ISSN: 2236-8221 O Corpo Jornal de popularização científica Vitória da Conquista, 04.08.2013 nº 23 [email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm O corpo é discurso EXPEDIENTE DE O CORPO Coordenação geral – Nilton Milanez Editor responsável – Nilton Milanez Organizador - Tyrone Chaves Filho (UESB) Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) – Henrique Nesta edição, O corpo é discurso traz informações sobre o grupo de pesquisa Magalhães artigo de Atilio Butturi Junior e Yan Kaue da Silva Brasil, da Universidade Federal da CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Elmo José dos Santos (UFBA) Profa. Dra. Flávia Zanutto (UEM) Profa. Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB) Profa. Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB) Profa. Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA) Prof. Dr. Nilton Milanez (UESB) Profa. Dra. Simone Hashiguti (UFU) Fronteira Sul; um artigo de Kauana Candido Romeiro, graduanda em História pela LABOR, da Universidade Federal de São Carlos; uma resenha de José Josemir Domingos, doutorando em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba; um Universidade Estadual de Londrina; um artigo de Alita Carvalho Miranda Paraguassú e Eliane Marquez da Fonseca Fernandez, da Universidade Federal de Goiás; uma resenha de Emmanuele Monteiro e Regina Baracuhy, da Universidade Federal da Paraíba, além de notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análise do Discurso. lítico, considerando a intervenção das novas tecnologias nos programas de governo, nas propagandas políticas eleitorais, nos discursos de posse. Observase, então, a necessidade de análise da multimodalidade a que o discurso político está sujeito, estudando-o não somente em sua organização verbal e imagética, mas em seu caráter semiológico a ser analisado a partir de sua inscrição na história. As pesquisas desenvolvidas no grupo orientam-se na busca de respostas às questões: é possível, com o quadro teórico da Análise do Discurso, analisar o texto sincrético? Qual é a importância de se estudar as imagens como operadoras de memória social e quais são as contribuições desse estudo para o quadro teórico dos estudos do discurso? São essas, com Labor - Laboratório de estudos do discurso efeito, as motivações que regem os encontros semanais e as produções O LABOR congrega pesquisadores da UFSCar, alunos de pós-graduação em Linguística e da graduação em Letras e em Linguística da UFSCar. O objetivo é bibliográficas do grupo. Pesquisadores discutir teórica e analiticamente questões relacionadas ao campo teórico da Análise do Discurso como o contexto epistemológico de constituição da teoria, a organização do corpus de análise, considerando as multimodalidades e as articulações entre discurso e história na constituição dos enunciados. As investigações organizam-se em dois eixos temáticos: (i) a inseparabilidade entre a construção histórica dos discursos e o processo de produção de identidades, e (ii) o papel da multimodalidade na produção dos discursos Vanice Sargentini é professora Associada do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em Análise do discurso e coordenadora do Grupo de Pesquisa LABOR/UFSCar, publicou diversos artigos e capítulos de livros e organizou entre outras obras “Michel Foucault e os domínios da linguagem” (Claraluz, 2004), “Análise do discurso: heranças, métodos e objetos” (Claraluz, 2008) e “Legados de Michel Pêcheux” (Contexto, 2011). na contemporaneidade, em especial, na produção do discurso político. No primeiro Carlos Piovezani é professor Adjunto do Departamento de Letras e do Programa de analisam-se as construções de processos históricos discursivos operados em Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em Análise do Discurso e discursos sobre a resistência política, sobre os textos midiáticos divulgados na História da fala pública e vice-coordenador do LABOR/UFSCar, publicou “Verbo, mídia, todos eles, caracterizando-se como discursos que são espaços de Corpo e Voz: dispositivos de fala pública e produção da verdade no discurso encontro da língua com a história e âmbito ideal para a produção de político” (Editora UNESP, 2009) e diversos artigos e capítulos de livros e organizou identidades. No segundo eixo, investigam-se as transformações no discurso po- “Legados de Michel Pêcheux” (Contexto, 2011). Luzmara Curcino é professora Adjunta do Departamento de Letras e do Programa de Jocenilson Ribeiro é Licenciado em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar. Especialista em História Cultural, Ensino e Santana (UEFS), concluiu o mestrado em Linguística pelo Programa de Pós- Aprendizagem da Leitura e Análise do Discurso e coordenadora do Grupo de Graduação da UFSCar, onde atualmente desenvolve pesquisas de doutorado, cujo Pesquisa LIRE/UFSCar, publicou vários artigos e capítulos de livro, organizou o livro projeto financiado pela FAPESP intitula-se “Arqueologia da imagem na historiografia Discurso, Semiologia e História (Claraluz, 2011) e traduziu “Inscrever e apagar: linguística brasileira: discurso, ensino e sistema de avaliação”. Publicou alguns cultura escrita e literatura (séculos XII a XVIII)” (Editora UNESP, 2007), de Roger artigos e capítulos de livro e organizou, com Julio Cesar Machado, o livro Chartier. “Linguagem e Discurso: pesquisas e reflexões contemporâneas” (Pedro & João Editores, 2012). Obteve concessão de Bolsa BEPE/FAPESP para realizar seu estágio Amanda Batista Braga é graduada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle – Paris III. (2006), Mestre em Lingüística pelo Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal de São Carlos (2008) e Doutoranda do Programa de Pós- Juliane de Araújo Gonzaga é graduada em Letras (Bacharelado com Habilitação de Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba com período co-tutelar na Tradutor) pela UNESP, campus de São José do Rio Preto (2010). Atualmente é aluna Universidade Federal de São Carlos. Pesquisa Análise do Discurso de linha francesa do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Linguística da com ênfase nos seguintes temas: discurso, imagem e semiologia. Universidade Federal de São Carlos sob orientação da Profa. Dra. Vanice Sargentini. Atua na área de Análise do Discurso Francesa e desenvolve pesquisa sobre a Israel de Sá é mestre e doutorando em Linguística, subárea da Análise do Discurso, sexualidade feminina na Imprensa Alternativa Feminista da década de 1980, tendo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Membro do grupo de pesquisa como objetivo específico analisar discursos sobre o corpo e o sexo feminino, bem Laboratório de Estudos do Discurso (LABOR/UFSCar), é estudioso dos processos de como as relações de poder e a constituição dos sujeitos. construção de identidades e de espetacularização do discurso político e também da produção/construção da memória/história contemporânea da Ditadura Militar Marcelo Fila Pecenin é doutorando em Linguística pela Universidade Federal de São brasileira e tem artigos publicados acerca desses temas. Carlos, possui graduação em Letras (2004) e Mestrado em Linguistica (2007) pela mesma universidade. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Linguística, Marcelo Giovannetti Ferreira é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em ensino de línguas e revisão de textos, atuando principalmente nos seguintes temas: Linguística da UFSCar e membro do LABOR/UFSCar. Especialista em Análise de teoria do discurso, filosofia da linguagem, língua portuguesa e língua inglesa. Discurso e aspectos enunciativos do discurso. Seus interesses de pesquisa atuais concentram-se em discurso político, práticas discursivas políticas e constituição de Geovana Chiari é estudante da Universidade Federal de São Carlos. Tem suas regularidades e estudos sobre aspectos enunciativos relacionados às práticas experiência na área de Letras. discursivas. Livia Maria Falconi Pires é graduada em Licenciatura Plena em Letras português/espanhol na Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR no ano de 2009, Parla Camila dos Reis de Souza é mestranda em Linguística pela Universidade titulada mestre em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística da Federal de São Carlos. Especificamente, na área de Análise do Discurso. mesma universidade. Participa do grupo de estudos em Análise do Discurso-Labor desde 2007, desenvolvendo pesquisas relacionadas com as mudanças no discurso político , na esteira da teoria da Análise do Discurso de linha francesa. Integrou a comissão executiva do segundo Colóquio Internacional de Análise do Discurso ocorrido em setembro de 2009, repetindo o que fez em 2006, no I CIAD. Integrou, Principais publicações do LABOR também, a comissão organizadora do Gel 2010 e do V Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Ciclo de Palestras em Linguística ocorrido em 2011. Luciana Carmona Garcia Manzano é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Paulo. Tem Mestrado (2011) em Linguística pela mesma instituição. Licenciou-se em Letras pela mesma instituição em 2001. É membro do grupo de pesquisas LABOR-Laboratório de Discurso Político (CNPq: 401122/2010-7) da UFSCar desde 2007. Desenvolve pesquisa na área de Teoria e Análise Linguística, com ênfase em Análise do Discurso, atuando principalmente nos seguintes temas: análise do discurso, semiologia história, discurso político, televisão. Pedro Henrique Varoni de Carvalho é Jornalista, com 23 anos de experiência em Discurso, Semiologia e Análise do Discurso - telejornalismo em afiliadas da Rede Globo, na maior parte do tempo ocupando História. Vanice Sargentini, Heranças, métodos e cargos executivos. Foi Professor de teoria da comunicação, escritor e roteirista, Luzmara Curcino e Carlos objetos. Vanice Sargentini manteve durante dois anos o blog no ar no site da EPTV, com textos sobre Piovezani (Orgs.) (Org.) Legados de Michel Pêcheux. Carlos Piovezani e Vanice Sargentini (Orgs.) identidade , cultura e sociedade . Idealizador e produtor de documentários , séries jornalisticas e DVDs musicais. É Doutor em Linguística (Análise do Discurso) pela Universidade Federal de São Carlos com uma tese sobre o poético e o político em Gilberto Gil. Pesquisador da área de linguagem, discurso e mídia, especialista em música popular brasileira e tropicalismo. Sobre as publicações dos pesquisadores do grupo, bem como outras informações e notícias, acesse http://www.labor.ufscar.br/ Botando corpo e (re)fazendo gêneros JJ Domingos UFPB/PROLING/CIDADI Em Botando corpo e (re)fazendo gêneros, a professora Anne Christine Damásio empreende uma discussão sobre a fabricação do feminino nos corpos das travestis e dragqueens, a fim de compreender como as mudanças corporais que esses sujeitos experimentam se relacionam com a construção das Que relações se estabelecem a partir dessa atribuição de significações? Quais os significados atribuídos a gênero e identidades sexuais? Como os significados sobre gênero e identidades sexuais se materializam, enquanto organizadores das relações sociais estabelecidas pelas travestis e drag queens? Sem demarcar limites precisos entre elementos teóricos e etnográficos e sem qualquer pretensão de esgotar as questões propostas, a autora, ao longo de sua análise, toca a superfície das questões abertas em sua pesquisa. O corpo em sua materialidade entra em cena a partir do tópico expressões de gênero. A partir de um vasto material etnográfico, a autora articula suas reflexões acerca das relações de gênero com a problemática contemporânea do corpo enquanto suporte principal para toda a construção identitária, dessa corporeidade que foge aos ideais heteronormativos, que adere a formas corpóreas definitivas, ou não, “numa lógica do 'nem sou isso nem aquilo, não estou indo para lugar nenhum'”. (In)corporando: ou de como ser uma “mona trucada”. Por via das narrativas dos sujeitos em questão, a pesquisadora apropria-se do processo de construção dessas diversas formas de corporeidade para pensar o corpo como lugar de fabricações indefiníveis, que possibilitam mimetismos, obscurecendo e eclipsando linhas de fronteiras, desestabilizando significados e trazendo para seu centro as relações de poder que se refletirão em reposicionamentos sociais e discursivos. No item histórias experienciadas em corpos, a autora toma o discurso das travestis, e das drags como falas de si, como fragmentos de vozes comumente silenciadas que ora podem ressoar pelo espaço e falar de impressões da existência, existência que se constitui paralelo a um fazer De início, Damásio lança um conjunto de questões que nortearão suas continuado do corpo. Uma forma de confissão por onde se intercalam reflexões ao longo do texto, a saber: que mecanismos sociais, enquanto parte “silêncios e falas acerca de amores, desejos, acontecimentos, medos, paixões, desse processo de construir-se generizadamente, são acionados para que os ódios”. Através da fala, enquanto prática de si, e do olhar sobre os corpos sujeitos pesquisados se reconheçam enquanto travestis e drag queens? Que desses significados sobre corpo e corporeidade e sobre o que é considerado masculino tecnológicas/protéticas materializadas, e enquanto tais, eivadas de um e feminino são mobilizados pelos sujeitos e como essas significações conjunto de significações dispostas no imaginário social. Significações que reverberam nos corpos? Como se dá o processo de construção (re)generizada? abrem possibilidades infindas para uma nova estética/ética de existência. Que sujeitos, a pesquisadora sublinha as intervenções Após registrar o deslizamento de sentido em torno das noções de masculino empreendido e feminino pelos sujeitos pesquisados no processo de invenção corporal, a autora finaliza mostrando sujeitos que pesquisados, os assim como todo sujeito histórico e social, buscam tentativas sempre fornecer coerência através de renovadas e estabilidade ao lugar para onde convergem os elementos que possibilitam a construção de uma identidade. Mas para além das tentativas de fixação, possibilitadas por conceitos confortadores que caminham para o fechamento, sua pesquisa objetiva pensar essas identidades em contínua construção, “sem a procura obsediante por um desenho final, levando em conta a movência que tangencia os encontros, os corpos, as relações”. As identidades por onde se imbricam sexo, gênero e sexualidade têm no corpo, elo inconcluso, o suporte para sujeitos em trânsito que seguem à parte de caminhos convencionais. III SEMANA DE LETRAS Epistemologias, práticas, contribuições A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, por meio do DELL – Departamento de Estudos Linguísticos e Literários e da PROEX – Pró-Reitoria de Extensão realizou, entre os dias 15 e 18 de Julho de 2013, a III Semana de Letras, cujo tema foi Epistemologias, práticas, contribuições. As atividades, durante o evento, movimentaram os dois turnos, manhã e tarde, nos quais alunos e professores interagiram em sessões de palestras, mesas redondas, conferências e sessões de comunicações. O evento reuniu trabalhos de alunos de Letras da UESB do campus de Vitória da Conquista e de Jequié, além de estudantes da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz e da UNEB – Universidade do Estado da Bahia, de diferentes campi. Ao todo, a atividade extensionista contou com quatro palestras, duas conferências e nove mesas redondas, que versaram sobre temas diversos que abarcam os conteúdos do curso de Letras. Do mesmo modo, a III Semana de Letras contou com a intensa colaboração de estudantes de graduação e pós-graduação com apresentação Referência de trabalhos, que ao todo somaram cinquenta trabalhos inscritos. Como DAMÁSIO Anne Christine. Botando corpo e (re)fazendo gêneros. In: Bagoas: revista de estudos gays, gênero e sexualidades. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. - V. 5, n. 6 jan./jun. 2011. - Natal: EDUFRN, 2011. p. 211–241. resultado, a organização do evento selecionará os artigos enviados e publicará em e-book. Sobre outras informações, o caderno de resumos e sobre os conferencistas, acesse o site www.uesb.br/eventos/semanaletras O DISCURSO HOMOSSEXUAL NA IMPRENSA DO RIO GRANDE DO SUL específico de colocar o prazer em discurso: o dispositivo da sexualidade, que atua Atilio Butturi Junior (UFFS) como um poder regulamentador, cria métodos de disciplinar e produzir formas de Yan Kaue da Silva Brasil (UFFS) subjetivação e normatização. O mesmo Foucault (1993), a partir da discussão do dispositivo da sexualidade e suas estratégias de produção de subjetividades, 1 INTRODUÇÃO O objetivo deste texto é, de uma perspectiva arqueogenealógica, entende que, ao contrário do que se postula, não há uma relação ontológica entre o sexo e o sujeito, mas um dispositivo que engendra um discurso onde o averiguar os mecanismos discursivos de produção da homossexualidade comportamento sexual é constantemente ligado à verdade do sujeito. masculina na imprensa do Rio Grande do Sul, em 2012. O corpus foi composto de Assim, na esteira desestabilização da relação ontológica apontada por Foucault, discursos midiáticos retirados dos seguintes jornais: Bom Dia, Diário da Butler (2003) considera que o sexo é categoria normativa que funciona como uma Manhã e Zero Hora (sendo os dois primeiros da cidade de Erechim e o terceiro, prática regulatória, seja para produzir os corpos que se governa, seja para de Porto Alegre), consultados no período de 1 de abril a 31 de maio. A tentativa viabilizar a existência do sujeito como “domínio da inteligibilidade cultural” foi de estabelecer análises sobre discursos contemporâneos ligados ao gênero e à (BUTLER, 2003, p. 155) sexualidade e entendê-los a partir de regramentos de um arquivo que cinde o discurso sexual na díade masculino-feminino. É, pois, a partir do discurso como domínio de inteligibilidade, que se analisará o corpus de enunciados da imprensa do Rio Grande do Sul. Para fins metodológicos, os discursos foram agrupados de acordo com três formações 2 OS DISCURSOS SEXUAIS NA IMPRENSA A análise do recorte desta pesquisa constrói a hipótese de que há, no discurso da imprensa do Rio Grande do Sul, uma axiologia que difere práticas discursivas. De acordo com Foucault (1997), as formações discursivas (FDs) são sistemas descontínuos de regramentos que possibilitam a existência de enunciados sob uma série de dispositivos – nesse trabalho, generico-sexuais. masculinas e femininas e silencia práticas homocorpóreas/homoafetivas. Os recortes aqui presentes não se pretendem, pois, exaustivos, mas representativos 2.1 A FD religiosa da produção de verdades normativas sobre gênero e desejo e, por outro lado, da Na imprensa da cidade de Erechim, o discurso sobre a homossexualidade diferença entre os regimes de dizer que configuram a imprensa no interior e ou a diversidade sexual ocupa um espaço restrito, marcado pela força do aqueles que circulam na imprensa da capital do Rio Grande do Sul. silenciamento. Nesse caso, há uma insistência em enunciados da ordem da família, Retome-se, para análise, a problemática da sexualidade discursivamente do casamento e de uma identidade heteronormativa regrada e metafísica. constituída. Em História da Sexualidade I: A Vontade de Saber, Foucault (2009) Metodologicamente, pode-se agrupar tais enunciados de permanência do defende a tese de que há, a partir do século XVII, no Ocidente, um modo discurso monogâmico-cristão, limitando os prazeres à procriação e ao seu controle como pertencente à FD religiosa. Leia-se o recorte: Note-se no recorte a permanência de um discurso biologizante, típico da [...] Pedra angular da família – o culto dos deveres morais – , a construção do lar nele se faz mediante as linhas seguras do enobrecimento dos cônjuges, objetivamente o equilíbrio da prole. Somente reduzido número de pessoas, se prepara convenientemente, antes de intentar o consórcio matrimonial; a ausência desse cuidado, quase sempre, ocasiona desastre imediato de consequências lamentáveis. [...] (DIÁRIO DA MANHÃ, 2012, p.8, grifos medicalização da sexualidade "desviante". Destaque-se a "sexualidade atribulada" que aparece como "insensata" - fora da razão e da verdade do discurso, portanto. Ao que parece, todo desvio da norma heteronormativa deve ser entendido a partir da ordem do "engodo" e do "erro". Tal discurso, no Brasil, teve domínio até boa parte do século XX e que ainda exerce sua força. Estrategicamente, enunciados desta série discursiva são parte de um interdiscurso higienista (GREEN, 2000), vinculando diversidade de práticas sexuais ao engodo, social e natural, e à consequente periculosidade. Os "desviantes", nesse caso, seriam ferramenta principal de dissolução das práticas afetivas e sexuais da "normalidade" desde o nossos). discurso da República Velha, qual seja, a heterossexualidade patologicamente O enunciado marca a bifurcação entre dois tipos de prática: a do culto dos normativa. deveres e a do desastre que se infere da ausência desses cuidados. Este culto traz à tona uma identidade religiosa interdiscursivamente bíblica: "deveres", "prole" e "consórcio matrimonial” fazem as vezes de uma voz metafísica e exigente. 2.3 A FD da diversidade A imprensa do interior do Rio Grande do Sul, especificamente da cidade de Erechim, como se viu, caracteriza-se pelo discurso de caráter heteronormativo e 2.2 A FD biologizante metafísico - biológico ou religioso - do tratamento do gênero e da sexualidade. Ainda na imprensa da cidade de Erechim, há a produção de discursos que Acrescente-se, ainda, que no corpus analisado há uma ausência completa de enquadram o sujeito supostamente desviante em uma sexualidade atribulada, aparecimento de enunciados sobre a homossexualidade. Esses silenciamentos já produzindo um discurso de relação ontológica entre a sexualidade e o sujeito. foram amplamente discutidos na teoria do discurso. Em Foucault, na Ordem do “[...] Partidários da libertinagem, porém, empenham-se em insensata cruzada para torná-lo livre, como se jamais não o houvera sido. Confundem-no com a sensualidade e pensam convertê-lo apenas em instinto primitivo, padronizado pelos impulsos da sexualidade atribulada.” (DIÁRIO DA MANHÃ (2012, p.8) Discurso, podem ser inferidos pela ordem do interdito, a proibição dos regimes de se enunciar o "erro". Orlandi (1997), nessa esteira, faz considerações importantes sobre a "política do silêncio": ao enunciarmos um mundo, apagamos necessariamente o outro. Silenciar, ainda, passa a ser um ato de constituição da linguagem: toda produção de sentido exige, para que possa existir, que seus nãoditos se façam, fantasmaticamente, presentes. No caso da imprensa de Porto Alegre, representada no corpus pelo jornal Zero Hora, a "política do "pluralista", um recorte do jornal de Porto Alegre: “[...] É a Europa, aliás, o continente mais avançado nos REFERÊNCIAS direitos civis de gênero. Berço do Iluminismo, do Estado de bem-estar social e das ideias libertárias, já houve até uma ministra lésbica: Johanna Sigurdardottir, na Islândia. [...]”. (ZERO HORA,2012, p. 19) BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FELIPPI, A. C. T. Reflexões a respeito da identidade cultural gaúcha em Zero Hora. In: No caso dos enunciados do Zero Hora, é flagrante a preocupação em CONGRESSO BRASILEIRO DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO, 26., Belo Horizonte, 2003. Anais... Belo Horizonte, 2003. estabelecer uma relação direta entre o "racionalismo" - o recorte chega a citar o (paginação irregular). Iluminismo - e a luta justa e liberal pelos direitos e pela diversidade, estampada na FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 5.ed. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio figura que apresenta dois homens trocando carícias. Essa discrepância entre as de Janeiro: Forense Universitária, 1997. formas de dizer e silenciar da imprensa do interior e da capital, então, fazem ______. História da sexualidade I: a vontade de saber. 19.ed. Trad. Maria pensar nas condições de produção de sentido e nos regramentos do discurso que Thereza Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 2009. diferenciam a identidade de cada um dos locais e promovem, de um lado, uma ______. Não ao sexo rei. In: ______. Microfísica do poder. 11. ed. Trad. Roberto discursividade de efeitos e estratégias mais democráticos e, por outro, uma Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1993. p. 229-242. insistência em discursos da família heteronormativa, da tradição e das práticas de GREEN, J. N. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do normalização dos sujeitos. século XX. Trad. Cristina Fino e Cássio Arantes Leite. São Paulo: Editora UNESP, 2000. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No que tange às conclusões da pesquisa, até o momento, aponta-se para HEILBORN, M. L. Dois é par: gênero e identidade sexual em contexto igualitário. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. um regime de dizer bastante marcado no que se refere à discursivização da ORLANDI, E. As formas do silêncio no movimento dos sentidos. Campinas: homossexualidade. Assim, enquanto a assunção das identidades e a proliferação de Unicamp, 1997. suas práticas é descrita segundo uma formação discursiva liberalizante na imprensa TREVISAN, J. S. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à de Porto Alegre, permanece no discurso da imprensa do interior um silenciamento atualidade. 6.ed. revista e ampliada. São Paulo: Record, 2010. quanto à diversidade e uma permanência de modelos heteronormativos, que podem ser inferidos como formações discursivas mais tradicionais. O CUIDADO DE SI: O CUIDADO COM O CORPO, A MENTE E ALMA pela meditação, pelo silencio, a leitura e a escrita; já gymnázein significaria exercitar-se realmente o corpo para a vida, para uma situação real. Kauana Candido Romeiro (UEL) O cuidado de si envolveria, então, várias práticas e exercícios do sujeito O pensador contemporâneo, Michel Foucault, há uma hipótese, “[...] que para consigo, para fortalecer a mente e a alma para que ambas não sejam seu pensamento seria composto por três eixos temáticos: (1) arqueologia do atingidas, levando o homem a cuidar de si, de suas atitudes, de sua vida. Isso era saber; (2) genealogia do poder e (3) ética do cuidado de si.” (OLIVA, 2011, p. 101- característico das atitudes filosóficas, como Foucault nos mostra, ao longo do 102.) E é sobre este possível terceiro eixo temático que concentro minhas período helenístico, nas escolas filosóficas da Antiguidade greco-romana nos pesquisas. A ética do cuidado de si trata-se de ações empreendidas pelo sujeito séculos V a.C. até o século V d.C. O cuidado de si perpassa as culturas grega, sobre si mesmo com a finalidade de transformar-se em algo distinto do que é, ser helenística e romana, não só na filosofia, mas também como princípio de mais forte frente à morte, frente à perda de uma pessoa próxima, tendo uma racionalidade para a condução moral, empreendida pelo próprio sujeito sobre si. liberdade Inicialmente, com Sócrates, o cuidado de si estaria muito próximo da paidéia, uma de autocriação “reservada” às pessoas, um autodomínio, principalmente na Antiguidade. preparação dos jovens para o exercício do poder, para a política. Nos séculos I e II Esta investigação resultou-se em dois livros, A Hermenêutica do sujeito d. C o cuidado se tornaria coextensivo à vida, todos em qualquer idade poderiam (curso transcrito ministrado no Collège de France, entre 1981 e 1982) os dois cuidar de si, como forma de não se deixar abater pelos acontecimentos da vida e últimos volumes da História da sexualidade (“Uso dos Prazeres” e “O Cuidado de nem pela morte. Si”). Assim, as pesquisas de Foucault sobre o cuidado de si foram empreendidas A prática de exercícios físicos, exame de consciência, meditações, leituras, em direção à antiguidade clássica, entre os antigos gregos e romanos. Para isso, anotações de conversas, tarefas práticas pedagógicas, filosóficas, médicas, são se dedicou a um grande conjunto documental que abrangia um extenso recorte desenvolvidas nas grandes escolas filosóficas helenísticas, principalmente no estoicismo, devendo fazer parte da rotina, dos pensamentos. A vida torna-se como temporal, que ia do século V a.C. ao Vd.C. Analisa várias expressões da cultura silêncio" é colocada em xeque e, inversamente ao que se passava na imprensa erechinense, surgem os discursos de apropriação dos debates de gênero e uma obra de arte, cada pincelada, um exercício, e com estas modificações se antiga grega que se liga ao cuidado de si: epiméleia heautóu, (os latinos sexualidade contemporâneos. Essa apropriação revela, é certo, a estratégia de produção de um discurso do próprio jornal. Segundo Felippi (2003), o " [...] desenham na tela a fim de delinear uma figura, assim ocorre também no sujeito traduziram por cura sui) cuja etimologia nos remete às formas de atividades Zero Hora constrói a identidade cultural gaúcha num contexto de mudanças nas identidades fruto da globalização e de suas conseqüências, entre elas a constituindo, ele mesmo, sua subjetividade. físicas e espirituais: ocupar-se consigo; melétai: exercitar-se em ginástica, em maior interconexão entre culturas, o fim do isolamento e do purismo cultural". Veja-se, a partir de tal discurso O cuidado com o próprio eu serviria tanto para fortalecer a alma, a mente e o treinamento militar; epimélesthai: forma de atividade vigilante, contínua, aplicada, regrada, etc. E, “[...]gymnázein: que indica o fato de fazer ginástica para corpo quanto para atingir uma velhice tranquila e na correção de vícios. Assim, o si mesmo, [...] reporta-se mais a uma prática em situação real”. (FOUCAULT, cuidado de si tem também funções de “corrigir, reparar, reestabelecer um estado” 1982, p. 77, 382). Meletân seria mais no sentido de exercitar-se em pensamento, (FOUCAULT, 1982, p. 88). Em virtude do tamanho do artigo, darei atenção aos exerc interior dessa questão que se formulou o principio “ocupar-se consigo mesmo”. [...] Para um grego, a corpo. Foucault estudando o mundo antigo nos dá dois exemplos de registro liberdade humana encontra sua obrigação não tanto ou não apenas na cidade, não tanto ou não apenas na lei, desses exercícios físicos: a prática de provas e de abstinências (FOUCAULT, tampouco na religião, mas na tékhne (essa arte de si 1982, p. 383-384). A prática de provas seria a preparação atlética, com corrida, mesmo) (FOUCAULT, 1982,nas p. 402). Este trabalho se filia à disciplina Análise do Discurso para analisar os sentidos construídos para [...] o corpo da mulher imagens de exercícios mais reais, práticos para a vida, que envolveria mais a questão do lutas, ginástica, no salto, envolveria, também, “[...] a preparação atlética requer desfiles das escolas de samba do carnaval carioca, produzidas e veiculadas discurso mídia.noCompreendemos o corpoformar é A técnica pelo de vida que se da inscreve cuidado de si tem que por objetivo o eu, certamente muitas renúncias, muitas abstenções, ou mesmo abstinências [...]” uma materialidade simbólica que pode – por sua visibilidade e pelarelacionar-se injunção no/pelo discurso ter diferentes como, por exercícios consigo mesmo por– meio de práticas,sentidos, de exercícios físicos, (FOUCAULT, 1982, p. 384). A meta de tais esforços não estaria apenas na espirituais (meditação, exameimagens de consciência, diálogo), abstinências (sexuais, de exemplo, um tipo de feminino, tal qual exploraremos neste estudo. A análise traz algumas midiáticas produzidas pela competição, nos jogos, mas em não temer as adversidades exteriores, os alimentos, de bens), afim assumir os acontecimentos, enfrentando-os, Revista Manchete e pela Rede Globo de Televisão sobre a festa carnavalesca brasileira, mais especificamente os desfiles de escolas vivendo a acontecimentos e os infortúnios, e sim, dar força e foco no enfrentamento da vida dadamelhor possível,um comimaginário bons hábitos, o melhor: tendo o melhor de samba da cidade do Rio de Janeiro. Essas imagens, em seus recortes festa, maneira fazem circular deecorpo feminino vida. convívio Entendemos consigo mesmo. Afinal, palavrasmaneiras de Hannah de Arendt (2004, p, que tende a ser tomado como estereótipo nacional em alguns discursos. que há nas diferentes significar o 154): Já o outro quadro de exercícios comporta “[...] um regime de [...] mesmo que eu como seja umo só, sou simplesmente um corpo ao longo da história da humanidade a partir das inscrições dos sujeitos em diferentes discursos, donão carnaval, por resistências em relação à fome, ao frio, ao calor, ao sono.” (FOUCAULT, 1982, p. só, tenho um eu e estou relacionado com esse eu como o exemplo, bem como hásede, diferentes interpessoais que se estabelecem a partir de sua meupresença próprio eu. ou [...], ausência portanto, ao nível é melhor do que que eu é primeiro 384) Beber quando se estiver com comer relações na medida em que o alimento tente estar de acordo comigo mesmo antes de levar todos opticamente apreensível. Dessa“resistir” forma, aapontamos (1) as imagens veiculadas por algumas mídias sobre o corpo da mulher, for saudável, não exagerar, ou até mesmo comida nos que banquetes, os outros em consideração. nos desfiles Adeabstinência escolas de samba da levaria cidadea do Rio de Janeiro, produzem um sentido de feminino pelo efeito portanto,principalmente viver e usufruir do necessário. seria algo que dassuportando imagens, tanto para carnaval brasileiro quanto para um sentido de brasilidade; e (2) as imagens desses corpos são melhorarparafrástico o modo de vida, quando algoofaltar, e ainda não temendo Referências que sono se constituem por discursos outros e funcionam para regularizar os tipos de corpos que podem (discursivamente) a ausênciarecortes de alimento, ou algum bem. ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (3) discorre também sobre a idéia de regularidade As provasrepresentar de corrida, salto, ginástica, olhar de parasamba. si, o sujeito o carnaval de direcionam desfiles deum escolas O percurso de análise CHAUÍ, Marilena. Introdução à historia da filosofia: as escolas helenísticas. São interrogaenunciativa sobre si se será capazimagens, de realizar tal esse exercício ou prova. “[...] trata-se a docilização, regularização e organização dos corpos de mulheres das/nas pois funcionamento possibilita Paulo: Companhia das Letras, 2010. V. 2. A Hermenêutica do sujeito. Paulo: Martins Fontes, 2004. essencialmente de saber do que é capaz,presentes se se é capaz de fazer determinada construídos como femininos nas imagens, na tentativa de FOUCAULT, fechar umaMichel. rede de sentidos. Portanto, essaSão regularidade FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes, 2010. coisa e de fazê-la ate o fim. Em uma prova pode-se vencer ou fracassar, pode-se FOUCAULT. Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011. OLIVA, Alfredo dos S. Algumas considerações sobre 1 Timoteo 4,1-16 a partir da ganhar ou perder [...]” (FOUCAULT, 1982, p. 387). Assim, pode-se medir o ética do cuidado de si de Michel Foucault, Revista Pistis, 1, 2011, p. 99-119. progresso com o corpo, com a mente, como se estava e como se está. PORTOCARRERO, Vera. Governo de si e cuidado de si. Disponível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol11iss1articles/portocarrero.htm>. Foucault percebe que: Acesso 26 set 2011. [...] desde a época clássica, parece-me, o problema RAGO, Margareth. O efeito foucaultiano na historiografia brasileira. Disponível estava em definir uma certa tékhne toû bíou (uma arte em: http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/ de viver, uma técnica de existência). E, [...] foi no v0712/efeito.pdf. Acesso: 27 mai. 2012. interior ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E ABORDAGENS METODOLÓGICAS O grupo de pesquisa NEAD (Núcleo de Estudos em Análise do Discurso), neste ano de 2013 em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP/Araraquara (SP), promove o IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO II EDIA Encontro de Análise do Discurso na Amazônia I DCIMA- Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia DISCURSO: fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas. Os três eventos anteriores foram realizados na UEMS/Nova Andradina-MS, UFMS/Campo Grande-MS e UNEMAT/Alto Araguaia-MT, respectivamente. Esta quarta edição do Entre os dias 7 e 9 de Agosto de 2013, será realizado, na evento pretende propiciar reflexão sobre diferentes bases epistemológicas e Universidade Federal do Pará, o II EDIA Encontro de Análise do Discurso na abordagens metodológicas nos estudos discursivos, dando-se ênfase a linhas de Amazônia e o I DCIMA - Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia. O pesquisa desenvolvidas no Brasil. O objetivo é discutir a identidade de pesquisas evento é uma promoção do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e brasileiras que têm por objeto o discurso, em momento em que essa identidade tem Amazônia, da UFPA, do Metrado em Letras da Unama e do Programa de Pós- sido buscada pela pós-graduação do país. O IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO Graduação em Letras da UFPA. O encontro contará com presenças ilustres como a do DISCURSO: fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas será realizado professor Dr. Philippe Dubois, da Sorbonne Nouvelle-Paris 3 e da professora Dra. Maria na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de do Rosário Gregolin, da UNESP. Além disso, o evento contará com várias mesas Mesquita Filho” (UNESP/Campus de Araraquara, SP) de 14 a 17 de agosto de 2013. O redondas coordenadas por grandes pesquisadores da Análise do Discurso como evento conta com mesas compostas por pesquisadores convidados, sessão de Cleudemar Alves Fernandes, da UFU, Nilton Milanez, da UESB, Pedro Navarro, da UEM, painéis, sessões de comunicações individuais e minicursos (estes são optativos e a sua Simone Hashiguti, da UFU, Vanice Sargentini, da UFCar, dentre outros. O Laboratório inscrição deve ser feita separadamente – ou seja, a inscrição no evento não dá direito de Estudos do Discurso e do Corpo – Labedisco, estará presente com o GT “Quem à participação nos minicursos, os quais ocorrerão imediatamente antes e depois do somos nós hoje? Discurso e corpo no audiovisual”, coordenado pelo professor Dr. evento). As informações sobre o IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO: Nilton Milanez e pela Dnda. Cecília Barros-Cairo. Para maiores informações, acesse o fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas encontram-se no site do site do evento, clicando aqui. evento, para acessá-las, clique na imagem. POSSIBILIDADES DE OBJETIVAÇÃO DO CORPO A PARTIR DAS LEITURAS DE BAKHTIN Alita Carvalho Miranda Paraguassú (UFG) Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (UFG) Segundo Bakhtin (2009, p. 31), “todo corpo físico pode ser percebido como símbolo”, ou seja, todo objeto ou elemento físico pode permitir relações de sentido. É neste ponto que posso enunciar como Bakhtin compreende o corpo, para ele os signos são: ideológicos, têm materialidade e são o veículo da vida interior. Como qualquer outro objeto, o corpo pode ser percebido como signo, pois Com o objetivo de compreender o que é o corpo como objeto da Análise [c]ada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade. Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma encarnação material, seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer. Nesse sentido, a realidade do signo é totalmente objetiva e, portanto, passível de um estudo metodologicamente unitário e objetivo. (BAKHTIN, 2009, p.33). de Discurso, este artigo curto expõe algumas das reflexões construídas na dissertação O corpo no discurso pedagógico: aberturas para uma reflexão epistemológica. Estudou-se nessa dissertação o discurso sobre o corpo em Pêcheux, discurso da Análise de Discurso francesa, e em Bakhtin e Foucault, constituintes da “tríade da AD”, procurando verificar o corpo, para esses autores, como elemento participante da constituição dos sujeitos. Neste artigo serão consideradas as leituras em Bakhtin e como o corpo Assim, posso posicionar Bakhtin em uma perspectiva materialista do pode ser compreendido como objeto de estudo a partir das reflexões do filósofo discurso, da língua, do homem. É por essa perspectiva materialista que ele enuncia russo. Os sujeitos são geridos socialmente e essa gestão se materializa nos o corpo e a palavra sobre o corpo. Enquanto o discurso necessita de um material discursos e também no corpo. O corpo é, desse modo, aprisionado a compleições linguístico e esse material permite o estudo da língua, o corpo é uma das físicas características de tal e tal agente de uma determinada classe social. O materialidades pelas quais o sujeito torna-se objeto de saber. corpo não é, portanto, visto apenas do ponto de vista biológico, ele é “uma forma Em Para uma filosofia do ato responsável, Bakhtin (2010b) afirma que cada moldada pela interação social” (Le BRETON, 2010, p.16, grifo meu), conceito- sujeito é um centro individual de responsabilidade ou responsividade, ou seja, cada chave em Bakhtin. sujeito responde ao mundo interior e exterior e é responsável pelo modo como Bakhtin (2009) não se debruça sobre um indivíduo natural isolado. O sujeito que responde. Já a consciência é participante e encarnada, portanto, cada sujeito a ele interessa é aquele que se apresenta como a relação entre a infraestrutura e constitui-se de uma unidade articulada entre consciência e carne, ou seja, entre a a superestrutura, desse modo, respectivamente, entre o contexto de produção consciência e a sua materialidade em contato com o mundo. Além disso, a carne é sócio-política e a ideologia sócio-política-histórica. Portanto, um indivíduo é a matéria flexível pela qual a consciência se movimenta (BAKHTIN, 2009), desse social, constituído por valores e é inserido na história, o mundo entra em contato modo, consciência e corpo são uma unidade inseparável no sujeito. Bakhtin (2010b) apresenta um sujeito ativo e envolvido pelos valores, um com esse indivíduo produzindo sentidos. sujeito sujeito que não pode fugir as suas responsabilidades ou não pode deixar de sujeitos, os sujeitos são cada um uma unidade concreta, material, corporal que responder ao mundo. Se isso fosse possível, seria ele algo diferente do humano. reflete e refrata os signos. Essa distância concreta me condiciona a exceder a visão Inserido e constituído no mundo e pelo mundo é o sujeito inevitavelmente que o outro possui de si mesmo. Aquilo que constitui ou que está por trás do outro, produto de uma coletividade. Esse sujeito responsivo, que responde ativamente o seu outro, estão em relação tão íntima com ele que é mais visível a mim do que a ao mundo, realiza objetivações e subjetivações ao interagir com o ouro, tais ele próprio. Corpo e mundo são colocados em relação ativa. É o olhar, não apenas processos são simultâneos. No momento em que o sujeito objetiva o outro e até aquele olhar que representa uma perspectiva ou que já é fruto de discursos ou separa-se de si mesmo para se objetivar, retorna a si e se subjetiva, assim são saberes, mas o olhar da própria percepção, da relação entre as pupilas e os outros colocadas em jogo imagens do “eu-para-mim, o outro-para-mim e eu para-o- elementos ligados ao sentido da visão que separa e participa ativamente da outro” (BAKHTIN, 2010b, p. 114). construção de mundos diferentes. Assim, o corpo é físico, mas como elemento físico Desse modo, o corpo não é apenas uma matéria que veicula o sujeito, mas também é objeto de contemplação, sendo a contemplação, para Bakhtin (2010a), uma matéria vista e contemplada pelo outro e pelo eu, portanto, é o próprio um processo ativo, é o corpo objeto de relações de sentido. O corpo é material e corpo um objeto das relações entre os sujeitos. Na interação, o corpo é discursivo. construído como uma imagem externa e objetiva do sujeito. Por isso, como meu corpo dialoga com o olhar do outro, eu me comunico com os outros corpos. É justamente nesse campo da visão que posso melhor compreender o corpo e o sujeito. Bakhtin afirma que quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem. Porque qualquer situação ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele, da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar – a cabeça, o rosto, e sua expressão –, o mundo atrás dele, toda uma série de objetos e relações que, em função dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando nos olhamos, dois diferentes mundos se refletem na pupila dos nossos olhos (BAKHTIN, 2010a, p.21). Nesse trecho, Bakhtin (2010a) afirma a distância concreta que separa os Referências BAKHTIN, M./ VOLOCHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 13.ed. São Paulo: HUCITEC, 2009. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010a. ______. Para uma filosofia do ato responsável. Trad. Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro e João, 2010b. LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Trad. Sonia M. S. Fuhrmann. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2010. PARAGUASSU, A.C.M. O corpo no discurso pedagógico: aberturas para uma reflexão epistemológica. 2013. 161f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2013. Impresso. CORPO VELHO, SEXUALIDADE E ESTEREOTIPIFICAÇÃO Lins de Barros ainda coloca que, na década de 1970, a velhice, encarada de forma mais ativa, estava diretamente relacionada à própria trajetória de vida de cada Emmanuele Monteiro (CIDADI/PROLING/UFPB) Regina Baracuhy (CIDADI/DLCV/PROLING/UFPB) um dos sujeitos pesquisados – no caso, mulheres idosas. Essa forma dos sujeitos maiores de 60 anos de viver a velhice ia de encontro à ordem discursiva da época, Myriam Morais Lins de Barros é professora titular da Escola de Serviço Social contrastando com os discursos produzidos sobre a velhice no século XXI, em que as da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Conselho Editorial das maneiras de se entender e viver a velhice são baseadas no ideal da ”terceira idade”/ revistas: Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento e Revista Brasileira de “melhor idade”, resultando, assim, numa tensão entre valores modernos e valores Sociologia da Emoção e membro da Comissão Editorial da revista Praia Vermelha. tradicionais. Estudos de Política e Teoria Social. Sob o viés antropológico, Myriam Morais Lins de Barros propõe, neste artigo, traçar um percurso histórico da pesquisa sobre o envelhecimento. Outro aspecto revelado nas pesquisas – e ressaltado pela autora - tem a ver com a deterioração da sexualidade e finalização de um projeto de vida como características da velhice. Por isso, a necessidade de ressaltar a ideia de uma velhice Em seu texto, Lins de Barros afirma que, mesmo estando presente há ativa, cujas marcas do tempo no corpo devem ser silenciadas até mesmo - ou algumas décadas nas pesquisas dos campos da Antropologia e da Sociologia, os temas principalmente - nos discursos, o uso de “eufemismos”, como se envelhecer do corpo e da velhice só ganharam relevância nos últimos anos, quando a sexualidade inevitavelmente significasse adoecer. na velhice e os cuidados de si para manter-se ativo, nesse período da vida, passaram Dessa maneira, a institucionalização da velhice funciona não só como sistema a ocupar um espaço maior no panorama dos temas importantes para se pensar, na de acolhimento (asilos), mas como uma questão de Estado e, consequentemente, de sociedade atual em decorrência de uma mudança que, além de social, também é políticas públicas sociais, que entendem a velhice como uma fase problemática da discursiva. vida, ao mesmo tempo em que ações governamentais, sejam elas de caráter Pensando junto com a autora, será que os idosos provedores de suas famílias, mesmo na maioria dos casos, por necessidade econômica, fazem disso uma forma de manter a autoridade na família e a independência como sujeitos sociais? Essa pergunta tem como respostas possíveis, o fato desses idosos serem midiático ou não, propõem maneiras de se viver a velhice de forma positiva. Portanto, a leitura deste artigo tem o seu mérito pelo fato de expor as consequências das tomadas de posição dos pesquisadores, da mídia e do governo no quadro atual do envelhecimento da população brasileira. obrigados a contribuir financeiramente em função de um “engajamento” emocional e familiar, tendo como resultado, em diversos casos inclusive publicados pela mídia, a violação do Estatuto do Idoso, no quesito exploração financeira. Referência Outra resposta possível é o fato desses idosos, detentores do poder BARROS, Myriam Morais Lins de. A velhice na pesquisa socioantropológica brasileira. econômico, exercerem sua autoridade de forma mais contundente, mesmo na In: GOLDENBERG, Mirian (org.). Corpo, Envelhecimento e Felicidade. Rio de Janeiro: velhice, mas isso não é algo corriqueiro. Civilização Brasileira, 2011. Dica de O corpo: Leitura do livro “10 lições sobre Foucault” de André Constantino Yazbek. Dica de O corpo: Leitura do livro “Psicanálise e Análise do Discurso” de Marlene Guirado. Dica de O corpo: O Corpo é Discurso é o Leitura do livro “Sexo e Poder” organizado por Guido Mantega. primeiro jornal eletrônico de popularização científica da Bahia. Popularização da Ciência A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que beneficiam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhecimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os benefícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico. Colaboradores