| MARCOS - O EVANGELHO DO SERVIÇO Jesus na véspera da morte ESTUDO 38 Leituras diárias Texto básico: Marcos 14.22-26, 32-41 Texto áureo: João 6.38 Temos estudado grande parte do ministério daquele que “não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). De quanta coisa Jesus abriu mão para ser o servo ideal! Abriu mão de sua glória e de sua igualdade com o Pai (Fp 2.6). Igualdade de condições, e não de essência, é claro. Foi feito menor que os anjos e semelhante aos homens (Hb 2.9; Fp 2.7). Abriu mão de alguns direitos sociais, não tendo onde reclinar a cabeça, pagando tributos (Mt 8.20; 17.24-27). Abriu mão da defesa pessoal, silenciando perante o sinédrio, suportando calúnias e afrontas (Mt 26.61-63; Lc 23.2; Jo 18.22,23). Mas Jesus foi além de tudo isso — abriu mão da própria vida. Seu serviço vai culminar com a morte na cruz “em resgate de muitos”. Qual seria a mensagem da manjedoura, se não houvesse o Calvário? Sob dois aspectos gerais, apreciemos o texto. 136 | R EF L EXÕ E S B Í B L I C A S Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Mc 13. 9-13 Mc 13. 33-37 Mc 14. 3-9 Mc 14. 12-21 Mc 14. 22-25 Mc 14. 26-31 Mc 14. 32-42 JESUS PREPARA OS DISCÍPULOS (Mc 14.22-26) 1. O contexto. No cap. 13 de Marcos Jesus faz uma série de avisos aos discípulos, com o objetivo de torná-los sábios e fortes para enfrentar o mundo após sua partida para o Pai. Vão enfrentar falsos cristos, suportar o sinédrio, sofrer ódio, humilhação, discórdia em família e perseguições. É garantida, porém, a vitória aos fiéis. Recebem instruções para isso. Também em Jo 13, numa noite de Páscoa, o Senhor adverte seus servos contra fraquezas pessoais, contra a falta de maturidade cristã, e comunica sua partida. Nem todos os crentes estão preparados para perder pais, irmãos, outros familiares e certos privilégios adquiridos. 2. O texto Como a celebração da ceia podia ser parte da preparação dos discípulos para MARCOS - O EVANGELHO DO SERVIÇO | a morte do Mestre? Que tipo de preparo recebem? Preparo doutrinário. A ceia do Senhor não é propriamente a continuação da páscoa, assim como o cristianismo não é a continuação do judaísmo, nem a graça é a continuação da lei. Uma coisa fica no lugar da outra, com mensagem diferente. Da páscoa, por exemplo, foram preservados somente o pão e o vinho, que nada mais têm a ver com os animais sacrificados, pois apontam para o Cordeiro de Deus, visto que “Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado” (1 Co 5.7). É o novo pacto, ou aliança. Os discípulos precisavam entender bem isso, como deviam compreender a ordenança que iam receber. A doutrina da ceia tem causado controvérsias. Omitindo aqui as diferentes interpretações, basta lembrar o conteúdo essencial aceito pelos evangélicos no símbolo do pão e do vinho: a doação de Cristo na cruz . O v. 25 confirma o que os discípulos já haviam ouvido de seu querido Mestre sobre sua retirada do meio deles. A separação dentro de poucos dias será difícil, dolorosa para eles, que hão de continuar a obra “até que ele venha” (1 Co 11.26). Estão preparados para essa ausência física do Mestre e amigo? Interpretam bem a missão do Filho do homem? Pedro já havia demonstrado imaturidade, tentando evitar que seu Senhor fosse crucificado (Mt 16.21; Mc 8.32). Não estava ainda preparado suficientemente. Preparo social. Voltando a João 13, destaca-se a preocupação de Jesus com os seus numa sociedade cheia de ambições e vaidades. Como irão viver os discípulos depois de sair o Mestre? Saberão amar uns aos outros? Assumirão a humilde posição de servos? Ou vão gastar tempo discutindo sobre quem é o maior? Jesus “amou-os até o fim” (Jo 13.1). É possível convivência sem amor? Jesus lavou-lhes os pés para deixar a lição de humildade, amor e serviço (Jo 13.5). Se a Jesus eles chamavam Mestre e Senhor, e esse Mestre e Senhor agiu desse modo, por que não seguirem os seus passos? (Jo 13.13,14). Ainda hoje carecem os crentes dessa lição, a fim de viverem proveitosamente nos diversos ambientes sociais: família, igreja, escola, profissão etc. Aplicação a sua vida. As Juntas de Missões mantêm obreiros em países inimigos do cristianismo. Para ser um desses obreiros, como você se prepararia? JESUS PREPARA-SE (Mc 14.32-41) 1. Jesus precisava preparar-se? Sendo ele o próprio Deus entre nós, por que necessitava de preparo para suas tarefas? A resposta pode ser colocada nos seguintes termos: Jesus, realmente, limitou-se (Jo 1.14; Fp 2.6-8). Tomando a forma humana, ficou sujeito a experiências humanas — fome, canseira, sono, tristeza, lágrima (Mt 21.18; Jo 4.6; Mc 14.34; Jo 11.35). O v. 33 de Mc 14 menciona pavor e angústia. Diz o Nuevo Comentario Bíblico: “A profunda angústia de sua humanidade chega a ser RE F LE XÕE S B ÍB LIC AS | 137 | MARCOS - O EVANGELHO DO SERVIÇO evidente”. Não recordo onde li esta interpretação dos vs. 33 e 34: “O Cristo humano confidencia uma fraqueza própria do homem”. Mesmo conhecendo essas limitações sofridas por Jesus, há por aí pregadores que exigem do crente emoções sempre saudáveis, em perfeito equilíbrio. ções são intensas, expressando-se assim: “A minha alma está triste até a morte” (v. 34). Lucas informa: “O seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que caíam sobre o chão” (Lc 22.44). Isso fazia parte do preparo para derramar literalmente seu sangue pouco depois. Jesus deixou o exemplo em tudo (1Pe 2.21). Preparou-se para começar sua nobre missão, indo ao deserto. Preparou-se para terminá-la, subindo ao monte da transfiguração e buscando o jardim do Getsêmane. A realização de qualquer tarefa sem a conveniente reflexão corre o risco do insucesso, ainda mais quando se trata de empreendimentos especiais e de maior responsabilidade. Correr contra o relógio sugere improvisos. Improvisa-se a comida, a roupa, a casa, a viagem, a literatura, a lição da Escola Dominical, e até o sermão. Submetendo-se (vs. 35,36). A oração correta inclui a disposição para uma resposta que se harmonize com a soberania de Deus. Já ouvi um pregador declarar que o crente não precisa colocar na oração o se: “Se for da tua vontade”, porque Deus promete as bênçãos, e basta cobrar dele o prometido. Por isso é que muitas orações são ordens dadas a Deus. É arrogância (ou ignorância?) demais, não acha? Jesus está mais uma vez dando o exemplo. Em Mc 14. 35,36 ele pratica o que ensinou em Mt 6.10. Ele não tem sermão sem vida. Sem vida, o sermão é incoerência, é farsa, é hipocrisia. O Getsêmane revela perfeita harmonia entre o Filho e o Pai, uma preciosa lição para os filhos de Deus. Jesus ora intensamente porque sofre intensamente, preparando-se para cumprir Isaías 53. Maior a dor moral do que a física Esta nem havia chegado ainda, mas a dor moral começou bem antes do Getsêmane. Só mesmo a vontade do Pai podia justificar tamanha humilhação e angústia. O v. 36 nunca deve ser lido pela metade. É violência ao texto e ofensa ao nosso Herói. 2. Como Jesus se preparou para a morte? Orando (vs.32-36). Passou uma noite em oração antes de escolher os discípulos (Lc 6.12,13). Outra noite o aguardava no Getsêmane, onde lhe faltaria o companheirismo desejado. Os três discípulos escolhidos para orar com ele dormiram. Como é útil a solidariedade! A compreensão de Jesus merece destaque: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (v.38). Ele compreende as fraquezas humanas e exercita a misericórdia, que vai demonstrar também aos carrascos na hora da crucificação (Lc 23.34). Sofre sozinho. Coisa horrível é a solidão! Oito discípulos encontram-se fora do jardim. Os três mais próximos falham. As emo138 | R EF L EXÕ E S B Í B L I C A S O v. 41 indica o preparo de Jesus alcançado para ser “entregue nas mãos dos pecadores”. E o v. 42 documenta sua disposição para enfrentar o traidor, que se aproxima. Deixemos que a epístola aos Hebreus lance luz sobre este insondável mistério (2.9,10,14; 5.7-9). MARCOS - O EVANGELHO DO SERVIÇO | Aplicação a sua vida. Vivemos numa época de improvisos. Em que isso afeta tarefas seculares e religiosas? REFLITA UM POUCO MAIS 1. A páscoa recordava uma redenção social: a libertação do Egito opressor. A ceia lembra a redenção espiritual: a libertação do pecado. Mas ambas as celebrações incluem a gratidão ao Redentor. Cultivamos gratidão? 2. Aprendemos com Jesus a tratar com seriedade e determinação nossos compromissos. Ele fala de sua morte como cumprimento das Escrituras e da vontade de Deus. Levamos a sério o que fazemos? Buscamos a vontade de Deus? 3. A responsabilidade aumenta com os privilégios. De quem tem mais se exige mais. Os três discípulos convidados para ficar mais perto de Jesus e orar com ele causaram decepção. Nossas atitudes decepcionam? 4. Na verdade o Senhor não está ausente, pois garantiu sua presença “todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Mas na agenda divina consta ainda uma vinda do Filho do homem. “Até que ele venha” (ou volte), anunciemos sua morte expiatória, não somente na celebração da ceia, mas em todas as oportunidades. 5. Neste ponto final deixamos uma expressão de Giovanni Papini, em sua História de Cristo, a propósito do Cordeiro de Deus: “Há dois milênios nutremse os cristãos desta vítima; está sempre intacta e os devoradores não se saciam”. Creio que o autor está exaltando a farta e inesgotável provisão da Graça. Faz lembrar esta mensagem poética do Cantor Cristão: “A nova do evangelho dá-nos todos a saber que fartura há para todos, sim, pra quem com fé comer: Da vida o pão Eu sou; satisfeito ficarás; teus pecados e tua alma lavarei, e paz terás”. RE F LE XÕE S B ÍB LIC AS | 139