IMPACTOS FÍSICOS E EMOCIONAIS DA EXTENSÃO DA JORNADA DE TRABALHO NA VIDA DOS GESTORES: estudo de caso em uma indústria multinacional Autoria: Cinthia Leticia Ramos, José Henrique de Faria Resumo Este estudo é resultado de uma pesquisa em uma Indústria Multinacional de processo contínuo sobre as condições de trabalho e saúde dos gestores, fenômeno que apareceu como consequência direta (embora não exclusiva) da extensão da jornada de trabalho para além do tempo formal. O objetivo é indicar os impactos que a extensão da jornada de trabalho para além do tempo formal têm na saúde física e mental dos gestores. A análise das entrevistas permitiu identificar quatro grandes conjuntos de impactos: Estresse, Desgaste ou Exaustão Emocional, Alienação ou Entrega de Si à Organização e Precariedade Subjetiva. Introdução Este estudo é resultado de uma pesquisa realizada em uma Indústria Multinacional de processo contínuo, aqui chamada de UWA, sobre as condições de trabalho e saúde dos gestores, fenômeno que apareceu como consequência direta (embora não exclusiva) da extensão da jornada de trabalho para além do seu tempo formal. Este tema não é propriamente novo, mas nem por isso deve ser tratado de forma subsidiária ou complementar. A pesquisa apontou para o fato de que a extrapolação dos mecanismos de controle sobre o processo de trabalho dos gestores pela Indústria UWA para além da jornada formal tem impacto direto sobre a qualidade de vida dos mesmos. Os mecanismos de controle materializam-se, para os 1 gestores entrevistados, como autênticas algemas reais e imaginárias que aprisionam estes gestores à UWA. Para Glina et alii (2001, p. 608), “os distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho frequentemente deixam de ser reconhecidos como tais no momento da avaliação clínica”, apesar de sua prevalência, devido às próprias características destes distúrbios (muitas vezes mascarados pelos sintomas físicos) e à complexidade da definição de sua relação com as atividades do trabalho. Neste sentido, tem-se claro, aqui, que os impactos sobre a saúde física e mental dos gestores certamente não são devidos exclusivamente à invasão do tempo livre excedente da jornada formal pelo tempo de trabalho, transformando parte daquele em tempo de trabalho disponível, embora tal invasão seja um elemento fundamental. Os impactos mencionados decorrem do próprio processo de trabalho, de sua organização, das formas de gestão e de controle, englobando o tempo formal de trabalho e sua extensão. Todavia, a análise de conteúdo dos depoimentos dos gestores da UWA entrevistados indicou com bastante evidência que há uma relação entre este tempo excedente da jornada que se torna tempo disponível de trabalho e a saúde física e mental. Este é o tema que se pretende desenvolver aqui. Para tanto, no item primeiro serão expostos, resumidamente, os procedimentos metodológicos. Em seguida, visando melhor abordar os impactos da extensão da jornada de trabalho na saúde física e mental dos gestores, procurar-se-á contextualizar este tema no mundo das relações de trabalho atuais, tendo como referência dados estatísticos obtidos da base de dados do IPEA, OIT e Previdência Social, retratando as diversificadas formas de trabalho precarizados, informais e destituídos de direitos. Finalmente, serão apresentados os resultados da pesquisa e uma proposição de classificação dos impactos na saúde física e mental dos trabalhadores. 1. Procedimentos Metodológicos Em termos de fundamentos e procedimentos metodológicos, esta pesquisa é um estudo de caso, conforme definido por Bruyne et alli (1977) e Yin (2001) e foi realizada em uma unidade produtiva de grande porte, aqui chamada de Indústria UWA. Trata-se de uma unidade produtiva de processo contínuo atuando em um mercado competitivo internacional, que exige um investimento permanente em inovação tecnológica e em eficácia de gestão. Especificamente, este estudo tem como sujeitos de pesquisa, no campo empírico definido, trabalhadores que ocupam função gerencial (gestores), pois ainda que o tema estudado não se reduza a esta categoria de trabalhadores, é na ação dos mesmos que os fatos estudados mais se acentuam e se explicitam como foi possível perceber a partir dos depoimentos dos mesmos. Para atender aos objetivos desta pesquisa, durante os meses de junho e julho de 2012 foram realizadas 05 (cinco) entrevistas em profundidade com gestores pertencentes a diferentes áreas. Este grupo é composto de trabalhadores com função gerencial, sendo três gerentes de alto escalão, um coordenador de turno e um assessor, vinculado diretamente à diretoria. Dos cinco entrevistados, quatro são do sexo masculino e um do sexo feminino. Esta composição reflete e explica a grande dificuldade de realizar entrevistas com gerentes de alto escalão, como também a dificuldade de selecionar entrevistas com gestoras mulheres. De 15 gestores pertencentes ao topo da cadeia hierárquica somente três são do sexo feminino. Quanto à idade, dentre os trabalhadores pesquisados tem-se uma concentração na faixa entre 45 e 55 anos. Somente um gestor encontra-se na faixa de 30 a 35 anos. As semelhanças e diferenças entre os entrevistados da área geral (área de gestão) em cada uma de suas áreas específicas de ação (gerências) conferiram pertinência ao campo empírico e aumentaram a capacidade explicativa da teoria resultante. A definição da área geral delimitada do campo empírico (nível de gestão) direcionou a escolha dos participantes da pesquisa. Este procedimento, embora seja em termos compatível com a chamada grounded theory (teoria fundamentada nos dados), difere desta. Há, de fato, semelhanças que podem ser 2 destacadas, segundo características apontadas por Goulding (2002): (i) Os pesquisadores tiveram acesso ao campo pesquisado, o que aprimorou a compreensão da realidade dos entrevistados; (ii) A natureza da experiência dos pesquisadores e dos entrevistados no que se refere ao tema evoluiu ao longo do tempo; (iii) Os entrevistados possuem condições ativas de conformar a sua realidade imediata, ou seja, de agir sobre ela; (iv) Os entrevistados são capazes de relacionar as suas percepções sobre os fatos estudados e suas próprias ações. A proposta de pesquisa focalizou a questão específica dos impactos da extensão da jornada de trabalho na saúde física e mental (emocional) dos entrevistados (STRAUSS; CORBIN, 1998), considerando que os dados coletados nas entrevistas revelam a representação objetiva e subjetiva dos entrevistados sobre a realidade do fenômeno estudado (e não o fenômeno propriamente dito), cabendo aos pesquisadores analisar as representações a partir de uma teoria orientadora que as explique. Não se trata, portanto, de chegar a “uma verdade absoluta desprovida de valor” (BANDEIRA-DE-MELO; CUNHA, 2006, p. 248). A Metodologia adotada é a que baliza os estudos realizados no âmbito do Grupo de Pesquisa, especialmente no que se refere às aproximações, aqui denominadas de filtragens, e à classificação das Categorias de Análise (ou Categorias Temáticas). O procedimento metodológico obedeceu a sete (07) fases distintas, porém totalmente integradas (FARIA, 2012) e que podem ser assim resumidas: (i) Entrevistas qualitativas, semiestruturadas. Foram realizadas cinco (05) entrevistas com gestores de diferentes funções, a partir de critérios de representação (do conjunto de gestores) e relevância (pelo lugar que ocupam, pelo tipo de atividade e conhecimento). As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho, com duração média de aproximadamente uma hora e meia. Foi aplicada a modalidade de entrevista padronizada aberta, baseada em uma lista de perguntas feitas a todos os entrevistados, porém com respostas abertas (PATTON, 1990). O roteiro das entrevistas foi orientado por 05 (cinco) questões, todas relativas ao trabalho ou atividade do entrevistado. Especificamente, interessava saber: (a) o que o gestor faz em seu trabalho; (b) como o gestor faz seu trabalho ou em que condição seu trabalho é realizado; (c) onde costuma fazer seu trabalho; (d) quando o trabalho é realizado, incluindo o tempo formal da jornada, os tempos extras cumpridos na empresa e os tempos cumpridos fora da empresa; (e) por que o gestor faz o que faz da forma que faz, ou seja, por que trabalha para além da jornada e como justifica sua dedicação e envolvimento. Estas foram questões orientadoras da estrutura da entrevista e não perguntas; (ii) Transcrição das entrevistas. Todas as entrevistas foram gravadas e integralmente transcritas; (iii) Primeira Filtragem. As entrevistas foram minuciosamente submetidas a uma análise ainda superficial de conteúdo com o objetivo de destacar o que era essencial, separando-o do que era acessório. O essencial, nesta primeira filtragem, foi considerado como todas as manifestações tematicamente relevantes e de onde fosse possível elaborar alguma análise consistente; (iv) Segunda filtragem. As entrevistas foram condensadas e submetidas a uma análise de conteúdo mais elaborada, em que os trechos foram esquematicamente organizados por grandes temas ou Categorias Temáticas (que, ao final, constituíram as Categorias de Análise). Nesta fase, os discursos foram apropriados de forma elaborada, evitando a armadilha do empirismo (transcrições das entrevistas como se estas fossem, elas mesmas, expressões do real). As entrevistas foram, como sugere Douglas (2003, p. 47), “codificadas”, o que significa superar a mera associação de trechos das entrevistas às Categorias, apropriando-se dos resultados dos questionamentos com o objetivo de dar respostas provisórias sobre as categorias e suas relações; (v) Terceira filtragem. As elaborações obtidas a partir dos trechos selecionados e que haviam sido organizados por grandes temas, foram submetidos a uma nova análise de conteúdo, agora mais dedicada, em que se procurou destacar “Elementos Constitutivos” que pudessem ou ser identificados de acordo com o esquema teórico de referência ou que suscitassem novos aportes teóricos. Nesta fase, procurou-se também encontrar as manifestações objetivas e subjetivas como expressões 3 simultâneas da realidade abordada pelos entrevistados, as quais revelaram contradições tanto no plano individual quanto coletivo. As elaborações foram, então, classificadas segundo as Categorias Temáticas e associadas a “Elementos Constitutivos Disponíveis”; (vi) Quarta filtragem. As elaborações individuais foram confrontadas, de maneira a se obter uma elaboração coletiva. Nesta fase, foram expostas as relações fundamentais que indicaram as conformações do sistema de gestão e de controle do processo de trabalho no que se refere à efetivação dos seus mecanismos tanto no interior da organização estudada, como fora dela e tanto no período relativo à jornada formal, como a que invade o tempo livre. Aqui também foi operada a seleção do essencial e eliminado o que era acessório, ou seja, o que não propiciava nenhuma análise consistente. A elaboração coletiva é, assim, a condensação estruturada das elaborações individuais; (vii) Classificação das Categorias Temáticas e dos seus elementos constitutivos. Com a elaboração consolidada foi possível rever a primeira forma de apropriação, entendida como classificação original necessária, porém provisória, permitindo propor uma classificação segundo a primazia da realidade estudada. A classificação proposta das Categorias e seus Elementos Constitutivos conferiu originalidade à pesquisa. Convém alertar que os trechos de entrevistas transcritos adiante não se constituem em provas incontestes e verdadeiras do real. O que proporcionou a classificação em categorias e seus elementos foi a elaboração consolidada (coletiva). Os trechos transcritos pretender ser emblemáticos e ilustrativos da situação geral encontrada, ou seja, refletem o conjunto dos depoimentos e foram selecionados pelo fato de representarem estas entrevistas. A técnica de coleta de dados foi a entrevista qualitativa como ferramenta metodológica, segundo proposto por Godoi e Mattos (2006), porém sem incorporar os princípios complexos relacionados à teoria da complexidade que estes autores sugerem. Para a realização das entrevistas foram observadas as condições da subjetividade, (REY, 2005), a atenção à interação entre os pesquisadores e os entrevistados (MACHADO, 2002) e os mecanismos para a validação dos resultados (ROSA; ARNOLDI, 2006), conforme as fases anteriormente descritas. O procedimento de interpretação dos dados coletados foi o da Análise do Conteúdo (AC) das entrevistas conforme exposto por Bardin (2007), Franco (2007) e Pagès et alii (1987). 2. Tempo e Condições de Trabalho na Atualidade: considerações a partir dos dados do IPEA, da OIT e da Previdência Social Brasileira. Recentemente, um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2012) constatou um desequilíbrio entre o trabalho e o tempo livre dos brasileiros, apontando que eles estão trabalhando mais e com dificuldade crescente de parar de trabalhar. Conforme Gambier Campos (2012), um dos coordenadores da pesquisa, o tempo de trabalho remunerado tem um efeito negativamente significativo sobre o tempo livre disponível, não só por conta da extensão do tempo de trabalho, mas também por causa da diluição da fronteira entre tempo de trabalho e tempo livre, afetando a qualidade de vida. O citado estudo mostra que: (i) Mais de 45% dos entrevistados afirmam ter dificuldade para se desligar totalmente do trabalho remunerado, mesmo após o horário de término da jornada diária; (ii) 70% dos entrevistados não conseguem assumir outros compromissos regulares, além do trabalho remunerado, tendo em vista a necessidade de ficar de prontidão para realizar alguma atividade extraordinária e a necessidade de planejar ou desenvolver alguma atividade de trabalho, mediante o uso da internet, celular, etc.; (iii) 37% dos entrevistados percebem que o tempo livre vem diminuindo no período recente, por conta do excesso de atividades exigidas no trabalho (18%), a obrigação de levar trabalho pra casa (5%) e o maior tempo gasto com transporte para o trabalho (4%), prejudicando consequentemente a qualidade de vida do trabalhador, gerando principalmente cansaço e estresse (14%) e comprometendo as relações amorosas e atenção à família (10%); (iv) Quase metade dos entrevistados apresentaram reações negativas sobre a necessidade de dedicar uma 4 parcela do seu tempo livre a atividades próprias do trabalho remunerado. A principal reação é de conformação por precisar se manter no trabalho (36%); (v) Apesar de ficar evidente que os entrevistados (entre 30% e 50%) consideram o tempo dedicado ao trabalho remunerado negativo comprometendo sua qualidade de vida, apenas 21% afirmam efetivamente pensar em trocar de trabalho por conta do tempo gasto com ele; (vi) 63% dos entrevistados afirmam que se realizassem alterações nas normas que regulamentam a jornada laboral de trabalho no país para um número inferior a 44 horas semanais, dedicariam o tempo livre para outras atividades; (25%) dos entrevistados usaria esse tempo para cuidar da casa e da família. Outro estudo, publicado pela OIT – Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2006), mostra que cerca de 5.000 pessoas morrem por dia, ou uma pessoa a cada 15 segundos, em consequência de acidentes no trabalho e doenças profissionais. Anualmente são registrados quase 270 milhões de acidentes, dos quais 350 mil com consequências fatais. Este mesmo estudo revela que em todo o mundo cerca de 160 milhões de pessoas sofrem de males associados ao ambiente de trabalho e pelo menos 2,2 milhões de indivíduos morrem por ano em decorrência de doenças e acidentes provocados pelas más condições das práticas laborais. O relatório aponta ainda que as principais enfermidades do mundo do trabalho contemporâneo estão relacionadas aos transtornos mentais (como depressão, ansiedade e síndrome do pânico), bem como distúrbios osteomusculares (caso da lesão por esforço repetitivo, LER e doenças osteomusculares, DORT), cardiopatias, dores crônicas e problemas circulatórios. Estas enfermidades atingem principalmente, mas não exclusivamente, bancários, professores, profissionais de telemarketing e do comércio, motoristas de ônibus, controladores de voos e trabalhadores da saúde, consideradas as categorias mais afetadas pela precarização do ambiente laboral (OIT, 2006). Outro indicador emblemático e de extrema complexidade refere-se aos dados apresentados pelo Ministério da Previdência Social (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA, 2009), mediante a concessão anual de auxílios-doença acidentários por capítulo da CID Classificação Internacional de Doenças, revelando as principais causas de afastamento laboral nos períodos de 2006 – 2009: doenças do aparelho digestivo (18,5%); doenças de pele e do tecido subcutâneo (5%); transtornos mentais e comportamentais (45%), doença dos olhos e anexos (5,5%) e doenças do sistema nervoso (26%). Se, historicamente, as principais causas de afastamento do trabalho estavam relacionadas às doenças físicas é possível constatar, o valor significativo de concessão beneficiária por transtornos mentais e comportamentais decorrentes do trabalho. Conforme informações do Ministério da Previdência, atualmente os transtornos mentais ocupam o terceiro lugar no ranking de afastamentos e concessão de benefícios, perdendo somente para doenças decorrentes de LER/DORT, seguida de Envenenamento provocado por agentes químicos e biológicos e por causas externas. Com base na análise de conteúdo das entrevistas, evidenciou-se exatamente o fato de que as queixas dos gestores da UWA quanto aos problemas físicos são menos relevantes do que aquelas que se referem aos “transtornos mentais”, corroborando com o cenário projetado pelo Ministério da Previdência. Esta situação reclama a necessidade de uma avaliação que permita revelar criticamente como as profundas transformações ocorridas no mundo do trabalho têm afetado direta e intensamente os trabalhadores de todos os níveis devido às crescentes, profundas e diversificadas formas de trabalho precarizados, informais e destituídos de direitos. 3. Impactos da Extensão da Jornada de Trabalho na Saúde Física e Mental dos Gestores: considerações sobre o caso da UWA. Antes de tratar do tema proposto, é necessário esclarecer que não se pretende, aqui, estabelecer o nexo causal entre a saúde física e mental e o processo de trabalho, até porque “o nexo entre adoecimento e situação de trabalho não é simples, uma vez que tal processo é específico para cada indivíduo, envolvendo sua história de vida e de trabalho. Para estabelecer 5 o nexo, torna-se fundamental a descrição detalhada da situação de trabalho” (GLINA et alii (2001, p. 616) As atitudes relativas aos problemas de saúde físicos e mentais no trabalho demandam uma avaliação mais rigorosa e profunda dos casos para que se possam estabelecer as condições gerais e específicas de prevenção e tratamento. Nesta análise trata-se apenas de indicar, a partir das manifestações dos gestores da UWA entrevistados, o que os mesmos revelam como sendo impactantes para sua saúde, enquanto forma de apontamento da necessidade de uma política de atenção à saúde física e mental devida às relações de trabalho que compreendem as atividades executadas não apenas durante a jornada formal, mas as que invadem o tempo livre. Tampouco se pretende propor uma discussão entre as diversas teorias e abordagens que estudam o tema das relações entre o trabalho e a saúde física e mental dos trabalhadores, cabendo apenas indicar que existem várias correntes que tratam deste tema (GLINA et alii, 2001; DEJOURS, 2001; SELIGMANN-SILVA et alii, 2010; JACQUES, 2003). Os depoimentos dos entrevistados apontam para um conjunto de impactos na saúde física e mental dos gestores. A partir da análise crítica de conteúdo, tais impactos foram agrupados em quatro grandes categorias: (i) estresse, com repercussão tanto no plano físico como psicológico; (ii) desgaste emocional, em decorrência da colocação da vida familiar em plano secundário; (iii) alienação ou entrega de si à organização, como condição naturalizada da relação de trabalho; (iv) precariedade subjetiva. 3.1. Estresse O problema referido com maior insistência nas entrevistas é o do estresse. Lipp (1984, p. 6), define estresse como “uma reação psicológica com componentes emocionais físicos, mentais e químicos a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa”. Este definição, para Jacques (p. 104) sustenta “os modelos de prevenção, diagnóstico e intervenção propostos”. Para Glina e Rocha (2000), o estresse não é uma doença, mas uma tentativa de adaptação e não está relacionado apenas ao trabalho, mas ao cotidiano de vida experimentado pelo sujeito. Ressaltam, no entanto, que a importância conferida ao trabalho se deve a sua relevância neste cotidiano, transformando-o em um dos principais fatores desencadeante do estresse. Glina et alii (2001) mostram que as condições de trabalho “podem causar danos à saúde física e/ou mental”e que tais condições de trabalho podem ocorrer “concomitantemente a problemas relacionados à organização do trabalho e às condições de vida”, ou seja, nas situações de trabalho e de extra trabalho. Para Bernik (1997), o estresse é o sintoma mais usualmente descrito nas queixas referentes aos problemas de saúde física e mental no trabalho. Entretanto, o estresse não é, em si mesmo, uma doença, mas a forma manifesta de um processo muito mais amplo e complexo. O estresse pode ser um “matador silencioso” segundo Bernik (1997). Entre os problemas decorrentes do estresse, Bernik (1997) indica os que se dãp no campo físico, no campo somático e no campo psíquico. O depoimento de um dos entrevistados é ilustrativo da relação entre o campo físico, somático e psicológico. A percepção do gestor, ainda que não expresse conscientemente esta relação, é elucidativo. Tive uma isquemia, um degrau abaixo de um AVC, foi atribuído a estresse, falta de condicionamento físico. [Para conseguir ficar com meus filhos] abdiquei de exercícios físicos e isso tudo foi somatizando. Aconteceu de uma sexta-feira eu e minha mulher sairmos do cinema, eu vi tudo girar, em resumo, o médico me atendeu, fui para o Hospital, fiquei de um dia para o outro e fui encaminhado para um Hospital de neurologia, aí fiz uma bateria de exames, fiquei 20 dias em casa em repouso absoluto, a Doutora queria me internar, eu negociei para não ficar em ambiente hospitalar, negociei e fiquei em casa, fazia exame e voltava, foram assim os 22 dias que fiquei em casa. Com esse acontecimento, comecei a refletir sobre questões de família, trabalho, tem que ter um divisor de águas, até procurei um neurologista que falou: “você deu sorte que o farol amarelo acendeu, que às vezes tem pessoas que não tem 6 nem essa chance, você tem que repensar sua vida”. Escutar isso assusta um pouco, a gente acha que a saúde está perfeita e de repente tem um baque desses (E3). Observou-se que o reconhecimento quanto à necessidade de cuidados físicos não corresponde à atitude de tê-los, ao contrário, há uma justificativa de que tendo em vista o horário disponível para as atividades físicas ser inapropriado, o mesmo é tomado pela atividade de trabalho. As relações familiares são tornadas secundárias na prática cotidiana. O conteúdo dos depoimentos indica que qualquer atividade relativa a uma política de prevenção e tratamento a ser adotada pela UWA deve levar em conta não apenas a sintomatologia expressa e o descritor da situação vivida, mas principalmente os aspectos reais não manifestos explicitamente e que correspondem ao quadro da saúde física e mental. Os depoimentos indicam vários fatores desencadeadores do estresse. Merece destaque aqui, os fatores: (i) conflitos entre objetivos (elemento de asseguramento de uma forma de conduta definida), (ii) impacto do trabalho nas relações pessoais, (iii) segurança, (iv) falta de comprometimento dos subordinados; (v) compartilhamento de responsabilidade na execução do trabalho. No fator conflito entre objetivos individuais e organizacionais, a falta de compromisso com os objetivos organizacionais, que representa a ausência de asseguramento de que a atividade desenvolvida é a que deveria mesmo ser desenvolvida, gera o estresse da indefinição ou da incerteza, fatores estes que se opõem à convicção de que o que deve ser realizado é o que está prescrito. Um dos gestores resume bem esta situação: “uma das coisas que às vezes gera muito stress é quando determinadas gerências tem objetivos que às vezes são antagônicos a um objetivo global” (E1). O fator impacto da quantidade e qualidade do trabalho no tempo que deveria ser dedicado à vida pessoal indica que o que está determinado para ser realizado no trabalho é o que deve ser realizado no trabalho, de forma que nenhuma consequência deve ser transferida ao sujeito. No entanto, os depoimentos revelaram consistentemente que o que deveria ser realizado no trabalho depende em larga medida do que é feito pelo gestor fora do tempo e do local de trabalho. No fator segurança evidencia-se o deslocamento do problema da saúde no trabalho para um de seus aspectos, no caso, segurança. Segurança como valor. O problema da saúde, para os gestores, não está no trabalho, mas na segurança. O depoimento de um dos gestores ilustra bem este fator. Uma das coisas [...] que é muito forte para a gente, é ter como valor a segurança. A gente precisa operar essas unidades [...] sem causar acidentes para as pessoas, para o meio ambiente e para os próprios equipamentos. Segurança [...] é um valor e na gestão de qualquer gerente de produção segurança tem que ser um valor, segurança, saúde e a questão ambiental (E1). O fator falta de comprometimento dos subordinados evidencia a existência de diferentes formas de envolvimento dos trabalhadores com o trabalho, de maneira que ao se estabelecer o que deveria ser o padrão de comprometimento também se estabelece o desconforto quanto ao desempenho abaixo do padrão. Os depoimentos destacam o conflito de papéis e as relações pessoais na quais não se evidenciam os mesmos entendimentos quanto às atividades, especialmente quanto à falta de comprometimento relativamente ao trabalho. Também aqui é ilustrativo o depoimento de um dos entrevistados: Uma coisa que às vezes me estressa, em qualquer gerência você vai ver isso, são pessoas que não estão nem um pouquinho comprometidas com o resultado [...]. Por mais que você cobre, ela não quer contribuir com aquilo, então isso me estressa um pouco, porque você cobra, mas você sabe que não vai ter retorno daquela pessoa nem que você ofereça mundos e fundos (E4). O fator compartilhamento de responsabilidade na execução do trabalho evidencia a concepção de unidade de ação, de que todos são igualmente responsáveis por tudo. Um dos elementos destacados nas entrevistas como importante para a saúde física e mental no trabalho é, de fato, o estabelecimento de relações interpessoais e de parceria na execução das tarefas. O depoimento de um dos gestores é ilustrativo desta situação. 7 Eu gostaria que nós trabalhássemos um pouco mais socializados, às vezes cada um fica no seu canto e fica fazendo o trabalho, esquece que é importante se socializar e que determinados assuntos precisam ser resolvidos na empresa junto com os pares, pois é nesse momento é que as coisas fluem. [Isto é muito desgastante], pois este é o momento de criação, ou seja, ao mesmo tempo em que está resolvendo os problemas, está se socializando, está descansando um pouco de determinadas coisas (E1). Sobre o estresse, Sadir e Lipp (2009) destacam como fatores desencadeantes: sobrecarga de trabalho ou falta de trabalho; rapidez em realizar a tarefa; fadiga; excessivo número de horas de trabalho; mudanças no trabalho; falta de: participação na tomada de decisões, responsabilidade, apoio por parte da direção, informação, clareza nos objetivos propostos pelo cargo; significado do trabalho e natureza das tarefas; ambiguidade e conflitos de papéis; relações pessoais; excesso de responsabilidade sem suficiente preparo, entre outros. Todos estes fatores, com mais ou menos intensidade em cada um deles, foram observados nos depoimentos dos entrevistados da UWA. 3.2. Desgaste ou Exaustão Emocional O desgaste ou exaustão emocional é caracterizado pelo sentimento de esgotamento de recursos ou pelo sentimento de estar exausto em virtude das exigências do trabalho. O desgaste emocional tem sido algumas vezes tratado como sendo um processo de estresse emocional (SILVA; BIANCHI, 1992) ou uma das dimensões da Síndrome de Burnout (MASLACH, 1982), considerada como sendo um processo de esgotamento profissional, ou seja, como uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica no trabalho (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002, p. 37). O esgotamento emocional não é o mesmo que estresse, mas uma reação ao estresse crônico (BORGES; CARLOTTO, 2004) ou uma “experiência subjetiva interna que gera sentimentos e atitudes negativas no relacionamento do indivíduo com o seu trabalho (insatisfação, desgaste, perda do comprometimento), minando o seu desempenho profissional” (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002, p. 37). A exaustão emocional reflete os efeitos de demandas organizacionais e individuais (CORDES; DOUGHERTY, 1993), podendo comprometer a saúde mental e física dos trabalhadores e deteriorar a qualidade de vida no trabalho (WRIGHT & CROPANZANO, 1998). De acordo com análise crítica de conteúdo das entrevistas foram identificados quatro (04) fatores que desencadeiam a exaustão emocional: (i) forma como o sujeito se relaciona com sua saúde; (ii) cumprimento de prazos e obtenção de resultados; (iii) transferência de cuidados afetivos; (iv) limite imposto no plano externo. No primeiro caso, a forma como o sujeito se relaciona com sua saúde e, portanto, com a deterioração de sua qualidade de vida no trabalho pode ser deslocada subjetivamente para um campo neutro (idade, somatização, etc.). De fato, nos depoimentos dos gestores da UWA a exaustão não é atribuída ao desgaste provocado pelo trabalho, mas a outros fatores (idade, desgaste natural, somatização, etc.). Os depoimentos de dois entrevistados ilustram esta situação: Vou começar uma fisioterapia porque estou com uma musculatura um pouco contraída, mas isso é um processo de você estar ficando velho [...]. Tenho uma saúde boa [...]. As situações de emergência que eu passei nunca me desencadearam nada. Lembro um dia que eu estava indo fazer um exame e no meio do caminho o celular tocou e estava em uma situação não muito boa, cheguei lá e a pressão estava alterada, aí o pessoal falou para eu ficar um pouco quieto e logo baixou, mas aquilo me deu aquela sensação. Mas de uma maneira geral eu vejo que o desgaste que eu tenho é um desgaste talvez natural, agora sinto uma coisa ou outra e tem que tratar, cuidar (E1). Já fiquei mais [do que o tempo de oito horas na UWA], agora em função até de um problema de saúde que eu tive eu procuro cumprir o horário. Eu levava trabalho para a casa, vinha de carro para chegar mais cedo, aí ficava aqui até tarde e às vezes todos iam dormir na minha casa e eu ficava até 1 hora da manhã fazendo as coisas. Aí acho que foi somatizando, somatizando... 8 Aí eu passei mal. E tem a questão da angústia, sofrimento gigantesco de dar conta de várias coisas (E3). O cumprimento de prazos e a obtenção de resultados, bem ilustrado no depoimento de um dos gestores, é também um fator de exaustão emocional que se apresenta na forma de sofrimento, agindo como elemento objetivo e subjetivo de pressão devido ao estabelecimento de metas que embora possam ser questionadas, são aceitas como parte inerente da atribuição funcional. Hoje eu sofro ainda, mas estou sofrendo menos do que ontem. Eu penso assim, não estou conseguindo cumprir o prazo, mas não devo sofrer, senão vou passar mal, quer dizer, os gestores tem que ter esse tipo de paciência e entender que às vezes a gente não consegue cumprir os prazos. [Se não consigo cumprir os prazos] eu fico em um sofrimento, mas eu tenho que entender que às vezes não depende de mim. Se eu tivesse como iniciar uma atividade, ir até o final só nela e depois partir para outra, mas as demandas são gigantescas (E3). A questão da deterioração da qualidade de vida nem sempre aparece relacionada à exaustão emocional no trabalho, podendo constituir uma dedicação não à saúde do sujeito, mas de alguém com quem estabelece relações afetivas (a família), a qual somente pode se efetivar de acordo com as possibilidades do trabalho, segundo um plano de vida no qual o próprio sujeito coloca-se à margem. Trata-se do fator transferência de cuidados afetivos, que coloca no Outro (família) a atenção que deveria ser dada a si mesmo como forma de compensação pelo não cuidado de si. Na minha agenda de janeiro até dezembro tem as consultas [dos meus filhos] já marcadas com médico, sempre às 18 horas porque é o último horário que [o médico] tem, então o último horário é meu, então [o médico] já sabe como é a minha vida, às vezes assim mesmo às 18 horas eu não consigo sair, aparece alguma coisa de viagem, aí [vai alguém da minha família] porque às vezes não dá, mas assim, então tudo isso está na minha programação, na minha agenda [...]. Eu tenho que me conscientizar da saúde, saúde em primeiro lugar, família. Se você trabalha e por acaso não fizer alguém faz, quer dizer, talvez alguém faça (E3). Note-se, ainda, como o desgaste ou exaustão emocional permite que o sujeito trabalhador encontre uma justificativa racionalizada para este processo, centrada em um tipo de procedimento que, no plano discursivo, é facilmente assimilado, como é o caso da rotina enquanto forma de procedimento ao mesmo tempo aceito e questionável sem conflitos. Tratase do fator limite imposto no plano externo, em que a realidade estabelece a fronteira entre a continuidade e a descontinuidade das atitudes desgastantes. De fato, ao tratar da invasão do tempo livre pelo tempo de trabalho, um dos gestores, por exemplo, reduziu o problema a uma questão de hábito de conduta, ou seja, o problema relativo à saúde depende do momento de estabelecer um limite, o qual acaba sendo definido não pela qualidade de vida em si, mas pela possibilidade real de adoecimento do sujeito que impediria a continuidade do seu trabalho. Uma lição da invasão do trabalho no tempo livre? É você fazer daquilo uma rotina, não pode fazer uma rotina, a gente acaba fazendo da exceção uma rotina. Sendo uma exceção, eu acho que não vai refletir na sua saúde. Na minha vida estava uma rotina, então tem que se cuidar, rever os conceitos, trabalho, horário de trabalho, de família, dedicação à família. Claro que você depende do trabalho fundamentalmente, depende do salário, mas você tem que saber o momento de desligar o botão, sábado e domingo curtir a família (E3). Como apontam Tamayo e Tróccoli (2002), a exaustão emocional decorre de um estado recorrente de tensão no trabalho tendo em vista a obtenção dos resultados esperados, o comprometimento com a atividade e a organização, a necessidade de reconhecimento e de aceitação o sentimento de pertença, a valorização de si. O que chama a atenção, neste caso, é que a exaustão emocional não se esgota no ambiente de trabalho. Há um preenchimento do tempo livre não apenas pelo trabalho, mas pela tensão a ele inerente, ou seja, não se trata da exaustão devida à vigilância presencial, direta ou indireta, das atividades, mas devida à incorporação, pelos gestores, do processo de controle sobre as atividades como constitutivo da própria relação de trabalho. 3.3. Alienação ou Entrega de Si à Organização O sujeito trabalhador não aliena apenas o fruto do seu trabalho (físico ou intelectual), 9 mas igualmente o processo de trabalho (as habilidades, o conhecimento técnico, o saber abstrato) e não só o processo como a si mesmo como força de trabalho e como comprometimento, sentimentos, afeto, engajamento e subjetividade. Assim, as bases que alicerçam a adesão e o apego dos gestores ao sistema de poder e os meios que estes utilizam para integrá-los, consolidam-se numa forte estrutura ideológica ligada ao mais profundo estágio de alienação, que é a alienação ideológica. É neste sentido que os sujeitos se aprisionam numa espiral que os envolve de todos os lados e os toma totalmente, algemando o que eles possuem de mais precioso: seus valores, seus sentimentos, seu corpo e sua mente. A alienação implica a entrega do sujeito à organização produtiva na qual trabalha e se manifesta de maneiras diversas. As entrevistas indicam as especificidades destas entregas, que se revelam em pelo menos três grandes fatores: (i) atividade de trabalho e lógica organizacional; (ii) tempo de trabalho; (iii) substância do trabalho. O fator atividade de trabalho e lógica organizacional indica que a atividade não se relaciona à tarefa propriamente dita, mas à sua viabilização do ponto de vista da unidade produtiva, ou seja, não é a atividade que tem prevalência, mas a lógica organizacional. Como explicita um dos gestores da UWA, “não adianta nada fazer algo muito bem se não é viável economicamente. [...]. Vivemos em um mundo capitalista, as coisas tem que ser viáveis economicamente” (E1). Assim, todo o tempo é tempo de atividade, mesmo quando este tempo é de não trabalho (descanso, intervalo, etc.). Um dos gestores descreve com clareza esta questão: “Eu tenho que estar o tempo todo antenado, eu vou almoçar [...], tudo com o celular, ligado no siga-me, com o rádio” (E5). O fator tempo de trabalho indica que o dia normal de trabalho não contempla a execução das atividades de forma adequada, situação esta que atinge ao gestor e aos seus subordinados. No entendimento dos gestores é de suas responsabilidades estar “conectado” com seus subordinados e sofrer com eles as angústias do trabalho, ou seja, há uma naturalização das angústias e não uma postura de enfrentá-las. Um dos gestores da UWA, por exemplo, não consegue considerar a possibilidade de trabalhar apenas o tempo da jornada contratada: Tenho dificuldade em enxergar que se trabalhar menos de dez horas eu vou conseguir dar conta bem do que tenho que fazer. Preciso trabalhar em torno de dez horas por dia para conseguir dar conta das coisas que tenho que fazer; do processo de cobrança da função gerencial. Tenho o entendimento que eu tenho que estar muito conectado com os meus gerentes, dando apoio, estar presente, discutir as coisas, sofrer as angústias junto com eles também (E1). Outro gestor, apesar de considerar que sua dedicação não é exemplar, consagra mais horas ao trabalho do que o previsto na jornada formal: Não sou os do que mais trabalha, mas todo dia acho que [fico] umas duas horas a mais. [...] Trabalho também em casa no computador, domingo fico lá às vezes duas, três horas despachando, tem gente que fica aqui, mas daí não vê nada, eu continuo. Às vezes eu trabalho de noite, em casa, até acordo de madrugada não consigo mais dormir, 4 horas da manhã, acontece às vezes, e ali fico pensando o que vou fazer para atingir aquele resultado... Eu penso daí no outro dia, não sei se até em sonho, mas no outro dia venho aqui, lembro daquilo (E2). O fator atividade de trabalho, enquanto componente da alienação ou da entrega de si, remete também à usurpação do tempo do gestor que deveria ser dedicado a si mesmo, ou seja, à falta de cuidado consigo mesmo, como ilustra o depoimento de um dos gestores da UWA: Eu não uso 1 hora de almoço, saio meio dia, 12h40 eu já estou de volta, o problema é que nem todos fazem assim, eu também não sei se tem que fazer. Mas em termos de tempo de almoço, praticamente eu não tenho. [Não tenho nenhuma pausa], nunca paro em nada, nada, nada, é direto no computador, ligo pra um, já me ligam, porque toda hora alguém liga, celular, toca no visor, toda hora, correio. [...] O meu correio agora deve ter umas oitenta mensagens, a hora que eu chegar lá vai ter mais de cem. O celular, por exemplo, em casa, [onde quer que eu vá] despacho dali mesmo, porque desbloqueou na mensagem e já abre o correio. [...] Apesar de eu me cuidar muito, saúde, alimentação, exercício, meus indicadores não estão bons, colesterol 10 alto, triglicerídeos, o diabetes está subindo, tenho herpes, mas não é labial, qualquer coisinha pega, gripe, e eu me cuido de monte para pegar tanto (E2). Foi possível observar que são raros os momentos que os gestores dedicam a si mesmos. Os depoimentos indicam que na percepção dos gestores não existem graves problemas de saúde, apenas alguns “indicadores estão descontrolados”, ou seja, a saúde emocional não está computada na avaliação e os gestores não se dão conta de que as alterações nos “indicadores” físicos têm uma relação direta com sua saúde emocional. Enquanto componente da alienação ou entrega de si, o fator substância do trabalho indica a valorização do conteúdo do trabalho ou da atividade/tarefa em si mesmos, evidenciando como a atividade de trabalho é valorizada em detrimento da saúde. O trabalho é mitificado, como se fosse, ele mesmo, portador de significado transcendental, ou seja, o trabalho é uma atividade que apresenta uma dimensão apriorística naturalmente tensa, que ultrapassa sua condição empírica, conforme ilustra o depoimento de um dos gestores: Meu estado natural é um estado de tensão, pela natureza da minha função, estou o tempo todo ligado, tem momentos que estou mais tenso, tem momentos que estou menos tenso. Os momentos que me deixam mais tenso é quando eu percebo que tem ameaças para o processo como um todo e estão escapando do controle, em determinadas coisas precisa contar até com sorte. O meu estado é de tensão o tempo todo, tem que ficar olhando o que é possível, o que não é. Meu telefone está o tempo todo ligado [...]. A gente se mantém presente através disso. [...] A qualidade e quantidade do tempo têm impacto no corpo, na relação social, a gente vive sob tensão, mas tem que saber lidar com as coisas (E1). A compreensão dos gestores é a de que o trabalho é naturalmente tenso e que este estado de tensão se exacerba diante das ameaças de perda de controle da situação. Ao mesmo tempo, os gestores conformam-se com as consequências da tensão para sua saúde física e para a vida social. O fator substância do trabalho é um indicador importante da alienação ou entrega de si na medida em que também evidencia a valorização da dedicação ao trabalho como um componente contraditoriamente desagradável e prazeroso, ou seja, um componente que ao mesmo tempo em que aponta as consequências para a saúde constitui uma satisfação, uma forma de emoção agradável de dever, como ilustra o depoimento de um dos gestores: Eu tenho dificuldade de sair para ir ao dentista [...] para marcar um dentista, estou esperando dois meses, porque eu quero que seja o mais cedo possível de manhã para não perder tempo aqui; o mais cedo é 7h30, mas só tem horário lá na frente, aí descobri que o dia que eu tinha marcado tinha um evento importante na UWA e tive que desmarcar e daí mais um mês [...]. Foi sempre assim a minha vida, se eu puder marcar no sábado eu marco, mas eu não quero que as pessoas façam igual a mim (E2). Neste depoimento o gestor, ao mesmo tempo em que aponta sua dificuldade, parece sentir prazer em agir como age, como se o mesmo fosse um modelo de trabalhador a ser imitado, o que fica muito claro quando seu alter ego (o outro aspecto do seu próprio ego) alerta para o fato de não desejar que “as pessoas façam” iguais a ele, ou seja, a fantasia de ser o único e o mais exemplar. 3.4. Precariedade Subjetiva Danièle Linhart (2009, p.2) entende que uma das características do trabalho contemporâneo, a qual denomina de “precariedade subjetiva”, com seus modelos de administração, impõem: A todos os assalariados, em nome da autonomia e da responsabilização, gerir inúmeras disfunções de organizações que não lhes proporcionam os recursos necessários para fazer frente às exigências de seu trabalho, ao mesmo tempo em que intensificam de forma espetacular os ritmos de trabalho (LINHART, 2009, p.2). Seguindo a proposição de Linhart (2009, p.79), entende-se aqui por precariedade subjetiva a existência de condições de trabalho que não cumprem de forma adequada ou satisfatória com as exigências do trabalho e as responsabilidades por sua execução subjetivamente definidas pelos sujeitos trabalhadores, ou seja, trata-se de uma situação na qual o trabalhador não encontra os meios necessários para realização da sua atividade ao 11 mesmo tempo em que se sente responsável por ela. Os fatores desencadeadores da precariedade subjetiva apontados nos depoimentos dos gestores da UWA são: (i) falta de recursos compatíveis com as exigências das tarefas; (ii) tipos de instrumentos de gestão disponíveis; (iii) obrigação prioritária para com o trabalho: (iv) ausência de consciência crítica; (v) prazos e resultados; (vi) dedicação supervalorizada ao trabalho. O fator falta de recursos compatíveis com as exigências das tarefas desencadeia a precariedade subjetiva na medida em que colocam o executor da atividade diante da obrigação de dar conta da atividade sem as condições que julga adequadas para realizá-la. O depoimento de um dos gestores corrobora este entendimento ao sugerir que a falta de recursos, especificamente de uma equipe de trabalho compatível com as exigências da tarefa, é um fator de precariedade subjetiva. A grande questão, que a gente nota ao participar diretamente de grupos de trabalho e comissões, é que está tendo procedimentos na comissão que diz que o empregado designado para uma comissão ou grupo de trabalho, tem que ficar full time, 100% do tempo [voltado para o trabalho]. Eu sofro muito com isso, eu não consigo, estou em três grupos de trabalho, fora as atividades de rotina [...]. Eu não consigo me dedicar 100% do tempo, eu sofro com isso, mentalmente eu fico com um cansaço tão grande. O maior dilema para mim é cumprir o prazo de um Grupo de trabalho (E3). O fator tipos de instrumentos de gestão disponíveis indica que ou tais instrumentos são insuficientes, ou inadequados ou ainda que os mesmos limitam ou “engessam” as atividades a serem desenvolvidas. O depoimento de um dos gestores ilustra bem este fator: As coisas mudaram muito, as exigências mudaram muito, a velocidade das coisas mudaram muito. [...] Mesmo com ferramentas mais adequadas, o tempo que a gente está dentro da empresa não é suficiente para conseguir gerir todas as coisas que estão sobre a sua responsabilidade, gerir de uma maneira adequada. [...] Vejo situações que as pessoas trabalham aqui doze horas por dia, até quatorze, trabalham em casa (E1). Como se pode notar, as ferramentas de gestão não são suficientes para a realização do trabalho no horário formal da jornada, reduzindo o tempo que o gestor tem para si. O fator obrigação prioritária para com o trabalho indica, de acordo com o depoimento dos entrevistados, que o trabalho tem mais importância ou tem preferência sobre a própria vida, como ilustra o depoimento de um dos entrevistados da UWA. Nunca [faço nada para compensar o que eu trabalho a mais], não sei se talvez eu esteja errado, até talvez por isso que eu perdi o casamento, porque eu sempre me dediquei muito a empresa. Tem gente hoje que sai, a Empresa não vê com bons olhos, mas depois passa também, o cara acaba sendo promovido mesmo, e eu pela dedicação talvez um pouco mais do que deveria acabou me atrapalhando, agora já passou, já foi. [Ela dizia que] eu só era UWA, só dava atenção para a UWA, que não ligava para casa, para os filhos, para a família, mas na verdade não era isto. Eu é que não consegui demonstrar, porque demonstrava mais preocupação com a UWA em casa sempre com celular, com computador, notebook (E2). O direito ao lazer é alguma coisa que supostamente deve vir com o fim do trabalho (aposentadoria), pelo menos no plano imaginário. Ultimamente [meu final de semana] está bem ruinzinho [...], chego até sexta em casa tarde, se der tempo vou dar uma corridinha, depois já é tarde [...], às vezes marco na casa de um amigo, vou lá bater papo, [...] mas não tenho saído à noite, nem isso, eu pretendo ter mais motivação para isso, porque eu fico tão centrado na UWA que eu não tenho vontade, porque se eu sair e beber um pouquinho mais depois compromete [meu trabalho], então eu fico muito amarrado. [É uma vida dedicada ao trabalho]. O negócio assim está exagerado, está passando da conta, então é por isso que eu estou tomando essa decisão [de me aposentar] daí acho que vou... [...] Trabalhei tanto, só fiz isso (E2). O fator ausência de consciência crítica caracteriza-se pela aceitação das situações que se apresentam no trabalho e pela negação da existência de relações causais entre o trabalho e as condições de saúde. Um dos gestores entrevistados, por exemplo, embora descreva um quadro de problemas de saúde, não faz relação entre sua situação e o trabalho: “Nunca tive nenhuma doença adquirida profissionalmente” (E3) afirmou o gestor. A doença profissional, neste caso, não tem relação com os processos de saúde emocional ou mental e suas 12 consequências físicas, pois não há uma evidência causal direta (causa-efeito). Assim, o trabalho aparece como um elemento neutro ou mesmo prazeroso e não merece reparos, como, por exemplo, na afirmação de um dos gestores, para quem seu trabalho “é cansativo, mas é motivador, não posso reclamar” (E5). [Eu cuido da minha saúde, mas já] vim trabalhar com dor no pescoço. Eu achei que até estava dando mau exemplo, eu falei para o meu chefe, mas ele falou que não, pelo contrário, eu estava dando um grande exemplo. Então eu falei para a minha esposa, até machucado o pessoal conta com a gente, é um negócio importante aquilo lá, eu estava com o braço na tipoia, mas só conversava com as pessoas, nem escrever eu podia, eu viajei [fiquei fora] quase três semanas, trabalhando assim, nessa condição (E5). O fator dedicação supervalorizada ao trabalho caracteriza-se pelo aumento fictício da importância que o sujeito trabalhador atribui a si mesmo no trabalho, ou seja, pela sinalização de uma situação de superioridade que o sujeito trabalhador faz de si em relação aos outros trabalhadores. Esta supervalorização de si no trabalho é feita em detrimento da valorização de si em suas relações afetivas, como ilustra o depoimento de um dos gestores: Se eu ficasse em casa cuidando [do filho] eu ia ficar doente, porque eu não tenho perfil, não tenho, para mim era um estresse ficar em casa, então assim, eu quero chegar na minha casa e a minha casa estar arrumada, eu faço o que tiver que fazer, mas não dá pra mim, não é minha vida, eu tenho que trabalhar. Se eu tiver que ficar em casa, é uma vida louca, mas eu gosto, eu só acho que o que está realmente na minha vida desequilibrado é a questão da minha saúde, de cuidar de mim. A quantidade e qualidade do tempo na UWA impactam no tempo em casa. Sobra muito pouco de tempo para mim (E4). 4. Considerações Finais Este estudo teve o objetivo de identificar os impactos sobre a saúde física e mental dos gestores de uma indústria multinacional decorrentes da extensão das atividades de trabalho para além do tempo formal, sejam as mesmas executadas no espaço físico da organização ou fora dele. A análise das entrevistas permitiu identificar quatro grandes conjuntos de impactos, aqui apresentados na forma de quatro Categorias de Análise: Estresse, Desgaste ou Exaustão Emocional, Alienação ou Entrega de Si à Organização e Precariedade Subjetiva. O Quadro 01 resume os resultados encontrados. Quadro 01: Consequências das Algemas Reais e Imaginárias sobre a Saúde do Sujeito Trabalhador. Consequências das Algemas Reais e Imaginárias Fatores Desencadeadores Conflitos entre objetivos (elemento de asseguramento de uma forma de conduta definida). Impacto do trabalho nas relações pessoais. Estresse Desgaste ou Exaustão Emocional Segurança. Falta de comprometimento dos subordinados. Compartilhamento de responsabilidade na execução do trabalho. Forma como o sujeito se relaciona com sua saúde. Cumprimento de prazos e obtenção de resultados. Transferência de cuidados afetivos. Características Caracteriza-se pelo asseguramento de que a atividade desenvolvida é exatamente a que deveria mesmo ser desenvolvida. Caracteriza-se pela concepção de que o que está determinado para ser realizado no trabalho é o que deve ser realizado no trabalho, de forma que nenhuma consequência deve ser transferida ao sujeito. Caracteriza-se pelo deslocamento do problema da saúde no trabalho à segurança, que é apenas um de seus aspectos. Caracteriza-se pelo fato de que o que deveria ser o padrão de comprometimento é também o estabelecimento do desconforto quanto ao desempenho abaixo do padrão. Caracteriza-se pela concepção de unidade de ação, de que todos são igualmente responsáveis por tudo. Caracteriza-se pelo deslocamento subjetivo do problema de saúde para um campo neutro (idade, somatização). Caracteriza-se pelo estabelecimento de metas que, embora possam ser questionadas, são aceitas como parte inerente da atribuição funcional. Caracteriza-se por colocar no outro familiar a atenção que deveria ser dada a si mesmo, enquanto forma de compensação pelo não 13 Limite imposto no plano externo. Atividade de trabalho e lógica organizacional. Alienação ou Entrega de Si à Organização Tempo de Trabalho. Substância do trabalho. Falta de recursos compatíveis com as exigências das tarefas. Tipos de instrumentos de gestão disponíveis. Precariedade Subjetiva Obrigação prioritária para com o trabalho. Ausência de consciência crítica. Dedicação supervalorizada ao trabalho. cuidado de si. Caracteriza-se pelo estabelecimento externo (realidade) da fronteira entre a continuidade e a descontinuidade das atitudes desgastantes. Caracteriza-se pelo fato da atividade não se relacionar à tarefa propriamente dita, mas à sua viabilização do ponto de vista da unidade produtiva (não é a atividade que tem prevalência, mas a lógica organizacional). Caracteriza-se também pela usurpação do tempo que o sujeito deveria ter dedicado a si mesmo, ou seja, pela falta de cuidado consigo mesmo. O fator tempo de trabalho indica que o dia normal de trabalho não contempla a execução das atividades de forma adequada, situação esta que atinge ao gestor e aos seus subordinados. Caracteriza-se pela valorização do conteúdo do trabalho em si mesmo em detrimento da saúde, pela mitificação do trabalho e pela a valorização da dedicação ao trabalho como um componente contraditoriamente desagradável e prazeroso. Caracteriza-se por colocar o executor da atividade diante da obrigação de dar conta da atividade sem as condições que julga adequadas para realizá-la. Caracteriza-se pela insuficiência, inadequação ou limitação dos instrumentos de gestão em relação às atividades a serem desenvolvidas. Caracteriza-se pelo fato do trabalho ter, para o sujeito trabalhador, mais importância ou preferência que sobre sua própria vida. Caracteriza-se pela aceitação das situações que se apresentam no trabalho e pela negação da existência de relações causais entre o trabalho e as condições de saúde. Caracteriza-se pelo aumento fictício da importância que o sujeito trabalhador atribui a si mesmo no trabalho, ou seja, pela sinalização de uma situação de superioridade que o sujeito trabalhador faz de si em relação aos demais trabalhadores. Este estudo pretende ser, portanto, uma contribuição adicional e ao mesmo tempo uma indicação para uma reflexão substantiva acerca dos mencionados impactos. Os quatro impactos da extensão do trabalho para além do tempo formal na saúde dos gestores e seus fatores desencadeadores identificados nesta pesquisa são, assim, uma proposta para reflexão teórica e prática. Teórica, porque apresenta um elemento que se não é novo, contém novas dimensões analíticas. Práticas, porque pretende provocar as organizações produtivas a rever seus processos e agir criticamente, tornando visível essa “dor invisível” normalmente atribuída somente ao sujeito. Pensar de forma integrada com demais áreas da empresa sobre o adoecimento psicológico dos trabalhadores, admitindo sua relação com o conteúdo e a organização do trabalho, tal como esta se encontra na atualidade, bem como criar mecanismos para identificar agentes estressores e grupos vulneráveis seria um avanço importante para melhoria das relações de trabalho e para a saúde do trabalhador. Este estudo não se constitui em um guia prático para mudanças organizacionais, mesmo estas sendo urgentes e necessárias nas relações de trabalho. Entretanto, acredita-se que possa servir à elaboração de uma reflexão e uma experimentação com a finalidade de melhorar as condições de trabalho. O que se apresenta, aqui, são situações atuais, de grande impacto nas atividades profissionais e pessoais e nas condições objetivas e emocionais dos sujeitos trabalhadores a partir de uma análise pautada nas relações complexas e contraditórias de poder e controle que constituem as unidades produtivas. O desafio continua sendo transformar o conhecimento produzido a partir do real para modificá-lo. Esta pesquisa pretende oferecer alguns elementos deste conhecimento como contribuição à tarefa histórica, social e política, dos sujeitos coletivos de transformar dialeticamente o real. Referências Bibliográficas 14 BANDEIRA-DE-MELO, Rodrigo; CUNHA, Cristiano J. C de A. Grounded Theory. 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