UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA CURSO DE GEOGRAFIA CRESCIMENTO POPULACIONAL DO BAIRRO DE MANGABEIRA (PERÍODO – 1983 A 2005) Alessandra Guedes da Silva João Pessoa 2006 Alessandra Guedes da Silva Crescimento Populacional do Bairro de Mangabeira (PERÍODO – 1983 A 2005) Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Geografia da Universidade Federal da Paraíba, para obtenção do grau de bacharel no curso de Geografia. Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa João Pessoa 2006 S586e SILVA, Alessandra G. da Crescimento Populacional do Bairro de Mangabeira (período – 1983 a 2005)/Alessandra Guedes da Silva.João Pessoa, 2006. 36p.: il Inclui bibliografia Monografia (graduação) CCEN/UFPB Orientador: Paulo Roberto de Oliveira Rosa 1. Demografia – Bairro de Mangabeira (JP) – 1983 – 2005. Alessandra Guedes da Silva Crescimento Populacional do Bairro de Mangabeira (PERÍODO – 1983 A 2005) Monografia aprovada pelo Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção grau de bacharel em Geografia pela seguinte banca examinadora: _______________________________________________ Professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa, Ms. (Orientador) _______________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Fernandes Alonso Examinador _______________________________________________ Prof. Ms. Maria José Vicente de Barros Examinador Convidado João Pessoa - PB,____/____/2006 Dedico este trabalho especialmente aos meus pais, por sempre acreditarem em mim, e pelo apoio que nunca me foi negado. Nesta hora de concretização de mais um sonho quero saibam da minha enorme gratidão. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo fortalecimento que me dá a cada dia para vencer barreiras e seguir sempre confiante na vitória. Ao meu esposo e filha, minhas desculpas pela ausência em alguns momentos em que não pude estar presente na ocasião da elaboração deste, na oportunidade agradeço pela compreensão. Meus sinceros agradecimentos ao Professor Paulo Rosa, pelo imenso incentivo e força que me deu nos dias em que me encontrava desanimada, e pelo fato de estar sempre acessível e disposto a ajudar no que foi necessário para a realização deste trabalho. A minha amiga Viviane tão companheira em todos momentos da minha trajetória acadêmica, aqui fica registrado meus sinceros agradecimentos por tudo, e que a nossa amizade não seja esquecida, apesar de agora começarmos a trilhar caminhos diferentes. E como não poderia esquecer, menciono alguns colegas que muito contribuíram nessa caminhada: Micheline, Jefferson, Eduardo, Éricka, Rosângela, Rosilene, Jorge, Rozeilton,Rogério, Alex, Joana, Adriana e Sinara entre outros. A Professora Ana Madruga por sempre me receber cordialmente quando ainda discutíamos os alicerces dessa pesquisa. Ao Professor Sérgio Alonso pela descontração em suas aulas, e por despertar em mim interesses que certamente desencadeará uma nova pesquisa. A todos meus sinceros agradecimentos. LISTA DE FIGURAS Figura 01: Imagem representando o Bairro Mangabeira 09 Figura 02: Mapa de localização da área de estudo 10 Figura 03 – Comércio na Avenida Josefa Taveira 17 Figura 04 – Maternidade Santa Maria 18 Figura 05 – Mercado Público 18 Figura 06: Escola no Bairro Mangabeira II 20 Figura 07 - Segregação Residencial Mangabeira I 21 Figura 08: Gráfico demonstrando o número de filhos por família. 24 Figura 09: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais 27 Figura 10: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais. 27 Figura 11: Feirinha vista em perspectiva 28 Figura 12: Público em compras 28 RESUMO A presente Monografia procura analisar as causas do crescimento populacional do bairro de Mangabeira, que se diferencia consideravelmente dos demais núcleos urbanos da cidade de João Pessoa. Para a realização do trabalho foram evidenciadas as taxas de natalidade e as migrações ocorrentes.Procuramos então analisar quais os reais motivos do crescimento, como também as condições de vida a que estão submetidas às famílias que lá residem.Os fatores como renda, escolaridade e planejamento familiar merecem destaque, visto que estes influenciam consideravelmente sobre o fenômeno do crescimento populacional. A questão de atrativos de imigração também foram evidenciados, uma vez que também contribuem no processo a ser analisado. Palavras-Chave: Natalidade, Migrações, Planejamento Familiar. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL 12 METODOLOGIA 14 RESULTADOS E DISCUSSÃO 16 O crescimento da cidade em direção à porção Sul: Retrospectiva histórica e 16 aspectos gerais do bairro Desordenamento e segregação espacial 18 Contrastes sociais e econômicos 21 Taxas de natalidade e planejamento familiar 23 Migrações 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS 29 BIBLIOGRAFIA 30 APÊNDICES 31 Apêndice 1: Formulário de Coleta 32 Apêndice 2: Relatório de campo 34 Apêndice 3: Depoimento de uma moradora do conjunto estudado. 36 INTRODUÇÃO A pesquisa foi concebida pelo fenômeno que representa o bairro de Mangabeira para a cidade de João Pessoa, enquanto um núcleo urbano que teve um crescimento populacional rápido e de alta densidade demográfica. Segundo o CENSO (2000), o conjunto conta com uma população de 67.398 habitantes, sendo assim o bairro mais populoso da cidade de João Pessoa (Figuras 1 e 2). O Conjunto Residencial Tarcísio de Miranda Burity, popularmente conhecido como “Mangabeira” foi fundado em 1983, e visava resolver os déficits habitacionais de populações de baixa renda. Atualmente esse conjunto habitacional recebe a denominação de bairro cidade, destacando-se dos demais por ser dotado de um grande número de comércio e serviços, além de diversos órgãos públicos que lá estão instalados. Damiani (1997), afirma que nesses conjuntos habitacionais pode estar alterada a essência mesma do urbano.São as necessidades básicas, cifradas, codificadas, quantificadas que sugerem a produção de serviços e comércio, os mais elementares, em espaços espacialmente segregados para esse propósito.Estamos diante um novo modo de vida, cujo significado urbano e social merece estudos. O crescimento Populacional do bairro Mangabeira não foi compatível com o número de residências existentes, gerando assim aglomerados subnormais bastante visíveis ao longo do conjunto. Segundo Corrêia (2003), a segregação residencial é uma expressão espacial das classes dominantes.Para se compreender isso melhor, é importante que se conheça como no Capitalismo as classes sociais foram estruturadas. 8 FIGURA 01: Imagem representando o Bairro Mangabeira Fonte: Google Earth 9 JOÃO PESSOA MANGABEIRA 1050 0 1050 1100m N 1050 0 1050 1100m Mapa de localização - Bairro Mangabeira/ JP Fonte: Base digital da cidade de João Pessoa - PB, SEPLAN - 1998. O estudo da população do bairro compreendeu as áreas do conjunto Mangabeira I ao VII, procurando analisar que fator preponderante proporcionou esse crescimento. Com base nos dados coletados, dois fatores, a saber, merecem destaque: taxas de natalidade e migrações. Dentro dessas perspectivas, a pesquisa tem como intuito alcançar objetivos confiáveis para analisar a atual dinâmica populacional do bairro. 11 REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL Um olhar individual das coisas e lugares serve primeiramente para se ter uma visão parcial destes. No entanto devemos acrescentar ao nosso olhar individual, fundamentos concretos vivenciados por autores que já possuem uma vasta experiência com a ciência geográfica, ou mesmo com outras ciências que venham trazer suporte para a pesquisa científica.Propondo dessa forma não somente uma visão unilateral e dissociada das coisas e lugares, e sim uma visão conjunta, obtendo assim uma base teórica que seguramente reafirme o que a pesquisa propõe. O tema população é bastante estudado pela demografia, geografia, economia e outras ciências, portando assim uma gama de conhecimentos que se complementam ou mesmo divergem entre si. Nesse sentido, muitos foram os autores que contribuíram para o enriquecimento do tema “população”. Ainda segundo Damiani; a geografia da população é considerada como um ramo da geografia econômica, nos estudos da interligação dos processos econômicos e demográficos. Para atingir objetivos precisos quando se trata de uma pesquisa, devemos utilizar métodos realmente confiáveis. Quando a pesquisa é voltada para a ciência geográfica, sobretudo tratando-se do tema população, requer uma postura crítica frente à realidade, visto que nela existe um posicionamento por uma transformação da realidade social. A metodologia empregada na presente pesquisa será veiculada com o intuito de mostrar os problemas causados pelo crescimento demográfico e suas contradições sociais. Visando um melhor entendimento sobre os atuais aspectos do crescimento populacional, um retorno às teorias clássicas, torna -se essencial para uma melhor análise dos fatos. A teoria Malthusiana afirma que a miséria de grande parte da população torna-se necessária 12 para frear o crescimento da população excedente, uma vez que esse crescimento ultrapassa aos da produção dos meios de subsistência. Sabemos, no entanto, que esta afirmação somente mascara os reais motivos da desigualdade social.Seria apenas o crescimento da população que faria crescer grandes parcelas de miseráveis, ou este em descompasso com o crescimento econômico, além da concentração da renda? Em decorrência desse descompasso agravam-se os problemas econômicos de subsistência como educação, saúde, emprego e moradia entre outros. Para Baptista Filho (1965: p. 20) “Torna-se possível reformular a teoria Malthusiana, certamente seria necessário modificar o seu enunciado, para afirmar que enquanto nas áreas subdesenvolvidas a população cresce em progressão geométrica, os frutos da tecnologia e do progresso são empregados em progressão aritmética”. Contrapondo-se às idéias de Robert Malthus, Karl Marx firma -se na idéia de que no capitalismo não interessa as necessidades da população, e sim a obtenção do lucro. A massa de trabalhadores torna-se imprescindível para a expansão do capital. Enquanto uma volumosa massa de trabalhadores está sendo explorada em seus postos de trabalho, um exército de reserva encontra-se à espera dessas míseras oportunidades.Essa reserva torna -se imprescindível aos grandes detentores do capital, pois esses trabalhadores podem ser substituídos a qualquer momento pelo exército de reserva até então excludente. A partir dessas duas posições, podemos deduzir que somente uma sociedade mais justa e igualitária, com a distribuição eqüitativa da renda associada ao desenvolvimento econômico seria fundamental para resolver os problemas da superpopulação. 13 METODOLOGIA A realização deste trabalho se deu a partir de duas etapas essenciais para o desenvolvimento do tema proposto.Num primeiro momento foi feita uma revisão bibliográfica para se ter como base um referencial teórico. Num segundo momento foi aplicado um questionário (Apêndice) para a obtenção de dados a serem analisados, bem como a realização de documentação fotográfica. Também foi utilizado como suporte visita a órgãos públicos como IBGE e CEHAP, com a finalidade de viabilizar maiores informações, além de sistema informatizado para o mapeamento da área. O trabalho de gabinete constou de levantamento bibliográfico durante a trajetória acadêmica, sendo reforçada no período da realização desta, procurando ampliar os conhecimentos a respeito do tema.Alguns fatores foram considerados fundamentais para direcionar o andamento da pesquisa, dessa forma foram enfatizadas as taxas de natalidade, as migrações e a segregação espacial. Uma visita minuciosa da área de estudo foi essencial para se compreender melhor sua dinâmica espacial, bem como a relação existente entre a referida população e o espaço da qual fazem parte. A aplicação do questionário foi primordial, pois além de conseguir subsídios para a pesquisa com as perguntas formais; a conversa informal com a população muito contribuiu para o enriquecimento do trabalho, pois alguns fatores que não tinham sido levados em consideração, ganharam atenção especial. Nessa etapa com os dados já coletados em campo, estes foram trabalhados com o auxílio do computador através de planilha eletrônica EXCELL, a princípio foram feitas às tabelas, e em seguida a confecção dos gráficos.A partir destes pudemos analisar melhor as 14 informações, visto que os gráficos são dotados de recursos que permitem uma melhor visualização dos dados. Foi elaborado um diagnóstico para averiguar a atual dinâmica populacional do bairro.Dessa forma definimos o problema da seguinte maneira Quais os reais motivos do crescimento populacional do bairro e se fatores atrativos de imigração existentes influenciaram nesse processo. A pesquisa foi realizada do conjunto Mangabeira I ao VII, através da diferenças econômico-sociais visíveis entre as residências regulares e subnormais procuramos investigar a situação econômica da população bem como seus agravantes sociais. 15 RESULTADOS E DISCUSSÃO O crescimento da cidade em direção à porção Sul: Retrospectiva histórica e aspectos gerais do bairro O conjunto habitacional de Mangabeira teve como meta resolver os déficits habitacionais de grande parte da população de João Pessoa que ainda não disponibilizava de moradia. A localização do conjunto era um grande empecilho para que as pessoas migrassem para lá, visto que esta área da cidade era pouco povoada e até então não atingida pela urbanização.A infra-estrutura era ainda muito escassa, as ruas não eram pavimentadas e não havia transporte coletivo para suprir as necessidades dos moradores, o que dificultava bastante a mobilização para outros pontos da cidade. Com o passar dos anos o conjunto passa por uma transformação considerável, com a instalação gradativa de diversos órgãos públicos, como a própria CEHAP (COMPANHIA (ESTADUAL DE HABITAÇÃO POPULAR), órgão responsável pela criação do conjunto, a ACADEPOL, o Centro de Ensino da Polícia Militar e o Detran entre outros. Um outro fator importante bastante conhecido no bairro é a diversificação do comércio.A principal rua do bairro, a Avenida Josefa Taveira é dotada de um número ínfimo de comércio e serviços, e um percentual insignificante de moradias. Por possuir um grande comércio, o conjunto atrai pessoas de bairros vizinhos, e até mesmo de alguns mais distantes devido á sua dinâmica comercial diferenciada, tornando-se assim popularmente conhecido através desse aspecto. Segundo estudos já realizados na Av. Josefa Taveira, foi detectado que apenas 5% das residências ainda tem como finalidade à 16 moradia, e o restante é ocupado pelo comércio que não deixa de crescer, dessa forma o bairro emprega parcela significante da população residente (FIG 03). FIGURA 03 – Comércio na Avenida Josefa Taveira Foto: Ortilo Antônio Data: 09/10/05 Juntamente com a expansão comercial, o bairro disponibiliza de um grande número de escolas públicas e particulares, várias linhas de transporte coletivo, agências Bancárias, Cartórios, postos de Saúde, Clinicas, Pronto Socorro e Maternidade, além de um Mercado Público, fazendo assim um diferencial perante outros bairros da cidade (Figuras 04 e 05). 17 FIGURA 04 – Maternidade Santa Maria Ortilo Antônio Data: 09/10/05 FIGURA 05 – Mercado Público Ortilo Antônio Data: 09/10/05 Quanto à infra-estrutura, atualmente todo bairro, excetuando-se às áreas subnormais é pavimentado, possui rede de esgotos, bem como abastecimento de água e energia elétrica.A coleta do lixo é feita regularmente em dias alternados. Algumas áreas subnormais onde não possui rede de esgotos, evidenciamos córregos a céu aberto exalando mau cheiro, além de contribuir para facilitar a contaminação de uma série de enfermidades. Desordenamento e segregação espacial Apesar do conjunto apresentar um porte bem acima dos demais até então construídos, podemos verificar ao longo deste, diversos aglomerados subnormais. Sabemos por tanto, que esta é uma tendência irremediável provocado pelo inchaço a que estão submetidas as grandes 18 cidades.No caso específico do conjunto Mangabeira não foi diferente, os movimentos migratórios que vem ocorrendo desde a sua fundação provocaram fortes mudanças nesse espaço. Considerando que as características de um determinado lugar contribuem significativamente no modo de vida a que está submetida determinada população, podemos afirmar que estas migrações ocorridas sejam realizadas a partir do momento em que o homem procura melhorar sua condição social, e é dessa forma que se justificam esses movimentos em direção ao bairro de Mangabeira. Muitas vezes a grande cidade exerce um certo fascínio ilusório sobre as pessoas que residem em áreas distantes dos centros urbanos, pois estes aparentam um modo de vida mais fácil, diferentemente do que ocorre em suas cidades de origem, onde normalmente o acesso à saúde e educação é escasso. No conjunto Mangabeira II, encontramos uma escola abandonada, totalmente em ruínas.Segundo depoimentos de moradores ela não chegou a ser inaugurada, e logo fora invadido por famílias, que passaram alguns anos ocupando e depois foram transferidas para o Conjunto José Américo. Verificamos, no entanto a deterioração do urbano, a escola que deveria cumprir a sua função social encontra-se entregue a boa vontade do poder público para que seja restaurada e efetivamente funcione (FIG 06). 19 FIGURA 06: Escola no Bairro Mangabeira II Ortilo Antônio Data: 09/10/05 Os terrenos baldios normalmente “conservados” para que posteriormente sejam construídas praças ou áreas de lazer nesses novos conjuntos residenciais, comumente ficam ociosos, e com o tempo vão dando lugar a novas habitações, estas desprovidas de infra-estrutura básica necessária que o indivíduo necessita para realizar suas atividades diárias. Segundo Corrêa (2003: p 62), “para se entender a questão do como morar, é preciso que se compreenda o problema da produção da habitação. Trata-se de uma mercadoria especial, possuindo valor de uso e valor de troca, o que faz dela uma mercadoria sujeita aos mecanismos de mercado.Seu caráter especial aparece na medida em que depende de outra mercadoria especial _ a terra urbana, cuja produção é lenta, artesanal e cara, excluindo parcela ponderável, senão a maior parte, da população de seu acesso, atendendo apenas a uma pequena demanda solvável. Como o preço da terra urbana é inacessível por grande parcela da população que não possui moradia, a alternativa que resta é ocupar os espaços vazios nas grandes cidades. 20 Em Mangabeira não existem mais esses espaços vazios, e poucos são os que foram ocupados com praças ou áreas destinadas ao lazer.Contudo os aglomerados subnormais foram ganhando espaço, e com o tempo foi transformado o plano original do bairro, provocando assim uma segregação espacial desenfreada, além de uma série de problemas de cunho social que freqüentemente são gerados nessas áreas. Além dos aglomerados subnormais, verificamos uma outra tendência, onde pequenas casas são construídas nos fundos ou laterais das residências regulares como forma de suprir as necessidades da falta de moradia. Contrastes sociais e econômicos Ao longo do conjunto observamos em vários pontos a segregação residencial, esta por sua vez denuncia os contrastes sócio-econômicos existentes no bairro. De um lado residências que confirmam uma situação econômica regular ou estável, e de outro pequenos aglomerados desprovidos de infra-estrutura(FIG 07). FIGURA 07 - Segregação Residencial Mangabeira I Ortilo Antônio Data: 09/10/05 21 Fazendo um comparativo, como não era difícil de imaginar, constatamos contrastes em relação ao fator renda entre as residências regulares e os aglomerados subnormais. Os dados afirmam que no universo de 35 famílias entrevistadas em áreas subnormais; 54,28% sobrevivem com apenas um salário mínimo, evidenciamos também um número expressivo de famílias sem rendimento somando um total de 14,28%.Apenas um percentual insignificante de 2,85% afirmou ter rendimento mensal entre três e quatro salários, e os 28,57% restantes declararam apenas um rendimento entre um e 2 salários mínimos. Com base nesses dados podemos constatar a precariedade no nível de vida dessas famílias, pois os baixos salários impossibilitam que estas tenham acesso à educação e saúde de qualidade, ou mesmo a outras necessidades básicas como alimentação adequada ou moradia. Algumas dessas famílias sem rendimento ou que recebem apenas um salário mínimo, contam com ajuda financeira do governo como bolsa escola e bolsa família.Vale ressaltar que nem todas conseguem receber esse auxílio, e que muitas, há algum tempo, almejam receber sem conseguir êxito. Para se ter uma idéia das dificuldades que estas famílias enfrentam no seu dia-adia, quando perguntamos se a ajuda financeira do governo trouxe melhorias, foram unânimes em informar que sim. Segundo Verrière (1978: p. 40), “Com menos crianças a renda por pessoa qualquer que seja a maneira de calculá-la, aumentaria. Se toda a elevação da renda média fosse dedicada a um consumo maior, e se o adulto e a criança média conservassem as mesmas partes relativas de consumo, haveria uma alta geral nos níveis de vida, correspondendo a um crescimento de renda per capita. Cada um se alimentaria melhor e teria melhor habitação; todos teriam acesso mais plenamente, aos serviços educativos e médicos e, de maneira geral, aos serviços oferecidos pelo orçamento público”. 22 Quando procuramos investigar a situação sócio-econômica das famílias que residem em casas do conjunto, notamos melhoria não somente ao que diz respeito à renda, mas também quanto ao nível educacional.No universo de 35 entrevistadas, não encontramos famílias sem rendimento, o percentual que recebem até um salário mínimo foi de 28,57%, quase metade do que foi registrado nos domicílios de baixo padrão, e entre um e dois salários somaram um percentual de 25,71%.Já os rendimentos entre três e 5 salários ou mais somaram um total de 45,71%. No tocante ao grau de escolaridade, nos aglomerados, o maior índice de escolaridade encontra-se no nível fundamental incompleto, formando um percentual de 68,57%.Consideramos dessa forma que o nível educacional reflete consideravelmente na qualidade de vida. Nas residências regulares, o grau de instrução encontra-se num nível melhor, embora o percentual de pessoas que possuem o nível superior ainda seja muito baixo. Taxas de natalidade e planejamento familiar O índice de natalidade é obtido através do número de nascimentos de um determinado ano, multiplicado por 1000 e dividido pela população total no ano e local considerados. A partir do momento em que há o aumento da população de um determinado lugar, normalmente há também o interesse em desvendar suas causas, bem como estudar seus supostos problemas. O que podemos observar através dos dados coletados, é que o maior percentual de filhos no bairro situase na faixa de 1 a 3, tanto nas áreas de residências regulares como nos aglomerados subnormais.Quando procuramos investigar o número de famílias com quatro ou mais filhos, verificamos que este número decresce bastante, embora não deixe de existir (FIG 08). 23 25 20 15 Seqüência1 10 5 FI LH O S 6 O U M AI S 5 FI LH O S 4 3 FI LH O S FI HO S 2 FI LH O 1 NE NH UM 0 FIGURA 08: Gráfico demonstrando o número de filhos por família. Um ponto que merece destaque nas famílias acima de 4 filhos é o fator renda, os dados afirmam que a grande maioria dessas famílias sobrevivem com apenas 1 salário mínimo, onde sabemos que este não supre nem as necessidades mais elementares de apenas uma pessoa, imagine de uma família numerosa.A partir daí, podemos inferir as péssimas qualidades de vida a que estas famílias estão submetidas. O aumento do número de mulheres que trabalham fora pode explicar a forte tendência em limitar o número da prole, uma vez que tendo que se ausentar do lar, as mães possuem pouco tempo para ficar com os filhos. A pesquisa mostrou que 34,28% das mulheres entrevistadas possuem alguma atividade remunerada. A necessidade de ajudar no aumento da renda familiar, associada a disseminação dos métodos contraceptivos, contribuíram bastante na queda das taxas de natalidade, pois mesmo mulheres com baixa escolaridade que não entendem plenamente os mecanismos da concepção, são orientadas a fazer uso destes, além do baixo custo da pílula ( método mais utilizado ) e a 24 maior eficácia contra uma gravidez indesejada, são distribuídas gratuitamente para as camadas menos favorecidas da população, além de outros métodos que podem ser utilizados para esta finalidade. Nos últimos anos vem ganhando força a doutrina do planejamento familiar, com a expansão da comercialização dos métodos contraceptivos, os casais ganham uma maior liberdade em fazer o seu planejamento familiar, tanto escolhendo o número de filhos, quanto o espaço de tempo entre os nascimentos. Os Postos de Saúde da Família presentes no bairro, além de prestar serviços médicos à população, também trabalham orientando os casais no tocante ao planejamento familiar, prestando esclarecimentos quanto ao uso dos métodos anticoncepcionais, acompanhamento e distribuição gratuita. Outro método empregado no controle da natalidade é a laqueadura de trompas, este definitivo, pois uma vez feito o procedimento cirúrgico, há uma possibilidade muito remota de engravidar novamente. As estatísticas revelam ainda que 39,28% das mulheres entrevistadas já fizeram laqueadura ou usam algum método anticoncepcional. Além dos métodos que a mulher pode utilizar no controle da natalidade, o homem atualmente também dispõe da vasectomia, uma cirurgia simples que consiste na secção dos canais deferentes e é feita com anestesias local, através de um pequeno corte na pele do saco escrotal. Uma maior conscientização por parte das famílias no custo da criação dos filhos como saúde, educação e moradia entre outros também explicariam a redução no número de filhos. Ainda segundo Damiani (2004: 38), “o importante a considerar é que além de um melhor padrão de consumo, outras razões sócio-econômicas, também explicariam o tamanho da prole. Seria preciso estudar a perda de funções da família no mundo moderno e tendências contrapostas a esse processo, para aprofundar a análise”. 25 Migrações Entendemos por migrações os movimentos realizados por pessoas de um lugar para outro, podendo estes ser permanentes ou temporários. A questão do povoamento está intrinsecamente ligada às migrações.Se em algum momento ou lugar determinado ocorre o fenômeno da superpopulação, este freqüentemente se dá através do processo de maior intensidade da ocorrência de migrações. O deslocamento de contingentes populacionais para o centro urbano provoca um certo esvaziamento em seus locais de origem.Em contrapartida esse mesmo contingente vai gerar nas grandes cidades um certo inchaço por não poder comportar tamanho aumento populacional. As parcelas menos favorecidas que procuram fixar residência nas grandes cidades encontram como alternativa ocupar as áreas periféricas localizadas distante do centro.Muitos autores falam mesmo da ruralização do urbano. O ingresso permanente de indivíduos provenientes de áreas rurais em áreas urbanas é influenciado principalmente por estas possuírem grande número de equipamentos coletivos, maior oferta de emprego, e também por demonstrarem um bem estar social diferenciado, dessa forma tendem a uma maior concentração demográfica. O Conjunto Mangabeira conta atualmente com uma série de equipamentos urbanos, podendo estes exercer forte influência sobre as migrações ocorrentes. Constatamos que 2/3 da população feminina entrevistada tanto em residências regulares como em aglomerados subnormais não é natural do município de João Pessoa e sim migrantes de outras áreas da zona da mata, agreste ou sertão (Figuras 09 e 10). 26 FIGURA 09: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais. FIGURA 10: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais. 27 Uma população excedente pode ser vista claramente em todo bairro, pois são diversos os aglomerados subnormais existentes.Os moradores do aglomerado popularmente conhecido como “Feirinha” localizada em Mangabeira I, foram contemplados com a construção de apartamentos de baixo padrão, porém ainda em fase de construção estes foram invadidos tanto por moradores do aglomerado Feirinha como famílias de outras localidades.(Figuras 11 e 12). FIGURA 11: Feirinha vista em perspectiva Ortilo Antônio Data: 09/10/05 FIGURA 12: Público em compras Ortilo Antônio Data: 09/10/05 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do que foi observado, o crescimento populacional do bairro não se deu através do processo vegetativo, apesar de algumas famílias apresentarem uma população relativamente numerosa para os padrões atuais.No entanto, o que foi realmente observado, é que parcela considerável dos indivíduos entrevistados, nos notificou de maneira informal que sua origem era externa ao território pessoense, ou seja, pessoas anunciavam que não eram do lugar, e sim oriundas de outras áreas da Zona da Mata, do Brejo Paraibano, do Sertão, ou mesmo de outros lugares do estado. Dessa forma podemos constatar que o fator preponderante para o fenômeno do crescimento populacional em Mangabeira seja decorrente das migrações que vem ocorrendo desde a sua fundação, uma vez que estes indivíduos que migram do seu local de origem estejam procurando melhorar sua condição social. A importância do presente estudo se dá a partir do momento em que podemos denunciar as contradições sociais existentes em um determinado espaço, onde as chances para todos indivíduos que dele fazem parte acontece de forma injusta e desigual. 29 BIBLIOGRAFIA BERELSON, Bernard. População – a crise que desafia o mundo. Editora Cultrix, 1969. CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. Editora Contexto, São Paulo, 1992. CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. DAMIANI, Amélia Luiza. População e geografia. Editora Contexto, 1997. BAPTISTA FILHO, Olavo. População e desenvolvimento.Editora da Universidade de São Paulo/SP, 1695. GARNIER, Jaqueline Beaujeu. Geografia de população.CIA Editora Nacional, 1980. IBGE, Censo 2000. LAVIERI & LAVIERI. A questão urbana na Paraíba. Editora Universitária/UFPB, 1999. OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer Projetos, Relatórios, Monografias, Dissertações e Teses. Edições Bagaço, 2003. SANTOS, Jair; LEVY Mª Stella Ferreira; SZMRECSANYI, Tamás; CAMARGO; Cândido Procópio. Dinâmica da população, Teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, 1980. VERRIÈRE, Jacques. As políticas de população. Editora Bertrand Brasil, 1991. 30 Apêndice 31 Apêndice 1: Formulário de Coleta QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO 1) Área do conjunto Mangabeira: _______ 2) Natural de João Pessoa? Sim ( ) Não ( ) 3) Faixa etária: Menor de 18 ( Entre 18 e 30 ( Entre 30 e 40 ( Acima de 40 ( ) ) ) ) 4) Estado civil: Solteira ( Casada ( Divorciada ( Viúva ( ) ) ) ) 5) Grau de escolaridade: Não alfabetizado Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior Completo ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) 6) Trabalha? Sim ( ) Não ( ) 32 7) Tem filhos? 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ou mais ( 8) Laqueada? Sim ( ) ) Não ( ) 9) Usa algum método contraceptivo? Sim ( ) Não ( ) 10) Rendimento familiar: Até 1 salário mínimo Entre 1 e 2 salários Entre 2 e 3 salários Entre 3 e 4 salários Acima de 5 salários ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) 11) Recebe algum auxílio financeiro do governo? Sim ( Não ( ) ) 12) Qual? Bolsa-escola ( ) Bolsa-família ( ) Vale-gás ( ) Outros ( ) 13) Acredita que a ajuda financeira do governo trouxe melhorias? Sim ( ) Não ( ) 33 Apêndice 2: Relatório de campo Trajetória de aplicação do questionário O questionário foi aplicado no período de 20 de agosto a 03 de setembro de 2005. Não houve por parte da maioria das entrevistadas nenhum empecilho em contribuir para as respostas do questionário, com exceção de apenas uma senhora que alegou indisponibilidade de tempo.Nas demais residências fui atendida cordialmente, e apesar de minha identificação e o motivo do questionário, muitas vezes me perguntavam para que serviria a entrevista.Após maiores esclarecimentos as respostas foram espontâneas, e algumas vezes fui até convidada a participar das refeições. No primeiro dia de aplicação do questionário, fiz do conjunto Mangabeira I ao IV, foi um pouco cansativo devido ao horário que escolhi, das 11:00 às 15:00, ficando assim incapacitada de fazer o restante, retornando então ao campo no dia 22, quando fiz o Mangabeira V e VI, agora em um melhor horário, das 08:00 às 10:00, o que facilitou bastante. No dia 27 fiz parcialmente o Mangabeira VII, finalizando somente no dia 03 de setembro, isto porque encontrei dificuldades, pois as residências que deveria entrevistar encontravam-se fechadas dias anteriores. Terminada esta etapa, agora tenho em mãos subsídios para iniciar a pesquisa, e poder desvendar os reais motivos que levaram o crescimento da população do referido bairro. OBS: Alguns fatores que não tinham sido levados em consideração no questionário foram acrescentados. 34 Pessoas sem filhos Algumas entrevistadas n ão trabalhavam, mas eram pensionistas ou aposentadas ( baixo percentual). Algumas entrevistadas solteiras vivem com companheiros. 35 Apêndice 3: Depoimento de uma moradora do conjunto estudado. DEPOIMENTO DE UMA MORADORA DO CONJUNTO MANGABEIRA II Moro no conjunto há dez anos, e até três anos atrás esta escola ( referindo-se à escola abandonada que não chegou a ser inaugurada ) era ocupada por um grande número de famílias, não sei dizer exatamente quantas, mas estas estavam submetidas a todo tipo de perniciosidade, e a violência era uma constante.Por medidas governamentais essas famílias foram transferidas para o Conjunto José Américo. Esperávamos então que a escola fosse restaurada e realmente cumprisse sua função social, no entanto nada disso aconteceu.Atualmente ela tem como finalidade abrigar marginais e menores para o consumo de drogas. A partir das 18:00 horas, os moradores procuram não sair de casa para evitar transtornos, e muitos já sofreram ameaças. Desejamos que o poder público tome providências o mais rápido possível e que algo seja feito o quanto antes. 36