Augusto Roquemont, retratista e pintor de costumes populares
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A trienal da Academia de 1851, proporcionaria a Roquemont novo triunfo. Expôs
neste certame duas telas: um auto-retrato e um quadro de costumes portugueses das
Provincias do Sul57.
A imprensa do Porto multiplicou os elogios a estas obras. Este insigne artista, nem
mesmo que o quizéra, pintaria mal, escreveu o “Chronista”58.
Foi no auge da sua glória que o destino atraiçoou Roquemont. No dia 23 de Janeiro
de 1852, o artista trabalhava no seu atelier, quando sentiu um frio terrível. Aproximouse do fogão que estava aceso, mas pouco depois o mesmo frio glacial atingia-o com
violência. Seguiu-se uma dor forte. Por volta da meia noite recebeu o Sagrado Viático
e fez as suas disposições testamentárias59. Sucumbiu às seis da manhã, do dia 24, a uma
peripneumonia60.
Todos hão de sentir a falta de tão eximio artista e consumado cavalheiro, afirmou o
“Nacional”61.
Resende foi quem mais sofreu com a perda do seu querido mestre e amigo62. Talvez
para matar saudades, continuou o resto da sua vida a praticar uma pintura de costumes,
na linha do suíço que fez com que o seu legado artístico permanecesse bem vivo na
memória da cidade63.
Além disso, o facto de Manuel José Carneiro ter leccionado a cadeira de Pintura Histórica
da Academia Portuense de Belas Artes, entre 1853 e 5564, deve ter contribuído para que a
influência de Roquemont se continuasse a desenvolver nos jovens artistas do Porto.
Carneiro fora amigo íntimo de Roquemont e possuía várias obras do mestre suíço.
Falava delas aos alunos (recordando episódios que o próprio Roquemont lhe narrara a
respeito de tais peças) e deixava mesmo que as copiassem65.
Todavia, em 1861, quase dez anos após a morte do artista, o “Jornal do Porto”,
recordando o suíço, lamentava a sua perda, acrescentando que a cidade não tinha
encontrado ainda ninguém que “dignamente” o substituísse66.
Na verdade, apesar dos êxitos de Francisco José Resende, o lugar destacado que
Augusto Roquemont ocupou na pintura do Porto romântico, ficaria vago para sempre.
57 Catálogo de Pinturas, Desenhos, Esculpturas, Arquitecturas, Flores, e outros Objectos D’Arte, feitas pelos Professores,
e Discipulos da Academia Portuense das Bellas Artes; bem como por varias outras pessoas, Porto, Typographia de
Gandra & Filhos, 1851, p. 19.
58 ANÓNIMO – Folhetim, A Exposição das Bellas Artes no Porto, in “O Chronista”, N.º 104, Porto, 11 de Dezembro
de 1851, p. 1, 2.ª coluna.
59 ANÓNIMO – O que vai pelo mundo, in “O Nacional”, N.º 19, Porto, 24 de Janeiro de 1852, p. 3, 3.ª coluna.
60 ANÓNIMO – Fallecimento, in “Periodico dos Pobres no Porto”, N.º 21, Porto, 24 de Janeiro de 1852, III Serie, XIX
Anno, p. 79, 1.ª e 2.ª colunas.
61 ANÓNIMO – O que vai pelo mundo, in “O Nacional”, N.º 19, Porto, 24 de Janeiro de 1852, p. 3, 3.ª coluna.
62 DEVIL, PRINTER’S – Folhetim, Revista do Porto, in “O Nacional”, N.º 22, Porto, 28 de Janeiro de 1852, pp. 2 e 3.
63 Ainda em 1870, Francisco José Resende, escrevia no verso de um dos seus óleos: Muro das Fontainhas / Inspirado
em Roquemont (…).
64 Acta da Conferência Ordinária da Academia Portuense de Belas Artes, de 30 de Novembro de 1854, in Actas das
Conferencias Ordinarias e extraordinarias da Academia, Volume II, f. 32, v. a 34, Arquivo da Faculdade de Belas Artes
da Universidade do Porto.
65 VITORINO, Pedro – O Pintor Augusto Roquemont (No centenário da sua vinda para Portugal), Edição de Maranus,
Porto, 1929, pp. 36 e 40 – 44 ; Catalogo das obras appresentadas na 6.ª Exposição Triennal da Academia Portuense
das Bellas Artes no Anno de 1857, p. 14.
66 ANÓNIMO – A Expozição Industrial Portuense em 1861, in “O Jornal do Porto”, 7 de Setembro de 1861.
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29 A trienal da Academia de 1851, proporcionaria a Roquemont