UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
CURSO DE GEOGRAFIA
CRESCIMENTO POPULACIONAL DO
BAIRRO DE MANGABEIRA
(PERÍODO – 1983 A 2005)
Alessandra Guedes da Silva
João Pessoa
2006
Alessandra Guedes da Silva
Crescimento Populacional do Bairro de
Mangabeira
(PERÍODO – 1983 A 2005)
Monografia
apresentada
à
Coordenação do Curso de Geografia
da Universidade Federal da Paraíba,
para obtenção do grau de bacharel
no curso de Geografia.
Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa
João Pessoa
2006
S586e
SILVA, Alessandra G. da
Crescimento Populacional do Bairro de Mangabeira
(período – 1983 a 2005)/Alessandra Guedes da Silva.João Pessoa, 2006.
36p.: il
Inclui bibliografia
Monografia (graduação) CCEN/UFPB
Orientador: Paulo Roberto de Oliveira Rosa
1. Demografia – Bairro de Mangabeira (JP) – 1983 – 2005.
Alessandra Guedes da Silva
Crescimento Populacional do Bairro de
Mangabeira
(PERÍODO – 1983 A 2005)
Monografia aprovada pelo Curso de
Graduação
em
Geografia
da
Universidade Federal da Paraíba como
requisito para obtenção grau de
bacharel em Geografia pela seguinte
banca examinadora:
_______________________________________________
Professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa, Ms.
(Orientador)
_______________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Fernandes Alonso
Examinador
_______________________________________________
Prof. Ms. Maria José Vicente de Barros
Examinador Convidado
João Pessoa - PB,____/____/2006
Dedico este trabalho especialmente aos meus
pais, por sempre acreditarem em mim, e pelo
apoio que nunca me foi negado. Nesta hora de
concretização de mais um sonho quero saibam
da minha enorme gratidão.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo fortalecimento que me dá a cada dia para
vencer barreiras e seguir sempre confiante na vitória.
Ao meu esposo e filha, minhas desculpas pela ausência em alguns momentos em
que não pude estar presente na ocasião da elaboração deste, na oportunidade agradeço pela
compreensão.
Meus sinceros agradecimentos ao Professor Paulo Rosa, pelo imenso incentivo e
força que me deu nos dias em que me encontrava desanimada, e pelo fato de estar sempre
acessível e disposto a ajudar no que foi necessário para a realização deste trabalho.
A minha amiga Viviane tão companheira em todos momentos da minha trajetória
acadêmica, aqui fica registrado meus sinceros agradecimentos por tudo, e que a nossa
amizade não seja esquecida, apesar de agora começarmos a trilhar caminhos diferentes.
E como não poderia esquecer, menciono alguns colegas que muito contribuíram
nessa caminhada: Micheline, Jefferson, Eduardo, Éricka, Rosângela, Rosilene, Jorge,
Rozeilton,Rogério, Alex, Joana, Adriana e Sinara entre outros.
A Professora Ana Madruga por sempre me receber cordialmente quando ainda
discutíamos os alicerces dessa pesquisa.
Ao Professor Sérgio Alonso pela descontração em suas aulas, e por despertar em
mim interesses que certamente desencadeará uma nova pesquisa.
A todos meus sinceros agradecimentos.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Imagem representando o Bairro Mangabeira
09
Figura 02: Mapa de localização da área de estudo
10
Figura 03 – Comércio na Avenida Josefa Taveira
17
Figura 04 – Maternidade Santa Maria
18
Figura 05 – Mercado Público
18
Figura 06: Escola no Bairro Mangabeira II
20
Figura 07 - Segregação Residencial Mangabeira I
21
Figura 08: Gráfico demonstrando o número de filhos por família.
24
Figura 09: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados
subnormais
27
Figura 10: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados
subnormais.
27
Figura 11: Feirinha vista em perspectiva
28
Figura 12: Público em compras
28
RESUMO
A presente Monografia procura analisar as causas do crescimento populacional do bairro de
Mangabeira, que se diferencia consideravelmente dos demais núcleos urbanos da cidade de
João Pessoa. Para a realização do trabalho foram evidenciadas as taxas de natalidade e as
migrações ocorrentes.Procuramos então analisar quais os reais motivos do crescimento,
como também as condições de vida a que estão submetidas às famílias que lá residem.Os
fatores como renda, escolaridade e planejamento familiar merecem destaque, visto que
estes influenciam consideravelmente sobre o fenômeno do crescimento populacional. A
questão de atrativos de imigração também foram evidenciados, uma vez que também
contribuem no processo a ser analisado.
Palavras-Chave: Natalidade, Migrações, Planejamento Familiar.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL
12
METODOLOGIA
14
RESULTADOS E DISCUSSÃO
16
O crescimento da cidade em direção à porção Sul: Retrospectiva histórica e
16
aspectos gerais do bairro
Desordenamento e segregação espacial
18
Contrastes sociais e econômicos
21
Taxas de natalidade e planejamento familiar
23
Migrações
26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
29
BIBLIOGRAFIA
30
APÊNDICES
31
Apêndice 1: Formulário de Coleta
32
Apêndice 2: Relatório de campo
34
Apêndice 3: Depoimento de uma moradora do conjunto estudado.
36
INTRODUÇÃO
A pesquisa foi concebida pelo fenômeno que representa o bairro de Mangabeira para
a cidade de João Pessoa, enquanto um núcleo urbano que teve um crescimento populacional
rápido e de alta densidade demográfica. Segundo o CENSO (2000), o conjunto conta com uma
população de 67.398 habitantes, sendo assim o bairro mais populoso da cidade de João Pessoa
(Figuras 1 e 2).
O Conjunto Residencial Tarcísio de Miranda Burity, popularmente conhecido como
“Mangabeira” foi fundado em 1983, e visava resolver os déficits habitacionais de populações de
baixa renda. Atualmente esse conjunto habitacional recebe a denominação de bairro cidade,
destacando-se dos demais por ser dotado de um grande número de comércio e serviços, além de
diversos órgãos públicos que lá estão instalados.
Damiani (1997), afirma que nesses conjuntos habitacionais pode estar alterada a
essência mesma do urbano.São as necessidades básicas, cifradas, codificadas, quantificadas que
sugerem a produção de serviços e comércio, os mais elementares, em espaços espacialmente
segregados para esse propósito.Estamos diante um novo modo de vida, cujo significado urbano e
social merece estudos.
O crescimento Populacional do bairro Mangabeira não foi compatível com o número
de residências existentes, gerando assim aglomerados subnormais bastante visíveis ao longo do
conjunto. Segundo Corrêia (2003), a segregação residencial é uma expressão espacial das classes
dominantes.Para se compreender isso melhor, é importante que se conheça como no Capitalismo
as classes sociais foram estruturadas.
8
FIGURA 01: Imagem representando o Bairro Mangabeira
Fonte: Google Earth
9
JOÃO PESSOA
MANGABEIRA
1050
0
1050
1100m
N
1050
0
1050
1100m
Mapa de localização - Bairro Mangabeira/ JP
Fonte: Base digital da cidade de João
Pessoa - PB, SEPLAN - 1998.
O estudo da população do bairro compreendeu as áreas do conjunto Mangabeira I ao
VII, procurando analisar que fator preponderante proporcionou esse crescimento. Com base nos
dados coletados, dois fatores, a saber, merecem destaque: taxas de natalidade e migrações. Dentro
dessas perspectivas, a pesquisa tem como intuito alcançar objetivos confiáveis para analisar a
atual dinâmica populacional do bairro.
11
REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL
Um olhar individual das coisas e lugares serve primeiramente para se ter uma visão
parcial destes. No entanto devemos acrescentar ao nosso olhar individual, fundamentos concretos
vivenciados por autores que já possuem uma vasta experiência com a ciência geográfica, ou
mesmo com outras ciências que venham trazer suporte para a pesquisa científica.Propondo dessa
forma não somente uma visão unilateral e dissociada das coisas e lugares, e sim uma visão
conjunta, obtendo assim uma base teórica que seguramente reafirme o que a pesquisa propõe.
O tema população é bastante estudado pela demografia, geografia, economia e outras
ciências, portando assim uma gama de conhecimentos que se complementam ou mesmo
divergem entre si. Nesse sentido, muitos foram os autores que contribuíram para o
enriquecimento do tema “população”.
Ainda segundo Damiani; a geografia da população é considerada como um ramo da
geografia econômica, nos estudos da interligação dos processos econômicos e demográficos. Para
atingir objetivos precisos quando se trata de uma pesquisa, devemos utilizar métodos realmente
confiáveis. Quando a pesquisa é voltada para a ciência geográfica, sobretudo tratando-se do tema
população, requer uma postura crítica frente à realidade, visto que nela existe um posicionamento
por uma transformação da realidade social. A metodologia empregada na presente pesquisa será
veiculada com o intuito de mostrar os problemas causados pelo crescimento demográfico e suas
contradições sociais.
Visando um melhor entendimento sobre os atuais aspectos do crescimento
populacional, um retorno às teorias clássicas, torna -se essencial para uma melhor análise dos
fatos. A teoria Malthusiana afirma que a miséria de grande parte da população torna-se necessária
12
para frear o crescimento da população excedente, uma vez que esse crescimento ultrapassa aos da
produção dos meios de subsistência.
Sabemos, no entanto, que esta afirmação somente mascara os reais motivos da
desigualdade social.Seria apenas o crescimento da população que faria crescer grandes parcelas
de miseráveis, ou este em descompasso com o crescimento econômico, além da concentração da
renda? Em decorrência desse descompasso agravam-se os problemas econômicos de subsistência
como educação, saúde, emprego e moradia entre outros.
Para Baptista Filho (1965: p. 20) “Torna-se possível reformular a teoria Malthusiana,
certamente seria necessário modificar o seu enunciado, para afirmar que enquanto nas áreas
subdesenvolvidas a população cresce em progressão geométrica, os frutos da tecnologia e do
progresso são empregados em progressão aritmética”.
Contrapondo-se às idéias de Robert Malthus, Karl Marx firma -se na idéia de que no
capitalismo não interessa as necessidades da população, e sim a obtenção do lucro. A massa de
trabalhadores torna-se imprescindível para a expansão do capital. Enquanto uma volumosa massa
de trabalhadores está sendo explorada em seus postos de trabalho, um exército de reserva
encontra-se à espera dessas míseras oportunidades.Essa reserva torna -se imprescindível aos
grandes detentores do capital, pois esses trabalhadores podem ser substituídos a qualquer
momento pelo exército de reserva até então excludente.
A partir dessas duas posições, podemos deduzir que somente uma sociedade mais
justa e igualitária, com a distribuição eqüitativa da renda associada ao desenvolvimento
econômico seria fundamental para resolver os problemas da superpopulação.
13
METODOLOGIA
A realização deste trabalho se deu a partir de duas etapas essenciais para o
desenvolvimento do tema proposto.Num primeiro momento foi feita uma revisão bibliográfica
para se ter como base um referencial teórico. Num segundo momento foi aplicado um
questionário (Apêndice) para a obtenção de dados a serem analisados, bem como a realização de
documentação fotográfica. Também foi utilizado como suporte visita a órgãos públicos como
IBGE e CEHAP, com a finalidade de viabilizar maiores informações, além de sistema
informatizado para o mapeamento da área.
O trabalho de gabinete constou de levantamento bibliográfico durante a trajetória
acadêmica, sendo reforçada no período da realização desta, procurando ampliar os conhecimentos
a respeito do tema.Alguns fatores foram considerados fundamentais para direcionar o andamento
da pesquisa, dessa forma foram enfatizadas as taxas de natalidade, as migrações e a segregação
espacial.
Uma visita minuciosa da área de estudo foi essencial para se compreender melhor sua
dinâmica espacial, bem como a relação existente entre a referida população e o espaço da qual
fazem parte. A aplicação do questionário foi primordial, pois além de conseguir subsídios para a
pesquisa com as perguntas formais; a conversa informal com a população muito contribuiu para o
enriquecimento do trabalho, pois alguns fatores que não tinham sido levados em consideração,
ganharam atenção especial.
Nessa etapa com os dados já coletados em campo, estes foram trabalhados com o
auxílio do computador através de planilha eletrônica EXCELL, a princípio foram feitas às
tabelas, e em seguida a confecção dos gráficos.A partir destes pudemos analisar melhor as
14
informações, visto que os gráficos são dotados de recursos que permitem uma melhor
visualização dos dados.
Foi elaborado um diagnóstico para averiguar a atual dinâmica populacional do
bairro.Dessa forma definimos o problema da seguinte maneira Quais os reais motivos do
crescimento populacional do bairro e se fatores atrativos de imigração existentes influenciaram
nesse processo. A pesquisa foi realizada do conjunto Mangabeira I ao VII, através da diferenças
econômico-sociais visíveis entre as residências regulares e subnormais procuramos investigar a
situação econômica da população bem como seus agravantes sociais.
15
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O crescimento da cidade em direção à porção Sul: Retrospectiva histórica e
aspectos gerais do bairro
O conjunto habitacional de Mangabeira teve como meta resolver os déficits
habitacionais de grande parte da população de João Pessoa que ainda não disponibilizava de
moradia. A localização do conjunto era um grande empecilho para que as pessoas migrassem
para lá, visto que esta área da cidade era pouco povoada e até então não atingida pela
urbanização.A infra-estrutura era ainda muito escassa, as ruas não eram pavimentadas e não havia
transporte coletivo para suprir as necessidades dos moradores, o que dificultava bastante a
mobilização para outros pontos da cidade.
Com o passar dos anos o conjunto passa por uma transformação considerável, com a
instalação gradativa de diversos órgãos públicos, como a própria CEHAP (COMPANHIA
(ESTADUAL DE HABITAÇÃO POPULAR), órgão responsável pela criação do conjunto, a
ACADEPOL, o Centro de Ensino da Polícia Militar e o Detran entre outros. Um outro fator
importante bastante conhecido no bairro é a diversificação do comércio.A principal rua do bairro,
a Avenida Josefa Taveira é dotada de um número ínfimo de comércio e serviços, e um percentual
insignificante de moradias. Por possuir um grande comércio, o conjunto atrai pessoas de bairros
vizinhos, e até mesmo de alguns mais distantes devido á sua dinâmica comercial diferenciada,
tornando-se assim popularmente conhecido através desse aspecto. Segundo estudos já realizados
na Av. Josefa Taveira, foi detectado que apenas 5% das residências ainda tem como finalidade à
16
moradia, e o restante é ocupado pelo comércio que não deixa de crescer, dessa forma o bairro
emprega parcela significante da população residente (FIG 03).
FIGURA 03 – Comércio na Avenida Josefa Taveira
Foto: Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
Juntamente com a expansão comercial, o bairro disponibiliza de um grande número
de escolas públicas e particulares, várias linhas de transporte coletivo, agências Bancárias,
Cartórios, postos de Saúde, Clinicas, Pronto Socorro e Maternidade, além de um Mercado
Público, fazendo assim um diferencial perante outros bairros da cidade (Figuras 04 e 05).
17
FIGURA 04 – Maternidade Santa Maria
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
FIGURA 05 – Mercado Público
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
Quanto à infra-estrutura, atualmente todo bairro, excetuando-se às áreas subnormais é
pavimentado, possui rede de esgotos, bem como abastecimento de água e energia elétrica.A
coleta do lixo é feita regularmente em dias alternados. Algumas áreas subnormais onde não
possui rede de esgotos, evidenciamos córregos a céu aberto exalando mau cheiro, além de
contribuir para facilitar a contaminação de uma série de enfermidades.
Desordenamento e segregação espacial
Apesar do conjunto apresentar um porte bem acima dos demais até então construídos,
podemos verificar ao longo deste, diversos aglomerados subnormais. Sabemos por tanto, que esta
é uma tendência irremediável provocado pelo inchaço a que estão submetidas as grandes
18
cidades.No caso específico do conjunto Mangabeira não foi diferente, os movimentos migratórios
que vem ocorrendo desde a sua fundação provocaram fortes mudanças nesse espaço.
Considerando
que
as
características
de
um
determinado
lugar
contribuem
significativamente no modo de vida a que está submetida determinada população, podemos
afirmar que estas migrações ocorridas sejam realizadas a partir do momento em que o homem
procura melhorar sua condição social, e é dessa forma que se justificam esses movimentos em
direção ao bairro de Mangabeira.
Muitas vezes a grande cidade exerce um certo fascínio ilusório sobre as pessoas que
residem em áreas distantes dos centros urbanos, pois estes aparentam um modo de vida mais
fácil, diferentemente do que ocorre em suas cidades de origem, onde normalmente o acesso à
saúde e educação é escasso. No conjunto Mangabeira II, encontramos uma escola abandonada,
totalmente em ruínas.Segundo depoimentos de moradores ela não chegou a ser inaugurada, e logo
fora invadido por famílias, que passaram alguns anos ocupando e depois foram transferidas para
o Conjunto José Américo.
Verificamos, no entanto a deterioração do urbano, a escola que deveria cumprir a sua
função social encontra-se entregue a boa vontade do poder público para que seja restaurada e
efetivamente funcione (FIG 06).
19
FIGURA 06: Escola no Bairro Mangabeira II
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
Os terrenos baldios normalmente “conservados” para que posteriormente sejam
construídas praças ou áreas de lazer nesses novos conjuntos residenciais, comumente ficam
ociosos, e com o tempo vão dando lugar a novas habitações, estas desprovidas de infra-estrutura
básica necessária que o indivíduo necessita para realizar suas atividades diárias.
Segundo Corrêa (2003: p 62), “para se entender a questão do como morar, é preciso
que se compreenda o problema da produção da habitação. Trata-se de uma mercadoria especial,
possuindo valor de uso e valor de troca, o que faz dela uma mercadoria sujeita aos mecanismos
de mercado.Seu caráter especial aparece na medida em que depende de outra mercadoria especial
_ a terra urbana, cuja produção é lenta, artesanal e cara, excluindo parcela ponderável, senão a
maior parte, da população de seu acesso, atendendo apenas a uma pequena demanda solvável.
Como o preço da terra urbana é inacessível por grande parcela da população que não possui
moradia, a alternativa que resta é ocupar os espaços vazios nas grandes cidades.
20
Em Mangabeira não existem mais esses espaços vazios, e poucos são os que foram
ocupados com praças ou áreas destinadas ao lazer.Contudo os aglomerados subnormais foram
ganhando espaço, e com o tempo foi transformado o plano original do bairro, provocando assim
uma segregação espacial desenfreada, além de uma série de problemas de cunho social que
freqüentemente são gerados nessas áreas. Além dos aglomerados subnormais, verificamos uma
outra tendência, onde pequenas casas são construídas nos fundos ou laterais das residências
regulares como forma de suprir as necessidades da falta de moradia.
Contrastes sociais e econômicos
Ao longo do conjunto observamos em vários pontos a segregação residencial, esta
por sua vez denuncia os contrastes sócio-econômicos existentes no bairro. De um lado
residências que confirmam uma situação econômica regular ou estável, e de outro pequenos
aglomerados desprovidos de infra-estrutura(FIG 07).
FIGURA 07 - Segregação Residencial Mangabeira I
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
21
Fazendo um comparativo, como não era difícil de imaginar, constatamos contrastes
em relação ao fator renda entre as residências regulares e os aglomerados subnormais. Os dados
afirmam que no universo de 35 famílias entrevistadas em áreas subnormais; 54,28% sobrevivem
com apenas um salário mínimo, evidenciamos também um número expressivo de famílias sem
rendimento somando um total de 14,28%.Apenas um percentual insignificante de 2,85% afirmou
ter rendimento mensal entre três e quatro salários, e os 28,57% restantes declararam apenas um
rendimento entre um e 2 salários mínimos.
Com base nesses dados podemos constatar a precariedade no nível de vida dessas
famílias, pois os baixos salários impossibilitam que estas tenham acesso à educação e saúde de
qualidade, ou mesmo a outras necessidades básicas como alimentação adequada ou moradia.
Algumas dessas famílias sem rendimento ou que recebem apenas um salário mínimo,
contam com ajuda financeira do governo como bolsa escola e bolsa família.Vale ressaltar que
nem todas conseguem receber esse auxílio, e que muitas, há algum tempo, almejam receber sem
conseguir êxito. Para se ter uma idéia das dificuldades que estas famílias enfrentam no seu dia-adia, quando perguntamos se a ajuda financeira do governo trouxe melhorias, foram unânimes em
informar que sim.
Segundo Verrière (1978: p. 40), “Com menos crianças a renda por pessoa qualquer
que seja a maneira de calculá-la, aumentaria. Se toda a elevação da renda média fosse dedicada a
um consumo maior, e se o adulto e a criança média conservassem as mesmas partes relativas de
consumo, haveria uma alta geral nos níveis de vida, correspondendo a um crescimento de renda
per capita. Cada um se alimentaria melhor e teria melhor habitação; todos teriam acesso mais
plenamente, aos serviços educativos e médicos e, de maneira geral, aos serviços oferecidos pelo
orçamento público”.
22
Quando procuramos investigar a situação sócio-econômica das famílias que residem
em casas do conjunto, notamos melhoria não somente ao que diz respeito à renda, mas também
quanto ao nível educacional.No universo de 35 entrevistadas, não encontramos famílias sem
rendimento, o percentual que recebem até um salário mínimo foi de 28,57%, quase metade do
que foi registrado nos domicílios de baixo padrão, e entre um e dois salários somaram um
percentual de 25,71%.Já os rendimentos entre três e 5 salários ou mais somaram um total de
45,71%.
No tocante ao grau de escolaridade, nos aglomerados, o maior índice de escolaridade
encontra-se no nível fundamental incompleto, formando um percentual de 68,57%.Consideramos
dessa forma que o nível educacional reflete consideravelmente na qualidade de vida. Nas
residências regulares, o grau de instrução encontra-se num nível melhor, embora o percentual de
pessoas que possuem o nível superior ainda seja muito baixo.
Taxas de natalidade e planejamento familiar
O índice de natalidade é obtido através do número de nascimentos de um determinado
ano, multiplicado por 1000 e dividido pela população total no ano e local considerados. A partir
do momento em que há o aumento da população de um determinado lugar, normalmente há
também o interesse em desvendar suas causas, bem como estudar seus supostos problemas. O que
podemos observar através dos dados coletados, é que o maior percentual de filhos no bairro situase na faixa de 1 a 3, tanto nas áreas de residências regulares como nos aglomerados
subnormais.Quando procuramos investigar o número de famílias com quatro ou mais filhos,
verificamos que este número decresce bastante, embora não deixe de existir (FIG 08).
23
25
20
15
Seqüência1
10
5
FI
LH
O
S
6
O
U
M
AI
S
5
FI
LH
O
S
4
3
FI
LH
O
S
FI
HO
S
2
FI
LH
O
1
NE
NH
UM
0
FIGURA 08: Gráfico demonstrando o número de filhos por família.
Um ponto que merece destaque nas famílias acima de 4 filhos é o fator renda, os
dados afirmam que a grande maioria dessas famílias sobrevivem com apenas 1 salário mínimo,
onde sabemos que este não supre nem as necessidades mais elementares de apenas uma pessoa,
imagine de uma família numerosa.A partir daí, podemos inferir as péssimas qualidades de vida a
que estas famílias estão submetidas.
O aumento do número de mulheres que trabalham fora pode explicar a forte tendência
em limitar o número da prole, uma vez que tendo que se ausentar do lar, as mães possuem pouco
tempo para ficar com os filhos. A pesquisa mostrou que 34,28% das mulheres entrevistadas
possuem alguma atividade remunerada.
A necessidade de ajudar no aumento da renda familiar, associada a disseminação dos
métodos contraceptivos, contribuíram bastante na queda das taxas de natalidade, pois mesmo
mulheres com baixa escolaridade que não entendem plenamente os mecanismos da concepção,
são orientadas a fazer uso destes, além do baixo custo da pílula ( método mais utilizado ) e a
24
maior eficácia contra uma gravidez indesejada, são distribuídas gratuitamente para as camadas
menos favorecidas da população, além de outros métodos que podem ser utilizados para esta
finalidade.
Nos últimos anos vem ganhando força a doutrina do planejamento familiar, com a
expansão da comercialização dos métodos contraceptivos, os casais ganham uma maior liberdade
em fazer o seu planejamento familiar, tanto escolhendo o número de filhos, quanto o espaço de
tempo entre os nascimentos.
Os Postos de Saúde da Família presentes no bairro, além de prestar serviços médicos
à população, também trabalham orientando os casais no tocante ao planejamento familiar,
prestando esclarecimentos quanto ao uso dos métodos anticoncepcionais, acompanhamento e
distribuição gratuita. Outro método empregado no controle da natalidade é a laqueadura de
trompas, este definitivo, pois uma vez feito o procedimento cirúrgico, há uma possibilidade muito
remota de engravidar novamente.
As estatísticas revelam ainda que 39,28% das mulheres entrevistadas já fizeram
laqueadura ou usam algum método anticoncepcional. Além dos métodos que a mulher pode
utilizar no controle da natalidade, o homem atualmente também dispõe da vasectomia, uma
cirurgia simples que consiste na secção dos canais deferentes e é feita com anestesias local,
através de um pequeno corte na pele do saco escrotal. Uma maior conscientização por parte das
famílias no custo da criação dos filhos como saúde, educação e moradia entre outros também
explicariam a redução no número de filhos.
Ainda segundo Damiani (2004: 38), “o importante a considerar é que além de um
melhor padrão de consumo, outras razões sócio-econômicas, também explicariam o tamanho da
prole. Seria preciso estudar a perda de funções da família no mundo moderno e tendências
contrapostas a esse processo, para aprofundar a análise”.
25
Migrações
Entendemos por migrações os movimentos realizados por pessoas de um lugar para
outro, podendo estes ser permanentes ou temporários. A questão do povoamento está
intrinsecamente ligada às migrações.Se em algum momento ou lugar determinado ocorre o
fenômeno da superpopulação, este freqüentemente se dá através do processo de maior intensidade
da ocorrência de migrações. O deslocamento de contingentes populacionais para o centro urbano
provoca um certo esvaziamento em seus locais de origem.Em contrapartida esse mesmo
contingente vai gerar nas grandes cidades um certo inchaço por não poder comportar tamanho
aumento populacional.
As parcelas menos favorecidas que procuram fixar residência nas grandes cidades
encontram como alternativa ocupar as áreas periféricas localizadas distante do centro.Muitos
autores falam mesmo da ruralização do urbano. O ingresso permanente de indivíduos
provenientes de áreas rurais em áreas urbanas é influenciado principalmente por estas possuírem
grande número de equipamentos coletivos, maior oferta de emprego, e também por
demonstrarem um bem estar social diferenciado, dessa forma tendem a uma maior concentração
demográfica.
O Conjunto Mangabeira conta atualmente com uma série de equipamentos urbanos,
podendo estes exercer forte influência sobre as migrações ocorrentes. Constatamos que 2/3 da
população feminina entrevistada tanto em residências regulares como em aglomerados
subnormais não é natural do município de João Pessoa e sim migrantes de outras áreas da zona da
mata, agreste ou sertão (Figuras 09 e 10).
26
FIGURA 09: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais.
FIGURA 10: Gráfico de naturalidade da população residente nos aglomerados subnormais.
27
Uma população excedente pode ser vista claramente em todo bairro, pois são diversos
os aglomerados subnormais existentes.Os moradores do aglomerado popularmente conhecido
como “Feirinha” localizada em Mangabeira I, foram contemplados com a construção de
apartamentos de baixo padrão, porém ainda em fase de construção estes foram invadidos tanto
por moradores do aglomerado Feirinha como famílias de outras localidades.(Figuras 11 e 12).
FIGURA 11: Feirinha vista em perspectiva
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
FIGURA 12: Público em compras
Ortilo Antônio
Data: 09/10/05
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi observado, o crescimento populacional do bairro não se deu
através do processo vegetativo, apesar de algumas famílias apresentarem uma população
relativamente numerosa para os padrões atuais.No entanto, o que foi realmente observado, é que
parcela considerável dos indivíduos entrevistados, nos notificou de maneira informal que sua
origem era externa ao território pessoense, ou seja, pessoas anunciavam que não eram do lugar, e
sim oriundas de outras áreas da Zona da Mata, do Brejo Paraibano, do Sertão, ou mesmo de
outros lugares do estado.
Dessa forma podemos constatar que o fator preponderante para o fenômeno do
crescimento populacional em Mangabeira seja decorrente das migrações que vem ocorrendo
desde a sua fundação, uma vez que estes indivíduos que migram do seu local de origem estejam
procurando melhorar sua condição social.
A importância do presente estudo se dá a partir do momento em que podemos
denunciar as contradições sociais existentes em um determinado espaço, onde as chances para
todos indivíduos que dele fazem parte acontece de forma injusta e desigual.
29
BIBLIOGRAFIA
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CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. Editora Contexto, São Paulo, 1992.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003.
DAMIANI, Amélia Luiza. População e geografia. Editora Contexto, 1997.
BAPTISTA FILHO, Olavo. População e desenvolvimento.Editora da Universidade de São
Paulo/SP, 1695.
GARNIER, Jaqueline Beaujeu. Geografia de população.CIA Editora Nacional, 1980.
IBGE, Censo 2000.
LAVIERI & LAVIERI. A questão urbana na Paraíba. Editora Universitária/UFPB, 1999.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer Projetos, Relatórios, Monografias, Dissertações e
Teses. Edições Bagaço, 2003.
SANTOS, Jair; LEVY Mª Stella Ferreira; SZMRECSANYI, Tamás; CAMARGO; Cândido
Procópio. Dinâmica da população, Teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, 1980.
VERRIÈRE, Jacques. As políticas de população. Editora Bertrand Brasil, 1991.
30
Apêndice
31
Apêndice 1: Formulário de Coleta
QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO
1) Área do conjunto Mangabeira: _______
2) Natural de João Pessoa?
Sim ( ) Não ( )
3) Faixa etária:
Menor de 18 (
Entre 18 e 30 (
Entre 30 e 40 (
Acima de 40 (
)
)
)
)
4) Estado civil:
Solteira
(
Casada
(
Divorciada (
Viúva
(
)
)
)
)
5) Grau de escolaridade:
Não alfabetizado
Fundamental incompleto
Fundamental completo
Médio incompleto
Médio completo
Superior incompleto
Superior Completo
(
(
(
(
(
(
(
)
)
)
)
)
)
)
6) Trabalha?
Sim ( ) Não ( )
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7) Tem filhos?
1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ou mais (
8) Laqueada?
Sim ( )
)
Não ( )
9) Usa algum método contraceptivo?
Sim ( )
Não ( )
10) Rendimento familiar:
Até 1 salário mínimo
Entre 1 e 2 salários
Entre 2 e 3 salários
Entre 3 e 4 salários
Acima de 5 salários
(
(
(
(
(
)
)
)
)
)
11) Recebe algum auxílio financeiro do governo?
Sim (
Não (
)
)
12) Qual?
Bolsa-escola ( )
Bolsa-família ( )
Vale-gás
( )
Outros
( )
13) Acredita que a ajuda financeira do governo trouxe melhorias?
Sim ( )
Não ( )
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Apêndice 2: Relatório de campo
Trajetória de aplicação do questionário
O questionário foi aplicado no período de 20 de agosto a 03 de setembro de 2005. Não houve por
parte da maioria das entrevistadas nenhum empecilho em contribuir para as respostas do
questionário, com exceção de apenas uma senhora que alegou indisponibilidade de tempo.Nas
demais residências fui atendida cordialmente, e apesar de minha identificação e o motivo do
questionário, muitas vezes me perguntavam para que serviria a entrevista.Após maiores
esclarecimentos as respostas foram espontâneas, e algumas vezes fui até convidada a participar
das refeições.
No primeiro dia de aplicação do questionário, fiz do conjunto Mangabeira I ao IV, foi um
pouco cansativo devido ao horário que escolhi, das 11:00 às 15:00, ficando assim incapacitada de
fazer o restante, retornando então ao campo no dia 22, quando fiz o Mangabeira V e VI, agora em
um melhor horário, das 08:00 às 10:00, o que facilitou bastante.
No dia 27 fiz parcialmente o Mangabeira VII, finalizando somente no dia 03 de setembro,
isto porque encontrei dificuldades, pois as residências que deveria entrevistar encontravam-se
fechadas dias anteriores.
Terminada esta etapa, agora tenho em mãos subsídios para iniciar a pesquisa, e poder
desvendar os reais motivos que levaram o crescimento da população do referido bairro.
OBS: Alguns fatores que não tinham sido levados em consideração no questionário foram
acrescentados.
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Pessoas sem filhos
Algumas entrevistadas n ão trabalhavam, mas eram pensionistas ou aposentadas ( baixo
percentual).
Algumas entrevistadas solteiras vivem com companheiros.
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Apêndice 3: Depoimento de uma moradora do conjunto estudado.
DEPOIMENTO DE UMA MORADORA DO CONJUNTO MANGABEIRA II
Moro no conjunto há dez anos, e até três anos atrás esta escola ( referindo-se à escola
abandonada que não chegou a ser inaugurada ) era ocupada por um grande número de famílias,
não sei dizer exatamente quantas, mas estas estavam submetidas a todo tipo de perniciosidade, e a
violência era uma constante.Por medidas governamentais essas famílias foram transferidas para o
Conjunto José Américo.
Esperávamos então que a escola fosse restaurada e realmente cumprisse sua função social,
no entanto nada disso aconteceu.Atualmente ela tem como finalidade abrigar marginais e
menores para o consumo de drogas.
A partir das 18:00 horas, os moradores procuram não sair de casa para evitar transtornos,
e muitos já sofreram ameaças.
Desejamos que o poder público tome providências o mais rápido possível e que algo seja
feito o quanto antes.
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crescimento populacional do bairro de mangabeira