Alguns aspectos da formação de Maria Gaetana Agnesi e seu trabalho sobre cálculo e análise no Setecentos GD3 - Pesquisa em História na/da Educação Matemática Roseli Alves de Moura Fumikazu Saito Este trabalho é parte de pesquisa doutorado em andamento, junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Este trabalho tem o objetivo de apresentar alguns aspectos ligados à trajetória da formação de Maria Gaetana Agnesi (1718-1799) e o perfil de seus tutores na elaboração de sua obra sobre cálculo e análise, intitulada Instituzioni Analitiche ad uso de giuventu italiana, publicada em 1748. Em linhas gerais, o pai de Agnesi optou por organizar e financiar um programa privado de estudo que consistia em uma variação do tradicional currículo jesuíta, divergindo, porém, em alguns pontos essenciais. Para tanto, contratou tutores que eram clérigos pertencentes diferentes ordens. Dentre os tutores de Agnesi, destacamos Girolamo Taglizucchi (1674-1751), Carlo Belloni, Francesco Manara (1714-1782), Serafino Brancone (1710-1774), e Michele Casatti (1699-1782). Taglizucchi, primeiro dentre seus tutores, priorizava os estudos de clássicos gregos se contrapondo aos latinos. O tutor utilizava técnicas de retórica e enfatizava a necessidade de formação e fortalecimento da razão da aluna, permitindo-lhe comparar, combinar e desmontar ideias, de forma diferente do ensino jesuítico. Conde Belloni era o único tutor que não era clérigo. Ele preparou Agnesi nas técnicas de disputatio e apresentou-lhe as obras de Newton. No que diz respeito às matemáticas, ele privilegiou os estudos de álgebra e de geometria. Os estudos em matemáticas-mistas foram organizados pelo sacerdote Manara, da ordem dos Somascos. Tais estudos priorizaram problemas relacionados a hidráulica, mecânica e física experimental, inspirados pelos experimentalistas holandeses Willen Jacob`s Gravesande (1688-1742) e Petrus van Musschenbroeck (1692-1761). Por sua vez, Serafino Brancone, da ordem dos Beneditinos, foi responsável pelo ensino de filosofia natural e, Michele Casatti, pelos estudos em metafísica e filosofia moral. Dentre esses tutores, apenas Casatti mantinha uma relação mais estreita com Agnesi, visto que os clérigos dedicavam-se ao ensino e aos deveres pastorais, que muitas vezes os mantinham afastados de Milão por longos períodos. Estes tutores também eram pregadores influentes que participavam ativamente nos debates sobre a reforma religiosa e educacional daquele período, e decisivos para o estabelecimento de uma rede de alianças políticas, religiosas e culturais. A formação matemática de Agnesi sugere que seus tutores priorizaram, em grande parte, os estudos voltados às mecânicas. Entretanto, correspondências revelam que, apesar das sugestões de seus tutores, Agnesi decidiu publicar um tratado de “matemática pura”. Essa escolha parece estar relacionada à sua predileção pela filosofia cartesiana e seu interesse em divulgar o cálculo na Itália evidenciando que seu pensamento estava alinhado aos de muitos estudiosos que defendiam a reforma do catolicismo naquele momento. O estudo da formação de Agnesi e a rede de tutores ajudam-nos a compreender parte do processo da construção do conhecimento matemático moderno em que questões relacionadas ao ensino e à disseminação do cálculo e análise ocupam o centro das preocupações de estudiosos em matemática.