre a
a superestrutura, desse modo, respectivamente, entre o contexto de produção
consciência e a sua materialidade em contato com o mundo. Além disso, a carne é
sócio-política e a ideologia sócio-política-histórica. Portanto, um indivíduo é
a matéria flexível pela qual a consciência se movimenta (BAKHTIN, 2009), desse
social, constituído por valores e é inserido na história, o mundo entra em contato
modo, consciência e corpo são uma unidade inseparável no sujeito.
Bakhtin (2010b) apresenta um sujeito ativo e envolvido pelos valores, um
com esse indivíduo produzindo sentidos.
sujeito
sujeito que não pode fugir as suas responsabilidades ou não pode deixar de
sujeitos, os sujeitos são cada um uma unidade concreta, material, corporal que
responder ao mundo. Se isso fosse possível, seria ele algo diferente do humano.
reflete e refrata os signos. Essa distância concreta me condiciona a exceder a visão
Inserido e constituído no mundo e pelo mundo é o sujeito inevitavelmente
que o outro possui de si mesmo. Aquilo que constitui ou que está por trás do outro,
produto de uma coletividade. Esse sujeito responsivo, que responde ativamente
o seu outro, estão em relação tão íntima com ele que é mais visível a mim do que a
ao mundo, realiza objetivações e subjetivações ao interagir com o ouro, tais
ele próprio. Corpo e mundo são colocados em relação ativa. É o olhar, não apenas
processos são simultâneos. No momento em que o sujeito objetiva o outro e até
aquele olhar que representa uma perspectiva ou que já é fruto de discursos ou
separa-se de si mesmo para se objetivar, retorna a si e se subjetiva, assim são
saberes, mas o olhar da própria percepção, da relação entre as pupilas e os outros
colocadas em jogo imagens do “eu-para-mim, o outro-para-mim e eu para-o-
elementos ligados ao sentido da visão que separa e participa ativamente da
outro” (BAKHTIN, 2010b, p. 114).
construção de mundos diferentes. Assim, o corpo é físico, mas como elemento físico
Desse modo, o corpo não é apenas uma matéria que veicula o sujeito, mas
também é objeto de contemplação, sendo a contemplação, para Bakhtin (2010a),
uma matéria vista e contemplada pelo outro e pelo eu, portanto, é o próprio
um processo ativo, é o corpo objeto de relações de sentido. O corpo é material e
corpo um objeto das relações entre os sujeitos. Na interação, o corpo é
discursivo.
construído como uma imagem externa e objetiva do sujeito. Por isso, como meu
corpo dialoga com o olhar do outro, eu me comunico com os outros corpos.
É justamente nesse campo da visão que posso melhor compreender o
corpo e o sujeito. Bakhtin afirma que
quando contemplo no todo um homem situado fora e
diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente
vivenciáveis não coincidem. Porque qualquer situação ou
proximidade que esse outro que contemplo possa estar
em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele,
da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as
partes de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar – a
cabeça, o rosto, e sua expressão –, o mundo atrás dele,
toda uma série de objetos e relações que, em função
dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são
acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando nos
olhamos, dois diferentes mundos se refletem na pupila
dos nossos olhos (BAKHTIN, 2010a, p.21).
Nesse trecho, Bakhtin (2010a) afirma a distância concreta que separa os
Referências
BAKHTIN, M./ VOLOCHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel
Lahud e Yara Frateschi Vieira. 13.ed. São Paulo: HUCITEC, 2009.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2010a.
______. Para uma filosofia do ato responsável. Trad. Valdemir Miotello e Carlos
Alberto Faraco. São Carlos: Pedro e João, 2010b.
LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Trad. Sonia M. S. Fuhrmann. 4.ed. Petrópolis:
Vozes, 2010.
PARAGUASSU, A.C.M. O corpo no discurso pedagógico: aberturas para uma
reflexão epistemológica. 2013. 161f. Dissertação (Mestrado em Linguística) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2013. Impresso.
CORPO VELHO, SEXUALIDADE E ESTEREOTIPIFICAÇÃO
Lins de Barros ainda coloca que, na década de 1970, a velhice, encarada de
forma mais ativa, estava diretamente relacionada à própria trajetória de vida de cada
Emmanuele Monteiro (CIDADI/PROLING/UFPB)
Regina Baracuhy (CIDADI/DLCV/PROLING/UFPB)
um dos sujeitos pesquisados – no caso, mulheres idosas. Essa forma dos sujeitos
maiores de 60 anos de viver a velhice ia de encontro à ordem discursiva da época,
Myriam Morais Lins de Barros é professora titular da Escola de Serviço Social
contrastando com os discursos produzidos sobre a velhice no século XXI, em que as
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Conselho Editorial das
maneiras de se entender e viver a velhice são baseadas no ideal da ”terceira idade”/
revistas: Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento e Revista Brasileira de
“melhor idade”, resultando, assim, numa tensão entre valores modernos e valores
Sociologia da Emoção e membro da Comissão Editorial da revista Praia Vermelha.
tradicionais.
Estudos de Política e Teoria Social.
Sob o viés antropológico, Myriam Morais Lins de Barros propõe, neste artigo,
traçar um percurso histórico da pesquisa sobre o envelhecimento.
Outro aspecto revelado nas pesquisas – e ressaltado pela autora - tem a ver
com a deterioração da sexualidade e finalização de um projeto de vida como
características da velhice. Por isso, a necessidade de ressaltar a ideia de uma velhice
Em seu texto, Lins de Barros afirma que, mesmo estando presente há
ativa, cujas marcas do tempo no corpo devem ser silenciadas até mesmo - ou
algumas décadas nas pesquisas dos campos da Antropologia e da Sociologia, os temas
principalmente - nos discursos, o uso de “eufemismos”, como se envelhecer
do corpo e da velhice só ganharam relevância nos últimos anos, quando a sexualidade
inevitavelmente significasse adoecer.
na velhice e os cuidados de si para manter-se ativo, nesse período da vida, passaram
Dessa maneira, a institucionalização da velhice funciona não só como sistema
a ocupar um espaço maior no panorama dos temas importantes para se pensar, na
de acolhimento (asilos), mas como uma questão de Estado e, consequentemente, de
sociedade atual em decorrência de uma mudança que, além de social, também é
políticas públicas sociais, que entendem a velhice como uma fase problemática da
discursiva.
vida, ao mesmo tempo em que ações governamentais, sejam elas de caráter
Pensando junto com a autora, será que os idosos provedores de suas famílias,
mesmo na maioria dos casos, por necessidade econômica, fazem disso uma forma de
manter a autoridade na família e a independência como sujeitos sociais?
Essa pergunta tem como respostas possíveis, o fato desses idosos serem
midiático ou não, propõem maneiras de se viver a velhice de forma positiva.
Portanto, a leitura deste artigo tem o seu mérito pelo fato de expor as
consequências das tomadas de posição dos pesquisadores, da mídia e do governo no
quadro atual do envelhecimento da população brasileira.
obrigados a contribuir financeiramente em função de um “engajamento” emocional e
familiar, tendo como resultado, em diversos casos inclusive publicados pela mídia, a
violação do Estatuto do Idoso, no quesito exploração financeira.
Referência
Outra resposta possível é o fato desses idosos, detentores do poder
BARROS, Myriam Morais Lins de. A velhice na pesquisa socioantropológica brasileira.
econômico, exercerem sua autoridade de forma mais contundente, mesmo na
In: GOLDENBERG, Mirian (org.). Corpo, Envelhecimento e Felicidade. Rio de Janeiro:
velhice, mas isso não é algo corriqueiro.
Civilização Brasileira, 2011.
Dica de O corpo:
Leitura do livro “10 lições sobre Foucault” de André Constantino Yazbek.
Dica de O corpo:
Leitura do livro “Psicanálise e Análise do Discurso” de Marlene Guirado.
Dica de O corpo:
O Corpo é Discurso é o
Leitura do livro “Sexo e Poder” organizado por Guido Mantega.
primeiro jornal eletrônico
de popularização científica
da Bahia.
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que
beneficiam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem
compreender a linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a
grande mídia e as novas tecnologias de comunicação cumprem o papel de
facilitadores do acesso ao conhecimento científico. Para contribuir com esse
processo, em sintonia com o espírito que anima o Comitê de Assessoramento
de Divulgação Científica do CNPq, criamos esta seção no portal do CNPq. Seja
bem-vindo ao nosso espaço de popularização da ciência e aproveite para
conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os benefícios provenientes do
desenvolvimento científico-tecnológico.
Colaboradores
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O corpo é discurso