CIDADANIA
RESPONSABILIDADE SOCIAL
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Investimento (um pouco)
mais responsável
LÚCIA BRANDÃO
Índice de sustentabilidade
criado pela Bovespa pretende
estimular boas práticas das
empresas; mas quase inclui
empresas de tabaco, álcool
e armas. O consumidor
também pode ficar atento
C
riado para servir como base para o investimento
“socialmente responsável” e como estímulo a boas
práticas por parte das empresas, o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores
de São Paulo (Bovespa) é, para o Idec, uma ferramenta
útil para acompanhar mais de perto as companhias que
se propõem a atuar de forma mais sustentável. O índice
pode, além disso, suscitar o interesse de mais empresas,
que adequariam suas práticas para serem incluídas nesta
nova carteira de investimento.
Porém, antes mesmo de ser lançado, em 1o de dezembro de 2005, o índice sofreu críticas da sociedade civil
organizada. Acontece que uma indústria de cigarros,
uma fábrica de bebidas alcoólicas e outra de armas pretendiam ser contempladas pelo indicador, que requer
que as empresas atendam a critérios de bem-estar social
e ambiental, entre outros. Ora, os produtos destas companhias criam dependência, suscitam violência e matam
– ou seja, geram problemas para a sociedade, intrinsecamente. E o mais grave é que empresas desses setores
quase foram de fato incluídas no ISE.
Entidades como o Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais (Ibase), a rede Tabaco Zero e o Idec
apoiaram uma discussão contra a inclusão desses setores.
Uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São
Paulo, promovida uma semana antes do lançamento do
ISE, foi importante para demonstrar a insatisfação da
sociedade civil. “O consumidor poderia assumir que tais
empresas têm práticas sustentáveis, o que não corresponde à realidade”, afirmou Luiz Fernando Moncau,
que trabalha na coordenação institucional do Idec.
Por fim, elas felizmente ficaram de fora. Embora
não tenha sido oficialmente devido a esta pressão
que a Souza Cruz, Ambev e Taurus não foram
aceitas, o Ibase considera o fato uma vitória.
“Não houve um critério de exclusão, mas na
prática excluíram”, diz o economista da ONG,
João Sucupira. “Não há como admitir determinadas empresas.”
BALANÇO POSITIVO
Na lista das 28 empresas que compõem o
ISE, há aquelas cujas atividades também
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Revista do Idec | Fevereiro 2006
podem ser questionadas, se levarmos a sustentabilidade social e ambiental ao pé da letra. Entre os
problemas de algumas contempladas está, por
exemplo, a monocultura do eucalipto, no caso da
indústria de papel e celulose. Também há os
impactos sociais e ambientais da geração de hidreletricidade, no caso das empresas de energia. Já no
caso das instituições financeiras, existe um histórico
de desrespeito aos direitos do consumidor. Mas
para João Sucupira, o fato de as 28 companhias
ficarem mais expostas já é positivo. “Outras empresas vão querer participar do índice. E isso tudo leva
a uma melhoria nas relações humanas e com o
meio ambiente”, afirma. Ainda que lentamente, é o
que se espera que ocorra.
Ricardo Nogueira, superintendente de operações
da Bovespa, afirma que no questionário apresentado às empresas participantes, que serviu como
base para a seleção, todos os critérios têm o
mesmo peso. O questionário, feito pelo Centro de
Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio
Vargas (GVces), inclui cinco “dimensões”: gerais,
governança corporativa, econômico-financeira,
ambiental e social.
AVALIAÇÃO CONSTANTE
Para o Idec, é necessário que os critérios sejam
continuamente discutidos e revistos, principalmente com relação a certos setores, aos quais o
índice deve ser vetado. Espera-se também que a
sociedade possa participar mais dos futuros
debates. Afinal, as empresas são atores sociais.
Causam impactos positivos ou negativos não só
Índice é 4o no mundo
O ISE foi desenvolvido pela Bovespa junto com a
International Finance Corporation (IFC), braço privado do
Banco Mundial, que bancou sua criação. O Conselho do
ISE é composto pela Bovespa e a IFC, mais a Associação
Nacional de Bancos de Investimento (Anbid), a Associação
de Analistas e Profissionais de Investimentos de Mercado
(Apimec), o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC), a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (Abraap), o Ministério do Meio
Ambiente e o Instituto Ethos.
Além do Brasil, entre os países em desenvolvimento,
somente a África do Sul tem um indicador desses, inaugurado em 2003. Há similares em Londres (FTSE4Good) e
Nova York, onde o Dow Jones Sustainability Index foi o
primeiro índice do gênero, criado em 1999.
Saiba (e avalie) quais as empresas que fazem parte do ISE
Empresa
Setor da economia
Dasa Diagnósticos da América
Perdigão
Celesc
Cemig
Cesp
Copel
CPFL Energia
Eletrobrás
Eletropaulo
Tractebel Energia
WEG
CCR Rodovias
Bradesco
Banco do Brasil
Itaú Banco
Itausa
Unibanco
Embraer
Iochpe-Maxion
Aracruz Celulose
Susano Bahia Sul Papel e Celulose
Votorantim Celulose e Papel
Braskem
Copesul
Natura
Belgo-Mineira
ALL América Latina Logística
Gol Linhas Aéreas Inteligentes
Análise e Diagnóstico
Carnes e derivados
Energia elétrica
Equipamento elétricos
Exploração de rodovias
Intermediários financeiros
Material de transporte
Papel e celulose
Petroquímicos
Produtos de uso pessoal e limpeza
Siderurgia e metalurgia
Transporte aéreo e ferroviário
nos bolsos de seus investidores.
Segundo Ricardo Nogueira, haverá uma avaliação anual do índice. Mas por enquanto ele afirma
que as empresas “nocivas” podem ter atividades
compensatórias, e não fala em exclusão prévia.
Sobre a participação da sociedade, Nogueira afirma que ela se deu no Conselho, citando o Ibase, e
em workshops realizados “com todos os players
[atores], inclusive consumidores”. O conselho
deve convidar alguma organização para ocupar o
lugar do Ibase, que integrava o grupo, mas deixouo quando parecia que as indústrias de tabaco,
bebidas alcoólicas e armas entrariam no índice.
Saiba mais
Ibase – (http://www.ibase.org.br).
Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV – (http://www.ces.fgvsp.br/)
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