MEMORIAL E PERCURSOS DE FORMAÇÃO: PERCEPÇÕES E OLHARES DOCENTE. Arlete Vieira da Silva (UESC - UNEB) [email protected] Com o objetivo de investigar o percurso de formação dos cursos de Letras no Estado da Bahia foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, o projeto de pesquisa denominado ‘Percursos de formação em Letras nas Universidades Estaduais Baianas’. Neste projeto a categoria formação docente constituiu-se o principal elemento para estruturar o desenvolvimento metodológico da pesquisa, haja vista que o problema levantado questiona a formação inicial e a articulação entre a teoria e a prática nestes cursos, através do componente estágio supervisionado. A partir da categoria formação docente e por se tratar do Curso de Letras, optouse pela reflexão sobre a formação do profissional de Língua Portuguesa como o marco teórico que define o referido percurso que será investigado na pesquisa. A maioria das obras que discutem a formação do profissional de Língua Portuguesa tem focalizado, quase de maneira unânime, a visão sobre a relação entre a teoria e a prática no ensino de Língua Portuguesa do ponto de vista do professor que já está em franca atividade. Um exemplo disso são os estudos de Neves (2001; 2002), entre outros. Assim, este trabalho se distingue dessa abordagem uma vez que o ponto de vista analisado será o do estudante de Letras que ainda se encontra no processo de formação inicial. Ou seja, é um olhar de quem percebe uma prática, de certo modo, a partir de um ponto de vista ainda teórico. Na realidade escolar brasileira percebe-se ainda um descompasso entre as teorias e a prática pedagógica de professores de Língua Portuguesa, verificando-se que há pouca influência dessas no processo ensino e aprendizagem, apesar de tais teorias embasarem documentos e referenciais qualitativos educacionais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1998) e as Orientações Curriculares para o Ensino médio. Os PCN demarcam expectativas sobre o que a escola espera do profissional de Língua Poruguesa: O processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa deve basear-se em propostas interativas entre a lingua e a linguagem , consideradas em um processo discursivo de construção do pensamento simbólico, cosntitutivo de cada aluno em particular e da sociedade em geral. [...] Os conteúdos tradicionais do ensino de língua, ou seja nomenclatura gramatica e história da literatura são deslocados par aum segundo plano. O estudo da gramática passa a ser uma estratégia para a compreensão-interpretação-produção de textos e a literatura integra-se à área da leitura (BRASIL, 1998, p. 139). Em se tratando do processo de ensino e aprendizagem, as Orientações Curriculares para o ensino médio tratam, também, de um modelo de professor de língua Portuguesa esperado: [...] deve levar o aluno a construção gradativa de saberes sobre os textos que circulam socialmente, recorrendo a diferentes universos semióticos. [...] É pela linguagem que o homem se constitui como sujeito. [...] A visão aqui defendida supõe uma estreita e interdependente relação entre as formas linguísticas, seus usos e funções o que resulta de se admitir que a atividade de compreensão e produção de textos envolve processos amplos e múltiplos, os quais aglutinam conhecimentos de diferentes ordens (BRASIL, 2006, p. 1828). Nestes referidos documentos podemos percebem a articulação de modelos e de expectativas para a formação do profissional de Língua Portuguesa ao sugerirem atitudes, mudanças nos programas de disciplinas e questionamentos sobre a forma que os componentes curriculares dos Cursos de Letras contribuem para atingir o objetivo de uma formação global do futuro docente. Há que se considerar semelhanças entre os discursos dos documentos oficiais e o que nas pesquisas sobre a formação do profissional de Língua Portuguesa tem sido elencado. De acordo com Rojo (2000, p. 30), é urgente se faça uma reorganização da formação inicial e também contínua dos professores, e que estas incluam revisões curriculares dos Cursos de Letras. Quando se trata de dados sobre pesquisas realizadas com estudantes, suas “vozes” têm mostrado que mesmo com investimento na formação de professores através de programas do governo federal, como a Plataforma Freire, por exemplo, em formação inicial e continuada, muito pouco se tem se conseguido, pois que a maioria dos professores que atuam é fruto de um ensino de língua e linguagem dentro da perspectiva da tradição gramatical, ou seja, as escolas têm ainda fortemente arraigadas, em seus planos, a visão de ensino de língua cujo objetivo é o reconhecimento de nomenclaturas gramaticais. Em uma breve revisão da literatura sobre a formação de professores de línguas, em bancos de teses e dissertações, em trabalhos apresentados em Congressos, em artigos publicados em revistas especializadas, a questão da formação inicial e continuada tem merecido um maior destaque e uma maior preocupação. Emergem, nesse contexto, como temáticas privilegiadas, as discussões e investigações sobre a formação de professores reflexivos, de professores autônomos e de professores pesquisadores, em uma opção claramente definida para o estudo das práticas de sala de aula, privilegiando-se a pesquisa-ação ou a pesquisa colaborativa. Essas pesquisas, conforme Oliveira, (2006), surgem em um contexto de crítica aos processos formativos de professores como “transmissores de conteúdos” e, sem sombra de dúvidas, vêm trazendo contribuições valiosas no campo do conhecimento das opções didáticopedagógicas, da atuação em sala de aula, dos processos interativos entre professores e alunos, enfim todo um conhecimento sobre o cotidiano da escola e sobre o desempenho dos docentes. Como estratégia metodológica, o memorial de formação foi escolhido como um instrumento para a coleta de informações e ao mesmo tempo como o meio de provocar a reflexão dos sujeitos pesquisados. A construção deste percurso de formação limita-se às percepções e olhares acerca da formação para a docência dos estudantes de cursos de Letras matriculados no componente estágio supervisionado. O instrumento memorial de formação como estratégia metodológica tem sido muito utilizado em cursos de formação de professores como critério de avaliação e como corpus para alguns Trabalhos de Conclusão de Curso. Independente destas formas de utilização há que considerar-se, através dos memoriais, a perspectiva reflexiva e processual que é possível construir acerca da formação inicial, do exercício da docência e dos percursos individuais e coletivos vividos e revividos pelos sujeitos envolvidos. Segundo kenski (1996) o uso dos memoriais é uma proposta de rememoração que pode trazer pistas importantes sobre aspectos da vida profissional. Para os educadores em efetivo exercício da docência é uma alternativa de pensar o trabalho docente, ou seja: A análise e a discussão das marcas do passado podem levar à compreensão da repercussão, na vida profissional, de diferentes situações vividas: crises, mudanças, rupturas, sucessos e fracassos. Esse conhecimento possibilita ao professor tomar medidas no sentido de superar determinados problemas, reformular concepções pessoais sobre a sua maneira de ensinar, seu relacionamento com a disciplina, as formas que utiliza para avaliar seus alunos etc. além de resgatar a imagem do bom professor, construída a partir dos contatos efetuados durante toda a sua trajetória escolar (KENSKI, 1996, p.106-107) Entretanto, para os estudantes ainda em desenvolvimento de seu curso de formação inicial, o trabalho com memoriais tem outros objetivos e finalidades. Diferenciando de memorial acadêmico, Passeggi (2008) denomina de memorial de formação, o documento escrito numa situação de formação cuja finalidade é a obtenção de um título. Neste projeto de pesquisa legitima-se esta finalidade, pois mesmo que sendo utilizado como fonte de dados para a pesquisa, é um instrumento de avaliação dos estudantes de Letras matriculados no componente estágio supervisionado, ou seja, um instrumento avaliativo de natureza institucional. Não tem o caráter de um Trabalho de Conclusão de Curso, mas é um requisito parcial para a aprovação no componente estágio supervisionado e para a conclusão do curso, consequentemente. A escolha do memorial como instrumento avaliativo do estágio supervisionado justifica-se nos objetivos postos a esse componente curricular em articular a teoria e a prática na vivência (no estágio) na escola de educação básica e, no projeto de pesquisa pelas reflexões postas acerca dessas experiências na escola e na universidade. Na articulação e na interação entre a instituição de formação e a escola de educação básica, o memorial cumpre um papel significativo ao processo de formação do futuro professor, pelo seu caráter avaliativo, inicialmente, e pela potencialidade de autoformação por ser ‘uma escrita de si’ (SOUZA, 2006). Para (Nascimento, 2010, p. 77) pode ser tomado em duas dimensões: Possui, portanto, uma dimensão formativa e uma dimensão avaliativa. Na dimensão formativa permite que o ator-autor em formação desenvolva o exercício da reflexão sobre si e sua formação e inserção profissional, apropriando-se de seus processos formativos, se autoformando, se autoavaliando, se reinventando a si mesmo. Para os estudantes passa a ser um momento de compreensão de si, de seu processo de formação que acontece com a sua escrita, proporcionando autonomia e autoformação. A autonomia que, ‘nascida’ da experiência refletida e pensada, passa a caracterizar o profissional, cuja identidade foi e está sendo construída no processo de formação. O Memorial de formação: percepções e olhares docente. O memorial de formação é o instrumento escolhido para “dar voz” aos estudantes de formação inicial em cursos de Letras acerca de seu percurso de formação durante o tempo na universidade. Partindo e necessitando de um recorte para o desenvolvimento da pesquisa foi escolhido o componente estágio supervisionado como o espaço de realização do curso e o tempo para a coleta de dados da pesquisa. No estágio supervisionado os estudantes têm sido motivados para a escrita do memorial e é também no estágio supervisionado que há a aproximação da universidade com a escola de educação básica através da atividade de regência de classe (SILVA, 2006). Neste espaço e neste tempo os estudantes têm elementos para refletir sobre a identidade profissional, o exercício da docência e sobre as questões relativas ao cotidiano da escola e suas idiossincrasias. Todos estes elementos fazem parte do que deverá ser (des) escrito nos memoriais, haja vista que têm o caráter de instrumento de avaliação do componente estágio supervisionado. Como afirmam Prado e Soligo (2005, p. 60) é na escrita do memorial, que os estudantes selecionam e priorizam as lembranças que desejam ser contadas. Nesta perspectiva, pode-se trazer elementos da formação humana que ‘entram’ na formação profissional: as reflexões que tiveram lugar a partir do curso do qual se participa/participou – e as mudanças decorrentes – representam os pontos mais significativos a serem abordados. É importante explicitar a relação entre a formação humana e a profissional e, estando já na profissão, o que contribui para as transformações que forem acontecendo. Quando os autores já são profissionais em exercício, a questão principal é tratar, articuladamente, da formação e da prática profissional, porque nesse caso, quem está escrevendo o texto é um sujeito que ao mesmo tempo trabalha e está em processo de formação. Isso possibilita a emergência de um conjunto de conhecimentos advindos da ação, de um conjunto de conhecimentos advindos da formação e a inter-relação de ambos. Qualquer que seja o formado (mais livre ou mais circunscrito), o essencial é relatar o que, do trabalho de formação, interferiu de alguma maneira na atuação profissional, e o que da experiência profissional, colocou elementos ou interferiu no trabalho de formação. Assim, trata-se de um texto reflexivo de crítica e autocrítica. Para que os memoriais de formação passassem a se concretizar como recursos para o desenvolvimento da pesquisa, foi preciso amadurecer a amplitude e a abrangência de sua proposta inicial em abarcar todos os cursos de Letras das Universidades Estaduais Baianas. Há que se considerar que alguns fatores como a (im)possibilidade de acesso a todos os cursos e também a quantidade de sujeitos que possivelmente estariam envolvidos e ainda a presença ou a ausência da prática de escrita de memoriais em todos os cursos, poderiam dificultar ou inviabilizar o trabalho de campo do projeto de pesquisa. Em leituras e orientações atuais surgiu a alternativa de utilização do Ateliê Biográfico como uma possibilidade de enxugamento do espaço, do tempo e da viabilidade de um grupo como sujeitos para o trabalho de coleta de dados. Portanto, a opção pela técnica de aplicação do Ateliê Biográfico passou a ser uma opção de superação dos fatores enunciados acima e da permanência de utilização na pesquisa da perspectiva autobiográfica como metodologia. Há ainda dúvidas quanto à abrangência dos espaços e da quantidade de sujeitos que poderão estar envolvidos no desenvolvimento da pesquisa, mas vale ressaltar que o Ateliê Biográfico ao considerar a dimensão do relato como construção da experiência do sujeito e da história de vida como espaço de formação apresenta-se como uma alternativa significativa. Acrescente-se ainda os procedimentos de objetivação das produções individuais (relatos orais ou escritos) e o caráter coletivo do trabalho que são a garantia do distanciamento crítico e da dimensão de socialização, inerentes a um procedimento de formação. O Ateliê Biográfico tem a particularidade de realizar-se em grupo. No âmbito da construção desta prática surge a ideia de que o indivíduo se constrói ao longo da sua vida e nas situações de interação, do encontro com o outro. Desta forma, numa metodologia grupal evidencia-se a necessidade de partilha de experiências e de cada um escutar e ser escutado (Acker, 2008). A proposta nesta pesquisa é de uma adaptação do Ateliê Biográfico de Projetos de Delory-Momberger (2006) para a aplicação de um projeto de extensão com a escrita de memoriais, no caso de memoriais de formação de estudantes dos cursos de Letras, em situação de estágio supervisionado. O Ateliê Biográfico como um dispositivo para a escrita do memorial de formação A escrita dos memoriais pelos estudantes estagiários acontece a partir da aplicação de um Ateliê biográfico. Como um projeto de extensão com caráter de atividade acadêmico-científico cultural - AACC, os estudantes inscrevem-se na atividade e em quatro encontros há a identificação, a escrita, a reescrita reflexiva até a versão final do “documento” – o memorial de formação. Nestas etapas há a coerência com o que propõe Delory-Momberger (2006) acerca da aplicação de um ateliê biográfico: O primeiro momento é um tempo de informações sobre o procedimento, os objetivos do ateliê e os dispositivos colocados em prática. O segundo momento corresponde à elaboração, à negociação e à ratificação coletiva do contrato biográfico. Os terceiro e quarto momentos, que se desenvolvem em duas jornadas, são consagrados à produção da primeira narrativa autobiográfica e à sua socialização. O quinto momento é o da socialização da narrativa autobiográfica. O sexto momento é um tempo de síntese. Em uma adaptação, cada etapa terá peculiaridades organizadas a partir da estrutura de um projeto de extensão, com abertura de edital, período de inscrição e encaminhamentos para a aplicação, como local, datas e carga horária. O público alvo são estudantes de cursos de Letras e matriculados no componente estágio supervisionado. Durante a aplicação do Ateliê Biográfico, além da explicação sobre objetivos e etapas de realização, os estudantes serão estimulados para que os aspectos refletidos sejam registrados na forma de um memorial. O momento da síntese, portanto é o momento da finalização do memorial de formação. Conforme Nóvoa (1992) é confirmar que a formação não se constrói somente pela acumulação de conhecimentos e de técnicas desenvolvidas durante o curso, mas num movimento de reflexibilidade crítica sobre a prática e de re – construção permanente da identidade pessoal e da profissão, consequentemente. Ao constituir – se como estratégia metodológica para a pesquisa, cuja categoria da investigação é o percurso de formação, optou-se por motivar a escrita dos estudantes a partir de alguns elementos que caracterizam a sua experiência na universidade. Estes elementos estão postos como ponto de partida (sugestão de roteiro) para a escrita. Assumem, inicialmente, uma dimensão mais objetiva para que a escrita seja fortalecida a partir de elementos concretos – individual e coletivamente: 1. Elaboração individual sobre sua vivência pessoal e social na universidade desde o primeiro dia de acesso ao curso. 2. Sistematização da vivência de atuação desenvolvida ao longo dos anos no curso: a participação das aulas, as atividades acadêmicas- científico-culturais (eventos, projetos de pesquisa, estágios, monitorias etc.). Como a proposta de escrita acontece com estudantes matriculados no componente estágio supervisionado, há condições para que possam tecer reflexões acerca do que foi escrito na primeira etapa de organização de seu memorial, segundo os momentos vivenciados no Ateliê Biográfico. São outros elementos que fomentados pela experiência dos estudantes e pela mediação do orientador-pesquisador podem caracterizar a etapa de autoformação. O orientador-pesquisador traz, paralelamente, à escrita dos estudantes, a proposta de reflexão das categorias da docência universitária, da legislação vigente, dos objetos de estudo e/ou do objeto e categorias da pesquisa que caracterizam o processo de formação e que são concretamente os elementos que representam o percurso da formação, como por exemplo: 1. 2. 3. 4. 5. O acesso à universidade através do vestibular, do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, as formas, a estrutura e democratização deste acesso. A vida na universidade: o regime seriado semestral, a estrutura das aulas e do sistema de avaliação, os espaços (biblioteca, salas especiais) os horários, o “fazer universidade” em detrimento de um ex-aluno do ensino médio. As incertezas iniciais, as definições, opções pessoais e de disciplinas e atividades e comprometimentos, as ações e reações ao novo. Os conteúdos de formação específica, os conteúdos de formação pedagógica, a prática de ensino, os estágios, a prática pedagógica dos professores, os instrumentos de avaliação, a participação em projetos de pesquisa, de extensão e neles as articulações com o conhecimento, com a sociedade e com a sua construção intelectual, as significações implícitas e explícitas, os caminhos que se apontam. O contexto da formação inicial, o contexto da área de Letras – formação do profissional de Língua Portuguesa. Especificamente durante os estágios supervisionados: a dimensão teóricoprática, a interação com a escola de educação básica, o processo de orientação/supervisão, o exercício da docência e as expectativas acerca do trabalho docente, os novos interlocutores e os novos olhares e perspectivas de ação e de atuação. Neste ‘roteiro’ que serve como norte para a escrita os estudantes são motivados a demonstrar suas percepções e olhares sobre as articulações que são postas nas aulas, nos pressupostos teóricos, nas diretrizes legais e nas atividades teórico-práticas de cada componente curricular do curso e na universidade. Considerando que a elaboração de memoriais de formação tem como objetivo proporcionar um contexto de produção que instigue cada estudante em formação a re(vi)ver seu percurso, permite também que aquele que escreve reconheça o seu “saber que sabe”, isto é, a percepção crítica das possibilidades, limites, implicações e compromissos. Nesse sentido, quando toma consciência deste “saber que sabe” já não poderá recusar-se em tomar posição diante da realidade. E se consideramos, ainda, que o desenvolvimento pessoal e profissional são processos inter-relacionados, a escrita de memoriais nos processos formativos representa uma atividade privilegiada, porque se transforma em uma experiência potencializadora do conhecimento de si e do outro, da própria vida e do próprio trabalho docente como futuro professor. (GUEDES-PINTO, 1996). Muito além das definições já apresentadas, a escrita do memorial de formação como uma estratégia metodológica para esta pesquisa é a possibilidade de trazer à tona os pressupostos teóricos da matriz curricular de um curso de formação inicial em Letras, que forma professores e, que pode ser avaliado a partir das “vozes” dos estudantes. Considerações finais A escrita do memorial de formação será a oportunidade de registro e do re-fazer um percurso – a formação escolar-acadêmica e profissional, mas e também a maneira de divisar outro final para a história que ainda está em seu percurso Com os memoriais, como instrumento de pesquisa, o curso se avalia, a universidade renova suas formas de interações com a comunidade escolar e a escola de educação básica torna-se fonte de pesquisa e reflexão acerca das nuances da educação pela presença destes futuros professores. Vale ressaltar que (JUNIOR & SILVA, 2005) os memoriais de formação em sua função pedagógica: a) promovem a articulação entre vivências sociais e educativas no contexto em que ocorrem; b) dão ressignificação ao espaço, ao tempo e ao lugar vividos, re-situando-os; c) permitem que sejam tecidas interconexões entre as diferentes histórias de vida dos sujeitos em termos políticos, sociais, educacionais e familiares; d) fomentam reflexões sobre as condições materiais nas quais se produziram determinados processos educativos; e) denotam diferentes formas culturais de vida, de educação, de sociabilidade e de valores humanos; f) trazem à tona a vida real e concreta do cotidiano social e educativo, como foi experienciado, carregado de afetos, de marcas e de sentimentos; g) possibilitam que o sujeito se pense como parte integrante de uma história social que não é só sua, identificando-se com as demais histórias; h) enfim, incrementam a re-ligação de saberes por demonstrarem diversas formas de ensinar e de aprender. Para os estudantes descrever sobre o seu percurso de formação se constitui em estímulo para que compartilhem, socializem suas reflexões e as problematizações surgidas ao longo do curso com a própria instituição de formação e com a escola que estará inserido. Dessa forma, gera-se uma dinâmica de formação e produção do conhecimento que não é apenas individual, mas coletiva na medida em que se configura, também, como um processo de formação dos atores sociais – professores/orientadores e estudantes/futuros professores envolvidos. Para os cursos de formação inicial em Letras principalmente, o trabalho com memoriais de formação, seja na forma de TCC ou de um instrumento de avaliação de componente curricular, sua função e significação está nas possibilidades de ampliar o acervo de trabalhos de pesquisas sobre o processo de formação em Língua Portuguesa e a escola de educação básica. A partir da escrita dos estudantes é possível elaborar-se um elenco de dados acerca da educação na perspectiva da construção de uma cartografia da Educação Básica no Brasil das últimas décadas do século passado. Vislumbrando a divulgação de produção dos discentes, o memorial de formação poderá ser o instrumento de disseminação de experiências sociais e educativas exitosas, através de publicações em revistas, coletâneas de artigos, e em relatos em eventos técnico-científicos da área educacional. Trata-se de articular nas instituições formadoras os pensamentos e as ações dos educandos e dos educadores, a concretização e o prolongamento de nossa memória e de nossa História da Educação. Referências ACKER, Maria Teresa Van (2008), “A reflexão e a prática docente: considerações a partir de uma pesquisa-ação”. Disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis Acesso em: 19 de março de 2011. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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