Ricardo Serrão Santos
Director do Departamento
de Oceanografia e Pescas da
Universidade dos Açores.
Presidente do IMAR-Instituto
do Mar.
Recursos do mar profundo:
potencialidades e ameaças
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As dificuldades e as adversidades relacionadas com o estudo do oceano profundo não aparecem reflectidas, de
forma equivalente às de outros ambientes, no que respeita aos impactos criados pelas actividades antropogénicas.
Invisível porque oculto sob as águas, o mar profundo e o oceano ao largo foram durante muito tempo considerados como menos impactados pelo uso humano. Contudo, recentemente, a percepção dos prejuízos e a sua
extensão começaram a ser realmente tomados em consideração.
O oceano profundo está reconhecidamente sob ameaça devido a um conjunto de actividade humanas donde sobressaem a exploração pesqueira e a poluição causada pela deposição de resíduos. O actual ou futuro surgimento de
actividades como a mineração, extracção de gases e de petróleo, a sequestração de CO2, deverão ser avaliados de forma
antecipada tendo em vista prever e minimizar os impactos que as mesmas poderão vir a ter. Destas apenas a
extracção de petróleo e de gás é actualmente económica e comercialmente activa, enquanto as outras estão ainda
numa fase de avaliação e de experimentação, mas serão certamente viáveis num futuro muito próximo.
Dia após dia cresce a evidência das ameaças sobre espécies e habitats do oceano profundo. Isto reflecte-se no
número crescente de espécies e de habitats que estão incluídos em listas prioritárias que estabelecem o imperativo
de acções urgentes e os incluem em listas vermelhas. Um outro aspecto relevante é o reconhecimento de que as
espécies e os habitats do mar profundo são em geral mais vulneráveis e menos resilientes do que as espécies e os
habitats de zona menos profundas devido à combinação de factores biológicos e ecológicos: e.g. crescimento lento,
maturidade tardia, longevidade, descontinuidade de populações, etc.
Existe a necessidade de novos instrumentos de gestão e de novas perspectivas quando nos reportamos ao oceano
profundo. Em particular há que ter em consideração que a maioria destes habitats e espécies que lhes estão
associadas estão localizadas no alto mar onde as capacidades de intervenção e a base jurídica ou não existem ou
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