Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 25, 26 e 27 de março de 2014 MUDANÇA ORGANIZACIONAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: AVANÇOS E DESAFIOS NA REESTRUTURAÇÃO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO FERNANDO PADULA NOVAES LUCIANA JACQUES FARIA 2 Painel 26/078 A reestruturação organizacional da Secretaria da Educação de São Paulo: maior governança, planejamento e gestão por processos para a melhoria da educação MUDANÇA ORGANIZACIONAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: AVANÇOS E DESAFIOS NA REESTRUTURAÇÃO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO Fernando Padula Novaes Luciana Jacques Faria RESUMO Ao longo de 2011, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEESP) passou por dois importantes movimentos paralelos: por um lado, iniciou o processo de reestruturação organizacional, fruto de três anos de extenso diagnóstico, e que resultou na adoção de uma estrutura baseada na lógica de “entregas”. Por outro, definiu um novo planejamento estratégico, com o ambicioso objetivo de posicionar o sistema educacional paulista como um dos melhores do mundo até 2030, em um programa de governo que se tornou conhecido como “Educação: Compromisso de São Paulo”. Adotando como princípios a gestão para resultados e o foco no aluno, ambos têm trazido o desafio de implantar uma governança que fortaleça as instâncias e as práticas de planejamento e de monitoramento. Os últimos dois anos têm sido de intensos esforços para consolidar e fazer convergir a nova estrutura e o programa de governo; o artigo relata essa experiência, comenta as dificuldades vividas e indica caminhos futuros para a Secretaria da Educação. 3 INTRODUÇÃO A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo é uma das maiores organizações do país; os números aproximados dão conta de um quadro funcional de trezentos mil servidores, uma rede de cinco mil escolas e quatro milhões de alunos. A estrutura organizacional inclui uma Escola de Formação; cinco Coordenadorias; uma Subsecretaria de Articulação Regional; e noventa e uma Diretorias Regionais de Ensino (DE) espalhadas pelo estado. Conta, ainda, com uma instituição de administração indireta a ela vinculada, a FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação, que atua como seu braço operacional1. O orçamento aprovado, para 2014, é de 27bilhões de reais. Se os números são superlativos, os desafios de gestão de sua estrutura também o são, em especial pela necessidade de responder às constantes mudanças demográficas, sociais, econômicas e tecnológicas que demandam ajustes e transformações nas práticas educacionais como um todo. Em 2011, os esforços de duas distintas equipes de consultores, engajadas em profundos trabalhos de diagnóstico da Secretaria da Educação – e da educação paulista como um todo – resultaram em dois importantes movimentos para o órgão: o início do processo de reestruturação2, que veio a mudar um desenho organizacional que já vigorava há mais de trinta anos; e a adoção do programa “Educação: Compromisso de São Paulo3”, que definiu um plano de ação com cinco pilares estratégicos, doze macroestratégias, e um conjunto de intervenções de curto (quatro anos) e longo prazos (vinte anos). 1 A FDE foi criada em 23 de junho de 1987 com o objetivo declarado de “viabilizar a execução das políticas educacionais definidas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, implantando e gerindo programas, projetos e ações destinadas a garantir o bom funcionamento, o crescimento e o aprimoramento da rede pública estadual de ensino”. Entre suas principais atribuições estão: construir escolas; reformar, adequar e manter os prédios, salas de aula e outras instalações; oferecer materiais e equipamentos necessários à Educação; gerenciar os sistemas de avaliação de rendimento escolar; e viabilizar meios e estruturas para a capacitação de dirigentes, professores e outros agentes educacionais e administrativos. 2 Instituída pelo Decreto no. 57.141, de 18 de Julho de 2011. 3 Instituído pelo Decreto nº 57.571, de 02 de Dezembro de 2011. 4 Os anos de 2012 e 2013 foram, assim, marcados pelos esforços de consolidar as transformações trazidas pela reestruturação; fazer convergir esse processo de mudança e o programa de governo elaborado para a Educação; e criar uma governança de planejamento e monitoramento que ajudasse a pavimentar o caminho para uma gestão baseada em resultados, com foco no desempenho do aluno. O texto a seguir buscou registrar esse desafio, da perspectiva de um dos atores que mais proximamente tem vivenciado todo o processo; seu objetivo principal é, assim, o de registrar os avanços e as dificuldades da Secretaria ao longo desse percurso, oferecendo elementos para análises futuras mais detalhadas do que significam as práticas da mudança organizacionale do planejamento estratégico na Administração Pública. O artigo historia, de forma breve, a reestruturação de 2011, esclarecendo o quadro encontrado; a opção pela lógica de entregas; e os passos adotados até aqui. Comenta, em seguida, o “Educação: Compromisso de São Paulo”, sua abrangência e os ajustes sofridos; registra as tentativas de consolidação e convergência de ambos pela via do planejamento, relatando a atuação do CPE – Comitê de Políticas Educacionais; e comenta, de forma bastante breve, os esforços recentes da Secretaria na adoção do Orçamento para Resultados (OpR). Registra, por fim, um balanço dos progressos obtidos, as perspectivas para o futuro próximo e os esforços de mudança a serem empreendidos. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO O decreto que detalhava a nova estrutura da SEESP foi publicado em julho de 2011; o processo de mudança propriamente dito começaria ali, com o rearranjo físico dos locais de trabalho, a designação e nomeação de servidores para os cargos criados e a divulgação dos novos fluxos e atribuições. No entanto, a movimentação no sentido de elaborar e implantar novos princípios de gestão teve início em 2008, com a atuação de um grupo de consultores com ampla experiência em Administração Pública e cujo trabalho se iniciou pela análise e entendimento do quadro então vivido pela Secretaria. 5 A estrutura organizacional vigente em 2008 resultava, em grande medida, de reforma implantada em 1976, como ajuste à Lei federal nº 5.692, de 19714; entre outras coisas, a lei ampliou a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos; aglutinou o antigo primário e o ginasial (criando, assim, o primeiro grau); suprimiu o exame de admissão; e criou o segundo grau profissionalizante. Definiu, assim, uma nova estrutura curricular, e, do ponto de vista administrativo, caberia às secretarias estaduais de educação o desenho de arranjos organizacionais que dessem conta da ampliação do ensino e da profissionalização. O processo de mudança no estado de São Paulo só veio a ocorrer no governo de Paulo Egydio Martins (1975-79), durante a gestão de José Bonifácio Coutinho Nogueira como Secretário da Educação. Nogueira chamou para liderar a reorganização do órgão o professor Roberto Moreira, do Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (SEESP, 2013). A despeito da preocupação em ajustar a estrutura administrativa à nova proposta pedagógica, o processo de reorganização de 1976 5 não se baseou exclusivamente nas questões curriculares, mas sim foi fortemente calcado na idéia de que mudanças bem sucedidas na gestão da Educação demandavam considerar os aspectos econômicos e demográficos do estado de São Paulo. Em depoimento a Sebastião Aguiar (SEESP, 2013), Moreira comenta que a análise demográfica feita pela equipe envolvida na reforma administrativa mostrava uma concentração de 49% da população nos 37 municípios da Grande São Paulo, o que significava grande pressão sobre questões transversais à Educação, como Segurança, Transporte e Saúde. Essa constatação, narra Moreira, determinou a opção por uma estrutura “regionalizada”, com a criação da Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI) e da Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo (COGSP), que atuariam como executoras; foram definidas, ainda, uma área voltada para o apoio pedagógico - a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) e uma para a gestão de pessoal - o Departamento de Recursos Humanos (DRHU). As quatro compunham os órgãos centrais da Secretaria, cuja estrutura contava ainda com as Delegacias Regionais de Ensino e as escolas. 4 Instituída em pleno regime militar e com pretensões de organizar o ensino profissionalizante, a lei é objeto de variadas interpretações entre os estudiosos de Educação; não era intenção desse artigo, no entanto, entrar no mérito da validade pedagógica das alterações propostas. 5 Instituído pelo Decreto nº 7.510, de 29 de janeiro de 1976 6 Embora a estrutura encontrada pela equipe de consultores responsáveis pela reestruturação em 2008 fosse, em essência, a mesma, o arranjo definido pelo Decreto nº 7.510 de 1976 passou por ajustes e alterações.É sempre importante lembrar, como comenta Fischer (2002, pg. 147) que, ainda que a observação do funcionamento e do desempenho de uma organização cause a impressão de permanência, uma análise mais aprofundada permite identificar indícios de modificações em curso [já que] os processos de mudanças contínuas constituem a dinâmica própria de cada organização. Foi assim que, em resposta às intensas mudanças econômicas e sociais ocorridas ao longo de três décadas, a SEESP realizou algumas mudanças entre as reestruturações de 1976 e a de 2008. A título de exemplo, vale o registro do programa de trabalho da Secretária Rose Neubauer (1995-2001), que preconizava: a modernização, a desconcentração das decisões da administração da Secretaria, a descentralização (pela ampliação da municipalização do ensino), e a melhoria do ensino. Entre outras mudanças, criou-se o Centro de Formação do Aluno para o Magistério – CEFAM e as Oficinas Pedagógicas. Também em sua gestão, as então Delegacias de Ensino foram reestruturadas (Decreto Nº 39.902, de 1º de janeiro de 1995); e, posteriormente, transformadas em “Diretorias de Ensino” (Decreto no. 43.948, de 9 de abril de 1999). Em 2009, na gestão do Secretário Paulo Renato Souza, criou-se a Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores (EFAP), que permanece como parte da estrutura atual. No entanto, o trabalho iniciado em 2008 tinha a ambiciosa missão de propor mudanças mais profundas, que, para além de ajustes incrementais ou respostas ad hoc a desafios pontuais, definisse uma estrutura capaz de implantar as políticas públicas, executar as tarefas necessárias e monitorar o funcionamento e os resultados do sistema. Os consultores envolvidos no processo entendiam que reformas administrativas em órgãos governamentais têm suas dinâmicas e dificuldades próprias e, não por outra razão, partiram do levantamento de mudanças organizacionais realizadas em órgãos públicos, com o objetivo de, identificando diagnósticos comuns, adotar soluções já implantadas e consolidadas. O passo seguinte foi o estabelecimento do contato e do diálogo sistemáticos com profissionais da Administração Central, das Diretorias de Ensino e das escolas. 7 A combinação de uma equipe de cerca de quarenta especialistas em estruturas, processos e gestão de pessoas, e técnicos que conheciam a Secretaria, a rede e a realidade na ponta, deu os elementos necessários para a decisão de repensar a SEESP a partir de três vetores: a estrutura organizacional; o redesenho dos processos; e o fortalecimento das carreiras de gestão administrativa. Os diagnósticos mostravam, na Administração Central, que as Coordenadorias criadas com base na regionalização Interior/Grande São Paulo tendiam a atuar como estruturas apartadas, já que cada uma contava com seu próprio Departamento de Administração e procedimentos específicos nas áreas financeira e de administração de pessoal. Se os problemas da baixa comunicação entre as Coordenadorias e de duplicidade de tarefas eram evidentes, nem sempre ficava claro o impacto de as Diretorias de Ensino receberem distintas orientações, dependendo da Coordenadoria a qual se reportavam. Havia uma fragmentação que comprometia o trabalho na ponta e dificultava uma abordagem mais convergente das políticas públicas pensadas para a Educação como um todo. Quanto às Diretorias de Ensino, verificou-se que a grande maioria das atividades, além de apresentarem graves problemas de organização, eram realizadas por professores, que se afastavam das escolas para assumir funções de natureza administrativa. Estava claro que a insuficiência de servidores – em especial qualificados – não se restringia ao quadro do magistério (QM), mas também afetava os quadros administrativos da Secretaria, divididos em QAE (Quadro de Apoio Administrativo) e QSE (Quadro de Servidores da Educação). Quanto à FDE, seu status de organização da Administração Indireta davalhe grande vantagem em termos de flexibilidade de gestão, menos sujeita a amarras burocráticas. Essa situação trouxe-lhe um empoderamento que inverteu a lógica do processo: se o fluxo original de trabalho determinava que a Fundação respondesse as demandas definidas pela SEESP, o passar dos anos consolidou um formato de trabalho de autonomia exacerbada e fragilidade nos mecanismos de acompanhamento e controle dos serviços prestados, por parte da Secretaria. Quanto mais a equipe de consultores e os representantes da Secretaria aprofundavam-se no diagnóstico, mais clara ficava a necessidade de fortalecer as escolas para lidar com as questões pedagógicas e as Diretorias de Ensino, para 8 tratar das questões de gestão e apoio administrativo, como infra-estrutura, transporte e alimentação escolar. O foco no aluno deixava claro que as escolas, as Diretorias de Ensino e a Administração Central deveriam garantir a prestação de alguns serviços ou “entregas”; em outras palavras, para que a aula aconteça, são necessárias: a formação e a disponibilização de professores; a existência de salas de aula em número suficiente e com infraestrutura adequada, inclusive em termos de tecnologia de informação; e a disponibilização de alimentação, transporte e materiais para os estudantes. As ações financeiras e de gestão de recursos humanos devem apoiar a execução das tarefas finais, as quais devem ser definidas por um intenso processo de planejamento pedagógico, que reflita as decisões estratégicas em termos de políticas educacionais. A avaliação e o monitoramente, por sua vez, permitem a adequação e o ajuste das decisões sobre políticas públicas, fechando um ciclo de entregas que perpassa todos os três níveis (Administração Central – Diretorias de Ensino –Escolas). O desenho básico dessas entregas foi assim registrado: PROCESSO DE ENSINO APRENDIZADO SOCIEDADE PAIS E EMPREGADORES ESCOLA (AMBIENTE DA DINÂMICA DE ENSINO APRENDIZADO) ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MEDIO RESULTADOS POLÍTICAS, DIRETRIZES E METAS DA EDUCAÇÃO PLANO DE METAS DO GOVERNO ESTADUAL PROCESSO DE PLANEJAMENTO ENSINO DE QUALIDADE ACESSO À EDUCAÇÃO MATRÍCULA CURRÍCULO E GRADE CURRICULAR PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ENSINO CALENDÁRIO ESCOLAR MATERIAL DIDÁTICO GESTÃO DA REDE ESCOLAR PLANEJAM. E GESTÃO DA REDE ESCOLAR PROFESSORES QUALIFICADOS PLANEJAMENTO E GESTÃO DO QM PROJETOS EDUC. COMPLEMENTARES GESTÃO DE PROJETOS EDUC. COMPLEMENTARES GERIR EDUCAÇÃO BÁSICA ALIMENTAÇÃO TRANSPORTE “KIT” DE MATERIAIS ASSISTÊNCIA AO ALUNO GERIR PROCESSOS DE ASSISTÊNCIA AO ALUNO GESTÃO DE INFRAESTRUTURA GERIR INFRAESTRUTURA SEGURANÇA INSTALAÇÕES FÍSICAS SALAS DE AULA, LABORATÓRIOS, OUTROS MATERIAIS, EQUIPAMENTOS, MOBILIÁRIOS, COMPUTADORES QUADROS DEFINIDOS, SERVIDORES ADMITIDOS, REMUNERADOS E GERIDOS DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO CONTINUADA ORÇAMENTO DEFINIDO E EXECUTADO MATERIAIS E EQUIPAMENTOS LICITADOS SISTEMAS, REDE, SEGUR. INFORM. SUPORTE TÉCNICO GESTÃO DE PESSOAS E DESENVOLVIMENTO GERIR PESSOAS GESTÃO DE ORÇAMENTO E FINANÇAS GERIR ORÇ FIN GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA GERIR SUPRIMENTOS GESTÃO DE T.I.C. GERIR T.I.C. MONITORAMENTO DE RESULTADOS DA EDUCAÇÃO MONITORAR RESULTADOS Figura 1: Cadeia de Entregas da SEESP/Reestruturação 2008 9 As diferentes cores representam as distintas entregas; no caso da SEESP, o processo de análise e reflexão que gerou o desenho da nova estrutura definiu sete grupos principais, a saber: Planejamento; Gestão da Educação Básica; Assistência ao Aluno; Gestão de Pessoas; Gestão Financeiro-orçamentária; Gestão de Suprimentos; Gestão de Tecnologias de Informação e Comunicação; e Monitoramento de Resultados. Para efeito da definição da estrutura organizacional, era importante pensar, de forma convergente, a atuação em nível central e nas regionais. Estava claro que as Diretorias de Ensino precisavam ser estruturadas e fortalecidas para oferecer apoio ao funcionamento efetivo das escolas e para exercer papel proativo na supervisão das políticas educacionais. No formato anterior, as atividades administrativas eram majoritariamente realizadas pelas Coordenadorias da Administração Central, alijando as DE de uma forma mais autônoma de atuação; já pela estrutura definida pelo decreto de 2011, era necessário que os processos realizados no âmbito da sede fossem rebatidos nas regionais, o que demandava a definição de uma estrutura organizacional “casada” com as entregas, o que gerou o seguinte desenho organizacional: 10 Figura 2: Organograma SEESP/Diretorias de Ensino O detalhamento dos papéis e atribuições de cada uma das Coordenadorias, Departamentos e Centros da SEESP foi consolidado no Decreto de reestruturação; experiências de mudanças organizacionais mostram, no entanto, que a despeito da necessária formalização, apenas a implementação “de fato” traz à tona os desafios e obstáculos da mudança, e a experiência de engajar os quadros de média gerência para baixo constitui-se em bom exemplo. É nessa fase que as resistências aparecem de forma mais aberta e sistemática, em especial quando a mudança implica a redistribuição de tarefas e responsabilidades e a desconcentração de poder. A prática adotada pela equipe de transição foi a de ouvir e respeitar os pontos de vista, mas sem flexibilizar os objetivos e o formato originalmente definidos. No nível regional, o desafio principal foi dotar as Diretorias de Ensino de servidores qualificados para exercer as novas tarefas; é importante registrar que um dos princípios adotados na reestruturação foi fazer retornar à sala de aula os professores que, por quase três décadas, estiveram afastados na realização de 11 atividades administrativas. Nesse sentido, as Diretorias se viram diante de missão de se reinventar e exercer seus novos papéis ao mesmo tempo em que enfrentavam o encolhimento de seu corpo funcional. Um dos caminhos foi a criação de cargos e a realização de concursos para reforçar os quadros do QAE e do QSE; além de Oficiais Administrativos e Executivos Públicos, as Diretorias passaram a contar com a atuação dos seguintes profissionais6: Analista Administrativo– atua em qualquer uma das áreas da Diretoria,planejando, organizando, controlando e executando os serviços de natureza administrativa-operacional. Agentes Técnicos de Assistência à Saúde – trata-se dos nutricionistas que têm, entre outras atribuições, as de planejar, orientar e supervisionar a execução das atividades relacionadas à área de alimentação escolar. Analista de Tecnologia (TI e Obras)–compõe dois diferentes perfis de profissionais, atuando em distintas áreas da Diretoria de Ensino; um primeiro grupo abriga engenheiros e arquitetos trabalhando no Núcleo de Obras e Manutenção (NOM), com o importante papel de acompanhar a execução de obras de construção, reforma e manutenção de escolas. O segundo grupo é composto por profissionais com foco de atuação na área de informática, e são responsáveis pelo gerenciamento de recursos de tecnologia de informação e comunicação, no núcleo dedicado a essa temática, o NIT. Analista Sociocultural (biblioteconomia) – nas DE atuarão em planejamento e gestão, formação de acervo, processamento técnico e serviços, na implementação de sistemas, programas, projetos e ações de mediação cultural e promoção da leitura. 6 O trabalho bem-sucedido de alocação de profissionais depende, em grande medida, que as tarefas e atribuições estejam adequadamente dimensionadas. A iniciativa de redimensionamento nas DE foi realizada por Grupo de Trabalho específico - o GT Rede – que, ao longo de um ano, destrinchou os fluxos e processos das Diretorias; essa experiência é tratada no terceiro artigo que compõe este Painel, intitulado “O redimensionamento de recursos humanos das Diretorias de Ensino: para maior autonomia e capacidade de gestão”. 12 Ainda não é possível ter uma exata dimensão do impacto da atuação desses novos profissionais nas Diretorias de Ensino; cabe, inclusive, a realização de formação adequada que os apoie na apropriação das questões relativas ao trabalho de consolidar, na ponta, as políticas pensadas centralmente, mas as expectativas são a de consolidação de um corpo técnico de perfil administrativo, mais apto e proativo. A reestruturação enfrentou também, o desafio, de implantar papéis e atribuições antes não contemplados; nesse sentido, vale o registro relativo a três estruturas específicas, sobre as quais assentam o sucesso do modelo proposto já que têm, como atribuição principal, a articulação: interna às Diretorias de Ensino e Coordenadorias (Assistências Técnicas); entre as Diretorias de Ensino (Sareg); e entre as Coordenadorias (Astep). As três são comentadas a seguir. OS DESAFIOS DA ARTICULAÇÃO Em função do formato regionalizado que prevaleceu até 2008, CEI e COGSP executavam de forma direta, para os órgãos regionais, um conjunto de atividades administrativas. Pelo novo desenho organizacional, no entanto, as Diretorias passam a ser responsáveis pela execução dessas tarefas, e o apoio das unidades da Administração Central restringe-se às orientações sobre normas, práticas e procedimentos (o uso das cores no organograma anteriormente apresentado busca evidenciar essa correlação). Esse formato, no entanto, para ser bem-sucedido, demanda a atuação de uma instância de coordenação e acompanhamento das Diretorias de Ensino, que, pela proposta da reestruturação, consubstanciou-se na Subsecretaria de Articulação Regional – Sareg. É importante observar que o abandono da lógica Interior/Grande São Paulo não significou uma diminuição da importância das questões locais e regionais que marcam um estado diverso como o de São Paulo; a reestruturação construiu-se, 13 no entanto, na visão de que essa regionalização não deve determinar o relacionamento entre as unidades regionais e a Administração Central, cabendo, isso sim, um modelo de atuação que valorize a autonomia local e promova a articulação. Não por outra razão, à Subsecretaria atribuiu-se o papel de garantir o atendimento de necessidades específicas das Diretorias de Ensino pela articulação entre as gestões central e descentralizada da Secretaria; entre outras coisas, cabe à Sareg, analisar e monitorar o desempenho das Diretorias de Ensino, dando ao Secretário subsídios para a avaliar o resultado das Diretorias e definir novas políticas públicas em reposta às dificuldades e/ou avanços identificados. A consolidação da área, no entanto, tem sido um dos maiores desafios do processo de reestruturação, evidenciando que práticas arraigadas de gestão consolidam traços, práticas e costumes organizacionais de difícil rompimento. A questão da articulação também aparece em outra estrutura relevante definida pela reestruturação, as Assistências Técnicas (ATs). Vale registrar que a equipe responsável pelo novo desenho organizacional entendia as profundas alterações que ele acarretaria para as Coordenadorias sendo criadas e para as Diretorias de Ensino sendo reorganizadas. Algumas medidas foram pensadas para facilitar a apropriação e consolidação dos novos papéis e uma delas redundou em uma estrutura específica, as Assistências Técnicas (uma para cada Coordenadoria e para cada Diretoria de Ensino). As ATs devem rebater, em grande medida, a atuação da Assessoria Técnica e de Planejamento (Astep - cuja atuação será comentada a seguir), e foram pensadas como forma de garantir a articulação das ações das unidades que integram a área e colaborar na implementação do modelo de gestão por resultados. Atuações relevantes como a geração de informações gerenciais, a consolidação e o acompanhamento da execução orçamentária da unidade, a instrução de processos, a elaboração de relatórios de atividades da unidade e a realização de estudos, relatórios e pareceres têm impacto sobre a geração de conhecimento e consolidação dos princípios da reestruturação. A experiência da reestruturação tem mostrado diferentes graus de estabelecimento e atuação das Assistências Técnicas, que, em algumas áreas, ainda estão às voltas com a consolidação dos processos e fluxos de trabalho. 14 O desafio maior, no entanto, é fazê-las atuar de forma coordenada e nesse contexto, a Assessoria Técnica e de Planejamento (Astep) tem papel relevante. A Astep compõe o principal corpo técnico de apoio direto ao Secretário, e o faz, em especial, pela atribuição de realizar estudos e emitir pareceres técnicos sobre assuntos relacionados ao campo de atuação da Secretaria. Seu papel de secretariar o Comitê de Políticas Educacionais tem permitido organizar pautas decisórias e registrar mudanças nas políticas da SEESP; a atuação nesse foro – de caráter técnico e político – tem dado à Assessoria elementos para pensar o Plano de Trabalho Anual7e para, em parceria com a Coordenadoria de Finanças e Orçamento, elaborar o planejamento orçamentário. O Comitê de Políticas Educacionais também tem sido o espaço no qual a Astep tem conseguido algum avanço na organização e integração das áreas, embora ainda tenha um importante caminho a trilhar na articulação com as Assistências Técnicas dos Coordenadores e das Diretorias de Ensino, para implementar ações prioritárias. A experiência da reestruturação evidencia que as atribuições relativas a) aos avanços na modelagem e melhoria contínua de processos; e b) ao gerenciamento dos programas e projetos instituídos no âmbito da Secretaria, ambas sob responsabilidade da Astep, demandama criação de uma área mais robusta que, entre outras coisas, possa contar com mão de obra especializada nessas temáticas8. A despeito das dificuldades de consolidação das esferas de articulação, a Secretaria registra avanços nas práticas de planejamento, que tiveram como marco a criação do programa “Educação: Compromisso de São Paulo”, tratado a seguir. 7 O Plano de Trabalho Anual é um documento no qual a Secretaria detalha sua proposta de utilização da verba QESE (salário-educação) para o ano seguinte. Em atendimento às exigências do DecretoLei no. 1.422, de 23 de outubro de 1975, o plano é enviado ao Conselho Estadual de Educação para aprovação. 8 Nesse contexto cabe a discussão sobre o Escritório de Projetos, abordado em outro artigo que compõe esse Painel, intitulado “O fortalecimento da Governança e do Planejamento na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo”. 15 “EDUCAÇÃO: COMPROMISSO DE SÃO PAULO” Embora tenha recebido esse nome, a iniciativa de revisão do planejamento da Secretaria ficou conhecida internamente como “Salto de Qualidade da Educação Paulista” e tinha como uma de suas principais inovações o engajamento de ONGs, fundações e outras instituições da sociedade civil no debate e na proposta de soluções. Realizado ao longo de três meses, o trabalho englobou visitas a campo e a realização de grupos focais envolvendo cerca de mil profissionais da rede paulista, bem como reuniões de trabalho e workshops com especialistas em Educação. Houve discussões internas com os Grupos de Trabalhos especificamente construídos para a discussão das temáticas que comporiam os Pilares do programas. O “Educação: Compromisso de São Paulo” foi publicado sob a forma de decreto em dezembro de 2011 e definiu os seguintes pilares: Figura 3:Pilares do Programa Educação: Compromisso de São Paulo 16 Para efeito do registro sendo feito, não são realizadas análises relativas ao conteúdo de cada um dos Pilares, interessando-nos, isso sim, abordar sua implementação e a importância da definição de um formato de governança que legitime e fortaleça a prática do planejamento e do monitoramente (ver, em anexo, síntese dos Pilares e Macroestratégias). Do ponto de vista da consolidação das ações planejadas, o decreto de instituição do Programa estabeleceu duas importantes estruturas para o monitoramento do ECSP: o Conselho Consultivo e a Câmara Técnica de Acompanhamento. O Conselho Consultivo é composto por representantes da Secretaria da Educação (Titular da Pasta; Secretário Adjunto; Chefe de Gabinete; e Coordenadores), do Conselho Estadual da Educação; e até 10 (dez) representantes da sociedade civil 9. O Conselho Consultivo tem cumprido a tarefa de reunir-se a cada bimestre, em reuniões nas quais os gestores dos projetos e ações priorizados pelo Programa reportam avanços e dificuldades. Já a Câmara Técnica de Acompanhamento do Programa deveria ser integrada por servidores da Secretaria da Educação e prestar o apoio técnico e administrativo necessários ao Conselho Consultivo do Programa; não tendo sido ainda instituída, a Câmara tem parte de suas atribuições hoje realizadas pelo corpo técnico da Astep, que: organiza e chama as reuniões do Conselho; apóia as equipes das Coordenadorias na elaboração dos reportes; registra as atas dos encontros; e responde a demandas externas relativas ao Programa. Também cabe institucionalizar o formato de reporte quadrimestral ao Governador do estado que, pelo decreto, preside o Conselho Consultivo. Um dos fenômenos mais interessantes no que diz respeito ao ECSP tem sido seu paulatino processo de apropriação e mudança ao longo de 2012 e 2013. Cabe lembrar que o planejamento que resultou no programa ocorreu simultaneamente à reorganização da Secretaria; decisões e construções coletivas foram perdidas e o grau de institucionalização das estratégias, metas e objetivos definidos acabou por depender do envolvimento das lideranças e do grau de 9 Em todos os casos, os representantes são indicados pelo Secretário da Educação. 17 projeção dos temas cobertos pelo Pilar. Nesse sentido, o Pilar 3, que preconizava a adoção de um novo modelo de Educação Integral, e que se tornou uma das vitrines do governo paulista, encontra-se bastante consolidado, enquanto o Pilar 5 ainda carece de um espaço mais institucionalizado de atuação. Um dos maiores indicativos de que a apropriação vem, em alguma medida, acontecendo, são as revisões ocorridas no contexto do Comitê de Políticas Educacionais; vale o registro dos desdobramentos relativos aos Pilares 3 e 4. O Pilar 3 foi aquele que, ao longo de 2013, melhor representou o dinamismo da área educacional, em sua constante necessidade de revisão e adequação de diretrizes e práticas a novas exigências sociais, econômicas e culturais. Inicialmente voltado para a implantação de um novo modelo de escola em tempo integral, o Pilar passou a incorporar iniciativas da SEESP que reorganizam tempos, espaços e conteúdos com o objetivo de trabalhar o desenvolvimento dos alunos em sua integralidade. Reconhece-se, assim, a importância de oferecer oportunidades educativas que vão além dos conteúdos compartimentados do currículo tradicional, abraçando as diferentes realidades, necessidades e vocações dos estudantes da rede paulista. A partir das conclusões de um Grupo de Trabalho especificamente constituído para o debate relativo ao Ensino Integral, decidiu-se que as ações desse pilar agora incorporam as seguintes iniciativas: ETIs – Escolas em Tempo Integral Novo modelo de Educação Integral Centro Educacional Paulista – CEP VENCE PROEMI - Programa Ensino Médio Inovador No que diz respeito ao Pilar 4, ele foi estabelecido com o objetivo de viabilizar mecanismos organizacionais e financeiros para operacionalizar o ECSP. A macroestratégia de implementar uma nova estrutura organizacional, já estava em curso; havia, no entanto uma preocupação com a adoção de instrumentos de fomento e desenvolvimento da Educação que se estruturavam em termos mais amplos, como a avaliação do uso de Parcerias Público-Privadas (PPP) 18 para construção e gestão não pedagógica da rede estadual; o aprofundamento do trabalho de mudança na legislação com foco na desoneração fiscal da Educação; e a avaliação de oportunidades para as redes estaduais após o fim da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Trata-se de um conjunto de ações que, não estando sob completa governabilidade da Secretaria, não foram capazes de mobilizar de forma muito intensa as Coordenadorias que, de outra forma, encontravam-se ainda mergulhadas no desafio de consolidar sua própria atuação. Ficou claro, ao longo das reuniões do CPE, que este Pilar seria consolidado se o entendimento de “mecanismos organizacionais” passasse a contemplar os esforços de gestão que garantem a infraestrutura da Educação e que refletem uma das sete entregas previstas pela reestruturação. Nesse sentido, incorporaram-se a esse Pilar essas iniciativas. A experiência da SEESP com o “Educação: Compromisso de São Paulo”, reforça a abordagem de “estratégia como prática”, linha de pesquisa inspirada, assim como aponta Souza(2011), pela chamada virada prática nas ciências sociais. Entende-se, nessa abordagem, que a estratégia é algo constantemente (re)definido pela interação das práticas de estratégia com a execução dos planos no cotidiano. Ela reflete mudanças graduais trazidas pela emergência de linhas de pesquisa que buscam compreender a estratégia como atividade situada em contexto e efetivada socialmente, entendendo como prática a ação dos sujeitos e os diferentes procedimentos, rotinas e ferramentas utilizadas na sua interação. [Permite, assim] a observação da relação entre a perspectiva micro do cotidiano do estrategista e a perspectiva macro das práticas definidas para elaboração da estratégia(SOUZA, 2011, pg. 259). Essas alterações, assim como se mencionou en passant, foram discutidas em um espaço específico de planejamento e decisão relativo às políticas públicas da SEESP, estabelecido pela reestruturação, a saber, o Comitê de Políticas Educacionais. A seu respeito versa o segmento a seguir. 19 PLANEJAMENTO E DECISÃO – A ATUAÇÃO EMBRIONÁRIA DO COMITÊ DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS O Comitê de Políticas Educacionais foi instituído pelo decreto de reestruturação e tem como atribuição principal a definição da política educacional e das estratégias a serem implementadas pelas unidades centrais, regionais (DE) e locais (escolas) da Secretaria da Educação. É presidido pelo Secretário da Educação e conta com a atuação dos principais líderes da administração central, ou seja, o Secretário Adjunto, o Chefe de Gabinete, o responsável pela Subsecretaria de Articulação Regional, os Coordenadores de cada uma das áreas e o Dirigente da Assessoria Técnica e de Planejamento, que é seu Secretário Executivo. Ao longo de 2012, quando começa sua implantação, contava com reuniões semanais, algumas das quais eram oportunidades de apresentar e acompanhar programas e projetos sendo realizados pelas distintas áreas; também contou, em variadas reuniões, com a participação de convidados de órgãos públicos, instituições privadas e organizações da sociedade civil no debate de temas específicos. O Comitê tem a relevante atribuição de analisar e opinar sobre:as diretrizes e ações da Secretaria;as propostas do plano plurianual;o Plano de Trabalho Anual encaminhado ao Conselho Estadual de Educação; e as prioridades da Secretaria na alocação de recursos orçamentários.Tem buscado ser, também,um espaço de integração entre as unidades da Secretaria, papel especialmente relevante se considerarmos que a nova estrutura é ainda recente. Coloca em pauta e permite acompanhar políticas educacionais e de gestão da Secretaria; estabelecer responsabilidades das unidades envolvidas; e avaliar, ainda que de forma não estruturada,as estratégias, a execução e o resultado das políticas educacionais. Ao fim de 2012, um conjunto de reuniões definiu as ações estratégicas da Secretaria para o biênio 2013-2014; com a definição mais clara daquilo que deveria ser acompanhado, decidiu-se pela mudança na periodicidade dos encontros (que se tornaram mensais). Essa alteração de formato foi facilitada pela adoção de reuniões semanais entre as Coordenadorias, nas quais são endereçados problemas de cotidiano, “limpando” a pauta debatida no CPE. 20 A consolidação do Comitê como espaço estratégico ainda depende da completa apropriação, por parte de cada uma das Coordenadorias, de seus papéis e atribuições; já é possível observar, no entanto, pela experiência de redefinição dos pilares do “Educação: Compromisso de São Paulo”; pelo definição da Agenda Estratégica; e, mais recentemente, pela construção do Orçamento para Resultados (OpR), que os progressos nos últimos dois anos são claros. O breve registro do OpR compõe o penúltimo segmento desse artigo, antes que se consolidem observações sobre os avanços e desafios do futuro. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O RECENTE DESAFIO DO OpR Em junho de 2012, as áreas de Finanças e Orçamento (COFI) e de Planejamento (Astep) da SEESP foram contatadas pela Secretaria de Planejamento (SPDR), que trazia uma proposta ambiciosa: redesenhar a estrutura orçamentária da Secretaria a partir do conceito de Orçamento para Resultados (OpR); a Secretaria da Administração Penitenciária tinha sido o primeiro piloto, no ano anterior, mas pelo tamanho e magnitude das tarefas, a Secretaria da Educação seria desafio muito maior. A despeito das dificuldades previstas desde o início, a proposta tinha apelo, já que uma das principais dificuldades registradas pela Astepera a ausência de aderência entre a estrutura programáticapreconizada no PPA e os pilares do “Educação: Compromisso...”. Essa situação demandava um esforço redobrado de monitoramento e acompanhamento das ações e iniciativas da SEESP, já que, para efeito do Comitê de Políticas e do Conselho Consultivo, trabalhava-se com o conceito de Pilares e, para os órgãos externos de controle e outras secretarias (como a própria SPDR e a Fazenda) partia-se dos programas constantes noplano plurianual. Entendia-se a mudança no desenho orçamentário como uma oportunidade de aproximar a lógica dos programas do PPA aos Pilares, bem como de reforçar a lógica de resultados que sempre foi subjacente ao conceito de “entregas” que se concretizou na nova estrutura. 21 Foi no contexto do Comitê de Políticas Educacionais que se definiram os três resultados finais, os cinco resultados intermediários e os quarenta e dois produtos a eles associados. O trabalho demandou um esforço de apropriação conceitual, de aplicação dos conceitos à realidade de cada uma das Coordenadorias, de criação de convergência e de negociação que desafiou as Coordenadorias, mas que fortaleceu o Comitê como arena decisória. Está-se, agora, na fase de definição dos indicadores, e sua construção, envolvendo os membros do Escritório de Projetos, tem a possibilidade de consolidar a gestão para resultados. Produtos Figura 4: Cadeia de Resultados da SEESP À GUISA DE CONCLUSÕES – AVANÇOS, PERSPECTIVAS E DESAFIOS Reestruturações organizacionais alteram fluxos e processos de trabalho e, conseqüentemente, demandam novas competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) dos responsáveis por sua execução; na reestruturação da SEESP, essa demanda recaiu não apenas sobre as Coordenadorias, como também sobre as Diretorias de Ensino, que passaram a realizar, na ponta, atividades que antes 22 ficavam concentradas na Administração Central. A adoção de um formato de trabalho integrado entre os níveis central e regional tem se mostrado um dos maiores desafios do processo. Entre outras coisas, está em construção um trabalho de desenvolvimento de canais de comunicação mais sólidos, que permitam maior integração entre as Coordenadorias e as Diretorias de Ensino. Ainda nesse contexto, a decisão pelo fortalecimento das instâncias regionais ainda é uma descentralização “tentativa”, que tem se caracterizado mais como uma desconcentração de atividades. Aplicando a conceituação proposta por Lobo (1988) à relação entre a Administração Central e as Diretorias Regionais, essa descentralização tem sido feita a partir dos princípios do gradualismo e da flexibilidade, pelo entendimento de que as DEs não compõem um corpo homogêneo de organizações, mas sim que se diferenciam em função de peculiaridades regionais e locais, e em termos econômico, políticos, sociais e de organização. Nem todas as Diretorias estão aptas para receber todas as novas funções ao mesmo tempo; nesse sentido, o apoio é fundamental. Compor uma mão-de-obra qualificada e mobilizada é desafio grande na Administração Pública, que depende de concursos públicos para a atração dos servidores e que conta com ferramentas pouco flexíveis de motivação e retenção. Vale lembrar, ainda, que assim como aponta Marconi (sd, pg. 1), o papel tradicional desempenhado pelo departamento de recursos humanos na Administração Pública enfatiza duas funções: “(1) o processamento de tarefas administrativas rotineiras, relacionadas ao pagamento, aos benefícios da aposentadoria e afins, e (2) a proposição de leis, regras e outros regulamentos relativos ao tema”. Na grande maioria dos órgãos públicos nacionais, a área de RH ainda não vem sendo capaz de atuar de forma estratégica e permitir a constituição de um corpo funcional competente e motivado. Ainda assim, a SEESP vem buscando compor um novo quadro de servidores nas Diretorias de Ensino, bem como oferecer uma formação mais adequada e ajustada às necessidades decorrentes das novas atribuições. No que diz respeito à FDE, especialistas em Administração Pública brasileira tem insistentemente comentado a decisão do Estado brasileiro de, historicamente, “expandir a administração pública através da administração indireta, [com] o reconhecimento de que a administração direta não [tem] sido capaz de 23 responder com agilidade, flexibilidade, presteza” (BERTERO, 1985, pg. 17). Nesse sentido, a retomada, para a SEESP, das decisões estratégicas relativas à infraestrutura, e o entendimento da FDE como braço operacional foi uma das mais complexas – ainda que relevantes – medidas ligadas à reestruturação. Sua implantação tem demandado um trabalho recorrente de articulação e negociação, além do estabelecimento de um novo convênio e de novas ferramentas de acompanhamento, cujos frutos ainda estão por aparecer. A institucionalização de espaços decisórios, nos quais ocorram o efetivo planejamento e reavaliação das políticas públicas também é desafio constante; em ambientes organizacionais complexos, Conselhos e Comitês correm o risco de se tornarem apenas um espaço pro forma de encontro de lideranças ou, no outro extremo, arena de disputa de espaço político e tentativa de legitimação, pela via da defesa de projetos e iniciativas aos quais se busca dar publicidade. A experiência recente da SEE mostra que o sucesso desses espaços depende de um conjunto de variáveis que incluem o exercício da liderança do Executivo e a disponibilidade do corpo técnico de apoio para, entre outras coisas, consolidar as informações técnicas e gerenciais relevantes, bem como da disponibilidade dos gestores de enfrentar diálogos e trocas abertas e consistentes. A “reinvenção” da Secretaria vem ocorrendo simultaneamente à prestação dos serviços essenciais de Educação, que não podem ser interrompidos para que a estrutura se ajuste; os desafios, assim, são muitos e devem ser abraçados pelas gestões futuras, a quem caberá os ajustes e melhorias nos avanços até aqui obtidos. Agradecimentos Registramos nossos agradecimentos ao GLED – Grupo de Legislação Educacional, pelo apoio no levantamento das legislações citadas nesse artigo. 24 REFERÊNCIAS BERTERO, Carlos Osmar. Administração Pública e Administradores. Brasília: FUNCEP, 1985. FISCHER, Rosa Maria.Mudança e transformação organizacional. In: As pessoas na Organização. São Paulo: Editora Gente, 2002. Vários autores. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto no. 57.141,de 18 de Julho de 2011. Reorganiza a Secretaria da Educação e dá providências correlatas. Assembleia Legislativa de São Paulo. Secretaria Geral Parlamentar. Departamento de Documentação e Informação GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto no. 57.571, de 02 de Dezembro de 2011. Institui, junto à Secretaria da Educação, o Programa Educação - Compromisso de São Paulo e dá providências correlatas. Assembleia Legislativa de São Paulo. Secretaria Geral Parlamentar. Departamento de Documentação e Informação. LOBO, Tereza.Descentralização: uma alternativa de mudança.Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 22, no. 1, pg. 14-24, jan./mar. 1988. MARCONI, Nelson. Políticas Integradas de Recursos Humanos para o Setor Público.Programa Avançado em Gestão Pública Contemporânea.Egap/Fundap. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. A Nova Estrutura Administrativa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por uma Gestão de Resultado. com Foco no Desempenho do Aluno.São Paulo: SE, 2013. SOUZA, Caio Motta Luiz de. Entre o planejamento estratégico formal e informal: um estudo de caso exploratório sobre a prática de estratégia nas organizações. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 5, art. 4, pp. 855-876, Set./Out. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65552011000500005&script=sci_arttext. 25 ANEXO - IMPLANTAÇÃO DO EDUCAÇÃO: COMPROMISSO DE SÃO PAULO Quadro de Intervenções: Desenho Original + Expansão Pilar/Macroestratégia Pilar 1 – Capital Humano Concebidas Expansão (2011) (2013) Concluídas / Em andamento Não iniciadas 9 35 33 2 I – Carreira do Professor 4 5 II – Diretor de Escola 5 5 5 4 0 1 25 24 1 38 47 30 17 10 10 7 3 15 (-2) 13 5 8 9 13 8 5 VI – Tecnologias Educacionais Novas Intervenções: aprimoramento da gestão escolar, avaliação e educação especial 4 4 4 0 7 6 1 Pilar 3 – Educação Integral 9 13 13 0 5 5 5 0 VIII – “Nova Carreira” do Professor (RDPI) Novas Intervenções: VENCE, Centro Educacional Paulista, PRO-EMI, Creches. 4 4 4 0 4 4 0 Pilar 4 – Mecanismos Org. e Financeiros Novas Intervenções: adequação de quadros, condições de trabalho, administração de pessoal, desenvolvimento e formação continuada Pilar 2 – Gestão Pedagógica III – Anos Iniciais do EF IV – Anos Finais do EF e Ensino Médio V – Escolas Prioritárias VII – Novo Modelo de Escola 5 12 7 5 IX – Instrumentos de Fomento 3 3 1 2 X – Reestruturação da SEESP 2 5 4 1 4 2 2 14 14 6 8 XI – Engajamento da Rede 6 6 4 2 XII – Mobilização da Sociedade 8 8 2 6 74 134 89 32 Novas Intervenções: Serviços Escolares e Infraestrutura Pilar 5 – Mobilização e Engajamento TOTAL 26 ___________________________________________________________________ AUTORIA Fernando Padula Novaes – Chefe de Gabinete da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Endereço eletrônico: [email protected] Luciana Jacques Faria – Assessora de Gabinete da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Endereço eletrônico: [email protected]