Um brasileiro da Bahia Nascido na capital paulista e um apaixonado confesso pela terra baiana, o advogado e professor Aurélio Pires, fundador do Escritório de Advocacia Aurélio Pires, sediado em Salvador - e não poderia ser diferente -, conta sua trajetória profissional com exclusividade para a Revista Top of Business. ARQUIVO/EMPRESA O advogado Aurélio Pires no seu escritório em Salvador, cidade que hoje é muito mais do que seu local de trabalho. Entrevista Revista Top of Business - Quando e por que você decidiu optar pela carreira na área do Direito? Aurélio Pires - Lembro daquela manhã fria de julho de 1955 quando, para início da viagem que me traria a Salvador, fui levado ao aeroporto em São Paulo por meu pai, Manoel Pires Junior, que, com lágrimas nos olhos, ao despedir-se me ministrou este ensinamento: “Vá meu filho. Vá e seja feliz. Lembre-se, todavia, que quando você nasceu, todos ao redor de ti riam e você chorava. Vá e viva de tal maneira para que, quando você morrer, todos ao redor de ti chorem e só você possa rir”, o que passou a ser o lema de minha vida. Mas foi a serviço de uma empresa privada que vim para Salvador, onde passei a residir. Tive o privilégio de travar amizade com o brilhante advogado e professor Jaime Messeder de Souza Soares, pelo qual seria estimulado a concorrer ao vestibular da Faculdade Católica de Direito, onde, aprovado, passei a integrar sua primeira turma. Isto modificou profundamente minha vida, pois findava o prazo de esta- 30 REVISTA TOP OF BUSINESS da e o retorno a São Paulo era iminente. Graças ao Senhor do Bonfim, meu retorno não ocorreu, pois pude conciliar estudo e “Sou considerado por alguns como: ‘o mais paulista dos baianos’ e por outros ‘o mais baiano dos paulistas”. trabalho e assim, tendo o curso universitário como escudo, pude evitar a transferência para outros Estados. Talvez por isso, parodiando as carinhosas colocações que distinguem o historiador e jurista Senador Luiz Viana Filho, sou considerado por alguns como: “o mais paulista dos baianos” e por outros “o mais baiano dos paulistas”. Porém, em realidade, sempre me senti, “um brasileiro da Bahia, apaixonado pela gente e pela cultura baiana”. O ambiente de trabalho em área contenciosa, a convivência na sociedade, os grandes vultos das Ciências Jurídicas que despertavam na Bahia e nacionalmente, creio que também influenciaram minha opção pelo estudo do Direito. T.O.B. - Como foi a época em que freqüentava a Universidade? Você participou do movimento estudantil? Aurélio - Durante a freqüência no curso Universitário - período 1956-1960 -, sempre levei o ensino muito a sério, aproveitando ao máximo o tempo e os ensinamentos dos mestres, pois tinha compromissos profissionais com a minha empregadora, que me facilitou freqüentar a Universidade. No Movimento Estudantil, participei da criação do Grêmio da Faculdade e na União dos Estudantes da Bahia, merecendo destacar que, em simpósios locais de Direito, apresentei, em anos seguidos, dois trabalhos: “O Direito de Greve” e a “Participação dos Empregados nos Lucros das Empresas”, que foram distinguidos e me levaram, sob o patrocínio da Universidade Federal, a defendê-los em Congressos Universitários em Fortaleza e em Porto Alegre. Tendo ficado desempregado no quarto ano, obtive Carteira de Solicitador Acadêmico e, com ousadia, abri o escritório sob a tutela do renomado causídico Raimundo Paraná Ferreira. Como os resultados eram escassos, fui trabalhar numa Janeiro-Fevereiro|2007 multinacional, a qual, uma vez formado, contratou-me para ser seu advogado. Assim, O clima desenvolvimentista implantado pelo Governo Federal, a construção de Brasília – “cinqüenta anos em cinco” -, impregnou os nossos ideais de crescimento e nos motivou a instalar uma banca de advocacia à altura do empreendedorismo que já se fazia sentir na Bahia, com o desenvolvimento da Petrobrás, a criação de centros industriais, do Pólo Petroquímico e a atração de empreendimentos estrangeiros. ingressei no Foro Baiano como patrono dessa empresa, fazendo cobranças, o que atraiu diversos clientes e tornou o Escritório conhecido. T.O.B. - O Escritório foi fundado em 1960. Que memórias você ainda guarda desta época em que Juscelino e a vitória na Copa de 58 ajudaram muito a aumentar a auto-estima nacional? Aurélio - Concluído o curso em 1960, criei uma sociedade de fato, de prestação de serviços profissionais de advocacia com os colegas: o professor José Maria da Costa Vargens, www.montrealeventos.com.br Luiz Antônio Sande de Oliveira, Admon Ganem e Edvaldo Ribeiro da Silva. O clima desenvolvimentista implantado pelo Governo Federal, a construção de Brasília – “cinqüenta anos em cinco” -, impregnou os nossos ideais de crescimento e nos motivou a instalar uma banca de advocacia à altura do empreendedorismo que já se fazia sentir na Bahia, com o desenvolvimento da Petrobrás, a criação de centros industriais, do Pólo Petroquímico e a atração de empreendimentos estrangeiros. T.O.B. - Como era a estrutura do escritório em 1960? Quais as principais diferenças em termos de tecnologia empregada, equipe de trabalho, áreas de atuação e clientes, comparando a conjuntura de 46 anos atrás e a atual? Aurélio – Em 1960, o Escritório se resumia a uma sala com três carteiras, porquanto os demais só compareciam esporadicamente e em horários limitados, pois tinham outros vínculos profissionais, sendo eu o freqüentador assíduo. Máquina de escrever, telefone, pequena entrada, sala de espera com atendente, e um mensageiro. As áreas de atuação eram nos campos de Direito do Trabalho, Cível e Comercial; os clientes, esporádicos, predominando as pessoas físicas. Comparando-se as estruturas e demandas sem vaidades, só fizemos crescer, pois passamos de uma para duas salas, em seguida para três e, em 1980, para um andar completo, até que em 2000 passamos para a atual localização - que ocupa uma área de 360 metros quadrados - com toda a infraestrutura e tecnologia, o que é sustentado pela crescente demanda de clientes. T.O.B. - Desde quando o Escritório presta serviços de consultoria nas áreas do Direito Civil, do Trabalho, Administrativo, Tributário, Comercial e do Consumidor? Quando este conceito de “consultoria” foi introduzido na empresa e por quê? Aurélio - Praticamente desde o seu início, época em que fiquei sozinho e passei a contar com “Desde 1960 até nossos dias, aconteceram mudanças radicais na legislação brasileira, a maioria delas ditadas pelo Governo Militar, como as leis do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a Lei do Trabalho Rural.” a colaboração do advogado e professor Luiz Carlos Alencar Barbosa, hoje um dos sócios, o Escritório sempre prestou consultoria nas áreas do Direito Civil, do Trabalho, Administrativo, Comercial, Ambiental e Tributário, sendo que o Direito do Consumidor integrou nosso escopo a partir de 1990. O conceito de consultoria desenvolveu-se juntamente com o crescimento da Bahia, pois era grande o número de empresas, inclusive estrangeiras, que vieram a se instalar nos Pólos Industriais e Petroquímico. Este “conceito”, posto em prática, foi indispensável para que pudéssemos trabalhar junto à Petrobrás, a qual necessitava de orientação e apoio desde a regular constituição e legalização de suas contratantes para, assim, poder desenvolver suas atividades. T.O.B. - De 1960 até hoje, a legislação brasileira já obsoletou e incorporou muitas leis e novos códigos. Quais foram as mudanças na legislação que você considera revolucionárias e que marcaram para sempre sua vida pessoal e profissional? Aurélio - Realmente, desde 1960 até nossos dias, aconteceram mudanças radicais na legislação brasileira, a maioria delas ditadas pelo Governo Militar, como as leis do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a Lei do Trabalho Rural, que me inspirou a escrever uma obra sobre o tema e que já alcançou sua 5ª edição. Há também a Lei do Registro do Comércio e Mercado de Capitais, dos Representantes Comerciais, das Duplicatas. Em face de um trabalho de interpretação da terceira dessas leis, fui nomeado, pelo Governo Estadual, Vogal da Junta Comercial, onde trabalhei por cerca de seis quatriênios. Data de 1970 meu ingresso na Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador, onde passei a lecionar na Cadeira de Direito Privado, inicialmente Direito Comercial REVISTA TOP OF BUSINESS 31 e, posteriormente, Direito do Trabalho, onde permaneço até hoje. T.O.B - Qual a situação mais difícil pela qual passou durante todos esses anos de exercício do Direito? Aurélio - Certa feita, na então Junta de Conciliação e Julgamento de uma cidade do interior do Estado, onde compareci com uma mala cheia de dinheiro para efetuar conciliações em várias reclama- “Hoje nossos clientes são, na maioria, empresas de médio porte, embora tenhamos algumas de projeção nacional”. Entrevista ções de empregados de uma empresa estrangeira que estava encerrando suas atividades - o que não se concretizou em face de um incidente processual -, ao deixar a sala de audiências passava-se por um corredor que dava acesso à escada de saída. Os reclamantes, algumas dezenas deles, fizeram um corredor polonês e anunciaram que iam agarrar a mala. Evitando sair, e com receio, levei o fato ao conhecimento do Juiz, o qual determinou à secretária que chamasse o Delegado local e, num gesto de coragem e autoridade da Justiça, dirigiu-se em direção aos reclamantes e advertiu-os de que ia sair comigo e, se alguém ousasse me agredir, ele determinaria sua prisão. Com o coração nas mãos, atravessei aquele corredor humano ao lado do Juiz e, alcançando a porta de saída, já encontramos uma viatura da polícia que nos deu garantia de acesso à estrada. T.O.B. - Atualmente qual é o perfil dos clientes do EAAP? Quantos profissionais compõem a equipe do EAAP e quais suas especialidades? Aurélio – Hoje nossos clientes são, na maioria, empresas de médio porte, embora tenhamos algumas de projeção na- 32 REVISTA TOP OF BUSINESS cional. Temos atuado também no campo de consultoria e auditoria trabalhistas. Compõem o Escritório, entre sócios e advogados associados, nove profissionais, especializados em Direito Laboral, Comercial, do Consumidor, Ambiental, Tributário, Administrativo - área de Licitações -, e escritório associado na área do Direito Penal. Integram, ainda, essa equipe sete estagiários de Direito, doze funcionários especializados de apoio logístico além de despachantes, calculistas, peritos e pesquisadores. T.O.B. - Qual o diferencial do Escritório na área de Direito Trabalhista especificamente, já que é considerada uma das suas principais áreas de atuação? Aurélio - O diferencial do Escritório em todas as áreas jurídicas e, em particular, na área do Direito do Trabalho é a atenção que damos ao cliente, nosso “O exercício do Direito é, sem dúvida, a minha razão de viver. Vivo em constante estado de alegria, vivenciando a ciência jurídica a cada dia.” alvo maior, prestando-lhe informações objetivas antes e durante os processos, capacitando-o para melhor tomada de decisão, pois entendemos que informações precisas e de qualidade contribuem para a eficiência das decisões empresariais. Diferenciamos-nos por atendimento personalizado, soluções rápidas e ousadas e preços razoáveis pelo serviço prestado, sendo este uma variável essencial em nossos dias. O mundo dos negócios tem pressa e exige dos profissionais de Direito um acompanhamento diuturno dos negócios e necessidades do cliente, no que o Escritório, cada vez mais, se especializa. T.O.B. - Qual o significado do exercício do Direito em sua vida? Aurélio - O exercício do Direito é, sem dúvida, a minha razão de viver. Vivo em constante estado de alegria, vivenciando a ciência jurídica a cada dia, seja no Escritório, na condição de Assessor Jurídico da Federação da Agricultura de Pecuária do Estado da Bahia, como membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho, da Associação Ibero-Americana do Direito do Trabalho, da Academia de Letras Jurídicas da Bahia, da Academia de Letras e Artes de Salvador, além do magistério, o que me credenciou a receber o Título de Cidadão Soteropolitano, com a Medalha Thomé de Souza, outorgada pela Câmara Municipal de Salvador, e a Comenda em Direito do Trabalho, concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho. T.O.B. - Revendo todos estes anos de trabalho, o que você considera que tenha mudado na sua forma pessoal de pensar o Direito, a Legislação e a Justiça em geral? E o que não mudou? Aurélio - Entendo que a ciência do Direito mudou para melhor, cada vez mais específica, acompanhando o fato social e o desenvolvimento tecnológico. É necessário que a Justiça acompanhe esse desenvolvimento e se faça mais presente, mais séria e rápida para atender aos anseios do povo brasileiro. Finalizo com palavras de carinho, reconhecimento e gratidão a minha querida esposa Maria Seleneh Sampaio Pereira Pires e aos meus filhos Carla, Paula e Aurélio Junior, pela sua compreensão e paciência para comigo, nesta luta que me propus a enfrentar: ser advogado. www.eaap.com.br Janeiro-Fevereiro|2007