Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) As Referências Alemãs na Obra “Raízes Do Brasil” de Sérgio Buarque De Holanda Rodrigo Gomes Ibanes1 INTRODUÇÃO O objetivo deste ensaio é salientar as importantes contribuições do pensamento alemão para a elaboração da obra Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Holanda. Não há aqui a pretensão de esgotar e nem de evidenciar todas essas referências contidas na obra, visto que, isso seria uma discussão que excederia os limites deste trabalho. O que se pretende é abordar principalmente o intenso diálogo que o autor de Raízes do Brasil manteve durante a elaboração deste livro com alguns autores ligados à sociologia e à historiografia alemã. A importância de se avaliar e problematizar obras como essa é que isso nos dá a oportunidade de entender melhor os argumentos utilizados pelo autor, sua metodologia e principalmente os anseios que permeiam e entusiasmam o intelectual quando este se dedica a escrevê-la. Em ensaios importantes e de projeção abrangente como Raízes do Brasil identificar e salientar a metodologia e, mais especificamente, a teoria ou as teorias utilizadas é parte fundamental para uma boa interpretação. Outro aspecto fundamental para uma boa análise de uma obra desse porte é descobrir o sentido, isto é, o que move o escritor a elaborar suas ideias e desenvolver seu raciocínio. Como chama a atenção o historiador alemão Jörn Rüsen, “ideias são os referenciais supremos que emprestam significado à ação e à paixão. Elas servem à transformação de carências motivadoras em interesses (claramente identificáveis) em agir.” (RÜSEN, 2001: 31-32). Por essa ótica, o que certamente foi uma das inquietações que levaram Sérgio Buarque de Holanda a escrever Raízes do Brasil foi a falta de análises, de teorias interpretativas, até aquele momento, que dessem conta de explicar, ou pelo menos satisfazer, aos seus anseios com relação a discutir e tentar entender a complexidade da sociedade brasileira. Ainda nos referindo a Jörn Rüsen, o alemão atenta para o fato de que são justamente 1 Graduando em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsista do PROPET História UFF Campos dos Goytacazes. Email: [email protected] 1 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) necessidades e carências existentes no presente que fazem com que os historiadores busquem no passado uma “razão histórica” para minimizar suas inquietações, e buscam também, orientação no tempo na tentativa de contextualizar os fatos. (RÜSEN, 2001: 32-33). É com esse intuito que Sérgio Buarque de Holanda tenta em sua primeira obra buscar respostas no passado para evidenciar o que no presente havia se configurado a sociedade brasileira do início do século XX. É nítido o esforço que o historiador paulista faz na tentativa de evidenciar razões e sentido para a complexidade social de seu tempo. 1. CONTEXTO HISTÓRICO DE “RAÍZES DO BRASIL” Raízes do Brasil1 foi publicada pela primeira vez em 1936 e é considerado o primeiro grande trabalho de Sérgio Buarque de Holanda e também uma das mais importantes obras da historiografia brasileira. A relevância deste livro consiste no fato de que ele foi escrito em um momento em que, entender a sociedade brasileira, desvendar suas particularidades, tinha se tornado tarefa essencial de muitos estudiosos da primeira metade do século XX. O início deste século no Brasil é marcado por um extenso debate sobre qual seria a verdadeira identidade brasileira. Muitos autores, estrangeiros e brasileiros, se dedicaram e ainda se dedicam a tentar responder a esse questionamento. Outro problema que se evidenciou neste período é que a maioria das interpretações acerca das características da sociedade brasileira era basicamente feita por doutrinas estrangeiras tão caras no final do século XIX, mas que não davam mais conta de explicar a complexidade deste grupo social tão específico em suas mais variadas características. (BRESCIANI, 2004: 403-412). O advento do Movimento Modernista, também ocorrido no início do século passado, não pode deixar de ser lembrado como sendo um movimento de extrema importância para a intelectualidade brasileira. Essa agitação no cenário artístico e intelectual do país deve ser ligado ao contexto de Raízes do Brasil, pois o seu autor teve participação ativa 1 “Raízes do Brasil” é publicada no Brasil no ano de 1936 pela Editora José Olympio. Posteriormente é traduzida para vários idiomas como o italiano (1954), o espanhol (1955) e o japonês (1971, 1976), bem como para o alemão e o francês. Isso mostra como essa obra se tornou de suma importância não só para o publico brasileiro mais também aguçou o interesse de boa parte dos leitores estrangeiros. 2 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) nesta empreitada. Na verdade Sérgio Buarque faz parte deste grupo de intelectuais que apostaram no Movimento Modernista e posteriormente na chamada Revolução de 1930; viram nestes movimentos uma possível saída para solucionar os problemas com relação ao atraso cultural no desenvolvimento do Brasil. Havia à esperança em acertar os ponteiros com o que faziam as vanguardas européias, fundir cultura brasileira e estrangeira, cultura popular e erudita. (VELLOSO, 2006: 155-157). Ainda muito engajados pelo Movimento Modernista e, extremamente comprometidos em acelerar o desenvolvimento do país, muitos intelectuais viram na Revolução de 1930, que inicialmente, tinha propostas de renovação profunda, rompendo com as ultrapassadas posições da República Velha, a oportunidade de ter suas ideias acolhidas pelo Estado. O intelectual agora não era mais perseguido pelo poder legislativo e sim incitado a fazer parte dele com a promessa de que, esta parceria seria fundamental para o desenvolvimento do país. Como observa Veloso: “Essa vinculação entre modernismo e Estado Novo é extremamente importante, uma vez que demonstra o esforço do regime para ser identificado como defensor de ideias arrojadas no campo da cultura.” (VELLOSO, 2006: 172). Muitos intelectuais e artistas das mais diversas áreas confiaram nesta união que, com o passar do tempo se mostrou “traiçoeira”, pois, muitos se viram manipulados pelo Estado para realizar políticas que não faziam parte do projeto inicial de modernização. Também no início do século XX começam a surgir no Brasil às primeiras obras escritas por autores brasileiros exclusivamente engajados em discutir e interpretar a sociedade brasileira. Um dos principais conceitos largamente difundidos no início do século passado, tanto pelos intelectuais quanto pelos menos instruídos foi a famosa “Fábula das três raças”1, que foi exaustivamente discutida e questionada por conter um caráter racista e simplista. O que se evidenciava nesse período por muitos estudiosos, tanto nacionais quanto estrangeiros, é que a sociedade brasileira era formada por três etnias majoritárias, os brancos vindos da Europa no advento da colonização, os negros vindos da África para o trabalho forçado, e os índios que aqui estavam desde os 1 Esta expressão é utilizada como título de um dos capítulos da famosa obra “Relativizando, uma introdução à antropologia social” de 1990, escrita pelo antropólogo brasileiro Roberto Da Matta. 3 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) descobrimentos. Esse conceito de miscigenação foi largamente utilizado como forma de tentar dar corpo a uma sociedade extremamente plural e pouco coesa como é a sociedade brasileira. (DA MATTA, 1990: 58-85). O que vale ressaltar é que Sérgio Buarque de Holanda foi um dos primeiros intelectuais brasileiros que não se valeu desta máxima, “era brando teoricamente: evitava determinismos cientificistas, climáticos ou biológicos.” (REIS, 2006: 121). Isso se deve ao fato de que este viés teórico pautado na questão racial nitidamente não era a preocupação do intelectual paulista; ele estava muito mais interessado em buscar explicações mais profundas e mais sólidas do que unicamente a miscigenação do povo brasileiro. No prefácio escrito por Antonio Candido para Raízes do Brasil em 1967 ele evidencia que esta obra forma, junto com Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freire e Formação do Brasil Contemporâneo (1942) de Caio Prado Junior, o tripé interpretativo da sociedade brasileira. (CANDIDO, 1967: 9-21). Mesmo assim ressalta que Sérgio Buarque tem a particularidade de não salientar o aspecto da miscigenação, tão caro, por exemplo, a Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala. O autor de Raízes do Brasil estava mais preocupado, principalmente nos capítulos finais de sua obra, em evidenciar, por exemplo, o papel do imigrante, que chegara às terras brasileiras com mais intensidade a partir do início do século XIX movidos por melhores condições de vida e também devido à crescente escassez de mão de obra escrava que, naquele momento, já dava sinais de desgaste. 2. REFERÊNCIAS AO PENSAMENTO ALEMÃO As referências alemãs têm impacto decisivo na formação intelectual de Sérgio Buarque de Holanda quando, no final da década de 1920 ele se muda para a Europa e, por ocasião, se estabelece em Berlim para trabalhar como correspondente para O Jornal. Nos momentos em que não estava exercendo o jornalismo, seu principal divertimento era assistir às aulas e palestras ministradas pelo historiador alemão Friedrich Meineche na Universidade de Berlim. Com o passar do tempo cada vez mais Sérgio Buarque de Holanda ia se familiarizando com a língua alemã e seus intelectuais e, por conta disso, 4 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) inspirado por Meineche, pôs-se a ler com mais intensidade autores alemães, tanto no campo científico quanto no campo literário. Sua passagem pela Alemanha foi relativamente curta, ficou em Berlim pouco mais de dois anos retornando ao Brasil no início da década de 1930. Mesmo permanecendo pouco tempo no país europeu, Sérgio Buarque de Holanda trouxe consigo uma imensa bagagem teórica que iria ser crucial para o amadurecimento dele como um dos grandes intelectuais brasileiros do século XX. As leituras feitas pelo autor de Visão do Paraíso, acerca da sociologia e da historiografia alemã deixaram marcas profundas em Raízes do Brasil que, segundo o próprio Sérgio Buarque de Holanda, em entrevista concedida ao jornalista João Marcos Coelho para a revista Veja em janeiro de 1976 o paulista salienta que: “Eu escrevi dois de seus capítulos na Alemanha, quando lá morei, entre 1928 e 1931 (...) Eu estava muito influenciado pelo sociólogo alemão Max Weber.” (HOLANDA, 1976) Esse depoimento do autor mostra que suas leituras germânicas surtiram efeito quase que imediato na composição de seus argumentos para esta obra. É importante que se acentue que Raízes do Brasil foi escrita em um momento muito peculiar da trajetória intelectual de Sérgio Buarque de Holanda. No curso de seu amadurecimento intelectual o próprio autor foi fazendo ponderações acerca deste ensaio, se mostrou extremamente preocupado em evidenciar que Raízes do Brasil é uma obra situada no tempo, e que necessitaria de uma série de correções e adaptações. Em entrevista concedida ao jornalista e historiador Ernani da Silva Bruno1 em 1981, Sérgio Buarque de Holanda, quando questionado sobre sua afirmação de que reescrever Raízes do Brasil seria fazer um livro diferente, o intelectual paulista responde: “Teria que mudar e desdizer muita coisa. Por exemplo: acho muito estática aquela definição do início, em que falo do personalismo, do individualismo. Não posso concordar com isso hoje. O mesmo vale para aqueles trechos sobre o ladrilhador, o semeador: acho aquilo ensaístico demais, precisaria refazer. O fato é que o livro foi concebido de uma maneira, e se fosse conceber de outra teria que fazer um livro inteiramente novo.” (referenciar entrevista). 1 Esta entrevista não foi feita apenas por Ernani da Silva Bruno mais também por uma serie de personalidades ligadas ao cenário intelectual brasileiro como, por exemplo, Laura de Mello e Souza entre outros. 5 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) 3. AS IDEIAS DE LEOPOLD VON RANKE E MAX WEBER EM “RAÍZES DO BRASIL” Antes de fazer algumas menções acerca da forte presença de Leopold Von Ranke e Max Weber em Raízes do Brasil é necessário que se diga que não há aqui a mínima intenção em restringir tais referências utilizadas por Sérgio Buarque de Holanda na concepção de sua obra apenas a esses dois autores. Durante sua estadia na Alemanha e mesmo depois de retornar ao Brasil, o historiador paulista teve contato com infinitas obras, infinitos autores, tanto alemães quanto brasileiros, e isso certamente o ajudou a elaborar seu primeiro ensaio. A opção por esses dois autores se dá pelo fato de que suas ideias se tornam mais perceptíveis na obra analisada e, por isso, mereceram uma atenção especial neste trabalho. 3.1 ALUSÕES AO PENSAMENTO DE LEOPOLD VON RANKE O primeiro contato de Sérgio Buarque de Holanda com Leopold Von Ranke e consequentemente com o historicismo alemão é muito difícil de datar, visto que, mesmo antes de sua viajem à Alemanha no início do século passado, o historiador já possuía uma enorme carga de leitura das mais diversas áreas. É bem provável que suas leituras acerca de Ranke tenham se intensificando durante sua estada em terras alemãs e, também devido ao incentivo do historiador alemão Friedrich Meineche. A maioria dos estudiosos que se puseram a discutir e avaliar Raízes do Brasil são quase unânimes em afirmar que essa obra é uma das que mais faz alusão ao historicismo alemão na historiografia brasileira. A metodologia que Sérgio Buarque de Holanda emprega para escrever esta obra é muito baseada na narrativa histórica e na visão de que os formatos em que se encontram as sociedades no presente são sempre resultados de processos históricos no âmbito de sua formação. Esse caráter dissertativo que se preocupa em analisar os fatos o mais fielmente possível, extrair das fontes primárias o máximo de informação sem muitos devaneios e, na medida do possível, manter distancia do material examinando são características presentes em Raízes do Brasil. Outro ponto importante a ser discutido sobre essa referência rankiana no primeiro ensaio de Sérgio Buarque é a questão da separação do discurso historiográfico do 6 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) discurso filosófico que acabou se tornando uma marca no pensamento do historiador alemão. Essa máxima que rendeu duras críticas a Ranke foi posteriormente discutida pelo próprio Sergio Buarque em uma coletânea dirigida por ele sobre o autor germano e que foi publicada em 1979. Nesta coletânea o historiador paulista afirma que: “Ranke foi historiador sem pretensões a filósofo, mas teve mais de uma vez o cuidado de definir quase que filosoficamente o ofício do estudioso do passado. Entendia, ainda assim, que a História é uma ciência do único, separando-se por esse lado da Filosofia que, segundo ele, se ocupa de abstrações e generalizações.” Ainda sobre a filosofia Sérgio Buarque prossegue dizendo que, “É fora de dúvida que Ranke sentiu desde muito cedo a dificuldade de estudar, pesquisar, e verificar os fenômenos singulares, sem o socorro de seleções, avaliações, comparações ou generalizações, e que apelou conscientemente para tais recursos.” (DE HOLANDA, 1979: 22-23). É importante que se note que, mesmo fazendo parte do discurso rankiano esse apelo a distanciar-se das generalizações, Sérgio Buarque nos chama a atenção para o fato de que esse recurso foi largamente usado pelo próprio alemão em suas obras. Na verdade, assim como Ranke o historiador brasileiro faz largo uso dessa máxima em Raízes do brasil. Sua tentativa de uma espécie de história geral do Brasil não perde, por ter esse aspecto, características rankianas, “Não importa que o historiador se dedique ao estudo das diferentes histórias nacionais, quando não perca de vista o pano de fundo que de algum modo as congrega.” (DE HOLANDA, 1979: 25-26). 3.2 ALUSÕES AO PENSAMENTO DE MAX WEBER Outra quase unanimidade com relação às referências alemãs utilizadas por Sérgio Buarque de Holanda na composição de Raízes do Brasil é com relação à presença das ideias do sociólogo alemão Max Weber. Em ensaio publicado pelo pesquisador José Carlos Reis ele chega a afirmar que: “Raízes do Brasil tem páginas inteiras inspiradas em Weber.” (REIS, 2006: 120). Muitos intelectuais também compartilham desta afirmação feita por Reis, o próprio Sérgio Buarque, em muitas das entrevistas concedidas ao longo de sua vida, reconhecia que as ideias weberianas foram largamente utilizadas na composição de sua obra. 7 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) Do sociólogo alemão, Sérgio Buarque se utiliza com mais intensidade dos chamados tipos ideais. Esse conceito é largamente difundido ao longo de muitos capítulos em Raízes do Brasil. O semeador e o ladrilhador e O homem cordial são alguns exemplos desse uso. O autor de Monções é considerado um dos primeiros intelectuais a se utilizar da sociologia weberiana no Brasil. Isso se deve ao fato de que Weber foi um dos autores mais lidos por Sérgio Buarque durante sua estada na Alemanha no início do século passado. Por esse aspecto Raízes do Brasil é vista por muitos teóricos como sendo uma obra tanto de cunho historiográfico como de cunho sociológico, justamente por conter em sua organização, conceitos intimamente ligados ao estudo sociológico. Totalmente imerso pela sociologia alemã de Weber no início de sua vida acadêmica, Sérgio Buarque se destacaria por sua analise geral do Brasil. Sua nítida intenção em desvendar as raízes, salientar características e conceituar grupos nas mais diversas esferas da sociedade brasileira é um exemplo claro desse uso da teoria sociológica weberiana. A preocupação do autor de Visão do Paraíso em salientar questões como a divisão do público e do privado na composição do Estado para tornar este mais burocrático e funcional e mais abrangente são questões pautadas diretamente no pensamento do pensador alemão. “A sua discussão de Estado brasileiro, das relações entre o público e o privado, a sua proposta de uma separação radical entre estas esferas e da modernização do Estado, que se tornaria mais racional e burocrático, mais eficaz na administração público, são visivelmente weberianas.” (...) “Raízes do Brasil é quase integralmente weberiano.” (REIS, 2006: 120). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Raízes do Brasil está, sem dúvida, entre as mais importantes obras da historiografia brasileira. Isso pode ser evidenciado pelo fato de que ela continua sendo, quase um século depois de sua primeira publicação, uma obra extremamente instigante e inovadora. Essa posição de prestígio atribuída a este ensaio faz com que sejam necessárias alusões acerca de seu conteúdo como às quais se propôs a fazer esse trabalho. Salientar suas ideias, evidenciar suas correntes teóricas, tudo isso se torna imprescindível devido ao importante conteúdo que este livro possui. É evidente que não 8 Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs) Anais do 7º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha. Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6) se trata apenas de salientar os aspectos positivos atribuídos a esta obra, não se pode perder de vista o fato de que Raízes do Brasil, como nos chama a atenção seu próprio autor, deve ser vista sempre como uma obra pertencente ao seu tempo, ou seja, está ligada intrinsecamente ao período em que foi escrita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRESCIANI, Maria Stella, NAXARA, M.(org) memória e (res)sentimento. 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