Você está preparado para ser demitido? José Augusto Minarelli Há quatro anos, os executivos que chegam à Lens & Minarelli para dar início ao processo outplacement oferecido por seus ex-empregadores participam de um acurado levantamento acerca da experiência que estão vivendo. A história de cada um vai compondo um grande painel que, estruturado, dá vida ao estudo Demissão de Executivos nas Maiores e Melhores Empresas do Brasil. Mais do que retratar como a ruptura é conduzida e vivenciada, a pesquisa permite compreender a evolução das relações de trabalho e as formas como os indivíduos se preparam para enfrentar a realidade presente e os desafios futuros. No levantamento feito com duzentos executivos, demitidos dos cargos de presidência, diretoria e gerência sênior no transcorrer de 2005, uma constatação salta aos olhos: alcançar resultados ou mesmo excedê-los não é condição suficiente para evitar a demissão. Muitos dos que se viram sentados à frente das consultoras de carreira da Lens & Minarelli, desprovidos de seus altos postos e de todo o arsenal decorrente (incluindo as chamadas algemas de ouro), haviam registrado boa performance. O que explicaria, então, o fato de terem ficado de fora do jogo? Uma análise mais profunda, abrangendo tanto aspectos estruturais da organização do trabalho na economia globalizada como especificidades da macroeconomia, fornece indícios claros do que está ocorrendo hoje no mundo corporativo. A competição acirrada, os mercados encolhidos, a busca por níveis de produtividade cada vez maiores e o enfoque no curto prazo fazem da demissão moeda corrente nas organizações. A pressão constante deteriora as relações interpessoais, criando um ambiente hostil. Some-se a isso o rompimento do vínculo de fidelidade e lealdade, antes tão decantado pelo empregador, e tem-se um terreno fértil para a proliferação de relacionamentos voláteis e superficiais. Ora, se a rede de sustentação das pessoas está exatamente nos elos que constroem no decorrer da vida, o clima instaurado dá margem a alicerces frágeis, suscetíveis a desmoronar a qualquer momento. Pressionados e pressionando, os profissionais acabam enredados em uma trama que eles mesmos ajudam a tecer. Foco no resultado não pode ser entendido como um cabresto que tira a visão do todo. Ao contrário, requer um olhar apurado que, ao mirar o ponto nevrálgico, não abstrai o entorno. O discurso parece óbvio, mas exercitar essa ginástica no dia-a-dia profissional tem se revelado uma habilidade de poucos. Tome-se como exemplo a gestão da carreira. Não é segredo para os executivos que essa é uma missão indelegável, que compete a cada um. No entanto, um único item da pesquisa é suficiente para verificar como a prática se distancia do ideal supostamente compreendido por todos. Questionados a respeito de um “Plano B” para enfrentar uma eventual demissão, 62% responderam não contar com uma alternativa contingencial. Sequer dispunham de recursos financeiros suficientes para atravessar o período de transição. Com ciclos de carreira cada vez mais curtos, é plausível supor que homens e mulheres de negócios se preparem adequadamente para momentos como esses, que tendem a ser mais freqüentes hoje e no futuro do que já foram no passado. É útil uma visita ao estudo, que pode ser lido na íntegra em www.lensminarelli.com.br/pesquisa2006. Certamente, o conteúdo lançará luzes para aqueles que estremeceram ao se deparar com o título deste artigo. Além de uma radiografia realista, com dados quantitativos que demonstram a necessidade de investir na empregabilidade e cultivar o networking, a pesquisa traz um universo riquíssimo de informações qualitativas. Para aplacar – ou aguçar – a curiosidade, antecipo aqui alguns resultados. Com tempo médio de 10 anos de casa, 59,2% experimentaram a demissão pela primeira vez; 68,3% não esperavam ser demitidos e 43,2% ficaram chocados com a notícia. O motivo alegado para o rompimento do contrato de trabalho não foi convincente para 66%, e 82,9% consideraram a demissão injusta, enquanto 59,3% declararam que o processo de ruptura foi mal conduzido. Há muito aprendizado pela frente, para empresas e profissionais. Nesse contexto, o estudo é um convite explícito à reflexão. Os propósitos serão plenamente atingidos se essa pesquisa puder servir como um instrumento de transformação e aperfeiçoamento das relações de trabalho. Espero que para você, leitor, ela efetivamente faça a diferença.