Programa descubra a orquestra na sala São Paulo Daniel Tomaz Wachowicz1 Resumo Este artigo descreve a experiência no curso de formação musical para professores das redes pública e privada de educação básica, com ou sem formação musical, cujo objetivo é a formação de público para a música erudita. Inclui uma visita para assistir a apresentação de uma orquestra na Sala São Paulo e a aplicação de atividades pedagógicas que gerem uma reflexão crítica sobre a música erudita. Palavras chave Sala São Paulo, Orquestra Sinfônica de Heliópolis, Música Erudita, Formação de Público, OSESP. Introdução Este artigo relata as experiências que tive no Programa Descubra a Orquestra na Sala São Paulo, organizado pela equipe do Educativo da OSESP, voltado a formação de público para a música erudita, objetivando à sua reflexão crítica. O curso foi ministrado para professores da rede pública e privada de educação básica, com ou sem formação musical. O objetivo era aplicar os conteúdos aprendidos na sala de aula, com oficinas e debates sobre música erudita, atividades que serviram de base para preparar os alunos para a visita à Sala São Paulo e para que os mesmos assistissem ao concerto que seria realizado pela Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Programa Descubra a Orquestra na Sala São Paulo Realizei o curso Descubra a Orquestra na Sala São Paulo, financiado pelo governo de São Paulo, em parceria com a OSESP e Sala São Paulo, no período de 08 de março a 31 de maio, com duração de 62 horas no total, entre aulas presenciais e não presenciais para professores da rede Aluno da Faculdade Paulista de Artes, cursando o primeiro semestre de Licenciatura em Música. 1 Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC estadual de educação básica com o objetivo de formação de público para música. O objetivo consistia em termos as aulas e compartilhar os conhecimentos com os nossos alunos, preparando-os para o evento didático, que consistia em levá-los para a Sala São Paulo para que assistissem a um concerto de música erudita. O curso teve duas partes: a presencial, com aulas em três sábados, respectivamente 08 de março, 14 e 31 de maio; e a não presencial, com tarefas para serem enviadas pela plataforma Moodle, e ministrado pela professora e doutora Maria Cecilia de Araújo Rodrigues Torres, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nos encontros presenciais, executamos atividades teóricas de leitura de partitura e práticas, como a elaboração de um túnel de paisagem sonora, em que cada um tinha que reproduzir um som da natureza com a voz; a composição de uma música com letra abordando o tema das quatro estações de Vivaldi; elaborar uma composição rítmica em que usássemos somente o corpo, com uma pessoa regendo o grupo; cantarmos partes de músicas que fizeram parte de nossa infância e adolescência; um debate em que tínhamos que falar quais eram as músicas que fazem parte da nossa vida; e, no último dia, a professora solicitou que trouxéssemos nossos instrumentos para elaborarmos uma composição musical em grupo, também com uma pessoa regendo o grupo. A parte não presencial consistia em trabalhos que deveríamos enviar pela plataforma Moodle à professora. Esses trabalhos foram: realizarmos uma roda conversa com os alunos de nossa escola sobre seus gostos musicais, se os mesmos conheciam música erudita e se já tinham assistido um concerto antes; perguntar e anotar quais eram os sons que eles ouviam no ambiente escolar e preparar uma dinâmica da paisagem sonora, com o exercício do túnel, com eles no pátio; e, por fim, abrir uma roda de conversa com eles sobre suas impressões do concerto que assistiram na Sala São Paulo. A minha escola optou por levar os alunos do ensino médio e farei uma descrição de quais foram às atividades abordadas. Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC A primeira atividade consistia na preparação para o evento didático. Selecionei dois vídeos, um do grupo Pentatonix, que fala sobre a história da música, fazendo sons vocais. O outro foi um trecho do concerto Guia Orquestral Brasileiro, para que conhecessem um pouco da obra que seria executada no dia. Em seguida, perguntei se conheciam os instrumentos que fazem parte de uma orquestra, se já tinham assistido uma e se ouviam música erudita. Poucos tinham visto uma orquestra e um número ainda menor conhecia a Sala São Paulo. E, pude perceber que todos ficaram ansiosos para que chegasse logo o dia da excursão. Expliquei que para se ouvir música erudita, é exigido da parte do ouvinte uma atenção maior para que possa perceber os diferentes sons reproduzidos pelos instrumentos e que muita gente acaba não gostando desse tipo de música porque não aprendeu a ouvir dessa maneira. Na segunda atividade, que aconteceu depois da realização do evento didático, selecionei três salas de terceiros anos do ensino médio para participarem do exercício de paisagem sonora do túnel. Comecei na sala, perguntado sobre os sons que os alunos estavam ouvindo. Pedi para que eles fizessem silêncio e me descrevessem, depois de alguns minutos os sons que ouviam e, ao parar para escutar o ambiente a sua volta, ficaram surpresos com a quantidade de sons que os rodeiam. Fui colocando na lousa e anotando num caderno o que eles diziam. Os sons ouvidos foram o do ônibus na rua, o barulho das pessoas que estavam lá fora, o barulho da folha de papel batendo na janela por causa do vento (a escola está numa situação precária e não tem recurso para colocar cortinas na sala, então a forma de bloquear a luz do sol foi colocar folhas de papel na janela) e o barulho do ventilador. Em seguida, pedi para que descessem para o pátio em silêncio, para que tentassem perceber os sons dos outros espaços da escola e me descrevessem. Quando chegamos ao local em que faríamos o exercício, eles disseram que ouviram o barulho dos alunos nas outras salas, a voz do Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC professor na sala ao lado, o barulho das pombas e de cigarras, pois há uma parte com grama e com árvores no pátio. Pedi para que fizessem duplas e formassem o túnel. Falei para que cada um pensasse num som da natureza e o reproduzisse com a boca e que quem entrasse nele só ouvisse. No começo não deu muito certo porque um começou a tirar sarro do outro e tive que parar a atividade para explicar que o exercício tinha que ser feito com mais concentração porque não conseguiriam ter a experiência sonora que o exercício oferece. Fizemos novamente e percebi que se envolveram mais. Acabei fazendo o túnel mais umas três vezes a pedido deles. Depois de finalizado o exercício, conversamos sobre o que tinham sentido. A maioria disse que parecia estar dentro de uma floresta com muitos animais silvestres. Um dos alunos passou no túnel como se estivesse com uma arma na mão e meio agachado. Perguntei a ele o que o motivou a fazer isso e ele me disse que se sentiu um caçador no meio de uma floresta com um monte de animais ferozes. Eles adoraram a experiência e pudemos conversar sobre alguns outros assuntos antes de voltarmos para a sala, como o que é o som? O que é música? Se existe silêncio? Falei sobre as experiências sonoras do John Cage com objetos do cotidiano que podem se tornar instrumentos musicais e de sua experiência na sala com isolamento acústico com a finalidade de descobrir se o silêncio existe, e o resultado que o mesmo teve sobre os sons de seu próprio corpo, que pareciam ser amplificados por se encontrar num lugar com silêncio absoluto. Para finalizar falamos sobre os sons que não notamos por estar, muitas vezes, em ambientes com muito barulho e uns me disseram que quando estão andando pela rua e fazem silêncio para ouvir os sons, ficaram impressionados com a grande quantidade que ouviram, desde as conversas de várias pessoas que se cruzam, o barulho dos motores e das buzinas. Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC A terceira atividade consistiu numa roda de conversa sobre quais impressões os alunos tiveram sobre o concerto. Eles gostaram tanto que me perguntaram quando teria outra excursão. Muitos falaram também que adoraram a Sala São Paulo e toda a sua história. Acharam o espaço muito bonito e sua acústica maravilhosa. Quando os músicos da orquestra entraram, acharam interessante o fato dos músicos terem cumprimentado os alunos na plateia no momento que subiam ao palco. E, quando começaram a executar as peças musicais, gostaram mais ainda. Principalmente do trecho que descreviam os instrumentos musicais e pela dramatização que alguns atores fizeram no momento que iam narrando sobre a história da música. No final se surpreenderam ainda mais por ouvirem a peça “Aquarela do Tico Tico que só dança samba”. Foi inédito para eles ver uma orquestra tocar samba, por acharem que a música erudita é algo bem tradicional que não se junta com o popular. Ou seja, se já tinham gostado no começo, gostaram ainda mais depois da execução dela. Muitos ficaram surpresos com o fato de nada ser amplificado e com a enorme quantidade de instrumentos que são tocados por uma orquestra no momento do concerto e na harmonia que eles têm. A última parte, depois da terceira aula presencial, consistia em que fizéssemos um trabalho final, em que tínhamos que redigir um texto falando sobre nossas impressões do curso, com base em perguntas como: o que ficou? O que aprendemos? Como pretendemos dar continuidade? Quais foram os maiores desafios de realizar o curso e as propostas musicais na escola? Como foi a participação dos alunos? E quais foram as surpresas na escola? É um programa voltado para professores, com ou sem formação musical, que os capacita para introduzir noções de aspectos musicais para os alunos do ensino básico, da rede pública do estado, abrindo-se também a possibilidade de acesso para escolas das redes particular e municipal, para que possam conhecer a Sala de Concerto da Sala São Paulo, tendo conhecimento de um pouco de sua história e assistir um concerto de orquestra. Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC Considerações Finais Este programa contribuiu muito para a minha formação musical. Além de me proporcionar outras formas pedagógicas de trabalhar música na escola, e pude melhorar meus estudos de percepção e teoria musical, que facilitaram a minha leitura de partitura, e auxiliaram no processo de criação de repertório. Todo o conhecimento adquirido no curso fez com que eu pudesse criar um diálogo mais crítico com meus alunos sobre a música erudita, até desenvolvermos a sensibilidade musical e trabalhar a atenção para que se pudesse apreciar o concerto, observando e sentindo todas as nuances sonoras da orquestra. Referências Bibliográficas SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. Tradução de Marisa Trench de O. Fonterrada, Magda R. Gomes da Silva, Maria Lúcia Pascoal. 2ª ed. São Paulo: UNESP, 2011. WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC