D I S C I P L I N A Instrumentação para o Ensino de Química II Autores Márcia Gorette Lima da Silva Isauro Beltrán Núñez RE VI SÃ O Concepções alternativas dos estudantes CONTROLE DA EDIÇÃO DE MATERIAIS - SEDIS/UFRN Nome do arquivo: In_En_QII_A04 Diagramador: Bruno Data de envio para Revisão: 09/05/2007 Versão da EDIÇÂO: VERSÃO 1 Data de saída de REV. TIPO.: Professor responsável: Material APROVADO (conteúdo e imagens) aula 04 Data: ___/___/___ Nome:______________________ Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa Janaina Tomaz Capistrano Sandra Cristinne Xavier da Câmara Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Revisora Tipográfica Nouraide Queiroz Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância – SEED Ronaldo Motta Ilustradora Carolina Costa Editoração de Imagens Adauto Harley Carolina Costa Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor José Ivonildo do Rêgo Diagramadores Bruno de Souza Melo Dimetrius de Carvalho Ferreira Ivana Lima Johann Jean Evangelista de Melo O Vice-Reitor Nilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho SÃ Secretária de Educação a Distância Vera Lúcia do Amaral Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Projeto Gráfico Ivana Lima VI Coordenadora da Produção dos Materiais Célia Maria de Araújo Imagens Utilizadas Banco de Imagens Sedis (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN Fotografias - Adauto Harley Stock.XCHG - www.sxc.hu RE Revisores de Estrutura e Linguagem Jânio Gustavo Barbosa Eugenio Tavares Borges Thalyta Mabel Nobre Barbosa Adaptação para Módulo Matemático André Quintiliano Bezerra da Silva Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira Revisora das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede” Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ Apresentação N esta aula, abordamos as concepções alternativas dos estudantes no ensino de Ciências Naturais, consolidadas durante os últimos anos. Alguns autores (POZO, 1993) assinalam que a década de 1980 pode ser considerada como a época das concepções alternativas, apesar de outros pesquisadores, como Driver (1986) e Viennot (1979), já sinalizarem para essa questão. O A discussão em torno das concepções alternativas tem-se constituído numa linha de pesquisa dentro da Didática das Ciências Naturais, baseando-se na construção de teorias sobre as idéias dos estudantes e nos questionamentos teóricos e metodológicos, a fim de não só estudar as concepções alternativas, como também o que fazer com elas no ensino-aprendizagem das Ciências (POZO; GÓMEZ-CRESPO, 1998). RE VI Objetivos SÃ Assim, em nossa aula serão discutidas características das concepções alternativas, sua origem e as contribuições das investigações sobre estas para o processo de ensino-aprendizagem das Ciências Naturais, particularmente da Química. 1 2 3 Diferenciar erro conceitual de concepção alternativa. Explicar as origens e a natureza das concepções alternativas sobre os fenômenos químicos. Discutir a importância do conhecimento das concepções alternativas dos estudantes no ensino-aprendizagem de Química. Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ As concepções alternativas... Idéias prévias? Por que vamos estudar as concepções alternativas? O que elas significam? Quais as implicações para o ensino? Neste momento da aula, discutiremos esses questionamentos. SÃ O Um primeiro argumento que podemos apresentar se apóia na orientação construtivista da aprendizagem de ciências, segundo a qual os estudantes constroem seus próprios conhecimentos na interação de suas estruturas mentais com a informação que recebem do meio externo e na interação com os outros. Quer dizer, essa construção ocorre quando os estudantes assistem às aulas, escutam o professor, lêem um texto, observam uma experiência, interpretando todas essas informações a partir do que já sabem e considerando os componentes afetivos da sua personalidade. Dessa forma, na aprendizagem construtivista valoriza-se o conhecimento que os estudantes possuem quando estudam um determinado conteúdo. RE VI Existe um consenso na comunidade da Didática das Ciências sobre a importância das concepções alternativas para o ensino-aprendizagem das Ciências Naturais. Os professores, quando ensinam, devem levar em conta o que sabem os estudantes sobre um determinado objeto de estudo. Uma educação bancária (FREIRE, 1985) na qual se desconhece o que o estudante sabe, sua cultura, interesses, necessidades, leva à aprendizagem memorística descontextualizada, pouco relevante para os estudantes, com pouco potencial educativo. Mas, o que chamamos de concepções alternativas? Muitas são as denominações utilizadas para os conhecimentos que os estudantes têm sobre os objetos de estudos das Ciências Naturais. Giordan e De Vecchi (1996) explicam que inicialmente as concepções alternativas foram chamadas de pré-concepções, erros conceituais, concepções errôneas, atribuindo-lhes uma conotação negativa. Há também autores que usam o termo idéias prévias (denominação geral), outros usam teorias espontâneas, ciências dos estudantes, concepções espontâneas. Chamam de idéias prévias aquelas que o sujeito constrói para interpretar e explicar eventos naturais cotidianos; são construções que os estudantes elaboram para dar resposta às necessidades pessoais de interpretar fenômenos naturais. Tais idéias resultam da interação com o outro nos cenários socioculturais. Wandersee, Mintzes e Novak (1994, p. 125) denominam de concepções alternativas “os produtos da aprendizagem individual dos estudantes, de seu esforço intelectual para dar sentido e organizar uma visão de mundo”. Uma contribuição importante à Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ compreensão das concepções alternativas é exposta por Carrascosa (2005), que distingue erro conceitual de concepções alternativas. Erros conceituais: são respostas rápidas, seguras, contraditórias aos conhecimentos científicos vigentes, amplamente dominadas pelos estudantes e que se repetem insistentemente. Concepções alternativas: são idéias que levam aos erros conceituais. RE VI SÃ O Isso quer dizer que quando os estudantes cometem erros (em relação ao conhecimento científico), estes não são exatamente suas concepções alternativas, mas sim uma forma delas se manifestarem. Apresentamos, a seguir, exemplos que o autor usa em seu artigo. Figura 1 – Exemplos de erros conceituais, manifestação de concepções alternativas Nesses exemplos, a concepção alternativa se expressa quando se atribui aos átomos propriedades “macroscópicas” para explicar o fenômeno. Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ As concepções intervêm na identificação da situação, na seleção das informações necessárias, no tratamento dessas informações para a produção dos sentidos. (Giordan, 1995) SÃ O Pelos exemplos apresentados, você pode observar que ao estudar a estrutura das substâncias os estudantes, em geral, não aceitam com facilidade a idéia de que haja vazio entre os diversos elementos que compõem o ar. Para Giordan e De Vecchi (1996, p. 145), “a passagem de uma visão contínua para uma descontínua exige um enorme esforço de abstração e racionalização, assim como o abandono de toda a prova sensorial”. O modo de conhecimento científico exige, nesse caso, uma mudança radical em relação ao modo de conhecimento do cotidiano. Para os autores, nesse caso, os estudantes devem abrir mão de suas experiências sensoriais, rejeitando suas imagens, para conectar-se a um pensamento abstrato (conceito modelo científico). Um outro exemplo é com relação ao termo “partícula”. Na linguagem cotidiana, esse termo refere-se a uma parte pequena e visível de um corpo, enquanto na Química relaciona-se a átomos, íons, moléculas, que não são perceptíveis pelos sentidos. RE VI Diante da intensificação das investigações didáticas nos últimos anos, observou-se que as respostas dadas pelos estudantes são semelhantes em diferentes contextos, ou seja, os estudantes de diferentes contextos, por vezes, compartilham das mesmas idéias sobre os fenômenos. Tal observação nos leva a pensar na validade dos estudos. Assim, no campo das pesquisas sobre as concepções alternativas, observa-se que 70% dos estudos são relativos a conhecimentos da Física, 20% da Biologia e só 10% da Química (Garritz; Trinidad-Velasco, 2003). Sobre os conteúdos de Química, os estudos preocupam-se com: a mudança química e as reações; as partículas como átomos e moléculas; o equilíbrio químico; os modelos e representações de reações químicas; os ácidos e as bases; a combustão; a eletroquímica; o conceito de mol. O desenvolvimento dos estudos das concepções alternativas dos estudantes tem sido apoiado pela Psicologia Cognitiva, Psicologia Evolutiva, História das Ciências, Epistemologia das Ciências, Antropologia, Sociologia, entre outras. Essas áreas de conhecimento revelam elementos que possibilitam construir analogias e marcos teóricos para compreender a natureza das concepções alternativas. Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ Atividade 1 1 Diferencie erro conceitual de concepção alternativa. 2 Por que é importante para o ensino-aprendizagem de Química o conhecimento das concepções alternativas dos estudantes? SÃ O As origens das concepções alternativas VI Um primeiro questionamento que podemos fazer é: se as concepções alternativas expressas pelos estudantes são similares em diferentes contextos, então, qual a origem delas? RE Para tentar responder, vamos destacar alguns pontos, entre eles, o fato das pesquisas na Didática das Ciências Naturais apontarem para a necessidade de se estudar as origens das concepções alternativas dos estudantes. Nesse sentido, para se trabalhar com as concepções dos estudantes, como pregam as perspectivas construtivistas, exige-se conhecimento da natureza e origem dessas idéias. Observa-se que tem aumentado o número de pesquisas com relação às concepções alternativas, apesar de ser pouco expressiva a quantidade que procura esclarecer a natureza e origem dessas concepções. Para muitos especialistas na Didática das Ciências Naturais, um grande número dessas concepções tem sua origem na experiência cotidiana, são impregnadas da linguagem comum, com procedimentos pouco reflexivos e críticos. Carrascosa (2005) discute as causas mais importantes que, na sua compreensão, relacionam-se com a origem e a persistência das concepções alternativas. Para o autor, dentre essas causas estão: Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ a) a influência das experiências físicas cotidianas; b) a influência das linguagem cotidiana (oral e escrita), que usamos no nosso dia-a-dia, nas nossas relações interpessoais, como também da linguagem dos meios de comunicação (rádio, TV, cinema, livros etc.); c) a existência de graves erros conceituais em alguns livros didáticos; d) as idéias alternativas dos professores; e) a SÃ O utilização de estratégias de ensino e metodologias de trabalho pouco adequadas. A partir de agora, vamos detalhar essas causas. RE VI A influência das experiências físicas cotidianas é oriunda do caráter direto e reiterativo de experiências do cotidiano, das formas sensoriais, assim como, das maneiras destas serem interpretadas pelo pensamento cotidiano, o que leva a internalizar, de forma acrítica, concepções sobre esses fenômenos. Quanto mais as concepções alternativas estão construídas nas experiências cotidianas de forma acrítica, mais complexos serão os processos para mudá-las. Na influência da comunicação verbal, visual e escrita, pode-se sinalizar que os estudantes se apropriam da linguagem do cotidiano, das linguagens da TV, dos livros etc. Na linguagem do cotidiano, diversos termos têm um significado diferente daquele que a Ciência lhe atribui, muito embora algumas palavras usadas pela ciência tenham sua origem no cotidiano. Com isso, na escola, ao estudarem esses termos sem uma devida orientação, os estudantes transferem o significado do cotidiano para o conhecimento científico. Com relação aos livros didáticos, alguns não trabalham a perspectiva de construção dos conceitos pelas ciências. Neles os conceitos aparecem como algo pronto, com informações incompletas e, às vezes, constituem graves erros conceituais. Além disso, algumas figuras ou ilustrações apresentadas em livros didáticos podem levar os estudantes a construir concepções equivocadas, em relação às explicações científicas. Por exemplo, Furió (1996) assinala que o ensino tradicional da Química trabalha a classificação das substâncias como: elementos e compostos; compostos iônicos e covalentes; metais e não-metais. Segundo o autor, essa classificação leva os estudantes a formarem concepções alternativas, conduzindo-os a erros conceituais, como: Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ n os elementos são mais estáveis que os compostos; n os elementos podem ser encontrados como tais na natureza; n a única forma de sintetizar os compostos é a partir dos elementos; n as partículas estáveis das substâncias elementares são simples átomos e, conseqüentemente, as das substâncias compostas são moléculas; n os compostos não são substâncias puras e sim misturas; n existem três tipos de ligações: iônica, covalente e metálica; propriedades macroscópicas das substâncias estão determinadas pelo tipo de ligação; n os compostos iônicos estão formados por moléculas; n os metais estão formados por átomos soltos; composto é sinônimo da palavra elemento. SÃ n a palavra O n as RE VI A metodologia utilizada no processo de ensino-aprendizagem constitui também uma das causas da origem e persistência das concepções alternativas. Nesse sentido, Viennot (1979) mostrou em sua pesquisa como o ensino difunde muitas concepções alternativas. Quando os professores veiculam essas concepções não organizam estratégias para questioná-las, uma vez que têm visão limitada acerca delas, isto é, o domínio do conhecimento científico pelos professores não é suficiente, o que indica que eles precisam de uma adequada formação didática para trabalhar as concepções alternativas dos estudantes. Atividade 2 1 Quais podem ser as origens das concepções alternativas dos estudantes? Explique usando exemplos. 2 Elabore um texto discutindo as características das concepções alternativas. 3 Que implicações têm as características que você discutiu na questão anterior com relação à aprendizagem dos estudantes? Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ Características das concepções alternativas dos estudantes As concepções alternativas, em geral, são incoerentes com o conhecimento científico. Nelas estão as bases (ou esquemas mentais) de erros conceituais que os estudantes manifestam quando resolvem problemas que exigem o conhecimento científico. O Oliva Martínez (1999, p. 93) caracteriza a natureza das concepções alternativas na base dos seguintes princípios: “da estruturação implícita, da diversidade – coexistência; da sistematicidade – homogeneidade limitada; e o da probabilidade”. Para o autor, as concepções dos estudantes: caráter implícito (estruturação implícita). Dessa forma, as respostas deles a uma questão não seriam as concepções em si, mas uma forma destas se manifestarem. Pode não existir uma correspondência entre as manifestações externas e as concepções que estão por trás delas; SÃ n têm n podem coexistir com outras concepções diferentes para um mesmo fenômeno (diversidade VI – coexistência). Quer dizer, um estudante pode ter diferentes esquemas mentais alternativos sobre um assunto, os quais competem entre si, face a uma situação dada; um certo nível de sistematicidade e homogeneidade nos diferentes âmbitos (sistematicidade – homogeneidade limitada). Quer dizer, as concepções alternativas têm uma organização específica, diferente das idéias científicas, mas não estão fragmentadas, de forma incoerente. É um tipo de conhecimento sistematizado, todavia, qualitativamente diferente da sistematização do conhecimento científico; RE n têm n são construções do tipo probabilístico (probabilidade). Nesse sentido, o critério de ativação para um esquema relativo a uma concepção alternativa é uma questão de lógica probabilística, com certo nível de incerteza no resultado. Assim, como explica o autor, a resposta de um estudante a uma questão concreta não está sujeita a uma lógica determinista, fixada previamente à formulação da mesma, e sim é resultado de um processo de decisão dentre diversos argumentos ou opções que têm o mesmo status. Vamos retomar os pontos apresentados nesta aula sobre os erros conceituais serem formas de expressão das concepções alternativas, buscando uma relação com as características destas. Para tanto, vamos nos apoiar em estudos sobre erros conceituais dos estudantes de diferentes níveis e contextos, apresentados por Carrascosa (2005) que resume algumas das características comuns a esses erros, afirmando que: n se repetem insistentemente ao longo de diferentes níveis educativos resistindo ao ensino do conhecimento sistematizado que os contradiz; Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ n estão associados com freqüência a uma determinada interpretação sobre um conceito científico dado, diferente do que é aceito pela comunidade científica; n são respostas expressas de forma rápida, sem dúvidas, com a idéia de que são corretas; n são equívocos característicos de um grande número de estudantes e inclusive de alguns professores. Atividade 3 O Um grupo de estudantes opina que a água dos poços, o leite ordenhado, o ar de uma cidade, como Natal-RN, são substâncias puras. Discuta com outros colegas e: SÃ a) elabore um texto com as possíveis origens dessas idéias; b) diga qual a estrutura das substâncias que pode estar relacionada com VI essas idéias. RE Aprender “com” e “contra” P ara Giordan (1995), faz-se necessário superar o ensino que opera unicamente “com” ou “contra” as concepções alternativas. A aprendizagem construtivista é um processo pelo qual o estudante constrói novas representações e pode mudar suas concepções quando enfrenta situações nas quais sente a necessidade de construir as novas representações. O novo conhecimento integra-se às estruturas cognitivas dos estudantes e contribuem para dar sentido a esse novo conhecimento (assimilação no sentido piagetiano). Mas, as concepções alternativas em algumas ocasiões podem constituir-se em obstáculos para a aprendizagem do novo conhecimento. As concepções alternativas podem ser susceptíveis de: n aperfeiçoamento, ou seja, o novo conhecimento integra-se a elas de forma significativa; n não serem um marco referencial para explicar e compreender o novo conhecimento, precisa-se de novas concepções. Assimilação Piaget define um campo semântico referente à (re)construção do conhecimento por “assimilação” e “acomodação”. Isto é, pela incorporação de elementos do entorno às estruturas cognitivas do estudante, que se ajustam, e permitindo o aparecimento de novos conhecimentos. Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ No primeiro caso, as concepções alternativas possibilitam a construção do novo conhecimento e são um marco de referência para se explicar em outro contexto. Por exemplo, os estudantes podem aprender os modelos do átomo e desenvolver uma concepção a esse respeito que lhes possibilite a compreensão de outros modelos. SÃ Concepções alternativas O No segundo caso, as concepções alternativas levam a erros conceituais que devem ser discutidos e refletidos com os estudantes para trabalhar processos de construção de novos conhecimentos que levem a outras concepções sobre o objeto de estudo. Por exemplo, estudantes acreditam que na estrutura H+ existe um próton e um orbital “vazio”, conseqüentemente, na interação H+ + :NH3, o par de elétrons ocupa esse “orbital vazio”. Marco interpretativo do novo conhecimento Se aprende “a partir” dessas concepções “contra”? VI Filtro da realidade RE Figura 2 – Susceptibilidade das concepções alternativas e o aprendizado Nos processos de ensino-aprendizagem, o diagnóstico, sua natureza e possível origem constituem elementos importantes para o professor refletir sobre o papel dessas concepções nas situações de aprendizagem dos estudantes. Chamamos a atenção para a importância de serem consideradas na atividade docente; não apenas identificá-las, mas organizá-las no contexto das atividades com uma determinada intenção. Leituras Complementares MORTIMER, Eduardo Fleury. Concepções atomísticas dos estudantes. Química Nova na escola, p. 23-26, 1995. Disponível em: <http://www.sbq.org.br>. Acesso em: 20 jun. 2006. O autor apresenta o resultado de uma pesquisa sobre as concepções alternativas de estudantes para conceitos relacionados ao modelo atômico. Este trabalho revela que há dificuldade dos estudantes em transitar entre as observações de fenômenos e as explicações atomísticas, ou seja, em fazer relações entre o modelo atômico e o comportamento da matéria 10 Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ nas diversas transformações que sofre. O autor também insere concepções alternativas sobre a matéria, a atribuição de propriedades macroscópicas aos átomos e sobre a dificuldade de aceitar a existência de espaços vazios entre as partículas da matéria, sugerindo, por fim, formas de lidar com essas concepções aos ensinar esses conteúdos. NÚÑEZ, Isauro Beltrán; NEVES, Luiz Seixas das; RAMALHO, Betania Leite. Uma reflexão em relação ao estudo da mecânica quântica: o caso do princípio da incerteza. Revista Iberoamericana de Educación. Disponível em: <http://www.campus-oei.org>. Acesso em: 22 jun. 2006. VI Resumo SÃ O Neste artigo, os autores apresentam um estudo que revela diferentes dificuldades de estudantes universitários com relação ao estudo da Mecânica Quântica e estabelecem as influências que os livros didáticos podem ter nos sentidos atribuídos pelos estudantes, no Ensino Superior, a esse conteúdo. Ressaltam a importância de dois conhecimentos chaves na compreensão da Mecânica Quântica como modelo teórico: a dualidade onda-partícula e o princípio da incerteza de Heinsenberg. Segundo os autores, é baseado nesses dois conhecimentos que emanam concepções sobre a matéria, por isso sua importância no sistema de conteúdos para a formação de profissionais e as implicações no reconhecimento de modelo de Ciência como resultado de uma construção humana. RE Nesta aula, você observou que os estudantes desenvolvem idéias sobre seu mundo, constroem significados para as palavras que usam na ciência e desenvolvem estratégias para poder explicar como e por que as coisas se comportam de uma ou de outra forma. As concepções alternativas são idéias dos estudantes que podem levá-los a erros conceituais. Assim, o estudo de tais concepções com relação aos fenômenos químicos constitui um elemento necessário à compreensão da aprendizagem e dos erros conceituais no estudo da Química. As concepções alternativas, por sua vez, têm sua origem na influência de experiências cotidianas, nas diversas linguagens não científicas que são usuais no contexto sociocultural, nos erros conceituais dos livros didáticos e nas metodologias de ensino inadequadas. Elas são persistentes, ou seja, não mudam com facilidade, resistindo, por vezes, a grandes períodos de construção científica escolar e podendo ser a base de erros conceituais. Sua caracterização e a sua origem podem fornecer elementos importantes para os professores pensarem estratégias de ensino-aprendizagem a fim de superar deficiências na aprendizagem de conceitos científicos. Aula 04 Instrumentação para o Ensino de Química II Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________ 11 Auto-avaliação 2 Aprende-se “graças a” (Gagné), “a partir de” (Ausubel), e “com” (Piaget) e ao mesmo tempo “contra” (Bachelard) os saberes funcionais que estão na “cabeça do estudante” (Giordan, 1995). SÃ Referências O 1 Com relação à aprendizagem dos estudantes e suas concepções alternativas, elabore um texto discutindo a seguinte idéia: AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia educativa: um ponto de vista cognoscitivo. 2. ed. México: Trillas, 1983. VI CARRASCOSA, Jaime. El problema de las concepciones alternativas en la actualidad (Parte I). Analisis sobre las causas que la originan y/o mantienen. Revista Eureka sobre la Enseñanza y Divulgación de las Ciencias, Cádiz, v. 2, n. 2, p. 183-208, 2005. RE DRIVER, R. Psicología cognitiva e esquemas conceptuales de los alumnos. Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, v. 1, n. 4, p. 3-15, 1986. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. FURIÓ, Charles. Las concepciones alternativas del alumnado de ciencias: dos decadas de investigación: resultados y tendencias. Alambique, n. 7, p. 7-17, 1996. Garritz , Andoni; Trinidad-Velasco, Rufino. 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