FAE - CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO CÁSSIO JOSÉ SILVA ALMEIDA A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS EM SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE SOCIAL SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2012 CÁSSIO JOSÉ SILVA ALMEIDA A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS EM SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE SOCIAL Dissertação apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida, sob a orientação da Profª. Dra Carmen Beatriz Fabriani. SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2012 FICHA CATALOGRÁFICA Almeida, Cássio José Silva A445c A Contribuição dos Jogos Cooperativos em situação de vulnerabilidade social. Cássio José Silva Almeida. São João da Boa Vista, SP: UNIFAE,2012. ---p. Orientadora: Profª Dra Carmen Beatriz Fabriani Dissertação (mestrado): São João da Boa Vista, Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino. 1. Ensino Fundamental. 2. Jogos Cooperativos. 3. Vulnerabilidade Social. 4. Percepção Ambiental. I. Fabriani, Carmen Beatriz. II Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino de São João da Boa Vista. Instituto de Educação Física. III. Título CDU- 793:372 Elaborada por ELOISA HELENA GRAF FERNANDES CRB-8/3779 Bibliotecária da UNIFAE CÁSSIO JOSÉ SILVA ALMEIDA A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS EM SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE SOCIAL Dissertação apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Dissertação apresentada e aprovada em: _____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________________ Profª Dra Carmen Beatriz Fabriani (Orientadora) ___________________________________________________________________________ Profª. Drª Heloisa Helena Baldy dos Reis ___________________________________________________________________________ Profº Drº Luciel Henrique de Oliveira Autobiografia do autor Cassio José Silva Almeida nasceu em Casa Branca – SP em 04, de março de 1978, filho de Geralda Ferreira da Silva Almeida e Sebastião Leme de Almeida, concluiu o ensino fundamental na E.E.”Professor José Theodoro de Moraes e o ensino médio na Escola Municipal “Joaquim Giraldi” em Aguaí –SP onde se formou técnico em contabilidade, graduado em Educação Física Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE), de São João da Boa Vista (2002) apresenta sua dissertação de mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida (2012). Atua nas áreas de Qualidade de vida Educação e Sustentabilidade. Profissionalmente atuou como educador no município de Aguaí – SP ministrando aulas na disciplina de Educação Física na rede pública municipal, atuou como professor de natação e voleibol nas escolinhas municipais de esporte. Atualmente ministra aulas de Educação Física na rede pública municipal de Mogi Guaçu, para alunos do ensino fundamental e no Centro Paula Souza ETEC do município de Casa Branca – SP, atuando nas disciplinas de Educação Física e desenvolvendo um projeto de Ações e Defesa Do Meio Ambiente. Contatos pelo e-mail: [email protected] DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus amigos, minha amada esposa e a meus queridos alunos. Acalmou meu fôlego. Me cerrou aquela surpresa. Sentei em cima de nada. Eu cri tão certo, depressa, que foi como sempre eu tivesse sabido aquilo. Menos disse. (In Grande Sertão: veredas. João Guimarães Rosa. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2001.p.54). AGRADECIMENTOS À minha orientadora, querida professora Carmen Beatriz Fabriani, pelo carinho, dedicação e principalmente por ter acreditado em meu potencial, desde o inicio. Pelos momentos ricos de reuniões e pelas palavras de apoio e força nos momentos difíceis. Serei sempre grato e terei como modelo sua dedicação pela profissão e a dedicação pela academia. Agradeço também aos professores Luciel e Betânia pelas valiosas contribuições no exame de qualificação, que proporcionaram o enriquecimento deste trabalho e pelos diversos momentos de solicitação de esclarecimentos, nos quais se mostraram atenciosos, com muita paciência de dedicação. Aos professores das disciplinas cursadas pela dedicação e pelos momentos de reflexão, aos colegas que por vários momentos dividiram as dificuldades, anseios e as buscas pelo conhecimento. Aos funcionários da biblioteca, da secretaria da pós-graduação, do Xerox, pelo apoio e simpatia ao nos atender. À minha companheira Laura dessas e de outras, que sempre ao meu lado me apoiou, estendendo a mão e caminhando junto comigo em mais esta fase de minha vida, pela compreensão, pelo amor e pelo companheirismo. Aos meus pais que foram minha base ao proporcionarem a vida e a oportunidade de viver e a cada dia querer mais. À minha amada tia Carmen que foi sempre um exemplo de educadora a ser seguido, de superação, dedicação e respeito pelo que faz. À Secretária de Educação de Mogi-Guaçu que permitiu que a minha pesquisa fosse desenvolvida a Direção e coordenação da E.M.E.F. “Claudina de Campo” por me acolher e dar total suporte para as sessões das atividades com os jogos cooperativos. Agradeço a funcionária Andreia pelo carinho com os alunos e o suporte dado a mim, aos pais e alunos que participaram com toda alegria, demonstrando entusiasmo e dedicação nas sessões, a Lisa pelo suporte técnico nas gravações durante as coletas, fato que possibilitou o trabalho com os dados. A meus protetores espirituais que nos momentos mais difíceis foram indispensáveis para manter o meu foco e caminhar rumo ao caminho da pesquisa. Enfim obrigado a todos os amigos que de forma direta e indireta são parte de mais essa etapa da minha vida. RESUMO As dificuldades de relacionamentos interpessoais no contexto escolar agravadas pela intolerância e a violência em todas as idades dentro das escolas, principalmente as que se encontram em ambientes precários e carentes de condições básicas para o bom desenvolvimento dos alunos comprometendo a percepção que esses indivíduos têm do ambiente alavancaram esta pesquisa que tem como objetivo contribuir para a melhor compreensão do papel dos jogos cooperativos na Educação Física Escolar, como fator de ampliação da percepção do ambiente, junto às crianças que vivem em ambiente de vulnerabilidade social. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual se utilizou a pesquisaação como método por se considerar que determinadas especificidades apresentadas no comportamento das crianças têm origem e sentido nos fenômenos sociais complexos e vulneráveis vivenciados por elas. Nesse sentido, os dados analisados consistem do acompanhamento de um grupo de vinte e cinco (25) alunos do ensino fundamental, com idade entre 09 a 11 anos, alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora “Claudina de Oliveira Ramos”, situada no município de Mogi-Guaçu / São Paulo, que participaram durante quatro semanas de jogos cooperativos. A coleta dos dados foi através de filmagens dos jogos desenvolvidos com os alunos e das sessões de discussões, após eles assistirem aos vídeos. Estes dados foram complementados pela análise das informações da fichas sócio econômicas de identificação do aluno preenchida no ato da matrícula na escola. Os vídeos foram transcritos e analisados segundo seu conteúdo e os dados foram organizados conforme Indicadores de inter-relação empírica: organização espacial, agressividade, cumprimento de regras, agrupamento por gênero e cooperação. E Indicadores de inter-relação analítica: intolerância, insegurança, confiança, solidariedade e autoconfiança. Posteriormente, foi realizada uma analise do conteúdo geral das sessões de discussão. Os resultados desta análise apontam para a confirmação da hipótese de que ocorre uma produção de sentido através desta metodologia da Pesquisa ação e que a Educação Física utilizando como ferramenta os jogos cooperativos, pode contribuir de forma eficaz para a construção da cultura de sustentabilidade, na medida em que colabora para ampliação da consciência do ambiente, elemento fundamental para a cidadania responsável e participativa. Palavras-chaves: educação física escolar, jogos cooperativos, vulnerabilidade social, percepção do ambiente. ABSTRACT The difficulties in interpersonal relationships at school context aggravated by intolerance and violence at all ages in schools, especially in environments that aren´t secure without basic conditions for the healthy development of students committing the perception that these individuals have leveraged the environment. This research wish contribute to a better understanding of cooperative games in physical education, as a factor in wise the perception of the environment, with children that live in an environment of social vulnerability. This is a qualitative research, which was used the action research as a method on the grounds that certain characteristics presented in children's behavior have their origin and meaning in the complex and vulnerable social phenomena experienced by them. In this sense, the data analyzed consist of following a group of twenty-five (25) elementary school students, aged 09-11 years attending the Municipal School of Elementary School Teacher "Claudina Ramos de Oliveira," located in Mogi-Guaçu, state of São Paulo, Brazil, who participated of four sections of cooperative games. The data collection was through filming of the games developed with the students and the discussion sessions after they watch the videos. These data were complemented by analysis of socioeconomic information from records of the students identification at enrollment in school. The videos were transcribed and analyzed according to their content and the data were organized as indicators of inter-empirical relationship: spatial organization, aggression, compliance, grouped by gender and cooperation. And Indicators analytical interrelationship: intolerance, insecurity, trust, solidarity and self-confidence. Subsequently, we performed an analysis of the general content of the discussion sessions. The results of this analysis point to confirm the hypothesis that there is a production of meaning through this methodology of action research and Physical Education as a tool using cooperative games, can contribute effectively to building a culture of sustainability, as which contributes to increased awareness of the environment, a key element for responsible citizenship and participatory. Keywords: physical education, cooperative games, social vulnerability, environment. Perception. 1 Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 1.2. Justificativa ................................................................................................................... 10 1.3. PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................... 14 1.4. Objetivos ....................................................................................................................... 15 1.4.1. Objetivo geral ...............................................................................................................................15 1.4.2. Objetivos Específicos ....................................................................................................................15 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 16 2.1. A Vulnerabilidade Social .............................................................................................. 16 2.2. Resiliência .................................................................................................................... 19 2.3. A percepção do ambiente e a educação socioambiental.................................................. 22 2.4. A Educação Física no Brasil .......................................................................................... 27 2.5. Educação Física escolar no marco legal (LDBEN/LDB/PCNs) ...................................... 29 2.6. As correntes pedagógicas .............................................................................................. 32 2.7. O Jogo na sociedade ...................................................................................................... 36 2.8. Os Jogos Cooperativos .................................................................................................. 37 2.9. O Jogo no Ambiente Escolar ......................................................................................... 41 3. PROCEDIMENTOS DA PESQUISA CAMPO ............................................................ 44 3.1.Procedimentos metodológicos ........................................................................................ 44 3.2. Descrição de Campo...................................................................................................... 45 3.3. A Vulnerabilidade Social em Mogi-Guaçu .................................................................... 46 3.4. Tamanho Amostral ........................................................................................................ 49 3.4. Critérios de Inclusão no Grupo de Observação .............................................................. 50 3.5. Critérios de Exclusão .................................................................................................... 50 3.6.Técnicas e testes ............................................................................................................. 50 3.6.1 . Instrumentos ................................................................................................................................52 3.6.2 . Procedimentos .............................................................................................................................52 4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................... 58 4.1. Identificações das situações de vulnerabilidade ............................................................. 58 4.2. Caracterização da resposta das crianças aos jogos cooperativos ..................................... 63 4.2.1. Primeiro dia de Coleta ..................................................................................................................64 4.2.2. Segundo dia de coleta ...................................................................................................................67 4.2.3. Terceiro dia de coleta ...................................................................................................................71 4.2.4. Quarto dia de coleta: ....................................................................................................................74 4.3.Tratamento das informações da análise do conteúdo ....................................................... 81 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 89 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 92 ANEXO – A ........................................................................................................................ 98 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO ................................................................... 98 APÊNDICE – A.................................................................................................................. 99 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................................................................... 99 APÊNDICE – B ................................................................................................................ 102 Ficha de Experiência .......................................................................................................... 102 SIGLAS UTILIZADAS CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CREAS - Centro Especializado de Assistência Social EF - Educação Física SEADE - Fundação sistema nacional de análise de dados IVPS - Índice Paulista de Vulnerabilidade Social JC - Jogos Cooperativos JCSP - Jogos cooperativos sem perdedores JCRC - Jogos cooperativos de resultados coletivos JCI - Jogos cooperativos de inversão LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais SUAS - Sistema Único de Assistência Social UR - Unidade de registro UC - Unidade de contexto LISTA DE QUADROS QUADRO 1 : Correntes pedagógicas da EF........................................................................ 31 QUADRO 2: Comparativo de Jogos Cooperativos e Competitivos.................................... 36 QUADRO 3: Comparativo de Jogos Cooperativos e Competitivos (continuação).................. 37 QUADRO 4: Pontos de orientação, para investigação oriunda do objeto de pesquisa questões gerais....................................................................................................................... 53 QUADRO 5: Indicadores de inter-relações empíricas jogo ponte de corda dia-01.................. 65 QUADRO 6: Indicadores de inter-relações analíticas jogo ponte de corda dia-01.................. 65 QUADRO 7: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega golfinhos dia-01......... 66 QUADRO 8: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega golfinhos dia-01.......... 66 QUADRO 9: Indicadores de inter-relações empíricas jogo ponte de corda dia-02................. 67 QUADRO 10: Indicadores de inter-relações analíticas jogo ponte de corda dia-02................ 67 QUADRO 11: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega golfinhos dia-02....... 68 QUADRO 12: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega golfinhos dia-02........ 68 QUADRO 13: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega corrente dia-03......... 69 QUADRO 14: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega corrente dia-03.......... 69 QUADRO 15: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega golfinhos dia-03....... 70 QUADRO 16: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega golfinhos dia-03........ 70 QUADRO 17: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega corrente dia-04......... 71 QUADRO 18: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega corrente dia-04.......... 72 QUADRO 19: Indicadores de inter-relações empíricas jogo pega-pega golfinhos dia-04....... 73 QUADRO 20: Indicadores de inter-relações analíticas jogo pega-pega golfinhos dia-04........ 73 1 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Localização do Município de Mogi-Guaçu, Estado de São Paulo................... FIGURA 2: Gráfico de distribuição da população segundo (IVPS) no estado de São Paulo e no município de Mogi-Guaçu................................................................................... 48 49 FIGURA 3: foto ilustrando jogo cooperativo “ponte de corda”.......................................... 56 FIGURA 4: foto ilustrando jogo cooperativo “pega-pega corrente”................................... 57 FIGURA 5: foto ilustrando jogo cooperativo “pega-pega golfinhos e sardinhas”............... 58 TABELAS TABELA 1: Grau de escolaridade paterna........................................................................... 60 TABELA 2: Grau de escolaridade materna.......................................................................... 61 TABELA 3: Situação familiar.............................................................................................. 62 TABELA 4: Condição da moradia....................................................................................... 63 TABELA 5: Beneficiadas pelo benefício social bolsa família............................................. 63 TABELA 6: Remuneração em salários mínimos................................................................. 64 1. Introdução As dúvidas e incertezas começaram a fazer parte da minha vida profissional, após pouco tempo de atuação na área educacional, ministrando a disciplina de Educação Física, ou seja, quatro anos de trabalho no ensino fundamental em escolas municipais de Aguai, em caráter de substituição e nos quatro últimos anos em Mogi Guaçu, efetivo em uma escola municipal. Embora os oito anos trabalhados possam ser considerados irrelevantes para uma análise mais aprimorada, a atuação no ensino fundamental, de escolas municipais de periferias e zonas rurais, somente pela localização e precariedade de acesso aos bens produzidos por uma sociedade, já demonstram a situação de vulnerabilidade em que vivem os indivíduos dessas comunidades. Atualmente, existe uma grande dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais no contexto escolar, situação agravada pela intolerância e a violência que permeia todas as faixas etárias e séries das escolas. Tais situações deixam o ambiente escolar instável, pois ocorrem inúmeros problemas de violência, como (bullyng, evasão escolar, baixo rendimento, agressões físicas) e muitos outros de diversas ordens. Certamente, a atuação, por anos, no ensino público, proporciona ao profissional uma grande vivência das mudanças no sistema educacional, bem como no perfil dos alunos que a cada ano inserem-se neste sistema. Mas, os meus poucos anos de trabalho desvelaram acontecimentos que precisam ser repensados, urgentemente, por todas as esferas envolvidas no processo ensino-aprendizagem. Talvez, por ser um momento em que os alunos se expressam de forma espontânea, através de gestos e movimentos, a aula de Educação Física se constitua em um momento privilegiado, no qual o educador percebe o quanto é importante programar atividades que proporcionem ao aluno o desenvolvimento de atitudes cooperativas, diante da percepção do ambiente, dos colegas com suas diferenças e necessidades individuais. Deve-se, enfim, priorizar e oportunizar a vivência de atividades, cujos objetivos sejam o da participação, da resolução de problemas de forma conjunta, pois exigem a tomada de atitudes como tolerância, cooperação e respeito. 7 Ao atuar como educador tive a oportunidade de ver, sentir e analisar as necessidades mais gritantes do sistema educacional, na área de Educação Física, isto é, houve a necessidade de promover alterações radicais na forma como compreendia as atividades físicas, não descaracterizando-as da função pedagógica, inerente à prática educativa. Assim, os jogos cooperativos passaram a ser desenvolvidos no ambiente escolar, como ferramenta para auxiliar no desenvolvimento de indivíduo mais autônomo, melhorando a percepção dele para o entorno todo que constitui o meio social no qual está inserido. Nas últimas décadas, diversos estudos têm destacado o importante papel dos sistemas educacionais e sua contribuição na educação de crianças e jovens. A escola é, sem dúvida, depois da família, um importante agente de inserção da criança na sociedade, pois um ambiente escolar bem estruturado é capaz de contribuir de forma significativa para o bom desenvolvimento psicossocial da criança. O estímulo, através de atividades em grupo, proporciona aos alunos a elaboração de percepções fundamentais para que possam atuar ativamente nas comunidades, bem como a possibilidade de suprir possíveis carências sociais, no coletivo. Apesar da importância do assunto, há poucos estudos desenvolvidos na área de Educação Física (EF) que reflitam sobre a importância das práticas pedagógicas dessa área, na construção de comportamentos cooperativos e solidários nas crianças e jovens que se encontram inseridas em ambiente de vulnerabilidade social. Nesse sentido, o ambiente de vulnerabilidade caracteriza-se por inúmeras situações de risco, das mais diferentes ordens, que impossibilitam o indivíduo de desenvolver o máximo de suas potencialidades tanto dentro do próprio ambiente familiar quanto social (Eisenstein & Souza, 1993; Masten & Coastworth, 1995). Redimensionando as situações de risco vividas pelo aluno, longe do contexto escolar, pode-se perceber que os comportamentos oriundos desse contexto surgem também, em sua forma mais bruta, nos contextos escolares. Então, as observações das várias manifestações das crianças e jovens, em um espaço físico mais amplo para as aulas de EF, podem apontar caminhos metodológicos e estratégias interessantes para o ensino-aprendizagem, posto que se instale a oportunidade de se estabelecer situações de interação e inter-relacionamentos significativos para a sociedade, através da dinâmica dos jogos. A apreensão não será somente das regras, 8 mas, principalmente o desenvolvimento de habilidades cognitivas norteadoras das relações sociais. Desta forma, fica evidente a necessidade da EF desenvolver propostas pedagógicas dentro do ambiente escolar, estabelecendo trabalhos diferenciados com crianças que se encontrem em situação de vulnerabilidade social e, dessa maneira contribuir, de fato, para com a formação do caráter, de uma ética respaldada nos valores sociais e da socialização dos indivíduos. Ao proporcionar a esses alunos mais oportunidades dentro das aulas de EF, nas quais eles tenham realmente uma participação efetiva, o professor posiciona-se como mediador da interação, auxiliando-os na descoberta de experiências que contribuam para a melhor percepção dos indivíduos dentro dos ambientes. Assim, a opção por destacar e dar visibilidade aos jogos cooperativos, neste trabalho, é a de refletir sobre o modelo competitivo, arraigado nas relações humanas e sociais e que está amplamente difundido nas sociedades capitalistas atuais. Apesar da evolução da Educação Física escolar nas questões teóricas, ainda há o predomínio dos modelos tecnicistas e competitivistas nos currículos escolares, ou seja, desenvolve-se o modelo da competição formal, na qual se valoriza o desempenho de uma pequena parte do grupo. Em específico, esta pesquisa insere-se em uma linha de pesquisa crítico reflexiva ao adotar o procedimento autoscópico que tem como finalidade propiciar análise e autoavaliação de todos os atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Trata-se de uma estratégia interessante, pois carrega um potencial formativo-reflexivo subjacente ao próprio procedimento, facilitando a observação dos dados que poderão ser interpretados e compreendidos como instrumento de formação e aprendizagem e, consequentemente, ensino. E, para tanto, este trabalho foi dividido em quatro capítulos: o primeiro apresenta três subdivisões, sendo que na primeira seção enfoca-se o conceito de vulnerabilidade social, na segunda seção, uma discussão sobre o termo Resiliência e na última seção o conceito de Educação socioambiental, pois se trata de ideias cruciais que percorrem todo o trabalho e costura as demais ideias; no segundo capítulo é apresentada a fundamentação teórica que embasa o trabalho e está subdividida em seis itens: um breve histórico sobre a Educação Física no mundo, destacando as diferentes concepções assumidas; a trajetória da disciplina no Brasil; a inserção da Educação Física no contexto escolar; as várias correntes pedagógicas que convivem no ensino e aprendizagem; um breve histórico sobre o jogo cooperativo como 9 forma de se conhecer melhor essas atividades e por último faz-se o destaque para os jogos cooperativos inseridos na prática escolar; no terceiro capítulo apresentam-se todos os procedimentos da pesquisa como a justificativa, a metodologia utilizada, os contextos situacionais, a constituição do corpus, os sujeitos envolvidos, instrumentos e procedimentos de coleta dos dados e, por fim, no quarto capítulo, dá-se a apresentação e discussão dos dados, bem como a apresentação das reflexões produzidas neste trabalho. 1.2. Justificativa A EF, enquanto componente curricular da Educação Básica deve integrar o aluno na cultura corporal do movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida e também da qualidade do ambiente, dando ao indivíduo subsídios para que possa suportar as adversidades do mundo globalizado. É interessante observar que o atual mundo globalizado tanto apresenta muitas facilidades aos indivíduos como também expõe as inúmeras dificuldades globalizadas e, diante deste contexto, as escolas precisam formar cidadãos com capacidade de dominar questões complexas como a poluição do ar e das águas, esgotamentos das fontes de água potável, extinção de florestas e animais, epidemias e desigualdades sociais. Portanto, reproduzir um modelo educacional que não valorize o trabalho coletivo, a autonomia, a coragem, é deixar de cumprir o principal papel da escola que é preparar o indivíduo para vida (FREIRE, 1989). Assim, quando se pensa no processo de ensino e aprendizagem, não há como desconsiderar o perfil dos profissionais que atuarão junto de indivíduos em constante formação, pois é de extrema relevância que nesse processo de ensino o professor tenha a percepção de que nem todos os alunos estão no mesmo nível de desenvolvimento e, portanto, um trabalho de forma cooperativa proporcionaria uma rica troca de experiência, favorecendo o grupo e proporcionando um desenvolvimento mais justo e homogêneo. 10 Segundo Betti (1997), a EF escolar se utiliza de diversas manifestações da cultura corporal do movimento humano, como o esporte em suas várias modalidades, as danças, as lutas, a ginástica com suas ramificações, as brincadeiras e o jogo para atingir seu objetivo educacional, atuando no espaço das realizações sociais, considerando os valores e significados aprendidos no ambiente familiar. E ao propor ações que favoreçam uma compreensão do coletivo e da sustentabilidade do ambiente geográfico, social e pessoal às crianças, elas poderão desenvolver uma ética do coletivo e uma maior estrutura psicossocial para lidar com as adversidades do ambiente familiar, social ou espacial. O espaço mais adequado para o indivíduo expressar-se através do corpo ocorre nas aulas de EF; em espaço mais descontraído, ele acaba manifestando as diferentes culturas construídas por diferentes grupos sociais, seja através de jogos, lutas, esportes, danças e ginásticas dentre outros. Com isso, todo o educador deve estar atento ao conjunto de significados que contextualiza tais práticas, reconhecendo as aulas de educação física como uma prática social que integra aluno com outros alunos, com o professor e com todas as pessoas que o cerca. A opção pela modalidade de jogos cooperativos contribui de forma significativa para se refletir sobre o modelo competitivo nas relações humanas e sociais, pois é um comportamento que se sobressai na sociedade capitalista atual, na qual os indivíduos buscam recompensas pelos seus feitos. A palavra competição, de acordo com o dicionário têm os seguintes significados: Competição: (Do lat. Competitione.) S. f. 1. Ato ou efeito de competir. 2. Busca, simultânea, por dois ou mais indivíduos, de uma vantagem, uma vitória, um prêmio, etc. 3. Luta, desafio, disputa, rivalidade. 4. Biol. Ger. Luta dos seres vivos pela sobrevivência, especialmente quando são escassos os elementos necessários à vida entre os componentes de uma comunidade. (Ferreira, 1995, p. 440). Tais definições mostram que as ações competitivas desenvolvidas pelas pessoas, com o foco no ganhar sempre e no desempenho físico que remete a uma superação em relação aos demais, significa sempre a ideia de vencer sozinho, sem preocupação com as outras pessoas envolvidas, pois o outro é visto, normalmente, como um oponente que quer retirar a 11 recompensa (financeira, moral, material etc.). E diante dessa concepção individualista, a competição gera tensão, medo, raiva e solidão, que são importantes para o desenvolvimento do indivíduo, mas precisam ser dosados e canalizados, para que possam ser vivenciados e incorporar aprendizados a essas vivências. Em um contexto educacional formal, deve-se deixar claro que o jogo competitivo tem valores diversos subjacentes às ações executadas e por isso a comunidade escolar não deve perder o seu foco, priorizando a competição no sentido de enxergar determinadas pessoas como produtos que “valem a pena o investimento” e cujos valores agregados são capacidade, preço e qualidade. Nessa linha de raciocínio a escola descarta e descaracteriza o ato educativo que deve ser a sua principal função quando se trabalha com esses jogos, no ambiente da escola. Nesse sentido, é preciso que a comunidade escolar repense a maneira como vem conduzindo os valores associados aos jogos que são praticados no contexto escolar, como destaca Galatti et. al.(2008): O desporto é receitado e recomendado para tudo e para nada, como se na sua prática medrasse espontaneamente tudo o que há de mais positivo. Este entendimento é, obviamente, questionável. No desporto, como noutras práticas e como em tudo na vida, há lugar para a ambivalência: tanto se podem realizar valores de sinal positivo como valores de sinal negativo. (Galatti et. al. 2008, p.400). Ao se ater às funções específicas do contexto formal, a escola precisa ser efetivamente o local de reflexão, pois se trata de uma instituição que deve funcionar como agente de intervenção na sociedade. Portanto, esse espaço que possibilita a socialização e a convivência entre as pessoas, estabelecida através do diálogo, precisa rever a forma como se aplicam os jogos competitivos no meio educacional para, através deles, valorizar as relações interpessoais que são desenvolvidas na prática dos jogos coletivos e que levam os grupos a interagirem por objetivos comuns. O antropólogo francês Morin (2001) seguindo a mesma linha de pensamento, enfatiza que o objetivo da educação não deve somente se render a transmitir conhecimentos formais, mas proporcionar ao indivíduo transformações para toda a vida, ou seja, deve proporcionar situações em que o aluno tenha a oportunidade de aprender, ensinar, viver transformações 12 consigo e com o todo que o cerca. Baseando-se nessa concepção, é necessário que a escola proponha uma vivência de educação cooperativa e autônoma. Dada esta configuração, as escolas devem propor um trabalho que contemple elementos importantes para o desenvolvimento das crianças e jovens como valores universais como o companheirismo, a cooperação, a solidariedade, não diferente do ressaltado por Garganta (1995) quanto aos três traços fundamentais que devem ser focados nos jogos esportivos: a cooperação, a inteligência e a comunicação. Nessa linha de pensamento, Gallati (2008), afirma que ao iniciar a criança no esporte de forma adequada, ou seja, preparar o esporte para criança e não a criança ao esporte, o foco deve ser dado, utilizando-se de procedimentos pedagógicos e levando em conta as necessidades das crianças, valorizando o lúdico, a espontaneidade, levando em conta a instabilidade emocional que a competição proporciona, pois leva o aluno a vivenciar novas emoções sem constrangimentos. Entendida assim, a prática em EF não deve se prender apenas a um discurso sobre a cultura corporal de movimento, correndo o risco de se perder as suas particularidades, mas deve constituir-se como uma ação pedagógica que se propõe a vivenciar a corporeidade do sentir e do relacionar-se. O professor de Educação Física tem como um dos seus objetivos primordial o de levar o aluno a compreender o seu sentir e o seu relacionar-se na esfera da cultura corporal de movimento (BETTI, 1992). Freire (1989) reforça a ideia de que é necessário, pois, transpor as barreiras dos muros da escola e ir além, construir conhecimentos que são para a vida e para o mundo, pois ao lançar o olhar ao nosso redor, estendendo-o um pouco mais, observam-se bilhões de pessoas em todo o mundo que sofrem as consequências da fome, das doenças, do lixo, do trabalho escravo, sendo, portanto, essencial despertar em nossos alunos a solidariedade, o amor e sensibilidade é um grande desafio. Acredita-se que a opção por jogos cooperativos, no contexto escolar, com uma faixa etária em que as crianças e adolescentes estão absorvendo valores que carregarão por toda vida parece ser a melhor opção porque se valoriza o que há de melhor nos jogos, que é a diversão sem medo, sem se preocupar com vitória ou derrota e também se valoriza a participação e a união em busca de um mesmo objetivo. 13 Percebe-se que estudiosos como Orlick (1989) e Freire (1996) enfatizam que a cooperação deve ser o elemento norteador das bases educacionais; para o primeiro a cooperação é uma força que unifica vários indivíduos que, embora tenham interesses individuais, articulam-se em busca de um bem estar coletivo e para o segundo, o desenvolvimento de valores que garantam uma autonomia, constitui-se numa prática da liberdade. Para reforçar a necessidade de mudança de foco no ensino de EF, orientando-a a adotar uma nova concepção pautada no trabalho com os JC, faz-se necessário compreender as palavras que compõem essas dinâmicas de trabalho. A palavra cooperação, por exemplo, significa trabalhar e ajudar para alcançar um objetivo comum, enquanto a palavra autonomia remete à faculdade de governar por si só. E, portanto, este trabalho vem de encontro à necessidade de se avaliar a contribuição dos jogos cooperativos nas aulas de EF, no intuito de melhorar as abordagens entre aluno professor, alunos com o todo que constitui, tornando-o capaz de ter percepção do ambiente e que ele seja capaz de incluir-se neste ambiente. Dentro desta perspectiva, a EF constitui espaço privilegiado para o aprendizado do exercício da cidadania, proporcionando uma formação qualificada pela emancipação do ser humano, sendo objetivo da EF contribuir para o desenvolvimento sustentável no sistema educativo, fazendo com que a criança adquira hábitos saudáveis, tais como a prática regular de exercícios físicos, o respeito às regras, os respeitos às regras de condutas e o convívio em sociedade, isto é, a EF ajuda na superação de dificuldades de relacionamento, de percepção do ambiente, da comunicação. Por isso, é de grande valia para o ensino avaliar como as atividades cooperativas influenciam os alunos durante as aulas de EF e de que forma essas aulas podem ser mais bem estruturadas para suprir eventuais problemas causados por convívio em ambientes de vulnerabilidade social. 1.3. Problema de Pesquisa Qual a contribuição dos jogos cooperativos aplicados nas aulas de Educação Física para a elaboração da percepção do ambiente por crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social? 14 1.4. Objetivos 1.4.1. Objetivo geral Contribuir para a melhor compreensão do papel dos jogos cooperativos, desenvolvidos na disciplina de Educação Física, junto às crianças que vivem em ambiente de vulnerabilidade, social, com o intuito de promover a estimulação da percepção do ambiente. 1.4.2. Objetivos Específicos a) Identificar as situações de risco social as quais as crianças estão vivenciando; b) Caracterizar a resposta do grupo de crianças à proposta de jogos cooperativos; c) Relacionar os comportamentos durante as sessões de jogo com as situações de vulnerabilidade social. 15 2. Fundamentação teórica 2.1. A Vulnerabilidade Social O conceito de vulnerabilidade social é muito recente, pois surgiu no cenário mundial, na década de 1980 como um mecanismo de resgate dos Direitos Humanos que estavam sendo violados. Diante de cenários tão evidentes de desrespeito, carências e a violência alastrandose pelos mais diferentes esferas sociais e políticas, nas mais variadas formas, o termo ganhou espaço nos estudos de cunho social e passou a ser utilizado para descrever os inúmeros riscos a que estão submetidos determinados grupos, segmentos ou indivíduos de uma sociedade. Partindo desse princípio, o sociólogo Katzman (1999) define o termo vulnerabilidade social como sendo a maneira como o indivíduo ou grupos colocam-se diante das condições desfavoráveis que acometem o seu bem estar. Em outras palavras, a forma com a qual são administrados os recursos que lhe são oferecidos pelo meio em que está inserido. Obviamente que tal condição não implica, necessariamente, numa vulnerabilidade, contudo a simples junção de alguns elementos nessa situação, como o baixo nível de escolaridade do chefe da família, configura-se em uma situação de vulnerabilidade social, uma vez que os recursos cognitivos acumulados por família com essas características podem ser insuficientes para garantir níveis adequados de bem-estar, expondo-a a riscos variados como agravos à saúde, violência e pobreza. Exemplificando tal situação, é possível observar a precariedade de condição vivida por família monoparental, com crianças pequenas e chefiadas por uma mulher. Nesse sentido, Moser (1998) destaca que a noção de vulnerabilidade geralmente é definida como uma situação em que estão presentes três elementos: exposição ao risco; incapacidade de reação e a dificuldade de adaptação diante da materialização do risco. Ou seja, a vulnerabilidade é inerente ao ambiente e, portanto, a capacidade do indivíduo perceber o risco, adaptar-se a ele e criar meios ou estratégias para superar tais adversidades é a peça chave deste problema. Por isso a essa capacidade de superação ou enfrentamento das adversidades é chamada de Resiliência. 16 De acordo com a definição de Moser, o homem deve ser analisado no meio em que atua, pois assim ele será observado de maneira mais ampla, ou seja, nas suas inter-relações que envolvem o sujeito, os aspectos sociais e o meio físico, possibilitando a formação de indivíduos capazes de se integrar ao ambiente, adaptando-se no sentido de encontrar estratégias para resistir e superar as possíveis situações adversas. O fato é que em algum momento da vida o indivíduo vai estar exposto a algum tipo de risco, ou seja, vai se tornar vulnerável, mas a forma como ele se coloca frente a estes momentos de estresses ou como vai resistir a eles é que faz a diferença. Por isso, é fundamental proporcionar ao aluno que vive em situações de vulnerabilidade a capacidade de tornar-se resistente ou ser capaz de suportar tais dificuldades. Trata-se de é um desafio, no entanto é papel de grande relevância dos educadores e sistemas educacionais. Considerando, portanto, o entendimento da noção de vulnerabilidade social de pessoas, famílias ou comunidades como um conjunto de fatores que produzem uma fragmentação do “bem estar” em função da exposição a certos riscos, pode-se considerá-la uma ideia multidimensional, pois afeta indivíduos, grupos e comunidades, além de vários planos distintos de seu bem estar, com intensidade e formas diferentes. E, se o indivíduo, grupo ou comunidade não conseguem manter o bem estar, diante de determinado sistema econômico e social, terá a qualidade de vida afetada. O sociólogo alemão Ulrich Beck (1992) reforça que a sociedade sofre com os problemas gerados pela própria sociedade, fator denominado de sociedade reflexiva, posto que ao mesmo tempo em que a sociedade se coloca em risco, ela também toma consciência desse risco e tenta combatê-lo. Percebe-se que, ainda que de forma incipiente, as sociedades que mais sofrem com as questões referentes às vulnerabilidades, começam a ficar mais atentas quanto à atuação do Estado para que haja a construção de uma sociedade desenvolvida, bem como as populações tenham garantidas as necessidades básicas e essenciais para uma sobrevivência mais digna. Na mesma linha de pensamento Busso (2001) relata que entre os fatores que compõem a situação de vulnerabilidade social estão à fragilidade ou a incapacidade de adaptação às mudanças que ocorrem no entorno: a falta de suporte do Estado e dos próprios cidadãos, falta de estrutura familiar para realizar as mudanças necessárias, as oportunidades de mudanças que 17 surgem, falta de autoestima, tornando os indivíduos incapazes de realizar ações que possam lhes proporcionar uma melhora nas condições de vida. Portanto, o que se observa em relação à questão da vulnerabilidade de um grupo, família ou indivíduo é que ela ocorre pela baixa ou nenhuma capacidade de controlar as forças adversas que interferem no bem estar, incapacitando o(s) indivíduo(s) de administrar os ativos que constituem os benefícios conquistados para o aproveitamento das oportunidades proporcionadas pelo Estado, mercado ou sociedade (KATZMAN, 1999). Transportando as ideias sobre Vulnerabilidade para as nações consideradas em desenvolvimento, como o Brasil, percebe-se a singularidade do país sobre alguns pontos e para entender o paradoxo vivido, é crucial a análise dos aspectos sociais, uma vez que eles fornecerão indicativos sobre o contexto histórico determinante para a forma de vida das pessoas. Quase a totalidade dos primeiros quinhentos anos no país, do ponto de vista econômico, social e político pode ser considerado muito primário, com desigualdade de renda e riqueza acumuladas, favorecendo uma estrutura econômica centrada nos interesses políticos que prejudicaram o desenvolvimento social. Para Bastos (1999), os fatores ambientais de risco raramente ocorrem de forma isolada porque provém de um contexto de risco mais amplo, ou seja, muitos aspectos de âmbito social podem influenciar de forma significativa na forma como os pais criam seus filhos, influenciando desde o início do desenvolvimento, como fases de locomoção e linguagem entre os pares até a autonomia na adolescência. Ao se retomar o contexto histórico do início do Brasil, o cenário com o qual se depara é o da mão de obra escrava, posteriormente com a criação de poucos empregos e conservação dos existentes, mas de baixa qualidade. Ainda que haja a consideração de que ao longo do tempo houve uma transformação significativa e fundamental no país, com muitas migrações do campo para as cidades, aumentando o êxodo rural, ainda existem inúmeras comunidades que não são beneficiadas com as políticas econômicas adotadas no País, pois vivem e criam seus filhos em ambientes de extremos riscos sociais. Para Sapienza e Pedromonico (2005), algumas das atribuições do ambiente de risco social são: prematuridade, desnutrição, baixo peso, lesões cerebrais, atraso no desenvolvimento, família desestruturada, minoria social, desemprego, pobreza, dificuldade de acesso à saúde e 18 educação. Há também as crianças com desvantagens socioeconômicas cujas mães são também jovens, solteiras e pobres ou oriundas de famílias desorganizadas (riscos psicossociais), ou ainda crianças cujos pais apresentam desordens afetivas, esquizofrenia, desordens antissociais, hiperatividade, déficit de atenção e isolamento (riscos genéticos). As crianças expostas a essas situações, potencialmente, podem ficar vulneráveis a eventos estressores e, consequentemente, em riscos para problemas de desenvolvimento. Assim, a vulnerabilidade à pobreza não se limita em considerar a privação de renda, central nas medições baseadas em linhas de pobreza, mas também a composição familiar, as condições de saúde e o acesso a serviços médicos, o acesso e a qualidade do sistema educacional, a possibilidade de obter trabalho com qualidade e remuneração adequadas, a existência de garantias legais e políticas, entre outros fatores. Com isso, formar um cidadão mais preparado para se inserir no meio social de forma mais eficiente é um papel fundamental do sistema educacional e porque não dizer das aulas de Educação Física (EF) que não apresenta tanta rigidez devido ao espaço físico onde trabalha. 2.2. Resiliência O termo Resiliência é descrito no Dicionário Aurélio como sendo a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica, resistência ao choque” (p.1751). Contudo, o termo com conotação de “resistência psicológica” foi adotado, por empréstimo da Física, pelo psiquiatra Frederic Flach (1991), ao abordar as inúmeras dificuldades pelas quais os indivíduos passavam inclusive ele, mas com demonstrações nítidas de superação. Com um novo significado instituído, o termo Resiliência pôde, então, ser utilizado por inúmeras áreas como saúde, economia, indústria, sociologia e psicologia, pois uma única palavra resumia um estado geral, isto é, ao ser redimensionado, passou a representar a capacidade do indivíduo, grupos ou comunidades em superarem as situações mais difíceis do cotidiano, todavia com aproveitamento da vivência das dificuldades para transformação da situação causadora de sofrimento. 19 Assim, do ponto de vista de Frederic Flach (1991), a Resiliência significava a capacidade de o indivíduo conservar-se equilibrado mesmo diante de situações hostis e adquirir ânimo e habilidade para resistir até conseguir elaborar estratégias e mecanismos para alterar comportamentos na lida cotidiana, em todos os setores da vida dele. A Resiliência, no tocante aos mecanismos de proteção à criança e adolescente é definida por Brooks (1994) sob três pontos: fatores individuais, fatores familiares e fatores relacionados ao ambiente. Os fatores individuais são aqueles relacionados à autoestima positiva, autocontrole, autonomia e temperamento afetuoso e flexível; os fatores familiares envolvem harmonia, estabilidade e respeito mútuo e os fatores relacionados ao ambiente estão ligados ao bom relacionamento com amigos, professores ou pessoas que são significativas, pois têm papel de referência para a criança, na medida em que lhe passe segurança e transmite amor e carinho. Portanto, a Resiliência é um processo determinado por um conjunto de fatores, sejam sociais, ambientais ou físicos que, somados aos momentos estressantes, podem ou não causar mudanças determinantes na vida do indivíduo. Tais processos de proteção à criança ou adolescente podem mudar a capacidade de resposta aos momentos e aos fatores de risco eminente. De fato, é possível considerar que os processos de proteção a esses indivíduos têm funções distintas e específicas para diminuir o choque dos riscos, os comportamentos negativos perante a exposição ao risco, melhorar a autoestima e a autoeficácia na execução de tarefas e ser capaz de reverter eventos estressores (RUTTER, 1987). Já Yunes e Szymaski (2001) estabelecem uma distinção, argumentando que há riscos previsíveis e outros não e destaca que a capacidade de se tornar resiliente deve-se a uma somatória de fatores de proteção, uma vez que os riscos são inerentes à formação social, em todos os tempos e lugares. De acordo com o autor, o que diferencia são os contornos sociais que o risco assume. Em outras palavras, em determinadas situações os riscos podem surgir de maneira mais planejada e calculada e em outras situações aparecem atrelado às questões de vulnerabilidade forjada nos contextos sociais de risco. Outro termo de grande importância que se refere à capacidade de Resiliência, utilizado por Garmezy (1988) e Rutter (1996) é o coping ou enfrentamento, uma vez que esse termo refere-se às diferentes maneiras e atitudes individuais frente às situações de risco. De acordo com os autores trata-se de esforços cognitivos e comportamentais que os indivíduos fazem para 20 encarar as situações de risco, ameaça ou desafios. Entretanto, eles destacam que essses esforços somente são consideradas estratégias de coping se houver consciência e intencionalidade, indicando que o elemento estressor foi identificado e analisado, antes da adoção de uma atitude. Na tentativa de conseguir um equilíbrio, o coping aponta para os posicionamentos comportamentais e cognitivos que o indivíduo utiliza para lidar com situações estressoras, enfatizam Folkman e Lazarus (1985). Tais comportamentos podem estar focados em regular a situação de estresse ou em tentar mudar a origem dos estressores, salienta Silva (2001), uma vez que as estratégias de coping são mais comuns em indivíduos resilientes e a atitude deles atua como moderadores de adversidades e como fatores protetores. Em estudo realizado por Werner e Smith (2001), no qual foram acompanhados indivíduos desde o nascimento até a idade de 40 anos, eles constataram uma clara relação entre os fatores de risco e a proteção, pois quanto maior a quantidade de fatores negativos durante a vida, mais fatores de proteção foram necessários durante a infância e juventude para equilibrar os fatores negativos e como forma de aumentar, assim, os resultados favoráveis em suas vidas. Dentre os vários fatores, observaram, por exemplo, o temperamento da criança e de sua família, dando suporte como mediadores. Outro aspecto descrito no estudo atentou para o fato de adultos e jovens resilientes, na primeira infância, serem pessoas afetuosas, ativas, de boa índole e fáceis de lidar. Corroborando, essa observação, na adolescência esses mesmos indivíduos mostraram-se com maior autocontrole, maior autoconceito e facilidade de interagir com amigos professores e se inserirem em grupos. De acordo com Grünspun (2009), a capacidade do indivíduo em suportar e enfrentar fatores estressores e utilizar das suas capacidades de resistência para suportar as dificuldades impostas pelo ambiente deixa o indivíduo resiliente, tornando-se essa atitude um meio de proteção pelo qual o indivíduo se torna resistente para suportar as dificuldades imposta pelo meio social. E, sem dúvida, tal proteção se torna indispensável para que o indivíduo possa transpor as adversidades que irão surgir durante a vida dele. Bastos et al (2002) destaca que embora o termo coping seja recente, ele apresenta várias definições, mas normalmente está relacionado com a forma com que a pessoa se utiliza de 21 recursos pessoais ou do contexto que o envolve para encontrar mecanismos para superar as adversidades interpostas no e pelo caminho. 2.3. A percepção do ambiente e a educação socioambiental De maneira mais ampla, o termo percepção pode ser compreendido como sendo a capacidade dos indivíduos aguçarem os sentidos, associado à adoção de uma forma de comportamento que os mesmos assumem a partir de uma consciência construída, no processo dialógico com o outro e o mundo, a partir das inferências e deduções elaboradas, num determinado contexto. Algumas áreas como a Psicologia, Neurociência e Ciências Cognitivas que estudam o comportamento humano, destacam a percepção como um dos aspectos particulares de uma pessoa, constituída pela parte sensorial que envolve a recepção de estímulos e, consequentemente, a atitude comportamental. Trata-se, portanto, de função cerebral, dotada da capacidade de atribuição de significados aos estímulos sensoriais, pautados na experiência anterior do indivíduo, bem como as projeções futuras. Sob o ponto de vista psicológico ou cognitivo, nesse terreno da percepção, o indivíduo consegue estabelecer uma série de ações capazes de interpretar e ordenar os estímulos recebidos do exterior e, posteriormente, reorganizá-los como forma de atribuir significados ao meio no qual está inserido. E, nesse sentido, outros aspectos podem interferir nos modos de explicação ou assimilação das informações recebidas, pois além da visão, olfato, audição tato e paladar, no processo perceptivo do conhecimento outros elementos como os processos mentais, a memória e outros sistemas estão envolvidos. Tomando, pois, a percepção como uma representação, a interpretação da realidade pelo indivíduo pode assumir tanto uma posição social quanto cultural, posto que se trata de um processo cognitivo em que várias atividades biológicas e mentais complexas estão unidas ao contexto social e o cultural que determinam a maneira como o sujeito percebe o mundo e também a forma como os sinais recebidos por ele, serão interpretados, determinando as ações. Dentre as possibilidades que o termo percepção pode assumir, dependendo do interesse da área, a teoria sócio-construtivista parece ser a mais adequada para focar o contexto 22 educacional e, para tanto a abordagem assumida neste trabalho é a de um desenvolvimento intelectual que destaca o aspecto social, através das relações interpessoais. A ideia subjacente é a de que o desenvolvimento de um indivíduo ocorre dentro de um processo sócio-histórico, no qual o processo dialógico é de extrema importância para a aprendizagem. Nessa perspectiva, nota-se que Vygotsky (1989), enfatiza a importância da linguagem no processo dialógico, posto que o indivíduo por ter um elemento mediador que é a linguagem, é que ele pode promover as interações e, a partir delas, constituir-se, isto é, formar um ponto de vista, partindo da elaboração de seu pensamento. Todas as funções psíquicas superiores são processos mediados, e os signos constituem o meio básico para dominá-las. O signo mediador é incorporado à sua estrutura como uma parte indispensável, na verdade a parte central do processo como um todo. Na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o seu símbolo. (Vygotsky, 1989: p.48) A percepção assume, então, a estreita relação entre o que se pensa e o que se diz por se tratar de uma ação contínua entre o pensamento e a palavra. De acordo com Vygotsky: O pensamento não é somente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir. Cada pensamento tende a relacionar alguma coisa com outra, a estabelecer uma relação entre as coisas. Cada pensamento se move, amadurece e se desenvolve, desempenha uma função, soluciona um problema. Esse fluxo de pensamento ocorre como um movimento interior através de uma série de planos. (Vygotsky, 1989: p.108) Corroborando as ideias sóciohistóricas, Davidoff (1983) argumenta que a percepção é dada seja como processo pelo qual o indivíduo interpreta os dados sensoriais seja pelas sensações que o leva a desenvolver sócio - consciência do todo que o cerca, bem como de si mesmo. 23 Ao transportar as ideias sobre percepção para a área educacional, percebe-se o quanto é importante o trabalho do professor no desenvolvimento dessa habilidade em crianças e adolescentes que vivenciam situações de vulnerabilidade, pois eles vivem em comunidades totalmente desprovidas de políticas sociais ou as existentes são muito escassas, vivenciando uma interação pouco descolada do fracasso eminente, bem como vivem imersos num contexto de insatisfação em que nem as necessidades básicas são atendidas. De acordo com Macedo (2000), a percepção ambiental é o processo que leva o individuo a ter consciência sobre as realidades ambientais observadas no entorno. Tal capacidade é definida por aspectos individuais que cada ser humano tem de perceber e ser, ou seja, são as diferentes maneiras sensitivas que os seres humanos captam, percebem e se mostram sensíveis pelas ocorrências, manifestações, fatos, fenômenos, processos ou mecanismos ambientais observados no ambiente. Sem dúvida, trata-se de uma percepção indispensável para sobrevivência do indivíduo no meio e também para garantir que essa convivência no meio seja harmoniosa. Partindo do pressuposto de que a percepção não nasce com o indivíduo, mas é construída dialogicamente nos contextos sociais que frequenta, não é possível imaginar que uma criança ou adolescente já tenha uma construção ou uma configuração social bem elaborada e consiga ter discernimento para resistir aos entraves que surgem diante de si. Assim, cabe à escola proporcionar a ele um processo dialógico diferenciado do que é vivido por ele, ou seja, há a necessidade da instalação de uma consciência crítica, na medida em que o professor deve ser um parceiro no diálogo, no qual colocará outras possibilidades e estas irão compor a constituição individual, resultante dos embates surgidos. Seguindo esta linha de raciocínio, Soulé (1997) destaca que a percepção do ambiente é perpassada por três dimensões fundamentais: analítica, experiencial e valorativa. Em relação à dimensão valorativa, o autor destaca a coexistência de valores opostos como espirituais e éticos; na dimensão analítica o indivíduo trata a biodiversidade como algo que precisa ser organizado e explicado e na dimensão experiencial, entendida como a mais importante na formação do tripé, ocorre formulações básicas para a formação de conceitos. Em outras palavras, pode-se dizer que é através da percepção ambiental que o indivíduo consegue, por um lado, exprimir sua emoção em relação ao ambiente em que vive e, por outro, fornecer estímulos e informações afetivas positivas capazes de contribuir para com a formação de 24 valores ambientais vivenciados pelos indivíduos. Nesse sentido, o autor traz uma definição única: Cada um de nós é uma lente exclusiva, fundamentada e polida por temperamento e educação. Nossas respostas à natureza – ao mundo – são tão diversas como nossas personalidades, embora cada um, em momentos distintos, possa ficar atônito, horrorizado, deslumbrado ou simplesmente entretido pela natureza. (Soulé, 1997) De acordo com Faggionato (2007) a percepção ambiental é dada pela forma com que o indivíduo toma consciência do ambiente em que está inserido, despertando uma aprendizagem, na qual consegue unir a imersão em um espaço e a proteção do mesmo. Tratase de uma percepção que é construída individualmente e, portanto, desenvolve-se de forma diferente em cada indivíduo, posto que este é influenciado por todo um contexto sociocultural em que se desenvolveu. Nota-se que o conhecimento e desenvolvimento da percepção ambiental são de grande relevância para que se possa ter uma melhor compreensão entre as relações que integram homem e o ambiente, nos mais diversos e variados grupos de indivíduos, para que se possa entender melhor as expectativas, satisfações, insatisfações, condutas e formas de julgar. As diferenças culturais e as diversas funções nos planos sociais, de acordo com Coelho (2000), são responsáveis pelas dificuldades de proteção, valorização e de uma efetiva atribuição da importância desses ambientes naturais. Entretanto, tais diferenças também cumprem um papel importante, pois se todos os indivíduos tivessem a mesma percepção, disputariam os mesmos recursos e a convivência social seria impraticável (Corson, 1993). Portanto, a educação socioambiental evolui para formar cidadãos conscientes e responsáveis ao promover relações de respeito entre os homens e os demais seres vivos do planeta, desenvolvendo a ideia de relação sustentável, sadia e justa socialmente. É impossível falar de sociedade sustentável sem um indivíduo que compreenda a sustentabilidade como uma forma de viver de maneira harmoniosa e mais equilibrada, assim como é improvável falar de educação socioambiental sem falar em educação inclusiva, respeitando as diferenças nos âmbitos culturais, sociais ou físicos, tomando estes fatores inerentes à educação. 25 Para isso devem-se educar o aluno para que respeite o outro e o meio em que está inserido, observando-se os limites, incluindo-se de forma harmoniosa ao ambiente como forma de construir conhecimentos sobre a importância de se utilizar os benefícios que lhe são oferecidos, sem destruir ou esgotá-los. Mantoan (1998) enfatiza a relevância da inclusão não somente pela igualdade das oportunidades, mas também pela igualdade dos valores entre as pessoas, na medida em que ao se proporcionar um melhor desenvolvimento das habilidades, dos talentos pessoais e atuação na sociedade, de acordo com o seu contexto de vida, cultura, idade e gênero, a consciência do indivíduo se transforma. Ainda de acordo com a autora, a escola se torna indispensável, posto que para muitos alunos o contexto escolar é o único caminho de acesso ao conhecimento e é esse ambiente que vai lhes permitir crescerem como cidadãos, tornando-os pessoas com identidade sociocultural e com oportunidades para viver com dignidade, uma vez que o espaço escolar muito além de ser somente um espaço pedagógico, deve se constituir no espaço propício também para a construção ideológica e política. Por isso, tão importante quanto preparar o ambiente para incluir, é ter um ambiente escolar de formação de indivíduos capazes de se incluírem, tendo percepção das suas capacidades e limitações, relacionando-se de acordo com suas necessidades, sendo pessoas críticas, reconhecendo as diferenças como características individuais de cada um e essas características podem vir a somar no aprendizado, na troca de experiências dentro e fora do ambiente escolar. De acordo com Sachs (1993) há cinco pilares que amparam a ideia de sustentabilidade, sendo eles: sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, sustentabilidade cultural, sustentabilidade ecológica e sustentabilidade geográfica. Um indivíduo assim colabora para com a construção de uma sociedade mais digna e sustentável, sendo capaz de respeitar a diversidade de forma tolerante, indo ao encontro das propostas de desenvolvimento sustentável. Debaixo desse conjunto de fatores defendidos pelo referido autor há a desconstrução da ideia de que somente o desenvolvimento econômico é relevante para o desenvolvimento sustentável humano; todos os cinco elementos reunidos são necessários, como forma de se respeitar a diversidade biológica, social, geográfica e ecológica, bem como respeitar as necessidades de 26 desenvolvimento de acordo com as características do ambiente. Por isso uma proposta diferenciada da EF que estimule os indivíduos a serem mais cooperativos, com capacidade de percepção do ambiente pode possibilitar a essas crianças e adolescentes a possibilidade de intervenção e transformação do ambiente de forma justa e solidária. 2.4. A Educação Física no Brasil A Educação Física no Brasil tem uma visão mais tradicional por conta do seu histórico sociocultural e por isso passa por fases distintas que, segundo Darido (2003) são: Educação Física Higienista, Educação Física Militarista, Educação Física Pedagogista, Educação Fisica Competitivista, Educação Física Popular. Ainda em Darido (2003), a autora destaca as profundas influências médicas e biológicas sofridas pela EF no final do século XIX e início do século XX, posto que os conceitos subjacentes às práticas desportivas no Brasil focavam a saúde, higiene e o melhoramento genético, denominado de Educação Física Higienista. As ideias higienistas pautavam-se no discurso de promoção da saúde pública, na medida em que as pessoas eram vistas como um patrimônio que deveria ser lapidado para constituir-se no capital principal do país. A ideia central era que através da educação haveria aprendizado de novos hábitos e normas, condição para que ocorresse a melhora na saúde coletiva e da raça. Quanto ao conceito de Educação Física Militarista, ele surgiu no início do século XX (1930/1945), sendo este um momento em que a política de Estado era extremamente opressora e instituía o controle nos vários segmentos sociais. De acordo com Ferreira e Bittar (2008), o investimento em EF visava controlar as consciências mais exaltadas que pudessem estabelecer oposição mais consistente ao regime ditatorial, bem como buscavam “talentos” capazes de representar o Brasil no exterior. Assim, além dos objetivos de controle e de representação, o estabelecimento das práticas desportivas através de lei e decreto buscava preparar os jovens: os futuros soldados. 27 Segundo Guirardelli Junior (1992), ainda em meados do século XX, por volta de 1945 até 1964, surgiu uma nova tendência dentro da prática de EF, ou seja, uma tendência de Educação Física Pedagogicista, perpassada por um movimento corporativista que via a oportunidade do profissional da área ser valorizado. Nessa nova tendência, a prática de atividade física não era compreendida somente como oportunidade de afastar os jovens “do mau caminho”, mas era a oportunidade de instituir uma prática educacional integral, na qual os jovens teriam de lidar com regras de convívio democrático, altruísmo e preparação das gerações futuras, na medida em que aprenderiam a valorizar as riquezas nacionais. A concepção de Educação Física Competitivista, de acordo com Ghiraldelli Junior (1992) destaca que entre os anos de 1964 a 1985, com uma forte influência do regime militar surgiu um período no qual o atleta era a grande figura em evidência no país, com isso a EF ganha um grande destaque com o papel de formadora e preparadora dos futuros atletas. Nesta fase o professor passa a ter um status de líder que fomenta e conduz uma minoria pacífica e ordeira. O contexto de economia liberal também influenciou a EF, caracterizando-a como treinamento esportivo e melhora no desempenho, impulsionando os indivíduos a lidar com as superações individuais e com as competições oficiais. A tendência Competitivista estava voltada para a descoberta de novos talentos esportivos, ideia totalmente adaptada à filosofia e anseios das sociedades modernas: a competitividade e individualidade. Nos anos 1980, com o movimento das classes trabalhadoras ganhando força, surge uma EF com uma visão de lazer, ludicidade e solidariedade e, em paralelo a esse novo conceito, surgem os pensadores da EF, transformando a concepção de um aprendizado mais completo onde se valoriza conhecimento das práticas corporais, desde as ordens físicas, fisiológicas até os políticos-filosóficos. A partir do estabelecimento de referenciais teóricos mais críticos nas décadas de 1970 e 1980, ocorreram alterações consistentes na forma como a educação física era entendida e praticada, passando a receber críticas mais fundamentadas e opostas às práticas vigentes. Assim, a partir de 1985 surgiu a concepção de Educação Física Popular, rompendo com todos os paradigmas anteriores, pois o objetivo principal dela era o de propiciar o elemento lúdico ao trabalhador, cuja fundamentação prescindia da preocupação em disciplinar a moral do homem, a superação de adversários e a defesa da prática física como componente da saúde pública. 28 Segundo Ghiraldelli Junior (1992) o caráter que permeia essa última tendência é ideológico porque busca a construção de uma sociedade democrática através da organização, solidariedade e mobilização dos trabalhadores em busca da qualidade de vida. Nota-se, então, que a ideia geral sobre o trajeto que a EF percorreu no Brasil é fundamental, pois a análise do contexto histórico, no qual ela foi forjada, sofreu inúmeras influências ao longo do tempo até chegar ao contexto escolar atual. 2.5. Educação Física escolar no marco legal (LDBEN/LDB/PCNs) Pode-se dizer que a EF antes atividade curricular, foi inserida como componente curricular das escolas brasileiras a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 1996), possibilitando que os profissionais da área pudessem elaborar o conjunto de teorias, métodos e técnicas que viabilizassem o ensino e aprendizagem. Atualmente a EF está integrada à proposta pedagógica das escolas e é componente curricular obrigatório, sendo, portanto, uma disciplina legalmente incorporada ao ensino básico da educação brasileira. De acordo com Aguiar e Duarte (2005), a inserção da EF no currículo da Educação Básica reforça a necessidade de compreendê-la como uma disciplina que não deve mostrar-se imparcial perante as demais disciplinas, pois se estas devem instituir uma forma sistemática de transmissão de conhecimentos como forma de uma educação inclusiva efetivar-se, cabe também a EF edificar um currículo centrado na inclusão escolar e social. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os principais objetivos da disciplina é o de levar o aluno a tomar consciência de que a cidadania deve ser exercida como capacidade de participação social e política, na qual o indivíduo pode exercer seus direitos e deveres, sejam eles políticos, sociais ou civis. Portanto, os saberes da EF precisam atuar no dia a dia de forma solidária e cooperativa, opondo-se efetivamente contra as injustiças, com respeito ao outro, bem como reivindicando tais atitudes para si. Além das metas elencadas, de acordo com a LDBEN (1998), o currículo de EF deve instigar o aluno a reconhecer-se como ator, transformando-se e integrando-se com o objetivo de melhorar o ambiente, na medida em que se coloca de forma crítica, opinando e participando 29 de forma coerente na construção da sociedade, podendo resolver conflitos e tomar decisões em beneficio do coletivo, pois se o aluno toma conhecimento das diferenças sociais e culturais do Brasil, assume a possibilidade e capacidade de participar da constante construção da identidade nacional, valorizando a multiplicidade sociocultural, respeitando as diferentes culturas de outras nações e colocando-se contra qualquer tipo de segregação, seja de qual procedência for. Reconhecer-se como ator, transformando e integrando-se com o objetivo de melhorar o ambiente. Em seu artigo 32, da Lei 9.394, de 20/12/1996 (LDB), nota-se, de forma muita clara, que a educação ambiental e os princípios da Educação se unem para elaborar uma nova concepção de EF, posto que a proposição apresentada menciona um currículo do ensino fundamental que “terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante: (...) II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”. Reforçando o novo olhar sobre as atividades físicas escolares, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1998) estabelecem algumas diretrizes que buscam assegurar que o professor de educação física (PEF) favoreça o desenvolvimento da autonomia pessoal, na medida em que ele trabalha a dimensão das aquisições fundamentais ao indivíduo e cidadania, ou seja, as atividades físicas devem capacitar os alunos na identificação das próprias qualidades e dificuldades, dentro das práticas da disciplina, respeitando seus limites e dos demais colegas. Além do desenvolvimento da autonomia pessoal, pautada nos princípios da liberdade, da responsabilidade e da solidariedade, o trabalho com as atividades físicas escolares devem estimular o desenvolvimento de atitudes de reflexão mais consistentes para que o aluno desenvolva a tolerância e o respeito pelas diferenças; disponha-se a assumir atitudes e capacidades de relacionamento interpessoal, com base num espírito de confiança e cooperação; produza atitudes de iniciativa e criatividade condizentes a uma adaptação crítica à mudança, bem como desvele a sensibilidade para as criações culturais, artísticas e literárias, reconhecendo valores como a autodisciplina, a persistência e o trabalho contínuo (BRASIL, 1998). 30 Assim, a partir das novas orientações pedagógicas que ocorreram a partir de 1998, fica evidente que a disciplina de EF deve representar muito mais na vida de uma criança do que ensinar apenas técnicas de jogos e brincadeiras, ou seja, o currículo constitui-se em uma prática social importante no desenvolvimento social e ambiental do aluno, uma vez que este passa a compreender os mecanismos de organização e funcionamento dos diferentes grupos nos quais ele está inserido, além de proporcionar o aprofundamento da capacidade de analisar criticamente informações e situações do cotidiano, exercitando o domínio de capacidades, hábitos e técnicas de trabalho pessoal e em equipe, para a assunção efetiva de responsabilidades de âmbito escolar e cívico: formação de jovens interessados e sensibilizados para a resolução dos problemas da comunidade (Brasil, 1998). Com efeito, a EF ainda precisa desenvolver, na prática, um conjunto de saberes para o ensino básico que incorpore situações cotidianas para se reforçar não somente novas técnicas ligadas aos esportes ou “culto ao corpo”, cujos objetivos priorizam a competitividade e a vaidade, mas, prioritariamente, deve desenvolver a construção de saberes cotidianos, necessários à sobrevivência do aluno cidadão, na sociedade em que está inserido. Fica claro, então, que o foco principal da EF deve ser o de educar e conscientizar o aluno através da corporeidade e do movimento, contudo respeitando as diferenças sociais, culturais ou físicas, abrangendo de forma geral a educação socioambiental. A mudança de foco do currículo permite que os profissionais da área proponham mudanças que capacitem o indivíduo a se reconhecer no meio e atuar de forma confiante quanto as suas capacidades afetivas, físicas, éticas, estéticas, de inter-relação pessoal, de interação social, exercendo de forma consciente e coerente o papel de cidadão. O conhecimento sobre o próprio corpo torna o aluno capaz de valorizar-se e cuidar-se, adotando hábitos coerentes como princípios básicos de qualidade de vida, responsabilizando-se pela própria saúde, bem como da saúde pública. Complementando o contexto do trabalho, não se deve esquecer de que para a realização de todo o projeto e expectativas de alcançar os objetivos, é fundamental que o profissional de EF possa contar com o envolvimento e desempenho de outros colaboradores, posto que se trata de um tipo de trabalho que, para atingir seus objetivos, necessita de um trabalho coletivo, isto é, a participação de toda a comunidade escolar - gestores, professores, funcionários, alunos e pais - assumam o compromisso de uma educação integral, pois esta se concretizará nas mais variadas ações que envolverão a todos, cada um na sua função. 31 Com efeito, a proposição do professor de EF deve ser a de direcionar um currículo voltado à cooperação, com o intuito de desenvolver nos alunos o princípio da solidariedade, da reciprocidade, do respeito ao próximo e ao ambiente que o cerca, tendo consciência da capacidade de ser uma pessoa que pode transformar o meio em que vive, aceitando e incluindo o diferente e tendo a capacidade de se incluir em diferentes ambientes sociais (Brasil, 1998). 2.6. As correntes pedagógicas Atualmente convivem na área educacional, e de forma simultânea, várias tendências pedagógicas que dão suporte às linhas pedagógicas adotadas pelos professores em sua prática profissional. Trata-se de um apoio para que estas últimas tenham uma orientação quanto aos objetivos pretendidos, o estabelecimento de interdisciplinaridade, escolha de estratégias e métodos, bem como direcionamento para se estabelecer posturas e práticas tanto por parte do professor quanto do aluno. Assim, as propostas pedagógicas da EF, no contexto atual, são bem diversificadas e, embora muitas delas tenham sido forjadas no decorrer de todo o processo histórico brasileiro, contemplando situações específicas da época em que foram criadas, muitas delas, ainda, encontram-se amarradas pelas heranças esportivistas e de desempenho físico. Nota-se que as práticas de EF escolares, na atualidade, sofrem uma clara distorção, pois além de se distanciarem da realidade, muitas se assemelham a uma colcha de retalhos porque as proposições pedagógicas unidas opõem-se em seus objetivos estabelecidos à priori. (Quadro 1). 32 QUADRO 1: Correntes pedagógicas da EF Tendências Higienista/ Eugênica Finalidades Melhoria das funções orgânicas Conteúdos Procedimentos Valores, atitudes e normas Ginástica Obediência Método Francês Respeito a autoridade Formação das qualidades motoras Fatos e Conceitos -----------Submissão Método Desportivo Generalizado Esportivista Melhora fisiológica, Jogo esportivo psíquica, social e moral Busca do rendimento Esporte Lúdico -----------Eficiência Racionalidade Seleção Produtividade ----------- Iniciação esportiva Perseverante Saber ganhar e perder Psicomotricidade Educação Psicomotora Lateralidade Consciência corporal ----------- --------- Coordenação motora Construtivista Construção do conhecimento Brincadeiras e jogos populares Prazer e divertimento Mudanças das regras --------- ---------- Resgate da cultura popular Desenvolvimentista Desenvolvimento motor Habilidades locomotoras Manipulativas e de estabilidade FONTE: Darido (2003, p.25) 33 QUADRO 2: Correntes pedagógicas da EF (continuação). Tendências Finalidades Conteúdos Procedimentos Jogos cooperativos Indivíduos mais Jogos cooperativos Valores, atitudes e normas Fatos e Conceitos Cooperação Solidariedade --------Participação Críticas Leitura da Jogos, esportes, realidade social dança, ginástica e Questionador Origem e contexto da cultura corporal Capoeira Saúde renovada PCNs (3o e 4o Ciclos) Aptidão física Cidadania Integração à cultura corporal Exercício Ginástica Indivíduo ativo Brincadeiras, jogos esportes, ginásticas e lutas Participação Atividades Rítmicas expressivas Diálogo Respeito mútuo, às diferenças Capacidades físicas Cooperação Postura Conhecimento sobre o Valorização da próprio corpo cultura corporal Jogos cooperativos Informações sobre utrição, capacidades física Indivíduos mais Jogos cooperativos Aspectos históricosociais Regras Cooperação Solidariedade --------Participação Críticas Leitura da Jogos, esportes, dança Questionador realidade social Ginástica e Capoeira Origem e contexto da cultura corporal FONTE: Darido (2003, p.25) 34 Não se pense que a pretensão é a de afirmar a existência de uma corrente exata a ser trabalhada, pois seria um erro. O ideal, no processo de planejamento, é que o profissional consiga ajustar seus objetivos de acordo com as necessidades das escolas e dos alunos, posto que, em muitos momentos, percebe-se a tendência de se migrar de uma proposta à outra, numa tentativa de se tirar o que há de melhor aqui e acolá para compor um programa, mas não para suprir a necessidade do grupo a ser trabalhado. Darido (2001) observa, enfaticamente que, nos dias atuais, a ideia de que a EF deve ser uma disciplina responsável por moldar os padrões físicos do indivíduo não é mais aceita, antes ela tem como função problematizar, interpretar, relacionar e construir junto com os alunos uma compreensão da grande infinidade de manifestações da cultura corporal, levando-os a tomarem ciência dos verdadeiros significados por trás das práticas corporais. Ainda conforme essa autora, o papel da EF contemporânea precisa ir muito além de ministrar aulas, focando-se somente as questões técnicas do procedimento dos esportes, danças, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimentos sobre o próprio corpo; antes de tudo devemse incluir os valores. Assim, o papel da EF ultrapassa, intencionalmente, os limites do corpo para atingir valores subjacentes, ou seja, as atitudes que os alunos devem ter na participação das aulas, na prática das atividades corporais: o corpo, como dimensão física, é o instrumento para se chegar à dimensão atitudinal. Portanto, é preciso dar ao aluno o direito dele saber o porquê de estar realizando um ou outro movimento, ou seja, quais dimensões conceituais estão ligadas àqueles procedimentos. Visto que a EF escolar atual dever quebrar o ciclo por enfatizar o aprendizado dos conteúdos técnicos, elaborando uma ideia fragmentada, pois mesmo quando não se trabalha os o esporte, as atividades desenvolvidas são vinculadas ao modelo competitivo. Corroborando com as ideias anteriores, Fabriani (2004, p.01) destaca as contradições vividas pela sociedade brasileira contemporânea, na qual existe um diálogo entre o moderno e o antigo “que muitas vezes parece ser de surdos e mudos”, embora se trate de dois mundos que convivem em um mesmo espaço. Nesse sentido, é de extrema importância que os profissionais de EF construam uma ponte entre os dois universos como forma de elaborar propostas de trabalho que integrem a formação da consciência corporal ao seu meio social compartilhado, pois ao compreender melhor as subjetividades que envolvem as decisões individuais que, precisam ser avaliadas sob a ótica subjetiva e objetiva dos possíveis riscos, o 35 indivíduo será orientado a decidir por uma qualidade de vida, pautada em uma avaliação individual. 2.7. O Jogo na sociedade São diversas as discussões que envolvem o jogo, para discorrer sobre tal assunto recorreremos a Hizimga (1996), que em suas pesquisas relata que o jogo é inerente à natureza humana e estando ligado as praticas culturais, sociais e históricas, o autor define o jogo como: “Uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da ‚vida quotidiana (Huizinga, 1996, p. 33)”. E respeitando o valor de Hizinga em suas pesquisas sobre o jogo é necessário mostrar a evolução do jogo durante os anos. O jogo passou por diversas mudanças nas suas características e gera uma grande discussão referente às definições do jogo em: brincadeira, brinquedo ou esporte? Freire (1989, p. 116), considera que “brincadeira, brinquedo e jogo significam a mesma coisa, exceto que o jogo implica a existência de regras e de perdedores e ganhadores quando de sua pratica”. Orlick (1989), como um dos maiores pesquisadores sobre o jogo e suas influências no desenvolvimento social e cultural da humanidade, realizou vários estudos nas mais diversas culturas ancestrais, tais como, na China, Austrália (Aborígenes), Alaska (Esquimós), Canadá (Inuits) e Nova Guiné (Arapesh). Suas pesquisas beneficiaram um melhor entendimento dos benefícios e dos valores dos jogos e suas influencias nas crenças, valores e atitudes humanas ao longo do tempo. O autor relata que: “quando participamos de um determinado jogo, fazemos parte de uma minissociedade, que pode nos formar em direções variadas” (Orlick, 1989, p. 107). 36 Portanto o ato de jogar é vivenciar uma experiência aberta e os valores aprendidos dependem da forma com que se valoriza as estruturas por traz dessa “mini sociedade” que se materializa no jogo, que é capaz de ensinar tanto o respeito pelo outro e a necessidade de cuidar do próximo, como também pode aprender jogando a ser melhor que outro. Por isso a pratica pedagógica por traz do jogo se mostra tão importante, pois constroem valores sociais Orlick (1989, p. 108), e esses valores podem influenciar as crianças quando adultos, portanto é importante garantir estímulos que desenvolvam características como compaixão, tolerância e cooperação. 2.8. Os Jogos Cooperativos Percebe-se que os jogos cooperativos surgiram, exatamente, para desconstruir as ideias de valorização excessiva do individualismo e competitividade como único mecanismo de o indivíduo sobressair-se na sociedade atual, antes o conceito a ser trabalhado deve ser o da cooperação social, aliada aos valores éticos e morais como forma de constituir uma sociedade mais igualitária e equilibrada, na qual o desempenho individual seja somado aos objetivos de se construir um todo. Dentro deste contexto, Brotto (2001) define jogo cooperativo como jogos nos quais o principal objetivo é o de superar os desafios e não o de vencer o outro. O jogo é para se divertir, para participar e para que se atinja esse objetivo é necessário que todos cooperem, buscando um caminho comum sem intenção de privilégios exclusivos. Nessa perspectiva, o jogo desenvolve características importantes como tolerância, respeito e confiança, dentre outras características indispensáveis ao convívio em sociedade. Para o mesmo autor (2003), falar em cooperação implica em compreendê-la como um processo no qual os objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos os envolvidos, enquanto a competição é um processo cujos objetivos são comuns, mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns. E, para reforçar o conceito, ele destaca que no campo da psicologia social, Zajonc (1973) apud Brotto, 2003, define que uma atitude é cooperativa quando o que o indivíduo A faz é simultaneamente benéfico para A e para o indivíduo B, e o que indivíduo B faz é simultaneamente benéfico para ambos. 37 Igualmente, Brow (1994) ressalta que ao escolher os jogos cooperativos, os professores optam por desenvolver características como cooperação, empatia, estima e comunicação e que estas estão sendo esquecidas na sociedade atual e que são de grande relevância para o futuro da sociedade. Hoje, o que se vê são sentimentos como intolerância, agressividade e egoísmo, sentimentos estes que levam cada dia mais a sociedade para caminhos incertos. Portanto, os Jogos Cooperativos têm como objetivo principal o estabelecimento da participação, da unificação das pessoas, desenvolvendo coragem para que estas se arrisquem s e m preocupação com o fracasso ou sucesso focado em si mesmo. A ação que se desenvolve nos jogos cooperativos, fortalece a confiança em si e nos outros e todos podem participar efetivamente, não importando se ganha ou perde e sim o desenvolvimento pessoal e do grupo. Os Jogos Cooperativos (JC), para tanto, apresentam-se divididos em categorias distintas, e de acordo com Orlick (1989), eles dividem-se em: jogos cooperativos sem perdedores (JCSP), jogos cooperativos de resultados coletivos (JCRC) e jogos cooperativos de inversão (JCI). Em síntese, os JCSP caracterizam pela ausência de perdedores, pois forma um grande grupo, no qual prevalece um tipo de ação plenamente cooperativa; nos JCRC é possível formar uma ou mais equipes que desenvolvem a cooperação dentro da própria equipe e entre as equipes, entretanto, o seu principal objetivo é uma meta em comum e por último tem-se o JCI, no qual se destaca a ideia de independência, através da aproximação e troca de jogadores que começam em equipes diferentes e a organização pode ser através de rodízio pré-estabelecido pelos jogadores. Ainda que se considere a evolução da EF escolar nas questões teóricas, os modelos tecnicistas e competitivista são frequentes na pratica pedagógica, ou seja, o modelo da competição formal no qual se valoriza o desempenho de uma pequena parte do grupo. Pois de acordo com Darido (2005), mesmo aqueles professores que diversificam e aprofundam suas aulas a influência esportiva ainda predomina. Assim, subjacente à proposta de JC no ambiente escolar, residem conceitos presentes na proposição da UNESCO (1994) que é o de vivenciar atividades educativas que promovam a tolerância, a sociabilidade, o respeito às diferenças, a compreensão da singularidade e complementaridade, como os princípios da aceitação das diferenças e reciprocidade como base da cooperação e cultura da paz. 38 Após a reflexão de alguns conceitos e características sobre os Jogos Cooperativos e aprofundamento de conhecimento sobre o assunto, pode-se citar o pesquisador Walker 1 (1987, apud Brotto, 2001) que, após observar crianças realizando jogos cooperativos e competitivos em ambiente escolar, estabelece um quadro comparativo entre as duas atividades e as resume de forma objetiva. (Quadro 3) QUADRO 3: Comparativo de Jogos Cooperativos e Competitivos JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS São divertidos apenas para alguns São divertidos para todos Alguns jogadores têm o sentimento de derrota. Todos os jogadores têm um sentimento de vitória. Alguns jogadores são excluídos por sua falta de habilidade. Todos se envolvem independentemente de habilidade. sua Aprende-se a ser desconfiado, egoísta ou se sentir melindrado com os outros. Aprende-se a compartilhar e a confiar. Divisão por categorias: meninos X meninas, criando barreiras entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão. Há mistura de grupos que brincam juntos criando alto nível de aceitação mútua. Os perdedores ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores. Os jogadores estão envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades. Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa de “ruim” acontece aos outros. Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros e desejam também o seu sucesso. Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade. Os jogadores perdem a confiança em si mesmos quando eles são rejeitados ou quando perdem. Desenvolvem a autoconfiança porque todos são bem aceitos. Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns jogadores um sentimento de desistência em face de dificuldades. A habilidade de perseverar face às dificuldades é fortalecida. Poucos se tornam bem sucedidos. Todos encontram um caminho para crescer e desenvolver. Fonte: WALKER (1987). 1 WALKER, Z. J. Educando para a paz. Brasília: Escola das Nações, [ 1987]. 39 Após a análise do quadro 2, pretende-se ressaltar a importância da EF no contexto escolar, bem como proporcionar reflexões que permitam ao professor a organização de atividades que garantam oportunidade para todo o grupo e não apenas a uma minoria que se enquadra nos padrões das atividades competitivas. Em Brotto (2003) o autor faz referência aos casos de cooperação entre os indivíduos, ao longo da história da evolução da humanidade, pois tal situação demonstra que nas sociedades primitivas seus integrantes eram indivíduos livres que viviam de forma coletiva e cooperativa respeitando os direitos de todos, uma vez que viviam à base da pesca, da caça e da colheita. Suas habitações tinham características que deixavam claras o convívio em sociedade, pois buscavam o suficiente para sua sobrevivência e não tinham preocupação em acumular riquezas. Não existia divisão de classes sociais, viviam em uma grande comunidade sem exploração do homem, dividiam os recursos naturais sem esgotá-los e, se necessário, escolhiam um líder de forma coletiva. Portanto, fica claro que a proposição de se instituir a cooperação e os jogos nos contextos escolares atuais é uma necessidade. Pois o homem esgota os recursos naturais em favor de um acúmulo de riquezas de que de nada será útil em vista da destruição do seu habitat natural: o planeta Terra. Desenvolver a cooperação, com a intenção de melhorar a percepção do ambiente geográfico pode tornar o indivíduo responsável pelo seu espaço, agindo de forma coerente e usufruindo dos recursos sem esgotá-los. Daí a opção por atividades que valorizem a cooperação, o respeito e a melhor percepção do todo que nos cerca. Não há a pretensão de que os esportes sejam excluídos dos currículos escolares, mesmo porque eles integram parte do mesmo, porém, é preciso rever a forma de interpretação dessas atividades, na medida em que se retira o foco do resultado, seja da derrota seja da vitória e comece a valorização pelo gosto em praticar uma atividade esportiva e poder utilizá-la para destacar o prazer do encontro e da alegria de jogar, inserido num grupo que é ao mesmo tempo parceiro das atividades físicas e também da mesma sociedade (Brotto, 2001). 40 2.9. O Jogo no Ambiente Escolar Transportando, então, as reflexões sobre a importância dos JC para as situações práticas da vida escolar, pode-se considerar o proposto por Fabriani (2004) em relação à contribuição da psicologia ambiental que assegura que: estudar a concretude da experiência humana no ambiente para, desenvolvendo explicações sobre o sociologismo, propiciam, através de seus programas de investigação, conhecimentos sobre como se adapta o homem ao sistema-mundo e como este sistema-mundo se interioriza na subjetividade deste homem. (Fabriani:,2004, p.20) Nesse sentido, o espaço escolar constitui-se em um espaço de locução adequado e necessário para que ocorra “a desistrumentalização dos preconceitos, possibilitando a participação efetiva do cidadão na construção do seu viver” (Fabriani, 2004, p.20), quando o professor, antes de iniciar as atividades de algum JC, constrói um espaço de interlocução, no qual esclarece as condições em que a participação dos integrantes vai ocorrer, através do estabelecimento intencional da organização espacial e das intervenções ao longo do processo, bem como possibilita ao aluno manifestar-se no jogo dialético, na troca de interlocutores. Segundo Dell´Agli (2002), o jogo de regras, no contexto escolar, assumiu uma grande importância nos últimos anos e o estudo dos JC tem grande relevância para entender melhor a evolução e a importância dessas atividades na perspectiva da Educação quanto a sua responsabilidade ao declarar o diálogo como elemento fundamental na mediação com o outro, mostrando a relação de alteridade existente nas relações interpessoais, ou seja, o outro que é companheiro de jogo também é outro distinto e diferente, mas contribui para com a formação de um coletivo. Reverdito e Scaglia (2006), pesquisando as principais abordagens da Pedagogia do Esporte, comprometidas com a ruptura ideológica e paradigmática do modelo tecnicista, mostram que elas não apresenta um aprofundamento nas discussões referentes às competições. Analisaram várias metodologias e iniciações esportivas, dentro das aulas e dos jogos educativos, mas não 41 foi encontrado organizações das competições que estruturem uma competição pedagógica, sem negá-la. O autor ressalta ainda a importância de se manter a característica espontânea e infantil do jogo esportivo, já que o jogo é vivido pela criança como uma realidade autêntica, sendo indispensável à experiência do corpo, pois desenvolve as funções mentais e é de grande importância para o desenvolvimento social da criança. Assim sendo, os jogos de regras podem ser citados pela sua grande relevância na formação do indivíduo, ao favorecerem o desenvolvimento de atitudes sociais, de organização, de comunicação e de cooperação. Além disso, tais jogos trazem à tona os problemas de liderança e de rivalidade para serem discutidos pelo grupo. Analogamente, Kishimoto (1992) analisa as relações entre o jogo, a criança e a educação numa perspectiva histórico-antropológica e psicopedagógica e, de acordo com a autora, o jogo assume significados diferentes conforme o contexto social em que se insere. Assim, compreender o jogo nos tempos passados, requer a identificação da imagem da criança presente no cotidiano de um dado tempo histórico. Ela afirma ainda que cada tempo histórico compreende uma hierarquia de valores que oferece uma organicidade à heterogeneidade característica da vida cotidiana. São esses valores que direcionam a construção de um grupo de imagens culturais que se refletem nas concepções da criança e no seu brincar. De acordo com Brenelli (1986), dentro da teoria piagetiana, os jogos têm uma grande importância para o desenvolvimento cognitivo das crianças, pois com suas diferentes estruturas, exercícios, símbolos e regras permitem a elaboração desde a cooperação até as interações sociais e o entendimento das regras pelas crianças, sendo indispensáveis na formação cognitiva afetiva e sócio moral delas. Portanto, a utilização dos jogos de regras, nas aulas de EF é papel do educador que busca imprimir na comunidade escolar o diálogo como instrumento diário, a fim de proporcionar aos alunos a construção de laços de confiança, bem como a compreensão de que da mesma forma que os conflitos são inseparáveis do processo dialógico, eles também fazem parte do processo de crescimento e maturidade de cada indivíduo. 42 Em outras palavras, na perspectiva educacional, os espaços escolares também precisam reaprender com as diferenças e construir projetos que assegurem a condição do aluno de pertencer àquele espaço de construção dos saberes, posto que o indivíduo consiga pensar outras práticas somente a partir do confronto com a alteridade, sendo esta a responsável pela reformulação dos conhecimentos acerca do mundo que o rodeia e, para tanto ele precisa vivenciar a diferença e se envolver em uma interação construtiva para mediar os conflitos oriundos do próprio processo interativo. 43 3. Procedimentos da pesquisa campo 3.1.Procedimentos metodológicos A metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa de campo, teve como seu alicerce o método da pesquisa-ação como forma de uma melhor interação entre pesquisador e o grupo avaliado, uma vez que se trata de uma metodologia coletiva, na qual as discussões são mais favorecidas, bem como se institui uma produção cooperativa de conhecimentos específicos sobre a vida cotidiana do grupo, tirando a pesquisa somente do foco burocrático e acadêmico. Através do estabelecimento do diálogo como elemento capaz de desvelar subjetividades, a meta foi dar realmente voz aos indivíduos para se observar o funcionamento das estruturas interativas na comunidade (THIOLLENT, 2005). Franco (2005) descreve a pesquisa-ação no Brasil de três formas diferentes na sua conceituação: Pesquisa-ação colaborativa, na qual o pesquisador tem como função tornar científicas as mudanças que foram causadas pelo grupo. Pesquisa-ação crítica, que enfatiza os processos de aprendizado e construção que surgiu através da reflexão crítica do grupo. Pesquisa-ação estratégica, que é uma transformação previamente estruturada sem a participação do grupo. Ao se levar em consideração a importância do diagnóstico das necessidades do grupo, a construção proposta vem ao encontro a suprir eventuais carências e será utilizada a proposta da pesquisa-ação colaborativa. A pesquisa-ação se sustenta em quatro momentos metodológicos, sendo o diagnóstico, a ação, a avaliação e a reflexão. No primeiro momento - o diagnóstico - foi identificado com a direção e coordenação da escola, que estão diariamente com os alunos, os indivíduos que fizeram parte do grupo e receberam o convite para participar da pesquisa. A partir deste ponto, o pesquisador e os pesquisados definiram o planejamento da ação, fazendo a análise das possibilidades de sugestões para solucionar os conflitos. O segundo momento é a ação em si, ou seja, a mudança definida pelo grupo que segundo Thiollent (2005), a ação corresponde ao que necessita ser desenvolvido ou transformado com o objetivo de solucionar algum problema. Este momento correspondeu a duas fases, na 44 primeira foram apresentadas aos alunos as possibilidades de jogos e estes escolheram as atividades, após isso foram aplicadas sessões de jogos cooperativos. Em seguida, iniciou-se o terceiro momento da avaliação do processo e dos resultados, ou seja, avaliação cíclica, pois no início de um projeto coletivo, a meta deve ser relativamente clara, com a eliminação de qualquer mal entendido. Esta etapa contou com o auxílio das filmagens das sessões de jogos, onde os vídeos das sessões foram transcritos em texto e foram criadas categorias de análise. A estas informações foram somadas às informações coletadas nas fichas de identificação do aluno e os registros no livro de ocorrência referente ao comportamento do grupo em ambiente escolar. No quarto momento iniciou-se o processo de reflexão e foi nesse estágio da pesquisa que ocorreu toda a transformação quanto às formas de pensar e agir, formando um aprendizado gradual do pesquisador pelos indivíduos estudados e isso permitiu mensurar o desenvolvimento do grupo durante o projeto, possibilitando ao pesquisador entender de forma mais ampla o desenvolvimento do pensamento, habilidades e atitudes desses indivíduos. A partir dos dados coletados, utilizou-se a análise do conteúdo proposta por Bardin (2002), relacionando as situações de vulnerabilidade social com os comportamentos no ambiente escolar e nas sessões de jogos cooperativos. A partir das análises, os momentos de reflexão buscaram averiguar de que forma o jogo cooperativo contribuiu para o desenvolvimento da percepção ambiental de crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social. 3.2. Descrição de Campo A pesquisa foi desenvolvida no Estado de São Paulo, no município de Mogi Guaçu, que é cortado por um rio, cuja origem de seu nome foi dada pelos indígenas que habitavam a região, significando "Grande Rio Que Serpenteia". Com a chegada dos bandeirantes que passavam pela região rumo ao oeste do Estado de Minas Gerais e Goiás, a procura de ouro, a população indígena diminui e dá início a formação de um vilarejo que serviria de pouso para os viajantes. 45 O crescimento econômico se dá com a produção de café, favorecida pela implantação do ramal da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 1975. A partir de 9 de abril de 1877, a Freguesia de Conceição do Campo passou a ser chamada de Mogi-Guaçu, tornando se comarca em 30 de dezembro de 1877. Com a abolição da escravatura iniciou-se em Mogi-Guaçu a fase industrial do município que, através dos imigrantes italianos introduziram as primeiras cerâmicas no município. O pioneiro foi o padre José Armani com sua fábrica de telhas e até hoje as cerâmicas ainda fazem parte das indústrias do município. O município de Mogi-Guaçu situa-se no interior do Estado de São Paulo, próximo à região administrativa de Campinas. Segundo informações do Censo do IBGE feito em 2008, o município possui 141.365 habitantes. No último dia 09 de Abril de 2012, o município completou 134 anos de emancipação político-administrativa. FIGURA1: Localização do Município de Mogi-Guaçu, Estado de São Paulo. Fonte: Imagem: SãoPaulo_MesoMicroMunicip. svg Raphael Lorenzeto de Abreu (2012) 3.3. A Vulnerabilidade Social em Mogi-Guaçu De acordo com dados apresentados pelo SEADE (2010), o município de Mogi – Guaçu que possuía no ano de 2000 mais de 124.000 habitantes e desses 46,4% tinha renda mensal máxima de três salários mínimos e 6,1 anos de estudo em média, 36,9% com ensino fundamental completo, e 7,9% analfabetos. De acordo com dados demográficos, a idade média dos chefes de domicilio era de 45 anos e a população com menos de 30 anos chefes de 46 domicílio representavam cerca 13,3% do total. As mulheres chefes de família correspondem a 17,7% e a parcela da população que corresponde a crianças com menos de cinco anos equivale a 8,1%. Em Mogi-Guaçu, conforme os dados do SEADE (2010), a população em ambiente de vulnerabilidade social se divide em seis grupos do IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social) conforme gradientes de condições sócio econômicos e perfil demográfico. Figura 2: Distribuição da população segundo o índice paulista de vulnerabilidade (IVPS) no estado de São Paulo e no município de Mogi-Guaçu Fonte: IBGE censo demográfico Seade (2012) Conforme a figura 02, o gráfico que compara a vulnerabilidade do estado de São Paulo e o município de Mogi-Guaçu pode notar que na soma das categorias de vulnerabilidade, há apenas 1% da população do município de Mogi-Guaçu que não está exposta a nenhuma vulnerabilidade, ou seja, cerca de 99% da população sofre exposição a algum tipo de vulnerabilidade. Comparando os índices de vulnerabilidade do estado de São Paulo com o da cidade de Mogi Guaçu, pode-se observar que o grupo exposto à vulnerabilidade muito alta é menor na área urbana de Mogi, provavelmente devido ao tamanho da população e a baixa densidade 47 populacional na área urbana que oferece melhores opções de moradia. Enquanto que alta exposição apresenta-se mais elevada na zona rural, o que pode ser atribuído a uma maior população rural em áreas com difícil acesso a equipamentos sociais e infraestrutura de serviços. Grande parte da população (63,3%) apresenta um nível de exposição baixa e muito baixa que pode ser atribuído a bons níveis de renda e emprego por ser tratar de cidade com amplo parque industrial. A figura 2 mostra também que a cidade de Mogi-Guaçu na categoria Nenhuma Vulnerabilidade tem dados inferiores aos comparados ao estado, 1% contra 6,9% do Estado, no item Vulnerabilidade muito Baixa, o município apresenta 30,7% contra 23,3%, do Estado, no item Baixa Vulnerabilidade, Mogi-Guaçu apresenta 32,6%, contra 22,2% em relação ao Estado, no item Vulnerabilidade Média 9,7% da população de Mogi-Guaçu contra 20,2% do Estado, com relação ao item Vulnerabilidade Alta, o município apresenta 20,2% contra 17,6% do estado e no ultimo item Vulnerabilidade Alta, Mogi-Guaçu apresenta 5,9% dos seus habitantes contra 9,8% do estado de São Paulo. De forma geral, comparando a média estadual, o município de Mogi-Guaçu se mostra com números maiores no que diz respeito à vulnerabilidade. A pesquisa foi desenvolvida na EMEF “Professora Claudina de Oliveira Ramos”, localizada à Rua Joaquim Rodrigues da Silva, n° 555, no bairro Rural denominado “Chácaras Alvoradas” e foi criada conforme Decreto Municipal nº 7639/99 de 03/08/1999 e iniciou suas atividades em 28/09/1999. Em 2012, a Unidade Escolar contava com 16 funcionários, 23 professores, 01 quadra poliesportiva e 19 salas de aula em funcionamento e atendendo a 295 alunos residentes nas Chácaras Alvorada, bem como sítios e fazendas localizadas nas cercanias do bairro. Possui ainda a sala para atendimento para alunos com necessidades Educacionais Especiais – N.E.E. A opção pela escola foi feita pela sua localização, pois se trata de um bairro afastado, que segundo o SEADE (2010) quanto mais afastado do centro, ou seja, quanto mais na periferia, maior a exposição aos fatores de vulnerabilidade. 48 FIGURA 2: Mapa mostrando a localização da Escola E.M.E.F.”Professora Claudina de Oliveira”. FONTE: Google imagens 2011 3.4. Tamanho Amostral O estudo foi desenvolvido com uma população de 25 alunos, de ambos os sexos, com idade de 09 a 11 anos, sendo que o grupo era constituído de 16 meninos e 9 meninas, participantes do projeto AICA (Atendimento Integral a Crianças e ao Adolescente), que acontece no período contrario das aulas regulares. Estes alunos estão incluídos na categoria de vulnerabilidade social e integram a comunidade de risco, em situação vulnerável de acordo com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) por se encontrarem dentro dos critérios de inclusão e exclusão. E como toda pesquisa social empírica que seleciona evidências para argumentar, há a necessidade de justificar tal escolha, que é à base da investigação, descrição, demonstração, prova ou refutação de uma afirmação especifica (Bauer, 2002). De acordo com Barthes (2006), o corpus é constituído de uma seleção finita de materiais, escolhido de forma prévia pelo pesquisador e de certa forma arbitrária, com o qual ele irá desenvolver a pesquisa. Portanto, a necessidade da construção de um corpus que é a escolha sistemática de algo racional, que garante a fidedignidade de uma amostra para caracterizar uma população, seguiu-se alguns critérios estabelecidos a seguir. 49 3.4. Critérios de Inclusão no Grupo de Observação a) Ser aluno regular e devidamente matriculado no ensino fundamental da Unidade em questão; b) Estar inserido em ambiente familiar vulnerável conforme estabelecido pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS); c) Família assistida pelos programas Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou Centro Especializado de Assistência Social (CREAS); d) Aceitação da família pela participação da pesquisa. e) Atender aos itens citados acima. 3.5. Critérios de Exclusão a) Falta de assiduidade escolar; b) Não consentimento do responsável; c) Aluno não apto a participar das aulas de EF. 3.6.Técnicas e testes O presente estudo se utilizou de um método qualitativo que se fez através de um corpus materializado no elemento linguístico escrito e oral associado à imagem e a coleta foi feita através de filmagens. Na amostragem estão presentes relatórios dos participantes, os gestos, as falas, os diálogos, a exposição do pesquisador, enfim toda forma de interação estabelecida 50 durante as sessões que representam uma gama de textos diversificados que estão guardados de forma eletrônica (Bauer e Gaskell, 2004). Todas as gravações e textos integraram as estratégias de pesquisa como forma de se estabelecer uma visão do coletivo e captar informações necessárias para as análises que foram motivadas pela pergunta inicial: qual e que tipo de contribuição os jogos cooperativos podem proporcionar aos alunos em situação de vulnerabilidade social quanto à elaboração da percepção do ambiente? Quanto à análise do conteúdo, definida aqui como um conjunto de técnicas de análise de comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (Bardin, 1977). Estes dados foram organizados na forma de quadros destacando a resposta das crianças segundo as categorias de análise propostas no quadro nº 4. QUADRO 4: Pontos de orientação para investigação, oriunda do objeto de pesquisa. Elemento central: cooperação, percepção do ambiente e vulnerabilidade social; Operacionalização: tratamento dado ao conteúdo; seleção, organização e sistematização. Categorias analíticas: intolerância, insegurança, confiança,cooperação, solidariedade e egoísmo; Categorias empíricas: organização espacial, agressividade cumprimento de regras, agrupamentos por gênero; Indicadores para análise de conteúdo Fonte:Souza Jr. et. Al. (2010) Primeira etapa – diagnóstica Nesta etapa o pesquisador entrou em contato com a escola e selecionou os alunos que se encontravam em situação de vulnerabilidade social, para constituição da população a ser estudada. E, de posse da relação das crianças, foi efetuada uma reunião com os pais desses alunos para entrega do termo de consentimento livre e esclarecido e aclaramento de possíveis dúvidas. 51 Os alunos foram convidados a participar da pesquisa e somente integraram o corpus da pesquisa as crianças que realmente vivenciavam situações de vulnerabilidade social. Foi realizada, através da tabulação, a análise dos dados disponíveis na ficha de identificação do aluno, ou seja, documento preenchido na ocasião da entrega do termo de livre consentimento esclarecido aos pais, pois apesar da escola já conter uma ficha (modelo no anexo A) que é preenchida no ato da matrícula, é uma forma de garantir que as informações sejam atualizadas para melhor confiabilidade dos dados sobre a criança e sua família. Nessa ficha constavam informações importantes sobre histórico socioeconômico familiar e estas são de extrema relevância para o presente trabalho, assim como estar apto a participar das sessões. Todas as informações colhidas nas fichas foram somadas aos relatórios das sessões de aulas de EF para verificar possíveis mudanças de comportamento nas interações sociais do grupo de alunos. O corpus deste estudo foi constituído da filmagem e os diversos textos - oral e escrito - dos alunos do ensino fundamental. Estes alunos participaram de sessões de jogos cooperativos definidos pelo grupo na primeira reunião. 3.6.1 . Instrumentos Os instrumentos utilizados foram sessões gravadas de jogos cooperativos, os relatórios preenchidos pelos alunos e as discussões coletivas. Vale lembrar que foi feito um estudo piloto onde os dados corroboraram com o resultado da pesquisa e serviram para melhorar a metodologia aplicada. 3.6.2 . Procedimentos Segunda etapa – ação Assim que foram marcadas as sessões de jogos cooperativos, foram selecionados três jogos cooperativos a serem desenvolvidos pelos alunos nas sessões; dentre os três jogos, os 52 participantes optaram por dois jogos por sessão, sendo que eles podiam trocar os jogos para a próxima sessão. A opção por esses três jogos se deu pela característica especial de todos os jogos como cooperação, facilidade de execução, por não precisar de materiais que poderiam não estar disponíveis na escola e também por serem jogos divertidos e dinâmicos. No total foram propostas quatro sessões, realizadas uma vez por semana, durante quatro semanas, os encontros eram no período contrário as aulas, quando as crianças estavam participando do projeto AICA e eram dispensadas durante 2 horas para participarem da pesquisa. Ao final de cada sessão foi realizada um conversa em grupo para saber a opinião dos participantes sobre o jogo. A partir da segunda sessão foi feita uma reunião com os alunos para assistirmos os vídeos da sessão anterior, estas reuniões foram filmadas e essas filmagens foram somadas às demais para a análise do conteúdo. Tal procedimento é denominado autoescopia e é caracterizado por ser uma técnica de formação e pesquisa que usa da vídeo-gravação de ações de um ou mais sujeitos, em um dado momento ou situação, tendo como objetivo posterior à autoanálise delas. Na sua essência a autoescopia se estrutura em dois momentos indispensáveis: a videogravação propriamente dita da situação a ser analisada e as sessões de análise e reflexão (SADALLA e LAROCCA, 2004). Também foram utilizadas fichas de experiência (ANEXO 2) para que houvesse uma melhor compreensão da percepção dos alunos sobre as sessões de jogos cooperativos e as reuniões posteriores aos jogos. Segundo Zuker (2002), as fichas de experiências são instrumentos simples para que os indivíduos estudados possam expor suas práticas e seus conhecimentos sem maiores dificuldades, possibilitando a essas pessoas que descrevam de forma fácil seus aprendizados e experiências através de breves relatos. 53 Os jogos cooperativos escolhidos pelos participantes são: a) jogo cooperativo “ponte de corda”- consiste em um entrelaçado de duas cordas no qual os alunos sustentam-se, segurando na corda e formando uma ponte para que os colegas possam atravessar de um ponto ao outro; Figura 3: foto ilustrando jogo cooperativo “ponte de corda” Fonte: google imagens (2011) 54 b) Jogo cooperativo “pega - pega corrente” este jogo consiste em um pegador que ao pegar os colegas vão formando uma corrente que vai ficando cada vez maior até que todos deixem de ser fugitivos para ser pegadores (Figura 4). Figura 4: foto ilustrando jogo cooperativo “pega – pega corrente” Fonte: google imagens (2011) c) Jogo “pega – pega golfinhos e sardinhas” O jogo se baseia no pega-corrente. Todos os participantes, menos um, ficam agrupados numa das extremidades do espaço. Esse é o "cardume de sardinhas". Aquele que está separado das sardinhas é o "golfinho" e ficará sobre uma linha demarcada bem no centro do "oceano", que é o espaço do jogo. O golfinho só pode se mover para os lados, e sobre essa linha. As sardinhas têm que passar para outro lado do oceano (linha central) sem serem pegas pelo golfinho. Este tem que pegar o maior número possível de sardinhas, bastando tocá-las com a mão. Toda sardinha pega transforma-se em golfinho e fica junto com os demais sobre a linha central. Lado a lado e de mãos dadas, vão formando uma corrente de golfinhos. 55 Figura 5: jogo coperativo “pega pega golfinho sardinhas” FONTE: Arquivo pessoal Terceira etapa – avaliação Todas as sessões foram filmadas e a partir das condutas observadas durante os jogos foram criadas categorias de análise. Para a análise do conteúdo e para orientação no processo de análise, utilizou-se Bardin (1977) como referência principal, utilizou-se da análise do conteúdo (AC) o qual a autora descreve ser “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Na análise de conteúdo, Bardin (1977) aponta como pilares a fase da descrição ou preparação do material, a inferência ou dedução e a interpretação. Dessa forma, os principais pontos da pré-análise são a leitura flutuante (primeiras leituras de contato os textos), a escolha do material (no caso as filmagens transcritas), a formulação das hipóteses e objetivos (relacionados com a pesquisa), a referencia dos índices e elaboração dos indicadores (a frequência de aparecimento) e a preparação do material. Por isso, todas as 56 sessões de jogos foram registradas através de filmagens, transcritas na íntegra e autorizadas pelos participantes. Para o tratamento dos dados a técnica da análise categorial foi utilizada que, de acordo com Bardin (2002), baseia-se em operações de desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias. Assim, na fase seguinte, exploração do material, tem-se o período mais duradouro: a etapa da codificação, na qual são feitos recortes em unidades de contexto e de registros. De acordo com Bardin (2002), unidade de registro (UR), apesar de dimensão variável, é o menor recorte de ordem semântica que se liberta do texto, podendo ser uma palavra-chave, um tema, objetos, personagens, etc. Já unidade de contexto (UC), em síntese, deve fazer compreender a unidade de registro, tal qual a frase para a palavra. A fase da categorização, no qual os requisitos para uma boa categoria são a exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade e fidelidade e produtividade. A definição de categorias é realizada após a coleta de material, mantendo-se um estreito contato com as informações e dando oportunidade à interlocução entre o pesquisador e o corpus. Na sua organização busca-se uma apresentação que visualmente também colabore com os procedimentos de análise. As categorias foram classificadas em empiticas que referem-se principalmente a experiência em si e analíticas que referem-se à percepção. (RODRIGUES e FABRIANI, 2008). Já a última fase, do tratamento e inferência à interpretação, permite que os conteúdos recolhidos se constituam em dados quantitativos e/ou análises reflexivas, em observações individuais e gerais das filmagens. Quarta etapa – reflexão A partir dos dados coletados buscou-se analisá-los, relacionando as situações de vulnerabilidade social e as sessões de jogo cooperativo e a partir das reflexões averiguarem se o jogo cooperativo contribui positivamente para o desenvolvimento da percepção do ambiente das crianças que vivem situações de vulnerabilidade social. 57 4. Discussão dos resultados e considerações finais 4.1. Identificações das situações de vulnerabilidade Após a análise dos dados coletados nas fichas socioeconômicas - Anexo 1 - observa-se nas tabelas 1 e 2, relativo à escolaridade dos pais, que grande maioria dos homens e das mulheres (77,27%), que são os provedores das famílias, apresentou baixa escolaridade, com apenas ensino fundamental, sendo que parte desses pais nem chegou a concluir o ensino fundamental I. Tal análise evidencia uma lacuna no nível de conhecimento dos pais com reflexos negativos sobre a percepção ambiental da família, considerando que não oferecem um ambiente rico de significados, no qual as crianças possam desenvolver a percepção do ambiente onde vivem. Tabela 1: Grau de escolaridade paterna Itens Alunos % NÃO ESTUDOU 1 4,55 ENSINO FUNDAMENTAL I 11 50,00 ENSINO FUNDAMENTAL II 6 27,27 ENSINO MÉDIO 2 9,09 SEM RESPOSTA 2 9,09 TOTAL 22 100 FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor 58 Tabela 2: Grau de escolaridade materna Itens Alunos % NÃO ESTUDOU 0 0,00 ENSINO FUNDAMENTAL I 11 50,00 ENSINO FUNDAMENTAL II 6 27,27 ENSINO MÉDIO 3 13,64 SEM RESPOSTA 2 9,09 TOTAL 22 100 FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor De acordo com as informações da tabela 3, a maior parte do grupo estudado, cerca de 63,63% tem família constituída de forma estruturada com mãe e pai vivendo juntos, em contrapartida cerca de 31,82% tem algum tipo de desestruturação familiar , sendo que dessa porcentagem 9,09% vive somente com a mãe, 18,18% com a mãe e padrasto, 4,55% com os avós. Esse desarranjo na estrutura familiar pode influenciar de forma negativa no desenvolvimento da criança. Para Kaloustian e Ferrari (1994), o núcleo familiar é o ambiente indispensável que garante a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e outros membros. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bemestar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal; são em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e morais e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados os valores culturais. Sarti (1996,) argumenta que a família não se constitui somente na relação afetiva mais sólida dos pobres, na qual centralizam os mecanismos da sobrevivência espiritual e material, antes é no princípio que gera toda a forma de viver e sustentabilidade na identidade social, pois os valores estão relacionados à identidade social e esta é a medida simbólica que permite avaliar as situações e compreender os fenômenos do mundo. 59 Petrini (2003) acrescenta que, no decorrer da evolução histórica, a família permanece como matriz do processo civilizatório, como condição para a humanização e para a socialização das pessoas. A educação bem-sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto. A família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas. Tabela 3: situação familiar ITENS OS PAIS ALUNOS 14 % 63,64 A MÃE 2 9,09 MÃE E PADRASTO 4 18,18 AVÓS 1 4,55 SEM RESPOSTA 1 4,55 TOTAL 22 100 FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor Ao analisar a tabela 4, pode-se observar informações referentes à moradia, cerca de 50% metade dos indivíduos não possui casa própria e, portanto sem estabilidade do local de moradia, pois são residências emprestadas ou alugadas. Esse fato é agravado porque o grupo estudado reside em uma região rural, longe dos sistemas de assistência básica de saúde, com sistemas de água, esgoto, energia elétrica e coleta de lixo precária. Outro agravante é a questão das famílias que destinam parte do seu orçamento para custear despesas com aluguel, onerando ainda mais o orçamento e vindo a impactar diretamente na capacidade das famílias proverem as necessidades básicas da mesma. 60 Tabela 4: condição da moradia ALUNOS % ALUGADA 7 31,82 PRÓPRIA 10 45,45 EMPRESTADA 4 18,18 SEM RESPOSTA 1 4,55 TOTAL 22 100 FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor No que diz respeito à tabela 5, observa-se que cerca de 45,45% das famílias são assistidas pelo programa social do Governo Federal denominado de “ Bolsa Família” , o que não só evidencia como caracteriza uma situação de famílias vulneráveis do ponto de vista sócioeconômico e sem condições de autonomia para gerir seu próprio sustento. Tabela 5: beneficiadas pelo benefício social bolsa família ALUNOS % SIM 10 45,45 NÃO 12 54,55 Total 22 100 FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor Analisando a tabela numero 6, pode-se notar que 59% das famílias apresentam renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, renda que os colocaria na maioria dos casos fora dos programas de transferência de renda. Ainda nesta tabela, 27% recebem até um salário mínimo, o que parece contradizer os 45% que são beneficiados com estes programas conforme tabela 5. Vale ainda 61 observar que os dados da tabela 6 são informados pelos pais, sem confirmação da escola e os dados podem estar maquiados para cima enquanto os da tabela 5 são informados pelo Governo. Finalmente pode-se confirmar que se trata de uma população na situação de vulnerabilidade pelas características de renda, moradia e baixa escolaridade dos pais, embora a estrutura familiar esteja em sua maior parte resguardada. Tabela 6: Renda familiar ALUNOS % ATÉ 1 SALÁRIO MÍNIMO 6 27% DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS 13 59% DE 2 A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS 0 0% DE 3 A 4 SALÁRIOS MÍNIMOS 0 0% DE 4 A 5 SALÁRIOS MÍNIMOS 0 0% MAIS DE 5 SALÁRIOS MÍNIMOS 1 5% SEM RESPOSTA 2 9% TOTAL 22 100% FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelo autor 62 4.2. Caracterização da resposta das crianças aos jogos cooperativos Nesse sentido, observa-se uma evolução da compreensão do grupo de crianças com relação ao ambiente ao longo dos 4 dias de intervenção. Apesar de em um primeiro momento, parte do grupo de alunos se mostrarem contrário aos jogos cooperativos, durante as sessões a euforia e o entusiasmo tomou conta do grupo em participar das atividades, após ver o resultado da mesma e houve uma grande aceitação dos jogos pelo grupo. De acordo com o quadro de tratamento de informações numero 1, que se refere ao primeiro dia de coleta, analisando os indicadores de inter-relação empíricos na atividade “ponte de corda”, ficaram mais evidentes as categorias organização espacial e agressividade, acompanhadas por uma grande euforia por parte dos alunos. A euforia demonstra que os alunos estavam motivados a participar dos jogos cooperativos, fato que mostra uma não alienação por parte dos alunos, desvelando a característica de um individuo participativo e a agitação demonstra uma predisposição por parte dos alunos aos jogos cooperativos, mesmo não sendo o jogo que eles mais gostam que é o futebol, isso tanto por parte dos meninos quanto das meninas. Quanto à organização espacial, na primeira atividade que é uma atividade em que os alunos precisam estar em uma formação especifica, essa situação força os alunos a se manterem mais organizados para que o jogo aconteça, visto que a organização espacial engloba vários aspectos da organização do espaço até as relações sociais, segurança, confiança, autonomia. Portanto, a organização do espaço é inerente ao contexto do ambiente e a sua analise é de grande importância para a compreensão do desenvolvimento humano, avaliando se suas interações com o meio natural estão de acordo para poder manter a sustentabilidade do animal homem no seu habitat. Com relação ao item agressividade percebe-se que em muitos momentos as agressões verbais, que são aquelas que mais ocorrem, são parte do cotidiano deles e são praticadas por eles como simples ações de comunicação e muitas vezes de defesa, sendo predominantemente o modo que eles têm de se expressarem. 63 4.2.1. Primeiro dia de Coleta 4.2.1.1. análise dos indicadores de inter-relação Ainda analisando o quadro número 4, mas com o foco nos indicadores de inter-relação analíticos, os índices que mais se destacaram foram intolerância, insegurança e confiança. Quanto ao indicador intolerância, nota-se que ela está presente durante toda atividade, desde inicio na formação das duplas para segurar a corda até a realização da atividade, com a passagem pela ponte, onde surgiram alguns conflitos. De acordo com Eco (2001) o fato de ocorrer certo nível de recusa do diferente é parte da natureza humana: “a intolerância em relação ao diferente ou ao desconhecido é natural na criança, tanto quanto o instinto de se apossar de tudo quanto deseja”. Mas, da mesma forma que se educa para a criança respeitar os bens do próximo, deve-se educá-la para que se tolere o diferente. Ficou evidente que a todo o momento o simples fato de algum aluno ter atitudes diferentes ou se portar de forma diferenciada na atividade era motivo de irritação de alguns membros do grupo, o que evidencia a necessidade de se trabalhar uma educação para tolerância e compreensão de que o erro faz parte do processo de aprendizagem, pois somente assim será possível construirmos juntos uma educação para a sustentabilidade. Analisando o indicador que diz respeito à insegurança, ele evidencia que vários alunos não demonstram ter confiança para passar pela ponte, principalmente as meninas que acreditam que os colegas podem não dar conta de segurá-las na corda. Tal sentimento diminui à medida que os alunos começam a passar pela ponte, há muita euforia e agitação e mais alunos se mostram dispostos a passar após ver que os primeiros colegas passam pela ponte sem problemas, ainda assim, entre as meninas o sentimento de insegurança é evidente, pois no primeiro momento nenhuma menina se coloca disponível para passar pela ponte. Percebe-se que a insegurança é acentuada pelo sentimento de vergonha no que diz respeito às expectativas do olhar alheio sobre as atitudes desenvolvidas e a possibilidade de errar e de fracassar diante do grupo, mas fica nítido que a cada sucesso alheio ou insucesso, alguns alunos se sentem pressionados, seja a não alcançar o mesmo nível de sucesso do colega que passou sem problemas pela ponte ou pelo medo de fracassar e ser julgado pelos colegas. Pois 64 quando questionadas o porque de não passar algumas crianças diziam: professor se eu não conseguir vão ficar me zoando, então não vou não. Quanto ao sentimento de confiança avaliamos a esperança que um indivíduo deposita em outro quando entrega algo que ele considere ter grande valor para si. Na atividade da ponte de corda colocamos nossa integridade física nas mãos das pessoas que sustentam a ponte. Durante a atividade, além de confiar na sustentação da ponte pelos demais alunos, também os que se equilibram na passagem utilizam, muitas vezes, os colegas que os sustentam como apoio para se equilibrar na atividade e os alunos que passaram pela ponte se mostravam confiantes a ponto de alguns se arriscarem passar de forma rápida pelos elos da ponte. Essa maior confiança ocorreu com os meninos que se mostraram mais confiantes ao atravessar a ponte, já meninas não demostraram a mesma confiança e, observando por outra perspectiva, mostraram-se envergonhadas em ter que tentar uma atividade nova na qual elas poderiam se expor caso não conseguissem cumprir com o objetivo da atividade. Em toda a atividade apenas uma menina participou depois de ver seus colegas passarem por várias vezes; ela não teve maiores problemas com a passagem pela corda e após a sua passagem pela corda, os alunos convidaram outros alunos que disseram não querer passar, pois desejavam apenas ajudar sustentando a corda. O que se pode observar é que a recusa por parte dos alunos não se deu por medo e nem por não confiarem nos demais, mas sim por vergonha e por temerem não alcançar o resultado espero do pelos demais colegas. Na atividade “pega-pega golfinho e sardinhas”, quadro 6 o grupo ficou mais livre para agir de forma individual, principalmente quando estavam atuando como fugitivos (sardinhas), adotando estratégias que, necessariamente , não envolvia o grupo, quando estão agindo como pegadores (golfinhos), necessariamente, há a necessidade de atuarem em grupo, pois faz parte da regra do jogo. Nesta segunda atividade ficou mais evidente a categoria de analise organização espacial seguida da categoria agressividade e egoísmo, pois como o jogo utilizou uma área mais ampla, a necessidade de diálogo e organização do grupo foi muito mais exigida em comparação à atividade da corda, na qual grande parte do grupo se encontrava em uma posição pré-estabelecidas pelas regras do jogo. Os alunos da corrente tiveram grande dificuldade de diálogo para se organizaram como uma equipe de pegadores e a todo o momento quebravam a corrente para pegar os demais alunos 65 como se estivessem atuando de maneira individual, davam trancos, puxões e discutiam o tempo todo, já os alunos que fugiam tinham dificuldades com o espaço de jogo; muitas vezes desrespeitavam esse espaço que fora combinado no início do jogo, algo que ficou muito perceptível é que esse desrespeito pelo campo do jogo muitas vezes não acontecia com o intuito de levar vantagem, mas sim por uma falta de capacidade de se perceber e atuar de forma organizada no espaço de jogo. Analisando a categoria agressividade, nesse jogo percebeu-se que a individualidade dos alunos influenciou nas atitudes do grupo que, na ânsia de resolver os problemas do jogo, acabavam não respeitando e na verdade não vendo as diferenças e limitações dos demais integrantes do grupo, fato que refletia em todo o andamento do jogo que em alguns momentos não permitia uma atuação isolada. Conclui-se que boa parte dos puxões e trancos não tinham a intenção de ferir o colega, mas era a forma que eles tentavam resolver as diferenças. A categoria de análise que corresponde ao egoísmo ficou evidente em alguns alunos que apresentavam uma visão equivocada, ou seja, o julgamento era o de que para atingir o objetivo do jogo onde todos os pegadores se transformam em uma única equipe que formava uma corrente, dependia apenas das habilidades motoras de cada um, o que não era verdade, pois para que se tivesse sucesso na atividade havia a necessidade de um trabalho em equipe onde cada um seria um elo da corrente e deveria atuar de acordo com os limites dos demais, respeitando as dificuldades e limitações para assim, realmente, ser uma equipe. Durante essa atividade percebeu-se grande dificuldade de alguns membros do grupo que atuavam muito bem como fugitivos, mas quando eram pegos e tinham que atuar junto com o grupo de pegadores, eles queriam desistir da brincadeira por acharem que ao se juntarem ao grupo estariam sendo prejudicados, pois não seriam tão rápidos. Os demais alunos tinham dificuldade de comunicação e de atuar em conjunto, o que dificultava atingir os objetivos do jogo e aos poucos percebeu- se uma desmotivação por parte dos mesmos. Após o termino da primeira sessão de jogos, aconteceu uma socialização do grupo onde o grupo mostrou-se muito favorável aos jogos cooperativos; grande maioria dos alunos quando questionados sobre o que acharam das atividades, responderam que gostaram muito, mas evitavam dar opiniões individuais, ficando claro que por ser o primeiro dia estavam reconhecendo a figura do professor e da estagiária e estavam acanhados em demonstrarem 66 suas opiniões. Muito provavelmente o ambiente escolar no qual eles estão inseridos não estimula a participação nas decisões do meio escolar. O grupo foi questionado se houve alguma dificuldade, alguns responderam que o jogo não fora melhor porque em alguns momentos não houve a colaboração. Aqui ficou claro a tomada de percepção por parte deste aluno ao notar que a falta de cooperação entre os indivíduos do grupo dificultava e até mesmo impossibilitava a conclusão da atividade. Houve euforia por parte o grupo quando foi marcada a próxima sessão o que demostrou uma real aceitação pelos jogos. 4.2.2. Segundo dia de coleta 4.2.2.1. Autoescopia A sessão se inicia com uma reunião, na qual foi apresentado o vídeo da primeira sessão e os alunos ficaram eufóricos para assistir os vídeos e se mostraram agitados e inquietos. Ao iniciar a apresentação do vídeo, o grupo se mostrou atento e passaram a observar cada detalhe atentamente. Houve muitas gargalhadas e comentários uns com os outros, o grupo ficou muito agitado e comentando as próprias ações como se estivessem vendo outras pessoas no vídeo; comentavam os próprios comportamentos nos jogos e dos colegas e davam risadas. Alguns colegas não gostavam dos comentários e ficavam irritados, mas houve momentos em que alguns alunos se mostraram surpresos com as próprias atitudes que apareceram no vídeo, tal fato deixou evidente a dificuldade de alguns participantes perceberem o ambiente em seu entorno. Após alguns minutos assistindo ao vídeo, alguns alunos começaram a demonstrar inquietação e questionaram quando iriam para a quadra, demonstrando que alguns alunos não davam conta daquele momento de reflexão sobre sua participação nas sessões. 67 4.2.2.2. Analise dos indicadores de inter-relação Quanto à análise dos quadros 8 e 9 referente ao segundo dia de vivencia do jogo ponte de corda, esta foi montada de acordo com a sugestão dos alunos, isto é, foi colocado um colchão debaixo da ponte de corda e os alunos se organizaram de forma rápida e logo formaram a ponte, mostrando organização e cooperação; houve grande dificuldade no momento de decidir quem iniciaria o jogo, pois houve grande agitação, principalmente por parte dos meninos que queriam logo iniciar a atividade. Com a análise das atividades empíricas, as mais evidenciadas foram agressividade, cumprimentos de regras e cooperação, sendo destacadas pelos comportamentos dos alunos durante a atividade. Quanto ao indicador agressividade, este foi realçado pelo item intolerância, pois os alunos discutiam a todo o momento, agredindo os colegas de forma verbal e física, necessitando, em alguns momentos, da intervenção do professor. A atividade começou a ficar tumultuada e os alunos se irritaram com um dos colegas que se atrapalhou na atividade o tempo todo. Apesar de esta atividade ter exigido um nível de cooperação para poder acontecer, notou-se grande dificuldade do grupo em se organizar e a atividade foi interrompida o tempo todo. Com isso percebeu-se logo a desmotivação por parte dos alunos pela atividade e certa frustração tomou conta do grupo, pois não deram conta de administrar os conflitos do grupo, dentro da atividade, conflitos que fazem parte do seu cotidiano de convívio social e escolar. No que diz respeito ao item cumprimentos de regras, o grupo teve dificuldades para cumprilas, pois houve pouca comunicação entre o grupo e mesmo com pouca comunicação, esta ocorreu de forma agressiva através de xingamentos, gritos e empurrões. Dentro da atividade ponte de corda há regras básicas para que a atividade aconteça e também para que a mesma caminhe de forma adequada sem que ninguém exponha o colega a riscos e isso foi respeitado pelo grupo; o não cumprimento das regras ficou mais evidente no que diz respeito ao andamento do jogo e a cooperação para participação de todos para que todo o grupo pudesse se divertir. Quanto ao item cooperação, neste dia este foi prejudicado por comportamentos isolados de alguns alunos do grupo que se recusavam a revezar entre as passagens pela ponte e segurar a 68 corda para que os demais também pudessem participar, esse ato egoísta gerou atritos e desconforto entre os alunos do grupo. Esses comportamentos ficam mais evidentes por parte de alguns meninos que querem a todo o momento estarem em evidência na atividade, como se precisassem ser o centro das atenções durante toda a atividade. Nota-se uma grande preocupação com o desempenho individual, valorizando a velocidade da execução e quantidade de vezes que se passa pela corda do que a capacidade do grupo em atuar em conjunto, valorizando o coletivo e o trabalho em equipe. As principais categorias de análise analítica a serem destacadas são: a intolerância, confiança e o egoísmo. Na primeira categoria de análise intolerância, fica evidente desde o inicio da aula quando há necessidade de organizar a ponte de corda que, apesar de ser conhecida de forma rápida, é marcada por conflitos entre os alunos do grupo com xingamentos e tentativas de agressões. Isso deixa transparecer que os xingamentos e os trancos fazem parte das experiências de resolução de conflitos que os alunos têm. O indicador intolerância aparece em mais momentos da atividade, comprometendo a conclusão da mesma, pois os participantes não conseguem administrar os diferentes comportamentos de seus colegas, com suas limitações e qualidades. Quanto à categoria de análise egoísmo, evidencia-se a atitude de alguns alunos do grupo que se negam a alternar com os colegas que sustentam a corda, bem como as atitudes de alguns membros do grupo que se jogam e fingem cair para irritar os demais e tumultuar a atividade; tais atitudes levam o grupo a pedir para o professor interromper a atividade e começar o próximo jogo. Nesta atividade os alunos mostraram dificuldades bem maiores quanto à organização e relacionamento do que no primeiro dia, embora se mostrassem mais soltos e à vontade no segundo dia. A interpretação foi a de que eles ainda estivessem escondendo quem realmente são por estarem diante de pessoas com quem não tinham afinidades construídas. Em relação à categoria confiança, mesmo a atividade não tendo um nível de cooperação adequado, pôde-se observar que tanto por parte dos meninos quanto das meninas houve uma melhoria no que podemos chamar de autoconfiança, pois os alunos estavam mais confiantes quanto à capacidade de transpor a corda. Esta percepção ficou nítida pela forma como os meninos se comportavam na ponte de corda e também pelo maior interesse por parte das meninas em participar da atividade. Evidentemente a questão na qual se refere a confiança entre os indivíduos do grupo foi prejudicada pela falta de cooperação entre os mesmos. 69 Na análise e interpretação dos quadros 10 e 11, referente à atividade “pega-pega golfinhos e sardinhas”, as categorias que mais se evidenciaram, no segundo dia foram as categorias analíticas intolerância, solidariedade e egoísmo. No quesito intolerância, percebe-se que o meio social no qual os participantes estão inseridos, a intolerância faz parte do cotidiano dos mesmos, uma vez que os comportamentos parecem demonstrar a ausência da capacidade para dialogar para resolver os conflitos, pois praticam atividades durante as aulas de educação física e momentos de lazer que valorizam o individualismo talvez essas sejam as experiências que fazem parte do cotidiano que é marcado pela comunicação às avessas, através de gritos xingamentos e empurrões, tais comportamentos são reproduzidos durante as sessões de jogos cooperativos. É notário a presença de um comportamento agressivo quando surge a necessidade de resolução de conflitos, durante o jogo, pois os momentos de gritos, agressões e xingamentos aparecem automaticamente e são encarados pelos alunos como normal, como se esse tipo de comportamento fosse o mais adequado para resolver suas diferenças. Nesta sessão a categoria solidariedade foi evidenciada por atitudes de alguns alunos com uma colega que tem dificuldades motoras e em vários momentos ela foi auxiliada por colegas durante as atividades, pois se mostraram preocupados com as dificuldades que ela apresentava em participar do jogo. Contraditoriamente a categoria egoísmo foi a que mais se evidenciou durante essa atividade, sendo que a maior dificuldade foi atuar de forma coletiva, respeitando as diferenças do grupo. Tal dificuldade fica evidente do início ao fim do jogo; no inicio quando alguns alunos são pegos e se recusam a ir para corrente de pegadores, sob a alegação de que estão cansados e não querem mais participar do jogo. Na corrente de pegadores também há dificuldades do grupo agir de forma cooperativa, uma vez que cada integrante do grupo quer atuar de forma individual, o que atrapalha o bom andamento do jogo. Neste momento novamente evidenciase o fato do grupo vivenciar atividades mesmo que em grupo que valorizam o desempenho individual, nas quais cada um pode atuar sem perceber as dificuldades e limitações dos companheiros, tal vivência é mostrada o tempo todo nas sessões de jogos. Após o termino desta sessão também houve uma socialização entre os alunos para que eles questionassem os comportamentos ali manifestados e expressassem a percepção deles 70 referente aos jogos desenvolvidos. Parte do grupo rapidamente destacou que os jogos foram muito‘legais’ e que houve muita cooperação, contudo, no mesmo grupo formado em sua maioria por meninos que apresentam dificuldades em atuar em equipe, houve falas argumentando não ter sido ‘legal’, pois várias pessoas não respeitaram as regras e houve pouca cooperação entre o grupo e por isso as atividades se tornaram mais difíceis. Nas duas atividades desenvolvidas nessa sessão houve uma grande dificuldade em se trabalhar de forma cooperativa, o que tornou as atividades mais complicadas, com a instalação de muitos conflitos. Mas, na socialização final, a percepção construída pela maioria dos integrantes do grupo foi que a atividade foi boa, embora comentassem que durante a sessão não houve muita cooperação e por isso os jogos não aconteceram de uma forma mais tranquila. 4.2.3. Terceiro dia de coleta 4.2.3.1. Autoescopia Aos assistirem ao vídeo do segundo dia de jogos os alunos comentaram o tempo todo, reclamaram do comportamento de alguns integrantes e de outros e também fizeram comentários sobre a forma com que eles próprios e os colegas atuaram no jogo, sempre muito atentos ao vídeo. Durante a exibição do vídeo, em alguns momentos, alguns alunos ficaram irritados com os comentários e chegaram a trocar xingamentos, mas eles comentavam seus próprios atos e comportamento durante os jogos. Em outros momentos fica perceptível que alguns integrantes ficaram espantados com o próprio comportamento e outros comentaram mais as atitudes dos demais colegas do que as próprias atitudes, principalmente se achavam que eram atitudes negativas. É interessante destacar que, depois de alguns minutos assistindo o vídeo, alguns alunos comentaram que aquele dia não tinha sido ‘legal’ porque faltou colaboração dos alunos e também questionaram se podiam trocar o jogo da ponte de corda, pois eles o estavam achando 71 difícil e chato. Tal comentário mostra que a dificuldade do grupo em lidar com uma situação na qual a cooperação e a percepção são de extrema importância para que o jogo seja executado de forma satisfatória, respeitando as diferenças e ajudando os demais colegas e suprindo eventuais carências que possam ocorrer. Ao final da reunião o grupo fez a opção por trocar o jogo da ponte de corda pelo jogo, o do “pega-pega corrente”. 4.2.3.2. Análise dos indicadores de inter-relação No quadro 12, ao ser analisado, os indicadores de inter-relação analíticos que mais se destacaram nesse dia foram organização espacial, cumprimento de regras e cooperação. Analisando o primeiro item organização espacial, observam-se dificuldades no inicio do jogo para o grupo se organizar, isso pode ter ocorrido devido à troca de atividade e ser o primeiro dia que realizavam o jogo “pega-pega corrente” que utiliza uma área de jogo maior e também por se tratar de um jogo mais dinâmico. Durante a sessão do jogo “pega-pega corrente” houve grande euforia dos alunos, tanto pegadores quanto fugitivos mostraram-se desorganizados e muito eufóricos durante o inicio do jogo, demonstrando grande envolvimento. Alguns somente observaram dos cantos da quadra, participando de uma forma indireta como espectador do jogo, pois, muitas vezes sugeriram, gritaram, mas evitaram envolverem-se na dinâmica do jogo. Quando questionados, esses alunos disseram que não gostavam de correr e que preferiam apenas assistir, pois sempre fizeram isso, principalmente quando era futebol. A fala demonstrou que alguns alunos têm rejeição às praticas das aulas de EF, principalmente quando se trata de modalidades esportivas. Há também alguns alunos que utilizavam a atitude como tática fingir não estarem participando, somente para fugir dos pegadores, ou seja, chegavam até a negar a participação quando eram questionados pelos pegadores. Enquanto o jogo ia transcorrendo, percebe-se uma melhor organização por parte dos pegadores que paravam a atividade e discutiam o porquê do jogo não estar evoluindo, fato que demonstrou uma melhor organização e percepção do grupo que assumiram sozinhos a capacidade de estruturarem melhor o jogo. Alternando o foco para analisar o indicador cumprimento de regras, no qual todo o grupo apresenta grande dificuldade em se organizar, principalmente no início do jogo, quando pouco 72 se respeitava as regras combinadas e a área de jogo demarcada, mas após alguns minutos jogados, alguns integrantes do grupo demonstram certo incômodo, relatando que não estão sendo cumpridas as regras. E, num certo momento de pausa no jogo, eles discutiram as regras, retomaram o jogo que aos poucos foi ficando mais organizado, com uma melhor integração entre os membros da corrente de pegadores, já o outro grupo que era formado pelos que fugiam, nos momentos que eram pegos, recusavam-se ir para corrente e também saiam da área de jogo que fora combinada no inicio do jogo; na maioria das vezes, quando os alunos saiam da área demarcada, notava-se dificuldade em se atentar para as demarcações da quadra, talvez pela euforia do jogo, bem como a se integrarem à corrente quando era tocado e pego. O que se pôde deduzir é que por conta da dificuldade de atuar em grupo, era muito mais fácil correr sozinho para fugir da corrente de pegadores do que atuar na corrente, tendo que respeitar as diferenças e trabalhar de forma conjunta. No quadro 13, os indicadores de inter-relações empíricos os mais evidentes foram intolerância, insegurança e egoísmo. Ao analisar o primeiro item intolerância ficou evidenciada a dificuldade de resolução de conflitos, que na maior parte do tempo se dá por gritos, xingamentos e agressões. O simples fato dos meninos sentirem-se prejudicados em jogar junto com as meninas porque elas não têm a mesma velocidade que eles, geravam discussões, evidenciando o relatado por Freud (1939), isto é, que a intolerância se manifesta nas pequenas diferenças e não nas divergências. Nesse sentido, a intolerância impede que parte do grupo possa atuar de forma a entender as diferenças e respeitá-las, podendo assim assumir uma postura cooperativa e completando os demais integrantes do grupo e não excluindo os mesmos por serem diferentes. Com o item insegurança, a falta de apoio e cooperação por parte do grupo fragilizava alguns integrantes do grupo, principalmente as meninas que, em muitos momentos, evitavam o jogo, fingindo não estarem participando ou esquivavam-se do jogo para os cantos da quadra. Quanto ao indicador de inter-relação egoísmo, este se mostrou evidente em vários momentos desta sessão de jogos, onde alguns indivíduos do grupo acreditaram que, atuando de maneira individual, poderiam ter mais sucesso do que atuando de forma conjunta, tal atitude ocorreu principalmente no inicio do jogo. Entretanto, quando percebiam a dificuldade de atuar de forma individual, aconteciam alguns diálogos pra tentar solucionar as dificuldades, mas logo 73 retomavam o comportamento individualista, mais comum por parte dos meninos do grupo e que, em determinado momento, chegam a sugerir que o grupo necessita de um líder para que se pudesse melhorar a organização. Tal comportamento demonstrou uma incapacidade de perceber naquele momento a força de se atuar em grupo de forma organizada porque geraria menos desgaste ao grupo e conseguiriam atingir o objetivo de forma mais fácil. No final da sessão dos jogos, durante a socialização do grupo quando se conversou sobre os jogos realizados e as opiniões do grupo sobre as atividades, a maior parte do grupo disse que faltou cooperação porque na maior parte do jogo não houve ”combinação”; um dos meninos do grupo disse: eu falei que tinha que haver um líder, eu tinha que ser o líder, eu sei disso, eu tenho razão! Já na opinião da maioria dos colegas se eles tivessem conversado mais e combinado, os jogos teriam seus objetivos atingidos de uma maneira mais fácil. As meninas reclamaram da correria dos meninos, não as respeitando e os meninos se justificavam que eram elas que não corriam. Aqui se nota a dificuldade na questão das diferenças de gênero e, em contrapartida, uma melhor percepção no que diz respeito à necessidade do grupo atuar, valorizando o coletivo para poder atingir os objetivos dos jogos. 4.2.4. Quarto dia de coleta: 4.2.4.1- Autoescopia: Ao assistir o vídeo do terceiro dia, os alunos colocaram-se em silêncio e atentos aos acontecimentos do vídeo, nesta sessão os alunos se mostraram menos agitado em relação aos primeiros dias, em alguns momentos eles deram risadas e comentaram o próprio comportamento e também dos colegas; os meninos se mostraram mais agitados enquanto observavam o vídeo, já as meninas mostraram-se mais atentas ao vídeo e fizeram poucos comentários sobre os jogos. Um comportamento diferente também ocorreu durante a sessão de análise do vídeo, pois, após alguns minutos assistindo-o, alguns meninos mostraram-se agitados e começaram a jogar figurinhas. Por se tratar do último encontro, alguns alunos questionaram sobre as sessões de jogos, uns diziam que gostavam dos jogos porque não precisam ficar na sala de aula e outros, entretanto, por terem aprendido a cooperar. Assim que 74 terminou o vídeo, os alunos foram convidados a irem para quadra para se iniciar a última sessão de jogos. 4.2.4.2-Analise dos indicadores de inter-relação Ao analisar os indicadores de inter-relação analíticas do quadro 16, os indicadores que se destacaram foram organização espacial, agressividade e cooperação. Ao verificar o item de inter-relação organização espacial deste último dia, percebeu-se que apesar da dificuldade do inicio do jogo, houve uma melhor estruturação do ambiente de jogo, os alunos colocaram-se de forma mais organizada, tanto os alunos da corrente denominados de pegadores quanto os alunos que estavam fugindo. Percebeu-se que a corrente aumentou de tamanho rapidamente, o que demonstrou que houve uma melhor organização por parte do grupo de pegadores que gritavam menos e se comunicavam de forma mais eficiente. Com relação ao indicador de inter-relação agressividade os alunos se colocaram de uma forma menos agressiva, apresentando um diálogo melhor o que facilitou a resolução de conflitos e menos discussões e agressões. Houve sim alguns momentos de discussões que ocorreram de forma menos intensa e menos duradoura; notou-se que quando eles resolviam o que fora proposto pelo jogo, de maneira mais organizada, as discussões diminuíam consideravelmente. Quanto ao indicador cooperação, notou-se uma grande melhoria, tanto que ao analisar as categorias anteriores, percebeu-se visivelmente a melhora na execução do jogo que estava mais organizada. Os alunos atingiram os objetivos do jogo de forma mais rápida e estruturada, pois adotaram uma melhor capacidade em pararem o jogo e retomarem de forma mais organizada quando há uma percepção melhor do ambiente e do seu todo, percebendo melhor os colegas, durante as atividades. Quanto ao quadro 17 referente aos indicadores de inter-relação empíricos, os mais evidentes são: intolerância, confiança e solidariedade. Esse índice intolerância ficou mais evidente pela não aceitação das características individuais dos integrantes do grupo, pois aqueles que acreditam ser melhores ao atuarem no jogo menosprezavam os demais colegas e em alguns momentos excluía-os; também houve dificuldades em se lidar com a questão do gênero, pois 75 em vários momentos, principalmente os meninos, reclamavam da participação das meninas, alegando preferirem sair do jogo quando atuavam em conjunto, pois a regra exigia que se respeitassem diferenças das colegas, mas eles não respeitavam a forma diferente de atuar dos outros integrantes do grupo que eram do gênero feminino. Em alguns momentos do jogo o item confiança destacou-se por parte de alguns colegas, sendo que o principal momento foi quando uma colega, que é portadora de necessidades especiais, necessitava de ajuda para atuar no jogo e foi ajudada por colegas que, de mãos dadas, participavam do jogo. Em outro momento quando um colega caiu, alguns dos integrantes do grupo pararam de jogar para ajudar o colega a voltar para o jogo. Parte do grupo de pegadores, após uma breve conversa, atuou junto e levaram a corrente de pegadores a atuar de forma conjunta, mostrando mais eficiência em alguns momentos. Essa atuação em conjunto tornou-se mais eficiente e necessária para que o grupo tivesse maior sucesso, mas para que isso acontecesse, era fundamental que os integrantes do grupo confiassem na atuação do conjunto, o que ocorreu em poucos momentos. Com relação ao item de inter-relação solidariedade, ele ocorreu em alguns momentos do jogo quando os integrantes ajudaram os colegas que apresentavam dificuldades e, em alguns momentos, pôde-se perceber que por trás do gesto da ajuda, havia a solidariedade. Analisando o quadro 18 de inter-relação analítico as categorias que mais se destacaram foram organização espacial, cumprimento de regras e cooperação. Quanto à primeira, a categoria organização espacial, que demonstra como o grupo se coloca no espaço em que estavam inseridos, como percebem esse espaço e como atuavam no mesmo, foi possível perceber, no ultimo dia de atividade, uma evolução referente a uma melhor organização dos indivíduos utilizarem de forma mais organizada o espaço, percebeu-se também melhora na comunicação entre o grupo que antes se comunicavam com gritos, puxões e trancos. A comunicação ficou mais suave, pois já não ocorreram com tanta frequência; os gritos que persistiram foram os de euforia, durante a participação no jogo. A corrente de pegadores, no jogo “pega-pega golfinhos e sardinhas” manteve-se mais organizada e os alunos que não estavam na corrente, corriam com menos desordem e os alunos chegaram ao objetivo do jogo com mais facilidade e em menor tempo. 76 Quanto à categoria cumprimentos de regras, percebe-se que há uma maior facilidade do grupo de alunos que atua dentro das regras combinadas e em raros momentos alguns saíram da área de jogo, mais por conta da euforia e da dinâmica do jogo, em raros momentos os alunos foram pegos pela corrente e se recusaram a entrarem na mesma, a corrente de pegadores atuou de forma coerente, não quebrando os elos, ou seja, não soltaram as mãos durante o jogo e os alunos conseguiram atingir os objetivos do jogo de forma mais rápida. Na categoria de análise cooperação, logo no inicio o grupo todo se mostrou confuso e desorganizado, mas após alguns minutos o grupo se organizou, atuando de forma mais equilibrada e em conjunto o que facilitou o jogo; a corrente quebrou em alguns momentos, mas eles se reuniram, reestruturando-a e voltaram para o jogo. Em alguns momentos aconteceu de alguns participantes do grupo serem pegos e se recusarem a entrar na corrente, fingindo que não foram pegos, mas o grupo parou o jogo, eles discutiram e na maioria das vezes o aluno entrou na corrente de pegadores o que demonstrou um melhor entendimento das estrutura do jogo e a percepção da necessidade da cooperação para que o jogo fluísse de forma mais tranquila. No quadro de análise 19, referente aos indicadores de inter-relação empíricos destacaram-se as categorias de analise intolerância, insegurança e egoísmo. Ao analisar o indicador intolerância, pôde-se notar que o grupo atuou de forma menos agressiva, compreendendo melhor a necessidade de respeitar as diferenças dos integrantes do grupo na forma de atuar no jogo e também quando não conseguiam atingir um objetivo, tinham um melhor diálogo para tentar organizar o grupo. Também se notou que as agressões que eram constantes, diminuíram de frequência e intensidade, o que demonstrou maior respeito por parte dos integrantes do grupo; trata-se de atitude de extrema importância para o bom desenvolvimento da atividade que exige a todo o momento organização e trabalho em equipe. O indicador insegurança também sofreu alterações durante as sessões, pois no inicio alguns alunos que se mostravam inseguros atuando de forma discreta nas atividades sempre se colocando nos cantos do campo de jogo, mostram-se mais confiantes sendo mais participativos e presentes alguns chegam a provocar os pegadores passando perto da corrente e fazendo brincadeiras, isso mostra o papel fundamental dos jogos cooperativos para a participação de todo o grupo nas atividades tomando decisões atuando em equipe e assumindo riscos durantes os jogos. 77 Quanto ao ultimo indicador egoísmo, o destaque ficou por conta da atuação de alguns integrantes do grupo que durante todos os jogos viram a necessidade de se mostrarem em vários momentos, ora colocaram-se em frente à câmera, fazendo brincadeiras e cantando ora atuavam de forma individual na corrente, separando-se do grupo a todo o momento; quando eram pegos, recusavam-se a entrar para o grupo de pegadores, dizendo que não estavam mais participando do jogo ou fingiam não terem sido pegos. Em momentos isolados alguns integrantes do grupo quiseram ser líderes para mostrar a melhor forma de o grupo atuar, importando-se somente com a própria opinião e não a opinião de todo o grupo. Essa situação demonstra que apesar dos jogos exigirem a participação de todos, alguns insistiam no individualismo. 4.2.4.2.1-Aplicação das fichas de experiência Na última sessão, no momento da socialização, foram trabalhadas com os alunos as fichas de experiência, constantes no anexo A, com o objetivo deles relatarem de forma simples o aprendizado que tiveram durante a participação nas sessões de jogos cooperativos. Foram colhidas 22 fichas que passaram por uma triagem quanto à capacidade de respostas, sendo que das 22, apenas 13 conseguiram responder de forma adequada e puderam ser analisadas, pois mesmo as fichas de avaliação, contendo perguntas simples que se referiam às experiências e aprendizagem, durante as sessões de jogos, não foram preenchidas porque alguns alunos mostraram-se incapazes de elaborar respostas. Referente à análise das perguntas da ficha de experiência, a primeira pergunta era: O que você acha que aprendeu com os jogos e que pode ser útil para você e os outros? Grande parte das repostas referia-se à cooperação como sendo um conhecimento específico que eles tinham aprendido como pode ser visto nos relatos a seguir: “Eu aprendi que se colaboramos conseguimos o que quiser!” “Eu aprendi que as atividades são muito legais e as pessoas tem que compreender mais, pois se ninguém tem compreensão não é fácil fazer. Eu gostei e achei muito divertido os jogos, 78 ajuda a gente se desenvolver, mas rápido e também ajuda a Carla, uma menina meio deficiente física, ela aprendeu muito e ficou muito feliz.” “Eu aprendi como é bom ajudar meu colega quando ele mais precisa!” “Eu aprendi muitos jogos legais, mas para que de certo precisamos cooperar.” Percebe-se nos relatos das fichas de experiências que vários alunos tomaram ciência e perceberam a importância de atuar em grupo e também de ajudar os colegas durante as atividades; perceberam que nem todos conseguem desenvolver os jogos da mesma forma e muitos precisaram de ajuda para concluir os objetivos e levar o grupo todo a concluir o jogo. No que diz respeito à análise da pergunta número 2: Que história ou fato aconteceu durante os jogos que mostra o que você acha que aprendeu? “quando estávamos brincando de “pega-pega corrente” eles não conseguiam pegar, depois nos conversamos e deu tudo certo”. “No “pega-pega corrente”, muitas pessoas soltavam as mãos e eu aprendi que quando conversávamos tudo ficava mais fácil”. “Quando um colega caiu em uma das brincadeiras eu aprendi que devemos colaborar com os outros”. “Quando vi meu amigo cair no jogo aprendi que devemos cooperar mais nos jogos”. Após analisar algumas respostas, verificou-se que a vivência dos jogos e algumas situações de êxito, quando após um dialogo, o grupo se organizou de uma melhor forma e obteve sucesso no jogo e até mesmo situações de frustração ao ver um amigo cair durante o jogo pela falta de cooperação do grupo, trouxeram aprendizados positivos, mostrando que a solução de problemas e conflitos pode estar em um simples diálogo e não em empurrões e xingamentos. A aprendizagem foi ter compreendido que se o grupo coopera de forma adequada, pode-se evitar que um amigo se machuque. Quanto à pergunta 3: Qual jogo vocês mais gostam de praticar nas aulas de Educação Física e por quê? “Eu gosto de futebol porque é um jogo muito divertido” 79 “Eu gosto de queimada, pois é um jogo cooperativo” “Eu gosto de futebol porque é o jogo mais praticado no país” As respostas das perguntas mostraram que parte do grupo tende pelo futebol por ser um dos jogos que está mais presente no cotidiano deles, além do fato do futebol ter uma grande valorização na nossa cultura e até mesmo como forma de ascensão social; outra parte do grupo demonstrou nas respostas que preferem jogos pré-desportivos, os quais possibilitam e valorizam a maior participação do grupo e segundo os alunos são mais divertidos. Quanto às respostas da pergunta número 4: Tem alguma sugestão quanto aos jogos cooperativos? “sim podemos colaborar mais e conversar mais com os colegas” “Não, pois achei maravilhoso!” “Não gostei!” “Podemos jogar queimada” Analisando as respostas referentes à última pergunta, notou-se que a maioria não elaborou a resposta, responderam de maneira objetiva, colocando simplesmente “não”, que não tinham sugestões a fazer sobre os jogos; outros colocaram que durante a prática era preciso conversar ajudar mais os colegas; um respondeu que não gostou dos jogos e outros sugeriram outros jogos. Através da leitura das fichas de experiência, percebeu-se a existência de grande dificuldade em elaborar opiniões e sugestões sobre os jogos, contudo, a maioria mostrou-se favorável, uma vez que pode redimensionar a importância do diálogo e do trabalho em grupo, sugerindo outros jogos em equipe. De forma geral, as fichas demonstraram que parte dos alunos foi capaz de estabelecer momentos de reflexão através das fichas e de avaliar as próprias atitudes durante as sessões de jogos cooperativos, proporcionando, assim, um aprendizado através da reflexão de suas atitudes e comportamentos durante os jogos. 80 4.3.Tratamento das informações da análise do conteúdo Objeto de comparação Quadro-05 Indicadores de inter-relações empíricas dia-01 Organização espacial Agressividade Cumprimento de regras Agrupamento por Gênero Cooperação Durante esta atividade As regras desta atividade são Não houve problemas com a formação Desde o inicio da atividade fica organizada, há agressões verbais e cumpridas forma da atividade, mas fica claro uma evidente a cooperação que parte dos principalmente no início em alguns momentos satisfatória pelos alunos, pois separação por gênero no momento de alunos quando o professor pede durante agressões físicas que se a segurança dos mesmos se formar as duplas para segurar a para que eles ajudem a pegar o caracterizam com depende do cumprimento das corda. Com a continuidade da atividade material. Entre os alunos há de necessária a organização empurrões trancos que regras da atividade. Apenas eles mesmos sentem a necessidade de forma satisfatória a cooperação, para seja ocorrem principalmente em poucos momentos alguns se misturar por conta da divisão do pois a mesma é indispensável para o iniciada, mas quando a por parte dos meninos. alunos soltaram a mão da peso dos alunos passando pela corda e aluno transpor a ponte. atividade há “Professor essa menina corda, fazem a opção em ficar um menino e muita euforia, agitação, burra soltou a corda” apenas uma das mãos, mas A atividade a mesmo Atividade 1 ponte e corda: é mais explicação, porque que esta começa, é gritos e puxões. de seguravam com fala que é precedida de quando perceberam que o uma tentativa de dar um colega tapa. poderia cair retomaram a forma correta. Em um momento da atividade uma uma menina formando as duplas. colega orienta um amigo para que Alguns meninos fazem brincadeiras ele possa segurar a corda de forma sobre as meninas serem pesadas, e por correta para o colega não cair. isso não dariam conta de segurar. Quadro-06 Indicadores de inter-relações analíticas dia-01 Objeto de comparação Atividade 1 ponte e corda: Intolerância Insegurança Confiança Solidariedade Em alguns momentos da Vários alunos não se sentem Fica maior à medida que o jogo caminha, pois Acontece em momentos Aparece em alguns seguros para pela vários alunos que não queriam participar isolados da atividade e momentos com alguns corda alguns colegas corda, principalmente depois mudam de ideia ao ver seus colegas passando parte de uma aluna que alunos que não querem se desiquilibram isso que uma colega no inicio do e resolvem participar. A confiança aumenta orienta o outro colega segurar gera jogo solta a corda por mais principalmente quando alguns alunos maiores como ele deve segurar a apenas querem passar pela de quase passam pela ponte sem problemas. Claramente corda os ponte. Fica muito evidente derrubando um aluno. As os meninos se mostram mais confiantes e são demais amigos passem quando um aluno quer meninas se mostraram mais grande maioria ao passar pela corda, apenas ao em segurança. passar várias vezes na inseguras nesta atividade. final da atividade uma menina pede para ponte sem querer revezar participar. com os demais colegas. passagem pela discussões agressões. e uma passar vez, para que Egoísmo a corda. Eles 81 FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor Quadro-07 Indicadores de inter-relações empíricas dia-01 Objeto de comparação Atividade 2 “Pega- Pega Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras Agrupamento por Gênero Egoísmo O jogo começa e à medida que a A comunicação é feita através Existe grande dificuldade de respeitar o Não há problemas ao no inicio Fica muito evidente por corrente de golfinhos aumenta a certa de gritos e empurrões os alunos que foi combinado sobre as regras eles da atividade, mas ao ponto que parte de alguns alunos dificuldade de organização tanto para tem dificuldade de agir em tentam atingir os objetivos do jogo a corrente aumenta os meninos que quando são pegos pegadores quanto para quem estava conjunto alguns muitas vezes sem respeitar as regras ficam mesmo fugindo. Um garoto diz: “professor momentos agridem os colegas como: área de jogo, manter a corrente passam e escolher alguém que regras não querem se por que tenho que me juntar aos de forma verbal. para pegar. eles tenham mais afinidades e juntar aos pegadores. “Eu se juntam na corrente evitando não quero ser pegador e em pegadores se eu não fui pego?” “Podemos soltar as mãos da corrente mais agressivos e Neste momento fica clara a falta de “Ah Professor essa menina é dar as mãos para as meninas. quero Golfinho percepção do ambiente, pois o garoto muito lerda”, “professor ele pra pegar? Assim é muito difícil, pode “Professor elas não correm não!” Sardinhas: não percebeu que tinha saído da área não corre é muito devagar”. sair da linha pra pegar? Assim não tira elas daqui!” sabendo fugir não das vou conseguimos”. de jogo combinada. Quadro-08 Indicadores de inter-relações analíticas dia-01 Objeto de comparação Intolerância A corrente de pegadores Insegurança Confiança Solidariedade Egoísmo tem Alguns alunos nãos se A falta de diálogo entre o grupo É pouco evidenciada nesta sessão Aparece em dificuldades de diálogo e trocam arriscam a passar, pois tem dificulta o trabalho em equipe e eles onde momentos quando trancos e xingamentos durante a medo de ser pegos. Os não individuais por parte do grupo que alunos pegos se recusam a atividade. alunos fingem não estar trabalho em equipe tem dificuldades de fazer parte da corrente. Em participando do jogo para satisfatória. Neste item o destaque é atravessar. para alguns alunos que tem grande questionado conseguem desenvolver de o forma se percebe organização. atitudes mais dialogo e vários os um momento o professor e se os confiança individual e provocam o pegadores não podem soltar Atividade 2 pegador dizendo que ele não são as mãos, para continuar a “Pega- Pega capazes de pegar. pegar. Golfinho Sardinhas:”. FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 82 Quadro-09 Indicadores de inter-relação analítica dia-02 Objeto de comparação Atividade 1 ponte e corda: Organização espacial Agressividade Agrupamento por Gênero Cooperação Neste segundo dia não há Depois que um colega As regras desta dificuldade de organização descumpre algumas regras são Mais uma vez não tivemos Neste segundo dia também existe cumpridas de forma satisfatória problemas com a formação da do pessoal na da atividade se jogando e uma grande cooperação por parte pelos alunos, pois a segurança dos estrutura da ponte, mas ficou dos alunos para com o professor atividade. A atividade é atrapalhando montada sobre um colchão, bom mesmos depende do cumprimento clara a divisão entre meninos e como ocorreu no primeiro dia. Entre andamento do jogo, alguns das regras da atividade. Em um meninas na hora de formarem os que meninos e os alunos existe um empenho maior se momento do jogo há um menino G. pares para segurar a corda. em ajudar alunos, e o jogo começa mostram chateados e mais que passa por mais de uma vez pela Também e muito superior os passando através de dicas e falas. O sem problemas. agressivos. corda começa a se jogar de forma numero de meninos que se primeiro menino que passa pela proposital e a puxar o cabelo dos predispõe a passar pela ponte e corda causa certo tumultuo, pois demais colegas isso causa um relação às meninas que preferem puxa tumulto que leva o professor a ajudar a segurar a corda. Chegando ao ponto que elas pedem foi área da sugerido pelos o meninas Cumprimento de regras atividade interromper a atividade. o colega os cabelos das que esta meninas. pra que ele coopere. Quadro-10 Indicadores de inter-relação empírica dia-02 Objeto de comparação Intolerância Atividade 1 ponte e corda: Insegurança sugerido Solidariedade Egoísmo A atividade é organizada Como pelos As regras desta atividade são Não houve problemas com a formação Desde o inicio desta atividade há tem um ótimo inicio, alunos foi colocado um grande cumpridas de forma satisfatória da atividade, mas fica evidente uma problemas com alguns alunos que se mas alguns alunos se colchão de espumas embaixo pelos alunos a segurança depende separação por gênero no momento de se recusam a ajudar os demais a mostram da mais do cumprimento das regras da formar as duplas para segurar a corda. sustentar a ponte eles querem ficar o impacientes foi Confiança ponte para com o aluno G. que a segurança. todo momento passaram de atrapalha não ajudando tranquila pela os o colegas e tumultuando a atividade. “Ei menino passa dar Realmente eles atividade. Apenas em alguns Com a continuidade da atividade eles tempo todo passando pela corda. Há mais momentos alunos soltaram a mão mesmos sentem a necessidade de se momentos que um aluno se joga de As da corda, seguravam com apenas misturar por conta da divisão do peso propósito meninas preferem segurar ao uma das mãos, mas quando dos alunos passando pela corda e fazem tumultuar a atividade e irritar os passar pela forma ponte. corda, cair para quando perceberam que o colega poderia a opção em ficar um menino e uma demais membros do grupo. Apesar questionado elas apenas dizem cair retomaram a forma correta. menina formando as duplas. da euforia do grupo pelas atividades não querer. Muitos amigos ajudam o outro direito! Professor o G fica fazendo graça!” simulando “Ah professor não quero não”! Prefiro segurar a corda! necessidade de um alto nível de dando as mãos e orientando de Alguns meninos fazem brincadeiras forma verbal. sobre as meninas serem pesadas, e por da isso não dariam conta de segurar. impraticável. cooperação nesta atividade e a falda mesma torna a atividade 83 FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor Quadro-11 Indicadores de inter-relação analítica dia-02 Objeto de comparação Atividade 2 “Pega- Pega Golfinho Sardinhas Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras Agrupamento por Gênero Cooperação Os alunos tem dificuldade em Durante toda a atividade há Os alunos em vários momentos O que fica evidente sou eu A dinâmica do jogo pede para respeitar jogo agressões verbais e físicas deixam de cumprir as regras do quando um menino é pego ele que ocorra a cooperação, mas há combinada, os pegadores por através de xingamentos, jogo os evita dar as mãos pra uma por parte dos alunos resistência falta de dialogo quebram a trancos e empurrões por objetivos propostos, mas sem se menina e isso também acontece em atuar de forma cooperativa corrente o tempo todo não motivos banais tais atitudes preocupar se irão prejudicar os com as meninas que preferem ajudando conseguindo dar continuidade por demais das sempre se juntar a meninas, resolvendo ao jogo, há empurrões e puxões dialogo entre os indivíduos atividades. Muitos alunos quando conforme o jogo vai ficando dificuldades do jogo de forma por parte de alguns alunos que do grupo. são pegos não entram a corrente mais dinâmico, essa divisão vai conjunta valorizando o trabalho de pegadores e alguns pegadores diminuindo. em equipe. ficam a área irritados de por conta da falta de não conseguirem se organizar. para tentar atingir participantes uns os aos outros conflitos e soltam das mãos para poder pegar os alunos. Quadro-12 Indicadores de inter-relação empírica dia-02 Objeto de comparação Intolerância Atividade 2 “Pega- Pega Golfinho Sardinhas Insegurança Confiança A atividade tem inicio com Fica mais evidente por É mais evidente por parte dos meninos Em a É mais evidente por parte de uma que parte das meninas que que se sentem confiantes a ponto de colega dificuldade alguns meninos do grupo que apresenta dificuldades motoras não se sentem seguras provocarem os pegadores em vários motora participa do jogo de quando são pegos se recusam a e parte do grupo se mostra em passar momentos, momentos mãos dadas. Há uma colega fazer parte da corrente de irritado e impaciente, pois a pegadores da corrente na também se arriscam a provocar os que a ajuda a se deslocar com pegadores, colega não consegue pegar os maioria das passagens pegadores para alguns colegas passarem. maior velocidade, alguns momentos os que estão demais na mesma velocidade. ficam Já aluno do grupo perto esperando dos para por em parte alguns Solidariedade alguns com momentos Egoísmo e também em dos pegadores falta demostrando ser solidaria ao na corrente de pegadores atuam quando os pegadores se confiança para tornarem o seu trabalho perceber a necessidade de sua de distraem. mais eficiente e organizado. colega e ir auxilia-la. dificultando o trabalho em forma individual equipe. FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 84 Quadro-13 Indicadores de inter-relação analítica dia-03 Objeto de comparação Pega-pega corrente Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras Neste dia fica nítido uma Há alguns momentos quando As regras são cumpridas de forma Existe uma melhor colocação na Acontece de uma forma melhor organização com um colegas são pegos e não querem satisfatórias em alguns momentos participação em conjunto tantos mais espontânea com todos dialogo melhor, os pegadores se juntar aos pegadores. Em um alguns alunos que são pegos e se os meninos quanto as meninas do grupo focando de forma se mantem unidos formando momento uma das colegas que recusam a entrar na corrente gera dão as mão de uma forma mais satisfatória um objetivo. uma Aproveitam estava apenas observando o desconforto para os pegadores. O natural melhor a área de jogo e jogo toma um esbarrão e solta jogo pausa e esses meninos combinam como correr. vários acabam cumprindo as regras. corrente. palavrões contra os Agrupamento por gênero Cooperação colegas Quadro-14 Indicadores de inter-relações empíricas dia-03 Objeto de comparação Intolerância Pega-pega corrente Insegurança Confiança Solidariedade Egoísmo Acontece em momentos Acontece quando Com o melhor dialogo do grupo Raros momentos de solidariedade Alguns alunos quando eram pegos e se isolados por parte de algumas meninas não se eles combinam o lado que devem com o colega quando veem um recusavam a entrar na corrente, e alguns que são pegos e sentem para correr para a corrente não se amigo cercado tentam distrair os sentaram do lado promeiro observando não querem continuar atravessar a área de jogo quebrar isso deixa o jogo mais pegadores para o colega passar, e depois foram bater figurinhas. brincando. e organizado uma no restante do jogo agem de a seguram cambam entregando. se mostrando melhor confiança no dialogo forma individual. “Ah professor eu não fui pego não quero brincar mais” FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 85 Quadro-15 Indicadores de inter-relação analítica dia-03 Objeto de comparação Atividade 2 “Pega- Pega Golfinho Sardinhas Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras Agrupamento por Gênero Cooperação Os alunos tem dificuldade em Durante toda a atividade Os alunos em vários momentos O que fica evidente é eu quando A dinâmica do jogo pede para respeitar há agressões verbais e deixam de cumprir as regras do um menino é pego ele evita dar as que ocorra a cooperação, mas a combinada, os pegadores por físicas jogo os mãos pra uma menina e isso por patê dos alunos resistência falta de dialogo quebram a xingamentos, trancos e objetivos propostos, mas sem se também acontece com as meninas em atuar de forma cooperativa corrente o tempo todo não empurrões por motivos preocupar se irão prejudicar os que preferem sempre se juntar a ajudando conseguindo dar continuidade banais tais atitudes por demais das meninas, conforme o jogo vai resolvendo ao jogo há empurrões e puxões conta da falta de dialogo atividades. Muitos alunos quando ficando mais dinâmico, essa diviso dificuldades do jogo de forma por parte de alguns alunos que entre os indivíduos do são pegos não entram a corrente vai diminuindo. conjunta valorizando o trabalho ficam grupo. de pegadores e alguns pegadores a área de irritados por jogo não através conseguirem se organizar. de para tentar atingir participantes uns os aos outros conflitos e em equipe. soltam das mãos para poder pegar os alunos. Quadro-16 Indicadores de inter-relação empírica dia-03 Objeto de comparação Intolerância Insegurança Confiança Solidariedade Egoísmo A atividade tem inicio Fica mais evidente por parte É mais evidente por parte dos meninos Em alguns momentos a colega É mais evidente por parte de com uma aluno do grupo das meninas que não se que se sentem confiantes a ponto de com motora alguns meninos do grupo que Atividade 2 “Pega- que apresenta dificuldades sentem seguras em passar Pega Golfinho motoras e parte do grupo perto se corrente Sardinhas mostra irritado e dos na provocarem os pegadores em vários participa do jogo de mãos quando são pegos se recusam a pegadores da momentos, em alguns momentos também dadas a uma colega que a ajuda fazer maioria das se arriscam a provocar os pegadores para a maior pegadores, e também em alguns alguns colegas passarem. velocidade, demostrando ser momentos os que estão na solidaria impaciente, pois a colega passagens ficam esperando não consegue pegar os para quando os pegadores se demais distraem. velocidade. na mesma dificuldade Já por parte dos pegadores falta confiança para tornarem o seu trabalho mais se deslocar ao com perceber parte da corrente de a corrente de pegadores atuam de necessidade deu sua colega e ir forma individual dificultando o auxilia-la. trabalho em equipe. eficiente e organizado. FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 86 Quadro-17 Indicadores de inter-relações analíticas dia-04 Objeto de comparação Pega-pega corrente Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras O jogo começa com uma das A atividade flui de forma Os alunos cumprem as Os tem Fica evidente que atividade colegas pegando e logo ela mais tranquila os puxões regras dificuldade em perceber as está mais bem estruturada e o consegue pegar dois colegas e trancos diminuem e a satisfatória apenas mais diferenças grupo se ajuda de forma mais que se juntam a ela formando corrente para o final alguns alunos velocidade das meninas, em eficiente uma forma mais rápida. que não são pegos se alguns momentos a corrente aumentar recusam ir para a quebra, mas eles retomam as corrente de forma mais rápida inicio e atividades sem problemas. e com menos atritos corrente eles se aumenta de organizam e conseguem pegar de forma mais colegas de forma mais Quando um dos meninos corrente de rápida, o grupo de crianças que cai há atrito entre o que depois entram esta fugindo se espalha pela caiu e um dos meninos da corrente. quadra. corrente Cooperação Agrupamento por Gênero meninos de ainda força e conseguindo o tamanho da na eles discutem, mas logo voltam para atividade. Quadro-18 Indicadores de inter-relações empíricas dia-04 Objeto de comparação Intolerância Pega-pega corrente Insegurança Confiança Alguns alunos que se Como aconteceu Egoísmo em Os jogos acontecem de forma mais Um dos pegadores diz que ele mostravam inseguros e outros colegas tranquila, o grupo se respeita mais tem que ser o líder para poder Em alguns momentos ficavam afastados nos ajudam uma a outra que e mesmo uma menina do grupo pegar melhor, pois ele e mais uns dos colegas reclama cantos da quadra até se tem dificuldades motoras Tendo dificuldades para correr ela esperto e vai ajudar o grupo a que arriscam a provocar os a correr dando a mãos. é ajudada o tempo todo pelo grupo. ser melhor. os correm e colegas não assim fica difícil pegar. Ele diz que vai sair da brincadeira. pegadores da corrente. dias Solidariedade Em um momento um dos meninos da corrente cai e todo grupo para, se organiza ajudando o menino a voltar para corrente. FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 87 Quadro-19 Indicadores de inter-relações analíticas dia-04 Objeto de comparação Organização Espacial Agressividade Cumprimento de regras Agrupamento por Gênero Cooperação Os alunos se colocam de Em um momento do Apesar de grande parte dos O jogo inicia-se com uma menina A corrente se mostra um pouco alunos e com o passar do tempo a confusa no inicio, mas logo se corrente vai se tronando mista, torna mais estruturada e o jogo flui de maneira mais tranquila e forma mais organizada, o jogo Pega-pega golfinhos e jogo se inicia com uma passam a brincar de luta alguns meninos entrarem quando sardinhas menina como pegadora e de forma agressiva um pegadores sem discutir ainda há mas rapidamente ela pega mais pulando sobre o outro. para são o pegos grupo de não ocorre maiores alguns que quando são pegos se problemas quanto as diferenças organizada duas colegas e aos poucos recusam a entrar na corrente de gênero. momentos a corrente arrebenta, em alguns a corrente vai aumentando fingindo que nada aconteceu. Os mas eles se juntam novamente alunos respeitam melhor a área e retomam o jogo. de jogo. Quadro-20 Indicadores de inter-relações empíricas dia-04 Objeto de comparação Intolerância Apesar de Em momentos Em alguns momentos o grupo ajudou Um aluno G. que desde as quando combinavam o lado os colegas com maiores dificuldades, primeiras sessões fica em frente quebrar sardinhas nesta não sessão mesmo algumas para qual correr todos também quando um colga que estava a filmadora tenta convencer pegar meninas que no inicio corriam para o mesmo lado passando caiu e o grupo parou a alguns amigos a irem abraçados ninguém os alunos se tinham medo de passar e e a atividade se tornava atividade para ajuda-lo a levantar. com ele para serem filmados organizam novamente e serem pegas mudaram mais continuam o jogo sem de atitude se tornando pegadores. maiores problemas. mais conseguirem Pega-pega golfinhos e Egoísmo mais confiantes alguns Solidariedade Os alunos se mostraram eles alguns Confiança momentos a corrente se e em Insegurança ativas participativas. e fácil para os também. E alguns momento ele sai do jogo e diz não querer mais brincar, mas volta logo em seguida. FONTE: Resultado de pesquisa. Elaborado pelo autor 88 5. Considerações finais Observou-se que as situações de risco social, descritas no item 4.1, que muitas crianças vivenciam no cotidiano, podem interferir no comportamento do grupo, dentro do ambiente escolar, pois nestes afloram atitudes de autoproteção que as tornam muito individualistas e por essa razão acabam dando mais ênfase para os jogos que destacam as atitudes individuais para que possam ganhar sem a atitude do grupo. A realização das sessões de jogos cooperativos propiciaram a observação e análise do comportamento dos participantes nos mais variados momentos e situações do processo, possibilitando a construção de um posicionamento positivo e que foi elaborado através da interação nas sessões de jogos, bem como nas reuniões com o grupo. Foi possível depreender que as atividades com os jogos cooperativos despertou no grupo, de maneira geral, a consciência quanto à importância do trabalho cooperativo para se atingir objetivos coletivos, valorizando o grupo. Tal percepção pode ser utilizada como uma estratégia de inclusão social e de melhoria da percepção do ambiente, na medida em que é possível planejar aulas de Educação Física que valorizem o trabalho em grupo e nas quais a importância de se valorizar as diferentes qualidades dos colegas seja efetivada. Apesar do pouco tempo de trabalho, as análise desvelaram uma modificação lenta e gradual no comportamento dos alunos, durante as sessões, mas que se mostraram perceptíveis para os próprios alunos, ficando nítido um aumento da percepção do ambiente por parte deles. Por isso a necessidade de refletir sobre as praticas pedagógicas nas aulas de Educação Física, cujo processo estende-se por horas durante o ano letivo e anos de educação básica. Deve-se considerar que não há a pretensão de diminuir os jogos competitivos ou menosprezar seus benefícios pedagógicos, mas sim de destacar a poderosa ferramenta que se pode encontrar nos jogos cooperativos para educar para cidadania as crianças e jovens que passam pela escola pública, principalmente aquelas que se encontram em ambientes vulneráveis. A ideia, à priori, é considerar o ensino como processo e proporcionar aos alunos uma educação 89 mais completa, possibilitando uma atuação de forma mais eficiente, na medida em que podem ser elaboradas estruturas psíquicas e cognitivas para suportar as adversidades da vulnerabilidade. Os jogos cooperativos auxiliam na construção de seres mais resilientes porque na dinâmica dos jogos ocorre a compreensão de que o não estabelecimento do diálogo dificulta a resolução dos embates inerentes às situações da vida em sociedade. O indivíduo, para ser capaz de mudar as realidades, precisa notar a mesma e compreendê-la para propor as modificações e, para tanto ter uma melhor percepção do ambiente se faz necessário para que o indivíduo possa atuar no meio em que vive , seja no social, geográfico ou cultural, podendo assim, assumir o seu papel como cidadão pleno de seus direitos e deveres. É inegável que os jogos cooperativos atuaram como veículo que levou as informações aos alunos quanto à necessidade de atuar de forma cooperativa, valorizando o coletivo e sua diversidade. A utilização da estratégia da autoescopia e das fichas de auto-avaliação possibilitaram ao grupo a melhor percepção desses fatores que são essenciais na transformação do individuo, pois no ambiente de aula de EF competitivo, quando um se sobressai, o grupo se gratifica como se todos tivessem a ilusão de também serem parte da vitória e se esquivam de seu fracasso ou insucesso individual nas tentativas de vitória. Já no jogo cooperativo todos efetivamente cooperam para que o objetivo seja alcançado e a vitória será de todos, ainda que, no grupo pesquisado inicialmente a experiência dos jogos cooperativos revelaram dificuldades na interação, manifestadas pela irritação e impaciência com a incapacidade de valorizar o coletivo. Em um jogo cooperativo, no qual havia mais exigência e necessidade de muita cooperação e essa ação não aconteceu, a frustração foi tamanha que os alunos abandonaram o jogo, pois se mostraram vulneráveis psicossocialmente e sem recursos internos para suportar a angústia da frustração de se perceberem incompletos. Então, se a frustração é permanente e os mecanismos de negação também, não há a transformação. A percepção dos alunos em relação aos outros jogos, nos quais houve uma melhora gradativa na capacidade de cooperação e consequentemente uma melhor estruturação do jogo, os alunos 90 deram conta da importância do diálogo e do trabalho coletivo na solução de problemas de ordem coletiva. Nota-se que ao proporcionar, nesse momento de escolarização, jogos nos quais seja possível a reflexão e solução de problemas de ordem coletiva, a escola proporcionará mecanismos para o aprendizado e internalização do valor da interação construtiva. Fabriani (2004), afirma que a percepção do fato passa pela interpretação da experiência, portanto desenvolver nas aulas de EF os jogos cooperativos é proporcionar aos alunos a oportunidade deles vivenciarem os conflitos fora das paredes da sala de aula, bem como elaborar e buscar soluções coletivas, cumprindo a proposição do sistema educacional que é o de formar indivíduos participativos através das vivências e experiências adquiridas em um ambiente social escolar bem estruturado. Por fim, fica evidente a importância de se trabalhar com os jogos cooperativos, desenvolvendo-se uma política educacional para a sustentabilidade do indivíduo, que a cada dia se mostra mais competitivo e destrutivo. E a cooperação se mostra como umas das estratégias para que se desenvolva no individuo a capacidade de perceber, de resolver e de conviver com tudo que o cerca. 91 6. Referências AGUIAR, J. S.; DUARTE, É. Educação Inclusiva: um estudo na área de educação física. 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CARMEN FABRIANI E Professor Ms.CÁSSIO JOSÉ SILVA ALMEIDA têm por objetivo firmar acordo escrito com o(a) voluntária(o) para participação da pesquisa acima referida, autorizando sua participação com pleno conhecimento da natureza dos procedimentos a que ela(e) será submetida(o). 1) Natureza da pesquisa: Esta pesquisa tem como finalidades: identificar qual a colaboração da Educação física na educação sócio-ambiental em crianças inseridas em ambiente familiar de risco. 2)Participantes da pesquisa:26 Alunos de 9 e 10 anos de idade alunos do ensino fundamental. 3)Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo você tem liberdade de se recusar a participar e ainda de se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do coordenador do projeto e, se necessário, por meio do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. 4)Sobre as coletas ou entrevistas: Na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Professora Claudina de Oliveira Ramos” no município de Mogi Guaçu São Paulo 5) Riscos e desconforto: Os procedimentos utilizados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética na Pesquisa com Seres Humanos conforme resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Brasília – DF. 6) Confidencialidade: Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Os dados da(o) voluntária(o) serão identificados com um código, e não com o nome. Apenas os membros da pesquisa terão conhecimento dos dados, assegurando assim sua privacidade. 99 7) Benefícios: Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum beneficiodireto. Entretanto, esperamos que este estudo contribua com informações que devem acrescentar elementos importantes à literatura, onde o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. 8) Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa ao autorizar sua participação nesta pesquisa, bem como nada será pago pela participação. 9) Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: Você tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem penalizastes. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para permitir sua participação nesta pesquisa. Portanto, preencha os itens que seguem: CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu,_____________________________________, RG_______________ após a leitura e compreensão destas informações, entendo que a participação de_________________________________, sob minha responsabilidade, é voluntária, e que ele(a) pode sair a qualquer momento do estudo, sem prejuízo algum. Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Mogi Guaçu, ________/_________/_________ Telefone para contato:__________________________ Nome Voluntário:__________________________________________________________ Assinatura Responsável:_________________________________________________________ Pesquisador: Profa. Dra. Carmen Beatriz R. Fabriani e-mail: [email protected] 100 Telefone: (19) 3623-3022 Ramal – (211) Assinatura:________________________________________________________ Pesquisador: Prof. Ms. Cássio José Silva Almeida e-mail: [email protected] Telefone:(19)9136-1956Assinatura:_____________________________________ 101 Apêndice – B Ficha de Experiência 1) O que você acha que aprendeu com os jogos que pode ser útil para você e os outros?; ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________ 2) Que história, que fato aconteceu durante os jogos que mostra o que você acha que aprendeu? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3) Qual jogo vocês mais gostam de praticar nas aulas de educação física Por que? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4) tem alguma sugestão sobre os jogos cooperativos ? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 102