180 ARTIGO _____________________________________________________________ Educação física escolar: um estudo da prática pedagógica no ensino médio Wernher Szubris Graduado em Educação Física - FCARP/M Márcia C. R. S. Coffani Graduada em Educação Física e Mestre em Educação (UFMT), Professora do Departamento de Educação Física – FCARP/MT e Pesquisadora Integrada do COEDUC/UNEMAT. Resumo Este trabalho de cunho monográfico teve como tema de estudo a prática pedagógica do professor de Educação Física no Ensino Médio, no município de Indiavaí-MT. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativo interpretativa. Os dados oriundos de observações participantes e entrevistas semi-estruturadas foram coletados com as alunas da Escola Paulino Modesto. O estudo assegurou o olhar sobre as práticas corporais que mobilizadas, vivenciadas e manifestas no espaço quadra-aula, expressaram os saberes aprendidos e ensinados no cotidiano das aulas de Educação Física e o pensar das perspectivas curriculares manifestas pelas práticas pedagógicas docentes que tem direcionado a formação do aluno. Palavras-chave: Prática Pedagógica; Ensino Médio; Educação Física. Abstract This job was to issue stamp monographic study of the teaching of Professor of Physical Education in High School, in the municipality of Indiavaí-MT. This is a search for quality-interpretative approach. The data from participants comments and semi-structured interviews were collected with the students of the School Paulino Modesto. The study said the look on the practices that mobilized body, experienced and clear-classroom block in space, expressed the knowledge learned and taught in the daily classes of Physical Education and think of the prospects for clear curricular teaching faculty who has directed the formation of student. Key Words: Teaching; High School; Physical Education. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 181 Introdução Esta investigação teve como foco de discussão o papel curricular, pedagógico e educativo assumido pela Educação Física Escolar, no Ensino Médio, no município de Indiavaí-MT. Buscou-se investigar como a prática pedagógica do professor influencia na importância dada e percebida pelas alunas à Educação Física, enquanto componente curricular, do Ensino Médio, com a intenção de compreender se essa mesma prática docente contribui para afirmação do papel da Educação Física, como uma disciplina curricular da educação escolarizada básica no Brasil. Para tanto foi necessário retratar como o professor de Educação Física desenvolve sua prática pedagógica, no Ensino Médio; compreender como os alunos percebem a importância da Educação Física, no Ensino Médio, da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Paulino Modesto, no município de Indiavaí-MT; e avaliar como a prática pedagógica do professor interfere na importância atribuída à Educação Física, no Ensino Médio. A pesquisa identificou que a prática pedagógica do professor é um fator relevante para a afirmação da disciplina de Educação Física como componente curricular na visão das alunas. Outro aspecto identificado é a necessidade de mudanças nessas aulas para que sejam atualizadas com os interesses e necessidades do jovem do Ensino Médio. Esse fato implica na mudança de atuação do professor e nas condições de ensino oferecidas pela escola. História da educação física no ensino médio no brasil Segundo Barni e Schneider (2003) a educação nada mais é que um processo que atua na formação da pessoa, está presente em todas as sociedades humanas e é inerente ao homem como ser social e histórico. Sua existência está fundamentada na necessidade de “formar” as gerações mais novas, de transmitir-lhes os conhecimentos, valores e crenças e de dar lhes possibilidades para novas realizações. Destaca-se que o conceito de educação está sujeito à evolução histórica, variando conforme o modo de existir e de pensar, dos diversos povos nas diferentes épocas. Assim, as diferentes sociedades e culturas construíram diferentes processos de educação, baseados em conceitos e valores muitas vezes contraditórios e incompreensíveis. Quanto à construção da Educação Física como elemento do currículo básico educacional brasileiro, pode-se dizer que o seu surgimento e ordenamento recebeu Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 182 uma forte influência do modelo de educação escolarizada do corpo, processado pelas mudanças sócio-econômicas e culturais na Idade Moderna, ocorridas dentro das sociedades do ocidente, em especial, as européias. Essas mudanças determinaram o surgimento da escola como instituição responsável por transmitir aos novos descendentes conhecimentos e valores da sociedade daquele momento. Um novo modelo de educação processado a nível escolar deveria então ser implantado, pelo qual se pretendia muito mais que apenas instruir as crianças: era preciso educá-las nas boas maneiras e dar-lhes uma profissão. À escola, agora, caberia a missão de operar uma verdadeira revolução nos costumes, sob o ponto de vista moral. Segundo Barni e Schneider (2003) a Educação Física foi implantada no currículo escolar brasileiro em 1882, com o parecer de Rui Barbosa, ficando sob forte influência militar nas décadas finais do século XIX e nas primeiras do século XX. Neste momento, o professor assumiu o papel de instrutor e o aluno de recruta. Nas aulas eram enaltecidas as questões da disciplina, da obediência e subordinação às ordens por parte dos alunos. Por isso, talvez seja tão comum ver ainda hoje, os alunos correndo em volta da quadra na forma de filas e em pequenos pelotões, aprendendo a marchar, exercitando-se através de polichinelos ou flexões de braços, pois com raras exceções, ainda se reproduz esse modelo pedagógico da Educação Física. Aos poucos se configura duas importantes correntes pedagógicas que influenciaram a Educação Física Escolar de forma absoluta e que para Oliveira (1998) marcaram a evolução da área no Brasil, são elas: a médica e a militar. A primeira por intermédio de diversas teses da faculdade de medicina, onde o tema era a educação física. E a segunda, a partir de 1858, onde os exercícios físicos tornaram-se obrigatórios nas escolas militares, o que acabou servindo como meio de divulgação das atividades físicas (OLIVEIRA, 1998, p. 53). A Educação Física no Brasil, em suas primeiras tentativas para compor o universo escolar, surge como promotora da saúde, da higiene física e mental, da educação moral e de regeneração ou reconstituição da raça (SOARES, 2004). Assim, no Brasil, a Educação Física na escola recebeu influências da área médica, pautadas nas áreas da higiene, saúde e eugenia, dos interesses militares e do nacionalismo. Também sob essa influência, os conteúdos de ensino da Educação Física, até os anos Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 183 de 1960, foram centrados nos movimentos Ginásticos Europeus, em especial, da Escola Francesa. Em suma, A Educação Física no Brasil desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para forjar daquele indivíduo “forte”, “saudável”, indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país que, saindo de sua condição de Colônia Portuguesa, no início da segunda década daquele século, buscava construir seu próprio modo de vida. Contudo, esse entendimento, que levou por associar a Educação Física à Educação do Físico, à Saúde Corporal (CASTELLANI, 1988, p. 39). No ponto de vista de Oliveira (1998) o método de ensino da Educação Física, compreendia um conjunto de exercícios, cuja prática racional e metódica, fosse suscetível de fazer o homem atingir o mais alto grau de aperfeiçoamento físico compatível com a sua natureza. Castellani (1988) registra que: Nessa fase os exercícios eram para os ambos os sexos onde os estudiosos pensavam em se formar tanto os homens e mulheres fortes e saudáveis na eugenia da raça brasileira como diz o autor, é o revigoramento do povo, por sábia política de educação e defesa sanitária da cultura atlética (CASTELLANI, 1988, p. 56). A organização da cultura escolar deveria cultivar um corpo belo, forte, saudável, higiênico, ativo, ordeiro, racional, em contraposição àquele considerado feio, fraco, doente, sujo e preguiçoso. Para essa “educação physica” das crianças, em sentido alargado, muitos dispositivos foram mobilizados. O primeiro deles foi a construção de prédios próprios para as escolas, imponentes, majestosos, higiênicos e assépticos - os grupos escolares, considerados templos do saber. A partir do início do século XX, a presença da Educação Física na escola brasileira, desperta interesse em relação ao valor dos exercícios físicos para os jovens. Castellani (1988) diz que: Todos reconhecemos os benefícios dos exercícios físicos em qualquer idade desde devidamente adaptados. Por isso, a obrigatoriedade da educação física se ajusta bem aos cursos de nível médio que, de conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases, se destinam à formação do adolescente. Ultrapassada essa faixa de formação, a prática de exercícios físicos já deve ser um hábito agradável e saudável, resultante de um processo formativo (CASTELLANI, 1988, p. 117). A partir dos anos de 1980, em função de um novo cenário político, o modelo de esporte de alto rendimento pautado como objetivo e conteúdo da Educação Física Escolar, passa a ser criticado e como alternativa surgem novas formas de se pensar a Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 184 Educação Física, ou seja, novas tendências pedagógicas, como: psicomotricidade, construtivista, desenvolvimentista, críticas, saúde renovada, entre outras. Paralelamente, o Ensino Médio passa por mudanças profundas no que diz respeito à discussão das suas funções e o caráter terminal, diretamente voltado ou, para a formação de técnicos de nível médio ou, para o ensino preparatório para a Universidade. Darido et al (2005) ainda mencionam que o Ensino Médio no Brasil está vivendo uma explosão de crescimento. De 1987 a 1997 o número de alunos matriculados no Ensino Médio dobrou, passando de 3,2 milhões para 6,4 milhões. Dois fatores, de acordo com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), explicam este crescimento: a maior exigência do mercado de trabalho e a melhoria (ainda que em escala reduzida), do sistema público escolar brasileiro. A reforma curricular do Ensino Médio nos anos de 1990 e 2000 se pautou numa nova compreensão do papel da escola, na formação e atuação de seus agentes sociais, que colocam a necessidade de outros parâmetros para a formação dos cidadãos, não mais compatíveis com a visão tecnicista sobre trabalho, defendida nas décadas de 1970 e 1980. De acordo com os PCNEM (1999, p. 15) “A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação”. Essa compreensão da função e do papel do Ensino Médio relaciona-se ao seu ordenamento legalmente instituído pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9.394, promulgada em 1996. Nela, afirma-se que a Educação Básica tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22, LDBEN, nº. 9.394/96). Há que se dizer ainda que conforme registram as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM, 2006) o Congresso Nacional aprovou um documento para a Educação Física no Brasil, que altera sua legitimidade no Ensino Médio, em especial, no período noturno. Trata-se do Decreto-Lei nº. 10.793/03, que isenta da prática da Educação Física vários alunos e alunas julgados ora como incapazes, ora como privilegiados. Entre os alunos “dispensados” encontram-se os trabalhadores com jornada superior a seis horas; mulheres com prole; maiores de 30 anos; pertencentes ao serviço militar e portadores de deficiência. O Decreto em questão pressupõe um padrão de corpo que exclui justamente as adversidades de trajetórias de vida dos alunos que freqüentam a escola. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 185 Esses são aspectos da história de implantação do Ensino Médio no Brasil que na realidade não conseguiu nem como propedêutico ou técnico profissionalizante atender com qualidade a formação do aluno. No caso da disciplina de Educação Física a situação é mais grave, pois a mesma acabou refém da vontade dos alunos de freqüentarem as aulas ou simplesmente abandoná-las. Longe de ter se tornado um consenso, a Educação Física foi e é, ao longo da história da educação brasileira, palco de debates, conflitos e negociações acerca do seu papel na escola. Para Barni e Schneider (2003) é momento da Educação Física Brasileira rever qual é o seu papel na sociedade, devendo repensar o seu papel nas escolas a partir do ordenamento da LDBEN n. 9.394/96. O autor alerta que: Sabe-se que a Educação Física, pouco a pouco, tem buscado o seu lugar ao sol dentro da escola como uma fonte de conhecimento necessária para a construção de um novo cidadão mais completo, mais integrado e consciente de seu papel na sociedade a qual pertence. Com este trabalho, busca-se abrir os olhos, tanto dos profissionais da Educação Física como dos profissionais das demais áreas do conhecimento, para que possam ver o grande valor da Educação Física para os alunos e a sua colaboração para uma educação total do homem (BARNI e SCHNEIDER, 2003, p. 2). Segundo Darido et al (2005) é nesse movimento de confrontos e tensões que é necessário discutir como a Educação Física permanecerá enraizada nas novas maneiras de organização escolar que estão sendo praticadas. Dessa forma investigar a prática pedagógica do professor no contexto das aulas de Educação Física no Ensino Médio representa um esforço para compreender as dificuldades e as possibilidades de legitimação da área nesse período de estudo. Metodologia Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo interpretativo. Os dados oriundos de observações participantes in loco e entrevistas semi-estruturadas foram coletados na Escola Estadual Paulino Modesto, na cidade de Indiavaí–MT. Os sujeitos da pesquisa foram as alunas, do Ensino Médio, da rede pública de ensino desse município. Análise de dados Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 186 As falas das alunas entrevistadas demonstram que conceituar a disciplina de Educação Física não é algo muito certo e definido, os argumentos são diversos e controvertidos. Quadro 1 – conceito de educação física BENEDITA A gente brinca, faz exercícios, não têm assim o que é um momento de fazer Educação Física. CÁSSIA (...) primeiro que a Educação Física tem que ter uma coisa bem animada. SILVANA Eu acho que Educação Física faz parte da nossa disciplina como as outras. NÚBIA O que entendo sobre Educação Física que é forma de melhoria de vida, de saúde, tanta coisa, tem gente que faz educação que faz Educação Física por gosta mesmo, tem gente que faz por causa da saúde, então tem várias formas. Isso pode representar uma falta de uma compreensão mais profunda e apurada sobre o objeto de ensino e a função da disciplina na formação escolar do aluno. Foi possível perceber esse aspecto a partir da fala de Silvana que diz: Eu acho que educação física faz parte da nossa disciplina como as outras (SILVANA). Por que há dúvidas em conceituar a Educação Física como uma disciplina escolar? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 muito bem resolveu esse caráter duplo que a área carregava consigo há anos. No texto legal dessa Lei menciona-se que a Educação Física é um componente curricular da Educação Básica, fato esse que difere da perspectiva de uma prática pela prática que historicamente acompanha essa área. É instigante perceber que não é da Lei que realmente se precisa para afirmação dessa disciplina no currículo escolar, mas de trabalhos pedagógicos com objetivos claros e metodologias de ensino adequadas que possam permitir aos alunos a compreensão da Educação Física, enquanto elemento do currículo escolar, tal como as demais disciplinas. Atenta-se que para isso é necessário que a área diga muito claramente: Para quê? Por quê? e Como? É possível promover a formação básica do aluno no campo das práticas corporais. Um outro aspecto percebido nas falas é que ajudou nessa compreensão sobre a falta de clareza do papel da Educação Física na formação do aluno do Ensino Médio está ligado as falas das alunas Benedita e Cássia, conforme trechos abaixo transcritos: Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 187 A gente brinca faz exercícios não têm assim o que é um momento de fazer Educação Física (BENEDITA). (...) primeiro que a Educação Física tem que te uma coisa bem animada (CÁSSIA). Entendeu-se que a aula de Educação Física ou mesmo a disciplina em si está ligada a um certo brincar descompromissado, um momento de lazer, de diversão. É claro que trabalhar com o corpo em movimento pela via do lúdico é sempre muito mais envolvente podendo ser até mais produtivo. Contudo, se tratam de vias metodológicas de trabalho não podendo ter fim em si mesma como parecer ser a compreensão das entrevistadas. É comum a agregação de brincar e Educação Física e não temos nada contra esse fato. Mas a perspectiva que elegemos para esse trabalho é de que o brincar no espaço escolar precisar ser preenchido de objetividade para que não perca a função de ensino. Acreditamos ainda que a Educação Física pode e deve utilizar do processo lúdico para empreender suas estratégias de ensino, mas, sem que isso se torne o único objetivo ou conteúdo da aula. Já a fala de Núbia nos revelou um conceito talvez mais apurado do que seja a Educação Física e suas funções, conforme fala abaixo: O que entendo sobre Educação Física que é forma de melhoria de vida, de saúde, tanta coisa, tem gente que faz educação que faz Educação Física por gosta mesmo, tem gente que faz por causa da saúde, então tem várias formas (NÚBIA). Foi possível perceber que a Educação Física foi apresentada na fala da entrevistada numa perspectiva de prática para saúde. Essa é uma velha idéia que acompanha a área desde seus primórdios. Parece ser fruto de uma tendência médicohigienista que ganhou diversas roupagens, mas que ainda impera como sendo a causa primeira da Educação Física. Destaca-se ainda que, essa idéia de Educação Física e Saúde são atualmente divulgadas constantemente nos meios de comunicação de massa, criando adeptos da atividade física e negando o sedentarismo. Contudo, há que se dizer que discutir saúde é muito mais do que apenas prescrever um receituário de exercícios físicos, mas avaliar as condições de vida das pessoas. Não basta apenas dizer para o indivíduo que faça Educação Física, pois esse é um fator que colabora, mas que não determina totalmente ou individualmente as condições de saúde dos indivíduos. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 188 Os saberes da Educação Física a serem tratados no Ensino Médio precisam preparar os jovens para uma participação política mais efetiva no que se refere à organização dos espaços e recursos públicos de prática de esporte, ginástica, dança, luta, jogos populares, entre outros. Diferente dessa perspectiva, o que se viu é uma repetência de atividades lúdicas, da fase infantil e que não se refere aos interesses e necessidades dos jovens estudantes do Ensino Médio, conforme falas abaixo: Quadro 2 – Conteúdos aprendidos em aulas de educação física no ensino médio BENEDITA Não muita coisa, a gente só brinca, não faz exercícios, só brinca de queimada, bola essas coisas assim normal. CÁSSIA Primeira coisa a gente se alonga como se, por exemplo; chutar uma bola, bate numa bola de vôlei e joga basquete a coisa assim. GEOVANA No momento a gente só faz brincadeira queimada, a gente brinca de queimada e só, alonga. NÚBIA Aqui agora você até mesmo viu com nós, lá na aula passada lá, não tem quase material então a gente aprende bem pouco, na parte de alongamento a gente aprende alguma coisa, algumas brincadeiras. Foi possível perceber que as aulas de Educação Física em nada traziam de inovação, curioso ou instigador para as alunas, conforme a observação abaixo registra. CENÁRIO 1 Quando a professora chega, as alunas já estavam esperando no portão da escola. Esperaram uns 20 minutos dentro do horário de aula. De certa forma a professora participava junto com as alunas. As aulas iniciavam sempre com um breve alongamento, dividia as equipes, sempre às mesmas brincadeiras e os mesmos alongamentos. Outro fato é a falta de materiais e espaços físicos adequados, pois quando Benedita diz “bola”, é uma “bola” murcha utilizada pra brincar. Núbia deixa clara a falta de compromisso pedagógico com a aula de Educação Física do Ensino Médio, seja por falta de material, espaço físico ou atuação mais aplicada da professora: Aqui agora você até mesmo viu com nós, lá na aula passada, não tem quase material então a gente aprende bem pouco, na parte de alongamento a gente aprende alguma coisa, algumas brincadeiras (NUBIA). As alunas querem que tenha atividade desportiva em suas aulas de Educação Física onde possam criar e desenvolver habilidades e trabalhar o lúdico. As atividades esportivas consistem de acordo com Orientações Curriculares para o Ensino Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 189 Médio (2006), numa forma de motivação para o aluno voltar nas próximas aulas, por praticarem esportes por gosto, não por serem obrigados a participarem das aulas. Talvez a professora da escola-campo tenha vontade de ensinar outros conteúdos e desenvolver uma outra prática pedagógica, mas a estrutura física precária e a falta de materiais pedagógicos influenciam em suas aulas. Portanto, não cabe a professora a responsabilidade total pela qualidade da aula, pois a escola também tem sua participação direta na prática pedagógica dessa professora. Ficou claro que não é possível que a Educação Física no Ensino Médio se restrinja ao jogar queimada, pois é necessário que o conteúdo da aula seja relevante para formação do aluno, ou seja, que seja um conteúdo que trate das necessidades e interesses do jovem que é o aluno freqüentador do Ensino Médio. Quanto à prática pedagógica do professor é preciso que desenvolva uma didática atualizada com o público alvo, mas que diferente disso o que foi possível perceber na pesquisa é que o professor reproduz atividades da fase infantil das alunas que já são adolescentes/jovens. Quanto às atividades presentes nas aulas de Educação Física, as alunas disseram que têm as brincadeiras como uma rotina das aulas. Brincam duas até três vezes a mesma brincadeira e vão sentar e conversar, pois são duas horas de aulas, que se tornam cansativas. Quadro 3 – As BENEDITA SILVANA NÚBIA atividades presentes nas aulas de educação física no ensino médio Brinca de queimada e futsal. Joga bola, corre, ficamos sentadas conversando. Brinca de queimada, rouba bandeira, fazer alongamento e só. Certamente pelas brincadeiras serem rotineiras, as aulas de Educação Física ficam sem aquele gostinho de quero mais, as alunas não vêem a hora de acabar a aula. Parece que aos poucos vão perdendo a vontade de participar das aulas e quando vão à aula já sabem do que vão brincar. As alunas têm o dever de ir às aulas, o professor de ministrar as aulas e administração da escola de apoiar o professor com orientações, materiais e equipamentos pedagógicos, para serem explorados pelos alunos. Infelizmente, não se percebeu essa dinâmica na escola investigada e sentiu-se que aquelas alunas vão terminar o Ensino Médio sem saber para que serve a Educação Física em suas vidas. Dessa forma a professora não consegue atingir um bom desempenho, pois a brincadeira é lúdica até um certo ponto. As práticas manifestas nas aulas que se restringiram as brincadeiras estão aquém do nível de aprendizagem desses alunos. No Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 190 caso dessas aulas as brincadeiras de queimada e rouba-bandeira observadas se tornaram uma rotina sem fundamentação. No momento as aulas de Educação Física se encontram defasadas com as atividades fora das orientações curriculares devendo buscar novas alternativas metodológicas de trabalho, conforme as indicações das próprias aulas: Quadro 4 – indicações de mudanças para aulas de educação física no ensino médio BENEDITA A gente pará um pouco de brincar como joga bola assim e ter umas coisas diferentes. Eu acho que não devia só brincar e joga bola, fazer exercícios sei lá, coisas assim de Educação Física. CÁSSIA Material para ter aula de Educação Física, há está faltando tudo. SILVANA O professor venha a fazer mais brincadeiras é fazer mais, há interagir mais com os alunos. GEOVANA Tem que ter rede, é material, bola não tem, bolas de basquete, de vôlei, de futsal, tudo. NÚBIA Acho que a mudança devia ser na escola que a escola tinha que adquirir mais material que a gente não tem material para realizar as aulas de Educação Física e a criatividade do professor manda muito, né (risadas). De acordo com a fala de Silvana é possível analisar que: O professor venha a fazer mais brincadeiras é fazer mais, há interagir mais com os alunos (SILVANA). Há uma vontade de mudança dessas aulas para que sejam mais interativas e interessantes. O que necessariamente significa uma prática pedagógica do professor mais participativa, contextualizada e comprometida com os alunos. Conclusão Espera-se que a partir da socialização desse trabalho se contribua para a formação do professor de Educação Física. Nesta pesquisa trabalhou-se com o objetivo principal de compreender como a prática pedagógica do professor, no Ensino Médio, influencia a percepção da Educação Física, como componente curricular, pelos alunos. Além de retratar essa prática foi possível perceber os diversos aspectos que influenciam de forma direta a atuação do professor como a falta de estrutura física e material para ocorrências dessas aulas. Há que se dizer que se percebeu que a prática pedagógica do professor é um fator decisivo para tornar a aula e até mesmo a disciplina de Educação Física interessante e importante para os alunos. Para isso, destaca-se que o professor precisa direcionar sua prática pedagógica para o ensino de conteúdos e aplicação de Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 191 metodologias de ensino que atendam a realidade da escola e aos interesses e necessidades do alunado. Por outro lado, o trabalho da professora investigada na pesquisa sugere uma falta de compromisso pedagógico no emprego de conteúdos atualizados e necessários para formação do aluno do Ensino Médio. Esse fato pode aparecer como um agravante ou um aspecto negativo da pesquisa, mas, diferente disso compreendemos que esse não é um caso isolado, mas uma realidade da escola pública brasileira que precisa não só de equipamentos, como também, de profissionais motivados para o trabalho pedagógico, uma situação influenciada por vários fatores. Portanto, é importante ao abordar a prática pedagógica não responsabilizar o profissional por toda culpa, mas estar atento aos aspectos que influenciam sua ocorrência. Por fim, para provocar essas mudanças é preciso que esse professor esteja atualizado com as coisas do seu tempo, que entenda que a cada turma e nível de ensino precisamos de uma prática pedagógica diferenciada e que possa ensinar conteúdos e não atividades aos alunos. Referências BARNI, Mara J. e SCHNEIDER, Ernani J. A Educação Física no Ensino Médio: Relevante ou irrelevante? IN: Revista Leonardo Pós. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. vol. 1, n º. 03, ago.-dez./2003. 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SOARES, Carmem Lucia. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 2004. Endereço Professora Mestre Márcia C. R. da Silva Coffani Faculdade Católica Rainha da Paz Departamento de Educação Física Rua: Niterói, 914 – Jardim Popular I São José dos Quatro Marcos – MT CEP 78.285-000 Telefone: (065) 9989-3876 E-mail: [email protected] Data de recebimento: 24/ 01//09 Data de aceite: 18/03/09 Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. You are free: to copy, distribute and transmit the work; to adapt the work. You must attribute the work in the manner specified by the author or licensor Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678